Costa Santos Numeros Repunits
Costa Santos Numeros Repunits
y, 2020
ISSN: 2319-023X
https://doi.org/10.21711/2319023x2020/pmo8xx
Resumo
Neste relatamos nossa experiência em uma oficina de resolução de problemas, em que participavam
estudantes a partir do sétimo ano do Ensino Fundamental, com objetivo de treinamento para
competição Matemática. Nela enfatizamos a importância entre a resolução de problemas e o
processo de aprendizagem dos conceitos aritméticos associados aos números repunidades (repetição
de unidade), buscando o desenvolvimento de habilidades nos estudantes, tais como: investigar,
descobrir, propor, conjecturar e validar conceitos acerca dos números repunidades explorando
situações-problemas.
Palavras-chave: Habilidades; Números Repunidades; Resolução de problemas.
Abstract
In this we report an experience in a problem-solving workshop, in which students from the seventh
grade of elementary school (training for competitions in mathematics) participated. In it we
emphasize the importance between problem solving and the learning process of the arithmetic
concepts associated with the numbers repunits, seeking the development of skills in students, such
as: investigate, discover, propose, conjecture and validate concepts about numbers repunits by
exploring problem.
Keywords: Numbers Repunits; Problem solving; Skills.
1. Introdução
Diante dos dados acerca da avaliação do ensino de Matemática na educação básica no Brasil, que
indica que aproximadamente “68% dos estudantes brasileiros, com 15 anos de idade, não possuem
nı́vel básico de Matemática”, veja o PISA 2018 [7], fica evidenciada a necessidade de explorar-
mos alternativas no ensino de Matemática, e utilizar abordagens ou estratégias que valorizem o
estudante no processo de aprendizagem Matemática. Nesse sentido, George Polya [8] apregoa que
o estudante deve tornar-se preparado ou capacitado na resolução de problemas, uma importante
estratégia de ensino. Ele descreve uma série de heurı́sticas, estratégias práticas (preparadas pelo
professor), que os auxiliam na resolução de problemas, enfatizando assim o papel de destaque do
estudante no processo de sua aprendizagem. Portanto a independência do estudante na resolução
do problema está associada ao trabalho planejado e supervisionado pelo professor, para exempli-
ficar: na preparação de ferramentas matemáticas necessárias, seleção de problemas e acompanhar
1
Costa e Santos
a resolução. Isto nos leva a concluir que a Matemática não pode ser apreendida sem a interação
ou participação ativa do indivı́duo. Aqui apresentamos nossa experiência em uma oficina de re-
solução de problemas. Nessa utilizamos a resolução de problemas como ferramenta de ensino para
a sistematização de conceitos inerentes aos números repunidades ou repunits, favorecendo o papel
de protagonista do estudante no seu aprendizado.
2. Números Repunidades
3. Resolução do Problema 1
Recordemos que o resto da divisão de um número inteiro por 3 é igual ao resto da divisão da soma
de seus algarismos por 3, esse é o critério de divisibilidade por 3. Sugerimos que eles verifiquem e
ressaltamos que o critério de divisibilidade por 9 é similar. Agora apresentamos a
Resolução: do Problema 1
Veja que soma dos algarismos de R6 = 111111 é 6, pelo critério de divisibilidade por 3, temos que
R6 é múltiplo de 3, donde obtemos que R6 = 3 × 37037. Essa é a primeira resposta encontrada
pelos estudantes.
2
Costa e Santos
Uma pergunta interessante é se existem outros pares de números, cujo produto obedeça a condição
estabelecida. Escrevendo R6 em notação decimal expandida (polinomial), percebemos que:
R6 = 111111
= 105 + 104 + 103 + 102 + 10 + 1
(1)
= 104 (10 + 1) + 102 (10 + 1) + (10 + 1)
= 11 · (104 + 102 + 1) .
Assim a Equação (1) garante que R6 é múltiplo de R2 = 11. Como já notamos, R6 é múltiplo
comum de 3 e 11, podemos fatorar R6 (testando para alguns primos ”pequenos”) e determinar
R6 = 111111 = 3 × 7 × 11 × 13 × 37 .
n Rn Fatoração
2 11 Primo
3 111 3 × 37
4 1111 11 × 101
5 11111 41 × 271
6 111111 3 × 7 × 11 × 13 × 37
7 1111111 239 × 4649
8 11111111 11 × 73 × 101 × 137
9 111111111 32 × 37 × 3336677
10 1111111111 11 × 41 × 271 × 9091
11 11111111111 21649 × 513239
12 111111111111 3 × 7 × 11 × 13 × 37 × 101 × 9901
13 1111111111111 53 × 79 × 265371653
14 11111111111111 11 × 239 × 4649 × 909091
15 111111111111111 3 × 31 × 37 × 41 × 271 × 2906161
16 1111111111111111 11 × 17 × 73 × 101 × 137 × 5882353
17 11111111111111111 2071723 × 5363222357
18 111111111111111111 32 × 7 × 11 × 13 × 19 × 37 × 52579 × 333667
19 1111111111111111111 Primo
··· ··· ···
3
Costa e Santos
4. Resolução do Problema 2
No entanto a recı́proca do Corolário (2) não é verificada, uma vez que n = 3 e n = 5 são primos,
contudo sabemos que R3 e R5 são compostos (Tabela 1).
De acordo Carvalho e Costa [3], mesmo com o avanço da tecnologia, ainda existe uma dificuldade
computacional para a verificação da primalidade de Rn , basta considerar Rn com milhares de
algarismos. Além da primalidade de Rn para n = 2, 19 e 23 sabemos que R217 e R1031 também
são primos. Uma questão em aberto é sobre a infinitude dos primos repunidades.
Resolução: do Problema 2
De acordo com a Proposição (4) temos que R3k é múltiplo de R3 , uma vez que n = 3k é múltiplo
de 3, sendo assim obtemos que existe um natural q de forma que R3k = R3 × q. Pela Tabela 1
observamos que R3 = 3 × 37 isso acarreta em R3k = 3 × 37 × q = 37 × (3q). •
5. Resolução do Problema 3
Em Brito [2] temos a seguinte caracterização para um número repunidade. Para todo n natural
temos:
R1 = 1
(2)
Rn+1 = 10Rn + 1, n > 1.
Dessa maneira podemos definir os números repunidades recursivamente pela equação (2).
4
Costa e Santos
Apresentamos agora um resultado que estabelece uma expressão que gera os números repunidades
Rn no sistema decimal, que dependa exclusivamente do valor de n e não mais (recursivamente) da
repunidade anterior. Posteriormente tal notação será usada para generalizar um número repunidade
em uma base b ≥ 2 qualquer.
10n – 1
Proposição 6. [1, Problema 3.30] Para todo n ∈ N∗ , temos Rn = .
9
101 – 1 102 – 1 103 – 1
Exemplo 4. Veja que R1 = 1 = , R2 = 11 = e R3 = 111 = .
9 9 9
Demonstração. da Proposição 6
(Os estudantes já conheciam o princı́pio de indução finita)
101 – 1
Aplicamos indução em n. Para n = 1 é fácil perceber que R1 = 1 = . O que garante a
9
validade da sentença para n = 1.
10n – 1
Suponhamos que para algum n ≥ 1 a sentença Rn = é válida. Devemos mostrar a validade
9
para n + 1. Assim
Rn+1 := 10Rn + 1
10n – 1
= 10 · +1
9
10n+1 – 10n + 10n – 1 (3)
=
9
10n+1 – 1
= .
9
Isto garante a validade da sentença para todo n + 1.
102n – 1
A = R2n = 111 · · · 11 = e
| {z } 9
2n algarismos
10n – 1
B = 4 × Rn = 4 × ( 111 · · · 11 ) = 4 × ,
| {z } 9
n algarismos
5
Costa e Santos
assim:
102n – 1 10n – 1
A+B+1= +4× +1
9 9
102n – 1 + 4 × 10n – 4 + 9
=
9
102n + 4 × 10n + 4
= (4)
9
(10n + 2) (10n + 2)
=
9
n 2
10 + 2
= .
3
10n + 2
Portanto, para todo n natural A + B + 1 é um quadrado perfeito, e sua raiz quadrada é . •
3
6. Resolução do Problema 4
Nesta seção apresentaremos algumas caracterı́sticas dos números repunidades em outra base numérica
b ≥ 2, além da decimal. Snyder [9] propôs uma generalização para os números repunidades
e algumas propriedades aritméticas de Rn para qualquer base numérica inteira b ≥ 2, em que
Rn (b) = bn–1 + bn–2 + · · · + b + 1 = ( 111 · · · 11 )b , é um número repunidade generalizado ou repuni-
| {z }
n algarismos
dade em uma base b.
Exemplo 5. Veja que R3 (3) = (111)3 = 32 +31 +30 , da mesma forma que R3 (7) = (111)7 = 72 +71 +70 .
Resolução: do Problema 4
Temos que R3 (b) = b2 + b + 1, de modo semelhante temos que (10101)b = b4 + b2 + 1. Veja ainda
que (10101)b = b4 + b2 + 1 = (b2 + b + 1) (b2 – b + 1), portanto R3 (b) | (10101)b para toda base
numérica b ≥ 2. •
De modo geral temos:
bn – 1
Proposição 7. [9] Dada uma base numérica inteira b ≥ 2, então Rn (b) = para todo n ∈ N.
b–1
Demonstração. Para uma base numérica b ≥ 2 fixada, basta efetuar a divisão polinomial Rn (b) =
bn – 1
.
b–1
Consideremos a expressão
claramente temos que X = 123456. Agora para o caso em que a quantidade de termos é maior,
usamos o seguinte resultado:
6
Costa e Santos
1
Õ 101+1 – 9 × 1 – 10
Demonstração. Faremos por indução em n. Para n = 1 temos que Rk = =
k=1
81
81
= 1. O que garante a validade da proposição para n = 1.
81
n
Õ 10n+1 – 9n – 10
Suponha que para algum n ≥ 1 a sentença Rk = seja válida. Devemos mostrar
k=1
81
a validade para n + 1.
n+1
Õ n
Õ
Rk := Rk + Rn+1
k=1 k=1
n+1
10 – 9n – 10 10n+1 – 1
= +
81 9
10n+1 – 9n – 10 + 9 × 10n+1 – 9
=
81
10 × 10n+1 – 9n – 9 – 10
=
81
10n+2 – 9(n + 1) – 10
= .
81
E temos a validade da sentença para todo n + 1.
2
Como 4 divide 10 , e 11 = 4 × 2 + 3, obtemos que Rn = 4q + 3, para algum inteiro positivo q.
Como nenhum quadrado perfeito pode ser da forma 4q + 3, então podemos concluir que exceto R1
nenhum outro número repunidade será quadrado perfeito.
Para verificarmos que exceto o R1 nenhuma outra repunidade é escrita como a soma de dois
quadrados perfeitos, consideramos a Tabela 2:
7
Costa e Santos
+ 4q1 4q1 + 1
4q2 4(q1 + q2 ) = 4q 4(q1 + q2 ) + 1 = 4q + 1
4q2 + 1 4(q1 + q2 ) + 1 = 4q + 1 4(q1 + q2 ) + 2 = 4q + 2
De acordo com a Tabela 2 a soma de dois quadrados perfeitos será da forma 4q, 4q + 1 ou 4q + 2;
então, como Rn é da forma 4q + 3, podemos concluir que Rn não pode ser escrito como a adição
de dois quadrados perfeitos.
8. Considerações finais
Na oficina, o estudo dos números repunidades e as propriedades aritméticas são uma elaboração
colaborativa com buscas ou consultas. Aqui relatamos parte do que vivenciamos em nossa prática
pedagógica. Ao fazermos uso da resolução de problemas como ferramenta de ensino de Matemática,
favorecemos uma aprendizagem ativa e participativa em que o estudante é desafiado a apreender
a partir do seu próprio empenho, tornando possı́vel que ele descubra, investigue, conjecture, pro-
ponha e valide conceitos e habilidades Matemáticas acerca do objeto de aprendizagem ou conhe-
cimento por ele estudado, evidenciando um protagonismo neste processo.
Agradecimentos
Referências
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Costa e Santos
Recebido: 20/04/2020
Publicado: