Sleepy
Sleepy
Sempre muito ansioso, dormia todas as noites de cabeça cheia, acordava de madrugada com
uma sensação de estar sendo observado, mas sempre afastou esses pensamentos nebulosos
da cabeça. Até conseguia dormir novamente, mas só acabava acordando ainda mais cansado
na manhã seguinte. Assistia a vários vídeos de meditação e até começou a tomar remédios,
mas nada adiantava.
Tinha vários pesadelos com um homem que possuía uma boca costurada em um
sorriso macabro que sangrava e manchava seu queixo e roupas. Na maioria das vezes, era só
um coadjuvante, mas ele sempre aparecia. Talvez isso fosse o motivo de ele passar as noites
em claro.
Certo dia, Jim estava conversando com seus melhores amigos quando seu celular
vibrou no seu bolso. Nada de mais. Um spam, como muitos outros. Guardou o celular e voltou
a falar com eles. O aparelho, então, vibrou de novo.
De novo.
E de novo.
Até que Jim ligou seu celular. Só havia o mesmo spam, mas parecia mais brilhante.
Maior. A mensagem dizia: “A insônia te deixou cansado? Sleepy te ajuda a sair desse estado”
— Como ele sabia o que eu estava precisando? — Jim quase sussurrou, vidrado na
mensagem.
— Os celulares estão cada vez mais espertos — disse um de seus amigos.
Ele clicou. O celular tinha antivírus, então não tinha nenhum problema.
O site possuía cores claras: azul, branco e amarelo. Era de poucas palavras: “Sua
insônia se dissolve e para os sonhos você se move. Clique aqui para o Sleepy sorrir.” Ah! Como
ele gostaria que fosse tão fácil! Apertar um botão e todos os seus problemas sumirem seria
realmente um sonho!
Mesmo que nada acontecesse, ele apertou um botão, só por brincadeira. Talvez isso
até ajudasse, num efeito placebo.
As cores do site mudaram. Lentamente, a cor vermelha foi se espalhando por todo o
celular, como algo viscoso escorrendo. As letras sumiram e a tela ficou totalmente vermelha.
E depois, apagou.
No reflexo do celular, viu seu sorriso se alargando, mas ele não estava sorrindo. Muito
pelo contrário. Quanto mais o sorriso do reflexo aumentava, mais a ruga entre suas
sobrancelhas afundava. O celular começou a ficar quente, quase a ponto de pegar fogo. O
garoto soltou o celular no chão. Não conseguiu aguentar. Estava queimando suas mãos. Só
poderia ser um vírus. Maldita hora em que clicou naquele botão!