Somente Voce e Eu Rafaelabush
Somente Voce e Eu Rafaelabush
Category: Fanfiction
Genre: aya, bushfer, fanfic, manerroni, slexie
Language: Português
Status: Completed
Published: 2017-10-09
Updated: 2021-02-01
Packaged: 2023-05-03 11:47:46
Chapters: 99
Words: 481,304
Publisher: www.wattpad.com
Summary: "A vida, os sonhos e os projetos de Anahí foram interrompidos
com seu sequestro. Uma vida parada no botão pause, sem previsão de volta.
Anahí vive oito anos no cativeiro, onde seu único contato com o mundo se
dá através de seu sequestrador, Tobias Menzies. A visão que ela tem desse
mundo exterior do qual não faz mais parte acontece somente quando Tobias
quer. É uma janela que está ali, mas permanece trancada a maior parte do
tempo. Com a janela fechada não se entra luz. Sem luz não há vida. Anahí
não lembra mais quem é. Do lado de fora do cativeiro o mundo não parou.
Alfonso Herrera, pessoalmente, tem uma vida que continuou. Num
determinado momento ele precisou guardar a dor pela perda do grande
amor de sua vida num cativeiro tal como ela está e igualmente fechou a
janela, se permitindo seguir em frente. Poncho se casou, teve um filho,
construiu uma carreira, mas por vezes bate um vento e a janela reabre,
deixando aquele sentimento até então trancafiado fugir e voltar a tomar
dele. É quando ele deixa de ser o Poncho escritor, casado e com uma
família para voltar a ser o Poncho cuja vida foi interrompida pelo sumiço de
Anahí. Mas a vida continuou, é o que ele sempre pensa cada vez que se
lembra dela. A mensagem é clara: Anahí está morta e ele precisa seguir em
frente. O único problema é que ela não está. Viva e descoberta Anahí volta
e ela não é a única libertada daquele cativeiro: junto com ela sai também o
sentimento que, por anos, Poncho tentou ignorar. Agora ele precisa decidir
se sua vida continua do ponto onde está ou se está disposto a, em nome
daquele antigo amor, voltar no tempo atrás de tudo o que deixou de viver ao
lado dela." Escrita por Rafaela Bush. Todos os direitos reservados.
Language: Português
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Apresentação
No fim das contas, Anahí acabou nunca sonhando em se casar. Nunca foi
um plano, uma meta de vida. Mas é claro que as coisas mudam quando ela
conhece Alfonso Herrera. Poncho é um dos amigos que ela faz no novo
colégio, assim que entra no colegial. Ele é especial, tem um sorriso
acolhedor, a encarava de um modo diferente. O que era admiração vira
carinho, o carinho vira amizade, a amizade se transforma em um amor forte
demais para guardar no peito. Então Anahí acaba abandonando algumas das
convicções de ontem porque a paixão que sente por Poncho se torna
correspondida. Ele a ama como ela ama. Era injusto para todos os lados não
viver aquele sentimento.
A vida de Poncho foi mais tranquila que a de Anahí. Ele foi criado num
casamento tradicional e tranquilo, com uma irmã mais nova com quem era
completamente ligado. Poncho diferentemente de Anahí é completamente
romântico, mas nunca forçou qualquer tipo de relacionamento, acreditando
que quando fosse pra ser, seria. E foi. Enquanto Anahí demora a se
entregar, Poncho se apaixona desde o primeiro minuto, mas respeita o
momento dela. Ele acaba se tornando a pessoa que sempre está lá, e aos
poucos o sentimento vai se tornando recíproco. Anahí se apaixona de uma
forma completamente fulminante, a mesma forma que Poncho já tinha se
apaixonado.
O destino parecia claro que Anahí e Poncho era algo para ser, para a vida
inteira. Foi aí que veio a surpresa.
Tobias Menzies era cliente da Karen's Café desde que Anahí se lembrava
em sua adolescência. Era um homem que ela sabia apenas o primeiro nome,
nada além disso. Não sabia onde morava, com o que trabalhava, que espécie
de vida fora a que ele tinha fora dali. Nada além de que ele sempre estava lá
no horário que ela chegava do colégio. Um contraste com o que o próprio
Tobias sabia dela... Tobias observava cada mínimo detalhe de Anahí. Como
gostava como o cabelo dela ficava penteado, como ela ficava bonita vestida
num uniforme de líder de torcida, e como ele gostava mais dela sem aquele
namorado que, desde que ela fizera dezessete, simplesmente não saía de
perto.
Foi aos vinte e quatro anos que a vida de Anahí foi interrompida. Em 2010,
em Nova York. Logo depois de ela se formar. Porque um homem obcecado
que prestava atenção nela há dez anos decidiu que as coisas não poderiam
ser mais assim. Foi assim que Tobias Menzies deu um ponto final na vida
de Anahí, sem explicar se era ponto final, ponto de interrogação,
reticências... ninguém soube dizer.
Poncho estava prestes a pedir Anahí em casamento quando ela voltou. Era o
momento perfeito: os dois estavam finalmente morando no mesmo lugar,
tinham comprado um apartamento no Brooklyn para viverem juntos, ela
tinha uma proposta de emprego em uma ONG com a qual sempre desejou
trabalhar. Poncho tinha se formado em Literatura em Stanford, estava
trabalhando como free lancer em um jornal local em Nova York com
pequenas crônicas e já trabalhava em seu primeiro manuscrito. Tudo tinha
como dar perfeitamente certo.
Pause, não stop. A vida de Poncho ficou pausada durante algum tempo, e
não apenas a dele. Maite Perroni, a melhor amiga de Anahí, simplesmente
não aceitava que ela tinha desaparecido. Quando a polícia desistiu das
buscas, reputando que Anahí provavelmente tinha morrido, Maite não
aceitou. Ela passaria cada dia lutando pela volta de sua melhor amiga, não
importava quem dissesse que deveria seguir em frente.
O tal "seguir em frente" era o pesadelo de Poncho. Como seguir uma vida
se a pessoa que ele tinha projetado ao seu lado não estava ali? Se ao menos
houvesse uma certeza... se houvesse um corpo para ser velado, um túmulo
para que ele levasse flores, mas não havia nada. Nada além das lembranças,
do sentimento de culpa cada vez que cogitava que deveria viver sua vida...
foi preciso terapia e tempo para Poncho minimamente se conformar e
deixar a vida seguir.
Poncho conheceu Diana quase dois anos depois de Anahí desaparecer. Ela
trabalhava na editora que dá a Poncho a primeira chance como escritor, era
quem acreditou de verdade no potencial dele e o enxergou. Diana ela
engravidou seis meses após os dois saírem juntos pela primeira vez. Diana
não era o sonho de vida de Poncho, mas de alguma maneira a notícia
daquela gravidez fez um sorriso de verdade brotou no rosto dele, algo que
ele estava desacostumado a acontecer. Poncho fez as coisas da maneira que
acreditava ser correta: foi morar com Diana, se casou com ela, e quando
Daniel nasceu, ele prometeu a si mesmo que tentaria formar uma família e
ser feliz com a nova chance que a vida tinha lhe dado. Mesmo que não
fosse como ele queria vivê-la, era honestamente o que estava em suas mãos
naquele momento. Foi aí que Poncho se tornou um homem de família,
tentando ser o melhor marido para Diana e o melhor pai para Daniel.
Algumas das pessoas do velho convívio de Poncho não lidaram tão bem
com aquela história. Christian e Maite não aceitavam Diana tão bem assim,
Lexie ficava em cima do muro, procurando não se meter, enquanto Sophia,
Mane e Jesse eram os que apoiavam Poncho a não deixar mais sua vida
parada. O grupo estava rachado, a amizade e a união de outrora não
existiam mais. Era como se Anahí, mesmo não estando ali, continuasse
marcando a vida de todos. Como se ela, sem querer, destruísse coisas que
somente a sua presença eram capazes de consertar.
Curiosamente Karen, a mãe de Anahí, era uma das pessoas que acabou
aceitando o casamento de Poncho. Por mais que lhe doesse a ideia de que
aquele menino que tinha como uma espécie de filho seguisse em frente sem
Anahí, ela respeitava e acompanhava de perto. Por vezes Poncho levava
Daniel ao Karen's Café apenas para que a própria Karen o visse. Ela acabou
nutrindo um grande carinho por aquele menino, sempre perdendo para sua
imaginação a luta de imaginar como seria se Daniel fosse seu neto, se
Anahí estivesse viva e fosse a mãe dele. Algo que, eu seu coração triste e já
conformado, jamais iria acontecer.
Karen não era a única. Por vezes Poncho se perdia nesses devaneios: e se
tudo fosse diferente? E se ela nunca tivesse sumido? Pior... e se ela
aparecesse e bagunçasse tudo? Na maioria das vezes, para não dizer em
todas, ele balançava a cabeça e pensava que era uma bobagem pensar
daquela forma. Anahí não iria voltar, era melhor que ele se conformasse e
vivesse não a vida que sonhou, mas a que estava à sua disposição. Anahí
não iria voltar.
E a vida seguiu o seu ritmo normal, até voltarmos ao pause. Não era stop,
você se lembra? Porque em um sótão numa casa de subúrbio no Queens,
Anahí estava viva. E numa operação para apreensão de drogas, a casa de
Tobias Menzies foi invadida. E Anahí foi encontrada.
E a vida dela saiu do pause. A vida dela voltou a andar. Só que tinha ficado
parada por oito anos, enquanto de seus amigos, de sua família, de seu amor
tinha seguido.
Nova York, 2018. Temos então uma Anahí que não lembra mais quem era.
Uma Anahí marcada pelo trauma de viver trancafiada por oito anos, de ser
estuprada, espancada e abusada de todas as maneiras. Uma Anahí cuja
única referência do mundo exterior foi um homem que tirou sua vida, que a
tirou da vida que ela conhecia. Essa Anahí poderia lidar com o fato de que
os amigos viveram, que sua mãe e seus avós viveram... mas como lidar com
a ideia de que Poncho não está mais de casamento marcado com ela? Como
recuperar as feridas quando Poncho tem outros braços para esquentar-lhe de
noite, que não será ele a secar suas lágrimas já que agora tem uma família?
O modo como uma pessoa vai reaprender a viver depois que se esqueceu do
que era ter uma vida é a história condutora de "Somente você e eu". São
histórias sobre se ter o amor e se perder, seja porque ele escapou de suas
mãos sem perceber, seja porque você nunca o teve, seja ainda por tê-lo
deixado escapar.
Em 2018.
Data de estreia
Até lá 😉
Capítulo 1 - Eight years
Quando uma pessoa é marcada por algo muito doloroso no passado, leva
tempo até que os sentimentos reencontrem o seu lugar. Isto é, se eles voltam
para o lugar. Por vezes essas dores ficam em espaços esquecidos da mente,
como se tivessem sido superadas. E num dia, num momento, mediante uma
lembrança, um acontecimento qualquer, ela volta. O sentimento se alastra
do peito pelo resto do corpo. A dor é praticamente física. Importante dizer:
ela é real.
Essa era uma daquelas noites para Alfonso Herrera. Uma noite que ele tinha
rido, que tinha se divertido, tinha esquecido que lá no fundo de seu peito, no
fundo de sua mente, certas lembranças lhe doíam, certos sentimentos
ficavam aprisionados e esquecidos. Uma noite como outra qualquer, que
seria como qualquer outro dia de sua vida. Uma vida tranquila, sem
preocupações, sem grandes sacolejos. Dia comum de uma vida comum que
tinha tudo para virar uma lembrança de cinco segundos e passar
completamente batido como vários outros dias dentre os quais ele já tinha
vivido... se ele não tivesse lembrado dela.
— Como eu posso dizer...? – ela suspirou longamente – Ela é... não sei
Poncho. Forçada? Enjoada?
— Eu jurava que vocês estavam se dando super bem – ele negou com a
cabeça incrédulo – Porque era o que parecia. Conversaram a noite inteira...!
— Por conversaram, você tem que entender que ela falava noventa por
cento do tempo e eu falava dez – Diana observou – Que nesses dez por
cento eu era completamente monossilábica. Acho que a maior palavra que
eu disse foi "entendi". Porque quando eu pensava em dizer algo mais
consistente, a garota emendava em outro assunto, outra história maravilhosa
sobre a vida maravilhosa dela e nossa senhora, eu só pensava "meu Deus do
céu, quando essa Lindsey vai calar a boca?"
— Você acha que eu não sou? – Poncho cruzou os braços – Sophia é minha
melhor amiga, junto com o Jesse. Eu não gostei de quando eles terminaram,
eu fiz de tudo pra que eles percebessem que estavam fazendo uma burrada,
mas cadê que qualquer um dos dois me ouviu? Você lembra disso!
— Seu melhor amigo – ela completou – Eu sei. Eu lembro que era ele que
estava do seu lado no nosso casamento e foi ele quem guardou as alianças
pra que você não as perdesse na despedida de solteiro.
— E pensar que nós sempre achamos que seria o mesmo no casamento dele
com a Soph – Diana suspirou – Nem tudo é como a gente quer, não é?
Foi nesse momento. O primeiro momento que a lembrança veio, que ela
tentou abala-lo, derruba-lo, e Poncho teve que se prender a algo que nem
sabia ao certo o que era para não desmontar. Ele simplesmente não podia se
deixar levar. Não podia começar a chorar sem motivo algum, deitar no chão
do quarto, no chão do banheiro... Diana estava ali, ele precisava parecer
estar bem. Então, antes que a lembrança dolorosa o invadisse, ele a repeliu,
fazendo uma careta e balançando a cabeça. De repente se deu conta que ela
já falava há algum tempo e ele, perdido nas próprias memórias, acabou não
prestando atenção alguma.
— Estava dizendo que você pode ficar tranquilo que eu não irei tratar a
Lindsey mal – Diana repetiu – Não apenas por você, pelo Jesse e pela
amizade de vocês dois... mas porque eu bem sei o quanto é complicado
quando você é a novata num grupo de amigos.
Ela não estava mais lá. Ela não estava em lugar nenhum, nem embaixo das
pedras, nem em qualquer dos infinitos lugares onde foi procurada.
Inalcançável para a polícia, para investigadores, para qualquer um que
tentou incessantemente encontra-la. Com uma coisa por acabar. Por mais
que a última vez que Poncho esteve com ela, os dois tenham tido uma cena
gostosa de se lembrar... por mais que seu último momento ao lado dela não
tenha sido algo do qual fosse se arrepender, sempre ficaria aquele vazio,
porque mesmo sete anos com ela parecia pouco em vista da vida inteira que
ele tinha projetado. Sete anos era nada comparado com os últimos oito anos
que ele já não lembrava tão bem da voz dela, de seu rosto, já começara a
esquecer alguns dos muitos momentos que eles tinham vivido juntos.
xxx
Lexie Grey mal teve tempo de vestir o jaleco na chegada ao hospital. Eram
somente oito horas da manhã e ela teve que cancelar urgentemente a ronda
de internos daquela manhã e jogar a escala de residentes para o lado quando
o bipe começou a tocar descontroladamente. De nada adiantou chegar cedo
naquela manhã no New York General Hospital, acreditando
verdadeiramente que seria um dia tranquilo, que ela conseguiria acumular
as cirurgias, os pacientes chegando, os pós-operatórios da neurocirurgia e a
burocracia de residente-chefe. Ledo engano. Ninguém conseguia acumular
tantas funções assim quando era a residente favorita de Amelia Shepherd.
— Little Grey, não toque nessa paciente...! – Derek ordenou, fazendo Lexie
levantar o olhar com violência.
Little Grey. Como Lexie odiava ser chamada daquela forma. Derek sabia.
Aquele apelido a lembrava outro médico que estava presente no recinto, um
médico que ela não podia encarar, não podia sequer pensar.
— Ai pelo amor de Deus, já chega vocês dois – Callie Torres pediu, quase
ordenou, revirando os olhos.
— Hunt, por que você me bipou? Ela está grávida? – Arizona questionou.
— Pelas imagens da tomografia dará pra ter uma visualização melhor, mas
de antemão eu já posso imaginar que... – Callie começou a falar.
— Ai meu Deus.
Todos os olhos naquela sala se voltaram para Lexie Grey. Ela tinha ambas
as mãos tampando a boca e os olhos repletos de lágrimas; simplesmente
tremia. Ninguém tinha entendido aquela reação repentina, Lexie estava bem
até logo antes... que diabos tinha acontecido?
— Lexie? – foi Meredith quem chamou dessa vez. Lexie continuava atônita
e congelada.
Ninguém falou mais nada. Mark foi o primeiro a notar, ela olhava
diretamente para o rosto da paciente, e era daí que vinha aquela emoção
toda. Aparentemente Lexie havia reconhecido a moça que estava
desacordada naquela maca, e de alguma forma aquilo mexia completamente
com ela.
E ela levantou o rosto, ainda com as mãos na boca, tremendo sem parar.
— Eu... eu achei que ela estava morta, todos... todos acharam que ela tinha
morrido, eu... eu...
— Certo, não podemos ficar parados – ele anunciou – Alguém bipe algum
interno para levar a paciente pra cirurgia.
— Não a deixem sozinha, por favor, não – Lexie murmurou ainda agoniada,
tentando se soltar dos braços de Mark – Eu vou com ela, eu...
— Nós vamos cuidar bem dela – foi Arizona quem disse dessa vez – Você
não precisa se preocupar.
Claro que ninguém havia entendido nada, e demorou até que Lexie
finalmente parasse de chorar, ainda amparada por Mark, e conseguisse
minimamente recuperar a si própria. Somente Meredith, Derek e o próprio
Mark tinham ficado ali. Lexie ainda soluçava, um interno a levou um copo
de água, ela estava sentada numa maca numa sala anexa à que a
desconhecida havia sido atendida. Os três tentavam entender o que
exatamente tinha acontecido ali, embora algo ficasse claro, quem sabe
subentendido: quem quer que fosse aquela paciente, Lexie a conhecia.
— Sim – Lexie confirmou – Ela está diferente... faz oito anos, mas é ela, eu
sei que é ela...
— Se faz oito anos, como você tem tanta certeza que é ela? – Meredith
questionou.
— Ei, ei, ei, você não vai a lugar nenhum – Mark voltou a impedi-la –
Lexie, a polícia está cuidando disso, você não pode simplesmente sair
ligando pra família dela sem ter certeza...
— Mark, eu tenho certeza – ela garantiu – É ela! Eu não iria me enganar!
— Ei, Grey – Owen Hunt, na porta da sala de trauma, chamou Lexie, sendo
que ela e Meredith levantaram os rostos ao mesmo tempo – Não Meredith,
Lexie. A polícia está aí e quer falar com você. Será que você está em
condições?
— Estou, é claro que estou – ela levantou na mesma hora – Onde eles
estão?
— Te esperando na recepção.
— Você tem certeza que está bem...? – Mark perguntou passando a mão
pelo ombro dela, dando-lhe algum conforto. Lexie ou ele não viram, mas
Meredith e Derek trocaram um discreto olhar a partir disso.
Mark sequer teve a chance de oferecer qualquer apoio maior. Antes que
Lexie pudesse sair dali, Jackson Avery entrou a passos largos na sala, em
direção a sua namorada. Foi a hora que Mark teve que se recolher, dando
espaço para o homem que tinha o verdadeiro direito de estar ao lado dela
apoiando-a. O homem que não era mais ele...
— Eu... eu não sei – Lexie suspirou – Tenho que ir falar com a polícia.
E Lexie foi. A polícia, como Owen Hunt dissera, estava à sua espera na
recepção da emergência do New York General Hospital. Ela era a única
pessoa que sabia informações mais precisas daquela mulher desconhecida.
Graças a Lexie Grey, se aquela mulher desconhecida realmente fosse Anahí
Portilla, sua família não demoraria nada a estar ao lado dela novamente.
Finalmente.
xxx
Jesse Lee Soffer estava acordando em sua cama com uma claridade para lá
de incômoda batendo em seus olhos. Ele sentia as pálpebras mais pesadas
do que gostaria e, a julgar pelo cansaço, imaginou que ainda deveria ser sete
horas da manhã. Ao olhar o relógio, percebeu que já passava – e muito –
das nove. Não era, no entanto, a claridade, ou qualquer outro fator que o
despertava naquela manhã. Era o celular, na mesa de cabeceira, que não
parava de tocar.
— Eu preciso que você fale com todos... Maite, Sophia, Poncho... eu não
consegui falar com ninguém! Jesse, aconteceu algo...
Será que ele tinha ouvido direito? Porque simplesmente não era possível...
— Eu também achava isso! – ela retrucou – Eu achava, até essa manhã! Até
ela aparecer bem na minha frente... com sinais de tortura, machucada,
desacordada... Jesse... eu acho que ela estava sequestrada esse tempo todo.
— Eu tentei ligar pro Poncho, mas ele não me atende, ninguém me atende,
nem Mane, nem Maite, nem Christian... – ela suspirou – Eu estava
agoniada, só consegui falar com você. Vá até o Poncho. Traga ele aqui.
Quando ela acordar ela vai precisar dele...
Mas antes de encontrar Poncho, Jesse tinha uma pessoa que precisava saber
daquela notícia por ele. Por ninguém mais.
xxx
— Sophia? – Lívia a chamou colocando a cabeça dentro da cozinha da
confeitaria – O ruivo está aqui de novo.
— É pra já...!
Já havia algum tempo que Sophia tinha entrado em um acordo com sua
funcionária, Lívia, para uma missão cupido na qual pretendia unir sua sócia
com um cliente. Ali estava ela em sua confeitaria, a Sophia's, na qual
Torrey – tal como Jesse – era sócia. Lívia era a funcionária que ficava no
caixa e por vezes servia os clientes, já que o local não era gigantesco.
Torrey, nos dias que Sophia se aventurava em ir para a cozinha preparar
novas receitas, ia para lá e ajudava no balcão. Tudo normal, se não fosse o
horário que o homem ruivo que não tirava os olhos dela chegar ali para
tomar café, e deixar Sophia, bem como Lívia, completamente incendiadas
em fazer aquele romance acontecer.
— Eu não acredito que vocês vão tentar isso de novo – Torrey revirou os
olhos.
Uma vez aquela etapa da missão cupido cumprida, Sophia voltou para a
cozinha. Além dos pedidos tradicionais que deveriam ser feitos naquela
manhã, ela estava testando uma nova receita de cheesecake com creme de
avelã e nozes. Estava quase pronto, na verdade, meia hora depois – logo
que Torrey saiu dali depois de resmungar pela milésima vez as tentativas
delas de juntá-la com o ruivo – Sophia já cortava o primeiro pedaço para
enfim provar o doce e verificar se estava mesmo tão bom assim.
— Não, mas você não atende esse maldito celular...! – Jesse resmungou de
volta.
Antes que Jesse pudesse processar a pergunta, ela já tinha passado o garfo
no pedaço de cheesecake em seu prato e estava prestes a colocar na boca
dele.
— Sophia...
— Sophia...
— Sophia...
— Está bem...! – Jesse se deu por vencido e, tão logo abriu a boca, Sophia
colocou o garfo dentro da boca dele. A irritação estava latente por ela não
deixa-lo falar, mas assim que sentiu aquele sabor... – Deus, isso está divino!
— Lexie me ligou essa manhã, ela te ligou também, mas você estava
ocupada e não atendeu... – Jesse suspirou – Vai parecer chocante e eu não
sei muito o que te dizer. Por isso respire, fique calma e não surte ok?
— Sim, porque você ainda não viu nada – ele respirou – Vamos lá... uma
paciente vítima de estupro e de sequestro chegou no hospital hoje e Lexie
foi uma das médicas que a atendeu. Parece... pode ser que... enfim... talvez
possa ser a Anahí.
Jesse tinha razão... nada prepararia Sophia para o choque daquela notícia.
— Você acha que Lexie brincaria com algo assim? – Jesse questionou –
Acha que eu brincaria...?
É claro que Sophia chorou. Era nervosismo, era choque, a ficha precisava
cair. Assim que conseguiu se acalmar, Jesse, ainda abraçado nela, passou
todas as informações que tinha, todas as que Lexie havia lhe dito. A cabeça
de Sophia estava a mil, eram muitas perguntas e poucas respostas, coisa
demais para se pensar... mas tinha uma pergunta, uma que era inevitável não
fazer. Dentre tudo o que ela não sabia, parecia ser das mais importantes.
— Poncho já sabe? – ela perguntou a Jesse. Isso ele sabia dizer.
Parecia que toda aquela angústia, toda aquela dor, saudade, aquele vazio de
longos oito anos finalmente iria acabar.
ESTAMOS DE VOLTAAAAAA!
Esse é o grito mais libertador de quem começa uma web nova no Wattpad,
porque é sempre gostoso esse momento inicial, eu formigando de ansiedade
pra saber se vocês gostaram, de quem gostaram, o que acharam e vocês
doidas pra saber como é a história, porque por mais que eu poste spoilers na
página e coloque a sinopse aqui, nunca é como estrear, verdade?
A web é bem ambígua, não tem aquilo de mocinhos e vilões, tirando uns
dois machos bemmmm escrotos e uma personagem mt pé no saco, todo
mundo aqui é bom e ruim, tem defeitos e qualidades e eu imagino que
dividirão opiniões. Mas são coisas que saberemos conforme a web se
desenvolver.
O que eu quero saber são as OPINIÕES! O que acharam? Gostaram? De
quem e do que gostaram? Eu quero saber tudooooo!
Espero que vocês gostem da web como eu gosto (eu amo, fica a dica!)
Nos vemos segunda (posts segundas e quintas, a partir das 20:30h porque
sabe Deus a hora que eu chego em casa rs)
Beijos,
Rafa
Capítulo 2 - My heart says it's her
A rotina de Poncho para escrever era não ter rotina. Como Diana tinha um
emprego fixo na editora de sua família – a mesma editora que publicava os
livros de seu marido – era ele quem ficava com as questões domésticas e
relativas ao filho do casal, Daniel. Poncho levava Dani para a escola,
cuidava das refeições e da limpeza da casa deles e, nos intervalos, saía para
escrever. Não era sempre que Poncho tinha inspiração dentro de casa,
geralmente ali rolava um bloqueio enorme por questões muito simples: a
casa era onde ele vivia com a sua família; o mundo dos livros, por sua vez,
era onde ele deixava Anahí viver. Não dava para misturar.
Então, não era a toa que Lexie achava que não seria fácil encontrar Poncho.
Ele poderia estar em qualquer lugar da cidade, haja visto que parava
geralmente nos lugares que o inspiravam. Para Sophia e Jesse, que
conheciam o amigo melhor do que a cirurgiã, parecia um pouco mais
simples. Quantas vezes um dos dois foi até Poncho por um motivo
qualquer? Inúmeras. Eles tinham ideia de onde Poncho costumava parar, já
que os lugares não variavam tanto assim, e foram indo de um a um. Neste
caso, Poncho estava na terceira parada – uma Starbucks no Brooklyn,
próxima à casa onde ele morava com Diana.
— Digamos que não tem um jeito fácil de dizer isso – Jesse começou a falar
e Poncho arqueou as sobrancelhas.
— Quê? Claro que não...! – ela negou com a cabeça fechando os olhos.
— Desculpe Soph, os dois aqui juntos, uma hora dessas... – Poncho deu de
ombros – O que eu poderia pensar? Espera... aconteceu alguma coisa com a
Sam? Com o Dani...? Aconteceu algo com o meu filho, Jesse, ou com a
Diana?
— Não – Jesse negou de pronto – Sophia, eu vou falar de uma vez, porque
ele não vai parar de pensar besteiras...
— Sim, fale – Sophia concordou. O rosto de Poncho estava mais agoniado
do que nunca.
— O quê...? – ele perguntou incrédulo. É claro que Jesse teria que dar mais
informações para conseguir convencê-lo.
— Ninguém tem certeza disso – Sophia olhou para Jesse, que com gestos a
incentivava a continuar – A própria Lexie não tem. A polícia está lá
tentando averiguar a situação...
— Mas a mesma polícia sempre disse que ela estava morta – Poncho
murmurou. Era óbvio: ele ainda estava muito cético. Precisava ter certeza
antes de se entregar para aquela realidade.
— Por isso nós dissemos que não sabemos ao certo... – Jesse ponderou – Só
que enfim, você precisava saber. Se eles tiverem certeza, vão chamar a
Karen...
— Você ouviu a parte que dissemos que pode não ser ela, não é? – Sophia
repetiu – Quer dizer, a Lexie podia estar nervosa e ter se confundido, fazem
muitos anos desde que a Anahí...
Nem Jesse nem Sophia responderam. Poncho, por outro lado, estava
praticamente com ambos os pés fora da Starbucks.
— Bom, eu estou indo – ele anunciou – Vocês vêm?
xxx
Mesmo apreensivo, Mane não retornou nenhuma das ligações. Ele deixou o
time treinando com seu assistente e caminhou para a secretaria, repassando
mentalmente quais situações tinham gerado aquela necessidade repentina
dos amigos de falarem com ele de uma hora para a outra. Ao chegar na
secretaria, a funcionária que o mandou chamar tinha o telefone em mãos e
uma careta nos lábios, estendendo o aparelho para ele.
— É pra você Mane – ela estendeu – Sinto muito atrapalhar o treino, mas
parece que é urgente.
Por sorte Mane seguiu o conselho. Ele chegou a sentir as pernas bambearem
com a notícia de Christian. O choque não poderia ter sido maior: como
assim Anahí poderia estar viva? Poncho, se àquela altura soubesse daquela
possibilidade, provavelmente estava pirando. Mas a primeira coisa na qual
Mane pensava – não era algo que ele conseguia evitar – é claro, era em
Maite. Mane se lembrou de repente de toda a ansiedade, toda a luta, toda a
esperança que Maite colocou na busca pela melhor amiga ao longo de todos
aqueles anos. Será que era melhor esperar que tivessem certeza que era
Anahí realmente antes de avisar Maite, e evitar uma decepção enorme na
esperança que aquilo iria gerar nela? Ou será que era melhor dizer logo e
dar a oportunidade que ela procurasse a amiga e estivesse ao seu lado desde
o início?
A julgar pelo tanto que Mane conhecia Maite, ele achava que era melhor
dizer de uma vez.
Christian tinha certeza que Mane iria optar por estar ao lado de Maite
naquele momento. Para nenhum dos amigos era segredo o quanto Mane era
apaixonado por ela desde sempre, somente um tabu: ninguém falava, era
um assunto no qual ninguém ousava tocar, em especial porque Maite
parecia ser a única que não se dava conta do sentimento que o amigo nutria
por ela. Se ela não percebia e Mane mantinha aquilo como uma espécie de
segredo, ninguém ousava falar. Mas era óbvio, tão óbvio que, quando
Christian discou para o colégio de Mane e começou a falar com ele, ao
tocar no nome de Maite ele já sabia que o amigo se ofereceria para dar a
notícia para ela e acompanha-la ao New York General Hospital visitar
Anahí. Não apenas pela proximidade geográfica – Mane e Maite
trabalhavam próximos – mas porque ele não iria querer que qualquer outra
pessoa a apoiasse num momento daqueles se não ele próprio.
xxx
— Me digam que ela está viva – Lexie implorou – Por favor, por favor, me
digam...
— Por ora nós nos preocupamos em estabilizar a coluna dela, porque nessa
última agressão aparentemente ela levou alguns chutes nas costas e Callie e
eu temíamos que isso tivesse lesionado a coluna – Amelia explicou e, ao
ver a expressão de pânico de Lexie, tratou de fazer uma observação – O que
foi descartado. Mas eu ainda terei que fazer um exame neurológico quando
ela acordar, pra ver o quão bem ela vai estar, se essa confusão mental foi
temporária ou não...
— Arizona vai fazer um exame pélvico nela depois que acordar, pra avaliar
a questão do estupro – Callie explicou – Fique forte, Lexie. Sua amiga
precisa de você firme.
Lexie estava lá quando, duas horas depois, com um tubo na garganta ainda
entubada, Anahí despertou. Exatamente como Amelia havia descrito, ela
acordou agitada e com os olhos balançando sem parar. Lexie gritou para a
enfermeira, que imediatamente bipou Amelia, e um minuto depois a
neurocirurgiã estava ali acalmando sua paciente e estava desentubando-a.
Lexie aproveitou para observa-la, ela tinha certeza que era Anahí ali –
mesmo machucada, mesmo depois de tanto tempo e com evidentes
mudanças na fisionomia, ela a reconheceria em qualquer lugar.
— Pupilas ok, sistema motor ok, sistema sensorial ok... – Amelia disse
examinando-a – Anahí? Você consegue me ouvir? Você sabe onde está?
— Ele não está aqui agora, mas nós vamos cuidar bem de você – Amelia
disse encarando-a – Você sabe em que ano nós estamos?
xxx
Mane não demorou nada até chegar onde Maite trabalhava. Ela era
professora infantil de uma das melhores escolas primárias públicas do
Brooklyn, sendo certo que muitos pais procuravam se mudar para aquela
localidade para permitir que seus filhos estudassem ali. Maite tinha muito
orgulho do próprio emprego, ela tinha batalhado para chegar até ali e sabia
que só tinha conseguido pelo empenho que dedicou em todos aqueles anos
à própria carreira e à verdadeira vocação que tinha para lecionar para
crianças. Eram ingredientes que faziam Mane ter certeza de que ela
certamente estava naquela manhã em sala de aula, empenhada como
sempre, exatamente como ele estava até receber a ligação de Christian.
Porque é claro, depois daquela notícia, não havia qualquer trabalho que os
segurasse. Se foi assim com ele, certamente seria com Maite também.
Maite passou os últimos oito anos se recusando a aceitar que Anahí poderia
ter morrido. A falta de um corpo para ser velado e enterrado gerou nela a
certeza de que a amiga estava viva em algum lugar. Ela se negou a
compactuar com aquilo, o que abalou sua relação com quase todos os
amigos, que, na ausência do que fazer, acabaram entregando os pontos e se
dando por vencidos. Mane entendia o lado de Maite, ela precisava acreditar
que Anahí estava em algum lugar, precisava manter a chama da esperança
pela amiga viva. Mas ao mesmo tempo, ele entendia o lado dos amigos que
não poderiam ficar eternamente esperando por algo que talvez nunca viesse,
Poncho principalmente. Ninguém poderia parar a vida por uma mera
expectativa. O que Maite se recusava a entender era que Anahí preenchia
papeis diferentes na vida dela e do ex-namorado. Se ele ficasse esperando,
como ela ficava, simplesmente não voltaria a viver. Ela, bem ou mal, seguia
com a própria vida, tinha relacionamentos, seu emprego... com Poncho tudo
girava em torno da vida que ele teria com Anahí. Se ele mantivesse as
mesmas certezas que Maite, não daria qualquer passo em qualquer direção.
Mas isso não foi suficiente para que a morena aceitasse aquela
possibilidade. Para Maite, Poncho se casar com Diana era quase uma
traição à Anahí, era aceitar que ela tinha morrido, o que para ela era
indiscutivelmente um absurdo. No fim das contas isso só serviu para afasta-
la dos amigos, já que o antigo grupo tão unido se rachou entre quem
apoiava o casamento de Poncho e quem o rechaçava – no primeiro se
incluíam Jesse e Sophia, no segundo Christian e Maite, enquanto Mane e
Lexie, por sua vez, ficavam perdidos no meio do caminho. E Mane sabia
perfeitamente bem que a única razão para ele não discordar totalmente da
opinião daquela morena geniosa era o fato de que ela ainda era a única
mulher que fazia seu coração bater forte.
Por tudo isso Mane fez questão de ser ele a dar a notícia, de ir até lá,
pessoalmente. Ele viu de longe Maite entregar os alunos aos pais, falar com
alguns deles, com o sorriso tranquilo de sempre. Mesmo teimosa, ela era
encantadora e ele admirava isso. Esperou que ela estivesse totalmente livre
para se aproximar, e imediatamente viu no olhar dela a estranheza por sua
presença. Nada de novo por ali.
— Não – Mane deu um sorriso – Eu vim por que... Christian pediu que eu
te contasse uma coisa.
— Me contasse algo? – ela fez uma careta – E por que ele próprio não veio
aqui contar o que quer que seja?
Maite era arisca até naqueles momentos... Mane apenas suspirou, sem se
deixar desanimar, e deu continuidade.
— É ela – Maite disse com convicção – Eu sei que é, meu coração diz que
é.
— Eu acreditei desde o início, fui a única, não é agora que vou voltar atrás
com isso – ela respondeu ainda mais certa do que dizia – Nós vamos pra lá,
não é? Eu quero vê-la, eu preciso vê-la Mane...
— Sim, é claro que vamos – Mane respondeu – Eu vim aqui exatamente pra
te levar.
xxx
Karen Scott tinha acordado naquele dia bem, era uma surpresa depois de
uma infinidade de dias deprimentes e silenciosos. Ela apenas abriu os olhos
naquela manhã e teve uma sensação boa. "Hoje é um dia diferente", foi
basicamente esse o pensamento. Ela não sabia dizer se tinha a ver com o
tempo, se era algum programa que ela tinha marcado e se esqueceu mas
que, de alguma maneira, estava ali iluminando seu peito... só sabia que
estava bem. Feliz era uma palavra forte demais, Karen preferia usar alegre.
Era suficiente para definir seu estado de espírito, ao menos parecia ser.
Keith tinha notado aquela diferença no humor da esposa e não tinha sido o
único. Sua mãe, Ellie, no café, também percebeu a diferença no sorriso do
canto da boca da filha. Ficou prestando atenção em cada detalhe da
expressão ela, vendo se tinha algo de diferente, se Karen diria algo, mas
ficou com o silêncio. Karen agia como se nada tivesse mudado, ao mesmo
tempo que tinha alguma coisa nela que Ellie e todos os outros notavam, mas
não eram capazes de definir. Era no mínimo estranho.
— Meu Deus, nada! – ela suspirou – Nada de diferente, nada novo. Estou
exatamente igual a todos os outros dias.
— Não é verdade – Ellie rebateu – Você normalmente não sorri assim.
Ellie sabia a que a filha se referia. Karen certa vez disse que jamais
conseguiria se definir como feliz novamente, não desde que a filha
desapareceu. Ela jamais seria feliz outra vez, já que felicidade era uma
constante, uma soma de dias. Atualmente Karen sorria por coisas boas e
localizadas que aconteciam em sua vida, não mais por tudo o que via pela
frente. Ela não acordava com vontade de sorrir para tudo, de levantar e de
viver a vida, as coisas eram feitas na base da obrigação. Nem mesmo uma
vida amorosa realizada a fazia tão melhor assim, era apenas uma parte de
sua vida que tinha se resolvido, a mais importante ainda faltava e ela sentia
aquela ausência, sofria por aquele buraco. Mas de alguma maneira aquela
manhã não parecia tão nebulosa quanto todas as outras. De alguma maneira,
Karen estava um pouco melhor, mas não sabia dizer por que, por mais que
lhe perguntassem sem parar.
Era uma sensação... que horas mais tarde se materializou com a visita de
dois policiais ao Karen's Café. Imediatamente, a própria Karen, tal como
Ellie, se assustou. Que diabos tinha acontecido...?
xxx
O que ele não conseguia não pensar era no que aconteceria se não fosse ela.
Porque é claro, havia a chance de não ser... por mais que ele quisesse
acreditar com todo o coração que era, não podia descartar aquela
possibilidade. E ele já tinha nutrido tanta esperança no peito naqueles
breves minutos, sua mente estava incansavelmente trabalhando numa cena
de reencontro dos dois, na qual ele a abraçava e dizia o quanto sentira sua
falta, pediria perdão por não ter acreditado que ela poderia estar viva, por
não tê-la procurado... e se fosse tudo uma ilusão? Como voltar para a
realidade de antes? Se não fosse dessa vez... Poncho não queria nem pensar.
— Lexie... – Poncho quase arfava – Como ela está? Ela está bem? Como...
Lexie, você tem certeza que...
— Como você sabe? – Jesse perguntou, de longe o mais cético e o que mais
tinha receio de um eventual engano e de seus respectivos estragos.
Como ele reagiria quando estivesse frente a frente com ela? Qual seria sua
reação? Poncho não conseguia parar de pensar. Era diferente o plano das
ideias com a realidade, só o que ele sentia ali já era diverso de tudo o que
imaginou sentir em todos aqueles anos caso o impossível acontecesse e ela
voltasse. O impossível naquele dia se tornava realidade, e Poncho
finalmente saberia como seria estar frente a frente com ela de novo.
Obviamente Amelia achou aquela uma péssima ideia. Como Lexie previu,
emoções demais. Se era para Anahí ficar mexida com a visita de velhos
conhecidos, que fosse pela mãe, que evidentemente teria prioridade. Por
mais que profissionalmente Lexie concordasse com a mentora,
pessoalmente seu coração sentia um buraco pela agonia de Poncho. Por isso
ela insistiu, e insistiu, e insistiu. Ficou meia hora andando atrás de Amelia
pelo hospital inteiro, argumentando sem parar, contando histórias sobre o
amor épico de Anahí e Poncho, sobre a perda de uma vida, a dificuldade de
seguir em frente que Poncho sentiu ao longo daqueles anos, a agonia que
Lexie viu estampada no rosto dele. Lexie não se deu por vencida, e por
mais insistente e convicta que Amelia fosse de que aquele não era um bom
caminho a se seguir, ela não tinha coração de pedra. O que significou que
ela acabou concordando.
— Você deve ser breve – ela indicou ao amigo – Ela não pode se exaltar.
— Eu não vou demorar, prometo – Poncho garantiu – Só preciso... ter
certeza que ela está bem.
E Poncho sentia a falta dela, como ele sentia! Esse era o momento que tinha
certeza, que se perguntava como conseguiu viver oito anos distante dela,
como tinha conseguido levantar da cama e fingir que um dia talvez voltasse
a ser completo quando era óbvio que sem Anahí isso não iria acontecer, não
sem ela. Era como se algo dentro dele tivesse ficado perdido por muito
tempo e agora sem cerimônias estava ali. Ele encostou a cabeça no peito
dela, sem jogar o peso em seu corpo, sorrindo aliviado e tentando
administrar toda a felicidade e a expectativa, sentindo uma das mãos dela
acariciar seus cabelos, pensando somente no quanto sentira sua falta. No
quanto não sabia como tinha vivido por tanto tempo sem ela, e certo que
não saberia mais viver assim, definitivamente não.
Nada mais importava. O que tinha acontecido até ali, o que ele tinha
vivido... vê-la machucada daquele jeito fazia Poncho querer estar com ela
cada minuto, cada segundo, protegê-la incessantemente e impedir que
qualquer outra coisa lhe acontecesse. Claro que não poderia ser assim, mas
a impotência nunca foi tão grande, por oito anos ela esteve sabe-se lá em
que situação, passando por diversos traumas, o fazia perceber que as
cicatrizes dele não eram nada em vista de tudo o que Anahí teria vivido.
Mas era passado. Agora o passado era novo, não era mais o que eles tinham
vivido juntos, mas o que ela deixou pra trás naquele período separados. A
única certeza de Poncho, inflamado no calor do momento e finalmente
reunido com seu grande amor, era que faria qualquer coisa para impedir que
ela sofresse novamente. Ele ficaria ali, o dia inteiro, dia após dia,
garantindo que tudo ficaria bem.
O capítulo de hoje é grandinho (apesar que nunca tão ser tão grandinho a
ponto de saciar vocês rs) e vocês nele são apresentadas a vários
personagens que ainda não conheciam. Temos aqui a Maite - que é a
personagem que eu mais quero saber se vocês gostarão nos próximos
capítulos ou não (porque tenho uma forte intuição que vocês terão uma
relação de amor e ódio com ela rs), o Mane (que por sua vez é um docinho
de coco) e uma parte do núcleo da família da Anahí, a mãe e a avó.
Também temos o Christian, que esse sim eu sei que será unanimidade!
Única certeza da vida hahahahah
To no aguardo das posições quanto ao que aconteceu por aqui, mas é óbvio
que todo mundo vai gostar porque esse momento AyA foi realmente de
derreter o coração né? <3
beijos,
Rafa
Capítulo 3 - Butterfly
Poncho não teve tanto tempo assim de ficar na UTI Neurocirúrgica, Amelia
Shepherd logo deu por encerrada a breve visita e restringiu a entrada de
familiares e médicos para ver Anahí. Já era o suficiente, considerando que
os batimentos cardíacos dela subiram consideravelmente, Anahí tinha
ficado inegavelmente agitada com a presença do ex-namorado e Amelia
queria garantir que ela estaria bem quando sua mãe chegasse ao hospital.
Poncho não estava diferente, ele brincou com Lexie antes de abraçar
aliviada a amiga que, se os seus próprios batimentos também estivessem
sendo medidos, estariam ainda mais agitados dos que os de Anahí.
O reencontro deles foi repleto de emoção. Poncho percebeu que ela estava
confusa, mas Anahí sabia quem ele era, se lembrava dele e, pelo visto, do
que os dois tinham vivido. Era o suficiente. Ele ainda estava com os nervos
à flor da pele, não sabia direito o que deveria dizer a ela, se deveria tocar no
assunto de seu desaparecimento, no que tinha acontecido naqueles oito anos
que os dois estiveram separados, tanto para ela quanto para ele. O estado de
Anahí dizia por si, ela estava machucada, confusa, com marcas de quem
permaneceu amordaçada e em cativeiro por anos, enquanto ele tinha se
casado com outra mulher que não ela, tinha tido um filho, uma vida inteira,
uma vida tranquila.
Era inevitável para Poncho não se sentir um pouco engasgado sobre isso.
Enquanto ele aceitou que ela provavelmente estava morta e seguiu a vida
como uma forma de não morrer junto, ela estava presa e provavelmente
sendo espancada e estuprada enquanto ele decorava uma casa e vivia com
outra pessoa a vida que deveria ter sido com ela. E agora, como ele diria
aquilo para ela? Como contaria a Anahí que ele não estava livre para ela
como ela evidentemente estaria para ele?
Poncho refletia sobre todas essas coisas enquanto sentia aos poucos o
sangue esfriar e as lembranças de dor de vê-la naquele estado, de supor tudo
o que ela tinha passado. Ele agora estava sentado na sala de espera do
hospital, Sophia e Jesse ainda estavam ali um ao lado do outro, mas de certa
forma Poncho estava sozinho porque a cadeira que ele escolheu sentar era
distante, não queria estar exatamente colado aos amigos porque precisava
de algum tempo para refletir, para se perder nos próprios pensamentos.
Toda essa história de Anahí reaparecer e nunca ter morrido – muito pelo
contrário – tinha mexido um tanto com todos, mas eles sabiam que ninguém
experimentaria uma dose de culpa como a de Poncho, considerando que o
papel que ela preenchia na vida dele não era como na de mais ninguém. O
modo como ele tinha seguido em frente o faria ter que escolher entre Diana
e Anahí, entre o presente e o passado. Nenhuma outra pessoa teria que abrir
mão do que viveu nos últimos anos para tê-la de volta em sua vida...
somente ele. Era natural, assim, que para Poncho fosse ser muito mais
difícil que qualquer outro.
— Karen, shhhh, ela está bem... – Poncho disse consolando-a – Eu a vi. Ela
está bem.
— Sim, realmente é ela, você pode acreditar dessa vez – Poncho disse com
um sorriso acolhedor enxugando as lágrimas dela – Eu tenho certeza disso,
eu falei com ela, ela me reconheceu, então você pode ficar tranquila...
— Lexie me contou por alto, os médicos dela vão saber te explicar melhor –
ele murmurou – Seja forte Karen, a Any precisa que você seja, que todos
nós sejamos.
— Eu fui forte nos últimos oito anos – Karen deu um sorriso amargo – Para
não desabar. Porque essa era a minha vontade todo esse tempo, era deitar na
cama e não levantar mais, era não precisar andar. Só que... – ela disse
enquanto voltava a enxugar o rosto – Dessa vez ela está aqui. E... será que
agora eu posso chorar tudo o que não chorei? Agora eu devo sofrer tudo o
que evitei sofrer...?
— Eu sabia que vocês dois juntos seria muita emoção... – Ellie disse se
aproximando deles e colocando a mão no ombro de Poncho, evidentemente
sorrindo para ele – Você a viu, querido? Como ela está?
— Eu não vou mentir pra vocês, porque seria um choque vê-la daquele jeito
– Poncho suspirou – Anahí está machucada, com sinais de quem foi
torturada, a coisa não é nada boa. Mas está sendo bem cuidada. Eu
conversei com a neurocirurgiã que a operou, ela vai saber explicar melhor a
situação. Keith não veio com vocês?
— Ele foi viajar hoje cedo – Karen respondeu – Eu não... consegui falar
com ele ainda. Não consegui ligar, não sabia que palavras usar...
— Nós devemos prepara-la, Sra. Scott, para o modo como vai ver a sua
filha – Amelia Shepherd falava calmamente para Karen, que estava abalada,
de braços dados com a mãe e amparada por Poncho – Ela não está da forma
que a senhora a viu pela última vez.
— Ela está viva – Karen disse com a voz embargada pela emoção – É mais
do que eu poderia esperar, Dra. Shepherd.
— Sim, está... mas está machucada – Callie Torres começou a falar – Com
ferimentos, escoriações em todo o corpo, ossos quebrados...
— Mas pode não ser – Karen já quase soluçava, virando-se para as cirurgiãs
de imediato – Eu preciso vê-la. Por favor, me deixem vê-la, eu imploro...
— Eu sou capaz de matar o infeliz que a fez passar por isso – Poncho
murmurou com os olhos fechados e a voz repleta de raiva.
— Não pense nisso querido – Ellie passou a mão pelo rosto dele como fazia
da filha – O que importa é que ela voltou para nós. Não seja rancoroso.
— Ele a tirou por oito anos de nós, Ellie – Poncho respondeu. Antes que a
avó de Anahí tivesse a oportunidade de responder, Lexie interrompeu.
— Ellie? A polícia quer falar com você – a cirurgiã explicou – Já que a
Karen subiu... o sequestrador está preso e eles querem falar disso.
— Muito bem – Ellie suspirou. Ela estava muito mais tranquila que se
poderia esperar – Me deem licença queridos...
Restava esperar.
xxx
Oito anos. Karen deixava a mente vagar enquanto subia pelo elevador, mal
ouvindo o que as duas médicas que cuidavam de sua filha dizer o que quer
que fosse... oito anos. Tantas coisas tinham mudado na vida dela... o que
teria mudado na vida de Anahí? O que a filha tinha passado em todo aquele
tempo? O que ela tinha vivido e o quanto tudo o que vivera a tinha
mudado? Certamente Anahí não era mais a moca que Karen se lembrava. É
lógico que ela sempre amaria a filha e tê-la de volta era um presente que
jamais esperou receber, mas como seria lidar com uma pessoa que
provavelmente deixou de ser a que ela conhecia?
Callie falava sem parar com Amelia, que seguia silenciosa, observando a
mulher que as acompanhava. Logo a neurocirurgiã teve que dar um cutucão
na amiga para fazê-la se calar e, de certa forma, respeitar o momento difícil
que Karen Scott vivia: rever uma filha que considerava morta, uma filha
cuja vida tinha ficado parada no tempo enquanto a dela continuou.
Enquanto a de todo o resto continuou.
Karen ficou pouco aliviada com a notícia. Ainda tinha muitas coisas que
assombravam seus pensamentos, muitas coisas que ela se perguntava
quando deveria contar à filha, se deveria contar, misturados aos sentimentos
bagunçados de uma mulher que reveria sua menina depois de tanto tempo.
Amelia deu ainda algumas instruções sobre como ela deveria se portar
perante a filha. Karen ouviu atentamente cada uma das palavras que a
médica disse, seguindo para Anahí em seguida. Para o momento que ela
não sabia que tinha esperado oito anos para viver, mas acabava de
descobrir.
— Aquela mulher vai precisar ser forte – Arizona suspirou, estendendo uma
série de imagens de raio-X para a esposa que as pegou de imediato.
A simples expressão que Callie Torres fez logo em seguida dizia por si.
Karen precisaria ser forte, Anahí precisaria... não era uma situação nada
fácil.
xxx
Anahí estava de costas para a porta quando ela se abriu, não vendo Karen se
aproximar. Ela não tinha como supor que a mãe apareceria ali, não estava
olhando para onde ela caminhava e estava livre de todo um mar de emoções
no peito. Karen não. Os olhos dela marejaram simplesmente de olhar a filha
ali, viva. O cabelo diferente, definitivamente mais magra... Karen sentia
como se, mesmo sem olhar, Anahí fosse tão frágil deitada daquela forma
que voltara a ser sua menina como quando criança. Ela era uma mulher
agora, tinha vivido naquele tempo coisas que a mãe sequer conseguia
imaginar, e sobrava em Karen a vontade de acolhê-la e protegê-la, bem
como a culpa por tê-la deixado exposta àquele homem. Tobias. Se ela
tivesse percebido algo... se tivesse feito algo diferente...
Se para Poncho tinha sido extasiante rever Anahí, o que se poderia falar de
sua mãe? Karen provavelmente tinha o coração mais dolorido de todos.
Anahí era sua única filha, tinha sido um golpe muito duro o seu
desaparecimento. Karen não tinha há muito tempo esperanças de conseguir
reencontra-la, e por isso vivia há muito uma vida vazia, incompleta, seu
copo nunca estava meio cheio e não mais estaria. Não até ali. não até ver,
com seus próprios olhos, que ela estava ali, estava de volta. E mesmo que
não estivesse bem, estava viva. Bem, ela poderia ficar.
— Ei butterfly...
— Ninguém vai se machucar meu amor, nem você nem eu – Karen beijou a
testa dela, tentando prender as lágrimas que mais pareciam ter vida própria
– Ele foi preso. Ele não pode fazer nada mais contra você, contra ninguém.
Karen ficou algum tempo abraçada na filha, depois de parar com aquelas
promessas começou a dizer várias coisas, falar sobre o quanto seus avós
sentiam sua falta, da cafeteria, da casa delas e que o quarto de Anahí da
adolescência permanecia intacto, coisas que a fizessem se sentir
familiarizada, quem sabe mais confortável com aquela situação, mas Anahí
pouco respondia, estava calada, monossilábica. Karen não viu espaço para
mencionar Keith, achou melhor deixar isso para outro momento, Anahí
estava visivelmente frágil, qualquer mínimo barulho no corredor lhe
causava um imenso susto, gerava arrepios, ela nem parecia a mulher forte e
destemida de quem Karen se lembrava. Mas isso não importava, o que
importava realmente era que ela estava de volta. Pouco a pouco as coisas
voltariam para o seu lugar e ela teria a filha novamente. Talvez Anahí nunca
mais voltasse a ser quem era antes, ela tinha passado por coisas
inimagináveis naqueles anos, mas provavelmente ela arranjaria um jeito de
se reencontrar e buscaria um caminho para viver. Tudo ficaria bem.
— Ele te tirou de casa? – Karen insistiu – Você entrou no carro dele? Algo
assim? Eu não vou ficar brava com você, meu amor. Apenas me diga.
A policial em questão queria, a todo custo, interrogar Anahí. Dizia que era
extremamente necessário, que a instrução policial dependia disso. Tobias
seguia preso, o delegado mandara os policiais ali para verificar a situação,
mas para isso era preciso falar com Anahí e os médicos estavam reticentes
quanto àquilo. Sequer conseguiam chegar a um consenso quanto à
abordagem que deveria ser feita sobre Anahí naquele momento, qual equipe
deveria dar a palavra final... o resto era o resto.
— Dra. Shepherd, com todo o respeito, quem tem autoridade para falar
nesses casos é a Psiquiatria – a Dra. Caitriona Balfe, psiquiatra, falava de
modo firme com uma Amelia que parecia não lhe dar tanto crédito assim –
Eu respeito o seu conhecimento na área neurocirúrgica, mas a senhora não
tem competência para definir se a paciente deveria ou não receber visitas.
Agora ela está com a mãe, e já esteve com o noivo...!
— O que a senhora queria, Dra. Balfe? – Amelia cruzou os braços com tom
de ironia – Que eu deixasse os dois morrendo de saudade da garota? Depois
de oito anos...?
Não era nenhuma das médicas que estava naquela roda que dizia aquilo –
era Karen, a mãe de Anahí. Ela tinha a aparência assustada, como quem
estava falando algo que lhe doía completamente. Sobretudo, parecia meio
confusa, um tanto esgotada. Todas as médicas olharam para ela no
momento em que ouviram a frase. Todas pareciam ter o mesmo interesse:
entender exatamente a que ela se referia.
— Sra. Scott, eu sou a Dra. Balfe, a psiquiatra que cuidará do caso da sua
filha – a médica se apresentou estendendo a mão – Eu gostaria que nós
conversássemos sobre a sua visita a ela.
Um silêncio da parte das médicas indicou que aquela não era uma resposta
fácil.
xxx
Mesmo com a chuva de repórteres do lado de fora, Maite Perroni não era o
tipo de pessoa que desistia. Mane bem que tentou dissuadi-la a desistir, a
entrarem sem ela, mas ninguém dizia não para Maite quando ela decidia
que iria conseguir algo. De alguma maneira ela conseguiu furar aquele
bloqueio e entrar na marra, e tudo o que Mane fez foi segui-la como pôde,
quase perdendo a si mesmo no caminho. No final, o que importava é que
eles tinham conseguido – talvez o mais propício fosse dizer que Maite
conseguira – e os dois estavam juntos dentro do New York General
Hospital.
Logo na recepção, Maite percebeu que Mane e ela tinham sido os últimos a
chegarem. Já estavam ali, sentados próximos e numa conversa restrita,
Christian, Lexie, Jesse, Sophia e é claro, Poncho. Só ela e Mane não tinham
chegado, o que já gerou em Maite uma certa irritação, já que ela detestava
ser a última, detestava ficar de fora. Se para Mane já estava difícil
acompanhar o passo dela, se tornou impossível quando eles finalmente
pisaram no hospital. Maite caminhou a passos largos para onde o grupo
estava, se dirigindo a Poncho assim que entrou.
Mas com Maite a coisa era diferente. O luto dela tinha sido enorme, e a
expectativa para reencontrar a melhor amiga estava na mesma proporção.
Chegar ali e receber a notícia de que não veria Anahí quando nutrira a
expectativa do extremo contrário era ruim... mas saber que Poncho tinha
visto Anahí e ela não? Poncho, que desistiu dela há tanto tempo? Era pior.
— Ah – Maite murmurou com o tom irônico. Ela já era capaz de ver Lexie
e Christian trocando olhares preocupados – Você aviu...?
— Vocês não vão brigar aqui por causa disso, não é? – Sophia perguntou, e
eis que Maite resolveu direcionar para ela a sua agressividade.
— Você achava que ele deveria ter esperado para sempre? – foi Jesse quem
perguntou – Pelo amor de Deus Maite, todos nós amamos a Any. Todos nós
estamos felizes por ela ter reaparecido, não é só você!
Aquilo atingiu Sophia em cheio, muito mais do que qualquer outra coisa.
Ela sentiu o rosto esquentar e sequer conseguiu olhar para os outros. Mane
tentava impedi-la, mas foi Christian que levantou para fazer a amiga se
calar, após Sophia sair dali tão rápido quanto conseguiu, evidentemente
querendo ficar sozinha. Mane tentava, mas no fim só Christian era capaz de
realmente controlar Maite. Sempre tinha sido assim, e agora não seria
diferente.
— Chega.
Pelo visto o retorno de Anahí traria também uma série de cicatrizes e brigas
que estavam enterradas. Era somente o começo de uma longa história que
muitas pessoas precisavam resolver.
Olá pessoaaaaal! Tudo bem? Felizes com o capítulo? Espero que sim!
Novamente gostaria de agradecer à todo o feedback que eu tenho recebido
aqui na SVE! É muito bom ver pessoas novas chegando e gostando da
história, ver as antigas igualmente se emocionando, me deixa muito feliz.
De modo geral tenho sentido a vibração positiva e percebido que a emoção
que eu tento passar na escrita tem sido sentida por vocês. E olha que só é o
terceiro capítulo que eu posto!
Segundo, vemos aqui que a Anahí não lembra de alguns fatos que
aconteceram no cativeiro. Eu lembro de ter lido ao menos um comentário
que comemorava exatamente o fato de ela não ter perdido a memória.
Digamos que seja uma amnésia temporária e parcial em virtude de coisas
que aconteceram no cativeiro e que vão desencadear outras coisas que irão
acontecer ao longo da web. Anahí lembra tudo o que aconteceu na vida dela
antes (ou quase tudo, mas deixa quieto). Lembra das pessoas, das
experiências, dos planos, mas o cativeiro ta um branco e ela não sabe como
foi parar lá, entre outras coisas. Eu não posso falar muito agora, só adianto
que sim, ela vai lembrar de tudo, e que ta tudo encadeado, eu sei bem o que
to fazendo e os motivos. No próximo, salvo engano, já teremos uma
explicação psiquiátrica bem detalhada sobre isso que ta rolando com ela
quando a figura da médica responsável pela terapia aparecer.
Rafa
Capítulo 4 - Is it still love?
O casamento de Diana e Poncho era ditado por uma rotina que não
costumava ter exceções. Diana estava acostumada a ir trabalhar todas as
manhãs e deixar a maior parte das tarefas diárias – inclusive a respeito do
filho dos dois, Daniel. Era sempre Poncho quem levava e buscava o filho na
escola e cuidava de suas necessidades básicas. Como a editora que Diana
trabalhava era de sua família, ela precisava dar o sangue – o que significava
que, em sua casa, ela era a pessoa que saía para trabalhar e o marido ficava
para trás, dada a flexibilidade de seu emprego. Poncho só costumava sair
quando precisava de inspiração para escrever, e já tinha algum tempo que
essa estava cada vez mais escassa. Ele trabalhava num novo livro, mas
quando aquele manuscrito sairia era um mistério. Por isso Poncho se
ocupava cada vez mais dos cuidados de Daniel, já que Diana tinha uma
editora para comandar e ele era o pai do menino, afinal.
Não era nenhuma surpresa se dizer que Poncho era um ótimo pai, Diana
não tinha o que reclamar. Ele não tinha qualquer incômodo por sua família
seguir os papeis invertidos em relação ao que era comum e tradicional, não
lhe incomodava cuidar de Daniel enquanto a esposa trabalhava fora, não ter
uma rotina de se fechar em um local todos os dias, ele gostava da vida que
levava. Diana também gostava, ela tinha a tranquilidade para trabalhar
sabendo que o filho estava bem, sem precisar, na maior parte do tempo, de
uma babá. Os dias dela só não eram serenos porque o trabalho lhe exigia
muito e ela tinha que resolver todos os problemas que ali apareciam – mas
ao menos o que sobrava na editora faltava em casa. Ela saía todas as
manhãs tendo a certeza de que tudo correria bem e que voltaria à noite
recebendo o filho alimentado, de banho tomado e com o dever de casa feito.
Melhor impossível.
Dado este cenário, pode-se imaginar a surpresa que Diana teve naquela
manhã que até então parecia completamente comum quando leu uma
mensagem do marido dizendo que tinha acontecido um imprevisto e
Erendira, sua irmã, era quem buscaria Daniel naquele dia.
Um imprevisto? Diana não estava acostumada com aquilo. A rotina deles
era tão certa, previsível e metódica que isso gerou um estranhamento, uma
preocupação, a fez acreditar que tinha algo errado. Poncho não costumava
abrir mão de buscar Daniel, não gostava de delegar as próprias tarefas, o
filho sempre era uma prioridade... a não ser que estivessem falando de
algum problema. Que problema poderia ter acontecido...? Diana não
conseguia entender, sequer imaginar. Por mais que ela quisesse ter a
segurança de sempre de deixar de pensar naquilo e deixar de lado, algo a
deixou em alerta e tirou sua paz. Ela acabou se dando por vencida, se
convencendo de que não sossegaria até saber que diabos tinha acontecido.
Ela nunca, nunca conseguiria sequer cogitar o que realmente tinha feito seu
marido largar o dia metódico e rotineiro deles sem mais nem menos.
— Apenas diga, o que quer que seja é melhor do que ficar pensando as
besteiras que eu estou...
— Anahí está viva – Poncho disse sem qualquer preparo – É isso.
— Anahí? – Diana perguntou chocada – A sua Anahí? Quer dizer... sua ex-
namorada? Aquela que...
— É claro que teve – ela deu razão na mesma hora – Nossa, eu... eu não sei
o que dizer.
— Você não está chateada? – ele perguntou. Obviamente aquela era uma
preocupação.
Diana não tinha muito mais o que fazer no trabalho. Aquela história tinha
seu impacto e tirou a concentração dela, por isso ela resolveu encerrar o
trabalho mais cedo que o comum e seguir para o Brooklyn para buscar
Daniel no apartamento da irmã de Poncho, Erendira. Ao menos estar do
lado do filho a acalmaria, a daria outras coisas para pensar.
Ou nem tanto.
Daniel correu para os braços da mãe assim que ela entrou no apartamento
da tia. A primeira pergunta que ele fez, por óbvio, foi onde estava seu pai.
Dani passava o dia com Poncho, foi estranho para ele ver Erendira na porta
da escola para busca-lo e não o pai. Naturalmente, assim que ele encontrou
a mãe, a dúvida tinha que ser tirada.
— Seu pai está resolvendo uns problemas e vai chegar em casa de noite –
Diana disse acariciando o cabelo do filho, tentando passar o máximo de
naturalidade possível – Não se preocupe ok?
— Não, seu pai está bem – Diana garantiu – Amanhã ele te explica ok?
Pode ser que ele chegue tarde, mas você não precisa se preocupar, ele vai
voltar pra casa.
— Agora vai brincar um pouquinho enquanto eu falo com a sua tia, pode
ser?
— Pode – Dani disse voltando para os brinquedos de antes.
— Pra mim você pode dizer o que está acontecendo...? – ela perguntou
encarando Diana de braços cruzados – Porque olha, eu conheço o meu
irmão. Poncho não é de pedir pra ninguém cuidar do filho dele, quem quer
que seja. Em especial sumir o dia inteiro sem hora pra voltar. Ele nem me
ligou! Não me atendeu...!
— Eu não sei como ele me atendeu – Diana suspirou – Mas eu falei com ele
e realmente está tudo bem... com ele.
— Anahí está viva – tal como Poncho anunciou, Diana falou de uma vez,
sem enrolações.
Diana esperava que Erendira dissesse que era óbvio que ela não precisava
ter ciúmes, fosse porque Poncho a amava, fosse porque ele e Anahí estavam
separados a muito tempo... mas nada veio. Pelo contrário, ela reagiu de
modo como se concordasse com o pensamento do irmão, como se, em seu
lugar, fosse raciocinar da mesmíssima forma. E foi aí que ela começou a
estranhar a situação.
— Agora ela está – Erendira concluiu, vendo Diana confirmar – Sim, foi
isso o que eu pensei. Como eu disse, não posso falar pelo que ele ta
sentindo agora. Tem muito tempo que o Poncho e eu não conversamos a
respeito da Anahí, ele simplesmente não toca mais no assunto, nem comigo,
nem com meus pais... nem sei se com o Jesse ele fala disso.
— Eu não faço ideia – Diana murmurou – Ele nunca fala dela, e bem, eu
respeito não é? Seria estranho se nós conversássemos sobre a falecida ex.
— Eu sei que ele a amou – Diana observou – Mas a pergunta é: ele ainda a
ama?
— Tudo bem, mas eu quero saber o que você acha – Diana insistiu – Porque
eu sei que ele sente algo forte pela Anahí. Eu sei que ele guarda um
sentimento por ela, eu... eu só preciso saber o que é. Preciso saber se é
suficiente pra ele me deixar, pra ele acabar com o que nós temos.
— Não estou entendendo mal Erendira. Não pise em ovos, diga o que você
pensa.
— Eu sei que ele me ama Erendira – Diana observou – Eu... só não sei se
ele me ama o suficiente.
— Eu não sei, realmente não sei – Erendira respondeu – Que tal você tentar
não pensar demais nisso e deixar as coisas acontecerem? Quando a poeira
baixar, você e ele conversam e acertam tudo. Eu acho realmente melhor.
— Sim, você está certa – Diana sorriu concordando – Eu vou dar tempo ao
tempo, e principalmente, vou dar tempo pra ele. A minha insegurança não
pode sufoca-lo. Seja como for, ela foi e ainda é importante pra ele. E eu não
tenho o direito de exigir que ele escolha.
A questão ali é que Erendira pensava muito mais do que realmente falava.
Ela não queria encher a cabeça da cunhada de fantasmas, fazer Diana ficar
insegura por meras suposições... afinal, talvez ela estivesse errada. Talvez
suas suspeitas guardadas no fundo da mente, no que conhecia o irmão,
fossem equivocadas. Mas ela não conseguia não pensar para si que era
praticamente impossível Anahí não querer mais Poncho. Elas estavam,
afinal, falando de uma mulher que passou os oito últimos anos presa num
cativeiro com um sequestrador que a espancava e a estuprava.
Provavelmente passou aquele tempo pensando no que seria, no e se ao lado
do homem que realmente amava, o homem com quem tinha projetado uma
vida que nunca aconteceu. Erendira conheceu bem Anahí e lembrava da
mulher que ela era... se a Anahí que voltou ainda fosse, de alguma forma, a
velha Anahí, ela tal como Diana deixaria Poncho livre para fazer o que
quisesse e não iria pressiona-lo a nada. Mas, se ele ainda a quisesse, ela
tinha certeza que sua antiga cunhada de modo algum iria recusa-lo. E
ninguém seria capaz de impedi-los de viverem a história que tinha sido
interrompida.
xxx
As palavras de Maite tinham conseguido realmente ferir Sophia. Christian,
o único do grupo que conseguia controlar a morena quando ela passava dos
limites, ainda estava lá, no mesmo lugar de antes, cobrindo-a de esporros e
dizendo tudo o que os outros não conseguiam – fosse porque ela rebatia,
fosse porque não tinham coragem, caso de Mane – dizer para ela. Ele fazia
de forma ainda mais dura que o normal um velho monólogo, puxando a
orelha dela categoricamente por ser tão dura com todos os outros. Em
especial porque bastou para Christian olhar o modo como Sophia saiu dali
para saber que, daquela vez, Maite pegou realmente pesado e atingiu fundo
a amiga. E o pior é que ela fez aquilo com a intenção de machucar.
O problema não era falar de Anahí ou de qualquer outra pessoa, mas sim
Maite ter tocado no ponto fraco de Sophia: o fim de seu relacionamento
com Jesse. Era o problema de se envolver com seu melhor amigo: Sophia
estava fadada a continuar convivendo com ele, a sempre vê-lo, fosse porque
eles estavam no mesmo ciclo de amizade, fosse porque eram sócios. O pior
de tudo não era ver Jesse ainda amando-o com todo o coração, o pior era
saber que ele estava com Lindsey agora. Que os beijos que antes eram dela,
os olhares, as intimidades, os momentos, as noites dele agora pertenciam à
outra mulher. Quando Maite disse isso, ela colocou o dedo na ferida de
Sophia com vontade. E não lhe deixou qualquer opção senão sumir dali,
porque ela não aguentaria que todos vissem o quão patético era ela seguir
apaixonada por um homem que não a valorizou e, além de tudo, já tinha
seguido em frente.
Talvez fosse melhor para Sophia fazer o mesmo que Jesse. Talvez ela
deveria realizar a profecia que ele criou e ficar com Chad, afinal de contas.
Mas no fim ela seria infiel a si mesma. Por mais que Jesse achasse que
Chad era apaixonado por ela e que Sophia lhe dava corda demais, ela sabia
que as coisas não eram assim. Ela não podia fazer algo somente para
revidar o que Jesse a fazia sofrer, em especial porque mexia com os
sentimentos de outra pessoa. Na hora certa ela seguiria em frente e
encontraria alguém que a merecesse, ou simplesmente aprenderia a ficar
feliz sozinha.
— Nós não estamos aqui como sócios – Jesse lembrou – Eu to aqui como
seu amigo. As coisas não precisam ser assim, eu realmente acho que a gente
precisa conversar sobre isso...
— Não, não precisamos, porque não temos mais nada – Sophia lembrou
dura – Não temos que discutir uma relação que não existe. Então é melhor
que você fique na sua e eu fique na minha. Jesse, eu não preciso que você
venha me consolar pelas verdades que a Maite fala. Eu sou grandinha e esse
não é mais o seu papel.
— Mas não era uma verdade – Jesse insistiu – Por isso mesmo eu vim até
aqui: pra te dizer que eu nunca te troquei pela...
xxx
— Eu acho que é algo que ela vai acabar se lembrando conforme as sessões
de terapia acontecerem – foi a Dra. Balfe quem respondeu – Porque nós não
sabemos o que ela teve. Não é algo que eu possa fazê-la se lembrar, ao
menos guia-la para isso. Estamos tão no escuro quanto a Anahí. Mas a
minha experiência com casos similares diz que as memórias podem voltar
ao longo do tempo, nós só temos que ser pacientes.
— Eu acho que eu posso ter uma ideia do que esteja por trás disso... que
não nos deixe tão no escuro assim – Arizona Robbins interrompeu a
conversa, chamando a atenção dos outros.
xxx
Lexie estava mental e fisicamente exausta no fim do dia. Amelia e a Dra.
Balfe acharam melhor que ela não visitasse Anahí novamente para se
despedir. Anahí também teve um dia cheio, emoções demais, ela precisava
de sossego e descanso. Lexie chegou a descer para ver se alguns dos amigos
ainda estavam ali, mas não encontrou nenhum deles – Poncho esperara
Karen junto com Ellie e a acompanhou até sua casa. Christian e Mane
tinham convencido Maite a ir embora, Sophia e Jesse provavelmente
também tinham feito o mesmo. Só restou ela, já que Lexie era a única que
estava no andar de cima ajudando Karen a lidar com as chocantes
possibilidades do que Anahí poderia ter sofrido naquele maldito cativeiro.
Ela não queria ter que pensar no que tinha ouvido, no que Arizona disse,
mas era difícil. Lexie precisava de qualquer maneira tirar aquilo da cabeça,
em especial porque Amelia fora incisiva em dizer que ela estava ali como
médica e aquilo entrava no sigilo do caso da paciente, não poderia ser dito
aos amigos. Lexie não poderia desabafar com nenhum dos amigos, e era
óbvio que não tinha como tocar no assunto com Karen, ela já tinha ficado
abalada o suficiente com as possibilidades levantadas. Foi quando Lexie
pensou em Jackson – seu namorado não era da equipe, mas também não era
do ciclo de Anahí. Com ele ela poderia falar. Com ele, ela poderia se abrir...
O único problema, que Lexie descobriu assim que telefonou para Jackson, é
que ele já tinha ido embora há muito tempo. Jackson falava com voz de
sono, ele teria um procedimento no dia seguinte e tinha ido cedo para casa
para descansar. Ao ouvi-lo perguntar o que era, Lexie desanimou. O clima
se foi, ela não tinha, de uma hora para outra, vontade de desabafar. Ao
menos não com ele.
Um toque que ela conhecia muito bem. Um toque que ela não sentia há
muito tempo...
— Não, você está louco por me segurar desse jeito – Lexie disse puxando o
braço e vendo-o soltá-la.
Deu certo. Mark tinha razão, o carro dele saiu pelo outro lado do hospital,
ninguém sequer percebeu que Lexie estava ali. E ela suspirou aliviada ao se
dar conta disso. No fim das contas ele tinha razão, ela não admitiu em voz
alta, mas era verdade. Era curioso Mark lhe salvar, Mark estar preocupado
com ela... eles não tinham mais nada e Lexie fazia questão de se manter o
mais distante possível. Só que no fim, nas coisas que era para Jackson estar
ao lado dela, ele não estava. Era Mark ali. Mark dando o abraço que ela
precisava quando reconheceu Anahí. Mark consolando-a. E Mark ajudando-
a a sair do hospital.
E quando Lexie deu por si, era com Mark que ela estava desabafando.
— É tudo difícil demais pra mim, essa história toda... – Lexie suspirou – A
Anahí não está bem. Ela está viva, mas... nossa Mark, foram tantas coisas
que ela passou. Oito anos. Eu terminei a faculdade, fiz minha residência
nesse tempo todo, e ela... ela estava lá com aquele homem fazendo... eu não
consigo nem falar.
— Eles não tinham como saber que ela está viva – Mark ressaltou. Lexie
concordou, mas continuou falando em seguida.
— Será que vai, Mark...? – Lexie questionou – Ela perdeu oito anos da
vida. O amor da vida dela ta casado com outra pessoa. Tudo andou desde
que ela saiu, ela sequer se lembra como chegou naquele cativeiro.
— Nada pode ser feito em relação ao que já foi – Mark observou – Mas ela
tem uma longa vida pela frente. E recebeu uma segunda chance. Eu tenho
certeza que, se ela ganhou essa nova chance, é porque algo bom está
reservado para ela.
Era a primeira vez que Lexie teve vontade de sorrir em todo aquele dia. A
primeira vez que ela não se sentia abalada, que não se trancava para chorar
sozinha pelo peso de toda a história de Anahí, que não parecia ter o peso do
mundo em suas costas. O sinal abriu e Mark voltou sua atenção para o
trânsito, mas Lexie se sentiu incrivelmente feliz por ter aceitado a carona
dele. Ela estava sendo dura demais com o ex. Talvez as coisas não fossem
tão preto-no-branco quanto pareciam. Talvez ele fosse uma boa companhia
e lhe fizesse bem, não fosse preciso afasta-lo tanto. Podia ter sobrado algo
de bom de tudo o que eles viveram. Que valesse a pena continuar. Talvez
desse certo e ela soubesse separar as coisas e não deixar seu coração se
acelerar cada vez que Mark se aproximasse.
— Eu senti a sua falta – Lexie murmurou – Eu... não queria ter me afastado.
Olá pessoinhasssss! Que boa maneira de começar a semana, com post né?
Certeza que vocês me acompanham nisso :)
No capítulo de hoje damos um passo na história em que finalmente vemos a
Diana descobrindo da Anahí. Podemos ver que ela age de uma maneira bem
madura, que é a linha dela durante toda a web. Importante ressaltar que a
Diana é uma mulher normal gente. Vocês talvez estejam criando umas
visões muito 8 ou 80 dela: ou que ela será o pior ser humano apenas por
estar no caminho de AyA, ou que vai ser a fada madrinha dos dois e sair da
frente apenas pela Anahí aparecer. Não será nem uma coisa nem a outra! A
Diana vai ser o que uma mulher madura é - vai lutar pelo Poncho sem
desrespeita-lo nem ser inimiga da Anahí. Ela vai deixar claro que quer ficar
com ele, mas disposta a aceitar caso ele não queira mais. Agora cabe ao
Poncho decidir! Vamos ver como vai ser quando o outro lado da verdade
aparecer, ou seja, a Anahí descobrir da família dele.
Também vemos hoje que a Erendira apareceu, e pessoalmente ela é uma das
personagens que eu maaaaais gosto na história. Ela é franca, direta e diz o
que precisa ser dito, embora se preocupe com os sentimentos das pessoas ao
ouvir as suas verdades. Teremos uma versão Erendira sem filtro quando
conhecermos a mamãe Herrera, mas isso é papo pra daqui uns caps!
Por fim, temos passos com Slexie e Bushfer. Enquanto Slexie começa a se
aproximar, Bushfer mostra um pouco dos motivos que os fizeram terminar e
mostram que estão com um abismo separando-os. Difícil né? Pra mim
também, porque enquanto Mark é um deus, Jesse é um bocó...
E só pra deixar vocês felizes: quinta tem Portirroni e AyA! Seria o cap que
vocês queriam? hahahaha <3
Rafa
Capítulo 5 - One day at time
Poncho ficou no hospital naquele dia o quanto pôde. Uma hora Karen
desceu, após ver Anahí, completamente abalada. Tanto ele quanto Ellie
estavam à sua espera, porque sabiam que, como quer que Anahí estivesse,
Karen certamente voltaria não exatamente bem. E foi exatamente assim que
ela apareceu ali: em choque. Karen estava estática, silenciosa pelo que quer
que tivesse visto ou ouvido da filha, e definitivamente não queria tocar no
assunto. Ela seguiu silenciosa pelo caminho, em especial porque Ellie
decidiu lhe dar a privacidade que reputava que ela precisava, não fazendo
perguntas antes do tempo certo das respostas virem. Poncho teve que se
conformar e fazer o mesmo, ainda que tivesse uma enorme curiosidade de
saber o que tinha acontecido andares acima de onde ele estava e
principalmente, por que Karen preferia se manter em silêncio.
Diana não estava muito diferente. Ela colocou com dificuldade Daniel na
cama, o menino queria porque queria esperar pelo pai, e ela o venceu pelo
cansaço literalmente. Mas não havia cansaço que a derrubasse. Deitada na
cama com o abajur ligado e esperando Poncho chegar, Diana refletia sobre
as palavras de Erendira, que eram como fantasmas em sua cabeça. Não
conseguia parar de sentir a ameaça de que seu casamento poderia estar para
acabar. Ela nunca teve ciúme de Anahí, nunca se sentiu ameaçada ou teve
qualquer intuito de limitar o luto de Poncho, pelo contrário, sempre deixou
que ele o vivesse da maneira que preferia. Porque luto significava que
aquela mulher que fora o grande amor dele estava morta, e ele poderia amar
uma morta e ela simultaneamente com tranquilidade. O problema era a
morta em questão estar viva. O problema eram as palavras de sua cunhada
que diziam que, se Anahí nunca tivesse sumido, Diana não estaria ali.
Mas Anahí sumiu. Diana casou com Poncho. E agora as duas estavam na
vida dele, as duas reclamariam o mesmo espaço... quem iria ganhar? Diana
deveria confiar que a mente do marido que a cunhada reputava como nem
um pouco leviana faria o compromisso dos dois vencer um amor
interrompido e reprimido como o que ele tinha por Anahí? Difícil...
— Eu não vi a Anahí depois que falei com você – Poncho explicou sem
encarar a esposa. Diana, por outro lado, procurava ler cada linha do rosto
dele – A Karen... ela ta abalada. Algo aconteceu que ela não quis dizer pra
mim e pra Ellie. Não sei, elas se viram, ou foi algo na visita ou algo que os
médicos disseram, eu não faço ideia.
— Não deve estar sendo nada fácil pra ela – Diana suspirou constatando –
Imagine achar que a sua filha está morta e de repente...
Diana rapidamente entendeu que o nós não a incluía, não se referia a ela.
Poncho falava de Karen, dos amigos, dele próprio... não dela. Não como
costumava ser, já que na vida deles o "nós" se referia aos três, a sua família.
— Os próximos dias não vão ser fáceis, mas eu não vou deixar que isso
afete vocês – Poncho garantiu – Farei o que for possível, isso não tem a ver
com você e muito menos com o Dani, então...
— Não se preocupe, você não tinha como imaginar que isso iria acontecer –
ela sorriu lhe passando segurança – Você vai passar por isso, todos vocês
vão. Ela vai ficar bem, vai se recuperar e vai voltar para a própria vida e as
coisas vão encontrar o seu lugar, eu te garanto.
Diana falava cada palavra maquinada, deixando claro que apoiaria Poncho,
que estaria ao lado dele, mas de certa forma tinha uma mensagem embutida
nisso, ela frisava que não o abandonaria, que não abriria mão dele. Diana
realmente acreditava nisso, ela se sentia aliviada ao abraçar Poncho e vê-lo
corresponder e se deixar ser consolado por ela, pensando que fora tola em
achar que ele desapareceria sem mais nem menos. Por mais que Anahí
tivesse voltado, era ela quem ocupava aquele papel na vida dele e, enquanto
ele a quisesse, permaneceria ali, ao lado dele. Diana não iria obrigar Poncho
a deixar a ex de lado, ela sabia da importância de Anahí na vida dele e seria
egoísta pensar somente em si e ignorar aquele detalhe. Então ela respeitaria
aquele momento e aguardaria o seu. Aguardaria Anahí se recuperar e, como
ela própria disse, encontrar seu lugar.
xxx
Lexie via que Anahí estava mais comunicativa do que no dia anterior.
Ainda falava pouco, e Lexie nem se arriscava a perguntar sobre o tempo
que ela passou sequestrada. Preferia preencher o assunto de coisas mais
agradáveis, então foi com um sorriso no rosto que ela reagiu quando Anahí
perguntou de sua vida.
— Eu sumo e você descobre uma irmã – Anahí riu – E a sua vida amorosa?
Continua destruindo corações?
— Eu quero ver meus avós – Anahí manifestou – Quero ver a minha mãe
de novo... a Maite... ela não veio me ver?
— Ah, é claro que ela veio – Lexie riu negando com a cabeça – É que a
Dra. Balfe e a Dra. Shepherd acharam melhor que você recebesse poucas
visitas por enquanto, elas queriam avaliar o seu quadro clínico antes. Eu só
estou aqui porque trabalho no hospital, se não... estaria enlouquecendo de
saudade.
— Eu queria não acreditar – ela deu de ombros – Ah... Jesse teve uma filha.
Ela é linda e se chama Samantha.
— Quem é a mãe?
— Uma amiga colorida que ele tinha – Lexie respondeu – Foi logo antes de
ele começar a namorar adivinhe quem? Sophia.
— Ah, eu sempre soube! Sempre soube desse amor! – Anahí disse em tom
de comemoração – Eles estão o que, casados a essa altura, não é?
— Não, eles terminaram – Lexie disse com pesar. Mais parecia que todas as
histórias que ela contava tinham finais infelizes, incluindo a própria e,
evidentemente, a de Anahí – Infelizmente.
— E Mane? Já se declarou para a Maite...? – Anahí perguntou curiosa. Era
outra história de amor que ela tinha, de certa forma, profetizado.
— Não – Lexie negou – Ela até hoje não notou que ele é apaixonado por
ela.
— Por Deus, em oito anos nada evoluiu...? – Anahí suspirou negando com a
cabeça. Como Lexie não deu qualquer resposta, ela acabou fazendo a
pergunta que queria fazer o tempo inteiro – Lexie... e... e o Poncho? Ele... o
que ele fez esses anos todos?
Evidentemente o pânico nadou no corpo de Lexie. Ela sabia que uma hora
essa questão entraria em pauta, que Anahí iria querer saber de Poncho, do
que ele tinha acontecido. Não era possível que todas as vidas tinham andado
naquele longo período do sumiço dela, menos a dele. Mas Lexie não sabia o
que dizer. Não sabia se deveria mentir, se era saudável para Anahí saber da
verdade naquele susto, se, mesmo que fosse, ela era quem deveria dizer...
nada tinha sido decidido, sequer cogitado. Mas agora Lexie tinha que tomar
uma decisão rápida, e o que quer que falasse seria como pisar em ovos,
tinha muito mais chance de sair errado do que de dar certo.
Lexie respirou aliviada. Ela nunca pensou que ser interrompida por uma
psiquiatra fosse causar tanto alívio.
Anahí não ficou irritada pelo silêncio de Lexie porque sequer cogitou que
ele fosse intencional e que a amiga lutava para esconder algo. Nem passava
pela cabeça dela o modo como Poncho vinha levando a vida, se ele tinha
outra pessoa ou não, ela simplesmente não conseguia pensar e sequer se
sentia no direito de exigir o que quer que fosse. Ficava apenas a
curiosidade, e de certa forma, o medo de ele ter seguido em frente e a
esquecido.
Só que ela não tinha qualquer tempo de ter devaneios sobre seu antigo
namorado. Com a saída de Lexie do quarto a Dra. Balfe entrou com um
sorriso simpático de quem queria conquistar o terreno. Anahí rapidamente
se acuou – ela sabia que aquela médica era psiquiatra e sabia exatamente o
que um médico daquela especialidade significava em um caso como o seu.
E o simples pensar em tudo o que viveu já revirava o seu estômago, era
algo que ela queria evitar... como seria ter que falar?
— Olá Anahí – a Dra. Balfe sorriu para ela – Eu sou a Dra. Caitriona Balfe,
mas você pode me chamar de Cait se quiser.
— Bom, de Caitriona pra Cait tem uma distância – Anahí murmurou ainda
um pouco distante.
— Cait pra você então. Eu sei que o Sam não vai se importar – ela sorriu –
Posso te chamar de Any?
— Não – Anahí negou de cara, se retraindo. Deu pra ver que a reação dela
foi imediata.
— Any era como minha avó me chamava quando eu era criança, como ela
me chamou a vida inteira... – Anahí murmurou com o olhar vago. Ela não
encarava a Dra. Balfe – E era como ele me chamava. Ele ouviu a minha avó
se referir a mim assim por anos e... quando eu ouvi você me chamar...
— Por ele eu entendo que você se refira ao seu sequestrador, certo? – a Dra.
Balfe perguntou – Qual é o nome dele?
— Tobias – Anahí respondeu finalmente encarando-a. Ela mordia os lábios,
era claro o quanto estava engessada com o assunto – Eu não quero falar
sobre ele.
— Tudo bem – a médica sorriu tranquila – Sobre o que você quer falar
então?
— Tudo bem, nós teremos tempo – ela cortou – Ok, o Tobias não te traz
nada de bom e eu definitivamente não quero forçar a situação já que você
está afetada, nós teremos um longo tratamento pra isso. Que tal falarmos
sobre algo ou alguém que te deixe bem, que te deixe feliz? Quando eu falo
isso... qual é a primeira pessoa que te vem em mente?
— Parece ser alguém de quem você realmente gosta – a Dra. Balfe sorriu –
Quem é Poncho?
— Ele era meu namorado antes de eu... – ela interrompeu a si mesma,
mudando o rumo da frase, ao se dar conta do que diria – Eu por vezes me
peguei pensando em como ele estaria. Divagando sobre a vida que nós
teríamos se nada tivesse acontecido, pensando em como ele estava vivendo,
se ainda pensava em mim, se ele ainda lembrava de mim. Eu não achei que
fosse acordar e horas depois ele fosse estar aqui. No rosto dele eu via a
minha emoção refletida. Foi... bom.
— Anahí, dê seu tempo – ela aconselhou – Ele não vai te cobrar nada, não
se te ama como você parece ama-lo. Faça apenas o que quiser fazer.
— O que você acha de ver outras pessoas? Sua família, seus amigos...?
— O que você quiser – ela respondeu – Se vai te fazer bem, eu vou liberar
algumas visitas. Mas por favor, não se force ok? Se você não estiver se
sentindo bem ou quiser conversar a hora que for...
O critério da Dra. Balfe era bem simples: talvez a presença das pessoas
querida deixaria Anahí mais relaxada e a faria estar mais próxima do que
ela costumava ser antes de todos os horrores que tinha vivido no cativeiro.
Tinha alguma trava que impedia Anahí de lembrar o momento do sequestro,
onde era trancada e outros detalhes que sua psiquiatra já tivera acesso. Mas
estava nítido para ela que evitar o choque era permitir que Anahí lembrasse
por conta própria. Então ela tinha que identificar e testar diversas formas de
fazê-la chegar até o ponto. Quem sabe trazê-la ao convívio dos seus poderia
ajudar, da forma que fosse.
Lexie foi autorizada a avisar os amigos que Anahí estava liberada para vê-
los. Antes que qualquer um chegasse foi dada uma certa prioridade para que
Karen acompanhasse os pais reverem a neta. O momento foi de completa
emoção. Tanto Ellie quanto Arthur, o avô de Anahí, estavam
completamente tocados em vê-la novamente. A própria Anahí chorou
bastante abraçada com a avó, enquanto sentia o avô acariciar seus cabelos,
sentindo o peso da cena que eles nunca acharam que iriam viver. Karen
observava do canto do quarto o momento dos três, feliz por ver sua filha
recebendo o carinho dos avós novamente, sabendo o quanto ela sempre
tinha sido ligada com eles... mas ao mesmo tempo, agoniada com o peso de
uma omissão que ainda tinha. Um detalhe que não tinha mencionado para
Anahí, e que se perguntava qual seria a hora certa de falar. Keith.
Nem Ellie nem Arthur quiseram ficar lá tanto tempo assim, eles sabiam que
Anahí tinha outras pessoas queridas, os amigos de uma vida, que estavam
igualmente ansiosos em vê-la. Quando os três saíram Sophia e Christian já
estavam lá, Maite ainda estava a caminho certamente ansiosa. Lexie avisou
Anahí antes dos amigos entrarem que Mane e Jesse não teriam como
aparecer naquele dia, mas que o restante viria, chegando a hora que
tivessem que chegar. Assim que Sophia colocou os pés no quarto e olhou
Anahí os olhos dela se encheram de lágrimas, Christian quase teve que
deixar de abraçar a amiga para consolar a outra, e no fim os três se
abraçaram juntos, lágrimas para todos os lados, com Lexie sorrindo
encostada na porta com a sensação de quem sabia exatamente o que era
passar por aquilo.
— Desculpe, era pra eu te consolar e estou aqui chorando – Sophia disse
enxugando o olho.
Sophia riu. E quem ouviu seu relato e sabia de toda a sua história com Jesse
e o término ainda doloroso demais, se não conhecesse a história, nem
acreditaria se lhe dissessem que ela ainda estava completamente machucada
com o modo como as coisas acabaram. Ela falava com animação, sorriso na
boca e brilho nos olhos do tempo que esteve com ele, de sua relação com a
enteada – a filha de Jesse de quem Lexie tinha falado, Samantha – e
deixava claro por seu relato que, independentemente de como tudo tinha
ficado, ela ainda guardava sentimentos consideravelmente bons e fortes
pelo ex-namorado. Para Anahí, que era extremamente perceptiva, ficou
nítido.
— Mentira que você contou do Mark Sloan...! – ele colocou ambas as mãos
na boca – Então você admite que ainda ama aquele homão...?
Mas não houve como contar. Além de Lexie censurar sem parar os relatos,
morrendo de medo de qualquer pessoa ouvir mais do que deveria, eles
foram interrompidos por uma batida na porta com uma pessoa entrando.
Para o alívio de Lexie não era ninguém do hospital, mas sim Maite. Uma
ansiosa e apreensiva Maite, cujas mãos suavam ante a perspectiva de rever
sua melhor amiga.
Maite não era uma pessoa que gostava de ser melosa. Ela censurava a si
mesma quando ficava emotiva demais, embora fosse uma manteiga por
dentro. Mas rever Anahí depois de oito anos, depois de toda a luta que
havia sido para reencontra-la, quando ela tinha sido a única que acreditava
que a amiga ainda estava viva...? Nesse caso não haveria censura. Então,
assim que as duas se encararam, tal como tinha sido com Sophia, com
Karen, os olhos de Maite se encharcaram. Não melhorou quando Anahí
estendeu os braços sorrindo e chamando-a para um abraço.
Antes podia até ser que eles se importassem... mas agora, diante de Anahí,
todos poderiam fazer um esforço.
Chegava a ser inacreditável que todos eles estivessem reunidos novamente
no mesmo quarto rindo como faziam anos antes. Lexie não pôde ficar o
tempo todo porque foi bipada, mas no tempo que esteve ali se sentiu feliz e
grata porque não se lembrava da última vez que esteve ao lado daqueles
quatro naquela paz. Mais de oito anos. Agora não parecia que Sophia e
Maite estavam brigadas, não parecia que em todo aquele tempo que se
passou Anahí não esteve ali, mais parecia que eles tinham vinte e poucos
anos novamente, que estavam no fim da faculdade, começando a vida em
Nova York. Era como se o tempo nunca tivesse passado.
Anahí mudou depois que Poncho chegou. Ela ficou mais reticente, menos
natural, totalmente nervosa. Um a um os amigos foram saindo dali.
Primeiro Sophia, depois Christian, e ele voltou logo em seguida para
arrastar Maite ao se dar conta que ela não deixaria Anahí sozinha com o
antigo namorado. Com muito custo a morena se despediu de Anahí, um
abraço longo que ela não percebeu, mas que a amiga correspondeu
encarando Poncho diretamente. Esperando pelo momento que eles
finalmente ficariam sozinhos.
E o momento chegou.
— E pelo visto te fizeram muito bem – ele segurou as mãos dela encarando-
a – Se soubesse disso deixaria pra vir em outro momento, pra quem sabe
renovar esse seu sorriso quando você estiver mais sozinha.
— Não, eu... eu gostei de você ter vindo.
Dois corações confusos. Anahí não sabia como agir, tinha medo de pisar em
falso, ela não sabia mais estar em um relacionamento. Poncho sabia
exatamente como deveria reagir – provavelmente como seu coração
mandava... ele só não sabia se deveria.
Na dúvida, sempre vai o sim. O talvez de Poncho não teve tanto espaço,
porque ele, próximo a Anahí e fazendo carinho em seu rosto, não esperava
que ela tomasse qualquer iniciativa. A própria Anahí não sabia ao certo o
que fazer, ela ainda tinha medo demais, ainda sentia as dores das cicatrizes
mais vivas do que nunca, só que algo dentro dela a empurrava para fazer
aquilo, ela queria, precisava. E faria.
Beijos,
Rafa
Entre a teoria e prática existe uma vida no meio, quase literalmente falando.
As ideias estão ali praticamente concretas até efetivamente se
concretizarem. A experiência diz que o que se pensa não é o que acontece,
mas isso não impede ninguém de fantasiar. Não impede ninguém de criar
expectativas sobre coisas que eventualmente jamais vão acontecer.
Sentir Anahí tocando seus lábios com os dele foi como um bálsamo que
Poncho nunca mais esperou sentir, mas não faltaram as cenas em sua mente,
sempre em seus sonhos, acordado ou dormindo, onde aquilo acontecia. Ele
se acostumou em reviver Anahí nas lembranças e dar continuidade nos
pensamentos, em áreas que ela não existia, mas agora ela estava ali,
materializada em sua frente, beijando-o da forma que ele nunca mais
esperou ser beijado.
Anahí era delicada e, sobretudo, estava traumatizada, ela não daria um beijo
avassalador em Poncho porque tremia da cabeça aos pés em pensar em um
contato mais íntimo, qualquer que fosse, minimamente intenso. Mas ela
sentia falta dos beijos dele, sentia falta da conexão que sentia quando o
beijava. Por isso ela procurou os lábios dele, primeiro roçando com os seus
e depois, efetivamente beijando-o e esperando ser beijada de volta. Poncho
primeiro sentiu um choque, eles tinham se reencontrado, mas ele estava tão
estático com as emoções e o frenesi de tê-la de volta em sua vida, de ela
estar viva e de imaginar tudo o que Anahí poderia ter passado, que ainda
não tinha cogitado nada íntimo daquele jeito, nada que os botasse no
patamar que estavam antes dela desaparecer. Então ele não se preparou para
uma Anahí que se aproximou, segurou a nuca dele com sutileza e uniu a
boca à sua.
— Ah Poncho...
Anahí falar aquilo foi a rendição de Poncho. Ele segurou a nuca dela sem
força, porque sabia que não podia ser feroz demais com ela, mas não tinha
como não ser intenso como eles costumavam ser. Sentiu Anahí desmanchar
em seus braços conforme sua língua roçava na dela. Seu coração batia tão
forte que parecia que iria pular para fora do peito, e de repente ele percebeu
o que tinha faltado em sua vida naqueles oito anos: aqueles sentimentos,
aquele beijo, aquele amor, aquela mulher...
Eles só não continuaram porque a paixão falou mais alto que a razão e
Poncho apertou Anahí demais em seus braços, de modo que ela se esquivou
num susto. Foi o que o acordou para a nova realidade: Anahí não era mais a
mulher que ele prensava contra uma parede do box, não era mais a garota
que ficava marcada depois de uma noite selvagem de sexo, e provavelmente
nunca mais seria. Nem ele era o mesmo. Tinha coisas que os separavam e
ela sequer sabia disso...
— Olhe pra mim – ele pediu, fazendo-a encara-lo – Eu não sou ele. Eu
nunca vou te machucar.
— Eu vou proteger você – Poncho garantiu – Eu não vou deixar que nada te
aconteça. Eu prometo...
Em outros tempos, ele bem sabia, Anahí devolveria aquilo com uma
resposta à altura. Diria, com certo tom de sarcasmo, que ela não precisava
que ninguém cuidasse dela. Aquela resposta não viria, como também não
vinha de dentro dela a força que ele estava acostumado a perceber. Pelo
contrário, Anahí apenas deixou entrar no abraço dele, respirando ainda
entrecortado, enquanto ele acariciava o cabelo dela sentindo um imenso
aperto no peito de quem faria qualquer coisa para tirar todos os traumas que
ela tinha vivido, livra-la os fantasmas que a assombravam pelos oito anos
que aquele maldito homem tinha destruído a vida dela.
Poncho sabia que cedo ou tarde teria que contar a verdade a ela, falar de
Diana e Daniel, mas não sabia qual era o melhor momento. Ele não entrou
no quarto sem aliança pretendendo beija-la, apenas não deixa-la descobrir
da pior maneira possível, num momento em que ainda estivesse frágil
demais. Provavelmente conversaria com os médicos, quem sabe com
Karen, e encontraria o melhor momento. Treinaria as palavras mil vezes,
certamente, mesmo sabendo que na hora sairia tudo fora dos planos. Ele
não tinha como adivinhar que Anahí o beijaria daquela forma. Ele esqueceu
que, para ela, as coisas permaneciam meio inalteradas, que ele não tinha lhe
dito que não a esperou e que ela achava que poderia beija-lo sem qualquer
critério.
Para completar, Maite estava lá. Se Anahí não tinha percebido a questão da
aliança, é lógico que sua melhor amiga não iria deixar passar.
— Sua esposa sabe que você anda tirando a aliança pra visitar a sua ex...? –
ela ironizou.
Imediatamente Poncho perdeu a fala, esquecendo completamente o que iria
falar. É óbvio, o rancor que ele lutava para controlar voltou com força total.
— Maite, você não tem nada com a minha vida – Poncho devolveu
grosseiro. Ela arqueou as sobrancelhas.
— Não quero ter a ver, querido – ela grunhiu – A sua vidinha perfeita, feliz
e plena pouco me importa. Eu me preocupo com a minha amiga, com o fato
de você estar iludindo-a e pelo visto não ter dito que tudo o que planejou
fazer com ela, fez com outra.
— Eu só vim aqui falar do bem estar da Anahí, porque eu imagino que isso
te interesse – Poncho respondeu – Mas pelo visto não dá pra ter uma
conversa civilizada com você.
— Não que eu te deva satisfações, mas eu só não disse pra ela porque não
quero deixa-la abalada – ele bem que tentou se defender, mas era óbvio que
ela não iria aceitar.
— Alô? – Poncho perguntou nervoso, fechando os olhos para não ver a cara
de deboche de Maite e se enfurecer ainda mais.
— Poncho? – a voz de Diana falou – Você ta podendo falar?
— Ah, é a Diana...? – ela perguntou desdenhando – Anda, diz pra ela! Diz
que a sua aliança fica no bolso quando você entra no quarto da Anah...
— Quem ta falando aí? – Diana franziu a testa – Eu ouvi meu nome, mas
não entendi nada.
— É que... – ela suspirou – O Dani ta com febre. E ele ta pedindo por você.
Eu não queria ter que te chamar, eu não quero te atrapalhar, mas eu liguei
pra pediatra e ela disse que provavelmente é emocional. Ele ta com saudade
de você, perguntou por você o dia todo... não ta entendendo porque não foi
pra escola, porque eu não fui trabalhar e porque você não ta aqui.
xxx
— É que... – Dani esfregou o olho – Ontem quando eu fui dormir você não
tinha chegado. E hoje eu acordei e você já tinha saído. Eu não fui pra
escola, a mamãe não me deixou ver TV, você não chegava...
— Shhh, está tudo bem – Poncho beijou a testa dele – É que... eu tenho uma
amiga que está muito doente. Você não a conhece. Ela está no hospital com
problemas, e eu estou tentando ajudar.
— Mas eu to dodói também – Dani fez um bico ao falar – De mim você vai
cuidar?
— Claro que sim – Poncho garantiu – Eu sempre cuido de você. Dessa vez
não vai ser diferente.
Diana estava à sua espera, tal como na noite anterior, quando ele voltou.
Com Dani dormindo e a temperatura baixando, ela ficava mais tranquila.
Estava passando um creme nas pernas quando Poncho entrou no quarto com
a mesma aparência de cansaço de um dia atrás. Para completar, a expressão
no rosto dele não a enganava: Poncho estava repleto de culpa.
Isso era para aliviar Poncho, mas apenas o fez se sentir ainda mais culpado.
Diana não sabia do beijo entre ele e Anahí e dava todo o apoio possível para
o marido continuar dando suporte à ex. E ele não podia simplesmente dizer
a verdade para ela, não quando seus sentimentos ainda estavam confusos e
daquela confissão viriam perguntas para as quais ele não tinha as respostas.
Poncho pretendia sim, contar a Diana o que aconteceu entre ele e Anahí,
mas quando ele soubesse exatamente o que fazer, quando conseguisse tomar
uma decisão entre a ex e a esposa. A confissão viria acompanhada do
comunicado a respeito do que ele tinha decidido para guiar sua vida. Ele
contaria a verdade daquela noite dizendo, em definitivo, se ficaria com ela
ou se voltaria para Anahí. E não teria volta.
— Não...? – foi tudo o que ela conseguiu perguntar. Não sabia exatamente
como reagir, muito menos como se sentir diante do que ele disse.
— Você não quer que ela saiba que eu existo...? – Diana parecia um tanto
estupefata.
— Eu não sei se é o melhor momento para contar – ele explicou – Ela está
muito abalada ainda. Eu não sei exatamente o que ela viveu dentro daquele
cativeiro, e bem... vão ser muitas mudanças. Karen também não contou do
Keith ainda. Nós estamos dando tempo ao tempo.
Diana realmente naquele momento poderia criar uma crise sem precedentes,
mas agora que Poncho se explicava tudo o que ela conseguia pensar não era
na própria situação e sim na de Anahí. Ela se colocava no lugar daquela
mulher, colocada em cativeiro por oito anos, abusada sexualmente por um
homem, e agora chegava a um hospital sem lembrar direito o que aconteceu
e descobrindo bruscamente que o homem que amava estava casado com
outra mulher, não estava mais livre para ela. Seria um choque e tanto. Para
ela era impossível não ter um pingo de empatia. Só de pensar no que Anahí
não tinha sofrido deixava sua boca seca. Ela não podia ser egoísta de achar
que Anahí deveria saber dela e de Dani apenas para marcar terreno sobre
Poncho. Definitivamente havia coisas mais importantes naquela história.
— Você sabe que uma hora ou outra ela vai ter que saber, não é? – Diana
perguntou num suspiro – Vai ser difícil quando acontecer, de um jeito ou de
outro.
— Tudo bem, não precisa – Poncho a abraçou de lado – Obrigado por ser
compreensiva. E desculpe a ausência.
— Você não está pedindo nada de mais – Poncho garantiu sorrindo – Como
você disse, ele é nosso filho. Ele é prioridade.
O filho sempre acabava sendo mais importante, sempre acabava passando
na frente nas necessidades dos pais... até mesmo quando essa necessidade
de seu pai era estar ao lado de uma mulher que ainda mexia com ele muito
mais do que poderia mensurar.
xxx
Já fazia dois dias desde que Anahí beijara Poncho. Desde então ele não
voltou a visita-la. Anahí confidenciou aquilo no dia seguinte à Lexie,
revelando que achava que ele talvez fosse tentar lhe dar espaço. Disse
também que estava tentando mentalizar que ele não era Tobias, que ela não
tinha por que reagir daquele jeito a qualquer movimento mais brusco, e que
estava ansiosa pela próxima visita. Só que essa visita em questão não veio.
Lexie não sabia se isso era bom ou ruim, via Anahí ansiar pela chegada do
ex e ele não aparecer, e com isso dois dias haviam se passado e ela só sabia
ficar mais confusa sem entender a razão de ser daquele sumiço repentino.
Através de Sophia, Lexie descobriu que Dani era o motivo por trás do
sumiço de Poncho. Depois da febre emocional, o menino acabou pegando
um resfriado de verdade e isso atarefou seu pai, que não teve coragem de
deixa-lo. O problema é que ninguém podia dizer a verdade para Anahí.
Lexie e Sophia trataram de enrolar a situação dizendo que provavelmente
ele estava tentando dar espaço a ela, sob o olhar reprovador de uma Maite
que, se dependesse unicamente da própria vontade, já teria dito a verdade
para a amiga. Como era voto vencido ela apenas se calava, olhando torto
para as outras duas. Lexie resolveu dar fim àquilo e usou as revistas como
uma forma de fazer os pensamentos de Anahí rumarem para outra direção
que não fosse Poncho.
Por isso, naquela manhã, mais uma vez ela chegou cedo, trocou de roupa e
rumou para o quarto da amiga munida pelas revistas, colocando o bipe no
bolso. Mas eis sua surpresa quando, ao chegar no quarto, se deparou com
Callie prestes a entrar nele. Nenhum problema haveria, se ela não estivesse
acompanhada de Mark Sloan.
Ops...
— O que vocês estão fazendo aqui...? – ela perguntou franzindo a testa sem
entender.
— E eu resolvi auxiliar a Torres pra garantir que a Anahí não tenha uma
cicatriz horrorosa na perna – Mark disse encarando Lexie diretamente –
Afinal, não queremos que a moça fique ainda mais traumatizada, não é?
— Você vai operar com ele, então eu pensei que... – Lexie começou a falar,
mas Callie não lhe deu chances de recusar.
No fim das contas, logo depois de atualiza-lo dos casos, Lexie entrou com
Mark no quarto e o apresentou a Anahí. Mark como de costume se gabou e
se exibiu, não percebendo, contudo, o olhar de análise de Anahí de quem
apenas dava rosto ao nome que já conhecia. Logo os dois saíram, Karen foi
tomar café enquanto Lexie estava ali, e enquanto a cirurgiã entregava à
amiga as revistas que comprou para ela, Anahí aproveitou para perguntar o
que realmente queria saber.
Com Lexie não tinha funcionado, mas Anahí não desistiu. Havia uma
promessa de visitas naquele dia. Além de Sophia, a primeira a chegar, quem
apareceu ali foi Mane, que não tinha treino naquela tarde e aproveitou para
dar uma passada no hospital. Ele e Anahí, que nutriam um carinho muito
grande um pelo outro, deram um abraço forte e saudoso.
— Quer dizer que você ainda não se declarou para a Maite...? – Anahí
disparou e viu Mane arregalar os olhos – Mane, são oito anos...!
— Ela não quer saber de mim – ele deu de ombros – Ta em outra, ainda ta...
e eu prefiro ser amigo a não ser nada.
— Que outra? – ela perguntou olhando para ele e, depois, para Sophia.
— Ela vai ter a chance de te explicar com calma depois – Sophia disse
piscando.
— Hum, entendi, é que... ela não falou nada – Anahí suspirou virando-se
para Mane novamente – Mas se ela não tem namorado, você não tem
desculpa! Mane, ela precisa saber. Vai viver a vida inteira guardando isso?
Não pode! Uma hora explode...!
— Anahí... – Mane riu negando com a cabeça – Você não mudou nada.
Ela tinha mudado, em muitas coisas, mas aquele bom humor, aquela
lealdade aos amigos de querer ajudar em tudo de toda forma, permanecia
intacta, ela tinha acabado de descobrir. Ela ficou ali ouvindo Mane falar do
trabalho como técnico da escola no Queens, do apoio que dava a aqueles
adolescentes da periferia, e só sabia se orgulhar. O sorriso a denunciava.
Eles perderam a noção do tempo, tanto que não demorou até que o "turno",
por assim dizer, foi trocado – Sophia permaneceu ali, mas Mane saiu e, em
seu lugar, Jesse apareceu.
Ele não estava sozinho: tinha uma criança de cinco anos em seu colo com
um olhar completamente travesso observando todo o ambiente.
— Já não era sem tempo né Jesse...? – Anahí perguntou sorrindo para Jesse
e recebendo o olhar mais carinhoso possível em resposta.
— Prazer Sam – Anahí disse apertando a mão dela – Meu nome é Anahí.
Não era fácil para Anahí ser chamada por aquele apelido. Antes isso a
lembrava seus avós, agora lembrava Tobias. Ela se arrepiava só de ouvir a
pronúncia, conseguia ouvir o timbre da voz dele chamando-a assim
enquanto a violentava, como um maníaco. Mas após o lapso da lembrança,
ela piscou os olhos e voltou a ver a pequena Samantha ali. Era apenas uma
memória, de algo que não voltaria a acontecer. Ela ressignificar o apelido
era, provavelmente, o primeiro passo para superar.
Dava pra ver que Sophia e Samantha juntas ficavam numa bolha. Jesse
sabia que seria assim, era uma boa forma dele rever Anahí sem deixar a
filha de lado, já que Torrey não acordara bem naquela manhã. Aquele tinha
sido o pequeno contratempo ao qual ele se referiu, quando finalmente
chegou o dia que conseguiu parar para visitar a amiga, a ex lhe telefonou
pedindo que ficasse com Samantha porque ela mal conseguia levantar da
cama. Não teve jeito, ele teve que levar a menina consigo para o hospital e
o caminho de sua casa até ali foi repleto de uma série de recomendações
sobre os cuidados com Anahí, que ela estava doente e sensível. É claro que
Samantha só cumpriu a parte física – tato não era o forte dela.
— Minha filha e Sophia são meio ligadas – Jesse confidenciou para Anahí
rindo – Eu não tenho chance contra as duas unidas. Perco fácil.
— Sophia tem cara de quem faz todas as vontades dela... – Anahí comentou
observando as duas.
— Ela faz – Jesse bufou – Só aceitou vir porque eu disse que a Soph estaria
aqui.
— Deve estar sendo estranho pra ela ver vocês dois separados – Anahí
franziu a testa – Não é?
— Bastante – ele respondeu – A Sam nunca viu a mãe e eu juntos. Eu
namorei a Sophia por três anos, desde que ela era bem pequena. Agora que
nós terminamos e eu estou com outra pessoa... – ele suspirou longamente –
Não ta sendo fácil pra ela aceitar.
— Aqui não é o local propício pra falar disso – Jesse murmurou entre os
dentes – Enfim, muita coisa.
— Cedo ou tarde eu vou te cobrar disso – Anahí retrucou – Mas tem uma
chance de você se livrar dessa pergunta, se responder a outra que eu fizer.
— Ah, ele deve estar em casa com o Dani, quer dizer, ele está doente... –
Jesse deu de ombros.
Sophia, por sua vez, suspirou longamente olhando de Anahí para Jesse sem
saber o que dizer ou fazer. Jesse provavelmente não sabia que Poncho tinha
optado por não dizer a Anahí, ao menos de cara, sobre sua família. E
acabou respondendo aquilo ignorando aquele pequeno detalhe.
Aquele pequeno detalhe que fazia toda a diferença do mundo. Que estava
na exata fronteira da mentira e da verdade.
~
Helooooo everyone! Que maneira boa de começar a semana, né non?
Como podemos ver no capítulo AyA foram do céu ao inferno. É claro que
iria dar merda nesse sentido na hora que a Anahí descobrisse. Poncho
estava evitando contar 50% pra poupa-la e 50% por covardia mesmo pra
poder viver no mundo paralelo por mais um tempo, um mundo que ele não
precisa escolher. Como ele opta por isso, a Anahí acaba descobrindo da pior
forma e óbvio, é pior pros dois. Na quinta vocês conferem isso.
Nesse capítulo também vemos uma fagulha de Slexie. Quanto tempo até
começar a pegar fogo? Boa pergunta rs! Hahahaha. Sobre Bushfer a fagulha
vem na quinta, porque o que tivemos hoje foi a rainhazinha Samantha, filha
do Jesse. Gostaram dela?
Beijos,
Rafa
Capítulo 7 - We've found our lives been changed
Anahí não era idiota de acreditar que "Dani" era um animal de estimação,
um cachorro ou um gato, que fizesse Poncho sumir por dois dias inteiros a
ponto de não visita-la mais. Jesse falara de estar em casa, ou seja, quem
quer que Dani fosse, ele estava na casa de seu ex-namorado, sob os seus
cuidados. Ela sabia que Dani não tinha como ser um sobrinho dado o fato
que Erendira nunca pretendeu ser mãe e ela sabia daquilo. Também não
poderia ser o filho de um dos amigos já que Jesse era o único que era pai e
Anahí já conhecera sua filha Samantha. Logo, não era preciso ser
inteligente ou articulado demais para juntar as peças, não quando elas
estavam tão óbvias bem em sua frente. Era evidente, Dani era uma criança.
Dani era filho de Poncho. E era pelo filho que ele teve naquele tempo em
que ela esteve sequestrada que ele tinha simplesmente desaparecido dali.
O que isso significava? Que Poncho tinha seguido em frente? Ele não
estava livre para ela? Poncho era casado ou simplesmente teve uma
aventura qualquer como parecia ser o caso de Jesse e dali tinha nascido
Dani? Ou será que ele realmente tinha uma mulher em sua vida? Em todo o
caso, a pergunta que a deixava mais contundida, sem dúvidas, era: por que
Poncho tinha omitido o fato de que tivera um filho?
— Sim, agora – a Dra. Wilson disse se aproximando dela com uma cadeira
de rodas e ajudando-a a se levantar – Eu prometo que não vai demorar.
Assim que teve certeza de que estava sozinha com Jesse e com Sam, que
Anahí estava longe dali, Sophia reagiu. Deixando a menina sentada sozinha
na poltrona, ela disse que tinha que falar "um minuto a sós" com seu pai.
Deixou seu celular na mão dela, certa de que ela iria se ocupar jogando e
não prestaria atenção na conversa deles. Ledo engano. Samantha tinha
todos os alertas ligados quando se referia ao pai e sua ex-namorada. Tanto
que ela estava com a tela virada para seu rosto, fingia mexer, mas a atenção
estava no canto do quarto, na discussão que ela observava silenciosa dos
dois, a qual torcia fervorosamente para que o passado se repetisse e eles
acabassem nos braços um do outro, como costumava acontecer tempos
atrás.
Na prática, ao menos de cara, não foi bem assim.
— Era só você ser cuidadoso – Sophia disse segurando a testa – Sim, você
não tinha como saber, mas mesmo assim, você poderia imaginar que esse é
o tipo da coisa que não se fala, mesmo que ela soubesse!
— Porra, mas por que o Poncho não disse a verdade? – Jesse cruzou os
braços – Ele acha o quê? Que ela nunca vai descobrir?
— Você está sugerindo que eu fiz isso de propósito Sophia? – Jesse cruzou
os braços realmente irritado – O que eu ganharia com isso? Eu iria
prejudicar a Anahí? Ou o Poncho? Ele é meu melhor amigo!
Eram assim as coisas entre eles: para cada passo dado para frente, três eram
dados para trás, e não havia a mínima expectativa de melhora.
xxx
Mane não conseguiu, durante todo o dia, tirar da cabeça a sugestão sutil de
Anahí sobre ele e Maite. A pergunta que a amiga tinha feito era tão óbvia e
tão escancarada que ele se perguntava por que tinha fugido dela por tanto
tempo: quando ele iria se declarar para a morena que há mais de dez anos
simplesmente não saía de seu coração?
Mas ao mesmo tempo, era o que Anahí disse: já tinha se passado tempo
demais em que ele deixava as coisas simplesmente acontecerem. E cada vez
mais rolava o sussurro em seu ouvido sugerindo o quanto as coisas teriam
sido diferentes se Mane não fosse covarde, se não pesasse demais as
consequências, e simplesmente deixasse claro para ela que a amava e que
poderia fazer diferente se ela quisesse. Daria a Maite a chance de querer,
coisa que ela nunca teve.
— Me ver...? – Maite franziu a testa abrindo espaço para que ele entrasse e
imediatamente se preocupando – Ai meu Deus, aconteceu alguma coisa
com a Anahí não é...?
— Ah, não se preocupe, está tudo bem – o sorriso de Maite saiu frouxo – A
escola me sugou o dia todo e eu não consegui dar um passo sequer pro
hospital. Depois fui pra academia e bem, ta tarde já. Amanhã eu passo lá
pra vê-la.
— Ela vai fazer a cirurgia amanhã – Mane explicou – Talvez você queira
estar lá antes ou depois.
— Ah, realmente seria ótimo, obrigada Mane – ela sorriu mais ainda – Eu
vou tomar um banho pra te dar alguma atenção, só que não tem nada pra
comer. Você quer, sei lá, pedir uma pizza?
— Vinho, ótima ideia – Mane disse já pegando o celular – Eu peço algo pra
gente jantar, não se preocupe.
Era uma foto de Koko com uma mulher, bonita, loira e curvilínea. A página
aberta era do Facebook dele, e Mane já podia notar que ele e Maite não
estavam adicionados, mas mesmo assim ela conseguia ver a foto dele com a
mulher em questão. Os dois estavam abraçados em um bar e a legenda dizia
"noite inesquecível". Pelo modo como Koko a abraçava era fácil supor que
os dois tinham algum envolvimento. Mane estranhou a foto, no pouco
tempo que conviveu com Koko teve a impressão que ele não era um homem
que costumava ir a baladas, mas ali estava. Se ele tinha conseguido
perceber que Koko e a moça da foto estavam juntos, Maite também
percebeu. E ela provavelmente estava um tanto machucada com aquela
constatação.
Koko e Maite namoraram por três anos e foram casados por sete meses.
Para ela era o conto de fadas, o primeiro homem que a levou a sério, que
não a magoou, que ela achava que não magoaria. Ledo engano. Sete meses
depois do casamento conto de fadas, Koko pediu o divórcio. Toda a
insegurança emocional de Maite que ele um dia tinha ajudado a minar,
agora era ele próprio quem causava. E desde então, Maite tinha vivido à
sombra daquele relacionamento. Não que ela nunca mais tivesse tido mais
ninguém, mas não com a entrega dada a seu casamento. E é claro, sempre
de olho em como ele estava vivendo, com quem estava, se recusando a
seguir em frente mesmo sendo evidente que o ex-marido já o fizera. Aquela
tela era a materialização disso.
Ele a amava. Isso significava que ele não deveria estar ali somente para
caso ela quisesse estar com ele de volta, aquilo seria completamente
antiquado e babaca de sua parte. Maite precisava do apoio dele, e Mane não
queria ser amigo dela somente esperando que ela se interessasse, ele não
queria ter o comportamento do homem na friendzone. Mesmo que Maite
nunca o correspondesse do modo como gostaria, ainda assim ele a apoiaria,
porque o que lhe importava era estar ao lado dela, apoia-la e vê-la bem. Por
isso ele iria ficar.
— O Poncho não vai machuca-la, Maite – Mane respondeu, mas ela revirou
os olhos.
— Esqueci com quem eu tava falando – Maite bufou – Olha, mesmo que
ele pedisse o divórcio e largasse a Diana por ela nesse instante, ainda assim
ela vai ficar destruída quando descobrir que ele desistiu dela, que casou
com outra, que teve um filho. Como se descobrir não fosse suficiente, ele
ainda ta mentindo. Imagina como vai ser quando ela souber...!
— Você precisa não trazer isso tanto pra si, não sofrer desse jeito – Mane
aconselhou – Eu sei que você se preocupa com a Anahí e ninguém quer que
ela sofra ainda mais, mas não dá pra protegê-la o tempo todo, Mai. Não se
esqueça de si própria nisso tudo, ok? Não sofra demais por algo que não é
seu.
— Por que você se preocupa tanto comigo? – ela franziu a testa voltando a
beber o vinho – Ninguém se importa como você se importa.
— Porque da mesma maneira que você se preocupa com ela, eu me
preocupo com você – Mane respondeu – Promete que vai se cuidar? Que
não vai se afetar demais e não vai se esquecer de você mesma?
xxx
Daniel ficou melhor do resfriado naquela tarde. Já não estava mais febril ou
resfriado como antes, pelo contrário, passou a tarde brincando com o pai.
No fim do dia a mãe chegou, Diana acreditava que eles teriam um momento
em família, mas no fim Poncho acabou tomando outro rumo: disse a ela que
iria ao hospital porque tinha dias que não aparecia por lá. Desapontada,
porém não surpresa, Diana sequer se sentia no direito de reclamar – ela dera
a ele aquela liberdade, agora ele estava exercendo-a.
Poncho não esperava pelo que viria naquela noite. Ele encontrou Lexie que
estava terminando seu turno não muito humorada e definitivamente exausta,
mas que encontrou algum tempo mínimo para dar alguns detalhes da
cirurgia de Anahí no dia seguinte a qual ela assistiria. Lexie explicou que
Anahí tinha feito exames pedidos pela Dra. Torres naquela tarde, que
recebera as visitas de Sophia, Mane e Jesse acompanhado de Sam, e que
agora estava sozinha no quarto, era Ellie quem passaria a noite com ela,
mas ainda não tinha chegado. Era o momento certo para Poncho se
aproximar e ele não iria perder a oportunidade.
Anahí, por sua vez, não tinha encontrado ninguém que lhe explicasse quem
era o tal Dani de quem Poncho estava cuidando. Quando voltou dos exames
pedidos por sua cirurgiã, Jesse não estava mais ali e nem Sophia, eles
apenas deixaram uma mensagem por escrito dizendo que ela estava
demorando e que eles precisaram ir. Anahí sabia que era balela, que era
uma desculpa qualquer para fugirem dela e não darem as respostas que ela
estava pedindo, por isso ficou mais irritada e, sobretudo, mais convicta das
próprias suspeitas. Lhe parecia um fato que Poncho tinha tido um filho, mas
quanto mais ele tinha seguido com a própria vida enquanto ela estava
desaparecida?
Mais do que o que ele supostamente viveu, o que lhe incomodava era a
mentira. Era o fato de ele tê-la permitido que o beijasse, algo que Anahí
jamais faria se soubesse que... ela não gostava nem de pensar.
Anahí assentiu, embora em seu rosto estivesse nítido o próprio mau humor.
Poncho caminhando e sentando na beira da cama atribuiu aquilo ao próprio
sumiço e rapidamente se pôs a se explicar. Não fazia ideia que o motivo era
bem diferente daquilo.
— Eu ia contar...
— A mãe do seu filho – Anahí constatou amarga, sem pensar que havia
mais.
— Não era nada sério no começo, eu a conheci porque ela foi a primeira a
me dar uma chance pra publicar os meus livros – ele contou – Só que... ela
ficou grávida. Eu não achava certo simplesmente virar as costas, talvez
fosse um recado da vida, eu não sei. Nós fomos morar juntos...
— Você não sabe do que ta falando – a voz de Poncho saía magoada – Não
tem nada que eu queria mais na minha vida do que ter vivido tudo isso com
você. Foi com você, Anahí, que eu planejei a minha vida!
— Mas não foi comigo que você viveu – ela devolveu – Você se casou,
Poncho! Você teve um filho...! Eu queria ter me casado com você, queria ter
formado uma família contigo, mas eu estava ocupada demais apanhando de
um homem, trancada por anos sem ver a luz do dia, enquanto você estava
com outra mulher...!
Com a frase com a qual buscava se defender, a postura de Poncho foi mais
agressiva: ele se levantou e engrossou o tom de voz. Foi brusco,
completamente emocional e impulsivo, agindo na reação, como alguém que
parecia farto de ser acusado. Afinal, as cobranças de Anahí vinham de
encontro com tantas outras que ele ouviu ao longo dos anos, de Maite
especialmente. Pior, eram as cobranças que ele fazia para si mesmo, que seu
coração fazia para sua razão, cada vez que ele comparava o presente ao lado
da esposa e do filho com algo imaginário, que nunca viveria. Sempre
pensava em como seria descobrir que Anahí estava viva, como lidar com o
remorso de não ter esperado por ela. Agora aquele remorso era real, e
duelava com a raiva que ele tinha de só ter seguido em frente como uma
forma de sobreviver. Diana e Daniel eram boias nas quais Poncho se
segurou para não se afogar, e ele não queria se sentir um ser humano
terrível por isso. Por mais que não se arrependesse da própria família, não
tinha discussão entre escolher por uma coisa e outra. Ele queria parar de ser
acusado por aquilo o tempo inteiro, por isso levantou bruscamente, por isso
falou em tom mais alto, por isso soou bruto daquele jeito.
Estamos falando de uma Anahí que passou oito anos levando um tapa por
cada grito que deu. Isso a tornou agressiva mas, ao mesmo tempo,
amedrontada de cada uma das reações. Quem apanha demais aprende a
bater, mas não deixa de ter medo dos tapas. E era exatamente assim que ela
reagia naquele momento. Assim que ouviu Poncho gritar, assim que o viu
levantar abruptamente, ela se encolheu na cama tanto quanto podia,
tremendo da cabeça aos pés. Em sua mente, a lembrança de um homem lhe
dando um tapa, um soco, jogando-a no chão e chutando-a em seguida,
puxando seus cabelos e amordaçando-a, e depois lhe obrigando a fingir que
gostava de um sexo que só fazia porque era obrigada, para não sofrer ainda
mais. Escolher sofrer ou sofrer. Era disso que Anahí lembrava com gritos e
movimentos bruscos. Era nisso que ela pensava quando desistiu de fingir
não ser frágil e logo se viu às lágrimas, quando teve que se libertar da
emoção das lembranças do passado ao perceber que Poncho não era Tobias
e que ele não iria espanca-la apenas por ela ter levantado a voz e o colocado
contra a parede.
Era fácil em teoria saber que o passado não voltaria, mas ele estava tatuado
nas lembranças de Anahí, nas feridas que não cicatrizaram, nos anos que ela
deixou de viver, na vida que teve que abrir mão.
Sobre Manerroni, deu pra entender bastante sobre a história da Maite e por
que ela anda tão infeliz nesse momento da web. Por mais que ela tenha uma
família que a ame e um emprego que a satisfaça, os golpes do fim do
casamento e da perda da melhor amiga foram muito difíceis pra Maite. Ela
é uma personagem bem ambígua (algo que vocês verão bem no capítulo da
alta da Anahí), mas essa amargura e infelicidade que vocês veem hoje não é
o que ela é e sim o que ela está. Eu tenho grandes planos pra menina Maite,
disso vcs podem ter certeza.
Sobre ela e o Mane, é importante não culpa-la por não ter enxergado os
sentimentos dele. Oh, mas como assim, como ela nunca viu que ele gostava
dela em oito anos? Gente, convenhamos, em oito anos o Mane também
nunca fez questão de se declarar, mesmo notando claramente que ela não
enxergava o que rolava entre eles. Eu não acho justo colocar tudo na conta
dela quando ele ficou de braços cruzados vendo tudo acontecer. Então
vamos ver daqui pra frente quanto tempo mais vai demorar até que essa
situação se modifique.
Espero que tenham gostado dos capítulos e não deixem de dar suas
estrelinhas e/ou comentários :)
Rafa
Capítulo 8 - Move on
Como Ellie tinha ido passar a noite com Anahí, Karen fechava o café
depois de um longo dia de expediente. Ela estava acostumada a lidar com o
negócio sozinha, afinal sua mãe já era uma senhora idosa e não deveria
arcar com o peso de uma cafeteria que dava mais trabalho do que deveria. O
negócio era de Karen, era ela quem iria leva-lo à frente. Sempre tinha sido
assim, ela criou uma filha daquela forma, não era com o sumiço de Anahí
que as coisas seriam diferentes.
Mas não foi preciso. Porque, quando os sentidos voltaram à Karen, ela
percebeu que não era nenhum jornalista intrometido. Era somente Keith.
— Ei, calma – ele levantou ambas as mãos em sinal de paz – Sou eu.
Karen amava os pais. Arthur e Ellie eram seus amigos, seus companheiros,
toda a rede de apoio que ela enfrentou a vida inteira e que nunca a julgaram
por, no meio de uma cidade pequena do interior, aos dezessete anos,
engravidou de um homem que sequer era seu namorado. Pelo contrário, os
dois ofereceram todo o suporte que Karen precisou para enfrentar a situação
de cabeça erguida, permitindo que a família se mudasse e recomeçasse
longe dali, onde ela teria dignidade. A relação dos três era maravilhosa e
isso se repetia na deles com Anahí, eram uma família no melhor sentido do
termo. Mas nem no abraço da mãe Karen sentia tanto alívio como nos
braços de Keith. Talvez porque o marido era a única pessoa no mundo que
sabia exatamente a dor que ela estava sentindo. Talvez uma dor até mais
espinhosa, não maior, apenas diferente, já que Keith jamais teve a
oportunidade de conhecer a filha que eles tiveram juntos e que o conjunto
do acaso fez com que ela criasse sozinha.
Até ali. Até ele, numa viagem de trabalho, receber dela a ligação que
mudaria sua vida até mais do que já tinha mudado... dizendo que Anahí
tinha voltado, estava viva, que nada era como parecia.
— Desculpe – ela murmurou – É que... tem sido uma loucura. Nada fácil.
— Minha mãe queria passar uma noite com ela – Karen explicou – Eu
fiquei pra trás, mas minha cabeça não sai de lá.
— Como... – Keith começou a perguntar, mas não sabia nem por onde
começar – O que aconteceu com ela? Ela está bem...?
— Nem me fale nisso – Karen negou com a cabeça – Foi horrível vê-la
daquele jeito, Keith. Anahí estava tão machucada, tão flagelada... não
parecia com a minha menina. E as coisas que os médicos disseram sobre... o
que ela viveu naquele cativeiro...
— Eu não sei se consigo falar sobre isso, não agora – Karen mordeu os
lábios, ainda mexida demais – Eu não sei como estou conseguindo trabalhar
nesse café, sinceramente. Porque se eu não tivesse isso aqui, nada teria
acontecido. Foi aqui que ele a conheceu, sabia? O sequestrador, Tobias... ele
é meu cliente há anos. Ele a descobriu aqui, bem debaixo do meu nariz, e
continuou aparecendo em todos esses anos... há um mês ele estava aqui! E
eu não fazia a menor ideia...
— Karen... – Keith segurou-a pelo rosto – Você não tinha como saber...
— Isso não me faz menos culpada – ela murmurou com os olhos marejados
– Eu sou a mãe dela, Keith. Eu deveria protegê-la.
— Eu sei, mas... eu gosto de pensar que certas coisas têm uma razão de ser
para acontecer – Keith disse segurando as bochechas dela com carinho –
Não que o desaparecimento da nossa filha seja algo bom, mas isso me uniu
a você. Eu nunca teria sabido que nós tivemos uma filha se o sequestro dela
não tivesse ido pras manchetes. Eu me achava um canalha por me sentir um
pouco feliz por ter te reencontrado e tido uma chance com você quando o
preço por isso era nós não termos qualquer tempo com a Anahí, um preço
caro demais. Até trocaria o tempo que tinha com você se pudesse estar do
lado dela. Mas...
— Anahí deve ter passado por coisas horríveis naquele cativeiro e eu daria
a minha vida para evitar que ela vivesse essas coisas – ele suspirou
mordendo os lábios – Mas já que não posso fazer isso, prefiro tentar ajuda-
la a superar. Não vai ser fácil, mas eu tenho a minha família de volta, algo
que eu nunca tive. Pensei por tanto tempo que nós a tínhamos perdido que
agora sinto como se esse retorno fosse uma grata surpresa, um presente. E
acho que devemos aproveitar.
Karen estava pronta para responder o marido quando a porta do café se
abriu. Ela estava com a frase do "estamos fechados" na ponta da língua
quando se deparou de quem era: dois velhos clientes que ela não poderia
simplesmente recusar. Ed e Barbara Mitchel frequentavam aquela cafeteria
desde a época que se casaram e sempre estavam ali com os dois filhos.
Karen queria dizer que não iria atendê-los, mas ela bem se lembrava de
épocas em que o negócio não ia tão bem assim e ela precisou que alguns
clientes fiéis se mantivessem. Barbara foi uma delas. Era uma questão de
dever servir aquela mulher com alguma dose de boa vontade mesmo fora do
horário de expediente.
Foi Keith quem revirou o olhar para procurar pela pessoa a quem aquela
mulher se referia. Era uma criança, pequena e desconfiada, que olhava para
a mãe de rabo de olho e um bico nos lábios. Sua expressão era de tristeza
pelo modo como a mulher se referia a ela, mas aparentemente parecia um
tanto acostumada com isso. Keith olhou da criança para a mulher, depois
para a Karen, vendo a esposa se contorcer no rosto pela cena mas ainda
assim engolindo em seco e procurando se manter cordial.
— Obrigada, só você mesmo para salvar o meu dia, porque essa peste
conseguiu torrar todo o meu humor – ela resmungou novamente se
referindo à filha e Karen viu no rosto de Keith a força do autocontrole para
não responder – Eu não sei por que resolvi ter filhos.
— Ora vamos, não é tanto assim – Karen disse forçando um sorriso – Onde
está o Mike?
— Oi Missy, meu nome é Keith – ele sorriu para ela, bastando aquelas
pequenas palavras e um gesto de carinho para arrancar-lhe um pequeno
sorriso – Não fique chateada por sua mãe estar zangada, ok? Adultos
conseguem ser bem chatos às vezes.
— Ande, vamos Missy – ela disse puxando a menina com violência – Ande,
vamos logo...!
— Mamãe, meu ursinho...
— Deixa essa merda pra lá! Você tem muitos brinquedos! Ande, vamos!
O ursinho que Missy abraçava com força tinha ficado caído no chão da
cafeteria. A mãe não se importou, puxou a menina com força e Keith sentiu
o coração doer. Uma criança sendo maltratada daquele jeito o fazia pensar
em quanta violência tantos inocentes vivenciavam todos os dias. E
inevitavelmente, em quanta violência Anahí devia ter vivido nos últimos
oito anos naquele cativeiro. Ele balançou a cabeça sentindo a dor de ver a
pequena Missy saindo daquele jeito do café sem que ele pudesse fazer nada
por ela. Uma criança entregue a pais relapsos que evidentemente a
maltratavam, sem qualquer chance.
Ela não tinha chance. Mas Anahí tinha. Uma segunda chance. Keith iria
aproveitar. Ele não tinha sido pai de Anahí nos primeiros vinte e quatro
anos de sua vida, não teve a chance... mas agora ele iria aproveitar.
xxx
No dia seguinte seria a cirurgia de Anahí e não era preciso dizer que Lexie
estava uma pilha logo pela manhã. Callie a tranquilizou antes do turno, lhe
informou sobre os exames que Anahí tinha feito na tarde anterior, que não
havia qualquer risco, mas isso não a deixou menos nervosa. Na sala dos
residentes ao trocar de roupa e vestir o jaleco Lexie sentia a agonia lhe
dominar, como se fosse uma esponja e pegasse todo o estresse da situação
para si. Terminou de se arrumar, pronta para a ronda com os internos, mas
ao fechar o armário, se deparou com alguém que não esperava encontrar.
Não ali.
— Eu não sei se você sabe, mas eu não sou a atendente do caso – Lexie
retrucou – Não sou nem a residente. A Dra. Shepherd não me deu chance de
participar, estou apenas como amiga da Anahí.
— Eu não convidei o Mark pra entrar nisso, ele é seu chefe, resolva-se com
ele e para com essa disputa ridícula de macho querendo aparecer – Lexie
revirou os olhos completamente irritada.
— É claro que não é – ela rebateu – Inclusive, se fosse por minha causa,
você teria ido ver a Anahí por conta própria. Isso é você querendo fazer o
seu nome, como sempre. Ta sempre pensando em si, pensando no seu nome
nas capas de jornal como o cirurgião dela, uma fama que você não
conseguiu pela sua família e sim por si. Você não ta nem aí pra pessoa que
está lá dentro, pro fato daquela pessoa ser minha amiga e de eu ter passado
oito anos achando que ela estava morta. Você dorme na mesma cama que eu
e sabe que eu tenho vindo mais cedo pro hospital a semana inteira pra
passar algum tempo com ela, confortando-a, e não teve a coragem de ir lá
um dia sequer ver como ela está. Por que importante é entrar na cirurgia,
não é Jackson? Importante é ser como o Mark, ser melhor que ele, não é?
— Talvez não tenha mesmo a ver com o Mark, mas a certeza é que tem
tudo a ver com o fato de você girar apenas na própria órbita – Lexie acusou
já caminhando – Com licença, eu tenho que ver a minha amiga e tenho que
trabalhar.
Mark estendia um dos dois copos de café que ele tinha em mãos. Era óbvio
que somente um era para ele, e que ele tinha lido na expressão de Lexie o
quanto ela precisava do outro – que evidentemente não tinha sido comprado
para ela. Lexie não se importou. Em outros tempos ela queimaria de ciúmes
pensando em quem ele teria comprado, se era alguma mulher. Atualmente
ela não se importava, se limitava a ficar feliz por Mark ter se importado e
lhe oferecido um café.
— Nossa, espero que ela não me mate por roubar sua cafeína matinal...
— Na verdade não roubou – Mark confessou – Eu vou dar o meu café pra
ela. Assim tudo certo.
Tinha isso, mas muito mais. Tinha a briga com Jackson. Tinha que seu
namorado se importava menos com sua amiga do que seu ex... mas nem
tudo poderia ser dito, não é?
— Então eu digo que você não precisa estar – Mark disse encarando-a no
fundo dos olhos – A Callie é uma excelente cirurgiã. Anahí está nas
melhores mãos possíveis. As mãos nas quais eu confio a minha filha.
Lexie tremeu da cabeça aos pés com aquela fala. Ela conhecia bem demais
aquelas mãos e era inevitável, com aquela menção, não lembrar o quanto
elas também conheciam consideravelmente todo o seu corpo. Com aquele
flerte descarado com Mark ela quase sentiu as pernas fraquejarem. Palavras
faltaram, tanto que não vieram, eles apenas se olhavam. Continuariam se
olhando se o elevador não parasse, suas portas se abrissem e uma voz
cortasse aquela conexão.
— Dra. Shepherd – Lexie disse virando-se para ela com a leveza de quem
não tinha acabado de flertar descaradamente com seu ex-namorado, no
mesmo prédio em que o atual trabalhava – Bom dia!
— Sim, nos vemos lá – Lexie disse saindo pelo elevador no mesmo andar
que Amelia entrou, deixando sua mentora e o ex sozinhos no elevador.
Mark poderia ter a ilusão de que Amelia deixaria a cena que presenciou – e
interrompeu – passar batida, mas é claro que um Shepherd jamais teria uma
atitude dessas. Se Derek não faria isso, o que dizer de sua irmã caçula cuja
língua era mais afiada que qualquer outra que ele tinha visto na vida?
— Você não perde uma oportunidade mesmo de fazer uma graça com uma
cirurgiã comprometida com um amigo seu – Amelia alfinetou – Primeiro
Addison, depois a Grey... onde você vai parar, Mark Sloan...?
Mark não respondeu. E não é a toa que dizem por aí que quem cala
consente.
xxx
— Então, será que você vai me dizer o que está acontecendo? – Karen
perguntou ao se sentar em frente à filha e segurar as suas mãos.
— Porque além desse olhar vazio, você não está me encarando – Karen
sorriu e viu a filha lhe dirigir o olhar – E eu te conheço Anahí. Você pode
não lembrar, mas eu sempre sabia que você estava mentindo quando não
olhava nos meus olhos. Vamos, me conte. O que está te chateando? É algo
que você consegue falar? É sobre... sobre o seu sequestro?
Assunto delicado, mas, curiosamente, não tinha nada a ver com aquilo. Não
dessa vez. Anahí suspirou aliviada ao se dar conta disso, que provavelmente
aquela era a primeira vez que algo a deixava triste e não era sobre Tobias e
a vida que ele lhe havia roubado. Suspirando e encarando a mãe, de repente
pareceu fácil falar sobre o que a machucava, considerando que tinha coisas
muito mais difíceis de serem colocadas em palavras e traduzidas em
sentimentos.
— Sim, ele teve – Karen confirmou, sem fazer qualquer juízo de valor.
— Anahí, não me ironize – Karen quase ordenou – Não foi fácil viver sem
você. Pra ninguém. Só que eu arrisco dizer que pro Poncho e pra mim foi
pior. Não estou maximizando o meu sofrimento, mas... não tem como dizer
diferente.
Anahí nada respondeu, ficou somente aguardando o que a mãe queria lhe
dizer – e veio.
— Mas Poncho? Se ele seguisse em frente, era a prova que tinha desistido
de você – Karen explicou – Você sabe que eu gosto dele como se fosse um
filho, como a mãe dele gostava de você. Eu não queria perder outro filho.
Eu queria que ele fosse feliz mesmo que dentro de mim aquela voz dissesse
que ele deveria esperar porque você iria aparecer. Diana foi a única pessoa
que não inibiu o Poncho pelo modo como ele deixava os sentimentos por
você extravasarem através dos livros. Não só isso, ela acreditou nele.
Publicou seus livros. Ela foi a única com quem ele se envolveu. E de
alguma maneira, aquele menino, Daniel... a notícia de que ele estava a
caminho foi o que fez o Poncho voltar a sorrir. Eu não podia ser egoísta de
dizer a ele que deveria abrir mão de continuar vivendo só porque a sua vida
tinha sido interrompida.
— Tudo bem – foi a vez de Karen sorrir – Você vai fazer uma cirurgia e tem
um longo caminho pela frente. A vida te reserva boas coisas, meu amor. Se
não fosse isso, eu tenho certeza que não teria por que ela ter te mandado de
volta pra nós.
Disso Anahí tinha certeza. A vida lhe reservava algo. Ela sempre achou que
era o que nunca tinha chegado a viver ao lado de Poncho, mas pelo visto
havia mais. Ele tinha seguido e era a vez dela seguir e procurar o que quer
que fosse, buscar algo que não sabia o que era. Algo que a esperava. Algo
pelo qual ela teria que trilhar.
~N
Hoje temos um capítulo mais tranquilo que o anterior, até porque depois
daquele turbilhão de emoções a gente precisava dar uma desacelerada né?
Então nesse cap mais calminho temos a Karen conversando com a Anahí e
apresentando um lado diferente do que ela ta conseguindo enxergar.
E sobre isso eu aproveito pra mencionar que quem ficou muito
abalada/chocada com a reação da Anahí ao fato do Poncho ser casado e ter
um filho, não se assustem. Ela ficou mt magoada pela mentira do Poncho,
por ter descoberto pela boca do Jesse, por os amigos terem visivelmente
feito um esforço pra esconder tudo.. convenhamos que quando ela acordou
não era a melhor ideia ele contar de cara, mas daí se passaram dias com ela
criando a expectativa deles juntos, tanto que ela se perguntou como seria, o
beijou e o Poncho tu tu tu. O que eu deixo claro é que o sentimento de AyA
é algo forte e bonito, e as coisas assim prevalecem. Tenham paciência!
Também temos aqui aquela fagulha de Slexie mais viva do que nunca e a
Amelia dando aquela alfinetada do jeito que a gente gosta hahahahaha e
vocês enfim são apresentadas a um dos meus personagens favoritos da
história, o Keith <3 Gostaram do papai da Anahí? Como será a reação dela
ao conhecê-lo? Saberemos daqui alguns caps.
Beijos,
Rafa
Capítulo 9 - Memories
Maite, Lexie, Christian, Karen e Ellie estavam no hospital até Callie e Mark
saírem juntos do centro cirúrgico e irem informá-los. Karen e Ellie estavam
ali somente para saber se tudo tinha corrido bem e foram falar com Anahí
depois da cirurgia. À pedido da própria, Maite era quem ficaria no hospital
com Anahí aquela noite, já que ela estava morrendo de saudade de ter o
mais próximo de uma noite do pijama com sua melhor amiga depois de oito
anos sem nada parecido. Karen não conseguiu recusar. Os demais estavam
ali para ver como ela estava, para garantir que tudo ficaria bem.
Então, quando Anahí acordou, tinha cinco rostos sorridentes para ela,
animados com o fato de ela parecer bem no pós-cirúrgico e, sobretudo,
ansiosos para saber como ela estava.
— Você vai se recuperar querida – Karen passou a mão por cima da perna
da filha, coberta por um lençol – A cirurgiã disse que tudo correu bem, foi
um sucesso.
— Sim, você vai andar bem melhor depois de algum tempo, só precisa de
um pouco de fisioterapia – Christian quem disse dessa vez – To até me
sentindo médico depois disso.
As preocupações com ela eram imensas até acordar e todos verificarem que
ela estava bem. Passada uma hora da cirurgia Anahí já estava sentada,
bebendo líquidos, reclamando de estar com fome, fazendo Karen e Ellie
respirarem aliviadas. Elas foram embora dali depois que Anahí insistiu que
ficaria bem com Maite, após telefonar para o avô e ouvir o boa noite que se
lembrou que gostava demais. As duas até perguntaram a Christian se ele as
acompanharia, mas estava um pouco óbvio que ele queria ficar ali para ter
um momento à sós com suas três melhores amigas – algo que não acontecia
há tempo demais para não sentir saudade.
— Sua mãe foi embora, então você já pode dizer se não estiver se sentindo
bem porque ta livre das paranoias – Christian alfinetou a amiga que riu.
— Jackson veio aqui? – Lexie franziu a testa surpresa. Ela não esperava por
aquilo, será que era um resultado da briga de mais cedo? Mas não era aquilo
que Anahí falava.
— Jackson? – ela fez uma careta – Não. Eu tava falando do Dr. Sloan.
Lexie fechou os olhos sentindo seu rosto pegar fogo. Ela sabia que
Christian não iria perdoar.
— Desculpe Lexie – ela deu de ombros – Mas é que é tão nítido o quanto
ele parece querer ser visível pra você... o que aconteceu entre vocês? Por
que não deu certo?
— Ele teve uma filha com a melhor amiga – Lexie respondeu – Sua outra
cirurgiã, a Dra. Torres. E estava namorando com uma oftalmologista de
outro hospital, mas eu não sei por que acabou, parecia que seria algo que
iria pra frente... eu ouvi Derek e ele conversando uma vez e ele disse que os
dois iriam morar juntos...
— Talvez tenha acabado porque não tinha amor – Maite cantarolou. Lexie
fez uma careta imensa.
— Ele vai continuar querendo coisas que eu não quero – Lexie se defendia
como podia – Não tem o que fazer com relação ao Mark e eu. E olhem, eu
estou bem, ok? Eu estou feliz com o Jackson, eu já superei o Mark...
Christian que fica insistindo nisso!
— Ok superada, eu não vou dizer mais nada! – Christian fez uma careta.
— Não é possível que você tenha ficado parada no tempo esses anos todos
– Anahí franziu a testa.
— E por que não deu certo? – Anahí perguntou buscando o olhar dela. Ela
sempre enxergava as verdades nos olhos de Maite.
O assunto não voltou. Nem Anahí insistiu nele, e muito menos Christian e
Lexie retomaram o ponto. Eles conheciam a história e não precisavam que
Maite a repetisse, em especial porque sabiam o nível do desconforto dela ao
mencionar o assunto na frente de todos. Não tardou para que os dois
resolvessem ir embora, Lexie iria fechar seu turno e ir pra casa e Christian
trabalharia no dia seguinte, nenhum deles queria dormir tarde. E eles irem
embora era uma oportunidade de Maite ficar sozinha com Anahí, porque
frente a frente com a melhor amiga ela certamente iria desabafar.
— Eles sabem – Maite revelou – Todo mundo viu tudo acontecer. É que...
eu não gosto de tocar no assunto.
— Você não precisa contar – Anahí ressaltou, mas Maite levantou a mão
impedindo-a de continuar.
— Eu não sei por que ele não estava – Maite suspirou – Eu acho que eu
estava tão presa no meu mundinho paralelo que esqueci de ver se ele estava
feliz, sabe? Porque eu estava. Eu estava realizada, Any. E de repente eu
esqueci que tinha outra pessoa nesse casamento e que eu não podia fazer
tudo sozinha, sabe?
— É o que a sua voz diz, mas não é o que parece – Anahí rebateu, mas
Maite voltou a fugir dos assuntos.
— Nem todos são assim – Anahí considerou – Quer dizer... não que eu
possa falar tanto disso. Minhas experiências também não foram exatamente
as melhores.
— Você passou os últimos oito anos com um monstro, me faz sentir que o
Koko não foi tão ruim assim – Maite ponderou, mas não era a isso que a
amiga se referia.
— Ah... – bastou que ela a encarasse para entender exatamente o que tinha
acontecido – Você já sabe.
— Na verdade não – Anahí corrigiu – Jesse, no dia que veio aqui, disse um
tanto sem querer que o Poncho estava sumido porque estava "cuidando do
Dani". Eu não sou idiota, Dani não podia ser um cachorro doente ou
qualquer coisa do tipo... e como nem ele disse e nem a Sophia, eu
confrontei o Poncho quando ele apareceu e ele não teve alternativa além de
me contar a verdade.
— Mais ou menos isso – Maite suspirou – Eu acho que você percebeu que
eu procuro não ficar próxima ao Jesse e a Sophia. Nós seguimos caminhos
diferentes, eu não conseguia ser conivente com essa palhaçada como eles
são.
— Ele tentou fazer isso com todo mundo, fazer com que nós a amássemos,
que entendêssemos que a Diana não tinha culpa, e realmente não tem, o
culpado é ele – Maite condenou com raiva – Eu não tenho nada contra ela, é
ela como poderia ser qualquer outra, o que me deixa puta é o modo como
ele simplesmente jogou a toalha, desistiu de você, simplesmente aceitou
aquela balela de que você estava morta como desculpa pra casar com outra.
E Jesse e Sophia foram coniventes com isso! É uma traição! Eu nunca iria
aceitar.
— Anahí... – Maite deu uma risada irônica – Há dois meses atrás eu paguei
pra sair uma foto sua nos classificados do Post como desaparecida. Eu
nunca desisti de te encontrar. Eu nunca desistiria.
— Ai meu Deus... – Anahí murmurou admirada – O que mais você fez...?
— Imprimia cartazes com fotos suas e espalhava pela cidade – Maite deu de
ombros – Eu contratei um detetive particular há alguns anos, pra ver se ele
descobria alguma coisa, mas não deu em nada. Eu ainda não tinha arranjado
dinheiro suficiente pra conseguir outro, todas as minhas economias foram
embora nisso...
Mas Anahí ficava triste pela quantidade de estragos que sua ausência tinha
causado. Graças a ela Sophia e Jesse não eram mais amigos de Maite, nem
Poncho; agora eles estavam de um lado, Maite e Christian de outro, Lexie e
Mane ficavam no meio do caminho, eles não eram mais os amigos que
tinham sido um dia, o grupo unido do qual ela se lembrava antes de seu
desaparecimento. Anahí sentia uma certa culpa por aquilo tudo, entendia
Maite condenar Poncho mas no fundo não aceitava que ela e Sophia não
fossem mais amigas, as duas eram tão próximas no passado, aquilo lhe
doía. Por isso Anahí jurou para si mesma que, agora que estava de volta,
tentaria consertar as coisas. Ela tentaria fazer Sophia e Maite voltarem a ser
amigas, faria a reconciliação acontecer. Se Maite sabia ser teimosa, ela
devia lembrar que Anahí sabia ser mais ainda.
A noite serviu para amenizar um pouco das dores de Anahí, porque nos dias
que se seguiram as coisas voltaram a não ser nada fáceis. Ela ainda
esperava que Poncho aparecesse de uma hora para a outra, por vezes
esquecia que ela própria o havia mandado embora. Por outro lado, o
ressentimento por ele não estar mais livre para ela, por todos os sonhos que
ela ainda nutria até pouco tempo atrás simplesmente não serem mais
possíveis, ainda estava ali. Maite tinha razão, Diana não tinha culpa. Ela
tinha feito bem a Poncho, se aproximou de um homem que estava
supostamente livre, construiu uma vida com ele e lhe deu um filho. Anahí
jurou para si mesma que não iria trata-la nem sequer mentalmente como
inimiga, elas não iriam rivalizar e lutar pelo amor dele como se aquela fosse
uma história novelesca, Poncho tinha feito uma escolha e ela iria respeitar.
Racionalmente, ela sequer sentia que deveria sentir raiva dele. Será que em
seu lugar ela teria feito diferente? Será que ela o teria procurado, será que o
teria esperado? E por quanto tempo? Não tinha resposta para nada daquilo.
Ela sabia que aquela tristeza era puramente emocional, que quando
conseguisse superar e começar a seguir em frente com a sua vida as coisas
iriam mudar, talvez ela conseguisse perdoa-lo. Talvez ela encontrasse outra
pessoa que a fizesse querer sair daquilo também, ter uma família quem
sabe. Isso lhe causou uma dor no peito, pensar em ter uma intimidade com
alguém, só vinha lembranças em sua mente. Lembranças de seu corpo
violado, de mãos fortes segurando seus pulsos, um corpo masculino se
forçando contra o seu, dedos puxando seus cabelos, olhos que a
amedrontavam... aqueles olhos...
Então era mais fácil pensar em Poncho, questionar as escolhas dele, tentar
imaginar no escuro como era a vida dele, se era feliz, se amava a esposa,
como era ele enquanto pai de Daniel... todas essas coisas pareciam simples
e menos dolorosas, as cenas imaginárias da família dele, do que as coisas
reais que sua mente ainda conseguia lembrar do cativeiro. Que ainda estava
dentro dela.
Anahí não tinha para quem perguntar aquilo além de Lexie. Dava para ver
que a versão de Maite era parcial demais, e talvez a de Sophia também
fosse. A cirurgiã era a pessoa que mais via Anahí além de sua família e dos
médicos, e acabou sendo a pessoa eleita para tirar todas aquelas dúvidas.
— Sim.
— Foi simples, mas não sei dos votos, a Maite censurou a Sophia para não
falar nada. Só ela, Jesse e Mane foram. Christian se recusou, e a Maite...
bem, você a conhece.
— Ele deve amar sim – Anahí se viu dando um sorriso bobo – Ele sempre
sonhou em ser pai.
— Foi por ele que o Poncho se casou – Lexie observou – Não que ele
detestasse a Diana e fizesse algo obrigado, só que eu acho que não teria ido
pra frente se ela não tivesse engravidado, entende? Um filho fez o Poncho
dar a chance de seguir em frente. Ele nunca teria feito isso sem o Dani.
— Se ela não tivesse engravidado, será que ele teria me esperado? – Anahí
perguntou pensativa. Era algo que não saía da cabeça dela.
— Any, se você ficar pensando nos "se's" nunca vai ter paz – Lexie abriu
um meio sorriso – O que eu posso te dizer com toda a certeza do mundo é
que não foi nada fácil pro Poncho decidir tudo isso. Ele sentia o tempo todo
que estava traindo você. Se me permite dar a minha opinião honesta, eu
acho que ele sente isso até hoje... Maite que não me ouça, porque ela diria
um daqueles "eu acho é pouco".
Anahí riu. Ela acreditava em Lexie, não porque era o que o seu coração
queria acreditar, mas sim porque conhecia Poncho. E aquele Poncho do qual
Lexie falava era como Anahí sabia que ele era. O coração até doía menos
por saber que ainda era ele ali.
Dois dias depois daquela conversa a Dra. Caitriona Balfe encerrou a sessão
de terapia com Anahí com uma – ou melhor, duas – notícias que ela não
esperava.
— Você vai ter alta da cirurgia nessa semana – ela mencionou – O nosso
tratamento, é claro, vai continuar... mas por não haverem mais riscos físicos
e por eu concordar com a equipe de cirurgia que você está um pouco
melhor, a polícia quer falar com você.
— Olá Anahí – o policial falou com ela e ela assentiu com a cabeça – Meu
nome é Nick Durant. Eu sou chefe da Inteligência da Polícia de Nova York
e sou o responsável pelo seu caso. Nós podemos conversar?
— Uhum... – Anahí deu um sorriso fraco, sem encarar o homem que ainda
a intimidava.
— Como você sabe o Sr. Menzies está preso pelo seu sequestro – Nick
Durant explicou calmamente – Mas não foi por isso que nós invadimos a
casa dele. Houve uma denúncia anônima de que ele portava na residência
uma grande quantidade de cocaína, e por isso foi expedido um mandado
para que nós fôssemos até lá e verificássemos se era verdade. Nós
invadimos a casa, encontramos a droga e, enquanto revistamos, invadimos o
porão e encontramos você. A defesa vem alegando que ele não traficava e,
como ainda não existe um depoimento oficial seu sobre a questão do
sequestro, do cativeiro e de eventuais violências sexuais e agressões,
somente a questão das drogas que vem mantendo-o na prisão. Nós
precisamos da sua colaboração, Anahí. Do contrário, o Sr. Menzies pode ser
solto.
— Nós vamos ter tempo para isso, Sr. Durant – ela esclareceu – Eu sei o
que o senhor precisa, mas a saúde e a tranquilidade da minha paciente vêm
em primeiro lugar.
Anahí sabia que ele voltaria. Sabia que aquele tormento ainda duraria, que
ela seria obrigada a lembrar, a falar, que as imagens voltariam a sua mente e
ela reconstruiria as cenas, as reviveria em suas palavras colocadas em
palavras. A impressão que lhe dava é que nunca estaria livre, que aquele
passado sempre a marcaria, sempre a definiria e diria tudo sobre ela. Ela
podia ter saído daquele cativeiro e Tobias podia estar preso, mas sempre
tinha alguém que a arrastava de volta, mesmo que figurativamente. A
sensação de Anahí é que ela não apenas nunca mais teria a vida de antes,
mas na verdade, ela nunca mais teria vida nenhuma.
~
Algumas ficaram com dúvida no último capítulo sobre o Keith e sim, ele é
pai da Anahí, mas ele nunca ficou sabendo dela e só descobriu com o
sequestro que tinha uma filha. A história do Keith e da Karen vai ser
explicada melhor nos próximos capítulos, quando a Anahí tiver alta do
hospital e "voltar pra vida dela". Disse isso entre aspas porque sabemos que
a vida da Anahí como ela a conhecia se foi né? De qualquer maneira,
teremos uma festa de boas vindas e bem.. o resto vocês descobrem na
segunda!
Espero que gostem e nos vemos semana que vem! Deem estrelinhas e
deixem seus comentários :)
Rafa
Capítulo 10 - Surprise
Como Lexie sabia com antecedência, ela passou a notícia para os amigos e
surgiu em Maite uma ideia de organizar uma festa surpresa para Anahí, uma
espécie de boas vindas. Imediatamente Karen foi informada e ficou
acordado entre as duas que seria no café, era um lugar que Anahí conhecia,
ficaria tranquilo. Karen então anunciou que, naquela quinta o café, na parte
da tarde, ficaria fechado para uma comemoração restrita e pessoal. Ela tinha
trabalhado sete dias por semana nos últimos oito anos, tinha direito a um
dia de folga, seus clientes teriam que aceitar.
Logo que Christian ficou sabendo da festa de boas vindas que Maite estava
organizando já percebeu a quantidade de problemas que aquilo acarretaria.
Maite só tinha convidado ele, Mane e Lexie, excluindo Jesse e Sophia da
comemoração e, principalmente, Poncho. Se quanto o ex-namorado de
Anahí era um tanto uníssono que talvez fosse melhor que ele realmente não
fosse convidado, o mesmo não se podia dizer dos amigos. Christian então
teve uma ideia: pedir a Lexie que entrasse na organização daquilo junto
com Maite. A cirurgiã não viu opção se não aceitar e aproveitou-se que
aquele dia seria sua folga. Tal como sugerido por Christian, ela fez questão
de falar com Sophia e Jesse, já que sabia que Anahí ficaria feliz com a
presença deles.
Christian não tinha virado as costas para nenhum dos amigos, até com
Poncho ele mantinha alguma relação, apenas não era próximo de Diana
porque não conseguia tolerar o relacionamento deles. De Sophia e de Jesse
ele continuava amigo, não era tão radical quanto a morena, sabia que da
mesma maneira que ele comprou a briga de Anahí, os outros poderiam fazer
o mesmo com Poncho. Mas uma coisa eram Sophia e Jesse, outra era o
próprio Poncho. Anahí estava irritada com ele ainda, não era uma boa ideia
que ele fosse convidado, ninguém sabia como ela reagiria e poderia colocar
tudo a perder. Até Karen concordou que era melhor não, foi uma decisão
unânime e melhor para todo. Ninguém queria estragar a comemoração de
Anahí, afinal.
— Você tem certeza Arthur? – ele perguntou – Eu não sei se ela vai gostar
de me ver.
— Olhe, eu não vou dizer a você que fiquei feliz por você ter se casado de
novo, não fiquei... – Arthur suspirou longamente – Mas nada muda a
história que você e a minha Any tiveram. Você foi importante na vida dela e
vocês não podem deixar isso simplesmente ir embora. Venha.
— Eu realmente devo ir?
— Ora vamos Poncho, você quer que eu implore? – Arthur deu uma risada
debochada – Eu quero que você venha. Irei te esperar.
É claro que nem ele, nem Ellie e muito menos Karen esperavam que
Poncho simplesmente deixasse Diana por Anahí ter aparecido. Mas de
alguma maneira, ele e Anahí se darem bem, ela ter Poncho por perto
naquele retorno, na readaptação a uma vida normal, seria importante.
Machucava Arthur a ideia de que Anahí virasse as costas para Poncho e os
dois agissem um com o outro como se fossem estranhos, alheios ao amor
forte e intenso que os tinha unido um dia. Ele queria que os dois ao menos
mantivessem uma amizade, uma convivência, e faria o possível para que
aquilo se tornasse realidade.
Anahí obviamente não fazia a menor ideia que seu avô tinha ligado para o
seu ex-namorado com quem ela brigou recentemente e o convidado para ir
em sua casa e participar de sua festa surpresa. Na verdade, como a festa era
surpresa, ela não fazia ideia sequer que aconteceria. Na mesma
tranquilidade de sempre, a manhã de Anahí estava abalada pela
possibilidade de voltar pra casa ou não. Maite não estava no hospital com
ela, eis que preparava os detalhes da festa; Lexie, por sua vez, ficou para
trás junto com Karen cuidando da alta de Anahí e pronta para acompanha-la
até o café, onde seria a festa que ela não sabia que iria acontecer.
Maite tinha dado aula pela manhã e teve a tarde livre para cuidar de tudo o
que estava relacionado à festa de boas vindas de Anahí. quando saiu da
escola ela procurou ir direto para uma loja especializada em produtos
daquele tipo e comprou uma faixa de boas vindas, balões coloridos e
diversos itens de decoração que a velha Anahí certamente gostaria, uma
forma de fazê-la lembrar de quem costumava ser, como se fosse um
incentivo para buscar aquela pessoa novamente dentro de si. Maite queria,
em uma comunhão de esforços, que Anahí voltasse a ver a sua casa, o café,
como um lar. Um lugar onde poderia se sentir segura. E ela não iria medir
esforços para que isso fosse realmente possível.
Só que uma Maite que sempre contava que tudo saísse de forma
completamente perfeita nem imaginou os furos naqueles planos
supostamente maravilhosos. E nem era a presença de Poncho nesse caso.
— O que você está fazendo aqui? – Maite perguntou em alto e bom som
assim que entrou na cozinha do Karen's Café e deu de cara com Sophia
decorando um bolo.
Maite não tinha qualquer resposta para dar, porque embora estivesse um
tanto contrariada, ela sabia que Sophia estava certa. Que direito ela tinha de
impedir Sophia de estar ali? Nenhum. Em especial quando Karen telefonou
e falou com a garota, e logo Ellie chegou ali, ambas agindo como se Sophia
tivesse todo o direito do mundo de estar ali. Maite cansou de fazer queda de
braço e se preocupou em ocupar-se com outros detalhes da festa. Pronta
para voltar ao espaço principal do café, ela teve uma grande surpresa
quando viu outra presença nem um pouco esperada, tampouco desejada
bem ali, à frente de tudo.
— Isso deve ser brincadeira comigo – a morena falou consigo mesma.
— Eu sei quem você é – Maite respondeu com rispidez – Não foi isso que
eu perguntei. Quero saber que diabos você está fazendo.
— Bom, Jesse disse que vocês fariam uma festa de boas-vindas para a
Anahí e eu achei que seria uma excelente ideia aparecer aqui e dar uma
mãozinha!
— Mas eu pensei...
É claro que Jesse não estava nem um pouco feliz pelo modo como Maite
tinha acabado de tratar sua namorada, mas ele não conseguia estar mais
irritado com a morena do que ela estava com ele. O olhar que Maite lhe
destinava era como se pudesse queima-lo sem sequer tocar. E antes que
Jesse pudesse reclamar da fala dela com Lindsey, Maite já tinha na ponta da
língua todos os desaforos que pensou de uma única vez.
— Sua amiga, não amiga daquela ameba que você chama de namorada! –
Maite resmungou – Você sabe quem está dentro daquela cozinha decorando
um bolo pra Anahí? Sophia! Por um acaso você não pensa nela, Jesse?
Como você acha que ela iria se sentir se saísse daqui e visse a Lindsey
decorando a festa da Anahí como se tivesse algum direito de estar aqui?
— Ela e eu não temos mais nada, foi ela quem terminou – Jesse acusou –
Eu tenho o direito de seguir com a minha vida!
— A Dra. Torres assinou a sua alta – Lexie explicou rapidamente – Mas ela
disse que você precisa fazer fisioterapia. Como você é minha amiga, ela
deve te ver durante as sessões...
— Ele não é meu médico bonitão – Lexie revirou os olhos – Mas que seja,
Mark é muito atencioso com os pacientes dele. Principalmente as pacientes.
Eu não duvidaria que ele esteja dando mole pra você.
Tudo correu completamente bem. Callie Torres assinou a alta de Anahí, deu
algumas recomendações e saiu dali antes de Karen e Lexie levarem-na.
Antes de as três efetivamente saírem do hospital, tanto Amelia quanto Mark
apareceram para se despedirem de Anahí – mas ela estava muito mais
preocupada em observar a reação da amiga frente ao ex-namorado. No fim
das contas Mark ficou para trás, porque Lexie seguiu com Anahí para onde
elas iriam. Assim que entraram no táxi, essa foi a primeira pergunta de
Anahí.
— Para onde nós vamos? – ela franziu a testa encarando a mãe – Para
casa...?
— Pro café – Karen disse – Sua avó está nos esperando lá.
Anahí imediatamente se sentiu desconfortável. O café não era mais o lugar
do qual ela se lembrava. Não era mais o negócio de sua mãe, sendo
reduzido ao lugar que ela conheceu Tobias.
Pensando bem, o mundo não parecia mais tão seguro quanto antes...
Mas como dizer isso a uma Karen entusiasmada e sorridente, cujo rosto
sorria por pensar que estava levando a filha de volta para a própria vida?
Anahí tinha na ponta da língua que preferia ir de volta para a própria casa, o
quarto no qual dormiu a vida inteira, que era o seu quarto antes da
faculdade, antes de decidir dividir um apartamento com Poncho, mas sabia
que decepcionaria a mãe, talvez os avós também. Acabou se forçando a
ficar no silêncio mais uma vez e fingir que estava tudo bem, tentando
repetir na própria mente que tudo ficaria bem, que Tobias estava preso e
nada iria acontecer dessa vez.
Anahí não esperava descer do táxi com alguma dificuldade, chegar no café
que estava escuro e, após a mãe abrir a porta do lugar e acender as luzes,
ver várias pessoas conhecidas, vários rostos familiares – alguns deles que
ela nem sequer tinha revisto no hospital – lhe gritarem um animado
surpresa! Ela abriu um sorriso nervoso, com um certo susto, reconhecendo
os amigos no meio da multidão, entre outros, e assim que o susto passou, se
dando conta que talvez toda aquela bagunça viria a calhar, porque pelo
menos com muita gente teria muita distração e ela quase não pensaria nas
lembranças que aquele lugar ainda era capaz de lhe despertar.
O Karen's Café, visualmente, não era mais como estava nas lembranças de
Anahí. Karen, junto com Ellie, tinha modernizado o lugar, a decoração
estava diferente. Foi com alívio que Anahí se deu conta daquilo. Não deu
tanto tempo mais de pensar em muitas coisas: ela estava em uma cadeira de
rodas pela perna imobilizada, mas tinha tanta gente vindo falar com ela que
parecia difícil administrar. Christian estava ali, Mane estava, bem como as
famílias de ambos, as mães de Sophia e Maite, e várias outras pessoas que
Anahí não reconhecia de rosto, mas rapidamente reputava como conhecidos
próximos dos amigos, a quem ela certamente logo viria a ser apresentada.
— Você brigou com Jesse por causa da Lindsey? – Christian franziu a testa.
Lindsey realmente nem cogitou ir embora. Ela não era inocente a ponto de
achar que a própria presença não incomodava, sabia que Jesse e Maite
tinham brigado mais cedo por causa dela, mas como o namorado fincou o
pé que ela ficaria, apenas sentiu o ego crescer pela situação e sorriu
vitoriosa. Agora o sabor da vitória não era mais tão grande assim, já que ela
olhava para frente e via Sophia brincando com a criança que agora era sua
enteada. Samantha não dava qualquer espaço para a nova madrasta, ficava o
tempo inteiro com sua tia So e era aquilo até o fim. Jesse a tranquilizava
dizendo que Samantha ainda não estava acostumada com a situação, mas
que era questão de tempo. O problema é que Lindsey não era paciente. Ela
não estava disposta a esperar.
A nova namorada de Jesse não era a única pessoa nova ali. Um pouco
depois do início da festa, Lexie se surpreendeu ao ser cutucada por
Christian e, quando olhou na direção que a cabeça do amigo apontava, viu
Jackson entrando no café e sorrindo para ela, caminhando em sua direção.
Ela imediatamente arqueou as sobrancelhas completamente surpresa.
Depois de tanto tempo demonstrando o mais absoluto desinteresse pelo
estado de sua amiga, Lexie realmente não esperava ver o namorado ali.
— O que foi? – ele perguntou vendo a reação dela – Eu fiz mal em ter
vindo?
— Que você estava aqui? – Jackson perguntou – Sloan me disse. Ele falou
que você comentou com a Amelia da festa surpresa, e disse que eu deveria
aparecer.
A questão era que Lexie não sabia se ficava feliz ou não pela reação de
Mark. Ela não sabia se estava pronta para perceber que ele provavelmente
não sentia mais nada por ela.
xxx
Anahí de repente se viu presa no meio de um papo materno. Há muito
tempo as mães de seus amigos tinham criado para si uma amizade e não era
nenhuma surpresa ver Olívia – a mãe de Sophia, Victoria – a mãe de Maite,
e Priscila e Jade – as mães de Mane (porque ele era fruto de um casamento
lésbico) todas juntas no mesmo lugar. Não era de se surpreender que Karen
não tinha apenas convidado as amigas da filha para aquela comemoração,
mas também suas mães e que todas elas em um dado momento fizessem um
círculo em sua volta e começassem a falar do quanto sua presença ali era
algo realmente maravilhoso.
— Nem vou falar nada sobre o Mane – Jade suspirou longamente – Até
porque pra ele me dar um neto, teria que arrumar uma namorada antes, se
casar com ela, e do jeito que ele não é capaz de mostrar pra mulher que
gost...
No fim das contas Anahí tinha razão: aquela história de ter gente demais ali
a faria se distrair facilmente.
Mas era fácil ter os pensamentos desviados quando se está fora de uma
realidade. Para Anahí não durou tanto tempo assim. Ela conseguia enquanto
estava ouvindo a conversa da mãe com suas amigas, as mães de Sophia e de
Mane reclamarem que queriam netos, a mãe de Maite sem perceber que
Jade sugeria o tempo todo que o filho era apaixonado pela filha dela, todas
compararem sem parar como as coisas eram em seus próprios tempos de
juventude com o mundo atual. Ela realmente era capaz de se distrair ali.
Mas bastou que a porta do café se abrisse e uma figura conhecida demais
por todos eles – principalmente, por ela – aparecesse e sugasse para si todas
as atenções.
Poncho.
Assim que ele entrou, curiosamente não foi Anahí a primeira a notar. Ela o
viu depois que o vulto apressado de Samantha cortou o grupo no qual ela
estava inserida, das mães que queriam se tornar avós, na direção da porta
para abraçar o tio Poncho. Ele era o padrinho da menina, imediatamente ela
ficou feliz com sua presença, com a novidade daquele evento um pouco
entediante para uma criança de cinco anos. Anahí levantou o olhar para ver
para onde, na verdade para quem Samantha corria, e foi com a mais
absoluta surpresa que ela viu o ex-namorado parado bem ali.
Que diabos ele fazia ali? Ela não tinha sido suficientemente clara ao dizer
que ele deveria se manter longe?
Mas o olhar de Anahí se manteve fixo nele, bem como na conversa que ele
começou a ter com Samantha, ainda na porta do café.
— Que bom que você chegou tio – a menina disse abraçando-o pelas
pernas, tendo os cabelos acariciados pelo padrinho – O Dani veio com
você?
— Não, ele não veio princesa – Poncho fez uma cara de poucos amigos.
— Tudo bem, eu vou falar com uma amiga e depois venho brincar com
você, ok?
— O que você veio fazer aqui...? – foi Sophia quem perguntou. No fundo
dela, Poncho era capaz de ver Maite de braços cruzados, fuzilando-o com o
olhar.
— Você não deveria ter vindo assim mesmo – Lexie ralhou – Arthur é um
velhinho emotivo, não é uma opinião que deve ser levada em conta.
— Ora ora Lexie, eu fico ofendido assim – Arthur surgiu atrás delas com
um sorriso travesso – Vamos, não briguem com o Poncho. Eu o convidei.
Está na hora dele e da minha Any se resolverem de uma vez.
— Se você acha isso Arthur, eu não irei discutir – Sophia disse num suspiro
– Ei Sam, vamos voltar pra onde estávamos?
— Nessa festa chata...? – Samantha revirou os olhos, vendo a tia estreitar os
olhos para ela – Ta bom, ta bom...!
Só que não era nem de longe esse o fato que realmente tinha mexido com
Anahí. Depois do bolo e de todos aos poucos começarem a se despedir e ir
embora, ela finalmente respirou aliviada acreditando que teria um momento
de paz. As pessoas tinham saído, ela poderia ir para casa – que ficava quase
ao lado do café – e finalmente sentir algum tipo de refúgio e tranquilidade
que tanto estava buscando. Ela não pensaria nos próprios traumas, não
pensaria em Poncho, apenas colocaria a cabeça no velho travesseiro no qual
costumava dormir há tanto tempo que parecia outra vida e ao menos fingiria
para si mesma que tudo ficaria bem e que o dia seguinte seria um novo dia.
O estranho era que o homem em questão tinha algo de familiar. Ela não
sabia dizer o que, mas que tinha, tinha.
Finalmente temos aqui a alta da Anahí tão esperada e seu retorno pro
mundo real. Bombado, né? A família e os amigos resolvem fazer uma festa
surpresa e o que não faltam realmente são surpresas: o Poncho presente, a
Maite defendendo a Sophia e o Keith no final. Até a Lexie recebeu a
surpresa da presença do Jackson... uma noite e tanto, não é?
Sobre a Maite, eu tenho visto opiniões bem diversas e, embora não tenha
respondido ainda os comentários (porque to mais enrolada do que sei lá o
que), estou ligada que ao mesmo tempo que ela é intensamente amada, é
também intensamente odiada rs. Maite é uma personagem bem ambígua e
eu sabia que ela despertaria paixões e emoções bem opostas, não esperava
reação menor de vocês. Eu gosto que um personagem desperte coisas
diferentes mesmo porque na vida é assim, tem gente que nos ama e tem
gente que nos odeia. O caso é que eu pretendo que, ao final, fujamos um
pouco da vida e todas vocês a amem hahahahaha. Ela é uma personagem
difícil, com uma personalidade bem temperamental, mas como eu disse, ela
é ambígua e nesse capítulo a ambiguidade dá as caras. Maite no fundooooo
não sente tanta raiva da Sophia assim e é uma boa leoa para protegê-la
também, a amizade ta guardada bem lá no fundo e querendo aparecer, ela só
tem um orgulho imenso e dificuldade de dar o braço a torcer. Na hora que
ela vê o Jesse levando a Lindsey joga toda a antipatia criada no ralo e quase
bate nele porque sabe o que a Sophia vai sentir quando ver a nova
namorada do ex ali causando (Lindsey é um saco e Jesse não ajuda,
complicado né). Não vai ser a primeira vez que isso vai acontecer e logo
veremos uma certa @ que vai perceber isso e levemente incentivar as
amiguinhas a se reconciliarem. Sei que vocês vão gostar e que vocês vão
confiar em mim, eu sei sim :)
Boa semana pra todo mundo e bom feriado, já adiantando que na quinta tem
uma ceninha AyA!
Beijos,
Rafa
Capítulo 11 - Immutable truth
Quantas outras mentiras estavam lhe contando? O que mais estava sendo
escondido? O que mais faltava descobrir nos piores momentos possíveis?
— Que dor? A dor de perder um filho? – Anahí devolveu – Como ele pode
ter sentido essa dor se nunca teve uma filha...?
— As coisas não são como você pensa Anahí – Keith falou, mas não teve
qualquer chance contra ela.
— Tudo bem – Keith entregou os pontos – Você está certa. eu não sofri o
que a sua mãe sofreu. Eu não te conhecia, na verdade eu não te conheço. E
é exatamente por isso que eu senti tudo aquilo. Foi exatamente essa a razão
de eu ter um buraco enorme no peito: eu descobri a oito anos que tinha
perdido uma filha que nunca tive a chance de ter.
— Querida... – foi Arthur quem falou dessa vez – Fique. Por favor. Eu
garanto a você que vai valer a pena.
— Difícil acreditar que até vocês mentiram pra mim – ela murmurou
magoada – Meu Deus, será que alguém não mentiu desde que eu voltei?
Anahí saiu da sala disparada. Sua intenção era sair de casa – já que ali
dentro já não conseguia se sentir mais confortável, por motivos óbvios –
mas para onde ir? Qualquer lugar fora daquele espaço era inseguro. Depois
de oito anos presa no mesmo lugar, mais nenhum poderia ser adequado.
Qualquer lugar ela era refém, estava vulnerável e não dava mais para se
sujeitar a uma vida como aquela. Anahí acabou voltando para o café, ainda
bagunçado pelo pós-festa, mas ao menos vazio, onde ela poderia ficar
acompanhada apenas dos próprios pensamentos.
Tudo aquilo era difícil para todos os lados. Os ângulos eram oblíquos na
história, não tinha certos e errados. Anahí não teve conhecimento do que
separou seus pais, ela só conhecia a própria versão daquilo tudo. O que ela
tinha vivido ao lado da mãe era a sua própria verdade. E o que Anahí viveu
foi uma vida difícil e de sacrifícios e abstenções. Karen não fez faculdade,
trabalhou bastante até juntar dinheiro para ter o próprio negócio. Arthur e
Ellie a ajudavam como podiam, por vezes seguraram a barra e hipotecaram
a própria casa para que a filha pudesse abrir o café. Foram dias e dias,
noites e noites de trabalho árduo, sem alguém ao seu lado para dividir os
problemas, as dívidas e a rotina de mãe. Karen cuidou da filha sozinha,
garantiu a melhor educação possível para Anahí, poupando dinheiro mesmo
após o negócio se estabilizar para permitir que a filha fosse para a faculdade
e se realizasse da maneira que ela nunca pôde. Tanto sacrifício para Anahí
acabar sequestrada e com a vida interrompida.
Era óbvio que Anahí sequer tinha cogitado que, ao voltar para casa,
encontraria um homem se dizendo seu pai. No meio da própria luta para
viver cada dia ela ouvia os parcos relatos da mãe sobre Keith. Ela sabia o
nome dele, sabia seu sobrenome e sabia a história exata, a mesma que sua
mãe lhe contou quando ela era ainda uma menina pela primeira vez e
repetiu apenas adicionando detalhes conforme o tempo passou. Karen
namorava Dan, o irmão de Keith, que terminou com ela ao ir para a
faculdade. Keith e ela se davam bem, ele sempre tinha demonstrado algum
interesse nela e os dois se aproximaram no mesmo verão que Dan foi
embora. Se comunicaram por cartas por um ano, até o verão seguinte,
quando Keith voltou à cidade onde ela morava e os dois se envolveram.
Karen sempre achou que o ex sabia da filha e o rejeitou. Afinal, ela disse a
Royal e Meg, os pais de Keith, que estava grávida dele. Enviou dezenas de
cartas, sem nenhuma resposta. Como ela poderia pensar que ele estava
fugindo das próprias responsabilidades? Como era uma cidade pequena, a
notícia se espalhou. As portas se fecharam diante de Karen, as poucas
oportunidades sumiram, ela perdeu até mesmo o emprego que tinha como
vendedora. Logo Arthur deu um ponto final na história, decidindo com Ellie
se mudar para Nova York, onde a família dele morava. Lá eles teriam a
chance de recomeçar sem o peso do passado. A família Portilla seguiu para
o Brooklyn com Karen ainda grávida e começou a reconstruir sua história a
partir daí.
Então não era preciso dizer que Anahí não iria aceitar de maneira fácil que
havia outro lado naquela história toda, e que esse lado agora estava
materializado em sua casa, exigindo a oportunidade de contar sua versão. O
pior de tudo é que sempre tinham sido Karen e ela, e agora ela notava, ante
o silêncio da mãe, que passaram a ser Karen e Keith. Anahí nunca se sentiu
tão sozinha. Não era assim que ela achava que as coisas seriam quando ela
voltasse para casa.
Só que Anahí não estava tão sozinha assim, ao menos não geograficamente
falando. Encostada no sofá que ficava no canto do Karen's Café, ela viu um
vulto conhecido se aproximar da porta do lado de fora e abri-la, procurando
algo e, a princípio, sem nota-la. Anahí chegou a se perguntar se conseguiria
escapulir dali. Ao se dar conta que não, não era, suspirou desapontada.
Poncho estava exatamente com a mesma roupa de mais cedo. Pelo andar da
hora, ele não devia estar muito longe dali quando resolveu voltar. Anahí
estava curiosa para saber o que ele tinha ido fazer, mas não sabia se era uma
boa ideia falar com ela ou não. Mas pelo visto Poncho não tinha opção.
— Se minha mãe não mudou tanto assim nos últimos oito anos, ta do lado
do caixa – Anahí disse sem encara-lo, mordendo os lábios.
Poncho obviamente não sabia que Anahí tinha acabado de descobrir, da pior
maneira possível, que Keith não apenas era seu pai, mas que sua mãe tinha
se casado com ele e deixado para lhe dizer somente quando ela voltou para
casa. Não sabia que isso tinha agravado a sensação de solidão dela, que
tinha lhe tirado a sensação do único lugar que lhe parecia um lar. Então
naturalmente ele achou que Anahí se referia à ele. Achou que aquela reação
era uma rejeição a não apenas a sua presença na festa, mas também àquele
retorno inesperado. Que era uma indireta, uma piada.
Foi assim que Poncho caminhou lentamente na direção dela, se sentou com
calma ao seu lado e, com um sorriso no canto da boca um tanto sem graça,
se pôs a falar.
— Eu sinto muito.
Mas a resposta de Anahí não era algo que Poncho estava esperando.
— Não – Anahí negou na mesma hora, sentindo uma súbita vontade de rir –
Olha a minha cara de quem manda indiretinha.
— Ok, eu não vou me defender, nem defender a sua mãe, mas são situações
completamente diferentes... – Poncho começou a argumentar.
— Curiosamente foi o mesmo que ela disse – Anahí suspirou – Vocês
ensaiaram?
— Não – ele riu – Estou dizendo isso porque eu estava aqui quando Keith
apareceu. E eu vi o quanto ela resistiu. Como vocês duas se parecem, não
me surpreende nem um pouco que você esteja rejeitando-o de cara também.
— Como você pode ter tanta certeza que ele ignorou? – Poncho questionou
– Any, quantas vezes eu te disse isso? Quantas vezes nós conversamos e eu
falei pra você que talvez as coisas não fossem assim?
— É claro que eu era filha dele...! Ele acha que a minha mãe era o quê? –
Anahí se rebelou mais ainda – Acha que ela transava com todo mundo...?
— Ah claro, porque você já o conhece o suficiente pra dizer o que ele teria
feito...
— Eu o conheço há oito anos – Poncho devolveu – Você o conhece a o que,
dez minutos? Realmente é você que ta certa né Anahí?
— Keith nunca se casou – Poncho continuou – Nunca teve filhos. Ele era
apaixonado pela sua mãe desde que ela namorava o irmão dele... e ela ter
ido embora partiu o coração dele. Ele se tornou bem sucedido, mas
ninguém na cidade os conhecia, ninguém sabia pra onde eles tinham ido
porque Arthur e Ellie esconderam de todos. Ele só ficou sabendo de você
porque, quando você sumiu, a história toda saiu nos jornais... e ele viu. Ele
reconheceu a Karen, viu a sua foto, viu em você a mãe dele. Pela foto que
ele mostrou, você é idêntica a ela. Então ele apareceu mais para confirmar
tudo do que qualquer outra coisa.
— E por que diabos ele não voltou pra maldita terra dele assim que
confirmou e a deixou em paz? – Anahí cruzou os braços injuriada.
— Porque ele tinha acabado de descobrir que tinha uma filha de vinte e três
anos que desapareceu sem mais nem menos e que a mulher que ele sempre
amou achava que ele a tinha abandonado grávida – Poncho disparou – Ele é
um homem de verdade. Ele nunca a abandonaria.
— Tudo bem – Poncho respondeu dando-se por vencido – É difícil pra você
acreditar. Mas eu conheço você. A Anahí que eu conheço tem um coração
enorme, embora também tenha uma grande cabeça-dura. Eu sei que uma
hora esse coração vai falar mais alto que essa teimosia imensa.
— Eu não sou a minha mãe – Anahí ressaltou – Eu não vou aceitar esse
cara.
Poncho sentia que já tinha feito mais do que tinha ido até ali fazer. Era
simplesmente uma volta rápida, o plano era simples: pegar o celular e ir
embora. Diana o esperava, Daniel o esperava. Agora já tinha escurecido e
ele estava ali, sentado no café ao lado de Anahí, conversando com ela com
a mesma franqueza de anos antes. Nem quando eles tinham se beijado ele
se sentia tão próximo do passado quanto naquele momento. Desde o
reaparecimento dela os dois não tinham tido uma conversa tão franca, que
os fizesse parecer tanto com o casal que tinham sido um dia. Era inevitável
não comparar. Poncho sentia na pele aquele contraste, o impacto era forte.
— Vamos lá, eu levo você – Poncho disse estendendo a mão para ela –
Ande, não é tão longe assim, você não precisa me aturar muito.
Anahí riu.
E agora sim Anahí sabia que Poncho dizia isso, de certa forma, por sua
própria causa. Ele estava dando o momento dela, o tempo que ela precisava
para se acostumar com aquela nova realidade. Porque afinal, em outros
tempos, Poncho não se despediria. Disso Anahí se lembrava: noites e noites
debatendo coisas no café fechado, às escuras... ele a acompanhava até em
casa, por vezes nem esperando ser convidado para ficar, mas quando via ele
já estava aos beijos com ela entrando em seu quarto em passos que
tentavam que fossem silenciosos para sua mãe não ouvir. Se se calasse,
Anahí conseguiria se lembrar dos gemidos dele no ouvido dela enquanto a
penetrava.
— Seu avô me convidou – ele respondeu – Eu sei que eu não deveria ter
vindo... mas eu não senti que não conseguiria.
xxx
A noite custou a passar para Sophia. Quando ela chegou na cafeteria, era
como se não tivesse dormido. Ela sabia a razão de ser disso: pensamentos
demais. Muitos fantasmas habitando uma mesma cabeça e lhe tirando o
sono. Apertos no peito, dores que nem eram físicas, a faziam ficar acordada
até tarde. o despertador não costumava ser piedoso. Às oito, lá estava ela.
Por sorte, Torrey cumpria o protocolo e a Sophia's, a confeitaria da qual
eram sócias-proprietárias, estava aberta com a mesma regularidade de
sempre.
— Nossa, senti a sua animação pelo seu simples olhar – Torrey comentou
encarando-a, tentando buscar um significado naquele olhar – Ta tudo bem,
Soph?
Ledo engano. Torrey a seguiu, sem lhe dar tantas alternativas assim.
— Que o divino do papai dela fez o favor de levar a Lindsey pra festa
surpresa da Anahí mesmo sabendo que você estaria lá.
— Ah, isso? – Sophia fingiu não ter importância – Torrey, eu sei que Jesse
ta namorando. É algo que eu tenho que me acostumar.
— Você ter que se acostumar e ele ficar esfregando a garota na sua cara são
duas coisas bem diferentes – Torrey ressaltou – Olha, eu to com um
problema nisso tudo. Eu tenho uma filha que odeia a namorada do pai e eu
não consigo dizer pra ela que tem que gostar da Lindsey e ser legal com ela
sem ser completamente falsa.
— Mas ela tem que ser legal com a Lindsey – Sophia ponderou – Você ta
ensinando a Sam a fazer o certo, mesmo não gostando.
— Talvez uma hora nós consigamos fazer você entender que não se deixa
um gato daqueles passar despercebido – Lívia disse – Anda vai! Dê uma
chance pro ruivo! Se quer saber eu já levantei todas as informações
importantes sobre ele pra você.
— Ela finge que não gosta, mas eu não acredito, e você? – Sophia
perguntou olhando para funcionária rindo.
— Nem um pouco!
O ruivo em questão não era a única novidade – embora não fosse tão novo
assim – na confeitaria. Jesse novamente apareceu acompanhado de Lindsey
e, tal como na tarde anterior, a garota fez toda a questão do mundo de
mostrar serviço e tentar ajudar no "negócio do namorado", mesmo com
Torrey e Lívia deixando claro que não era preciso qualquer ajuda. Não
adiantou, Lindsey queria ter motivos para estar ali e não abriria mão da
chance que estava alcançando. Se Lívia não podia fazer nada para evitar a
situação, se limitando a apenas revirar os olhos pela presença inconveniente
da namorada de Jesse, Torrey já estava pronta para puxar Jesse para o canto
e quase cortar o pescoço dele pela situação.
Só que não foi preciso... porque o universo deu o troco. Na forma de Chad
Michael Murray chegando ali.
Lívia não gostava de Chad, assim como não gostava de Lindsey. Ela sabia
que um tinha sido a causa do fim do namoro de seus chefes, e a outra
acabou por afasta-los ainda mais e aumentar a mágoa. Mas a diferença era
que Sophia não impunha e forçava a presença do amigo que era detestado
por seu ex como ele fazia com a atual namorada. Chad nesse momento
parecia um remédio ruim, necessário tomar para se curar. Talvez ele viesse
a calhar para dar a Jesse uma lição que ele estava precisando aprender.
Jesse não tinha notado a presença do rival, mas levantou a cabeça de onde
estava ao ouvir seu nome. Chad sequer o notava, apenas tinha os olhos fixos
na porta da cozinha de onde Sophia saiu. Não era apenas ele que a
procurava com os olhos. Jesse agora encarava a ex-namorada procurando a
reação dela ao ver o "amigo". E não era nenhuma surpresa quando ele viu
Sophia saindo dali e abrindo um enorme sorriso ao ver Chad. Um sorriso
que foi como uma faca em seu coração, que despertou todo o seu ciúme,
todo o seu rancor, e uma mágoa que ele ainda não tinha sido capaz de
superar. Mágoa por um sentimento que ele podia tentar sufocar, mas ainda
estava ali.
Ele podia colocar Lindsey naquela cafeteria, nas rodas de seus amigos, em
sua casa e em sua cama, onde fosse, mas o lugar mais importante ela ainda
não tinha tomado. Dentro do coração de Jesse havia somente Sophia. O
único problema era que as atitudes dele o faziam perder cada vez mais
espaço dentro do dela. Por sua vez, Chad estava ali disposto a conquistar
aquele terreno.
~
Olarrrr mores! Como estão?
Espero que role um certo alívio depois desde capítulo a julgar pelo quão
nervousas vocês estavam com a ida do Poncho pra festa da Anahi. Eu só
coloquei a ida dele porque queria muito essa cena dele e da Anahi falando
do Keith, já que eles têm um contraponto bem interessante e fica evidente o
quanto os dois se conhecem bem e sabem lidar um com o outro.
Beijos
Rafa
Capítulo 12 - I think you will lose
Ledo engano.
É claro que Poncho e Diana não sabiam quem eram os avós a quem o filho
se referia, já que tanto os pais dela quanto os dele eram vivos. No fim Diana
acabou chegando na sala e se deparando com a possibilidade mais remota:
eram seus sogros que estavam ali. E, para completar, Erendira, sua cunhada,
estava com eles.
— Nós decidimos ontem à noite e bem, por que não fazer uma surpresa? –
ela disse já abrindo os braços para receber a nora sorridente – Desculpe
querida, estamos atrapalhando?
— Ah, eu não posso fazer uma surpresa pra família do meu próprio filho? –
Robert resmungou – Aposto que o Dani adorou.
— Não me olhe assim, eu fiquei tão surpresa quanto você quando cheguei
em casa depois de cinco dias trabalhando e esses dois estavam assistindo
TV na minha sala me esperando. Uma dica pros dois... nunca deixem chave
reserva com o porteiro.
— Garoto, ignore a sua irmã rabugenta e venha dar um abraço na sua mãe –
Evelyn pediu abrindo os braços para Poncho, que ali entrou.
Diana acabou por supervisionar as malas dos sogros sendo abertas e Daniel
recebendo mais presentes do que ela e Poncho costumavam achar
necessários. Pelo tipo de embrulho já tinha notado que Robert e Evelyn
decidiram a viagem às pressas e comprado qualquer coisa para o neto no
caminho apenas para não chegarem de mãos abanando. Nem ela nem
Poncho achavam aquela a melhor maneira de criar Daniel, dando presentes
desnecessários, brinquedos que ele já tinha, mas não tinha como frear os
pais do marido tal como já acontecia com os pais dela. Tudo o que Diana se
limitava a fazer era ficar por perto enquanto o filho abria os novos
brinquedos, obrigando-o a catar o papel de presente que rasgava e ficaria no
chão e a agradecer zilhões de vezes por tudo o que tinha ganhado.
Como já conhecia o rito entre sua esposa, filho e seus pais, Poncho
aproveitou o momento e puxou Erendira num canto. Os pais não
costumavam aparecer sem mais nem menos, eles sempre avisavam e não
eram as pessoas que pegavam um avião de Chicago para Nova York sem
que houvesse um motivo aparente. Normalmente Evelyn e Robert só iam
visitar os filhos nos aniversários, Natais e Thanksgiving, mesmo assim era
sempre algo planejado e avisado, e não era nenhum dos casos. Poncho não
estava entendendo nada, e tinha certeza que a irmã o ajudaria a
compreender que diabos estava acontecendo ali.
— Ah, você jura que nem passa pela sua cabeça o que os dois vieram fazer
em Nova York? – Erendira fazia uma enorme cara de irritação para o irmão
enquanto cruzava os braços com uma careta – Poncho, eles vieram ver a
Anahí.
— Deus do céu... – ele tampou os olhos com as mãos. Mais essa agora.
— Bem até – ele deu de ombros – Ela tem sido compreensiva. Tem me
dado espaço. Disse que vocês conversaram sobre...
— E você...?
— Eu disse que tinha tempo que nós não conversávamos a respeito, o que
não é nenhuma mentira – ela ressaltou – E que precisava ser resolvido.
— Tudo bem – Poncho assentiu – Mais tarde nos falamos sobre isso.
O almoço que era para três se tornou para seis, mas logo Robert e Evelyn se
integraram na preparação, enquanto Erendira ficou brincando na sala com o
sobrinho. A mesa foi posta para toda a família e os seis sentaram juntos,
Evelyn babando o neto o tempo inteiro o quanto podia junto com Robert,
Diana e Poncho felizes ante isso... por algumas horas ninguém se lembrou
que Anahí tinha voltado e que somente ali dentro, naquela bolha, as coisas
continuavam intactas.
Mas isso durou apenas até o fim do almoço.
Não que elas não se dessem bem: Evelyn sempre tratou a nora com o maior
dos carinhos. Gostar de Anahí, para ela, não era sinônimo de odiar Diana;
pelo contrário, Evelyn apoiou a decisão do filho de seguir em frente, de se
casar com aquela que seria a mãe de seu filho. As duas secavam juntas a
louca do almoço e Diana estava calada, com o pensamento longe, nem
passando perto de Anahí. Foi a sogra que trouxe o assunto à tona, porque a
verdade é que guardar aquilo estava incomodando-a mais do que poderia
suportar.
— Aconteceu algo...?
— Sim, eu percebi isso, é até por isso que Robert e eu quisemos vir até aqui
antes de ir até lá – ela explicou – Eu queria ver como as coisas estavam
correndo por aqui, como você e o Poncho estavam.
— Nós estamos bem – Diana constatou sorrindo – Você não tem o que se
preocupar.
— Ora querida, mas eu não estou preocupada – Evelyn entregou – Você é
quem deveria estar.
Dessa vez Diana simplesmente não conseguiu falar nada. Ao mesmo tempo
que encarava a sogra completamente estática, Erendira chegou até a
cozinha, caminhando até a geladeira e se servindo com um copo de água.
Não demorou até se interar sobre o assunto que sua mãe e a esposa de seu
irmão estavam conversando.
— Mamãe...!
— Diana querida, desculpe... não me leve a mal, eu não tenho nada contra
você, eu nunca tive – Evelyn ressaltou sem olhar para a filha. Seus olhos
estavam fixos na nora que, por sua vez, não movia um músculo – Mas eu
conheço o meu filho. Ele sempre amou essa garota. Então saia dessa de que
você é a esposa dele, não se monte no fato de que vocês têm um filho,
porque sim, o Poncho te ama, ele realmente ama, mas ele também a ama e
se tiver que escolher... eu acho que você vai perder.
— Olha Evelyn, se o Poncho quiser ficar com a Anahí eu não vou ser um
empecilho entre eles – Diana deixou claro – Se ele disser pra mim que quer
voltar pra ela e que a ama... eu não vou ser a pessoa que vai tentar separa-
los, longe de mim. Mas eu o amo. E eu vou deixar isso claro. Eu vou lutar
por ele, eu vou dar motivos a ele pra ficar comigo. Se ele não ficar será
escolha dele. Se ele quiser manter a relação que nós construímos até hoje...
eu estarei aqui. Não vou desistir.
Pelo visto, toda a sinceridade que Diana queria que Erendira lhe
demonstrasse naquela conversa das duas tinha sido despejada por Evelyn.
Por mais pesada que a conversa tivesse sido, por mais doloroso que tivesse
sido para ela ouvir aquelas palavras da sogra, Diana preferia assim. Ao
menos ela sabia o tipo de situação que estava enfrentando. Ela sabia que
tinha reais chances de perder, mas nem por isso estava disposta a desistir.
Diana amava Poncho, e sem sombra de dúvidas iria até o final.
xxx
O sábado não tinha sido de almoço em família somente para Poncho. Mane
também gostava de passar ao menos um dos dias do fim de semana ao lado
de suas duas mães. Ele definitivamente era quem tinha a família com mais
diversidade entre todos os seus amigos. Normalmente o amigo filho de uma
mãe solteira ou de pais separados é o diferente na roda; nesse caso não era,
não no grupo deles, porque esse era Mane.
Mane tinha sido gerado por Jade com o material genético de Priscila e o
sêmen de um doador. O contrário tinha acontecido quase quinze anos
depois, quando as duas cismaram de serem mães novamente e nasceu a
filha caçula, Kamilla. Era uma produção conjunta, nenhuma delas era
menos mãe e nenhum dos filhos era menos feliz. Só era realmente diferente,
porque ele nunca conseguiu se referir a ninguém como "minha mãe", já que
tinha duas. Era sempre Jade quando se referia à mãe que trabalhava com
assessoria de marketing e era esotérica, sonhadora e ligada com astros; era
sempre Priscila quando falava da mãe pé no chão que era dona de um salão
de beleza. Os amigos com o tempo aprenderam a distinguir e ninguém
julgava Mane por aquela situação, muito pelo contrário, era a definição de
que ser incomum não tinha nada de anormal.
— Ah, que bom que você chegou! – Jade exclamou assim que viu o filho
entrando pela porta – Eu estava mesmo falando de você!
— E isso significa...?
— Você não sabe? – Priscila riu entrando na cozinha com um copo nas
mãos e uma risada abafada – Estamos falando das duas palavras favoritas
da sua mãe.
— Mapa astral – Mane constatou rindo junto, sentindo a outra mãe lhe dar
outro beijo carinhoso.
— Você precisa me ouvir – Jade parou na frente do filho, que lhe encarava
divertido – Eu descobri a hora. Eu fiz o mapa! Eu não te disse, não te falei,
olha só isso, feitos um para o outro. Fora o fato que Peixes e Capricórnio
serem super compatíveis astrologicamente vocês, vocês dois ainda possuem
Vênus em signo de Terra, e você sabe que Vênus rege o amor, ou seja...
vocês dois são compromissados, fieis, apaixonados, mas demoram a se
entregar e a perceber o sentimento. Como eu vivo dizendo!
— Mamãe... – Mane riu negando com a cabeça, mas nada era capaz de
deter Jade De La Parra.
— Só falta ela aprender a ler essas estrelas e saber das coisas – Mane
suspirou – Maite nem sabe que eu existo.
— Por que você não a leva num jogo do seu time? – Kamilla sugeriu – Aí
ela ficaria babando em cima de você todo treinador-que-muda-vidas-e-
ainda-é-gostosão!
Mas não adiantava falar, não quando se tratava de uma ansiedade que Mane
não conseguiria diminuir. Sua mãe sempre soube, desde o início, de seu
sentimento por Maite e sempre o impulsionou para frente, em especial por
notar que desde a adolescência ele continuava nutrindo a mesma paixão
pela amiga. Mane já não tinha mais esperanças de que Maite o olharia de
uma maneira diferente, mas volta e meia a mãe lhe dava razoes para
acreditar e dessa vez seria o mesmo. Logo ele se via com o celular nas
mãos, os dedos tremendo por ter que digitar aquela mensagem, mas se
obrigando a enviar antes que fosse tarde demais. Antes que seu medo e sua
maldita insegurança o impedissem mais uma vez.
"Tem um jogo do meu time na terça à noite. Eu gostaria que você fosse".
Aquele "eu gostaria que você fosse" já tinha sido "apareça" e também
"você poderia ir lá, não é?" antes que Mane digitasse e ficasse na versão
final. Enviou antes de acabar apagando tudo e desistindo de vez.
Parecia que, quinze anos depois, o avanço entre Mane e Maite finalmente
iria acontecer.
xxx
Poncho não fazia a menor ideia da conversa – para não dizer o desabafo
recíproco – entre sua mãe e sua esposa. Quando chegou da saída com o pai,
não demorou muito para reparar que Evelyn estava em um lado da casa e
Diana, do outro. Ele não sabia que elas tinham debatido os sentimentos dele
por Anahí, não tinha como saber. Mas parecia evidente que algo tinha
acontecido ali.
Só que no fim das contas o assunto acabou vindo, não da maneira esperada,
mas de outra. Poncho sabia que devia uma conversa a Erendira e conhecia a
irmã o suficiente para ter certeza de que não adiantava fugir, ela o
alcançaria. Dessa forma, ele nem tentou. Apenas a procurou com o olhar
que a fazia entender que estava disposta a falar do que quer que ela quisesse
e tudo o que Erendira fez depois disso foi caminhar com ele para a varanda
de seu apartamento e aproveitar que os dois estavam finalmente sozinhos e
poderiam dizer o que fosse.
Mas Erendira não começou falando o que o irmão esperava que ela
dissesse.
— Eu peguei pelo meio, bem na parte em que a mamãe dizia que a Diana
tinha que se preparar porque você amava a Anahí e tinha grandes chances
de acabar voltando pra ela – Erendira deu de ombros vendo o irmão
arregalar os olhos.
— Eu não acredito...
— Pode acreditar – ela suspirou – Mas então Diana respondeu dizendo que
não vai desistir de você, que confia nos seus sentimentos por ela. E aí, quem
tem razão?
— A volta dela mexeu demais com você, não é? – ela perguntou cruzando
os braços. Os olhos de Poncho voltaram a se abrir com a pergunta. Ele não
demorou nada a responder.
— Um lado meu sempre vai ama-la – Poncho constatou – Só que esse lado
estava adormecido, sufocado, trancado nos meus livros, eu só abria quando
queria, quando estava longe da minha vida, da minha realidade, da minha
família. Porque quando eu dava vazão a esses sentimentos... eu sentia que
tava traindo a Diana, que tava sendo egoísta. Só que eu conseguia trancar.
Eu podia trancar. Agora eu não posso mais.
— Agora eu saio deixando uma parte de mim aqui, e volto e sinto como se
tivesse deixado outra parte lá fora – Poncho colocou as mãos nos cabelos –
Eu... eu não sei o que fazer.
— Você ainda a ama – Erendira constatou – Mas ama a Diana também. São
sentimentos diferentes.
— Sim. Exatamente.
— Diana não sabe disso – Erendira voltou a concluir – Ela sabe que você
sente algo, mas está confiante, segura. Eu te disse mais cedo que ela veio
conversar comigo, me perguntar o que você sentia, e eu... eu não podia
dizer pra ela o que eu realmente pensava, não é?
— Tudo isso o que você disse – ela explicou – Que você ama as duas.
Embora eu tenha uma suspeita de quem você vai escolher no final.
O bom dessas cenas da família Herrera é uma das partes que eu mais gosto
na web que é Poncho + Erendira. Ela é a pessoa pra quem ele mais se
mostra, até mais do que pros amigos. No próximo cap veremos o papo
franco que a hermanita vai ter com a ex-cunhada quando os papais forem
visita-la.
Também vemos aqui o Mane e o núcleo da família dele, uma parte bem leve
e cômica da história hahaha. Aquele leve empurrãozinho da mamai e da
irmãzinha faz ele tentar um passo com a Maite... será que vai pra
Manerroni? Em breve saberemos!
Rafa
Capítulo 13 - Heartiness, jealous and blood
O clima na casa dos Portilla não estava dos melhores. Anahí estava
repousando porque Ellie fazia questão que a neta se recolhesse já que mal
tinha tido alta do hospital e já tinha sido banhada por uma nova onda de
fortes emoções. Anahí não reclamou, ficar no quarto descansando era uma
ótima maneira de não se deparar com Keith em todos os cantos da casa.
Como ela tinha que ficar na casa da mãe, era melhor ficar refugiada no
próprio quarto, o único lugar onde ele claramente não era bem vindo.
Karen não sabia como se portar com relação à filha. Ela estava receosa.
Anahí e ela tinham a melhor relação do mundo. Karen tinha orgulho de
dizer que tinha conseguido repetir com a filha todo o carinho e
companheirismo que teve com seus próprios pais. E exatamente por isso lhe
doeu tanto ter que esconder a existência de Keith da filha desde que Anahí
reapareceu. Era uma orientação da Dra. Balfe, não dizer a Anahí tudo de
uma vez, dar tempo ao tempo... Karen esperava estar fazendo o melhor para
a filha, porque, afinal de contas, aquele não era o único segredo que ela
passou a ter com Anahí.
— Eu tenho. Você por outro lado mamãe... – a filha disse entre os dentes e
quase sentiu o pai cutucando-a.
— Tem certeza que não é uma hora ruim Ellie? – Robert perguntou para
cortar a filha – Podemos voltar em outro momento...
Mas mesmo assim, Ellie estava receosa. Por isso foi com passos delicados
ao quarto da neta e bateu somente após pensar duas vezes. Ouviu a voz dela
cabisbaixa que já lhe indicou que ela pensou que era a mãe ou o "pai".
Ficou mais segura ao abrir a porta e ver a surpresa entrar no rosto dela ao
constatar que era a avó. Talvez a expectativa ruim fizesse a realidade não
ser das piores.
— Eu devo dizer que eles voltem outra hora? – Ellie perguntou ainda
receosa – Ou que nem voltem? Eles irão entender...
— Não vovó – Anahí disse se levantando e prendendo o cabelo com um
elástico que estava no pulso – Eu vou recebê-los, é claro que vou.
E por mais que por vezes a Anahí de antes parecesse ter sumido do mapa,
em outros ela demonstrava que talvez nunca tivesse saído dali.
Erendira estava protocolar sentada ao lado dos pais vendo como eles
questionavam desde uma cruzada de pernas até o modo como olhavam para
os lados. A casa de Anahí estava silenciosa e sua ex-cunhada temia o modo
como sua mãe abordaria a ex-nora. Ela não precisava pensar ou imaginar
demais para supor que Anahí certamente estava frágil. Ela tinha sido
sequestrada. Tinha perdido oito anos de sua vida. E, ao voltar para essa
vida, ela não era a mesma de antes. Não era mais tão segura. O homem que
ela amava era o marido de outra mulher, o pai de um filho que não tinha
nascido dela.
É claro que Evelyn diria aquilo. Anahí era bonita como sempre, mas
Erendira admitia no silêncio de seus pensamentos guardados que aquela era
uma sombra da mulher que conheceu um dia. Sem maquiagem e
evidentemente abatida, os cabelos não tinham mais um corte e ela era muito
mais magra do que já tinha sido um dia. Dava um certo choque rever Anahí
daquela forma, diferente ao extremo da mulher deslumbrante da qual eles se
lembravam... muito embora a certeza era que o que realmente importava era
que Anahí estava bem. Ela estava viva. o resto teria seu jeito.
— Perdoe por não avisarmos, mas assim que soubemos que você, bem... –
Evelyn pisava em ovos enquanto falava – Acabamos vindo sem mais nem
menos.
Afinal, com Anahí ela poderia falar do que fosse de uma forma que não
terminasse por mata-la de vergonha.
— Nós queríamos vê-lo bem – Erendira se defendeu – Não foi fácil. Todos
nós sentíamos a sua falta, mas ninguém queria que ele continuasse
sofrendo. Ele é meu irmão, Anahí. É a pessoa que eu mais amo no mundo.
Vê-lo definhar daquele jeito estava me matando.
— Nós não termos tido uma chance – Anahí confirmou. Era quase a mesma
coisa.
— Ele esteve aqui ontem, na festa de boas vindas que a minha mãe fez pra
mim – Anahí suspirou – Meu avô o convidou. Você conhece o Sr. Arthur,
ele tem coração de manteiga.
— Não é tão simples – Anahí murmurou – Eu... não consigo ficar perto dele
sem sentir raiva. Mas ao mesmo tempo sinto outras coisas... coisas que não
deveriam sentir.
— Então você ainda o ama? – ela perguntou, sendo direta pela primeira vez.
Estava ensaiando aquela pergunta desde que a conversa tinha começado.
Ansiava consideravelmente pela resposta.
— Eu vivi a antítese do que nós tínhamos por oito anos – Anahí mordeu os
lábios. Doía lembrar... – Pensar nele me manteve viva.
Estava claro, mais do que claro. Anahí não sabia que uma boa parte de
Poncho correspondia os seus sentimentos, que a outra parte lutava contra
aquele amor que insistia em permanecer dentro dele, mas Erendira sabia.
Naquela conversa ela tinha muitas confirmações. Sabia que dependia muito
mais de seu irmão do que da ex-namorada dele a decisão de os dois ficarem
juntos ou não. Provavelmente ela era a primeira pessoa com quem Anahí
conversava sobre aquilo, o que era uma surpresa, já que, por ser irmã de
Poncho, Erendira não esperava que fosse ela a pessoa com quem Anahí
abriria os seus sentimentos.
Só que alguns fatos poderiam ser extraídos daquilo. Anahí estava magoada
com Poncho, mas diferentemente dele, ela não parecia lutar contra o que
sentia. Poncho, por sua vez, admitia que era feliz com Diana, se apegava à
família que tinha construído com a esposa... mas ao mesmo tempo, não
negava que Anahí ainda mexia com ele. Se a mágoa de Anahí não durasse
tanto, talvez ela continuasse apaixonada por ele. Talvez ela começasse a
quebrar uma a uma as paredes de resistência que ele construía para mantê-la
afastada, paredes essas que eram a única coisa que mantinham seu
casamento a salvo. Talvez na hora que Poncho se libertasse da ideia do
próprio compromisso e percebesse que amava Anahí mais do que era capaz
de admitir, nada seria capaz de segura-los. Porque, para Erendira, algo era
claro: Anahí continuaria ali, à espera dele, porque talvez Poncho fosse o
único a quem ela daria a mão para sair do poço do qual ainda não tinha
conseguido sair.
Eles só não sabiam disso. E a irmã dele não sabia se isso realmente iria
acontecer.
xxx
A segunda-feira chegou e Lexie estava com uma enorme carga para aquela
nova semana: os novos internos chegariam ao hospital naquela manhã e ela,
como residente-chefe, era a responsável por fazer a primeira ronda e lhes
apresentar ao hospital e à sua nova rotina. Por sorte o fim de semana tinha
sido tranquilo. Como Jackson resolveu mudar a estratégia e ir à festa de
Anahí, os dois realmente tinham feito as pazes e ficado bem. Lexie
amansou naquela história toda e o namoro deles parecia ter encontrado um
denominador comum. Aquele fim de semana foi o primeiro em muito
tempo que Lexie não pensou em Mark Sloan nem um minuto sequer.
Lexie nem em sonho pensou que Mark assaltaria seus pensamentos naquela
manhã. Ela se lembrava perfeitamente bem de quando ainda era uma
interna, de seu primeiro dia no New York General Hospital, de como sua
então residente fez a primeira ronda apresentando as suas cinco regras de
uma forma completamente rude. Lexie não queria ser assim, pelo contrário;
ela tinha tudo na ponta da língua, uma forma completa de marcar os cinco
anos da residência daqueles novos médicos, de fazer com que eles se
tornassem profissionais completos e sensíveis aos próprios pacientes. Lexie
os tocaria, ensinaria de uma forma humana e no final eles seriam gratos a
ela.
Era um grupo grande. Quase vinte novos internos, divididos entre cinco
residentes. Lexie não ficaria pessoalmente responsável por nenhum deles,
ela apenas supervisionaria tanto os próprios internos quanto os residentes
que o guiariam naquele primeiro ano. Mas a primeira ronda agora lhe cabia.
Apresentar o hospital, dizer onde ficava cada coisa, dar o tom de como tudo
funcionava ali.
Um clássico.
— Achei que você fosse furar comigo – Mark deu um ar de riso em sua
expressão sempre confiante.
— Nunca ouvi falar, mas nem precisa né? – a garota se abanou e Lexie
revirou os olhos.
— Pois deveria, Dra... – ela olhou para o jaleco, vendo o nome da médica
impresso – Dra. Cocatti. O Dr. Sloan escreveu um artigo conhecido sobre
enxertos de pele em casos de queimaduras de terceiro grau. Indispensável
pra qualquer um que queira ter qualquer mínimo conhecimento em cirurgia
plástica.
Tinha um nome para esse sentimento. Lexie Grey apenas não queria
admitir.
xxx
Anahí se recusava a admitir que ainda sentia muitas coisas por Poncho. Era
engraçado ter voltado a pensar nele, porque durante anos ela não conseguia
pensar nele. O ex-namorado tinha sido uma lembrança constante nos
primeiros anos de cativeiro, mas depois tudo se dissipou. Ela simplesmente
não conseguia mais lembrar das coisas que eles tinham vivido... até abrir os
olhos no hospital, no dia que tinha sido resgatada, e se deparar com ele.
Aquele "meu amor" que ele tinha usado para se referir a ela ainda estava
marcado em seus pensamentos, em seus sentidos. E ajudou a trazer tudo de
volta, acabando naquele fim de tarde onde ela acabou falando para Erendira
o que sentia na velocidade que constatava, descobrindo junto com a ex-
cunhada que ainda sentia coisas demais pelo irmão dela.
Será que ele ainda lembrava daquelas coisas todas? Se lembrava, como
administrava isso com o fato de ter outra mulher dormindo a seu lado e
sendo a nova pessoa de quem ele arrancava gemidos?
No meio daquilo tudo Anahí precisou de mais. E quando ela deu por si,
estava ligando seu velho computador em busca das respostas para as
perguntas que sua mente criava, abrindo a escrivaninha à procura de um
caderno com senhas de redes sociais. Seu Facebook ainda estava ali e ela o
abriu. Enquanto a sua conta parecia ter parado no tempo, nem mesmo o
design do site era o mesmo. Ela estranhou tudo, mas rapidamente notou que
algumas coisas ainda permaneciam no lugar. Bastava digitar na barra de
pesquisa o nome dele, e as lacunas rapidamente seriam preenchidas.
O perfil pessoal era recheado do que ela queria ver. Fotos da vida de
Poncho: seu último aniversário ao lado dos pais, uma foto abraçado com
Erendira... e então o que ela queria ver, o que ela procurava: a esposa dele.
Diana. E então Anahí viu o rosto que sua mente tentou imaginar sem
sucesso, já que ela era totalmente diferente do que sua cabeça tinha
montado. Loira, bonita e com um sorriso discreto... Diana era irritantemente
bonita. E mais irritante ainda e, sobretudo, desagradável era o sorriso que
ele tinha abraçado com ela.
Anahí não quis mais ver nada daquilo. Ela apertou o botão para desligar o
computador, voltando para a cama sem conseguir tirar aquela foto da
cabeça, a imagem de seus pensamentos. Deitada, fechou os olhos
procurando apagar tudo dali, querendo não ter sido curiosa, nunca ter visto
nada. Mas era tarde demais. No esforço para fugir da visão da felicidade de
Poncho, de como ele parecia bem em ter seguido em frente sem ela, outro
pensamento veio à tona em sua cabeça. Ela estava naquela mesma posição,
deitada abraçando o corpo, os joelhos, num colchão. Mas chorava. Ouvia o
som do próprio choro no meio de um silêncio ensurdecedor como o que
estava em sua casa agora. Não era apenas isso. O choro não era por uma
lembrança ou por algo que ela tentava evitar. Era de dor. Anahí lembrava de
sentir uma dor forte, de chorar por ela.
Todo mundo vivo depois desse final? Hahahaha porque eu imagino que eu
to morta em muitos pensamentos KKKKKKKKKKKKK
Deixem suas estrelinhas e comentários pra eu saber que vcs estão lendo!
Beijos e até segunda!
Rafa
Capítulo 14 - More than a lifetime
Seis anos depois Diana tinha conseguido e, de certa forma, tinha sido graças
a Alfonso. Antes dos dois se envolverem, a relação era puramente
profissional e ela se aproximou dele por ter se fascinado por sua escrita.
Alfonso já tinha batido em cinco editoras e Diana era sua cartada final. Foi
a melhor aposta que ela poderia ter feito.
Mas Alfonso não foi a única aposta. Um pouco antes dele o braço direito de
Diana veio na forma de Erika. Uma garota recém-formada que estava
batalhando para começar uma carreira em Nova York após se formar em
Literatura pela NYU e precisava de qualquer tipo de oportunidade bateu à
porta dela. Diana a chamou para um estágio, mas o útil e o agradável se
uniram e Erika acabou sendo exatamente o que ela precisava quando o
primeiro livro de Alfonso chegou e restou à ela fazer a correção ortográfica
do texto e ajudar a enxuga-lo. Erika e Alfonso se deram bem de cara. Ela
não apenas revisou o primeiro livro dele, como os outros dois que a Planet
publicou logo em seguida, e estava desde já ansiosa pelo quarto que ele já
começara a rascunhar. Erika não era apenas o braço direito de Diana, mas
também se encaixava perfeitamente bem com Alfonso; ele gostava do
trabalho dela e ela amava editar os livros dele, tudo funcionava
perfeitamente bem.
Depois de muito tempo procurando, Erika abriu a internet com uma história
interessante. Uma mulher encontrada depois de oito anos presa num
cativeiro. Anahí Portilla. O que será que ela tinha a dizer sobre aquela
experiência? Que tipo de cicatrizes aquela mulher carregava? Parecia ser
uma história e tanto, e Erika estava disposta a persegui-la até o fim.
xxx
Lexie Grey não teve grandes dificuldades de se livrar dos novos internos.
Com a planilha que já estava feita há quase uma semana, ela distribuiu cada
um dos novos médicos entre os residentes da casa e, uma vez resolvido –
ignorando todas as reclamações que advieram de suas escolhas – ela seguiu
para a preparação do paciente da cirurgia que faria... como residente de
Mark Sloan.
O que Lexie não esperava era que, ao entrar na cirurgia para se paramentar,
Amelia estivesse na sala de escovação ao lado de um Mark que já se
preparava. Ela chegou exatamente na hora certa para ouvir a conversa entre
a mentora e seu ex-namorado, em especial porque Amelia não parou de
falar nada quando notou a presença dela. Mark, por sua vez, tentou cortar.
Não que adiantasse a longo prazo.
— Você não foi pra cirurgia solo do novo interno...? – ele perguntou
franzindo a testa.
— Obrigado, porque seu namorado foi resolver o que quer que seja na
emergência e eu realmente preciso de alguém que entenda o procedimento –
Mark sorriu galante – Achei que fosse me trocar pelos novos internos.
Mas havia uma forma de alfinetar a situação sem parecer tão descarada
assim.
— O que eu acho...? – ele perguntou rindo – Parece que seu irmão não é
mais o... como o chamam...? Ah... o McDreamy daqui.
Lexie achou que fosse morrer com o comentário de Amelia. Agradeceu aos
céus pelo fato de ter para onde olhar naquele momento. Provavelmente a
pele clara de seu rosto já denunciava todo o seu rubor, a julgar pelo calor
que sentia nas bochechas.
— Ora Mark, não seja modesto, todo mundo aqui conhece os seus atributos
– Amelia comentou quase gargalhando vendo Mark sorrir amarelo e
sabendo, pelo modo como o olhar dele alcançava Lexie ao fundo, que
estava atingindo o objetivo em cheio – E quando eu digo todo mundo, é
todo mundo mesmo...!
— Eu não dou duas semanas pra ele começar a ensinar uma dessas novas
garotas – Amelia alfinetou se fazendo de desentendida – Você concorda...?
— Ahn? – Lexie quase engasgou – Er, eu? Quer dizer... – ela balançou a
cabeça – Ah, eu não sei. Talvez não. Não seria muito... profissional.
xxx
Maite tinha aceitado, naquela noite, o convite de Mane para assistir o jogo
de seu time. A verdade é que ela não tinha entendido a razão de ser do
convite em si. Mane e ela eram amigos desde sempre, mas nunca tinham
sido próximos, não como ela era com Anahí, Christian e Lexie e como ele
sempre tinha sido com Poncho e Jesse. Maite mal sabia com o que Mane
trabalhava, muito mais por ver publicações a respeito nas redes sociais dele
e os comentários nas rodas de amigos – quando estas aconteciam – do que
qualquer outra coisa. E agora Mane a convidava para assistir um daqueles
jogos. Não tinha como não se surpreender.
Ou não.
— Mane por um acaso é aquele moreno forte e gostoso que veio te buscar
no outro dia...? – o sorriso de Pia já cresceu – Nossa, que pedaço de mau
caminho aquele homem...! Vocês estão juntos?
— Ah, sério? – ela bateu palminhas – Se nos casarmos você será a dama de
honra...!
Maite não era, há muito tempo, a mulher que saía para encontros suspirando
e fazendo planos para o futuro. Se o homem em questão não resultasse
numa grande decepção, aquele primeiro encontro resultasse em outros três
que significasse um bom sexo, já seria de bom tamanho. Ela tinha desistido
de criar expectativas depois de um casamento fracassado. Afinal de contas,
não havia segurança em achar que as histórias durariam para sempre, já que
ela e Koko sequer duraram um ano.
Depois de tanto tempo tentando sair daquela fundo do poço que se tornou
sua vida amorosa, Maite acreditava que provavelmente aquele cenário
nunca iria mudar.
Mane estava com o time montado no campo preparado para o grande jogo.
As líderes de torcida animavam o público. Foi com alívio que Maite saiu do
táxi e caminhou junto com Pia para a arquibancada, afinal ainda não tinha
começado. Mane estava concentrado com os jogadores, mas Pia notou
quando sussurraram no ouvido dele algo que o fez olhar para onde elas
estavam. Ele abriu um sorriso após o que quer que tenha ouvido e procurou
pela arquibancada, avistando Maite e sorrindo mais ainda. Ela acenou
quando o olhar dos dois se encontraram... mas ao notar que Maite estava
acompanhada, Mane franziu a testa. Pelo visto ele não tinha entendido. Pia,
por sua vez, não sabia se entendeu o certo.
Era melhor não pensar demais. Pia esperou, mas Maite não demonstrou
qualquer confusão mental pelo que tinha acabado de acontecer. Talvez fosse
melhor simplesmente ignorar.
— To feliz que você veio – Mane disse radiante sem tirar os olhos dela –
Me espera? Quero te levar pra comer alguma coisa...
— Ah, claro... muito prazer Pia – Mane disse apertando a mão dela e
cumprimentando-a – Espero que tenha gostado do jogo.
— Gostei sim, principalmente do treinador.
Pia, por sua vez, não pretendia perder a própria chance. Ao menos era o que
parecia.
xxx
— Tem certeza que não quer que eu entre com você...? – Karen perguntou a
uma Anahí que permanecia tão séria e seca com ela quanto possível. E pelo
visto, não iria mudar.
— Você vai continuar mentindo pra mim? – Anahí rebateu com mais uma
pergunta, que muito mais soava como uma acusação. Karen apenas
suspirou.
— Não estou mentindo pra você – ela se limitou a dizer – É só que... você
precisa entender que as coisas mudaram enquanto você não estava aqui.
— Você o aceitou na sua vida, você fique com ele – Anahí disse já soltando
o cinto de segurança – Eu não sou obrigada.
— Anahí...
O que aquilo significava? Era de fato uma lembrança? Se sim, o que tinha
acontecido? Eram perguntas que a Dra. Balfe teria que ajuda-la a encontrar
as respostas.
— Dr. Sloan – ela disse sorrindo de volta – Ex-nam... quer dizer, colega da
Lexie.
— Ah sim... e você quer que eu a avise? Ela está saindo de uma cirurgia
com a Shepherd.
O que aconteceu dentro do elevador, por sua vez, foi algo que Mark achou
que seria bom Lexie saber. Simplesmente ele e Anahí foram os primeiros a
entrar, de modo que ficaram nos fundos. Dia de hospital cheio, logo pela
manhã, o elevador rapidamente lotou. Quando as portas fecharam, ficou
evidente que Anahí se sentiu acuada. Ela estava indo para um dos últimos
andares e não demorou nada para que a respiração dela ficasse mais pesada.
Quando Mark estava prestes a perguntar novamente se estava tudo bem
com ela, a resposta ficou evidente em sua reação. Anahí olhava para os
lados, nervosa, os olhos virando sem parar e apertou o braço dele. Ela
estava tendo um ataque de pânico, provavelmente. A mente de Mark não
demorou a perceber a razão de ser daquele nervosismo todo: uma vítima de
sequestro, que ficou presa por oito anos em um cativeiro, não tinha como
reagir bem ao estar trancada num ambiente fechado e acuado.
O olhar de Anahí, ainda nervoso, agradeceu por sua voz. Mark a segurou
pelo braço com toda a delicadeza que uma mulher na situação dela
precisava e a tirou dali, pedindo licença para todos os que estavam em sua
frente e saindo antes que a porta do elevador se fechasse. Rapidamente ele
caminhou a passos largos pelo corredor e levou Anahí até a escada, pouco
frequentada no hospital. Dois lances depois os dois estavam onde ela queria
chegar: o andar onde a Psiquiatria funcionava, onde ficava o consultório da
Dra. Balfe.
— Tudo bem – Mark deu de ombros – Se cuide, ok? Qualquer coisa que
precisar, você sabe onde encontrar.
xxx
Anahí não mentiu sobre o que tinha acabado de acontecer. Ela descreveu a
situação em detalhes, o pânico de estar trancada no elevador, pouco espaço,
pouco ar, muita gente... as lembranças que isso trazia. Ela estava acuada,
nervosa, provavelmente demonstrando o pós-trauma de tudo o que viveu. E
a Dra. Balfe estava atenta a cada detalhe do que ela dava, anotando as
informações em um bloco e esperando que a paciente estivesse calma para
dizer qualquer outra coisa. Não demorou até ela notar que havia mais a ser
dito ali.
— Mas não foi por isso que você veio – a psiquiatra observou. Anahí calada
não respondeu, mas ela tinha mais a dizer – Você sentiu isso quando já
estava aqui, contou porque eu abri a porta quando tinha acabado de
acontecer... só que nós não tínhamos uma consulta marcada. Você veio por
outra razão.
— O que aconteceu?
— No cativeiro...?
— Sim.
— E por que você fez isso? – a Dra. Balfe perguntou, analisando cada traço
da expressão de sua paciente.
— Continue.
— Eu disse a ela que eu ainda o amava – Anahí ressaltou – E depois eu
fiquei pensando nisso... que é estúpido que eu continue pensando num cara
que obviamente me esqueceu.
— Que seja – Anahí suspirou – Nas fotos ele parecia feliz. Estava sorrindo,
abraçado a ela. Duas fotos foram suficientes pra eu querer parar de olhar,
pra fechar aquilo, desligar o computador e deitar na cama de novo. E foi aí
que aconteceu.
— O que aconteceu?
A Dra. Balfe sabia que Anahí tinha um pouco a perder. A regressão era um
procedimento um pouco pesado e não conseguir gerava uma boa dose de
frustração no paciente. Até mesmo se ela lembrasse, seria difícil, pesado. A
psiquiatra sabia de coisas de Anahí que a paciente não tinha ideia, mas
havia muitas lacunas. Sobretudo, para que aquelas coisas das quais tinha
conhecimento fossem passadas para ela, era necessário que a própria Anahí
se lembrasse. A regressão era um primeiro passo. Uma forma de Anahí
começar a solucionar o problema. O trauma não sairia dela enquanto ela
não soubesse exatamente o que teria que enfrentar.
Mesmo insegura, Anahí confiava na Dra. Balfe, tanto que era para ela que
tinha corrido quando as coisas pareceram difíceis. Ela estava disposta a
arriscar. Por isso fechou os olhos e mordeu os lábios, decidida a se deixar
guiar. Não sabia no que aquilo daria, onde iria chegar... mas iria tentar.
Caitriona esperou até que Anahí parecesse estar pronta. Até ver a
serenidade tomar seu rosto, não sentir que o medo ou a aflição do que tinha
sentido no elevador ainda influenciasse Anahí. Somente quando viu seu
corpo e seu rosto relaxados ela começou. Demorou algum tempo, mas a
psiquiatra sabia que era essencial que Anahí estivesse totalmente liberta
para que tudo desse certo. Sem isso, não tinha como dar certo.
— Agora eu quero que você apenas ouça a minha voz – ela continuou –
Você está lá, Anahí. Naquele lugar de sempre. Deitada onde você
costumava deitar, vestida como costumava se vestir. O que você sente...?
— Muito bem – a Dra. Balfe prosseguiu – Você disse que estava com dor. O
que aconteceu? Ele te bateu? Ele te machucou, ou apenas... apenas começou
a doer...?
Aí estava. A Dra. Balfe sabia que, nesse momento, Anahí tinha chegado no
ponto certo.
A Anahí dali, por sua vez, quase sentia a dor novamente. Ouvia sua própria
súplica que um dia tinha acontecido e estava atormentada pela lembrança.
Via a raiva nos olhos dele quando ela pediu que deixasse a criança para
Poncho cuidar. Foi como despertar todo o ódio do mundo em Tobias. O
estopim para que as agressões partissem para o plano real. A barriga que ela
tentava poupar foi exatamente o que ele golpeou. A chutes irritados com um
sapato duro demais, causando-lhe lágrimas de dor, de desespero, de perda.
A tirando da única coisa real e boa que tinha lhe restado.
A lembrança dizia tudo: Tobias Menzies tinha lhe tirado mais do que uma
vida, uma liberdade... ele tirou também o filho que ela teria com Alfonso.
~
Todo mundo vivo? Hahahahaha. Antes que comecem a me xingar já aviso
que a cena acabou!!! Acalmem esses corações ok?
Mas eu perguntei se ta todo mundo vivo porque esse final foi pesado. Eu
sei, eu sei! Sei que dói em vcs ver a Anahi sofrer (ainda mais), e sinto em
dizer que ainda vem mais sofrimento por aí
Li várias teorias sobre o final do cap anterior e não confirmei nem desmenti
nenhuma. Quero saber agora o que vcs estão pensando! Dúvidas sanadas...
ou não? Hahahaha. Me contem!!!
Boa semana!
Beijos,
Rafa
Capítulo 15 - A devastating memory
Feliz aniversário pra Lud, a maior rasgadora de vestes das minhas fics <3
A Dra. Balfe estava bem ali, abraçando-a, controlando o seu choro. Metade
das lágrimas eram pelo susto e a outra metade, pela angustia. Aos poucos
ela tinha voltado para a realidade e se dado conta que aquilo não estava
mais acontecendo. O problema é que tinha acontecido um dia.
— Não, não passou – Anahí disse como pôde – Era meu filho...
Anahí não tinha certeza. Ela decidiu, dentro de si, que só falaria com ele
quando aquela possibilidade se tornasse algo mais concreto. Mas dentro de
si havia todo um mundo que sacolejava. Ela não queria repetir a história da
mãe, tinha toda uma jornada que queria viver antes de ter um filho, mas era
óbvio que a distância entre a sua vida e a de Karen era imensa. Para começo
de conversa Anahí tinha Poncho e a certeza de que ele seria o pai incrível e
presente que ela nunca teve. Aquele bebê teria uma família. Então por mais
temerosa que ela ficasse com aquela história toda, era certo que a vida que
construía ao lado dele tinha uma diferença gritante para a que ela tinha
vivido. Aquele bebê não nasceria vendo a mãe sofrer por um homem
ausente. O filho dela não repetiria os seus traumas, definitivamente não.
Só que Alfonso nunca ficou sabendo que seria pai, porque no fim das
contas ele nunca chegou a ser. Ela não teve a certeza porque foi sequestrada
antes da confirmação. E dentro do cativeiro, mais do que se preocupar
consigo mesma, Anahí decidiu proteger o bebê que tinha dentro de si. Não
adiantou. Tobias foi mais cruel do que nunca. Pelo visto ele não estava
satisfeito em tirar sua vida, sua liberdade... ele também tinha que tirar seu
filho. A julgar pela descoberta tardia, ele lhe tirou até mesmo as lembranças
de que tudo aquilo tinha acontecido.
xxx
Imediatamente Amelia olhou de Mark para Lexie, que seguia mais confusa
do que nunca. Por óbvio, a resposta estava na ponta de sua língua.
Lexie sentiu parte do corpo morrer ao falar aquilo. Ela olhou para a mentora
recriminando, mas Amelia seguia encarando-a como se dissesse a maior
verdade da face da Terra. Era difícil escolher ficar ali sendo encarada pela
chefe ou marchar na direção de Mark e cortar aquela situação, mas ter que
igualmente encara-lo. No fim ela acabou escolhendo a segunda opção,
embora escolher não fosse a melhor palavra porque Lexie não acreditava
que fazia algo por querer e sim porque não tinha jeito.
Mark, por sua vez, não estava preocupado com o que Amelia tinha dito,
com nenhuma provocação da amiga, muito menos com a reação de Lexie.
Ela não tinha como saber, mas o motivo que o fazia interromper sua
conversa profissional com Amelia era muito mais grave do que Lexie
poderia imaginar. Lexie sequer poderia supor que era completamente
necessária naquele momento e que Mark não a chamava por qualquer
interesse seu, mas por algo que dizia respeito somente a ela. E exatamente
por se tratar de um assunto grave ele decidiu que não deveria falar no meio
do corredor ou numa sala de cirurgia. Mark caminhou até a mesma escada
onde logo antes ele acompanhava Anahí em direção ao andar da Psiquiatria.
Lexie, sem saber o que era, não teve opção se não segui-lo.
— Olhe, a Dra. Shepherd fala cada coisa que... – uma Lexie bastante
envergonhada começou a falar sem saber ao certo onde iria chegar, apenas
querendo se livrar do constrangimento de minutos antes. Mas Mark nem
ouviu.
— Eu tenho por que – Mark disse passando a mecha do cabelo dela para
trás da orelha – Eu quero que você fique bem. E desde o dia que a Anahí
apareceu na Emergência eu sei que você estar bem, em parte, é ela estar
também.
— Olhe, daqui a cinco minutos você sobe pra Psiquiatria, finge que estava
lá visitando um paciente e anotando um prontuário até a Anahí aparecer... –
Mark sugeriu – Mas daqui a cinco minutos. Agora você esvazia a cabeça de
todos esses pensamentos. Tira o peso do mundo das costas Lex. Nem que
seja por ao menos cinco minutos.
Lexie se perguntava sem parar como afinal ela faria aquilo quando o mundo
simplesmente não parava de girar. Ela de fato se sentia exatamente como
Mark falava, como se tentasse abraçar absolutamente tudo... estava no
último ano da residência e um dia antes guiava os internos novos por ser
residente-chefe... seu namoro com Jackson não estava em seus melhores
momentos, a briga entre Maite e Sophia a afetava demais, o reaparecimento
de Anahí tinha mexido um tanto com ela, isso sem falar nos sentimentos
oblíquos que o próprio Mark despertava nela. Era coisa demais.
Só que até para isso Mark tinha a resposta. Ele apenas acolheu Lexie em
seus braços e a confortou em seu abraço, simples assim. Lexie sentiu
apenas o corpo de Mark encontrar o seu e seu rosto, como se estivesse
magnetizado, encostar no peito dele. Não foi nada pensado, Mark oferecia
seu abraço como uma maneira de apoia-la e Lexie aceitou de bom grado,
envolvendo os braços em torno do pescoço dele e relaxando pela primeira
vez em séculos. Lexie nunca pensou que fosse encontrar qualquer tipo de
afago em seu ex-namorado que não tivesse qualquer cunho sexual, mas ali
estava, sentindo os problemas rolarem para fora dos pesados ombros que o
carregavam e em seu lugar entrar todo o apoio possível vindo de Mark,
justo de Mark.
— Você não tem que carregar esse peso todo Lex – Mark disse segurando o
rosto dela com carinho enquanto sorria no canto da boca – Você já tem um
cargo de residente-chefe, uma residência pra terminar... apoie a Anahí mas
não seja uma esponja dos problemas dela.
Mark tinha feito um bem inimaginável para Lexie. Ele simplesmente foi
capaz de recarregar as energias dela, há muito tempo gastas. E tudo isso se
deu apenas com um abraço. Ele podia acreditar que tinha conseguido
renova-la somente por ter lhe dado cinco minutos para parar, ainda que
obrigada, mas Lexie sabia que não era nada daquilo. Ela tinha certeza, na
verdade, que se fosse qualquer outra pessoa aquela corrente elétrica que
tinha atravessado seu corpo, bem como a súbita vontade de sorrir
aparentemente sem motivo, não eram coisas que ela estaria sentindo.
Do alto da escada, sem poder ser vista, Catherine Avery – a mãe de Jackson
– observava a nora abraçada no ex-namorado e sendo consolada por ele.
Não apenas vendo, mas entendendo o que estava acontecendo ali. E por
óbvio, não gostando nem um pouco.
xxx
Obviamente Anahí não pensou assim. Ela não ignorou Lexie, até porque
seu sangue quente de ver a amiga ali e ir tirar satisfações foi mais forte.
Ainda que abalada, em alguns bons pontos Anahí continuava sendo Anahí.
— Ele te contou que eu estava aqui – ela acusou – Por isso você ta aqui.
— Eu o encontrei no elevador, mas pedi pra ele não falar que eu estava aqui
porque eu não queria que ninguém me cercasse...
— Sim, eu sei – Lexie sorriu de volta – Mas já que você ta aqui, quer tomar
um café?
— Na verdade... – Anahí suspirou longamente – Eu precisava ver o
Christian. Você sabe se ele ta ocupado? Sabe se ele trabalha, com o que
trabalha...? Eu não faço a menor ideia...
— Você não vai ficar chateada por eu não te dizer nada e querer falar com
ele, não é? – uma receosa Anahí perguntou buscando toda a reação no rosto
de Lexie.
— É claro que não – Lexie sorriu carinhosa – Você pode falar com quem
quiser. Não vou ficar chateada.
Era verdade. Lexie, assim como Karen e os amigos de Anahí, tinha sido
orientada a respeitar toda e qualquer decisão vinda dela. Anahí passou oito
anos da vida sendo violada das mais diferentes maneiras possíveis e não
podendo decidir nada sobre si. Agora ela estava reaprendendo a tomar as
próprias decisões e a ser dona de sua vida novamente, de modo que parecia
essencial que todos respeitassem os rumos que ela escolhesse. É claro que
Lexie estava ali para ouvi-la e apoia-la, mas se ela preferia se abrir com
Christian, não seria a cirurgiã a dizer que ela estava errada. Pelo contrário, o
importante era Anahí se abrir com alguém. Ninguém queria que ela se
fechasse numa bolha que ninguém pudesse imergir. E de qualquer forma, a
qualquer momento Lexie podia ser chamada por alguma emergência ou
algum problema com os residentes. Anahí naquele momento precisava de
alguém que estivesse cem por cento disponível.
Dessa forma, Lexie ligou para Christian. Novamente o universo fez a sua
parte e ele estava totalmente livre e ainda por cima próximo ao hospital, de
forma que não demorou nada a chegar até ali. Lexie desceu com Anahí
pelas escadas falando sem parar para distraí-la e, quando chegaram na sala
de espera da Emergência, Christian já estava lá sorridente e de bom humor
como sempre. Lexie relaxou exatamente por ver que ela estava em boas
mãos. O que quer que fosse, Christian iria resolver.
Anahí não dizia aquilo com nenhuma convicção pessoal, apenas queria
deixar Lexie sair sem se sentir culpada por deixa-la. Tanto ela quanto
Christian viram a cirurgiã se afastar dali tranquila e ficaram sozinhos. de
certa forma Anahí ficava aliviada. Ela realmente queria desabafar e se abrir
sobre tudo aquilo que pesava a sua cabeça, mas era somente com ele,
Christian, que ela estava disposta a fazer isso.
Sem Anahí saber havia um consenso entre os amigos que todos procurariam
estar o mais disponível para ela quanto possível. Era um acordo geral, que
ia de Maite a Jesse, passando, por óbvio, por Sophia, Lexie, Christian e
Mane. Todos eles colocaram, pela primeira vez, as diferenças de lado em
prol do que realmente importava: Anahí estar bem e poder contar com todos
sem sobrecarregar ninguém, sempre tendo ao menos um deles ao seu lado.
Naquele momento ela pedira por Christian e ele obviamente atendeu, sendo
que se fosse qualquer outra pessoa certamente recusaria. Por isso, um
pedido para ir a qualquer lugar para desabafar não seria negado. Christian
iria com Anahí a qualquer lugar que ela se sentisse confortável para falar, já
que não podiam desperdiçar um momento em que ela se abriria com alguém
gratuita e voluntariamente.
Só que Anahí não falou até eles chegarem lá. Christian dividia um
apartamento com Maite no Brooklyn, por isso um táxi os levou até lá. Ele
observava a amiga com rabo de olho esperando que ela dissesse algo,
qualquer coisa, mas Anahí se mantinha em silêncio. Somente depois que os
dois tinham se sentado no sofá do apartamento dele foi que ela disse alguma
coisa.
Teriam uma história completa se não fosse pelo sequestro. Teriam um filho.
Teriam uma vida. Se não fosse por Tobias Menzies...
Christian não disse nada enquanto Anahí não parou de chorar. Ele estava ali
para consola-la e faria isso. Enquanto houvessem lágrimas haveriam dor
dela, e ele não queria obriga-la a parar de sentir essa dor enquanto ela
estivesse ali. Pacientemente Christian esperou que Anahí colocasse tudo
para ela, e só voltou a encara-la depois que Anahí tinha parado de chorar.
Depois que ela tinha usado uma caixinha de lenços de papel que ele tinha
ali para enxugar os olhos, assoar o nariz e já respirava com mais calma.
— Eu imagino o quanto você deva estar destruída com tudo isso – ele
voltou a acariciar os cabelos dela – Uma lembrança dessas... mais isso...
— Meu coração me manda chamar o Poncho agora e contar isso pra ele –
Anahí explicou já começando a se justificar em seguida – Quer dizer, ele
era o pai desse bebê e não é justo que eu saiba e ele não... e além disso, eu
realmente acho que ele mereça viver esse luto do que continuar achando
que...
— Não é isso...
E era isso.
Olaaar minha gente! Como vcs estão? Vivas depois do cap? Eu espero que
sim.
Fiquei feliz pela repercussão do último cap, reparei que vcs sofreram
bastante (não as culpo por isso hahahaha) e sei que ainda vão sofrer um
pouco, tanto hj quanto quinta, porque estamos vendo a Anahi sofrendo
ainda e veremos o Poncho também, já que es decidiu nesse fim contar pra
ele.
Mas queria responder de modo geral uma pergunta que tenho lido bastante:
"mas até quando a Anahi vai sofrer?" Gentee, a Anahi foi sequestrada,
perdeu 8 anos da vida, voltou e a mãe tava casada com um pai que ela não
conhece, o namorado casado com outra, claro que ela ainda vai sofrer
bastante. Ela perdeu tudo e ta tentando se encontrar e isso leva tempo.
Sejam pacientes e lembrem-se que ainda estamos no cap 15!!!
"Ah mas por que vc faz a Anahi sofrer?" Eu que faço não, Tobias que fez
hahahaha brinks! Na vdd eu faço porque mulheres sofrem. Mulheres são
estupradas, agredidas e presas todos os dias. E nós temos que ler as
cicatrizes dessas mulheres pra não naturalizarmos isso, não as culparmos,
nos solidarizarmos, apertarmos os botõezinhos da sororidade e
principalmente, não passarmos a mão nas cabeças dos nossos
filhos/sobrinhos/irmãos etc pra que eles não sejam novos Tobias. Eu quero
que vcs tenham em mente que Tobias não é doente, ele fez tudo o que fez
por essa ideia dos homens de que podem fazer o que quiserem conosco. Por
isso temos que nos unir como Anahi se unirá com as mulheres da vida dela
e por todas as outras
Bom fds e espero que gostem do cap! To no aguardo das e dos hahaha
Beijos,
Rafa
Capítulo 16 - Landslide
— Eu devo mesmo amar muito você pra isso Alfonso – Diana rolava os
olhos conforme falava – Muito mesmo...!
— Ok, eu casei com você, eu disse aqueles votos, mas eu lembro que era na
alegria na tristeza, na saúde e na pobreza, não tinha nada sobre "num
almoço na casa do Jesse com a enjoada da namorada dele" – Diana
respondeu fazendo uma expressão de enjoo. O marido riu.
— Mas dizia "por todos os dias da minha vida" – ele lembrou – Inclusive o
dia que eu tenho que ser legal com o meu melhor amigo e ir almoçar com
ele e com a namorada.
— Já não fizemos isso outro dia? – ela suspirou cansada – Saímos com eles,
jantamos os quatro. Ela torrou minha paciência o suficiente por um ano
inteiro.
— Dessa vez a Lindsey quer cozinhar – Poncho explicou – Foi ela quem
teve a ideia do almoço, Jesse não tem nada a ver com isso.
— Então por que disse que odeia o papai e o tio Jesse? – Daniel continuava
olhando a mãe mortificado.
— Era uma brincadeira, mas eu não odeio nenhum dos dois – ela
respondeu, virando-se para frente somente quando tinha convencido o
menino de sua versão.
Menos mal.
Daniel não tinha pais que costumavam brigar, mas mesmo assim, a cada
sinal de crise entre Diana e Alfonso, o menino tremia na base. Era como se
ele fosse traumatizado só que sem existir um trauma sequer – ele nunca
presenciou uma discussão sequer dos dois, já que seus pais tinham toda uma
preocupação em manter os problemas longe de seus olhos de criança, já que
era óbvio que ele não iria entender.
Da mesma maneira que não entendia ironias... que era o caso nesse
momento.
O que Diana dizia ser a maior prova de amor possível por Alfonso era na
verdade um almoço na casa de Jesse, na qual a namorada dele, Lindsey, iria
cozinhar, conforme ela já sabia e sentia náuseas só de pensar. O problema
era que Diana conviveu com Sophia durante quase todo o relacionamento
dela e de Jesse. Eles eram quatro. Sophia e Jesse foram os amigos de
Poncho que melhor a aceitaram, então não foi difícil criar uma rotina de
saídas à quatro. O filho deles, Daniel, era amiguinho de Samantha, filha de
Jesse. E agora ela sentia que traía Sophia substituindo-a por Lindsey e indo
num almoço como se fosse a coisa mais comum a nova namorada de Jesse
estar ali entre eles.
A única pessoa que estava menos feliz que a esposa de Alfonso era uma
criança de cinco anos de idade e geniosa demais para o seu pouco tamanho.
— Sim Sam – ela lembrou – Nós conversamos. Você vai deixar o papai
chateado.
— Aaaaaah Sam, você chegou...! – Lindsey disse com o tom de voz como
sempre exagerado – Eu estava tão ansiosa...
Obviamente Lindsey não gostou nada da resposta. Ela tentava, a todo custo
e por todos os lados, se aproximar da rotina de Jesse, das pessoas próximas
a ele e nenhum avanço parecia acontecer. Com Poncho não ia para frente
porque Diana se esquivava dela, com Torrey idem, com Samantha era um
fracasso total. Aquela negativa da ex dele era apenas mais uma prova de
que ainda havia um longo caminho a ser percorrido e, com aquela
estratégia, a tendência era dar avançar um passo e retroceder três.
— Eu vou falar de uma vez só pra ver se você entende – Torrey disse assim
que ele pôs os pés ali – Samantha não gosta da Lindsey, e eu estou cansada
de obriga-la a vir pra cá e se sujeitar a isso. Sim, eu sei que ela é sua filha,
mas é minha filha também, e sou eu que tenho que trazê-la cada vez que
você inventa de fazer um almoço ou jantar com uma pessoa que ela
obviamente não suporta. Deus sabe que eu não posso enfiar juízo na sua
cabeça pra te fazer largar essa garota e voltar pra Sophia, mas...
A única coisa que animou Samantha naquele dia foi estar na companhia de
Daniel. Os dois tinham a mesma idade e gostavam imensamente de brincar
juntos, já que desde sempre tinham sido próximos. Jesse era padrinho de
Dani e Alfonso era padrinho de Sam, por óbvio as duas crianças eram
amiguinhas desde o berço e tinham uma afinidade imensa.
Mas Samantha não era a única que não estava exatamente feliz por estar ali.
Diana também tinha no rosto o maior dos sorrisos amarelos do mundo. Ela
chegou com uma sobremesa e se deparou com um banquete que Lindsey
tinha preparado, provavelmente para impressionar o melhor amigo de seu
namorado e sua esposa. Ela não gostava muito de Lindsey e estava ali
claramente forçada, fazendo todo o esforço do mundo para que a tarde
parecesse menos desagradável e o tempo passasse rápido. Incompatíveis,
Diana acabou se sentando no chão para brincar com as crianças e a
namorada de Jesse foi deixada de lado.
— Eu não vou mentir pra você – Poncho disse em sussurros, temendo ser
ouvida por qualquer das duas mulheres – Tive que quase implorar pra Diana
me acompanhar hoje. Se você surgir com outro programa desses, eu acho
que ela me mata.
— Jesse, nós somos amigos, mas se vir aqui causar problemas em casa...
fica complicado – Poncho franziu a testa. Ao ver o amigo permanecer com
a expressão desanimada, ele viu que tinha algo mais ali – O que foi...?
— Pelo que você era antes sim, pelo que você ainda é... – ele completou –
Mas será que vale a pena continuar sendo assim sem ela? Será que esquecê-
la dói menos que mudar Jesse? Eu acho que você deve pensar nisso, antes
que seja tarde demais.
Jesse ainda teria que refletir muito para ter todas aquelas respostas.
E não seria ali que ele pensaria. Não com Samantha em pé de guerra com a
madrasta, não com Diana disfarçadamente revirando os olhos a cada fala de
Lindsey e Jesse ali percebendo tudo, mas incapaz de tomar qualquer
decisão. Aqueles momentos de desconforto, junto com a percepção nítida –
que antes ele tinha negado veementemente e agora não tinha mais como
evitar – de que aquele almoço resultara em um grande fiasco. Jesse só
conseguia lembrar de como sua vida com Sophia era fácil e leve, ao menos
antes de os problemas que os separaram começarem. E ele não pensava isso
por sua filha ama-la como se Sophia fosse sua mãe ou por ela se encaixar
em seu grupo de amigos... mas porque ele sentia que, diferentemente do
sentimento por Lindsey, se fosse por Sophia ele toleraria qualquer pessoa
não aprovando o relacionamento deles.
O almoço não foi dos melhores. Todos comeram sentados à mesa, com
Samantha sendo difícil como sempre, Jesse brigando com a filha, Lindsey
tentando agradar e não conseguindo... o roteiro de sempre. Depois que
todos comeram a sobremesa os homens tiraram a mesa e lavaram a louça,
as mulheres seguiram para a sala, as crianças voltaram a brincar. Poncho
pensava se era uma boa ideia iniciar uma nova rodada de conversas com
Jesse a respeito do mesmíssimo assunto, ignorando que o amigo parecia
emburrado e provavelmente já refletia sobre o que ele dizia.
"Nós precisamos conversar. Será que você pode vir aqui na minha mãe? Ou
eu te atrapalho...?"
Poncho deu uma desculpa esfarrapada para Jesse que não foi engolida pelo
amigo, obviamente. Para Jesse ficou claro que Poncho tinha recebido
alguma mensagem que o fizera resolver sair sem mais nem menos e,
considerando que seus pais tinham voltado para Chicago, que Erendira não
tinha esse efeito e que sua esposa e filho estavam ali, ele sabia
perfeitamente bem a única pessoa que fazia Poncho decidir sair de um lugar
sem mais nem menos. Mas Jesse preferiu não falar nada, não adiantava dar
sermões quando sua vida estava uma igual bagunça. Ele preferiu se calar e
resolver a própria situação com Lindsey e Sophia. Depois que tudo voltasse
ao seu lugar e ele soubesse o que realmente queria, aí sim Poncho iria lhe
ouvir.
Por sua vez, Poncho não sabia o que pretendia para a própria vida a longo
prazo, mas tinha como certeza que precisava ver Anahí naquele momento.
Ele não gostava de não saber o que estava acontecendo com ela mas
conhecia Anahí e se ela continuava sendo a mesma, ele tinha a certeza que
ela não era o tipo de pessoa que mandava mensagens ambíguas deixando
um rastro de dúvidas. Certamente era algo que não podia ser dito por
mensagem, e o que quer que fosse, ele queria estar ao lado dela para apoia-
la, exatamente como ele disse que faria quando ela apareceu viva sem mais
nem menos.
O problema era o que o esperava na sala: uma Diana que não iria
compreender aquela necessidade. O filho dos dois que inocentemente
brincava com a amiguinha sem saber o quanto seu pai precisava estar longe
dali.
Era óbvio o que Diana preferia. Ela na mesma hora deu um sorriso de alívio
e no minuto seguinte já dizia que tinha acontecido um imprevisto e catava
as coisas de Dani, mandava o filho se despedir de Sam e cinco minutos
depois cruzava a porta do apartamento de Jesse antes que Lindsey pudesse
inventar o que fosse para impedi-los. Logo em seguida estavam no carro,
ela ajeitando o menino na cadeirinha, mas antes de dar a volta e ir para o
banco do carona, abriu um sorriso para o marido que, ao contrário dela,
estava visivelmente tenso.
Poncho então franziu a testa. Diana achava que ele estava mentindo...? Isso
complicaria bastante as coisas.
Durante breves cinco segundos Diana não entendeu. Foram cinco segundos
até sua ficha cair, até ela se dar conta de qual era a única coisa que faria
Poncho sair daquele jeito sem mais nem menos. A única pessoa para quem
ele poderia ir.
Bem que Poncho tentou dizer qualquer coisa, mas a esposa prontamente o
ignorou, não lhe dando chance para qualquer explicação que fosse. Afinal,
o que deveria ser explicado? Que Anahí precisava dele? Ou que ele
simplesmente não podia não ir até ela? O que quer que fosse, Diana não
estava disposta a ouvir. Ela estava confusa, definitivamente magoada, sem
saber se tinha o direito de se sentir assim ou não. Talvez estivesse sendo
egoísta de querer Poncho somente para si, talvez não... Anahí precisava dele
e racionalmente Diana entendia, mas a verdade é que ela estava cansada de
dividir alguém que, para começo de conversa, estava livre e desimpedido
quando ela o conheceu.
Diana não tinha quebrado uma regra sequer ao se envolver com Poncho.
Fizera tudo certo. Mas de alguma maneira agora era punida como se tivesse
infringido a pior das regras, como se o tivesse tomado de alguém e nunca
tivesse sido realmente seu.
— Que seja – Diana respondeu entre os dentes – Dá tchau pro papai Dani.
O problema era que aquela cena dava à Diana a impressão de que, dali para
frente, sempre seria assim. Que ela estava condenada a ver Poncho somente
como o pai de seu filho, que se eles tivessem um programa seria com Dani.
Talvez eles não se separassem, mas ainda assim a verdade é que era pouco
provável que as coisas voltariam a ser como eram antes, já que a qualquer
momento Anahí poderia ligar, mandar uma mensagem pelo motivo que
fosse... e sem se importar com o motivo, Poncho iria. E os deixaria.
Egoísta ou não, ao ficar sozinha em seu quarto Diana chorou. E fez algo
que não pensou naquelas semanas que faria... ela desejou que Anahí nunca
tivesse reaparecido.
xxx
Ouça Landslide –
Fletwoock Mac
Anahí não estava exatamente confortável em ter que tirar Poncho de sua
própria vida para ir conversar com ela sem mais nem menos,
principalmente porque ela tinha aberto a distância entre eles e agora a
eliminava, detonando qualquer critério. Ela não gostava de mandar
mensagens em aberto dizendo que queria falar sem deixar claro o que era,
só que aquele era o tipo do assunto que não podia ser resumido ou
adiantado em uma mensagem de texto. Poncho teria que ir ali e ela iria se
abrir para ele. Ela iria revelar sua dor para provavelmente dividi-la com ele.
Certamente ele entenderia quando finalmente ouvisse o que ela tinha para
lhe dizer.
Poncho chegou quase uma hora depois da primeira mensagem que Anahí
mandou. Foi Karen quem abriu a porta e reagiu com uma imensa surpresa
ao ver o ex-genro ali, em especial quando ele lhe disse que fora Anahí quem
o chamara. Por essa ela não esperava, e não conseguiu mais tirar um sorriso
dos lábios ao pensar que, talvez, as coisas entre aqueles dois não estivessem
tão perdidas assim.
E a avalanche me derrubou
— Você me chamou – ele deu de ombros, como se fosse óbvio. Então era
assim? Se ela o chamasse, ele iria...? Era no mínimo uma surpresa, havendo
ou não motivo para ser.
Poncho estava curioso para saber o que estava acontecendo com ela. Anahí
se tornou uma caixinha de surpresas, ele não sabia mais o que esperar dela.
Talvez fosse apenas aquele momento e algo tivesse acontecido que a fizesse
chama-lo, ou talvez Anahí tivesse voltado atrás e pensado que valia a pena
mantê-lo em sua vida da forma mínima que fosse, uma forma que não era a
que tinha sido traçada originalmente mas que não o descartaria mais. eram
constatações que, para que ele tivesse, precisava esperar que ela falasse o
que diabos tinha acontecido de uma vez.
— Então pra que me chamou? – Poncho perguntou feliz por terem chegado
ao ponto sem grandes esforços – Me desculpe Anahí, mas eu fiquei confuso
com a sua mensagem. Eu achei... que você não me queria por perto.
— Estou ouvindo... – Poncho respondeu. Ele estava sedento pelo que quer
que fosse.
— Anahí, você pode me dizer o que for a hora que for – Poncho sorriu
carinhoso.
— Ok, lá vai – Anahí respirou fundo. Não era preciso explicar por que
aquele assunto a deixava tensa e afetada – Eu fiz uma sessão de terapia com
a Dra. Balfe depois de lembrar de algo que não entendia. Algo que
aconteceu enquanto eu estava... lá. E eu lembrei mais do que gostaria, mais
do que eu conseguia lidar.
— Quando você diz lembrar, ta falando de algo que não queria pensar...? –
Poncho franziu a testa.
E eu envelheço também
— Sim, era nosso – ela confirmou e viu o pesar tomar o rosto dele. Poncho
tinha suposto o resto da história – Você vai perguntar porque eu não disse
nada, e bem... eu não contei pra ninguém porque fiquei em pânico. Lembrei
da minha mãe grávida com dezessete, de como isso sacolejou a vida dela,
como mudou tudo... eu tinha jurado pra mim mesma que não faria isso
comigo, que iria me cuidar, me proteger... só que quando nós nos
reencontramos na cidade, na noite do apartamento, eu não sabia que você
estava aqui e eu não estava tomando o remédio. Lá, no apartamento, nós
transamos sem camisinha. E no dia seguinte depois de todo aquele
champagne eu estava de ressaca, tomei um analgésico e esqueci da pílula do
dia seguinte. Dois meses depois...
— Eu não consigo acreditar – Poncho murmurou pesaroso, tomado pela
vontade de abraça-la.
— Eu não contei nem pra Maite, porque ela já estava animada planejando
mentalmente um casamento nosso que nem iria acontecer naquele
momento, imagina se eu dissesse que nós seríamos pais – Anahí riu com
certa amargura – Pra Soph e pra Lex, nem se fala. Foi o meu segredo de
uma semana. Não disse pra minha mãe, nem pra ninguém, eu queria me
acostumar com a ideia, parar de surtar, e aos poucos eu consegui, começar a
encarar como uma coisa boa. Lembrei que eu estava formada e você
também, que nós tínhamos um ao outro e eu não estava sozinha como
minha mãe esteve. Aquele bebê não seria como eu.
E eu envelheço também
— Não houve tempo de contar pra ninguém – Anahí respondeu seca – Hoje
eu me dou conta que o tempo é irrecuperável, a gente deixa algumas coisas
pro amanhã e não se dá conta que o amanhã pode não estar lá. E eu acabei
esperando tanto pra estar pronta que quando eu aceitei aquele bebê, eu
estava perdendo-o. Eu implorei pra ele poupa-lo, ao menos isso... nem
racionalizei aquele pedido, mas... eu estava agindo no instinto. Não
adiantou, por óbvio. Eu lembrei da dor, do sangue, e fui até a Dra. Balfe. Na
regressão... tudo voltou. Ela acha que o trauma do aborto me fez esquecer
que estava grávida.
— Mesmo assim...
Anahí sabia exatamente o tipo de dor que ele sentia. Ela viveu a dor duas
vezes: quando perdeu a criança e quando se lembrou disso. De certa forma,
aquilo a calibrara para viver aquela situação, na qual Poncho se mostrava
completamente destruído ao descobrir que os dois quase tiveram um filho e
o modo violento como aquele bebê lhes foi tirado. E como Anahí sabia o
que era viver aquele luto, ela lhe daria a mão para tira-lo dali.
E Anahí sabia como fazer aquilo. Ela abraçou Poncho, sentindo dentro de si
que queria pegar todos os seus pedaços quebrados e juntá-los. Talvez ela
fosse capaz por identificar tão bem a dor dele. Ela o abraçava enquanto
acariciava suas bochechas com as pontas dos dedos, sentindo seu rosto
molhar com as lágrimas quentes que banhavam o dele. E Anahí ficou
pacientemente ali, consolando-o, esperando que a dor dele passasse para
que os dois conseguissem sair juntos daquela escuridão que os envolvia.
Só que Anahí não era de ferro. Ela estava ali abraçada a Poncho, sentindo
tão bem o cheiro dele, a textura da sua pele... os sentimentos não
demoraram a se confundir. Ela sentia a proximidade dos dois e a respiração
pesada dele pelo choro e se condenava por estar desejando-o num momento
como aquele. Logo a respiração dela que mudou, obedecendo ao seu
coração que começou a bater mais rápido, sendo que este por sua vez
obedecia a todos os sentidos dela que eram incapazes de não reagir a
Poncho. A pele de Anahí estava completamente arrepiada naquilo tudo. Ela
sabia que não resistiria por muito tempo.
E se ela sabia que entregar era questão de tempo, por que não fazê-lo de
uma vez?
Deixando a razão de lado junto com todos os motivos pelos quais aquilo
seria um erro de lado, Anahí deixou todas as partes do corpo falarem mais
alto. Se aproximou de vez de Poncho e roçou os lábios nos dele, se
deixando descobrir – e ensinar – que havia uma maneira muito melhor de
dar fim à toda aquela dor. E que era somente um no outro que eles achariam
aquela cura.
Não deixem de ouvir a música do capítulo. E aproveito pra avisar que tem
uma playlist da web no Spotify, chamada Somente você e eu- SVE pra
quem quiser ler ouvindo. 😉
Até quinta!
Beijos
Rafa
Capítulo 17 - Just friends...?
Só que dizem que para toda dor há a cura. Alfonso nem sabia que essa cura
existiria e estava ali bem do seu lado. Quando os lábios de Anahí tocaram
os seus ele não pensou, apenas os reconheceu. Não era um beijo planejado
ou cogitado, mas foi um beijo bem vindo, porque a sensação que se
espalhou pelo corpo dele ao senti-la daquela forma o tirou da imensidão de
dor na qual estava imergido e fez todo o sentimento mudar como um
furacão.
— Nós dois deveríamos – foi a vez dele lembrar – Não se culpe ok? Você
viveu coisas demais, terríveis demais, que te fizeram mudar da pior
maneira. Nada é culpa sua.
— Só que eu preciso entender que você também não tem culpa – Anahí
observou – E que você esperou por mim, mas não podia esperar pra sempre.
E você casou... e isso me faz não poder te beijar a hora que eu bem
entender.
— Como eu disse, fui eu quem correspondi.
Estava muito claro. Poncho era razão ao não beija-la, mas emoção pura ao
não conseguir não continuar beijando-a quando ela o fazia.
— Eu quero ser sua amiga – Anahí disse – Ensaiei isso mil vezes. E foi por
isso que eu te chamei, por isso também... não foi pra te beijar, eu juro!
— Eu acredito – Poncho riu – Mas você acha que isso funcionaria? Nós
dois amigos?
— O que não vai acontecer mais, porque agora você sabe que tem uma
família e que quer continuar nela – Anahí disse – Nós podemos tentar. Eu
não quero não te ter na minha vida. Você é um capítulo especial dela. Nós
quase nos casamos, nós iríamos ter um filho. Acho que nos gostamos o
suficiente pra ao menos darmos continuidade a isso.
Poncho também não a queria longe. Oito anos tinham sido o bastante. Ele
queira Anahí em sua vida. Eles iriam tentar. Eles iriam conseguir.
Somente amigos...?
xxx
Para começar, Anahí há dias parecia estar evitando-a, sem que Maite
conseguisse cogitar o que poderia estar por trás daquele comportamento
estranho. Ela só sabia que sua melhor amiga a respondia de forma
monossilábica e vaga, o que não era típico dela. Entre eles, Maite tinha
combinado com Lexie, Mane e Christian que eles teriam um cuidado
especial com Anahí, evitando que ela ficasse sozinha. Ela tinha certeza que
qualquer um dos três incluíra Sophia e Jesse naquele trato. Era por isso que
Maite sempre mandava mensagens e procurava saber como ela estava, mas
não havia entusiasmo nas respostas. Que diabos estava acontecendo?
Com uma amiga que fugia dela e um ex-marido que seguia a vida de uma
maneira que ela não tinha aprendido, definitivamente uma criança de seis
anos com dificuldades de leitura não podia ser considerado um problema.
A pergunta fez Maite ficar com uma pulga atrás da orelha. De onde Pia
tinha tirado aquela ideia absurda?
A própria Pia, por sua vez, falava com uma propriedade invejável. Ela era
muito pé no chão e tinha se encantado com Mane desde que colocou os
olhos nele, quando ele foi até a escola onde ela e Maite trabalhavam para
encontrar a amiga. Sabia que Mane sequer a conhecia e que era um pouco
arriscado de sua parte aparecer no jogo do time que ele treinava de surpresa,
em especial quando apenas Maite tinha sido convidada. O que Pia não
poderia esperar era que Mane ficasse com a expressão de quem tinha
acabado de ser esbofeteado quando Maite deu uma desculpa qualquer para
não sair e comemorar com eles a vitória do time, deixando-os sozinhos.
Segura de si como era, Pia achou que talvez Mane tinha ficado chocado por
a amiga lhe arrumar um encontro às escuras na cara de pau, ignorando o
quanto o olhar dele acompanhou a morena até que ela sumisse de vista.
Mane conseguiu contornar a situação e realmente saiu com Pia, só que a
noite não terminou com beijos quentes ou um sexo no apartamento dela ou
no dele, muito pelo contrário... fora que Mane falou demais da amiga a
noite inteira. Muito para quem se considera apenas amigo, ou quem está
desprovido de qualquer interesse. Demais para quem quer continuar apenas
no campo da amizade.
— Do olhar dele – Pia entregou – A forma como ele falava de você, como
ele ficou meio idiota quando percebeu que você não sairia conosco... eu não
sei Mai, eu posso estar enganada, mas eu não quero entrar nisso com um
cara que ta em outra, entende? Se é pra ficar comigo, que seja cem por
cento meu. E o Mane não era nem cinquenta por cento.
— Nem no fim da noite...?
— Ele nem me deu um beijo de boa noite, um selinho que fosse, e eu que
achava que iria rolar sexo, tava preocupada com a minha calcinha não ser
tão sexy assim – Pia deu uma risada amarga – Não sei se devo ficar feliz ou
decepcionada.
— Talvez ele tenha ficado meio surpreso por não esperar que eu te levasse,
está certo, mas interessado em mim? – Maite negou – Não, definitivamente
não. O Mane e eu somos amigos desde sempre, se ele sentisse algo além de
amizade eu acho que já teria demonstrado, não é? Nós nos conhecemos
desde que éramos duas crianças...
— Eu não sei, foi essa a impressão – Pia suspirou – Mas de qualquer forma,
mesmo que ele não esteja interessado em você... em mim, pelo menos, ele
não ta.
Era o tipo de coisa que Maite precisava para deixar o seu dia animado.
Inconformada com a ideia, ela resolveu mexer os pauzinhos. Se sentia uma
adolescente novamente, como quando fazia planos para unir Anahí e
Poncho, os velhos tempos... quando deu por si já tinha discado o número de
Mane e torcia para que ele atendesse logo, porque esperar não era o forte de
Maite Perroni.
Era pra isso que ela estava ligando? A frustração bateu forte, como um
balde de gelo bem em sua cabeça. Mane fechou os olhos sentindo a alegria
causada pela ligação dela se esvair rapidamente.
— É claro que estamos – ela resmungou frustrada – Se você não queria sair
com ela era só ter dito.
— Eu... – Mane pensou muito bem as palavras que usaria – Maite, você me
pegou de surpresa naquele dia. Eu não esperava...
— O que foi? Você não gostou dela? – ela questionou – Seja honesto
comigo.
Porque, se fosse analisar a verdade, realmente não tinha. Não enquanto ela
simplesmente não conseguia sequer enxergar os sentimentos dele. Do que
adiantava Mane dizer que havia sim, mesmo sem assumir que era ela, e
Maite continuar distante, ele seguir sem ter coragem para assumir seus
sentimentos?
— Dê mais uma chance pra ela – Maite insistiu – Eu acho que vocês
formariam um casal maravilhoso. Pia é uma mulher incrível e eu tenho
certeza que você não vai se arrepender de seguir o meu conselho.
Suspirando, Mane se deu por vencido. Talvez ela tivesse razão, afinal nem
todas as histórias de amor deveriam ser concretizadas. Maite não fazia a
menor ideia do quanto Mane gostava dela, ainda estava presa demais ao seu
casamento que tinha acabado e ela parecia não se dar conta. Enquanto ele
esperava por algo que provavelmente não via, as Pia's passavam por sua
vida sem que ele se desse a chance. Mane acreditava que fosse melhor
deixa-la seguir o seu caminho e ter o tempo certo para se dar conta que
precisava desapegar de Koko, sentindo apenas a dor da conclusão óbvia: ele
certamente não estaria mais ali quando ela finalmente estivesse pronta.
xxx
— Sam...
— Mas gostar não é o suficiente pra você voltar a dormir na cama dele né?
– Samantha perguntou capciosa – Nem pra dar um daqueles beijões...?
— "Infelizmente" quer dizer que você queria dar uns beijões nele? –
Samantha perguntou e agora via a tia arregalar os olhos.
— Eu queria que fosse simples do jeito que você pensa, mas não é – Sophia
beijou a testa dela – Seu pai ta namorando a Lindsey e a escolha de
continuar é deles, não sua. E como assim "mandar o encosto embora"?
No fim quem acabou fazendo uma escolha foi o próprio Jesse: escolheu
perder Sophia a continuar com ela.
Mas para Jesse, não era tarde demais. A conversa que teve com Poncho no
dia anterior não saiu de sua mente. Agora ele sabia por Lívia que Sophia
estava na confeitaria trabalhando como o que se esperava de uma tarde de
segunda. Para completar, Samantha estava com ela, já que Torrey tinha uma
reunião com fornecedores. As mãos de Jesse formigavam, os pensamentos
dele estavam a mil, porque ele sabia que precisava tomar uma decisão,
decidir de vez o que queria fazer.
Jesse lembrava do tempo que viveu com Sophia com todo o carinho do
mundo, foi o momento que ele estava deixando de ser um moleque para se
tornar um homem. Quando os dois ficaram juntos Samantha tinha acabado
de completar um ano e foi o momento de maior responsabilidade da vida
dele, Jesse tinha acabado de terminar a faculdade, eles estavam abrindo a
confeitaria... foi ao lado de Sophia que ele transitou para o fim daquele
período de crise e aprendeu a ser pai. Foi com ela ao seu lado que Jesse
percebeu que poderia ser um bom pai para Samantha e que aquilo poderia
resultar em algo diferente de um desastre.
O problema era que aquela vida bagunçada e caótica como pai de sua filha
era algo que ele gostava de viver ao lado dela. Uma vida que ele sentiu
ameaçada com a presença de Chad, que ele erroneamente entendeu que
Sophia deveria resolver e no fim acabou perdendo-a. Egoísta, Jesse achou
que a ex tinha mais a perder do que ele, se enchendo dessa convicção,
sobretudo quando começou a namorar Lindsey mesmo não estando
apaixonado por ela. No fim ele não sabia se Sophia estava sofrendo. O que
ele tinha certeza é que, certas ou não as suas escolhas, ele não estava feliz.
E, como Samantha estava com a sua "tia Soso" naquela tarde, ao menos
uma desculpa para aparecer na confeitaria Jesse tinha.
— Ah, ela está, com a Sam lá na cozinha – Lívia disse prendendo o riso –
Agora eu entendi a solidão.
Como não dava para ficar ali parado eternamente, Jesse resolveu entrar.
Afinal, se Lívia o visse ali, cedo ou tarde ela iria berrar a plenos pulmões o
quanto ele estava se valendo da presença da filha para admirar a ex à
distância.
— Ah, eu nem tenho tanto cabelo assim – Jesse riu abobado vendo Sophia
se aproximar.
— Regras são regras, papai – Sophia disse estendendo a touca para ele.
— Não vai botar nele, tia Soso? – Samantha disse encarando os dois – Você
botou em mim.
— Mas meu papai não faz algumas coisas direito – Samantha quase
cantarolava – Mamãe sempre diz que ele às vezes age como se tivesse a
minha idade.
Sophia teve que prender o riso para não soltar uma imensa gargalhada e dar
mais confiança à Samantha do que ela deveria receber, mas era difícil. Ela
imediatamente encarou Jesse que estava vermelho pela clara provocação de
sua filha de cinco anos. Dito isso ela nem quis continuar rebatendo a
criança, apenas abriu a touca e ajeitou no cabelo dele. Nas costas dos dois
Samantha abria um sorriso travesso e estava atenta à cena, feliz por ter
alcançado o resultado que queria: aproximar seu pai e sua "tia", ao menos o
suficiente.
Bem suficiente. Enquanto ajeitava a touca no cabelo de Jesse, por trás das
orelhas dele, Sophia percebia os olhos claros do ex quase queimando-a.
Logo aqueles olhares se encontraram e ela sentiu um calor em alguma parte
do corpo que há muito tempo não sentia, bem como a boca que ficou
imediatamente seca. Jesse estava claramente aproveitando a oportunidade
que a filha os colocou. Ele não era muito bom com palavras, mas
permanecia implacável nos gestos. Era seu olhar que, mais uma vez,
deixava claro o quanto ele ainda a desejava.
— Você realmente não tem tanto cabelo, mas temos que ensinar dando
exemplo – Sophia sussurrou piscando.
— Eu tenho sorte de ter você aqui por perto ensinando-a junto comigo...
Aquilo teve lá seu lado bom. Samantha colocou os olhos no iPhone do pai,
abriu o Spotify, conectou o aparelho em seu enorme fone de ouvido novo e
rosa e segundos depois já estava com a cabeça balançando ao som de sua
cantora favorita. O pai ria da reação dela, balançando a cabeça e
observando para ver a reação de Sophia. Ela não estava diferente dele,
achava muita graça em como a menina estava. Era o momento perfeito para
Jesse se aproximar.
— Não se pode dizer que terão mal gosto – Sophia deu de ombros – Se
conviverem demais comigo vão ouvir Ed Sheeran também. E Adele,
obviamente.
— Muito bem, digital influencer – Jesse riu e ela riu junto – Sabe quem eu
encontrei hoje? Paddy.
— Ei, não fique brava, ele tinha acabado de descobrir, ninguém sabe,
certeza que ela vai correr pra te contar – Jesse disse com ar de riso – Ele
disse pra marcarmos algo, nós quatro, como nos velhos tempos... e eu
resolvi passar aqui pra te falar...
Paddy e Vanessa eram um casal de amigos de Jesse e Sophia dos tempos
que eles começaram a namorar. Vanessa era amiga de faculdade de Sophia e
agora era chef de um restaurante em Manhattan. Paddy, por sua vez, era
amigo de infância de Jesse. Quando os dois namoravam tanto Paddy quanto
Vanessa tinham saído de relacionamentos ruins e partiu de Sophia a missão
cupido para apresentar os dois. Jesse teve certa resistência a princípio mas
acabou sendo convencido pela namorada e ficou completamente surpreso
quando deu tudo certo. No fim eles tinham terminado e o outro casal
alavancou de vez. Agora moravam juntos e estavam à espera de um filho. E
evidentemente, queriam reencontrar os amigos.
— Jesse, as coisas não são como nos velhos tempos e você sabe – ela
observou.
Era difícil argumentar num caso desses, em que eles estavam tão próximos,
tão bem um com o outro, em que Sophia percebia que sentia tanta falta de
Jesse quanto ele dela. Era difícil olhar nos olhos dele como ele fazia e dizer
que não, não podia dar outra chance pros dois. Não diante da comparação
que ele fez, afinal se Anahí perdoou Poncho ela era capaz de deixar as
mágoas de lado e tentar ser amiga de Jesse. Ao menos tentar.
Porque conseguir, afinal de contas, eram outros quinhentos. Afinal tinha
diferenças gritantes naquela comparação toda: Poncho pretendia continuar
ao lado de Diana, o que não era bem o caso para Jesse. Aquele era apenas o
primeiro passo dele para reconquistar Sophia. Ele não queria apenas ser
amigo dela... ele queria mais, queria absolutamente tudo que envolvesse os
dois.
Helloooooo pessoas amadas! Tudo bem com vcs? Espero que sim!
O capítulo de hoje é definido bem pelo título: "apenas amigos?". Serve pra
todas as partes que foram postadas... pro Jesse e Sophia que tiveram uma
boa dose aqui (quem ta amando Samantha ainda mais depois de hoje?
hahahahah), pra Maite e pro Mane (sei que o tanto que vcs amam Samantha
é o quanto querem matar a Maite kkkkk) e é claro, pra AyA! Será que essa
~amizade~ vai dar certo? Façam suas apostas!
Queria deixar claro que tenho lido todos os comentários mas não to
conseguindo tempo pra responder. Na vdd não tem dado tempo nem de
escrever. Em suma, ta foda!
Rafa
Capítulo 18 - Deleted scene
Do ponto de vista de sua saúde física, Anahí estava tendo uma lenta e
gradual recuperação, que era vista a cada sessão de fisioterapia. Afinal, ela
tinha tido a coluna e a perna operadas, mas um mês após a alta no hospital
já tinha tirado o gesso e os movimentos estavam quase normais, ela
caminhava praticamente sem nenhuma dificuldade. O mesmo não poderia
ser dito dos traumas psicológicos – seus fantasmas ainda estavam intactos e
longe de serem exorcizados.
A ideia mental de ser mãe mexia com Anahí, porque não era algo que ela
conseguia se enxergar fazendo dali para frente. Ela lembrava do beijo com
Poncho, na cama dela no dia que contou do filho que eles tinham perdido.
Ela a princípio se entregou, esvaziou a mente, mas bastou um toque dele
mais lascivo para travar e encerrar tudo. Como uma vida poderia ser
construída se nem o homem em que ela mais confiou na vida, o único
homem a quem ela tinha se entregado sem ser violada, podia toca-la sem
que aquilo lhe gerasse uma reação dominada pelo mais absoluto pânico.
Não tinha como seguir em frente daquela forma, formar uma família, nada.
Tobias não tinha simplesmente lhe tomado oito anos de sua vida... ele
também parecia condenar todos os seguintes.
Era por tudo isso que Anahí não queria lembrar de mais nada. Parecia ser o
suficiente o que já tinha saído. O que aconteceu naquele cativeiro que lhe
traria de bom recordar? Seriam apenas lágrimas e mais cicatrizes de
momentos que em nada lhe acrescentariam. Então, mesmo diante da
recomendação da Dra. Caitriona Balfe de que Anahí deveria prosseguir com
as regressões durante as sessões de terapia, o que aconteceu foi que ela se
recusou. E a terapeuta, por óbvio, acabou percebendo que insistir naquele
momento era em vão. Ela tinha dentro de si uma forte percepção que Anahí
acabaria voltando atrás na hora certa, quando tivesse motivos para tal.
Bastava esperar a hora chegar, mesmo que demorasse.
Só que havia outras coisas na vida de Anahí que a perturbavam. Ela sentia
cada vez mais o desconforto de continuar na casa de Karen ante a presença
de Keith. Durante os primeiros dias Anahí realmente achou que a mãe
optaria por ela e não pelo marido, que veria o modo como Anahí não estava
se adaptando àquilo e daria o seu jeito, mas não foi isso que aconteceu. Pelo
contrário, Karen achava que Anahí deveria dar uma chance ao pai e não via
o quão óbvio era que isso jamais iria acontecer. Anahí permanecia
irredutível, e cada vez se sentindo mais sem espaço naquela casa. Ela já não
sabia o que fazer.
Ir para a casa dos avós não era uma opção, aquela nunca foi a sua casa.
Permanecer ali também não era. O ideal seria ficar com Poncho, que
sempre foi seu porto seguro, mas ele tinha uma nova vida agora e ela se
obrigava a respeitar. Não tinha outra opção. E para completar, a questão do
que fazer com todo aquele tempo livre... na adolescência Anahí ajudava a
mãe no Karen's Café, mas como trabalhar num lugar que tinha sido um dia
o espaço onde ela conheceu seu algoz a fazia se sentir totalmente
desprotegida? Segurança era sem dúvidas um fator essencial naquele
momento.
— Quem é você? – a voz dela pareceu assustada – Como sabe o meu nome?
— Ah, todo mundo sabe o seu nome – a garota permanecia sorridente, mas
ao reparar que Anahí estava acuada, mudou a abordagem – Ok, desculpe, eu
não pretendia assusta-la. Meu nome é Erika Vianna. Eu sou agente literária.
— Que tal marcarmos uma reunião com a minha chefe? – Erika sugeriu –
Assim você poderia conhecê-la, ela explicaria melhor as coisas, até lá você
pensa com calma. Eu acho que isso é uma grande oportunidade pra todos
nós, Anahí. Todos temos a ganhar, você principalmente.
Pensando bem, era algo no qual Anahí poderia investir. Quando aquela
moça se despediu, marcando desde já uma data e deixando com ela seu
cartão, Anahí levantou seu olhar e enxergou a avó observando, acenando
para Erika que saía e voltando para a mesa com a neta. Ela sabia que a avó
somente tinha uma preocupação com ela, que Ellie não sabia em quem
confiar dado o que aconteceu com a neta e que era uma preocupação válida
e normal. Só que Anahí não queria se sentir assim. Já bastava o seu próprio
medo, ter que sentir os outros lhe encarando daquela maneira era demais.
Ela queria tanto uma chance de ver a própria vida guinando, ela pediu
silenciosamente por isso.
O que Anahí não sabia era que a Editora Planet pertencia à família
Vázquez, que era o sobrenome de solteira de Diana Herrera. Seu pai, Jimmy
Vázquez, vivia em Boston comandando a sede e passou a filial para a sua
filha. No terceiro ano na cidade, ela conheceu Alfonso e o transformou em
fenômeno literário, seu primeiro. Não apenas isso – Alfonso se tornou
também o marido de Diana, o pai de seu filho, sua família. Erika Vianna já
trabalhava na editora naquele momento, ela e Diana eram as únicas
funcionárias num primeiro momento e Erika realizou a diagramação e toda
a parte revisional do primeiro livro de Alfonso, bem como a dos demais que
foram publicados nos anos seguintes.
Só que, sem querer, ela acabou marcando um encontro entre duas mulheres
que, embora muito tivessem ouvido falar uma da outra, ainda não se
conheciam pessoalmente. Duas mulheres que amavam o mesmo homem...
xxx
Anahí e Poncho vinham lidando de formas bem parecidas com o luto pela
perda de um filho que, embora tivesse acontecido há oito anos, era sentida
agora, ao ser descoberta: ambos se isolaram para viver a dor na solidão,
mesmo que por motivos um tanto diferentes. Enquanto Anahí não fazia a
mínima questão de se abrir com a própria família e ainda não sentia
confiança suficiente para se abrir com qualquer dos amigos além de
Christian, que já sabia, para Poncho o problema era outro.
Como ele iria chorar na frente de Diana? Como iria contar para a esposa
que estava sofrendo por um filho que ele teria antes dela, por uma vida que
praticamente não existia mais? De certa forma Poncho sofria por uma vida
que nunca de fato existiu, já que a família que ele formaria com Anahí e
aquela criança não chegou a se materializar. Por mais que ele soubesse que
a esposa entenderia o seu lado, ainda assim ele não via qualquer clima para
se abrir.
Quem acabou secando suas lágrimas foi Erendira. O esperado era Poncho
procurar por Jesse, Sophia ou Mane, seus amigos mais próximos, mas ele
acabou com os olhos inchados e o peito quase explodindo na porta da irmã,
a quem não disse nada até passar quinze minutos chorando copiosamente.
Erendira teve que esperar pacientemente o primeiro momento de agonia
total do irmão passar para ter uma mínima explicação do que estava
acontecendo com ele e entendeu exatamente o quão devastado ele estava e
seus motivos assim que Poncho começou a dizer o que o fazia chorar
copiosamente daquela forma.
Não era por menos, ela rapidamente constatou. A última vez que Erendira
vira o irmão assim foi na "morte" de Anahí. Nem quando ele decidiu seguir
em frente tinha sofrido tanto quanto. Ela achava que jamais o veria assim de
novo, ainda mais considerando primeiro que ele tinha formado uma família
e segundo, mais tarde, que Anahí tinha voltado e estava bem. Mas ela
estava enganada. Por óbvio, Erendira consolou o irmão e foi o seu ombro
amigo naquele mar de lágrimas, aconselhando no fim da conversa, logo
antes dele ir embora, que ele deveria contar para Diana.
Mas ele não contou. Assim como não contou que beijou Anahí, ou melhor,
que correspondeu ao beijo que a ex tinha lhe dado.
— Ok, feche essa porta e volte porque a conversa não acabou – ela quase
ordenou e viu o irmão abrir um ar de riso antes de obedecer e acompanha-la
de volta ao sofá – Poncho, a Anahí te beijou? E você...
— Diana não sabe de nada – Poncho suspirou – Eu não consegui dizer pra
ela nem do bebê, imagine... porque uma coisa não justifica a outra, entende?
É só que... eu sinto algo muito forte pela Anahí ainda. E ela estava ali,
frágil, junto comigo... só ela sente essa dor que eu to sentindo.
— Você tem razão – Erendira confirmou – Nas duas coisas. No fato de que
ela entende a sua dor... mas também que isso não justifica. Porque você é
casado, você escolheu continuar casado quando a Anahí voltou e você não
deixou a Diana por ela. E isso causou na sua esposa uma expectativa de que
as coisas não vão mudar. O que significa que, por mais forte que seja esse
seu sentimento pela sua ex-namorada, você precisa se decidir.
— Que tal admitir que isso muito forte que você sente pela Anahí pode
arruinar o seu casamento e decidir de uma forma justa que não magoe nem
você, nem nenhuma das duas? – Erendira cobrou – Porque quer saber o que
eu acho Poncho? Eu acho que você até gosta da Diana... e ta escolhendo-a
porque é a única maneira de não perdê-la. Porque sendo amigo da Anahí e
marido dela, você tem as duas na sua vida. Só que esse sentimento forte e
irresistível que você tem pela Anahí, na minha humilde opinião, se chama
amor. Você nunca deixou de ama-la... e eu não acho que ser amigo dela seja
o suficiente pra você. Pra nenhum dos dois, na verdade.
Enquanto Erendira jogava para o irmão algumas verdades que ele não
queria encarar, Diana seguia no escuro. Ela não era burra a ponto de não
perceber que estava acontecendo algo com seu marido e queria saber o que
era, mas ao mesmo tempo não encontrava uma abordagem que fizesse
Poncho se abrir com ela. Cada vez ela via o marido mais calado e
introspectivo e tinha uma voz em sua cabeça que pensava que isso tinha a
ver com Anahí, mas não parecia suficiente. Ela sabia que tinha acontecido
alguma coisa, algo novo, e não conseguia imaginar o que pudesse ser.
Poncho estava há uma semana no silêncio, calado, apenas brincando com
Dani e por vezes abraçando o filho e parecendo com o olhar ainda mais
doído. Aquela reação estranha começou depois do almoço no apartamento
de Jesse, quando ele saiu para uma emergência que a esposa imaginou que
tinha a ver com Anahí, mas ao contrário da expectativa dela, ele não disse
nada e pelo visto nem diria.
— Bem, ela é uma ótima amiga – Sophia respondeu pensativa – Ela sempre
esteve presente por todos nós, em todos os momentos. Quando nós éramos
próximas ela sabia que eu gostava do Jesse e era ela que segurava minha
mão cada vez que o Poncho vinha até nós e contava que ele estava com
outra garota. Ela fazia isso sem ser perceptível sabe? Apenas segurava a
minha mão, me lançava um olhar de consolo e bastava pra que eu soubesse
que ela estava ali. E não era assim só pra mim... com a Maite, com a Lexie,
com o Christian... ela era assim com todos. Nós éramos um grupo muito
unido.
— Você tem certeza que quer saber disso? – Sophia perguntou temerosa –
Porque antes era diferente, a Any não estava aqui e era só uma lembrança.
— Sophia, eu preciso – Diana insistiu – Ele era muito apaixonado por ela?
Eles eram felizes?
— Eram – Sophia respondeu sem rodeios – Muito. Eles tinham uma vida
planejada, e todo mundo tinha medo de não dar certo porque a gente sabia
que eles sairiam destruídos nesse caso. Eles eram os únicos que namoravam
no colegial e continuaram juntos durante toda a faculdade. E bem... Jesse
sempre contava da quantidade de mulheres que se arrastavam pro Poncho
em Stanford, nós sabíamos a quantidade de homens que paqueravam a Any
em Georgetown, mas eles sempre se mantiveram fiéis. Ela juntava dinheiro
e o visitava na Califórnia, ele ia pra Washington vê-la também sempre que
podia, nas férias os dois passavam os verões juntos e assim foi durante
quatro anos, até eles se formarem.
— Mais do que isso... eles eram feitos um pro outro – Sophia completou –
Ou pareciam ser.
— Aí eu apareci e destruí tudo – ela tampou os olhos nervosa, mas logo que
os abriu novamente viu a amiga negar.
— Mesmo sabendo o que ela passou, mesmo sabendo que ela não estava
viajando por aí depois de tê-lo largado – Diana passou a mão no rosto
agoniada – Essa mulher foi sequestrada e estuprada por anos, mantida num
cativeiro, tirada da própria vida, da própria família... acharam que ela estava
morta... e por algum milagre ela sobrevive, é encontrada, e eu... eu desejo
que ela ainda estivesse lá apenas porque ta causando problemas pro meu
casamento. Você entende? Eu sou um monstro...!
— Não, não é – Sophia segurou a mão dela – Eu sei que você não desejou
isso de verdade, foi só um momento de dor.
— Eu sei que ama, eu tenho certeza – ela observou – Mas antes éramos
dois, e agora tem ela também. E eu não posso ser egoísta, não posso querer
que ele a mantenha longe porque nenhum dos dois tem culpa, mas... eu
também não tenho. E eu não sei se é isso que eu quero pro meu casamento.
— Olhe... – Sophia voltou a falar – Se tem algo que eu tenho certeza, é que
Anahí não vai se colocar propositalmente entre você e o Poncho. Como
você disse, eles têm uma história juntos, e precisam acerta-la porque muita
coisa aconteceu. É óbvio que ele vai querer apoia-la até tudo voltar pro
lugar, ou encontrar um novo lugar, eu não sei... mas se o Poncho disse que
quer ficar com você, ele vai ficar. E ela vai respeitar. Você apenas precisa
encontrar uma maneira de ficar bem com o fato de que agora ela existe. Eu
sei que as coisas vão se acertar. E uma hora vocês duas vão acabar se
conhecendo. E se eu bem as conheço... vocês vão se dar bem.
Isso era algo que Diana não tinha como saber, muito menos como apostar.
Erika deu saltos de alegria ao receber a resposta de Anahí. Ela marcou para
a manhã seguinte e, na segunda feira bem cedo, após ser deixada pelo avô,
Arthur, Anahí estava na porta da Editora Planet. A moça a recebeu com um
sorriso e um abraço confortável e logo a encaminhou para o escritório onde
trabalhava.
— Minha chefe já vai chegar, mas você pode esperar na sala dela – Erika
disse abrindo a porta – Senta aí, eu vou espera-la e já adiantar tudo.
Alfonso.
Do lado de fora, outra mulher chegava no trabalho sem fazer ideia do que a
esperava dentro de sua sala. Ela só sabia que sua funcionária estava
eufórica.
— Você vai ficar orgulhosa de mim, eu sei – Erika disse batendo palminhas
enquanto Diana andava sorrindo – Por que afinal de contas, quem arruma
um futuro best seller desses e marca uma reunião em menos de uma
semana? Quem? Quem?
— Pelo visto você – ela riu – Vamos, me fale da moça. Eu preciso saber o
que esperar antes de conversar com ela.
— Bem, você se lembra daquela garota que passou oito anos em um
cativeiro e acabou de ser encontrada...?
— Foi um custo enorme arranjar o endereço do café que a família dela tem,
mas eu consegui e bem... ela está aqui. Ela quer conversar sobre escrever a
história, ou no mínimo vender os direitos de publicação, não é
maravilhoso...?
Não, não era... provavelmente era uma coincidência. Tinha que ser.
— Ah Diana, vai me dizer que você não soube dela pelos jornais? – Erika
negou com a cabeça rindo – Anahí. Anahí Portilla. E ande, vamos, ela está
te esperando!
Esse capítulo termina do babado né? O começo dele já dá o tom do que vai
vir, que é a Erika finalmente chegando até a Anahí, mas provavelmente
vocês não esperavam que a Diana a encontrasse tão rápido, acertei? Como
será que vai ser o encontro das duas mulheres por quem o Poncho ta tãoooo
dividido?
Falando em Poncho, acho que essa chamada que a Erendira deu nele foi o
que todas aqui queriam dar né? Hahahahaha. Ele precisa sair de cima do
muro, eu sei, mas o Poncho é todo politicamente correto e vai manter o
casamento com a Diana a todo custo. Vamos ver como vai ser ela com a
Anahí!
Falando na Diana, espero que quem a julgou pela cena que ela pensa mal da
Anahí reveja os conceitos depois da conversa dela com a Sophia. Mas eu to
com a maioria (ao menos a que comenta): Diana aqui é vítima e Poncho
tem que se decidir!
E finalmente uma notícia não tão boa: não teremos post quinta! Eu vou
viajar, então só retorno na segunda.
Rafa
Capítulo 19 - The past and the present
Perplexa. Era exatamente assim que Diana se sentia com aquela situação.
Seu corpo estava completamente engessado com aquela descoberta, sem
conseguir dar um passo sequer, fosse para frente ou para trás. Ela se
perguntava como fazer dali para frente, como reagir, porque era óbvio que
estava impossível. Diana sabia que não poderia simplesmente largar Anahí
dentro de sua sala, mas a pergunta principal era: como iria encara-la?
Afinal, se não estava sendo fácil para ela, como seria para Anahí? Diana era
a personificação dos sonhos dela que não se realizariam. Era a mulher que
tirou Poncho do caminho onde ele esperaria eternamente pela volta dela,
com quem ele formou uma família. Ocupava o espaço que, de acordo com
certa linha de raciocínio, Anahí iria ocupar, deixando-a em frangalhos.
Afinal, aquela mulher foi libertada de um cativeiro, depois de tanto tempo
presa, passando por tantas coisas e, quando finalmente estava livre...
descobria que tinha outra em seu lugar.
— Todos achavam que estava – Diana respondeu – Até descobrirem que ela
esteve oito anos sequestrada numa casa no Queens.
— Não é possível que seja a mesma pessoa – a garota murmurou – Diana...
você não disse nada...
— Eu sou discreta com a minha vida, Alfonso também, você sabe disso... é
pessoal – Diana suspirou totalmente desconfortável. Ela adorava Erika, mas
jamais dividiria com a funcionária as inseguranças pela volta de Anahí e
seu significado na vida do marido.
— Sim – Diana respirou fundo – Você não tinha como saber... mas sim.
— O que você vai fazer? Quer que eu dê uma desculpa qualquer e mande-a
embora? Não seria difícil.
— Não, eu não sou covarde – ela respondeu decidida – Uma hora eu teria
que conhecê-la. Parece que a hora chegou.
Daniel era um menino bonito e saudável para a sua idade. Parecia muito
mais com a mãe do que com o pai, mas Anahí, como uma profunda e eterna
admiradora da beleza de Alfonso, reconhecia os traços dele em seu filho.
Aquela criança parecia dócil demais e Anahí, mesmo perturbada por estar
onde estava, se encantou com a expressão dele na foto. Era capaz de
imaginar o amor que o ex sentia pelo menino apenas por olhar seu pequeno
sorriso. Ao mesmo tempo, uma pontada de dor invadiu seu peito ao se
colocar naquele lugar. Ao imaginar o sorriso de outra criança, uma criança
que nunca nasceu e nem nasceria... a dela. A deles.
Foi inevitável não fechar os olhos e se colocar na ONG na qual sempre
sonhou em trabalhar, mudando a vida de tantas mulheres vítimas de
violência doméstica. Ela teria uma sala como aquela de Diana, um lugar
onde aquelas mulheres se sentiriam seguras. Um lugar que seria também
um refúgio para ela em seus dias cansados, onde poderia tomar um café
quente, se aconchegar na cadeira e olhar um porta-retrato tal como aqueles
que encarava. Uma foto de seu filho, uma foto dela e de Alfonso abraçados,
daquelas que qualquer pessoa que observasse sem pedir licença veria e diria
o quanto eles eram bons juntos, sentiria a conexão de longe. Como ela se
sentia quando via Alfonso e Diana juntos. Como se a intrusa fosse ela.
— Eu juro que não sabia que era você – foi Diana quem quebrou o silêncio
– Acabei de descobrir... eu jamais te colocaria nessa situação.
— Eu sabia que o Poncho tinha se casado com a editora dele, mas nunca,
em nenhuma hipótese... – Anahí se justificou – Ela não disse o seu nome
em momento algum.
— Por favor, perdoe a Erika – Diana pediu – Ela não sabe nada da minha
vida pessoal. Nosso contato é profissional somente, é uma excelente
funcionária, estava empolgada em buscar um novo sucesso literário... não
tínhamos como imaginar. E bem... quantas editoras existem em Manhattan?
— Você não tem visto os noticiários? – ela perguntou com o tom pesado –
Eles não cansam de mim pelo visto.
— Eu tenho evitado porque tenho um filho de cinco anos que não faz ideia
do que aconteceu com o pai antes de me conhecer – Diana respondeu franca
– Não leve a mal, eu apenas queria poupa-lo.
— Você faz bem – Anahí concordou – Crianças não merecem essa sujeira
toda.
— Você não precisa se desculpar por nada – Anahí sorriu de leve – Você o
fez feliz, lhe deu uma família, um filho. Eu deveria estar te agradecendo.
Ele está bem, é o suficiente.
— Mas você é alguém importante na vida dele, fez parte da história dele e
isso nunca poderia ser apagado – Diana frisou – E eu... eu não quero ser sua
inimiga. Eu não quero te encarar como uma rival, eu não gosto disso, nunca
fui assim e nem quero ser. Não sei o que você sente por ele nem nada do
tipo, é só que... nós não precisamos nos encarar como se nos odiássemos,
porque a verdade é que... eu nem sequer conheço você. E tudo o que ouvi
falar de você sempre foi tão bom que nem que eu me esforçasse eu
conseguiria te odiar.
— Bom, Maite pensa – Diana deu de ombros. Foi a vez de Anahí rir.
— Maite é radical demais e sempre foi – ela soltou uma careta – Sophia é
uma amiga maravilhosa e ela sempre foi próxima ao Poncho. Eu fico feliz
que ela tenha dado uma chance a você.
Elas não seriam amigas, mas também não se odiariam. Era um pacto de
respeito mútuo, uma bandeira branca por assim dizer. Tanto Anahí quanto
Diana sabiam que ocupavam lugares diferentes na vida e no coração de
Poncho, mas também sabiam que podiam coexistir. Elas não travariam uma
batalha para disputa-lo... com aquele aperto de mão, deixavam claro que
seguiriam e deixariam a escolha – se é que havia uma – a quem realmente
cabia: a ele, é claro.
xxx
Lexie Grey estava se perguntando onde tinha ido parar toda a segurança que
ela adquiriu nas últimas semanas. Seu relacionamento com Jackson Avery
estava bem, estava ótimo, e ela realmente achava que enfim tinha adquirido
uma tranquilidade com ele e que sua vida seria calma dali para frente. Ledo
engano. Mais uma vez tudo ruiu e ela não se sentia nem um pouco surpresa
ao dar um nome para o causador de todo aquele furacão que, mais uma vez,
destruía tudo o que ela tinha pacientemente construído.
O pior era que a culpa direta daquela vez nem era de Mark Sloan. Talvez
fosse do fato de ele ser tão galanteador, sorridente, bonito demais para a
sanidade das mulheres daquele hospital. O sorriso sedutor de Mark tinha
encantado uma das novas internas e agora onde Lexie aparecia, ela via a
garota tentando chamar a atenção dele de qualquer maneira. E aquilo a
enervava de uma maneira inesperada, uma maneira forte e incômoda grande
demais para quem dizia ser totalmente indiferente.
— Posso passar o cargo pra outra pessoa se você achar que é pesado
demais.
— Não, não, está tudo bem – Lexie suspirou desgostosa – Onde estão os
internos?
Nada bom.
Como não sabia que ganharia aquele presente de grego, Lexie não tinha
nada programado para os novatos, que acabaram por seguir o curso do que
sua residente faria – para variar, a ronda da neurocirurgia com a Dra.
Amelia Shepherd. Diga-se de passagem, Amelia viu sua aluna chegar com
quatro internos em seu encalço e franziu a testa, ela também não esperava,
mas tampouco disse nada, a expressão irritada de Lexie falava por si. Ela
deixou que tudo fluísse, prometendo a si mesma que iria se controlar para
não provocar... mas Amelia não podia garantir... afinal, ela era ela.
— Você não sabe o que eu descobri – Brenda disse – Uma das enfermeiras
me disse que ele tem um histórico de relacionamento com internas. Você
acredita...? Parece que eu tenho chances!
— Vocês vieram aqui pra trabalhar ou pra... – Lexie censurou vendo as duas
garotas arregalarem os olhos ao serem pegas no flagra. Mas, por sua vez,
ela também acabou interrompida.
— Ora, vamos lá Grey – Amelia riu – Elas estão falando alguma mentira? É
Mark Sloan. Ele tem uma fama, é alguma mentira?
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Anahí voltou para casa ainda atordoada com todas as informações daquela
manhã. Estava certo que ela já sabia que Diana existia, ouvira os relatos de
Lexie sobre ela, vira as fotos de Poncho com a esposa em suas redes
sociais... mas nada era como vê-la pessoalmente. A impressão que Diana
lhe passou ficou marcada porque ela era sem dúvidas uma mulher marcante.
Tinha postura, segurança, falava firme e definitivamente sabia a que vinha.
O impacto não era pequeno, Poncho definitivamente tinha se casado com
uma mulher firme.
Mas era coisa demais pra pensar. A conversa, as fotos, o impacto de tudo
aquilo pesava na cabeça de Anahí, que sentia que precisava de algo para se
distrair. Difícil, considerando que estava em uma casa na qual não
conseguia mais enxergar como um lar. Cada vez que ela via Karen
lembrava a mágoa pela mentira da mãe. Ver Keith a fazia se sentir de fora
daquela bolha. Anahí estava péssima naquilo tudo, mal queria sair do
quarto. O aconchego de antes se fora. Era como se ela tivesse saído de um
cativeiro e entrado em outro, pois não era mais como o pássaro livre que
tinha sido um dia, num passado distante. Agora era como se ela sempre
estivesse presa à gaiola.
— Hoje eu não tenho nenhum ensaio e aí estava pensando... por que não
levar a Anahí pro salão pra dar um trato naquele cabelo? Ótima ideia...!
Christian não queria falar para Anahí o quanto ela estava precisando
daquele trato no visual. Ela estava com a aparência maltratada, resultado de
oito anos de abuso e negligência. Aquilo não era por questões de vaidade e
sim para que ela pudesse voltar a se olhar no espelho e ver a si mesma.
Talvez aquela renovada a ajudasse a deixar as marcas do que tinha vivido
pouco a pouco para trás e encontrar um novo jeito de viver.
Christian parecia satisfeito com o resultado final. Ele via o brilho nos olhos
da amiga e sabia que era um começo, um passo tinha sido dado. Já era o
suficiente por um dia, o restante viria com o tempo, com fé e perseverança
que ele, os amigos e a família dela tinham de sobra.
— Isso que eu chamo de dois em um, você saiu plena do salão e eu arranjei
um boy pra mim – Christian batia palminhas.
Maite de fato estava em casa, afinal era o final de um longo dia de trabalho.
A morena estava saindo do banho quando se deparou com seus dois
melhores amigos do lado de fora. Ela estava justamente pensando em abrir
uma garrafa de vinho para relaxar do cansaço que abatia seu corpo, pelo
visto não a beberia sozinha. Só que mais do que a presença dos dois, o que
lhe chamou mesmo a atenção foi Anahí e seu novo visual.
Foi quando Anahí percebeu que, no fim, aquilo não poderia ser tão ruim
assim.
— Você o quê? – Maite foi a primeira a falar. Mas Christian veio logo em
seguida.
— Você passou a tarde inteira comigo e só diz isso agora...?
— Deixe-o vivo, ele não tem culpa, acredite – Anahí sorriu dando de
ombros – Foi uma imensa coincidência. Digamos que eu tenha ido até a
editora da Diana por uma proposta de uma funcionária dela e quando
cheguei lá descobri que a dona em questão era ela.
— Nem eu na hora – Anahí suspirou – Vocês não vão perguntar como foi?
— Deve ter sido estranho não é? – Maite disse com uma careta – Estar na
sala da mulher que roubou o homem que você ama...
— Ela não o roubou, ela achou que era dela – Anahí suspirou – Achado não
é roubado, é o que dizem né?
— Você não gosta porque é mais fácil do que admitir que ela não tem culpa
de nada – Anahí alfinetou – Birrenta como sempre...!
— É sério – Anahí mordeu os lábios – Sempre foi forte, foi intenso, foi
grande demais para colocar dentro de uma caixa de lembranças e ainda é.
Nós nos beijamos.
— Como assim "isso"? – foi a vez de Maite protestar – O que mais eu não
to sabendo...? Vocês dois estão de segredinhos comigo, é? Eu não acredito!
— Esse bebê era do Poncho – a voz de Anahí saía pesada – Por isso nós nos
encontramos, eu tinha que contar tudo pra ele. E bem... por isso eu o beijei.
Só que é claro que a empatia eterna de Maite não duraria tanto tempo assim.
Durou até bastante... até o momento que Christian fez uma pergunta que fez
os três voltarem à estaca zero.
A pergunta era de Christian para Anahí. Maite abriu a boca para um novo
protesto antes que a amiga pudesse processar... só que Anahí acabou sendo
mais rápida, no fim das contas.
— Olha Mai, talvez nós nunca fiquemos juntos, talvez o nosso tempo tenha
acabado, e eu irei respeitar se ele decidir assim – Anahí sorriu serena – Mas
por que eu tenho que lutar contra o melhor sentimento que eu já nutri...? Por
que eu não posso simplesmente ama-lo na minha? Não to fazendo mal pra
ninguém, e isso me faz bem.
— Porque isso nunca vai acontecer – Maite decretou – Você vai ficar se
prendendo por causa de algo que já acabou? Que não deu certo?
— Mas não deu errado – Anahí revidou – Apenas aconteceu uma fuga no
percurso. Ele não tem culpa. E nem eu. Eu não vou mais sufocar mais os
meus sentimentos. Eu o amo e pelo menos pra mim tenho que admitir. E pra
vocês também.
— Maite, chega pelo amor de Deus! – ele ordenou – Deixa a Any! Ela tem
razão, não faz mal pra ninguém. Ela o ama e ta no direito dela, já basta os
dois não terem a chance de ficarem juntos... ela já perdeu coisa demais, ao
menos isso ninguém vai tirar dela. Nem você, nem eu, nem Diana, nem
ninguém.
Porque essa era a pura verdade: Tobias tinha lhe tirado uma vida, um futuro,
um filho, até uma chance... mas ele não fora capaz de mudar o sentimento
que Anahí tinha por Poncho. Continuava tão forte e intenso quanto antes, e
dentro dela, por mais que ainda não estivesse pronta para admitir, ainda
parecia como se não tivesse um ponto final.
~
Todo mundo esperou muito por esse primeiro encontro Diana e Anahí e eu
espero ter feito jus à toda a espera. Cada vez que lia um comentário pedindo
que as duas se dessem bem e não fossem inimigas sorria por dentro por
saber que estava prestes a satisfazê-las. A quem queria o contrário... sorry,
você ta na web errada. A sororidade berrou forte aqui e definitivamente elas
podem não ser bffs, afinal amam o mesmo homem né... mas se respeitam e
saberão continuar assim. Mulherões são tudo né mores?
Por fim, vemos a Lexie caminhando pro precipício com todo esse ciúme do
Mark e da interna. Onde isso vai dar? De um jeito ou de outro, sabemos que
a Amelia ta jogando forte contra a nossa Little Grey... ou seria a favor?
Rafa
Capítulo 20 - Maybe one day
Tirando esse detalhe, o almoço parecia ter funcionado como uma trégua
entre os dois. Sophia estava surpresa porque há muito ela não se sentia
próxima e conectada a Jesse como aconteceu naquele momento,
considerando o quão afastados os dois ficaram depois do término. Não era
uma distância física porque eles eram sócios, era emocional, como se um
muro os separasse. Sophia sabia perfeitamente bem que essa distância tinha
sido causada não pelo namoro dele e de Lindsey, mas pelo fato de Jesse não
ter aceitado o fim do namoro e sua amizade com Chad. Ela tentava não
pensar em como seria quando eles se deparassem novamente com aqueles
obstáculos, porque era realmente bom acreditar, nem que fosse por alguns
dias, que havia alguma chance de ela ser próxima de Jesse de novo...
mesmo que não fosse, nem de longe, do modo como ela realmente sonhava.
O problema daquelas fantasias é que ver Vanessa grávida de Paddy lembrou
à Sophia o quanto ela sempre quis ter um filho com Jesse. Esse desejo
nasceu da convivência com Samantha e do fato de que Jesse poderia ser o
que for, mas sem dúvidas era um ótimo pai para a menina. Como Sophia
sempre quis ser mãe e era muito apegada à enteada, ela sempre planejou o
filho que eles teriam juntos. Um irmão para Sam, um filho para ela, a
chance de Jesse criar uma criança integralmente... algo que nunca
aconteceria. E algo que agora lhe causava uma sensação no corpo que ela
bem que queria, mas não conseguia ignorar.
— Vocês têm a mesma idade e você é pai há cinco anos, Jesse – Sophia
comentou franzindo a testa, segurando a mão dele ao sair do veículo e
vendo Jesse fechar a porta e passar duas notas ao motorista – Não to
entendendo essa "velhice".
— É que a distância emocional sempre foi enorme, ele nunca fez planos de
ser um cara de família e agora... – Jesse suspirou – Veja só como as coisas
são.
— Ele nunca tinha ficado com a pessoa certa, ao menos esperou e não
engravidou a "amiga com benefícios" como foi com você – ela alfinetou,
vendo o ex arquear as sobrancelhas.
— Eu não acredito que passamos todo esse tempo sem você dizer que eu
sou um completo irresponsável – Jesse negou com a cabeça rindo e a fez rir
de volta.
— Bom... – Jesse coçou a testa – Não vou dizer que eu nunca cheguei a
planejar isso, né? Só não seria meu primeiro filho.
Sophia quase caiu ao sentir o impacto do que ele dizia. Os olhos dos dois se
encontraram. Ela captou a mensagem... Jesse falava deles. Ele pensava o
mesmo que ela. Ela não era a única que se sentia nostálgica.
— Ah sim, definitivamente.
— Onde está a Torrey, Lívia? – Jesse repetiu ao ver a garota piscar sem
parar.
— So...? – foi Lívia quem disse encarando-os perplexa – Que bicho mordeu
vocês dois? Flecha de cupido?
— Tudo bem, não é como se eu fosse seu pai ou nada do tipo – Jesse
levantou as mãos com ar de riso, estendendo a mão para o homem em
questão – Sou Jesse.
– Torrey, é sua vida – Jesse a tranquilizou – Quer que eu fique com a Sam
hoje? Veja bem, ele disse "nos vemos mais tarde"...
— Ninguém vai dizer nada, você é quem tem que dizer! – Sophia protestou
– Eu quero saber tu-do!
Torrey acabou contando realmente tudo. Ela estava saindo com o ruivo,
Nick, há algumas semanas, mas esperava que a coisa estivesse mais séria
para contar para eles. Agora que todos sabiam estava disposta a dizer a
Sam, mesmo sabendo que a filha provavelmente adoraria aquela história.
Sophia rapidamente percebeu que Jesse poderia até saber o que queria, mas
não lutava por isso. Pelo contrário, ele demonstrava interesse nela, mas
sequer começava a fazer o certo terminando aquele namoro. Lindsey estava
ali, na vida e no negócio dele, marcando presença e fincando seu território.
Isso machucava Sophia e ela estava farta de sofrer por aquilo. Estava na
hora de dar outro rumo na vida, mesmo que fosse dando o troco.
xxx
Os dias de Anahí eram tranquilos, mas as noites... ela não gostava sequer de
dormir. Os pesadelos estavam ficando mais frequentes, mais intensos e mais
pesados. Ela sequer se sentia a vontade de confidenciar aquelas coisas com
a Dra. Balfe em uma sessão de terapia porque sabia perfeitamente bem a
resposta que ouviria: era necessário voltar às regressões.
A questão era que Anahí negando o que viveu no cativeiro, fugindo das
lembranças atuais e das que viria a ter, fugia também da única maneira de
descobrir o que tinha acontecido entre aquelas quatro paredes.
Pessoalmente ela não via grandes problemas naquilo, mas a polícia via. A
Promotoria de Nova York, idem. Ambos os órgãos queriam investigar e ir a
fundo do caso para conseguir condenar Tobias, mas esbarravam no fato de
que o testemunho de Anahí era a prova mais concreta que se poderia ter.
Naquela manhã, em sua casa, Anahí acabou recebendo uma visita que não
esperava. Era Nick Durant, acompanhado de uma mulher que ela não
conhecia e não fazia a menor ideia de quem poderia ser. Anahí não gostou
quando Ellie lhe disse que o chefe de polícia estava ali para conversar com
ela. Ela não sabia ao certo, mas tinha uma intuição sobre o que ele queria
dizer. E não era bom.
— Olá Anahí – Nick Durant estendeu a mão – Acho que você lembra de
mim. Sou chefe da Inteligência da Polícia e estou à frente do seu caso.
— Eu sei o que vocês vão dizer – ela retrucou direta – Que eu preciso
lembrar. Que sem o meu testemunho nada é possível, mas me disseram que
ele tinha sido preso por drogas, não por minha causa.
— Isso significa que ele vai ser solto? – Karen interrompeu – Ela fui
encontrada dentro da casa dele, machucada, ferida... isso não parece
suficiente...?
— Sra. Scott, a Anahí não se lembra como foi parar lá – Emily Byrne
continuou – Ela não estava acorrentada ou amarrada na hora que nós
chegamos. É tudo muito circunstancial. Se ela não se lembrar, é pouco
provável que até isso não seja rebatido.
— Mas como ela iria lembrar...? – Karen indagou – Como uma pessoa pode
simplesmente forçar lembrar algo que esqueceu? Eu não consigo
imaginar...
Isso era algo que nem Emily Byrne nem Nick Durant sabiam responder...
Karen olhava para o policial e a procuradora à espera de qualquer coisa que
eles dissessem, sem se dar conta que para eles também eram perguntas,
também havia dúvidas. Mas Anahí secretamente sabia a resposta. Ela sabia
exatamente como lembrar daquilo. E se antes sobravam motivos para não se
submeter àquela terapia de regressão, agora ela também se dava conta que
era a única maneira de manter Tobias na cadeia.
Afinal, se ela tinha fortes pesadelos com ele preso, imagine o que seria se
ele estivesse solto...
xxx
— Espere, por que você diz "nos orientar"...? – Anahí franziu a testa
cruzando os braços – Por que você ta se comportando como se fizesse parte
disso?
— Não tente compensar algo que você perdeu porque quis – ela acusou –
Olha, eu via como o Poncho era com o Robert e aquilo era um pai. Ele se
endividou pra colocar os filhos na faculdade, ele esteve ao lado do Poncho
em todos os momentos que ele precisou, era só o Poncho piscar que ele
estava ali e a Erendira idem. Eu sei o que é ter um pai mesmo nunca tendo
tido, e você definitivamente não é um.
— Você nunca vai me perdoar por algo que eu não tive culpa, não é? – ele
perguntou – Quer que eu vá embora, que eu me afaste?
— Por favor – Anahí ironizou – Eu me sinto numa prisão com você aqui
dentro. Essa costumava ser a minha casa. Eu me sentia segura aqui, e tudo
o que eu estou precisando é disso, um lar. E com você eu não consigo.
O objetivo de Anahí não era expulsar Keith, mas dava para ver que ela
estava bem próxima do limite. Anahí se sentia sufocada, em especial por ter
saído de um cativeiro, ela realmente precisava de um espaço no qual se
sentisse confortável e segura que simplesmente não tinha ali. Karen se
sentia com o coração despedaçado ao ver a filha contra o pai que ela sabia
que fizera alguma falta em sua vida, a julgar pela mágoa que Anahí
guardava, mas ao mesmo tempo sabia que não tinha nada para ser feito. De
certa forma Karen se sentia culpada, porque ela ajudou a criar a imagem de
monstro de Keith na filha e agora que sabia a verdade, sabia também que
ele nunca tinha feito jus àquele papel. Só que convencer Anahí eram outros
quinhentos.
O olhar que Keith lançou a Karen a fez pensar... Anahí condenava o pai e o
acusava de não ser um pai de verdade, mas o que aquele gesto significava
então? Ele estava disposto a sair da própria casa e deixar a esposa por causa
dela. Era o tipo de coisa que Karen faria por Anahí enquanto mãe. Se isso
não queria dizer nada, ela não sabia o que diria então.
xxx
Sophia não conseguia se abalar numa situação dessas, já que sentia ter
subido um degrau enorme e agora o tombo era inevitável e doloroso.
Qualquer dia que Lindsey aparecesse ali doeria, mas não tanto quanto
estava doendo. O problema foram as imensas expectativas que ela criou
pela reaproximação com o ex-namorado, expectativas essas criadas pela
súbita reaproximação dele, a volta dos olhares que eles trocavam, o modo
como Jesse começou a trata-la diferente.
E essa nova dor conseguia ser pior do que a do término, de alguma maneira.
Sophia estava tão mal que terminou o expediente, fechou a cafeteria e foi
para casa se encher de sorvete às lágrimas. Seus olhos estavam inchados ao
fim daquilo e, quando a campainha tocou, ela pensou que era o pior
momento possível para qualquer tipo de visita. Sophia hesitou, não atendeu
a campainha, mas acabou recebendo uma mensagem de texto no celular que
a deixou sem opções.
"O porteiro disse que você estava aí. Eu não vou parar de tocar até você
abrir".
Não era Jesse. Era Chad. Não que Sophia achasse que o ex a procuraria...
no fim, era bom abrir. Ela teria com quem desabafar afinal.
— Que bom que eu vim então – Chad constatou franzindo a testa – O que
aconteceu Sophia? Por que você ta assim?
— Eu... não quero falar sobre isso – Sophia suspirou abrindo espaço para
que Chad entrasse – Não podemos falar sobre outra coisa? Qualquer coisa?
— Digamos que não seja difícil de imaginar e não seria a primeira vez que
aquele bastardo te fez chorar – Chad disse abraçando-a – Ande, vamos
sentar ali e você me conta tudo.
Sophia contou, obviamente, sem qualquer filtro. Desde o dia que ela estava
na cozinha da confeitaria com Samantha e Jesse chegou com uma
abordagem, um jeito de trata-la, totalmente diferente do que ela tinha se
habituado desde que eles tinham terminado... mais carinhoso, atencioso,
como ele era quando os dois eram um casal. O convite para saírem a quatro
com Paddy e Vanessa soou inesperado para Sophia, mais ainda a percepção
nítida de que eles tinham voltado a ser eles e que nem parecia que não eram
mais um casal.
— Esse cara não te merece – Chad constatou – Ele não merece as suas
lágrimas.
— Eu sei que não, mas as minhas lágrimas ainda são dele – Sophia suspirou
– Muito de mim ainda é dele...
— Mas não pode ser mais assim, porque isso te fere – Chad ponderou –
Olhe, eu acho que ele está precisando e por que não dizer, merecendo que
você dê uma espécie de troco.
— Será que ele soubesse que você ta com outra pessoa não iria mudar um
pouco a postura e aprender uma lição...?
— Comigo.
A princípio Sophia não sentia que aquela era a melhor ideia do mundo.
— Soph, ele me odeia – Chad enumerou – E terminou com você por aquela
ideia maluca de que eu estaria interessado em você. Foi um babaca com
você, arrumou essa namorada, enfiou-a na sua vida e fica esfregando-a na
sua cara o tempo inteiro, sem dó. Você não acha que ele merece o mesmo?
Se ele nos visse juntos, se achasse que nós dois estamos juntos... iria doer
nele como ta doendo em você.
— Mas não seria real – Sophia lembrou. De fato não seria, mas...
— A dor que ele sentiria seria real – Chad finalizou – E ele merece sofrer
essa dor.
Continuava não parecendo uma boa ideia, mas Sophia estava machucada,
magoada, tudo junto. Ela estava cansada de ser boa e sentir a pessoa que
mais amava apunhala-la nas costas. Fingir um relacionamento com um
amigo, uma coisa que definitivamente não era verdadeira, não era de seu
feitio... mas ela estava exausta. Talvez fosse necessária uma mudança, e
uma dose de maldade viesse a calhar.
xxx
Só que, anos atrás, Lexie deu a ideia de uma festa surpresa para Arizona,
que na época morava junto com Callie no apartamento em frente ao que
Lexie vivia com Mark. Naquele momento Lexie deu a entender a Callie e
Mark que amava festas surpresa de aniversário desde os sete anos de idade,
quando os pais montaram uma. E obviamente, quando Callie ficou sabendo
que o aniversário da morena se aproximava, procurou Jackson e perguntou
se algo seria feito, já que Lexie, pelo visto, amava comemorar o aniversário.
Jackson não economizou em nada. A primeira coisa que ele pensou foi no
local e logo ficou decidido que seria na casa de Meredith, que era irmã dela.
Seria de fato uma festa surpresa e Meredith ficou encarregada da maior
parte, embora fosse péssima com festas. Jackson cuidou de pagar tudo,
comidas e bebidas, além da decoração, e convidou todas as pessoas que
sabia que a namorada gostava.
— Que bom que a aniversariante não está aqui, ela se roeria de ciúmes –
Callie cantarolou de volta. Mark franziu a testa.
— Não diga bobagens Torres – ele revirou os olhos, mas sentindo algo
dentro do corpo esquentar.
— Não estou dizendo – ela deu de ombros – Mas tanto quanto dá pra
perceber que essa garota quer você, se percebe que a Grey ta se roendo por
causa disso.
— Ela pode estar com Deus e continua sendo sua – Callie finalizou com um
sorriso irônico.
Não fazia mal, né? Mark não deu grandes ouvidos e se afastou das amigas,
indo até a cozinha pegar uma bebida. Estava enchendo a própria taça de
champagne quando a garota em questão apareceu. Ela estava bonita, com
um vestido atrativo e ele tinha certeza que em outros tempos, outras
circunstâncias, certamente a moça acabaria em sua cama. Só que não ali.
Não agora.
A questão era que Jackson e Lexie terminaram quando Mark estava com
outra mulher, uma cirurgiã oftamologista chamada Julia, que trabalhava em
outro hospital. Ele realmente pensava em dar um passo e tornar o namoro
mais sério, indo morar com ela, quem sabe formando uma família, quando
Lexie voltou para Jackson e Mark se deu conta do quanto aquilo o abalou.
O que Callie dissera valia ao contrário, ele poderia estar com qualquer uma
e ainda amaria Lexie. Então Mark foi homem o suficiente para terminar
com Julia antes que ela se machucasse achando que ele poderia dar mais do
que realmente estava disposto a dar.
Agora ele sabia que talvez fosse melhor estar sozinho já que não era
possível estar com quem realmente queria. E se isso valia para Julia, varia
para qualquer outra, Brenda inclusive.
— Dra. Cocatti, eu não quero ser rude, mas... – Mark suspirou – Eu não
estou interessado.
— Eu amo outra mulher – ele completou – Não é por você, é por mim. Eu
sinto muito.
Sem contar na cereja do bolo da noite, um papo para o fim dessa. Que seja
dada a largada.
~
Jesse dando um passo pra frente e três pra trás, Anahí encontrando motivos
pra tentar lembrar do que aconteceu no cativeiro e cada vez mais brigada
com o Keith, Chad aproveitando os retrocessos do Jesse pra avançar umas
peças no jogo, Mark dando um fora na interna e essa festa da Lexie que
promete!!! Muitos acontecimentos pra um só capítulo, e o próximo tem
maisss! Quem ta ansiosa?
Rafa
Capítulo 21 - So far so close
Lexie Grey não fazia a menor ideia do motivo pelo qual sua irmã Meredith
resolveu fazer um jantar de aniversário para ela. Ao menos era isso que ela
achava. Lexie estava acompanhada do namorado Jackson e, após um dia
inteiro de plantão exaustivo, por mais que amasse a irmã, o cunhado e os
sobrinhos, sua ideia de fim de dia independia de aniversários e
comemorações e ela só queria descansar e esperar que o dia seguinte
chegasse, já que seria um sábado de plantão no hospital.
Ledo engano.
Foi com a mais absoluta surpresa que Lexie entrou na casa de Meredith e,
após vê-la abrindo a porta com um sorriso misterioso, se deparou com luzes
acendendo e todos os amigos e conhecidos dela gritando um "surpresa!"
que ela definitivamente não poderia esperar. Lexie correu os olhos
atordoada pelo ambiente com um sorriso de choque sem acreditar que
aquilo era verdade. Sequer teve tempo de reagir, porque todos começaram a
abraça-la continuamente e ela mal conseguiu acreditar que um dia tinha
sido animada para festas de aniversário assim. Parecia que tinha sido em
outra vida. O que fizeram com essa Lexie de antes?
— É coisa do Jackson, eu não tenho nada a ver com isso – Meredith deu de
ombros – Eu queria te contar algo, na verdade, que eu acho que é um
presente de aniversário bem mais ao meu estilo do que uma festa surpresa.
— O quê?
— Eu estou grávida – Meredith abriu um sorriso discreto – Você vai ser tia
de novo. Ou madrinha, se aceitar o convite...
Curiosamente Meredith estava certa, aquele era o tipo de presente que fazia
muito mais bem para Lexie do que aquela festa. Logo o que quem as
observava viu foi Lexie ficar radiante – agora sim – e abraçar a irmã na
mesma hora. Quando Derek apareceu atrás delas Lexie deu o mesmíssimo
abraço nele e os sorrisos dos três estavam imensos. Seria o terceiro filho
dos dois e se Lexie já era completamente agarrada a Zola e Bailey, o que
diria de mais uma criança?
Claro que não era o que ela faria, afinal todos os seus amigos estavam ali,
até mesmo Anahí, que pelo visto tinha engolido a dificuldade de sair à noite
para ir ao aniversário dela. Fora que Lexie via Jackson se esforçando para
agrada-la e ser um bom anfitrião e quase se sentia culpada por não estar tão
feliz quanto em tese deveria. No fim ela acabou seguindo para a cozinha e
pegou uma bebida, engolindo rápido para o efeito do álcool provavelmente
deixa-la mais animada e fazer com que a noite fluísse melhor.
O que Lexie não esperava era, enquanto ela enchia o copo novamente logo
antes de sair da cozinha, ouvisse duas vozes conhecidas entrando ali e
falando de algo que lhe chamava a atenção. Algo que ela não esperava
ouvir.
A reação imediata de Lexie foi se virar após reconhecer as vozes. Suas duas
internas, Brenda e a outra que ela não tinha decorado o nome ainda – talvez
fosse Stacey ou algo do tipo – estavam aos risos como duas adolescentes.
Foi uma surpresa para elas também entrarem ali e encontrarem sua
residente, mesmo que estivessem na festa de aniversário dela. Lexie estava
perplexa com o que tinha ouvido, ela queria acreditar que era mesmo real.
E tinha como...?
Quando Lexie saiu avoada da cozinha ela viu Mark do outro lado da sala da
casa de Meredith com Sofia, sua filha com Callie, nos braços, conversando
com Arizona. Ele ria. Ela sentiu raiva. Sentiu ciúme. Estava óbvio o que
acontecia: Brenda já tinha avançado sobre Mark e certamente ele tinha
adorado e marcado algo com ela. Era de se surpreender que ele ainda
estivesse ali, que não tivesse rumado para a casa dele ou para qualquer
quarto daquela casa, até mesmo o banheiro... Lexie estava com raiva. Raiva
da interna estar na sua festa de aniversário, de Mark por despertar aquilo
nas mulheres, por despertar aquilo nela. A noite nem tinha começado, mas
o humor estava acabado.
xxx
— Erika arranjou uma candidata a best seller e a levou à Planet – Diana riu
com ironia – E quando eu cheguei lá, era a moça sequestrada há oito anos.
— Não precisa dizer nada, querido – Diana sorriu no canto da boca – O que
eu posso dizer? Ela é incrível. Não é a toa que você foi tão apaixonado por
ela.
Foi.
— Posso presumir que vocês se deram bem? – Poncho colocou as mãos nos
bolsos. Ele seguia desconfortável.
— Eu não vou dizer que seremos amigas íntimas porque seria estranho, mas
por que não poderíamos nos dar bem...? – Diana sorriu tranquila – Acho
que é bom para todos os lados. Nós não temos que ser rivais, inimigas.
Diana sabia. Não era preciso grandes explicações. Pelo modo como amava
Daniel, ela conseguia imaginar o quão destruídos Poncho e Anahí tinham
ficado com a perda daquele filho, mesmo depois de tanto tempo. Era difícil
de imaginar aquilo e Diana pela expressão de pesar tatuada no rosto do
marido notava o luto dele. E isso porque Poncho não tinha lhe contado a
verdade quando a descobriu...
— Não sinta – ela o soltou, voltando a acariciar seu rosto – Apenas saiba
que o que quer que aconteça, caso ela descubra algo mais... você tem
alguém pra dividir. A hora que for.
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Ouça "Ships in the night"
Mat Kearley
— Ele vai mesmo trazer a esposa? – Maite resmungou vendo Anahí revirar
os olhos.
— Você ta querendo dizer que o meu mau humor é falta de macho? – Maite
cruzou os braços mais ofendida ainda.
— Eu to querendo dizer, marrenta, que sexo cura qualquer cara feia, até
mais do que a fome – ele piscou – Nada como um pau bem grande na sua
boceta pra você perceber que nem o Poncho é capaz de te irritar tanto
assim.
— Por que vocês cismaram com o Mane...? – Maite revirou os olhos – Ele
não ta solteiro.
Nenhum deles – nem Christian, nem Anahí e muito menos Maite – esperava
pelo que Sophia preparou para aquela noite. A grande surpresa dela ainda
não tinha chegado. E como Anahí não fazia ideia, ela resolveu se adiantar
para resolver aquela incômoda situação.
— Eu vou chamar a Soph pra ficar conosco – ela anunciou, e quando Maite
ousou abrir a boca para reclamar, Anahí já tinha a resposta – Nem comece.
Ela é minha amiga e você precisa respeitar. Fiquei tempo demais sem as
duas, não vou perder nem um segundo a mais.
Contra esse argumento Maite nem tinha o que dizer. Assim como ela não
teve chance contra Anahí decidindo que Sophia ficaria ali com elas, a
própria também não teve como negar. Quando deram por si, estavam ali os
quatro – Christian e Anahí no meio, estando ele ao lado de Maite e ela ao
lado de Sophia, ambos falando sem parar e as duas mal trocando palavras.
Como deveria ser.
E eu estou no sofá
Para completar, ele não foi o único a reparar naquela mudança de aparência.
Chasing dreams
Perseguindo sonhos
A questão principal não era quem ele escolheria, era Poncho saber que,
mesmo seu casamento com Diana e o que construiu com ela ser algo bom
que lhe fazia bem, ele não conseguia não sentir falta de Anahí. Mas será
que se voltasse com a ex, ele igualmente pensaria na esposa?
Só que aquela noite não era de poucas surpresas, muito pelo contrário... a
primeira delas surgiu justamente quando Mane chegou na festa,
acompanhado de ninguém menos que Pia. A única que sorriu com aquela
presença foi Maite, satisfeita com o amigo ter ouvido seu conselho e dado
mais uma chance à amiga dela. Todos os outros pareciam ter sido
esbofeteados, em especial porque Maite disse em alto e bom som que Pia
era sua amiga e que ela tinha apresentado os dois, nas suas palavras, "feita a
operação cupido".
Sophia era uma das que não conseguia acreditar. Quando ficou sozinha ao
lado de Anahí e Christian, os três acompanhando com os olhos Maite indo
cumprimentar Pia e Mane não conseguindo evitar o olhar correr sobre ela,
ela não conseguiu não esbravejar.
— Pior que ela não percebe mesmo – Anahí constatou – Christian acabou
de falar sobre isso, que Mane estava disponível e ela nos encarou como se
ele dissesse o maior absurdo da face da Terra.
To make it anyway
— Vai ter um dia que eu não vou aguentar e jogarei toda a merda no
ventilador – Sophia prometeu – Ah eu vou.
Se Sophia faria aquilo ou não eles não chegaram a saber, até porque cinco
minutos depois a situação tinha se invertido. A cena estava péssima quando
Maite resolveu apresentar Pia à Anahí e Christian como uma amiga que
tinha apresentado a Mane, e os dois acabaram ficando ali na roda com os
três e com Sophia. Ou seja, ela estava bem ali quando o seu acompanhante
chegou na festa.
Sophia sabia que não sorria para Chad por fingimento, ela estava feliz por
ele estar ali. Durante cinco segundos até esqueceu o plano que os dois
armaram para provocar Jesse, algo que só lhe foi lembrado quando Chad
parou em sua frente e lhe deu um carinhoso beijo nos lábios. Beijo esse que
foi suficiente para calar o assunto que tinha naquela roda. Anahí não
entendeu o porquê do silêncio, para ela que não sabia da história toda
aquele era um homem qualquer com quem Sophia estava saindo, mas Maite
e Christian sabiam quem era Chad, sabiam o papel dele no fim do
relacionamento de Sophia com Jesse e já imaginaram de cara que ele estaria
desabando por dentro. E não evitaram olhar para o próprio e conferir sua
reação.
Se Jesse já estava destruído ao ver o selinho que Chad deu em Sophia, pior
foi quando percebeu que os outros estavam olhando-o. Se sentindo pegar
fogo, Jesse saiu dali na mesma hora, deixando uma Lindsey que nada
entendia – tal como Anahí – sozinha sem mais nem menos, sequer uma
explicação. Lindsey achava que aquela era apenas a externalização dos
ciúmes dele sobre Sophia. Ela não sabia que Chad tinha sido o pivô do
término de seu namorado com a ex, não fazia a menor ideia que para Jesse
o pior golpe possível era perceber que estava certo e que Sophia e Chad
poderiam de fato vir a ter alguma coisa.
— Any, você não conhece o Chad – Sophia disse após senti-lo envolvendo
sua cintura – Nós... estamos juntos.
— Por que vocês estão com essas caras...? – Anahí perguntou na mesma
hora.
— Não, Jesse é o cara que causou o fim do namoro dele próprio com a
Sophia quando resolveu ser extremamente abusivo e dizer pra ela que teria
que escolher entre ele e o amigo – Maite deu de ombros rindo – Ele merece
se ferrar agora.
— Então por que você estaria revoltada com ela? – Anahí franziu a testa.
— Porque eu não confio nesse cara – Maite fez uma careta – Eu realmente
acho que ele não tem boas intenções com ela. Não justifica o que o Jesse
fez, mas...
— Se eu to vivo é pra ver a Maite toda preocupadinha com a Soph –
Christian bateu palminhas.
Ninguém achava que aquela festa achava que ainda tinha espaço para o que
quer que fosse, qualquer surpresa mais. Lexie, a anfitriã, procurava dar
atenção a todos, mas a verdade é que ela estava com um olho em quem
estava em seu lado e outro em Mark estar ou não com a interna. Ela já tinha
ingerido uma boa quantidade de álcool que a ajudasse a levar aquela noite e
suas situações, a não ter um ataque de fúria ou sentar no chão do banheiro
chorando. Lexie não estava bêbada, mas também não estava sóbria.
Talvez se ela estivesse sóbria não fosse se levar tanto pela emoção em
relação aos fatos daquela noite. Lexie estaria mais no próprio controle, não
estaria à flor da pele. Ponderaria mais. Não aconteceu.
E o ambiente emudeceu.
Mais álcool, mais emoções. Ciúmes no início de uma festa, cansaço de todo
um dia, estômago vazio... Lexie via em sua frente o que ela precisava. O
que ela deveria querer. Exatamente no dia que tinha descoberto que o que
ela realmente queria não estava nem um pouco disponível, nem mesmo
interessado. Talvez aquele fosse um sinal. Talvez aquele devesse ser o
caminho dela. Era nisso que ela pensava quando respondeu.
— Sim.
Se formos contar percebemos que havia ali um corpo meio embriagado ali,
um sorriso aliviado e um coração destruído.
Não sei se cheguei a falar no post de quinta que esse capítulo era um tanto
agitado. Tudo acontece no aniversário da Lexie, ele é o divisor de águas pra
muita gente no capítulo, a começar pela própria aniversariante que é pedida
em casamento desse jeito totalmente inesperado. O sim dela foi um tombo
né? E dessa vez vcs NEM PODEM RECLAMAR QUE EU PAREI NA
MELHOR PARTE pq pelo menos vcs sabem qual foi a resposta!!!! (to
falando isso mas sei que teremos reclamações de novo, c'est la vie)
Aqui vemos Poncho sendo 50% honesto com a Diana (100% ainda vai
demorar alguns caps, não exijam demais, a web tem que render e macho
sendo macho tem que ter tb) e vemos sobretudo Jesse tendo que encarar a
Sophia com o Chad. Dia nada fácil pra ser o menino Soffer né?
Até lá!
Beijos,
Rafa
Capítulo 22 - Promise
A começar porque havia uma irmã daquela que seria a noivaque não estava
exatamente feliz.
— Ele me usou – Meredith acusou – Usou a festa e a minha casa para fazer
um pedido na frente de todos e não te dar qualquer chance de dizer não. Ele
sabia que, se me dissesse, eu não iria concordar...!
— Eu sei – Lexie deu de ombros – Mas ele me faz bem. Ele me faz feliz e
às vezes é melhor você ser feliz ao invés de procurar uma plenitude que é
inalcançável. Ele tem a mesma idade que eu, está no mesmo momento que
eu, quer as mesmas coisas que eu quero... ele não me machuca. Amar
demais machuca Meredith, e eu não quero mais me ferir nessa história toda.
Derek pessoalmente não conseguiu dizer mais nada porque ele sabia
exatamente a que Lexie se referia com aquelas palavras. Era claro para ele
que a cunhada fazia uma nítida comparação entre Jackson e Mark, a julgar
pelos parâmetros que usava – a idade, os objetivos de vida e a intensidade
do sentimento. Lexie gostava de Jackson, mas amava Mark, só que tinham
sido duas tentativas e em ambas ela saiu flagelada. Lexie estava cansada.
Parecia que, mesmo bêbada e mesmo sendo em público aquele pedido, ela
iria aceitar de qualquer forma. Parecia que era a forma dela de dar um ponto
final em qualquer chance de uma história sua com Mark.
É claro, Meredith e Derek não faziam ideia que, dentro da cabeça de Lexie,
Mark estava claramente envolvido – ou prestes a se envolver – com a nova
interna que não parava de lhe paquerar. Eles não tinham como saber o
quanto achar que Mark sempre seria o mesmo e que ela tinha se tornado
mais uma com quem ele flertava tinha influenciado naquela decisão.
— Eu amo você Lexie, eu sou sua irmã – Meredith suspirou longamente –
Eu vou apoiar qualquer decisão que você tomar, mas saiba... eu não
concordo com isso. Não mesmo.
— Tudo bem – Lexie deu um sorriso leve – Apenas esteja lá como minha
dama de honra.
— Eu estarei.
Callie Torres rapidamente percebeu que seu melhor amigo tinha escapulido
da situação e não estava mais ali, não hesitando em ir atrás dele. Ela deixou
a filha Sofia com Arizona e caminhou discretamente pela casa procurando-
o até encontrar Mark bebendo sozinho na cozinha com a expressão mais
desolada possível e, após uma simples troca de olhares, perceber que era
mais seguro tira-lo dali imediatamente.
— Eu recusei dormir com uma interna hoje – Mark murmurou – Por ela. E
agora...
— Você fez bem – Callie respondeu – Não seria uma boa ideia Mark,
convenhamos.
— Não seria? – ele arqueou as sobrancelhas – Que mal haveria? No fim ela
aceitou o pedido dele Torres. Ela vai se casar com ele. Ela vai ter com ele o
que eu sempre quis que ela tivesse comigo.
— Eu sei – Callie passou as mãos nos ombros dele – Mas não meta os pés
pelas mãos. Não faça nada do qual você pode se arrepender depois.
— Eu estou arrependido de não ter lutado por ela – Mark retrucou antes de
dar uma golada no próprio copo – To arrependido de não ter dado motivos
pra ela dizer que não.
Não era nem de longe o que Mark queria fazer. A resposta estava na ponta
da língua: era com Lexie que ele queria dividir a vida e ela agora estava tão
inalcançável quanto possível. Mas se nem mesmo Callie estava lhe dando
algum apoio naquilo, talvez fosse melhor desistir e seguir em frente.
xxx
Depois que Callie conseguiu tirar Mark dali e os dois foram embora, a
cozinha estava vazia novamente quando Anahí chegou ali. No meio do
próprio furacão entre o mal estar causado por Maite e Sophia na mesma
roda, por Sophia ter levado Chad, por Maite se recusar a ver o quanto Mane
e Pia não funcionavam juntos, Anahí precisava ficar sozinha. Já bastava o
fato de que ela não conseguia ver Poncho sem seus olhos serem atraídos
magneticamente para ele, ainda tinha todo o resto. Um pouco de solidão
não faria mal, e exatamente por isso ela escapuliu para a cozinha e agora
bebia um drink não alcoólico.
Não demorou para que ela fosse encontrada, é lógico. Anahí sabia que o
faro de Christian e o de Maite não deixaria que eles demorassem a notar
que ela tinha saído debaixo da asa deles. Mas quando ela ouviu passos na
direção da cozinha se surpreendeu com o fato de que quem apareceu ali não
era nenhum de seus amigos, e sim Diana.
— Graças a Deus você está aqui – ela parecia desesperada – Finja que está
conversando comigo.
— Apenas finja – Diana quase implorou – Pra ver se a Lindsey sai do meu
pé. Por favor!
— Quem é Lindsey?
Anahí prendeu a vontade de rir. Entre tantos assuntos que Diana poderia
puxar...
— Ele ainda usa? – Anahí tinha a sobrancelha erguida, fazendo a outra ter a
mesma reação.
— Deus... certas coisas nunca mudam mesmo – Anahí negou com a cabeça
incrédula sem acreditar – Ele ainda assiste mais jogos de futebol europeu do
que qualquer outra coisa?
Claro que Poncho deixou para comentar sua absoluta estranheza do que
tinha acabado de testemunhar quando eles já estavam longe o suficiente
para Anahí não ouvir...
xxx
A última surpresa que a noite reservava começou com uma ligação para o
celular de Jesse. Era da casa de Torrey, onde ele sabia que quem estava no
comando naquela noite era Bea, a babá que ele e Poncho compartilhavam
para cuidar de Samantha e Daniel. Naquela noite Bea estava com as duas
crianças, já que tanto Diana e Poncho quanto Jesse estavam na festa de
Lexie e Torrey tinha saído para algum lugar que ele não sabia qual era.
Jesse estranhou quando o celular tocou porque Bea não costumava ligar
dizendo nada, em especial quando ela estava no apartamento de Torrey.
Mas não custava atender, não é verdade? Ele aproveitou o fato de que
Lindsey não estava por perto – provavelmente ainda à caça de Diana – e
que ele estava num grupo cercado somente por Mane, Pia e Poncho, para
pedir licença e se afastar. Rapidamente atendeu, porque uma ligação
daquelas àquela hora só podia significar que Samantha estava dando
problemas à babá.
— Sam? Não, ela ta dormindo, os dois estão – Bea explicou e Jesse franziu
a testa. Se não era aquilo, então... – É que... acabaram de ligar pra cá.
Parece que a Torrey... ela sofreu um acidente. Ela ta no hospital, e eu não
sabia o que fazer...
Era irônico que ele dissesse à babá de sua filha que ela não deveria se
preocupar, quando ele se sentia no mar da preocupação...
Jesse queria estar se sentindo otimista, mas era inevitável, o peito tinha
apertado e ele mal conseguia respirar. Ele tinha que ir ao Mount Sinai
Hospital o mais rápido possível, era a única coisa que tinha em mente. Sorte
que a irmã de Lexie morava em Manhattan, ele não estava tão longe assim
do hospital. Imagens ruins passavam por sua cabeça e o deixavam
totalmente desconfortável e pessimista. Ele queria pensar que não era
aquilo, queria se convencer que estava sofrendo por antecipação, mas de
alguma maneira simplesmente não conseguia.
E de repente, Jesse ouviu uma risada do outro lado da sala que chamou sua
atenção. A risada de Sophia. Ele imediatamente percebeu que precisava
dela ao seu lado. Se fosse qualquer outra coisa ele jamais pensaria em
chama-la, em pedir que o acompanhasse. Afinal, Sophia estava com Chad, a
mensagem não poderia ser mais clara. Só que aquele caso era especial.
Jesse tinha certeza que Sophia entenderia. Ele caminhou decidido para ela,
deixando de lado os problemas dos dois, Chad e Lindsey e qualquer mágoa
que tivesse ficado no caminho.
Pelo tom de voz e a expressão engessada que via no rosto do ex, Sophia já
era capaz de perceber que o que quer que fosse, era sério. Ela deu um passo
a frente sem nem pensar, pronta para ir com Jesse e ouvir. Só que
rapidamente sentiu algo impedindo-a: a mão de Chad segurando o seu
braço.
— A Bea me ligou, disse que ligaram pro apartamento da Torrey e... – Jesse
murmurou agoniado – Ela sofreu um acidente e ta no hospital.
— Vá comigo – Jesse pediu – Por favor Soph. Não importa o que aconteceu
entre nós, eu... eu preciso de você do meu lado nesse momento.
— É claro que sim – rapidamente Sophia entrelaçou os dedos com os dele –
Não pense no pior. Talvez seja algo simples e tenham simplesmente
avisado.
— Não vamos pensar em nada agora – Sophia disse acariciando o rosto dele
– Ok? Me dê apenas um minuto pra... pra eu...
O minuto em questão era para ela dar uma satisfação a Chad, que para todos
os efeitos estava ali como seu acompanhante. Jesse entendeu, embora não
estivesse satisfeito, se encontrava numa posição que não podia exigir nada
dela. Sophia ao sair da frente dele já percebeu que Chad os observava sem a
mínima intenção de disfarçar e ela sabia exatamente porque. Caminhou até
ele pronta para dar uma explicação, embora não tivesse muita certeza que
ele iria aceitar as suas desculpas.
— Chad, eu...
— Olha, eu vim te dar uma satisfação, apesar de não precisar porque afinal
de contas nós não temos nada que seja real – Sophia disparou – Talvez você
esteja confundindo as coisas e isso não tenha sido uma boa ideia. Nós
falamos disso depois, porque agora eu realmente preciso sair.
— Não, não vai – ela o impediu – Não é hora nem momento por isso. Eu te
ligo depois.
xxx
Se Jesse já estava nervoso na festa de Lexie, parecia muito pior quando o
táxi no qual ele e Sophia estavam parou bem na frente do Mount Sinai
Hospital. Não era o hospital que Lexie trabalhava, por isso eles não
conheciam ninguém. Talvez isso deixasse Jesse mais nervoso e agoniado,
porque quando Sophia terminou de pagar o táxi e se virou para falar com
ele, viu que o ex já tinha sumido dali. Ela saiu caminhando para a
emergência e logo viu Jesse nervoso com o olhar fixo na enfermeira que
fazia a triagem. A expressão da moça quando voltou os olhos para Jesse não
foi das melhores, o que trouxe à tona o pessimismo em seu peito.
— Vou chamar o Dr. Hawkins para falar com o senhor, com licença...
Ela sabia que ele morder os lábios daquele jeito era prender o choro. Seu
primeiro ímpeto foi abraçar Jesse, dar algum conforto. Ela sabia que os
problemas que houveram entre eles não foram capazes de mudar algumas
coisas e essa era uma delas: os dois ainda encontravam uma espécie de lar
nos braços um do outro. Por pior que fosse ali, eles ainda teriam um ao
outro. Ela estaria ali para Jesse.
— Boa noite Sr. Soffer, Conrad Hawkins – o médico loiro estendeu a mão e
cumprimentou um Jesse que parecia um tanto atordoado – Eu sou o médico
da Emergência que atendeu a Sra. DeVitto e o Sr. Gehlfuss quando
chegaram ao hospital.
— Ela foi operada e, apesar de ainda estar em estado grave, está estável no
momento – o Dr. Hawkins explicou fazendo Jesse soltar o suspiro de mais
alívio possível – Mas infelizmente não pudemos fazer nada sobre o Sr.
Gelhfuss. Ele faleceu ainda na ambulância.
— Você sempre precisa dela por perto pra te manter calmo – Torrey
constatou – Me prometa que não vai perdê-la de novo.
— Pare de falar nesse tom mórbido – Jesse fez uma careta incomodado.
— Quando nós estávamos juntos era cômodo pra você porque eu estava ali,
não tinha nenhum tipo de esforço – Torrey respondeu mordendo os lábios –
Agora é diferente. Você nunca olhou pra mim como olha pra ela. Eu nunca
fui capaz de te acalmar como ela consegue. Você não pode simplesmente
desperdiçar isso.
— Você quer parar com isso? – ele revirou os olhos – Ok. Eu prometo.
— Olha quem fala – ele ironizou – Quer que eu traga a Sam aqui pra te ver?
— Eu quero que ela lembre de mim bem – ela ressaltou – E não machucada
desse jeito.
— Vou ignorar esse seu papo horroroso e pensar apenas que não seria bom
pra ela te ver machucada. Ok?
Com Sophia o tom da conversa minutos depois não foi tão diferente. Ela
não tinha qualquer vergonha de se mostrar emotiva e sensível e segurava as
mãos da amiga com um sorriso tranquilo nos lábios. Parecia sentir um
alívio imenso por Torrey estar viva e aparentemente bem. Só que, tal como
Jesse, não gostou muito do modo como ela começou a falar...
— Nick está morto não é? – ela perguntou. Sophia ficou nervosa, ela não
tinha se preparado para responder aquilo tão rápido.
— Ele não merecia isso – Torrey suspirou longamente – Mas tudo bem. Eu
logo irei encontra-lo.
— Pare de falar isso pelo amor de Deus – Sophia se continha para não
chorar – Que coisa mais mórbida...!
— Eu quero que você me prometa que vai cuidar da Sam quando eu não
estiver mais aqui – Torrey pediu – Eu preciso que você esteja com ela e
com o Jesse, porque vai ser duro.
— Torrey pare com isso pelo amor de Deus – Sophia quase implorava.
— Eu não tenho muito tempo, eu estou fraca – ela disse apertando a mão da
amiga – Jesse não poderia ter achado uma mãe melhor pra nossa filha que
você. Eu vou tranquila porque sei que você vai cuidar bem dela.
— Torrey...
— Eu sei que vocês vão superar toda essa bobagem e vão ficar bem – ela
continuou, ignorando a súplica de Sophia para parar – Dê um beijo nela por
mim. Conte aquela história que ela gosta de ouvir antes de dormir e fale de
mim quando ela não lembrar mais. Doeria pensar que ela pode acabar me
esquecendo.
— Vamos parar com isso ok? – Sophia suspirou longamente – Ande, você
ta bem. Você vai sair disso, nós vamos rir disso juntas.
— Sim – Jesse fez uma careta – É exagero dela, logo a Torrey vai estar
bem.
— Eu não consigo.
Mas antes que eles pudessem virar as costas e ir embora, um sinal parecido
com alarme tocou da porta do quarto de Torrey. Sophia e Jesse se viraram
ao mesmo tempo, vendo o médico que os recebeu junto com a enfermeira
da triagem, correndo de volta para lá. O ímpeto natural de Jesse foi entrar
no quarto mas Sophia o segurou. Ela estava branca como um papel, mas
agora sabia o que estava para acontecer. No fim Torrey estava certa pelo
visto.
— Eu sinto muito – ela ouviu o médico dizer – Nós fizemos tudo o que
pudemos...
~
Helloooooo galera!
Por fim (ou por meio porque durou meio capítulo), o acidente da Torrey que
culmina na morte dela. Nem um pouco esperado por ninguém! Será que o
Jesse cumpre a promessa que fez pra amiga no leito de morte dela? Como
vai ser o processo dele sendo pai solteiro? Vem a tão sonhada maturidade?
Vamos aguardar!
Beijos,
Rafa
Capítulo 23 - Maternal bond
No fim não foi Jesse quem foi render a babá e sim Poncho e Diana. Sophia
ligou para o amigo aos prantos dando a notícia e lhe deixou completamente
chocado, fazendo-o sair com a esposa o mais rápido possível da festa de
Lexie para ficar com o filho e a afilhada. Afinal, Sophia e Jesse ainda
demorariam muito mais. Tinha uma infinidade de burocracias para serem
resolvidas e os dois estavam completamente abalados. Pelo visto, um teria
que apoiar o outro naquele momento delicado.
Nem Sophia nem Jesse conseguiram pregar o olho naquela noite. Afinal,
eram quase quatro da manhã quando os dois tinham tomado um banho e
agora descansavam. Eles sequer conseguiam conversar, por mais que
houvesse muito a ser dito. Sophia vestiu uma roupa de Torrey, Jesse ficou
com a mesma roupa de antes, ele sentado numa poltrona que tinha na sala,
ela recostada no sofá com um olhar vago. Jesse viu Sophia chorando em
silêncio e quis se aproximar, não sabendo se deveria. Acabou vendo o sono
dela vencê-la mas não conseguiu se entregar. Depois que Sophia cochilou
foi quando Jesse se sentiu completamente à vontade para finalmente chorar.
Sophia obviamente acordou no susto. Jesse não conseguiu não rir, mas não
durou tanto tempo assim. Talvez fosse melhor se Sophia não estivesse ali
num primeiro momento, porque agora ele vi que a presença dela gerara uma
reação esfuziante em Samantha. Seria muito pior tirar isso dela, porque eles
não podiam simplesmente não dar a notícia ruim...
— Você ta aqui! – Samantha repetia sem parar – Na minha casa! Quer dizer
que você e meu papai voltaram? Diz que sim!
— Não, eu não vou – Jesse suspirou longamente – Senta aqui no meu colo.
A reação natural de Sophia foi levantar do sofá e sentar de frente para Jesse,
o mais perto possível dele e de Samantha. Ela sabia que a menina precisaria
de todo o apoio do mundo naquele momento, então era melhor que
estivesse o mais aconchegada possível. Samantha reparou naquilo e dessa
vez não comemorou. Pelo contrário, a menina estava com a testa franzida e
olhava do pai para a "tia" esperando um tanto apreensiva pelo que estava
por vir.
— Mas você não ta sozinha – foi a vez de Sophia falar sorridente, embora
destruída por dentro – Ela jamais deixaria você sozinha... nós estamos aqui,
seu pai e eu. Nós sempre vamos estar com você Sam.
— Sam, eu sinto muito meu amor – Jesse disse envolvendo a filha que
agora não parava de chorar – Eu infelizmente não posso.
Não estava sendo fácil, nem um pouco. A própria Sophia sentia as lágrimas
quentes escorrerem por seu rosto, mesmo lutando para que elas não
saíssem, ao ver Samantha aninhada no colo de Jesse chorando sem parar.
Seu ímpeto natural foi se aproximar deles e acariciar as costas da menina,
sentindo que daria qualquer coisa para tirar aquele sofrimento dela, que
morreria no lugar de Torrey para não deixar que a menina passasse por
aquela dor – mesmo havendo uma mensagem clara em sua mente que
Samantha não reagiria muito diferente se fosse ela morta no lugar de sua
mãe.
A questão é que o título de mãe fazia diferença para a menina, não para ela.
Sophia há muito sentia como se Sam também fosse sua filha. Ela amava
aquela criança como se tivesse saído dela e percebia que esse tipo de amor
não dependia que uma criança crescesse em seu útero. Ela agora notava
aquilo mais claro do que nunca quando se dava conta que trocaria a própria
vida pela de Torrey se isso significasse que Samantha não iria mais sofrer.
Vendo Jesse trazê-la para perto e aninhando as duas, sabendo que ele ficaria
daquela forma o tempo necessário para a dor da filha diminuir um mínimo
que fosse, ela se lembrou da promessa que Torrey a obrigou a fazer pouco
antes de morrer. Não que fosse necessário para Sophia prometer que
cuidaria de Samantha... mas o que a impressionava era que Torrey sabia que
sua filha precisaria de uma mãe. Sabia que era em Sophia que ela
encontraria essa mãe. E desde aquele momento a promessa mudou. Sophia
não prometia mais para a falecida amiga, mas para si mesma. Ela estaria ali
para Samantha. Ela seria o tampão daquele buraco para a menina e daria a
ela todo o amor que certamente precisaria em seu momento mais difícil.
xxx
Anahí só descobriu que a filha de Jesse tinha perdido a mãe no dia seguinte,
quando já estava em casa há muito e a festa de Lexie estava mais do que
encerrada. Ela descobriu quando Christian lhe enviou uma mensagem
dizendo o motivo pelo qual Jesse e Sophia tinham saído daquela forma
abrupta da festa. Christian tinha descoberto por Mane, que tinha sido
avisado por Poncho. Ele se preocupou em avisar a Anahí porque ela era das
poucas que mantinha uma boa relação com todos os amigos e certamente
desejaria apoiar Jesse e Sophia no pior momento deles, em especial porque
não pôde fazê-lo em nenhum outro antes.
Só que a notícia daquela morte abalou Anahí de uma forma que ela não
esperava. Anahí sentia por Jesse, por Sophia, que tinham perdido a amiga,
mas quem realmente habitou seus pensamentos foi Samantha. Ela se
lembrava da filha de Jesse das duas únicas vezes que a tinha visto – quando
ela foi com o pai visita-la no hospital e depois, em sua festa de boas vindas
ao ter alta. Samantha era uma criança alegre e comunicativa e doía em
Anahí a ideia de que uma criança tão pequena teria que enfrentar uma dor
tão devastadora e inevitável.
Mas logo Anahí se deu conta que o que a machucava de verdade era a ideia
de perder a própria mãe. Samantha ainda tinha Jesse, mas Anahí cresceu
somente com a mãe e os avós, aterrorizada pela ideia de algo acontecer a
Karen durante boa parte da infância. Anahí era completamente agarrada
quando menina com Ellie e Arthur, isso não tinha mudado com o passar dos
anos, mas ela sabia que sua mãe era sua mãe. Pensar naquela ideia que
estava afastada, quem sabe enterrada, há tanto tempo, um medo de criança,
a fez refletir sobre o seu presente: o quanto estava afastada da pessoa que
tanto temeu perder.
Logo outra ideia esbofeteou Anahí: ela teve medo de perder Karen e no fim
fora a mãe quem a tinha perdido. E se lhe doía pensar na morte da mãe,
conseguia sentir a exata dimensão de como tinha sido para Karen achar que
ela estava morta, algo que violava a ordem natural das coisas de ver uma
mãe ter que enterrar a filha. Só que Anahí nem sequer tinha deixado um
corpo de consolo para sua mãe. Karen há oito anos não tinha como
imaginar que Anahí ressurgiria viva, mesmo machucada e totalmente
traumatizada, que haveria uma nova chance. Ela pensou na mãe lidando
com seu desaparecimento, nutrindo esperanças de que ela voltaria...
esperanças essas que pouco a pouco devem ter ido morrendo junto com a
Anahí que ela achava que estava morta, até ela ser obrigada a jogar a toalha
para não sofrer mais. Ou, quem sabe, trocar o sofrimento: deixar de
acreditar que a filha vivia para aceitar o luto. Difícil saber o que escolher.
Foi o momento que Karen não achou que seria ainda mais pega de surpresa
do que já estava sendo. Mas foi, algo que se deu conta somente quando a
filha a abraçou sem qualquer aviso prévio. O choque dominou o corpo dela,
em especial quando Karen percebeu que Anahí chorava. Não demorou mais
a reagir, abraçando-a de volta sentindo que queria passar todo o conforto e
carinho do mundo naquele abraço. Afinal, desde que descobriu sobre Keith
Anahí se afastou da mãe e manteve uma relação distante e gélida com ela.
Agora ela gratuita e voluntariamente abaixava a guarda. Karen tinha que
aproveitar aquela oportunidade.
Era óbvio que isso desencadearia uma dor em Karen como se fosse ela que
tivesse machucada. Logo as duas se sentaram frente a frente e Anahí contou
que, no dia que mãe e filha estavam praticamente sem se falar, quando
Karen a deixou no hospital, fora a manhã seguinte que ela se lembrou do
próprio aborto. Anahí não chorava mais, porque de certa forma ela tinha se
acostumado com a dor, e Karen lutava para não fazê-lo, porque a notícia era
nova, ela estava abalada. Ela contou da regressão, da dor de reviver aquilo,
de como contou para Poncho e como eles inevitavelmente se beijaram.
Disse que eles vinham tentando ser amigos, mas que não era algo fácil. Não
que Karen precisasse ouvir aquilo para ter essa constatação.
— Seria mais fácil se a Diana fosse uma chata pegajosa – Anahí murmurou
rindo um tanto amarga – Porque aí eu conseguiria odia-la. Eu deveria odia-
la, porque ela ta tendo a vida que era pra ser minha. Ela é mãe da criança
que poderia ser o meu filho. Meu bebê seria até mais velho, ele teria quase
oito. Talvez tivesse irmãos.
— Não pense nisso – Karen recomendou – Vai doer mais se você ficar
presa no que poderia ter sido.
— Eu sei, mas... – Anahí suspirou antes de continuar – Eu ainda amo tanto
o Poncho... e eu sei que ele me ama também. Eu sinto isso no olhar dele,
nas palavras, no beijo... só que ele também a ama. E poxa, ela é tão legal...!
Eu nem posso pedir que ele largue tudo porque a Diana é uma mulher
incrível, e eles têm aquela família de comercial de margarina... é só que...
eu não sei como tira-lo de mim. Eu não sei como seguir em frente, porque
eu tenho pânico só de pensar em estar com outro homem. Eu acho que ele é
o único com quem eu conseguiria.
— Deixe que ele saia de você aos poucos, não tente arranca-lo – Karen
sugeriu – E não aja como se você tivesse ficado inapta pro amor, butterfly.
Pode ser que você encontre alguém no seu caminho que te faça perder o
medo aos poucos. A terapia pode te ajudar com isso. Você tem conversado
com a Dra. Balfe?
— Ela quer que eu faça regressão e... eu não sei se eu to pronta – Anahí
confessou – Eu tenho medo do que mais pode estar reservado pra mim. Do
que mais eu posso ter esquecido, da dor que seria lembrar do que quer que
seja...
— Mas é algo pelo qual você precisa passar – Karen apertou as mãos dela –
A mentira bonita é pior do que a verdade feia. Você precisa saber pra
conseguir superar. Os medos não vão passar enquanto você não encarar os
seus fantasmas.
— Talvez isso te ajude mais pra frente – Karen insistiu – Talvez, depois que
você lembrar, você comece a realmente perder esses medos. E consiga
seguir em frente como tanto quer.
Aquele incentivo era realmente decisivo para Anahí. Ela se forçava a pensar
no que a mãe dissera, que talvez houvesse uma luz no fim daquele túnel
escuro e imenso, uma esperança no final daquela história toda. Talvez
Poncho não fosse a história de amor de sua vida, talvez não a única, e
houvesse algo que a esperava, um novo capítulo. Alguém que a faria
superar e seguir em frente, como ele tinha seguido.
Ela podia estar perto disso, mas pra isso precisava se abrir. E pelo visto,
Karen estava certa... era na terapia que Anahí encontraria o seu caminho. E
era lá que ela iria procura-lo.
xxx
O funeral de Torrey foi carregado com toda a dor que um funeral pode ter.
Um padre dava o tom da cerimônia no enterro e Jesse, sentado ao lado da
filha, estava próximo aos pais da falecida ex, sentados na primeira filha
mais próximos ao caixão. Do outro lado de Samantha não estava nenhuma
de suas duas avós e sim Sophia. A menina fazia questão que a tia estivesse
ao seu lado e não aceitou nenhuma outra possibilidade. Desse modo, todo o
funeral Sophia esteve de um lado da menina e Jesse do outro. Um prelúdio
para o que provavelmente iria acontecer dali para a frente na vida dela.
Sophia bem que preferia não estar ali. Ela tinha oferecido a Sam que as
duas não fossem ao funeral, mas a menina fez questão de estar presente no
último momento da mãe. Nem ela, nem Jesse e muito menos a família se
opôs àquele pedido. Sophia queria poupar Sam de ver os avós às lágrimas
se despedindo da filha, mas aos poucos se deu conta que aquele momento
pertencia à ela também. Afinal, era seu adeus à própria mãe. Samantha
bateu o martelo que queria ir e que queria estar entre o pai e a tia durante o
funeral. E assim foi.
Mas nem todos os presentes estavam felizes com o modo como as coisas
tinham se configurado. Se Sophia tinha evitado maiores problemas
simplesmente proibindo a presença de Chad ali – algo que ele não gostou
muito, mas foi obrigado a aceitar – o mesmo não foi possível com relação a
Lindsey. Afinal, ela era ainda a namorada de Jesse, obviamente ela ainda
estaria ali, em especial porque Jenna e Shayne, as irmãs dele, apoiavam
incondicionalmente aquele namoro apenas porque seguiam ressentidas por
Sophia ter terminado com ele e continuado amiga de Chad.
Lindsey teve que se conformar em ficar ao lado das irmãs de Jesse e de Jill,
sua mãe, enquanto lançava olhares completamente invejosos para uma
Sophia que, diferentemente dela, apenas cumpria um papel que lhe restou.
Ela estava ao lado de Samantha consolando a menina como faria mesmo
que não tivesse prometido nada à sua falecida mãe. Além disso, dado o
abalo emocional de Jesse e dos pais de Torrey, ela quem organizou o funeral
e a recepção depois dele. Sophia não queria mostrar qualquer coisa com
tudo aquilo, ela apenas fazia o que deveria ser feito e ponto. E ainda fazia
enquanto estava sofrendo por ver a amiga ser enterrada, por ver aquela
criança perder a mãe, por ver o sofrimento estampado e contido na
expressão de Jesse. Diferentemente de Lindsey que, num recalque imenso,
não sofria nada.
— Até que enfim – ela murmurou para o namorado num tom irônico que o
fez franzir a testa.
— Até que enfim você lembrou que tem namorada – Lindsey acusou – Quer
dizer, lembrou não né? Porque se eu não tivesse vindo até você...
— A mãe da minha filha morreu – Jesse lembrou – Ela era minha amiga.
Era alguém importante pra mim. Eu senti que morria por dentro quando tive
que contar pra minha menina de cinco anos que a mãe dela estava morta.
Então me perdoe se a minha prioridade não é você. Estou ocupado demais
cuidando de mim mesmo e da Samantha nesse momento.
— Eu dormi na mesma casa que ela – Jesse corrigiu – Olha, isso é ridículo.
Sophia era amiga da Torrey também. Ela está sofrendo como eu estou e ta
me dando uma força incrível nisso tudo, a força que a Samantha precisa...
— Você não tem um pingo de respeito pelo meu luto – Jesse a acusou – Pelo
fato de eu ter perdido a minha melhor amiga, pela minha filha ter perdido a
mãe dela. Você ta com esse ciúme patético da Sophia e eu sinto muito por
você Lindsey, mas eu não vou me afastar dela. Não vou mesmo...!
— Não – Jesse impediu – Por favor, não apareça lá. Eu não to com cabeça
pra isso agora. Eu... eu preciso botar tudo no lugar. Seja madura e sensata
por um minuto que seja, eu não tenho tempo pra lidar com essa sua crise. A
minha filha precisa de mim. Ela é a prioridade agora.
Lindsey obviamente não gostou nem um pouco, afinal ela era a namorada
de Jesse, era pra ela estar naquele lugar que Sophia ocupava sem fazer
qualquer esforço. Ela não gostava nem um pouco daquela situação, mas
logo viu que não tinha nada a ganhar forçando ainda mais a barra. Jesse
estava decidido a afasta-la ao menos naquele momento e ela, mesmo
morrendo de raiva, sabia admitir a derrota da batalha para não terminar
perdendo a guerra. Ela daria um passo para trás disposta a voltar o mais
rápido possível, porque não iria perder o namorado de forma alguma.
Mas essa não era a questão para Jesse. Ele não pensava em Sophia como
mulher naquele momento, e sim no modo como ela se comportava com
relação à sua filha. Parecia que a morte de Torrey tinha servido para colocar
as coisas em seus respectivos lugares e trazer a lucidez dele à tona. Se
Sophia importava para Samantha e ajudaria a filha a sofrer um pouco
menos naquele processo todo, então ele abriria as portas da sua vida de
volta para a ex e a receberia de braços abertos, enterrando de vez o passado
entre eles. Pouco importava os motivos do término dos dois, se Sophia
estava com Chad, se ele estava com Lindsey. Tudo o que importava agora
era se Samantha ficaria bem. E para que isso acontecesse, Jesse faria o que
for.
~
Acho que vcs não esperavam que a maturidade do Jesse viesse tão rápido
assim né? Hahahahaha. Se não, espero que a surpresa tenha batido
positivamente. Tem coisas que demoram a chegar, mas quando chegam é no
vrau.
Todo mundo aqui queria botar Samantha num potinho, acertei?
Podem ficar tranquilas: a morte da Torrey não será em vão. E eu não digo
isso apenas para o núcleo Sophia/Jesse/Samantha, mas a própria Anahí
sentiu o impacto dos acontecimentos e decidiu colocar as coisas no lugar e
ajeitar a relação com a mamai. Como não amar Karen e sua butterfly?
Estou cerca de 10/11 caps na frente das postagens e digo a vocês que to
sedimentando tudo o que preciso pra trama engatar num ritmo muito bom.
Por volta do 36 coisas muito intensas começam a acontecer e acho que aí
não paramos mais hahahahah. Ansiosas?
Rafa
Capítulo 24 - Other day
— Não fica triste Sam – Daniel disse – Sua mamãe agora é uma estrela lá
no céu.
— Papai disse que ela agora é um anjo que cuida de mim – a menina
murmurou – Mas eu queria que ela tivesse aqui comigo.
— Mas você não ta sozinha – ele insistiu – Tia Soph e tio Jesse vão cuidar
de você. E eu sou seu amigo. Não gosto de você triste.
Um arrepio passou por Poncho quando se virou para trás e viu Anahí parada
logo atrás dele. Ela usava um comportado tubinho preto e o cabelo estava
preso num coque bem feito. Formal e delicada como costumava ser.
Estonteante como ele se lembrava.
— Você acha? – ele sorriu orgulhoso – Eu também acho, mas muita gente
diz que ele é a cara da Diana. Intriga da oposição, eu diria.
Anahí não pensou, ela viu. Mas não queria passar para Poncho a impressão
que os observou demais, mesmo tendo sido exatamente assim.
Amigos que sentiam o que eles sentiam um pelo outro podem realmente ser
chamados assim...?
— Papai...
— Oi Dani – Anahí sorriu derretida pelo menino – Tudo bem com você?
Você é igualzinho o seu pai.
Daniel não precisou de mais argumento algum para deixar o pai sozinho
com a amiga. Ele estava ferrenho na missão de consolar Samantha a todo
custo, então baixou que Poncho dissesse para ele voltar e o menino
obedeceu. Se antes Anahí tinha nos lábios um sorriso bobo ao ver o filho do
ex-namorado ali, aumentou depois que o menino se afastou.
— É inevitável – Anahí confessou – Eu não consigo não olhar pra ele e não
imaginar o nosso filho.
Como ele iria consola-la então? Como ele dizia que sentia muito, quando na
verdade ele voltava para casa e colocava Daniel na cama enquanto Anahí
seguia sozinha, sem ele e sem a criança que os dois perderam? Era difícil.
Por isso ele pensava demais e não conseguia dizer nada, porque a verdade
era que nada do que Poncho dissesse seria suficiente.
— Vamos lá, você não precisa ficar assim – Anahí sorriu – Eu estou
superando. Aos poucos, mas estou.
— É que é difícil pensar nisso – Poncho mordeu os lábios – Porque depois
que começou a parar de doer... na verdade, só começou a parar quando eu
comecei a imaginar como ele... ou ela... como essa criança seria.
— Eu não sei por que, mas... na minha mente é ela – Poncho respondeu não
conseguindo não sorrir – Talvez seja porque eu já tenho um menino em
casa. Então... ela tem os cabelos castanho claros como os seus são
naturalmente... tem os olhos verdes como os meus, as bochechas redondas e
um ar de menina doce. Ela é fácil de lidar, é carinhosa e compreensiva... é
uma criança encantadora.
— Fácil de lidar, bem sua filha – Anahí sorriu – Você imagina uma criança
à sua imagem e semelhança, assim é mole!
Anahí bem que queria ter uma resposta para aquilo, mas ela estava ocupada
demais tentando não fazer seu rosto denunciar o quanto estava derretida por
dentro. Poncho lhe encarava com ternura, tinha um sorriso mágico no canto
da boca dele, seus olhos brilhavam. E ela, ao mesmo tempo que estava feliz,
sentia uma dorzinha no coração com aquelas palavras, já que retratavam
apenas sonhos. Aquela criança imaginária nunca seria real, considerando
que eles jamais ficariam juntos novamente.
— Que vocês estavam brigadas? – ele riu – Dava pra enxergar da outra
esquina...
— Ai idiota – Anahí revirou os olhos – Eu não aguentava mais ficar brigada
com ela.
— Quer dizer que eu e ela não vamos mais brigar por causa dele – Anahí
corrigiu – Nem de nada.
— Eu acho de bom tamanho – Poncho observou – Sei que aos poucos você
vai acabar aceitando-o, porque vá por mim... é impossível haver um ser
humano que não goste do Keith. Todo mundo gosta dele.
— Já dizia minha mãe, eu não sou todo mundo – Anahí deu de ombros.
— Por que você paga tanto pau pra ele...? – Anahí estreitou os olhos.
— Porque eu testemunhei o quanto ele salvou a sua mãe depois que você
desapareceu – Poncho confessou – Ele cuidou dela, a tratou como a coisa
mais importante do mundo pra ele, o que não é só ela, você também é. E
sinceramente... Keith é um cara incrível. Você sabe com o que ele trabalha?
— Com o quê? – ela fez uma careta – Pelo que eu vi ele tem dinheiro, então
deve ser um empresário de sucesso, arquiteto, ou daqueles advogados
babacas que foram meus professores em Georgetown, acertei?
— Errou – ele disse com prazer – Ele trabalha com jovens em depressão.
Faz palestras motivacionais contra suicídio. Tem livros publicados. Por isso
ele tem dinheiro. Ele é conhecido internacionalmente, rodou a Europa
inteira salvando adolescentes.
Finalmente Poncho disse algo que deixou Anahí realmente surpresa. Por
isso ela não esperava.
— Tudo começou quando ele salvou um garoto de se matar na frente dele,
na cidade onde a sua mãe morava, há muitos anos – Poncho continuou
contando, mesmo com Anahí fingindo que não se importava – Ele ainda
vivia uma vida comum naquela época, era professor. Ele ajudou o garoto,
Jimmy Edwards, a enfrentar a depressão e encontrar um caminho como
locutor esportivo. E desde então ele trabalha com isso.
Anahí não apenas não tinha certeza, como estava disposta a lutar totalmente
contra aquela história toda. Por mais bonita que fosse a história de Keith,
por mais admiração que ela tivesse pelo que Poncho acabara de lhe contar –
embora não admitisse – isso não mudava nada. Keith continuava sendo o
pai ausente da vida inteira dela, o culpado pelas lágrimas de Karen, por
Anahí se sentir mal e por vezes sozinha. Isso não era algo que se esquecia
fácil assim. Ela podia perdoar a mãe, podia aceitar o casamento dos dois,
mas perdoar o pai... isso eram outros quinhentos.
xxx
Mane não pôde ir ao funeral de Torrey. Era dia do treino do time dele, havia
um jogo muito importante no dia seguinte, ele simplesmente não podia
faltar. Naquela manhã ele fez uma ligação para Jesse, se desculpando com o
amigo pela ausência e obviamente obtendo sua compreensão. Para Sophia
Mane mandou uma mensagem consideravelmente carinhosa como sabia
que a amiga merecia indicando seu pesar pela situação e oferecendo seu
apoio. Tal como o ex-namorado, Sophia respondeu de forma feliz e
agradecida e assim a história se encerrou.
Só que aquela era uma terça à noite, e de algo Mane simplesmente não
podia fugir: o jantar semanal de família na casa de suas mães. Entre elas
Priscila gostava de cozinhar e Jade de comer com a família reunida na
mesa, por isso as terças eram os dias fixos dos quatro se encontrarem e
Mane por isso evitava marcar compromissos para garantir que estaria lá.
Naquela tarde, assim que o treino terminou, ele saiu direto do trabalho para
a casa de suas mães, acreditando que aquela seria uma noite tranquila e que
ele iria desabafar sobre a semana difícil e conversar sobre a situação
complicada que Jesse e Sophia certamente viviam pela perda de Torrey.
Assim que Mane pôs os pés dentro da casa, sua irmã Kamilla já estava a
postos com o ar de veneno de sempre. Boa coisa não era.
— O que foi que eu fiz...? – ele perguntou novamente franzindo a testa, mas
não chegou a ouvir a resposta.
— Ah, aí está você! – ele ouviu a voz da mãe acusando e olhou para cima,
vendo Jade descer as escadas com a expressão de revolta no rosto e Priscila
logo atrás com uma careta – O traidor...!
— Oi mamãe – Mane disse se referindo a Jade que parecia revoltada com
ele, logo se virando para a outra mãe que também estava ali – Oi mãe...
— Por que você ta com essa cara de que comeu e não gostou? – Priscila
perguntou cruzando os braços.
— Talvez ele tenha comido de fato e não gostado – Kamilla deu de ombros.
— Garota cala essa boca – Mane resmungou quase tacando a irmã longe –
É que... sim, ela é legal, é divertida, é incrível. Mas ela não é a Maite.
— Então podemos resolver isso de uma forma mais fácil do que eu pensava
– Jade continuou vendo uma careta do filho se formando – E nem adianta
fazer essa cara! Você sabe que tudo poderia se resolver de uma forma bem
simples: com você deixando de ser covarde e se declarando pra ela...!
— Como que eu vou me declarar se ela mesma que apresentou a Pia pra
mim depois que eu a chamei pra ir no jogo e insistiu que eu desse uma
chance...? – Mane questionou cruzando os braços com ar de cansado.
— Nem passa pela sua cabeça que ela pode fazer isso tudo porque não faz
ideia do que você sente por ela? – Priscila perguntou.
— Você não vai machuca-la caramba, você vai facilitar a vida dela! – Jade
revirou os olhos – Olha Mane, se você continuar nesse lenga-lenga o único
a perder é você mesmo, de verdade. Porque se não for fiel a si mesmo e não
escutar seu coração... meu filho, você vai estar condenado a ficar
eternamente com a garota que é boa, divertida e o que for, mas que não é a
que você que você ama.
xxx
Havia dias que não importava o quanto se tinha feito, se muito ou pouco, o
cansaço ao fim não era físico, era emocional. Era o desgaste. Aquele era um
dia exatamente assim, só que o cansaço era em dobro. Quando Sophia
chegou no próprio apartamento ela mal sentia os próprios pés. A noite
anterior àquela ela praticamente não tinha dormido porque, com Jesse
lidando com Samantha e os pais de Torrey em frangalhos, coube a ela
cuidar de todos os detalhes do funeral.
E não tinham sido poucos detalhes. Embora fosse uma recepção pequena,
Sophia com sua mania de perfeição ficou completamente exausta. Isso fora
a situação em si, lidar com toda aquela gente, e depois fechar a confeitaria
para a recepção, servir a comida, ser atenciosa com os familiares e amigos
de Torrey... era o suficiente. Isso porque Sophia não teve que passar o dia
com Samantha, porque bastava olhar nos olhos da menina e ver seu
sofrimento para o coração dela estar completamente destruído.
Só que Sophia nem chegou a deitar na cama antes da campainha tocar. Ela
tinha acabado de vestir um pijama após sair do banho e calçar uma pantufa
quando ouviu o barulho. Sophia ao fim daquele dia esperava que fosse
Chad do outro lado da porta lhe cobrando explicações que ela sabia que não
devia, afinal eles no fundo não tinham nada. Mas não era ele, não era
nenhuma das pessoas que ela poderia cogitar embora não o tivesse feito.
Quando Sophia abriu a porta, ela viu Jesse de mãos dadas com Samantha,
ambos ainda com a roupa do funeral e a menina com uma mochila nas
costas e os olhos vermelhos de provavelmente ter chorado de novo.
— Não briga com o papai, tia Soso – Samantha disse com a voz embargada
se agarrando nas pernas da tia no segundo seguinte – Eu não queria ir pra
casa... eu queria você...
E ponto.
Sophia obviamente voltou todas as atenções que tinha para a menina. Ela
deu um banho em Samantha, vestiu a menina com o pijama que estava
dentro da mochila enquanto ouvia Jesse contar que tinham colocado os pés
em casa e a filha fez um escândalo chorando querendo ir para a casa da tia.
Em outros tempos Samantha rebateria e ironizaria o pai, mas naquele
momento ela ficava calada. Era a prova de que ela não estava bem, que os
dois tinham que relevar e fazer as vontades dela, porque não eram frescuras
ou sinais de que era uma criança mimada exigindo atenção, ela realmente
estava sofrendo.
Jesse continuou contando que a única coisa que deu tempo foi de pegar uma
muda de roupas da filha e sair o mais rápido possível. As roupas dele
acabaram sendo esquecidas e agora ele resmungava sem parar que não teria
nem mesmo o que vestir para dormir. Samantha continuava calada, mas foi
então que Sophia deu uma solução que nem pai nem filha esperavam.
— Acho que ainda tem algumas roupas suas aqui – Sophia murmurou –
Olha naquela gaveta que você costumava deixar.
A frase pegou Jesse de surpresa. Ele saiu do banheiro e foi para o quarto
dela, abrindo a gaveta em questão. De fato havia sim, duas ou três camisas,
um short de dormir, algumas cuecas, literalmente uma muda de roupas. Não
era muito, mas era o suficiente, bastava por aquela noite e no dia seguinte,
se houvesse necessidade, ele voltaria em casa nem que fosse sozinho e
pegaria outras coisas. O que o deixava feliz era que Sophia tinha mantido as
coisas dele ali, nem devolvido nem jogado fora, eram as poucas peças que
ele tinha deixado para trás e que restaram no apartamento dela. Como se
estivessem esperando por ele.
— Papai, tem espaço pra nós três – Samantha insistiu – A tia Soso não se
importa.
— Precisa sim – Sophia repetiu – Ela precisa de nós dois agora. Realmente
tem espaço.
É claro que tinha. Aquela cama tinha sido comprada pensando em três,
porque era nela que os três dormiram juntos várias vezes anos antes, nas
vezes que Samantha dormia no apartamento que o pai dividia com Sophia.
Agora era como se eles voltassem àquele tempo, com a menina abraçada
com Sophia e Jesse observando-as discreto e admirado com o tanto que elas
se amavam mesmo não tendo o sangue uma da outra.
Rafa
Capítulo 25 - The ugly truth
A notícia do noivado de Lexie Grey e Jackson Avery tinha voado com toda
a velocidade possível nos corredores do New York General Hospital. Nos
dias que se seguiram uma Lexie que já não estava tão inflamada na bebida
assim em consequentemente, parecia muito mais discreta, mas todas as
pessoas que cruzavam com ela a parabenizavam, pediam para ver seu anel,
perguntavam se já havia uma data. Lexie estava exausta com toda aquela
atenção. Ela rezava para deixar de ser notícia o mais breve possível e
pararem de falar dela, quem sabe fingirem que nada estava acontecendo.
Mas a verdade é que somente uma pessoa estava fingindo. Não era preciso
imaginar demais para supor quem era essa pessoa.
Mark Sloan.
— Não posso e não quero – Mark não deixou de encara-lo – Não pegaria
bem. A Lexie é minha ex-namorada, seria muito constrangedor.
Agora quem parecia ter sido esbofeteado era Jackson. Mark não apenas
estava confirmando suas suspeitas de que nunca tinha deixado de amar
Lexie, ainda fazia isso na sua cara, sem o mínimo pudor. Ele não fazia
muita questão de disfarçar.
xxx
Christian não foi difícil de convencer. Apesar de não morrer de amores por
Diana, bastou Anahí argumentar por dois minutos e ele se deu por vencido e
confirmou presença. O mais complexo, é lógico, era Maite. Ela negou a
primeira tentativa, a segunda, a terceira e somente na quarta deu alguma
chance de ouvir os motivos de Anahí, mesmo assim com uma careta
enorme e toda a resistência do mundo. Acabou aceitando somente porque
foi literalmente vencida por sua melhor amiga que não pararia de insistir
naquilo enquanto não ouvisse o que queria ouvir. Maite sentia que iria se
arrepender, já que metade do seu discurso anti-Poncho perdia a validade
quando ela iria confraternizar na casa dele e de sua esposa... mas o que ela
não fazia por Anahí?
Aquela não era a única gafe do dia. Pior do que tinha sido para Anahí
convencer Maite a ir, foi Sophia convencendo Chad a não ir.
— A minha prioridade não tem sido essa, você não percebeu...? – Sophia
murmurou verdadeiramente exausta – Chad, a Sam precisa de mim.
— Isso só te aproxima ainda mais do pai dela, será que você não percebe...?
— Muito bem, como eu vou dizer isso? – Sophia respirou fundo – Ok...
foda-se.
— Olha só, eu pensei que tudo isso fosse por mim, por decisão minha, e
não por você – Sophia acusou – Agora a minha prioridade é outra. Eu
coloquei algo na minha vida acima do que eu tive e tenho com o Jesse. E eu
vou levar isso até o final, goste você ou não. E se você não gosta, é você
que não tem mais espaço na minha vida.
— Sim, as coisas vão ser assim – Sophia confirmou – Você não vai comigo.
Eu sinto muito.
Mas a verdade é que Sophia não sentia. Ela pouco se importava se Chad
estava irritado ou não. A única coisa com a qual ela se importava realmente
era se Samantha estava bem. O que aconteceria entre ela, Jesse e Chad no
meio do percurso era pura consequência.
xxx
— Diana e Anahí, Maite e a garota com quem o Mane está saindo – Lexie
acrescentou – Porque sim, ele vai trazê-la.
— Baixou a falta de noção nesse povo...? – Sophia negou com a cabeça sem
acreditar – O objetivo desse almoço era fazer algo que deixasse a Sam mais
tranquila, e não iniciar a crise da década que culmina na Terceira Guerra
Mundial!
Eles veriam.
A própria Anahí não estava tão otimista assim. Afinal, no caminho da casa
de Poncho no Uber Maite não parava de resmungar dizendo que aquela era
uma péssima ideia, que não tinha como dar certo, que era esforço demais
ela passar o dia inteiro não podendo ironizar Poncho e Diana, que ela iria
acabar explodindo. Christian mexia no celular sem parar porque estava
combinando de sair no final da tarde com seu novo affair e insistia em dizer
que o grande problema de Maite era a falta de sexo, o que deixava a morena
ainda mais irritada. No fim a discussão dos dois acabou sendo quebrada
com uma fala de Anahí que disse por si.
— A culpa disso tudo é minha – Anahí disse chamando a atenção dos dois –
Eu fui sequestrada e vocês brigaram com todo mundo. Vocês viraram vocês
e fizeram com que eles se tornassem eles, quando antes de eu sumir todos
éramos nós.
— Você não tem culpa de ter sido sequestrada – Maite ressaltou com um
tom meio irônico, mas sua melhor amiga tinha a resposta na ponta da
língua.
— Você por um acaso acha que foi fácil? – Maite perguntou com o rancor
de sempre estampado na voz – Eu estava lá lutando pra te achar e de
repente ele não estava mais porque tinha "seguido em frente". Ele desistiu
de você Any, ele me deixou sozinha naquilo...!
— Tudo bem – Maite murmurou – Eu vou dar uma chance pra eles. Todos
eles. Jesse, Sophia, Poncho e Diana.
E pelo visto, graças à Anahí, aquele seria o dia que a bandeira branca seria
hasteada.
xxx
A reunião dos fatos, em especial por não ter visto como a conversa entre
Lindsey e Jesse se deu, fez com que a tarde perdesse boa parte da graça
para Sophia. Mas os efeitos disso só seriam vistos no final.
Tão logo os dois entraram, viram Lexie encostada numa parede e ela
imediatamente se juntou aos dois. Christian e a cirurgiã imediatamente
trocaram informações sobre Sophia estar evidentemente cabisbaixa no chão
com Daniel e Samantha e Jesse estar fora conversando com Lindsey. Foi
quando uma ameaça foi rapidamente feita.
— Sophia está sensível Maite – Christian avisou olhando sério para a amiga
– Não a provoque hoje. Não desdenhe dela. Ela não merece isso, apenas
hoje.
O último a chegar foi Mane. Ele estava acompanhado de Pia, é claro, já que
por insistência de Maite tinha dado outra chance à loira. A própria Maite,
diga-se de passagem, comemorou quando viu os dois chegando juntos, sem
ver que Lexie, Anahí e Christian se entreolharam com a situação sem
precisarem que uma palavra sequer fosse dita, já que era óbvio: parecia
completamente absurdo que Maite não percebesse os sentimentos de Mane
e mesmo assim ele continuasse incapaz de dizer a ela como se sentia.
— Lindsey, pelo amor de Deus – Jesse fechou os olhos – Será que você não
entendeu nada do que eu disse há uma semana...?
— Ah, que a sua filha ama a Sophia? Que você está escolhendo a Samantha
e não a sua ex? Blá blá blá Jesse – ela debochou – Sua filha pode gostar de
mim, mas você prefere continuar deixando que ela domine e decida sobre a
sua vida...
— Eu tentei que a Sam gostasse de você, você sabe disso – Jesse disse
calmamente com os olhos consideravelmente estreitos – Só que não se pode
obrigar ninguém a gostar de outra pessoa, é algo que deve fluir
naturalmente. E se eu não a obriguei antes, não é agora que vou fazer.
— Ah claro, porque a morte da mãe dá licença pra que ela faça o que
quiser...!
— Nós estamos falando de uma criança de cinco anos de idade que dorme
mal há uma semana com pesadelos – ele devolveu – Eu não vou obriga-la a
isso. A Sophia faz bem pra minha filha, eu não vou cortar esse vínculo só
porque você não está de acordo.
E de repente a vida girava com gosto, fazendo Jesse ser a vítima de uma
ameaça, idêntica a que ele tinha feito tempos antes. Há mais de um ano,
enquanto ainda namorava Sophia, ele a colocou contra a parede: era Chad
ou ele. Sophia disse que não escolheria Jesse jamais, não por não ama-lo ou
preferir o amigo, mas porque ela não poderia continuar com alguém que a
obrigava a fazer aquele tipo de escolha. E se um dia era ele quem colocava
uma pessoa na berlinda, ele agora era colocado.
Agora ele entendia o quão ridícula era aquela chantagem travestida de
escolha. Ele conseguia, pela primeira vez, realmente entender por que
Sophia tinha terminado com ele. Entendia que a culpa era sua. Da mesma
maneira que, mais do que nunca, entendia que a culpada era Lindsey pelo
que ele estava prestes a fazer.
E Lindsey desmontou.
— É o quê?
— Isso mesmo que você ouviu – Jesse repetiu mais confiante ainda – Eu
escolho a Sophia.
— Você ta fazendo isso pela sua filha ou pela sua ex? Admita pra mim...!
— Pelas duas – Jesse confirmou – E por mim também. Eu não amo você. É
melhor pra nós dois terminarmos aqui, assim ninguém se machuca. Se ta
tão insuportável pra você que eu conviva tanto com a minha ex, então é
melhor pararmos por aqui... porque eu já cometi uma vez o erro de tirar a
Sophia da minha vida. Eu não vou errar de novo.
— Adeus Lindsey.
E estava terminado.
Só que Sophia, do lado de dentro da casa, não fazia a menor ideia. Jesse
demorou tempo suficiente para que ela imaginasse milhões de coisas e
criasse várias paranoias na cabeça, todas elas nada boas. Quando ele voltou
todos os amigos já estavam lá de, o almoço estava quase sendo servido e
como a maioria se concentrava em colocar a mesa ou dar atenção às
crianças, nenhum deles viu Jesse se afastar com Poncho e Mane para contar
o que tinha acontecido logo antes do lado de fora.
— Lindsey não aceitava a Sam não gostar dela, gostar da Soph, eu jamais
poderia forçar algo pra minha filha num momento desses – ele explicou – E
ela me mandou escolher entre a Soph e ela. Achava realmente que eu iria
escolhê-la?
A satisfação de Poncho ficou mais evidente ainda. Ele sabia o que estava
por trás daquela decisão. Talvez Jesse não se lembrasse de outro almoço
que eles tiveram tempos antes no qual Poncho tinha exposto os sentimentos
dele e deixado claro que sabia que ele gostava de Sophia e que deveria
pensar naquilo, pensar se não era o que ele queria. Provavelmente aquela
era uma das razões do término e a morte de Torrey, junto com a reação que
isso desencadeou em Samantha, fossem somente o estopim para algo que já
estava de certa forma acabado. Fosse como fosse, Poncho se sentia
orgulhoso de seu melhor amigo. Jesse parecia estar finalmente seguindo
para o caminho certo, amadurecendo e tomando as decisões corretas. Era
um começo. Faltava apenas reconquistar Sophia.
Só que Sophia, alheia àquilo, estava muda e agoniada por dentro. Mesmo
Lindsey não entrando na casa, ela achava que isso se dava porque Diana a
detestava e Jesse queria poupar. As amigas tinham percebido que ela estava
estranha e Lexie, Anahí e Diana tentaram iniciar uma conversa, mas Sophia
se fechou numa bolha onde somente as crianças entravam e isso só teria a
piorar, como se viu mais tarde.
— Eu disse a você que ela era legal – Anahí riu – Você continuaria com
essa implicância por tempos sem motivo algum.
— Não vou dizer que não é estranho estar na casa do Poncho rindo da piada
da mulher dele, mas é um começo né? – Maite fez uma careta – Eu não
acredito que vou dizer isso, mas a Diana não é tão ruim quanto eu pensava.
Só que Sophia ouviu. Uma Sophia que não estava bem... não tão centrada e
controlada como poderia ser. Não tinha como dar certo.
— Ah, então a implicância acabou? – ela perguntou interrompendo a
conversa assim que a ouviu – O ódio gratuito enfim teve seu fim? Será que
eu sou a próxima da fila que você vai perdoar mesmo nunca tendo cometido
um crime sequer Maite?
— Ai meu Deus, eu não consigo parar de ter ranço porque as pessoas não
deixam – a morena revirou os olhos sem responder diretamente, mas logo
em seguida encarando a ex-amiga – Sophia, não se mete nisso. Não tem
nada a ver com você.
— Olha Sophia, não dá pra ser amiga de uma pessoa quando você tem
vontade de dar na cara dela o tempo inteiro, em especial pelas merdas que
ela faz com a própria vida – Maite acusou – Em especial as merdas que
você faz com a sua vida. Porque você no aniversário da Lexie apareceu com
aquele babaca do Chad que você sabe que não pode ter somente intenções
de passear com você no bosque.
— Maite... – Lexie começou a murmurar, mas logo viu que Maite e Sophia
enxergavam somente uma à outra. Não tinha mais como impedir.
— Porra, por que você é tão preocupada com a minha vida? – Sophia
atacou – Por que você não olha pra sua própria vida e esquece de mim, do
Jesse, da Anahí e do Poncho?
— E você também não enxerga que tem uma pessoa do seu lado que daria
tudo pra estar com você! – Sophia acusou já gritando um tanto alto – Ao
invés disso você fica tacando outra pessoa pra cima dele, uma amiga sua,
porque não enxerga que é você que ele quer!
Todos os amigos fecharam os olhos. Mane, que estava ali, sentiu parte do
corpo morrer. E o silêncio se fez, mas se quebrou cinco segundo depois,
com um copo caindo das mãos de Diana e pelo choque e quebrando. Tal
como a paz recém-conquistada daquele almoço tinha sido quebrada com os
gritos de Sophia revelando um segredo que todos já sabiam menos a
principal interessada: Maite.
O cap de hoje atende duas demandas bem pedidas - Jesse terminando com a
Lindsey e Maite descobrindo que o Mane gosta dela.
Sobre o Jesse é o famoso até que enfim combinado com não fez mais do
que a obrigação né? E sobre a Maite, a Sophia já tinha cantado a pedra de
que iria jogar a merda no ventilador... enfim rolou!
Boa semana!
Beijos,
Rafa
Capítulo 26 - You're the inspiration
Diana tinha acabado de quebrar um copo pelo susto que levou ao ouvir
Sophia gritar a plenos pulmões que Mane era apaixonado por Maite.
Naturalmente a esposa de Poncho arregalou os olhos ao notar a própria
reação involuntária e correu para procurar uma vassoura e uma pá de lixo e
resolver antes que as crianças voltassem e acabassem se machucando com
os cacos de vidro.
A única pessoa que não olhava para ninguém era Pia. Completamente
constrangida, a loira sentia o rosto queimar e sentiu imediatamente que não
tinha qualquer alternativa... ela levantou sem mais nem menos para fugir
dali o mais rápido que pôde. Mane bem que tentou impedi-la, mas não
conseguiu... e de certa forma era até bom. Pia estava envergonhada o
suficiente, o que ela ganharia ficando ali?
— Eu acho que é melhor darmos um minuto pra ela – Poncho disse num
sussurro que ela não sabia exatamente para quem era.
Maite sabia exatamente que resposta dar. A frase dele serviu para acorda-la
daquele transe.
— Não precisa – Maite disse virando-se de costas e encarando Poncho de
frente. Pela primeira vez em seis anos, não tinha nenhuma mágoa naquele
olhar – Obrigada, mas... eu acho melhor que eu vá embora.
— Você quer que eu vá com você? – foi Christian quem perguntou dessa
vez. Ele obviamente estava preocupado.
Era óbvio: informação demais para digerir. Maite estava confusa, uma
bomba tinha sido jogada em cima dela e era óbvio que ela era orgulhosa
demais para ficar vulnerável na frente de todas aquelas pessoas, ainda mais
quando ela não se dava bem com metade delas. Por isso ela saía dali o mais
rápido possível, deixando sobretudo Anahí e Christian apreensivos, já que
ao se entreolharem notavam que ambos tinham percebidos o quanto Maite
ficou desconfortável com tudo aquilo. Mas ela saiu sozinha, antes que os
dois pudessem lhe dizer qualquer coisa, e pelo visto não a encontrariam
para falar sobre aquilo tão cedo.
Mas Maite não era a única afetada. Mane estava ali, tão exposto quanto ela,
sem saber ao certo o que fazer. Por certo ele deveria ir atrás de Pia, já que a
garota o acompanhava e não tinha culpa daquela explosão de Sophia que
respingou na confissão dos sentimentos platônicos que o amigo nutria há
anos. De alguma maneira Mane continuava pregado ali como se nada
acontecesse, provavelmente procurando como reagir, o que pensar. Do lado
de fora do interior dele as coisas continuavam acontecendo.
— Você, comigo, agora – Jesse disse antes de puxar Sophia para os fundos
da casa e os dois desaparecerem dali.
— Vocês não precisam dizer nada – Mane disse se esquivando – Uma hora,
cedo ou tarde, ela iria saber.
— Só que teria sido melhor se fosse pela sua boca, não é? – Anahí alfinetou
cruzando os braços e encarando o amigo.
Mane ficou arregalado diante da frase da amiga, e tudo o que eles ouviram
foi uma risada imensa da boca de Diana.
— Nós vamos ver se a Maite está bem – Christian disse como uma saidera.
— É uma pena que tudo tenha acabado assim – Poncho disse cruzando os
braços numa clara lamentação, mas olhando mais para Anahí do que para
Christian – Era boa essa ideia de trégua.
— Vamos lá, foi um começo – Anahí riu e Poncho olhou para ela carinhoso,
sorrindo também.
Eles estavam certos. Era apenas o primeiro passo, e por mais que
soubessem que aquela seria uma longa caminhada, ao menos tinha
começado.
xxx
Jesse tinha levado Sophia à uma área da casa que ele sabia que conseguiria
falar com ela sem que ninguém ouvisse. A Sophia que ele via em sua frente
era uma versão mais transtornada e descontrolada da mulher por quem ele
nutria sentimentos, como se ela tivesse deixado vazar algo que estava
prendendo há muito tempo. Jesse não reconhecia Sophia, não estava
entendendo nada do que acontecia ali e, sobretudo, não fazia a menor ideia
do quanto aquela explosão tinha a ver com ele.
— Jesse isso não é problema seu – Sophia tentou se desvencilhar dele mas
não teve o mínimo sucesso.
— Sophia, você não é assim – Jesse disse ainda encarando-a – Diga o que
quiser, mas você não faz isso, você não fala esse tipo de coisa! Você estava
fazendo com a Maite exatamente o que ela sempre fez com você, o que
tanto te machucou...!
— Parece que tanto apanhar a gente aprende a bater – ela deu de ombros.
— Mas você não bateu apenas nela, bateu no Mane também, na moça que
estava com ele e ela não tem culpa – Jesse lembrou – Por que você fez isso?
Então era isso. Ela o viu saindo para falar com Lindsey e entendeu tudo
errado, acabou descontando em Maite como uma forma, mesmo
inconsciente, de descontar na ex-amiga da mesma maneira que sempre
recebeu dela. Jesse em outros tempos ficaria feliz e se gabando por perceber
que Sophia estava com ciúmes dele, mas isso era definitivamente coisa do
passado. Agora ele se dava conta que não era algo bom, porque não era
preciso conhecer Sophia demais para perceber que ela estava sofrendo.
Talvez fosse sinal de que ele estava amadurecendo, porque não tinha
nenhum tipo de prazer da parte dele em ver Sophia daquele jeito. Pelo
contrário, Jesse até se sentia culpado. Ele sabia que tinha causado aquela
atitude nela, que Sophia racionalmente jamais berraria aos quatro ventos os
sentimentos de Mane e iria expor Maite daquela forma. Ela fez isso porque
estava afetada e ela estava afetada por causa dele. Jesse sabia também que
Sophia iria se arrepender quando o sangue esfriasse e amargar uma dor de
consciência por conta daquela impulsividade. Por tudo isso ele se lamentou,
desejando ter sido claro desde o início sobre aquele assunto e evitar que ela
fizesse a besteira que tinha feito.
Foi a hora que Sophia paralisou. E piscou, sem conseguir acreditar no que
tinha acabado de ouvir.
Mas não era apenas isso, tinha o plano geral das coisas, Sophia já tinha
estado naquela mesma situação que Jesse se encontrava e não tinha feito o
mesmo, ela não escolheu nem ele nem Chad, ela se escolheu. E agora Jesse
fazia algo diferente, Jesse terminava com Lindsey e escolhia ela, será que
isso significava que Sophia tinha errado quando terminou com ele? Ela já
não sabia mais o que pensar...
— Porque você não queria ter terminado com ela? – Sophia perguntou
ainda insegura.
— Eu não sei se você ouviu quando eu disse, mas eu não terminei com a
Lindsey porque ela me fez escolher, isso só me fez perceber que eu já
deveria ter terminado – Jesse insistiu – Eu terminei com ela porque eu não a
amo. Porque eu amo outra pessoa. Ainda amo.
— Ela tem sido a minha prioridade e eu acho que você entende – ele sorriu
e ela assentiu concordando – Ela precisa de mim, precisa de nós dois, e eu
acho que nos envolvermos agora seria confundir tudo. Mas eu sei que tudo
isso acaba aproximando nós dois e dormir do seu lado com a minha filha no
meio só faz eu ter mais certeza do que eu quero. E na hora certa... eu vou
lutar pelo que eu quero. E só vou parar de lutar se você não quiser de volta.
— Eu só peço que você não se afaste da Sam porque ela realmente precisa
de você agora – Jesse disse soltando o rosto dela e uma das mãos entrelaçou
os dedos de Sophia – Eu juro que não vou me aproveitar de nada...
— Ela é um pouco sua também – Jesse disse trazendo Sophia para dentro
do seu abraço – Até a Torrey sabia disso.
Era isso... a mesma coisa que os unia de certa forma era o que os separava,
ao menos naquele momento. Mas talvez fosse algo bom para os dois. Talvez
a necessidade de priorizarem Samantha viesse a calhar. Porque quando a
menina finalmente estivesse recuperada da perda da mãe, talvez seu pai
estivesse maduro o suficiente para ser o homem que Sophia merecia. Talvez
eles finalmente estivessem prontos um para o outro.
xxx
Maite nunca tinha sido uma boa pessoa para lidar e encarar os próprios
sentimentos. Ela vivia num universo alternativo e por vezes se deparava
com o fato de que nem sempre enxergava as coisas como ela realmente
eram. Sempre lhe batia um choque cada vez que a verdade sobre algo se
colocava na frente dela, e aquela vez não era diferente. Os sentimentos de
Mane. Quantas vezes ela tinha sido alertada sobre aquilo? Ela nunca levou a
sério todos os momentos que os amigos tinham insinuado ou alfinetado. E
agora tudo estava tão escancarado de uma maneira que ela não conseguia
acreditar.
De repente vinha na mente dela todo o cuidado que Mane tinha com ela, o
fato de ele ter sido o único que não era duro com ela pelo modo como ela
vinha se portando há anos quanto à Jesse, Poncho e Sophia. Mane sempre
estava por perto, era carinhoso, prestativo, procurava ouvi-la e consola-la.
Maite até poderia acreditar que ele só fazia aquilo para cobrar dela em
algum momento que eles ficassem juntos mas pensando bem, se fosse
assim, aquela "dívida" já estava enorme, dado o fato de que Mane sempre
se comportou com Maite do mesmo jeito, o que evidenciava que
provavelmente ele sempre tinha sido apaixonado secretamente por ela.
Koko Stambuk vivia da mesma maneira desde que seu casamento com
Maite tinha acabado. Ele morava no mesmo apartamento que tinha dividido
por quase três anos com a ex, tanto no namoro quanto nos sete parcos meses
nos quais eles foram casados. Maite tinha saído dali numa tentativa
desesperada de fugir da ideia do fim deles quando viu Koko numa tarde
como aquela com as malas prontas, mas de nada adiantou, porque os dois só
se viram de novo para assinar os papeis do divórcio. Naquelas três ocasiões
nada tinha mudado. Se ela teve esperanças de que a distância o faria mudar
de ideia, essa se fora há muito tempo.
— Sim, é claro – um Koko confuso respondeu sem saber bem o que dizer –
Você... quer entrar...?
— Você pensa assim porque acha que deixou as coisas muito bem
resolvidas entre a gente, mas a verdade é que não foi assim – Maite
suspirou e, quando deu por si, já tinha se tornado um livro aberto na frente
dele – Eu acompanhei toda a sua vida desde que nós dois terminamos e eu
fui embora daqui. Todas as mulheres com quem você saiu, eu sempre dei
um jeito de procurar saber. Me chame de maluca, obcecada, o que você
quiser... mas eu precisava, sabe? Eu queria saber, eu precisava ver não iria
durar, pra ter dentro de mim a certeza de que o problema não era eu, era
você.
— Se você tivesse percebido nem sequer teria dito sim quando eu propus
que nos casássemos – Koko ressaltou – Você teria visto que não daria certo
e se pouparia desse desgaste. Eu sabia que era assim e não aceitava, achava
que com você seria diferente e não foi. Não tem como ser culpa sua, a culpa
é minha por ter precisado te magoar para ver que nada sério funcionaria
comigo.
Maite ainda não estava totalmente convencida. Ela mordia os lábios,
encarando Koko com certa resistência. Era como se aquela verdade – que
agora ela se dava conta que era uma mentira – fosse algo que durasse tanto
tempo em sua vida que não a permitia enxergar uma versão diferente como
aquela que lhe era apresentada. Era difícil ver tudo com outros olhos, difícil
conseguir se acostumar que aquele peso que ela tinha em suas costas era um
fardo grande demais e que não lhe pertencia mais, não deveria pertencer.
— Eu tenho certeza disso – Koko suspirou – Eu sou um infeliz por não ter
te merecido, mas eu não sou o único homem do planeta. Eu tenho certeza
que tem alguém que vai te merecer. Eu não devo ser a sua história inteira,
eu sou um capítulo que você deve superar. Eu tenho certeza que você ainda
tem muito o que viver.
Nem era uma boa ideia ligar para Victoria Perroni e perguntar a ela e a
Javier se Maite tinha ido para a casa dos pais em Connecticut, já que eles
iriam imediatamente querer saber o motivo pelo qual a filha tinha sumido
sem avisar ao seu colega de apartamento e Christian não tinha o que dizer
além da verdade, que não era uma opção.
Só que no fim a ausência de Maite viria a calhar, porque se havia uma coisa
que Christian queria fazer e não tinha a menor condição de ser com ela
presente.
— Christian...
Mesmo que Christian não tivesse mandado que Anahí fizesse aquilo, ela
faria. A curiosidade a corroia. Imediatamente ela abriu o livro numa página
qualquer e sentiu os olhos caindo na primeira frase que viu. Não poderia ser
mais oportuna.
Anahí se sentiu arfar com aquilo. As lágrimas vieram quentes para seus
olhos, fazendo-a morder os lábios. O rosto estava quente. Aquele livro
parecia ser a prova dos sentimentos escondidos e enterrados de Poncho. Era
algo que ela precisava ler.
Foi quando ela olhou a capa, o título... "Enquanto eu não esquecer você".
De certa forma, dizia tudo.
— Eu sei o que vai clarear as coisas pra mim Christian – Anahí suspirou
longamente – Eu vou voltar pra terapia. Pra regressão.
— Mesmo depois do que você se lembrou...? – ele perguntou claramente se
referindo ao aborto que ela tinha sofrido no cativeiro. O principal motivo
para Anahí não querer mais passar por aquelas sessões.
— Eu tenho medo do que está por vir – Anahí confessou – Eu não faço
ideia de tudo o que passei lá. Eu não sei nem como fui parar... mas... eu
acho que é pior não saber. Eu quero passar tudo a limpo, eu preciso. Eu
acho que... enquanto eu não enfrentar isso, eu não consigo seguir em frente.
— Eu acho que você ta certa – Christian disse parando bem na frente dela
segurando suas mãos – E eu to orgulhoso. Você é forte, é corajosa... você é
realmente incrível Any.
Era assim que ela queria pensar. Que seria difícil, doloroso... mas no fim
valeria a pena. No fim ela iria conhecer a sua história e iria encontrar nela
forças para superar.
Quanta informação né galera? Hoje vimos a paz ser selada de vez entre
Poncho e Christian, Bushfer ficar na cara do gol, Maite fazer as pazes com
o passado e finalmente, Anahí mais balançada do que nunca pelo passado
que ela nunca viveu... como lidaaaar.
Falando nesse quase passado da Anahí, embora eu não esteja em dia com os
comentários sempre leio tudo o que vocês colocam e eu gostaria de deixar
um aviso bem simples: não vai ter AyA agora.
Motivos: eles não estão prontos pra estarem juntos. Eu quero colocar outras
coisas pros dois antes deles tentarem. Tenho um planejamento minucioso
pra todos os casais e eu sei mais ou menos quantos capítulos preciso pra
isso, e ainda não chegou (ao menos aqui na postagem) no ponto pra isso.
Por isso eu aproveito pra desenvolver outros casais e outras tramas
enquanto isso.
Como eu sempre digo: a web não é exclusivamente sobre AyA. Tem outros
três casais e de vez em quando uns se apagam pra outros aparecerem. Eu
gosto de escrever assim e fico feliz de agradar algumas pessoas, mas
sempre foi desse jeito porque sempre foi essa a maneira como eu gostei de
escrever, vai continuar sendo desse jeito.
Obrigada a todos os carinhos de quem faz questão de estar aqui! Amo vcs
Beijos
Rafa
Capítulo 27 - Fresh start
— Imagina se você não é exagerado – Maite fez uma careta rindo, mas
fitando Anahí – E você, sua louca? O que ta fazendo aqui?
— Eu espero que você não esteja com raiva dele e nem da Sophia – Anahí
disse procurando ver os sentimentos de Maite estampados em seu rosto. Ela
costumava ser bem expressiva e transparente.
— Certo, então diga o que ta te bagunçando pra ver se bate com tudo o que
a gente pensa – Christian disse se sentando no sofá novamente conforme
viu Maite se aproximando e se aconchegando na poltrona em frente.
— Do Mane? – Christian riu – Meu amor, isso a gente não pode responder,
porque nunca entendemos também.
— Eu acho que você tava tão traumatizada com o seu histórico ruim de
relacionamentos e com o modo como Poncho e eu acabamos, como a Soph
e o Jesse não deram certo, que simplesmente eliminou qualquer
possibilidade entre você e o Mane – Anahí observou – Só que eu não acho
que amor seja essa fórmula matemática.
— Eu acho que o que você deveria temer é acabar perdendo a chance da sua
vida apenas por puro medo mesmo – Christian deu um sorriso irônico.
— Mas eu nem falo tanto pela Anahí e pelo Poncho porque foram as
circunstâncias do sequestro que os separaram, eu tenho certeza que se a
Anahí não tivesse sido sequestrada eles estariam juntos até hoje – Maite
ponderou – Mas olha a Sophia e o Jesse...!
Maite riu, embora devesse ficar séria. Anahí mordia os lábios olhando de
um para o outro.
— Sim, ainda me afeta – Maite admitiu – É libertador dizer isso, mas hoje...
hoje todas as vezes que eu pensava "por que não...?" quando encarava essa
situação com o Mane... era o Koko que vinha na minha mente. Quando eu
pisquei eu estava lá, na porta do nosso antigo apartamento.
— Ah, você foi lá pra ele te dizer que você não tem culpa e que o culpado é
ele...? – Christian revirou os olhos – Porra Maite, nada de novo sob o sol,
tudo o que eu sempre te disse! Por que quando sai pela minha boca você
não acredita?
— Eu quero deixar isso pra trás – Maite respondeu com firmeza – Eu vou
deixar. Eu pensei em procurar o Mane amanhã e... não sei, quem sabe como
eu vou me sentir? Acho que vou me deixar levar por tudo, o que me deixa
completamente assustada porque eu não to nada acostumada a ser assim,
mas... pra tudo tem a primeira vez.
— Mas eu não to fazendo isso pelo Mane, eu to fazendo por mim – Maite
ressaltou – Se eu não quisesse absolutamente nada com ele, eu o procuraria
hoje mesmo e diria "não, obrigada". Mas a questão é que... Deus, eu posso
estar fazendo a pior escolha do mundo, eu posso me arrepender
profundamente... mas a única coisa que eu consigo pensar é "por que não?"
Dentro de Anahí pelo menos, a única coisa que se passava era uma
sensação: de que, nem de longe, aquela era a pior decisão possível que
Maite iria tomar.
xxx
— Nós não temos uma sessão marcada pra hoje – a médica murmurou ao
observa-la, embora soubesse bem o que trouxera Anahí ali.
— Confesso que não esperava te ver tão cedo, na verdade não sei nem se
esperava te ver – a psiquiatra comentou se sentando em sua tradicional
poltrona e pegando seu bloco de anotações, vendo uma não tão confortável
Anahí se acomodar no sofá à sua frente.
— A regressão não é fácil e eu sei que tudo o que você lembrar vai ser
difícil de superar, mas sei também que, a longo prazo, vai ser o melhor pra
você – Caitriona explicou – O que te fez mudar de ideia?
— A ideia da mentira bonita – Anahí deu de ombros – Bonita ou feia, no
fim continua sendo mentira. E eu não quero mais viver de mentiras. Eu
sempre fui corajosa sabe? Eu sinto falta de ser assim. Não quero mais sentir
medo.
— Medo você sempre vai sentir, todo mundo sente – a médica completou –
Mas só de você estar aqui já é sinal de que está enfrentando-os e é
exatamente isso que eu quero.
— Eu não sei se sou forte o bastante pra lidar com tudo o que eu vou
lembrar – Anahí mordeu os lábios – Deve ter acontecido algo muito difícil
lá pra eu ter esquecido tudo.
— Tudo você não vai lembrar – Caitriona observou – Porque tudo ninguém
lembra. Eu não lembro de absolutamente tudo o que aconteceu nos últimos
oito anos da minha vida. O importante Anahí, e é o que eu busco... é que
você se lembre do que é essencial.
— Não se preocupe com isso, eu vou buscar essa resposta pra você –
Caitriona a tranquilizou – Confie em mim. Eu sei que chegaremos ao ponto
certo quando isso for o gatilho pra tudo o que você esqueceu pelo trauma e
não pelo decurso do tempo. Você só precisa confiar Anahí.
— Sim.
Anahí não estava. Provavelmente ela nunca estaria, mas aquilo era
exatamente sobre enfrentar o medo e ela sabia que se negar a prosseguir
com aquilo seria pior a longo prazo. Por mais que parecesse confortável a
posição na qual ela se encontrava naquele momento, Anahí tinha dentro de
si a certeza de que só seria capaz de realmente seguir em frente com a
própria vida quando deixasse para trás essa vida que tinha esquecido. A
vida que viveu por oito anos quando a sua foi interrompida.
Por mais que doesse, parecia ser a hora de começar a lembrar.
— Tem uma luz nova – Anahí murmurou – Ele colocou porque eu pedi, eu
estava no escuro há dias, só com uma fresta do basculhante que ficava no
alto...
— Eu to com medo – Anahí respondeu – Eu sei que ele quer algo em troca.
— Não, não, eu não quero – ela gemia enquanto falava – Não, não, não...
A médica deixou que tudo corresse o seu ciclo até o final sem interrupções.
Por mais doloroso que fosse assistir – algo que sem dúvidas não se
comparava a viver – ela sabia que Anahí precisava levar o ciclo até o final.
Não adiantava nada ter ido tão longe para parar no meio do caminho. Então
tudo o que Caitriona fez foi esperar que aquele ciclo de Anahí terminasse e,
quando finalmente aconteceu, quando a paciente despertou do transe, ela
estava a postos para consola-la como podia.
— Foi a primeira vez que ele abusou de mim – Anahí disparou. Não tinha
um lastro de luz em seus olhos – Eu estava ansiosa porque nada acontecia.
Já tinha semanas do aborto, ao menos dentro do que eu contava, eu ainda
tinha alguma noção do tempo e... e eu me perguntava o que ele iria fazer,
porque não era possível que iria me deixar trancada ali apenas por trancar,
era óbvio que ele faria alguma coisa. E acho que tudo foi de propósito.
— Pra me deixar ansiosa – a voz dela saiu com nojo – Como se eu ansiasse
ir pra cama com ele.
Caitriona Balfe dizia aquilo porque ela sabia perfeitamente bem que ainda
tinha algo muito mais complexo do qual Anahí não fazia ideia.
xxx
Maite deixou aqueles dias correrem e com eles virem algumas respostas. A
mente dela ainda estava bagunçada com os recentes acontecimentos e não
era simples tomar uma decisão. Qualquer pessoa demoraria séculos
pensando no que fazer, no que era melhor, mas Maite não, ela era objetiva
ao extremo e sabia exatamente o que queria naquele momento. Ela só
precisava resolver algumas coisas antes de correr atrás do que queria.
A loira vinha evitando Maite e não precisava pensar muito para entender os
motivos. Maite imaginava que Pia estava com raiva dela, no mínimo com
vergonha. Pudera, a situação que elas tinham vivido na casa de Poncho
tinha sido suficientemente embaraçosa. Mas exatamente por isso Maite
sentiu que devia explicações à amiga. E como sabia que ela não iria
procura-la, decidiu dar a cara à tapa e fazer aquilo, encerrando de uma vez
aquele esconde-esconde que as duas acabaram travando, já que parecia
nítido o quanto vinham evitando uma a outra.
— Não tem nada pra ser resolvido Maite – Pia disse séria, já dando o tom
do modo como via aquela situação, fazendo a morena suspirar.
— Desculpas pelo quê? – Pia riu de nervoso – Por ele ser apaixonado por
você...? Você não tem culpa disso, ninguém tem. Eu no fundo sabia e fiquei
fingindo que não via...
— Deus, você é mais cega que parece – Pia negou com a cabeça – Você por
um acaso ouviu o que foi falado naquele dia? Ele ama você, Maite. Você.
Não tinha como continuar assim.
— Então você terminou com ele? – Maite perguntou sentindo o próprio
coração acelerar, embora não conseguisse entender exatamente por que
estava reagindo daquela forma. Só que em sua mente só havia uma
pergunta: então Mane estava livre?
Bastava saber se ela queria, e aquela sensação que ela teve dentro de si na
conversa com Pia parecia responder a dúvida. Maite estava
consideravelmente bem com aquela ideia de Mane e ela terem algo, era uma
ideia que ela nunca sequer tinha cogitado – e devidamente combatido cada
vez que era sugerida sutilmente pelos amigos. O que tinha mudado? Por que
algo a empurrava para aceitar arriscar daquela vez?
A verdade era que Maite concretizava aquela frase de que alguém só pode
estar com outra pessoa se está bem consigo mesma. E ela finalmente se
sentia bem em seu interior para enfim seguir em frente e dar uma chance ao
amor.
É claro que ela ainda tinha questões a ser resolvidas, a briga com Sophia
que se estendia por tempos – e que agora a morena via que tinha chegado
longe demais – e Maite ainda não sabia ao certo o que pensar sobre Alfonso
e Diana. Mas cada coisa tinha o seu tempo e ao menos naquele momento,
ela sentia que precisava dar um certo espaço para o próprio coração. A
intuição dizia que o restante se ajeitaria na hora certa, com uma boa dose de
boa vontade sua. Ela tinha de sobra.
Por isso naquela noite Maite mandou uma mensagem para Kamilla, a irmã
de Mane, perguntando se ela sabia que ele tinha treino. Mane era muito
conectado com as mães e irmã, os quatro sempre sabiam demais da vida um
do outro; logo, se ele tivesse treino naquela noite Kamilla saberia.
Por vezes Mane olhava de volta para a arquibancada, quem sabe para vê-la
de novo, quem sabe para conferir se ela ainda estava ali, e se desconcertava
cada vez que notava o olhar de Maite fixo nele, não era algo que ele
esperava. Maite teve ali todas as suas respostas. Ela não precisava que
ninguém insistisse dizendo que Mane era apaixonado por ela, a confirmação
estava em seu olhar, em seu sorriso bobo, no modo como ele não conseguiu
mais focar no próprio trabalho depois de vê-la. O treino do time dada a
dispersão evidente de seu treinador foi um verdadeiro desastre. Mane não
conseguia perceber os erros, nem os acertos, nem corrigir nada. Era como
se eles tivessem perdendo tempo ali.
E seria mesmo. Maite não pretendia aparecer mais ali... porque o que ela
tinha ido fazer seria resolvido naquela mesma noite.
Ela esperou paciente por Mane terminar tudo. Estava encostada na parede
do ginásio, despojada com os cabelos presos num rabo-de-cavalo, mexendo
no celular distraída. Trocava mensagens com Anahí exatamente quando ele
apareceu, só notando Mane em sua frente quando ele estava parado bem
próximo observando-a. Maite então guardou o celular e deu um sorriso no
canto da boca se sentindo nervosa como uma adolescente. Era bom sentir
aquela sensação depois de tanto tempo sem se permitir.
— Oi... Então... eu não esperava te ver por aqui – Mane respondeu sem
graça.
Se ela tinha realmente percebido o que ele pensava... bom, era impossível
que não se tratasse dos sentimentos dele não é? Sophia os havia literalmente
gritado... Maite já sabia de tudo e se ela estava ali, isso significava algo.
Mane torcia apenas para que significasse o que ele tanto queria, que fosse
algo bom afinal.
Ou talvez não fosse. Talvez Maite tivesse ido ali para dizer que Mane não
deveria nutrir novas esperanças e que ela nunca sentiria o mesmo do que
ele. Quem sabe já notava os sentimentos dele há muito tempo e apenas os
ignorava para não criar problemas na amizade, mas agora, dada a explosão
de Sophia, ela tinha que corta-los de uma vez. Mane se arrepiava com a
simples possibilidade, mas ele sabia que teria que aceitar o que ela decidisse
e jamais poderia ficar com raiva de Maite por não correspondê-lo. Mas que
doía, doía...
E num universo repleto de talvez, a única certeza era que aquelas dúvidas
todas precisavam ser sanadas de uma vez.
— É, digamos que eu tenha vindo pra isso – Maite sorriu no canto da boca
novamente. Ela estava mais charmosa do que nunca – Eu pensei, quem
sabe, num jantar? Com um bom vinho...?
— Ah vai – Mane riu – Eu sei que o que você quer mesmo é uma boa pizza.
Te conheço.
Depois da deliciosa vitória pros mexicanos pocs que estão espumando até
agora (menos meu fav amadurecido que cumpriu aposta, um orgulhinho
desses), chegamos na minha hora fav de segunda e quinta, que é ficar att o
aplicativo pra ver os comentários de vcs!
Como prometido, os casais coadjuvantes sendo desenvolvidos e Maite
tomando a frente da situação com o Mane! Vcs esperavam por isso e em
especial, que fosse tão rápido? Porque eu aposto que não! Hahahahaha.
Temos também a parte triste do cap que foi mais uma lembrança dolorosa
do passado da Anahí Sei que dói em todas vê-la desse jeito e em mim
também, mas to caminhando com calma com a superação dela. A Anahí de
daqui a 10 caps ta lutando pra superar alguns de seus traumas, mas essas
coisas vêm aos poucos mesmo, até pra serem verossímeis.
Ah, e eu JURO que vou me atualizar nos comentários! To lendo tudo mas
Copa + trabalho + estudos + escrever me esgotaaaaa! Me entendam plis
Beijos
Rafa
Capítulo 28 - All of me
Lexie Grey ainda não tinha realizado o que era estar noiva de Jackson
Avery. Seria apenas um noivado comum entre uma residente-chefe e um
atendente de um hospital nos Estados Unidos. Seria, se Jackson não fosse
um Avery.
Ser um Avery não era qualquer coisa. Havia uma fundação em nome da
família de Jackson, mais especificamente em nome de seu avô, que mesmo
falecido continuava sendo o grande nome da medicina do país. Para
completar, Harper Avery levava ainda o nome de um prêmio da Medicina
que dez a cada dez médicos queriam ganhar dado o nível da consagração
que significava, como um Oscar naquele meio. Dados esses fatos era muita
inocência achar que a futura esposa de um Avery não seria
consideravelmente pressionada. Ou seja... Lexie era realmente inocente.
Lexie sabia que a sogra estava no hospital naquele dia porque a presença de
Catherine, por mais que se queira, nunca é possível de ser ignorada. Aquela
mulher era praticamente onipresente e conseguia ser notada em todos os
momentos. Lexie sabia ainda que Catherine estava ali por causa dela e
tentava cerca-la de todas as maneiras, e naquele dia ptareceu uma boa ideia
se valer do sempre cansaço e desgaste de suas imensas e duradouras
funções de residente-chefe e de quem estava à procura de uma vaga como
neurocirurgiã no hospital. Ou seja, Lexie passou o dia entrando em todas as
cirurgias que pôde, acolhendo traumas, fazendo escalas dos residentes,
orientando os próprios internos, se ocupando de todas as maneiras para
fugir como podia da mama Avery.
Quando o dia acabou e ela achou que a busca da sogra também tinha
acabado, Catherine enfim a encurralou.
— Lexie... – o sorriso pretensioso de Catherine se abriu imediatamente – Eu
passei o dia inteiro esperando para falar com você...!
— Sim, a Bailey me falou que você está com burocracias até o pescoço por
conta da residência e do cargo de chefia, sem falar nos internos... – ela deu
um suspiro inquieto – É algo que vem me deixando preocupada.
— Ora, porque agora as coisas não são mais como eram antes Lexie –
Catherine falava como se dissesse o óbvio – Agora você vai se casar.
— Fico feliz que você já esteja no final da residência, pois após o primeiro
ano da especialização já poderei contar com a sua presença ativa na
fundação.
— É claro que sim querida – Catherine voltou a usar aquele tom de voz
sugestivo que era totalmente irritante – Você vai ser uma Avery, não se
esqueça disso. Eu também fiquei assustada a princípio quando entrei na
família, mas vejam só, hoje eu sou mais Avery do que o pai do Jackson.
Quem sabe esse possa ser o seu destino também, guiar aquele que vai ser
patrimônio dos seus filhos.
Filhos? Lexie não pensava em filhos, não cogitava nada daquilo. Ela queria
apenas terminar a residência, se especializar em neurocirurgia, construir
uma carreira tal como Jackson estava construindo. Por que de repente todo
aquele peso tinha sido colocado em suas costas? Por que Catherine resolveu
procura-la trazendo toda aquela lista de novas responsabilidades às quais
ela não fazia a menor ideia que teria? Lexie começava a se dar conta que
tinha apenas aceitado um pedido de casamento, não assinado um contrato
de ser uma Avery. Ao menos era o que ela achava.
Parecia que o peso não estava nas costas, mas sim numa pedra encontrada
em seu dedo anelar direito...
— Melhor assim.
xxx
O desgaste de Lexie com aquela conversa sobre ser uma Avery foi tão
grande que ela decidiu sair para beber. Só que Amélia já tinha ido embora,
Meredith estava enjoada pela gravidez e por óbvio estava se privando de
seus habituais shots de tequila e Jackson decidiu não acompanhar a noiva
para descansar para uma cirurgia que teria na manhã seguinte bem cedo.
Lexie estava mais estressada do que nunca e evidentemente, sem
companhia.
— Filha, eu vou estar aqui com você... – Jesse disse tentando argumentar...
em vão.
— Soph, você não precisa... – Jesse disse num sussurro sendo prontamente
interrompido pela filha.
— So, eu sei que as suas intenções são as melhores, mas a sua dedicação já
é imensa e muito além do que eu posso agradecer – Jesse confessou
carinhoso – Você não é mãe dela. Você não é obrigação.
— Eu jamais pensaria isso – Jesse respondeu – Eu sei que você ama a Sam,
eu só não quero que você perca a sua vida por conta disso. Não quero que
nós sejamos um peso nas suas costas. Você é livre pra fazer o que quiser,
Soph.
— Então estou exercendo essa liberdade indo agora, mas também estarei
quando voltar pra cá mais tarde – Sophia disse sorrindo e arrancou um
sorriso maior ainda de Jesse – Só uma coisa... você perguntou se a Torrey
também tinha me feito fazer uma promessa... ela te fez fazer uma?
— Eu não sei o quanto é bom você se manter tão por perto – Jesse disse
aproximando a testa da dela – Não sei o quanto ainda sou capaz de resistir...
— Jesse... – o nome dele saiu da boca dela quase como um gemido sôfrego.
xxx
Mane conhecia Maite perfeitamente bem para saber que um jantar num
restaurante elegante jamais a satisfaria. Maite era aquela mulher que comia
doces, pizza e hambúrguer e ninguém sabia para onde ia tudo aquilo, já que
ela simplesmente não engordava. Trocava o jantar que fosse por um
cachorro-quente num trailer de rua, Mane já tinha visto isso tantas vezes
que nem sabia mais contar. Então não foi com nenhuma surpresa que ele
viu Maite saltitar de felicidade quando ele sugeriu que eles fossem para
uma pizzaria naquela noite.
— Eu já vim aqui algumas vezes com você, esqueceu? – Mane riu abrindo a
porta para os dois entrarem – Pizza de pepperoni?
And I'm so dizzy, don't know what hit me, but I'll be alright
E eu estou tão tonto, não sei o que me atingiu, mas eu ficarei bem
Nenhum dos dois sabia como começar o assunto. Eles sabiam que
precisavam conversar, que tudo precisava ficar em pratos limpos, que já
tinha sido por tempo demais um ignorando aquela situação e o outro
fingindo que não existia. Maite agora notava os olhares de Mane, os
sorrisos no canto da boca dele enquanto a observava. Os olhos dele
realmente brilhavam quando a encaravam, ele ficava como um bobo vendo
Maite falar e gesticular e ela teve a certeza que Mane poderia ficar o dia
inteiro apenas notando-a sem reclamar.
Como ela pôde não reparar...? Na verdade, como Maite conseguiu ignorar
todos os chamados, todas as maneiras que o mundo inteiro tentou lhe
chamar a atenção? Ela não sabia.
Talvez antes ela não estivesse pronta para encarar os sentimentos de Mane,
porque provavelmente o magoaria deixando-o de lado. Só que agora ela
estava. Não pronta para correspondê-los ainda, isso era algo que viria com o
tempo. Só que era bom sentir vontade de estar com alguém de novo, era
bom se sentir livre para um novo relacionamento. Livre de todo o estigma e
o peso do fracasso de seu casamento. Livre para saber que, mesmo que não
desse certo com Mane, ela iria se reerguer, superar e seguir em frente,
porque afinal já tinha sobrevivido a coisas piores.
Naquela noite Maite não tocou no nome de Koko, foi como se ela nunca
tivesse sido casada. Ela e Mane também não falaram de Pia, era assunto
para outro momento, não cabia. Na verdade era como um encontro, eles
conversavam animados, eram só sorrisos, Maite inicialmente contou de seu
dia e das pérolas de seus alunos, Mane começou a falar dos adolescentes
que ele treinava que ele dizia não serem tão mais maduros assim e terminou
com ela debochando dele pela derrota no treino, com Mane rindo meio
envergonhado pensando se ela sabia o verdadeiro motivo para toda a sua
desconcentração que resultou naquele resultado ruim. Mane não tinha como
saber, mas Maite sabia. Ela mordia os lábios pois agora percebia todas as
reações dele. Agora ela não iria mais perder nada.
'Cause all of me
Me dê tudo de você
Talvez o relacionamento deles não fosse uma batalha, mas Maite não sabia
o que era não ir direto para a briga. Parecia que Mane iria lhe ensinar.
The world is beating you down, I'm around through every mood
Eu não posso parar de cantar, está tocando, em minha mente para você
— Nós precisamos ir pra casa agora? – ela perguntou. Como suas mãos
estavam no bolso pelo ar gelado que batia, eles não estavam mais de braços
dados. Caminhavam lado a lado como dois amigos que ainda eram.
— Eu tenho que trabalhar amanhã cedo, mas nada que uma boa maquiagem
não resolva as olheiras – ela continuou e, ao vê-lo abrir a boca para retrucar,
se apressou – Nem comece ok?
Parecia que o que ele tanto tentou esconder agora estava escancarado.
— A Pia...
Comecei amando. Aquilo era significativo, era forte. Tudo era um passo
grande, Maite não queria sentir medo, mas sentia. Medo de não conseguir
se entregar, nem para Mane nem para ninguém, e se sentir eternamente
limitada. Mas de alguma maneira naquele sorriso dele ela sentia vontade de
pelo menos tentar. De deixar aquele medo de lado e ao menos fazer com
que ele fosse diminuindo aos poucos. Era um começo.
Acabou que a resposta de Maite foi totalmente diversa ao que Mane tinha
acabado de falar.
— A lua está bonita hoje – ela disse olhando para o céu atrás dele.
'Cause all of me
Me dê tudo de você
— Ela é como você – Mane murmurou – Sabe... combina com você. Porque
a lua é cheia de fases... hoje por exemplo é noite de lua cheia e ela está
deslumbrante... mas mesmo quando você não a vê por inteiro, você sabe
que vai continuar sendo maravilhosa.
Maite sabia que Mane não agiria, não porque não tinha atitude – ao menos
não dessa vez – mas porque ele queria respeita-la, não queria avançar com
pressa um sinal que não sabia se estava ou não aberto. Ele iria respeitar o
tempo dela, ainda mais agora que Maite sabia claramente quais eram os
seus sentimentos, restava somente que ela se decidisse sobre querer ou não
algo a mais.
Só que, por mais que o sussurro em seu ouvido fosse um não, por mais que
toda a sua racionalidade a empurrasse para não arriscar, ela via em sua
frente mil motivos para um sim. Agora que estava frente a frente com Mane
Maite percebia que seu grande medo era de perdê-lo caso não desse certo.
Mesmo assim, ela não conseguia imaginar aquela possibilidade. Mane era
um homem maduro que deixava claro que saberia lidar até mesmo com uma
rejeição dela. Talvez ele soubesse lidar com um término também.
E de repente ela se perguntou: por que deveria viver a vida pensando no que
poderia não dar certo? Por que não pensar que eles poderiam ser felizes e
poderiam se amar? Aquela história poderia ter um final feliz. A vida já era
triste demais. Já tinha não's demais.
Eles não seriam Sophia e Jesse. Não seriam Anahí e Alfonso. Seriam
apenas eles.
O beijo de Maite era muito diferente do que ele poderia imaginar e não
parecia em nada com os que Mane tinha trocado com outras mulheres ao
longo da vida. Mane se acostumou com garotas tímidas e de pouca atitude,
as que ele saía antes não lembravam Maite em aspecto algum. Ele não
costumava ser beijado por uma mulher, muito menos uma que o segurava
pela nuca como Maite fazia agora. Como ele tinha nutrido quinze anos de
expectativas por aquele momento, Mane era pura explosão. O momento era
muito melhor do que ele imaginou que seria, sobretudo porque era real.
Maite deixou parte do medo ir embora naquele beijo. Ela não se sentiu
segura nos braços de Mane, ela se sentiu segura consigo mesma por ter feito
o que queria e não se deixar levar pelos receios. Enquanto o sentia envolvê-
la, ela não pensou em nada exceto no fato de que o toque dele era firme,
seus lábios eram macios e que era extremamente bom estar nos braços de
Mane. Ela merecia aquela chance de transformar a ansiedade em felicidade,
a dúvida em concretude. Talvez fosse a hora de realmente deixar a
insegurança para trás, em especial quando estava beijando alguém que
nutria há muito os sentimentos mais nobres por ela e não teria coragem de
machuca-la.
'Cause all of me
Me dê tudo de você
Era só o começo.
xxx
Sophia não foi a única vítima do plano de Lexie de sair para beber em plena
segunda-feira, Anahí também foi arrastada para aquele programa
inesperado e, quem sabe, até inadequado. Ela ainda estava com certo receio
de sair à noite daquela forma, mas se era com as amigas, acabou
convencendo a si mesma que não tinha motivo para ficar insegura. Não iria
acontecer nada.
— Quer dizer, me casar com o Jackson significa ser uma Avery? – Lexie
falava totalmente inconformada – Eu tenho que ficar sendo a esposa pra ele
mostrar? Não foi pra isso que eu aceitei casar com ele.
— É que eu até agora não entendi o motivo pelo qual você aceitou aquele
pedido – Anahí confessou – Foi por que você estava bêbada? Por que ele
pediu em público...?
— Por que todo mundo cismou com isso? – Lexie bufou novamente –
Meredith também cismou com isso!
— Porque você obviamente não estava feliz com ele – Anahí insistiu – Não
feliz a ponto de casar. E agora você veio beber porque a mãe dele está te
infernizando, e eu entendo o ponto, é só que... estou confusa Lexie. Você
não ta me convencendo.
— Desculpe mas eu não tenho que convencer, eu estou feliz sim – Lexie
insistiu – Eu vim beber por causa da Catherine, não do Jackson. Ele me faz
feliz. É com ele que eu vou me casar.
Lexie parecia muito certa do que dizia. Sophia não era o tipo de pessoa que
diria que a amiga não estava seguindo o caminho certo, ela simplesmente
não se metia, ainda mais depois de ter acabado falando demais sobre Maite,
talvez fosse melhor se conter. A vontade que tinha era de sumir enquanto
Anahí insistia com Lexie que talvez aquele casamento precipitado não fosse
a melhor ideia. Tentando se desvencilhar, Sophia olhou para trás distraída e
de repente viu algo que lhe chamou a atenção: tinha um homem bonito, de
cabelo escuro e barba, que não tirava os olhos de onde elas estavam.
— Não surtei não – Sophia insistiu – Eu percebi que ele ta olhando pra cá e
é pra você.
— Como você tem tanta certeza que não é pra Lexie? – ela indagou.
— Porque era você se mexer e ele movia o olhar e sorria meio bobo –
Sophia disse sorrindo largamente.
Bem que ela tentou ignorar, mas Sophia continuou observando e viu que o
homem em questão seguia com o olhar fixo em Anahí. Ela sequer cogitou a
possibilidade, rebateu quando a amiga disse e tirou o assunto da cabeça,
mas isso não foi capaz de ilidir a pretensão do homem. Sophia acabou
tentando se distrair daquilo porque viu que Anahí não apenas não estava
interessada como também parecia não estar disposta a dar qualquer chance
à situação. Resolveu voltar para a conversa também, talvez Lexie precisasse
de ajuda para fugir do assunto. Quando Sophia estava prestes a mudar o
rumo dele, elas foram magicamente interrompidas por uma voz forte,
sedutora e masculina bem atrás.
— Com licença senhoritas – o homem em questão falava com as três, mas
olhava diretamente para Anahí – Atrapalharia se eu oferecesse um drink
para a moça?
Parecia que, dali em diante, Anahí não poderia mais dizer que aquele olhar
daquele sujeito era diretamente para ela. Não com ele parado em sua frente
lhe encarando, não com ele lhe oferecendo uma bebida... não com ele
deixando claro o quanto estava interessado.
E esse final com um novo boy na vida da Anahí hein? O que será que
podemos esperar disso? E será que uns e outros vão gostar? Hahahahaha
Não to mt falante pelo sono e porque quase esqueci de postar e agora posto
com um olho aberto e outro fechado kkkkkk
Beijos,
Rafa
Capítulo 29 - Explosion of feelings
Foi o que fez Milo levantar e caminhar até as três moças. E, embora falasse
com as três, evidentemente só encarava uma. A que lhe interessava, é claro.
— Tem muito tempo que eu não bebo – Anahí respondeu de imediato – Não
sei se é uma boa ideia.
Curiosamente foi naquela frase que Milo ganhou. Ele deixou claro que não
forçaria algo que ela não queria e isso surpreendeu Anahí. Ela estava se
sentindo acuada e pressionada, dado o seu histórico. Não conseguia sentar
em um bar e encarar um flerte de um homem como as amigas fariam
porque ela estava machucada demais pelos traumas dos últimos oito anos.
Só que aquele homem já deixava claro desde o início que respeitava o não
dela, algo que não aconteceu durante o período do sequestro. Foi o que fez
Anahí considerar.
Nem a própria Anahí entendia bem a sua reação, ela esperava estar nadando
num medo, mas a verdade é que aquele era um receio que ela sentia quando
era adolescente e começou a dar os primeiros beijos ainda no colegial.
Quando o homem chegou com ela na pista ele a segurou na cintura e ela
rapidamente recuou, mantendo certa distância. Eram duas Anahí's duelando
dentro dela, logo deu pra perceber: a que se mantinha reticente e a que
queria avançar. A que lembrava o tempo inteiro o quanto ainda estava
traumatizada e a que queria provar algo para si mesma, de que era capaz de
seguir com a própria vida e ter seus casos, seus amores, se sentir amada.
— Não exatamente.
— Digamos que eu vim pra um bar conversar com as minhas amigas, não
pra ser paquerada – ela devolveu fazendo-o arquear as sobrancelhas, mas ao
mesmo tempo sabendo exatamente como rebater.
— Então aparentemente essa dança será uma surpresa agradável pra você –
Milo finalizou.
Dessa vez Anahí não respondeu. Na verdade ela não sabia o que dizer,
somente deu um sorriso enigmático de quem tinha sido pega desprevenida.
Eles continuariam dançando por mais alguns minutos, olhos nos olhos, se
tudo não tivesse dado errado. Talvez teria sido melhor se Milo soubesse de
onde conhecia Anahí, assim aquele passo em falso não seria dado.
Como ele não sabia que a conhecia por fotos suas publicadas no jornal no
ato de seu reaparecimento – quando ela ainda era uma sombra despenteada,
abatida, mais magra e sem maquiagem do que a mulher estonteante que ele
tinha em seus braços naquele momento – não sabia também que precisava
ser cuidadoso e ter tato com aquela mulher. Milo continuou dançando com
ela e fez com Anahí o que faria com qualquer mulher naquela situação: a
puxou mais para perto, colando a sua cintura com a dela. O que faria uma
mulher envolvida suspirar, quem sabe sorrir, mas não se assustar. Porque
qualquer mulher não tinha sido violada de todas as maneiras por oito longos
anos como Anahí tinha sido.
Sophia foi quem alcançou Anahí na calçada do restaurante. Ela teve que
correr, mesmo de salto e desengonçada, mas conseguiu chegar até ela e
segura-la. Anahí já chorava àquela altura, de raiva e de dor pelas
lembranças que tudo aquilo lhe trouxera. Pelas lembranças era óbvio, mas a
raiva era causada pelo fato de estar, querendo ou não, eternamente limitada
e completamente impotente de continuar sendo feliz, de reencontrar seu
caminho. Tobias estava preso mas ela também estava... presa em si mesma,
presa no passado, sem saber como se soltar.
— Any, Any, ei... – Sophia disse abraçando a amiga e tentando a todo custo
enxugar suas lágrimas – Tudo bem, eu to aqui, eu to...
Sophia repetia aquilo sem parar, mas a verdade é que ela não sabia se
realmente ficaria tudo bem. Quem sabe repetindo tanto ela acreditasse,
porque se fosse julgar pelo modo como as coisas estavam... era bem difícil.
xxx
Antes mesmo de chegar ao Manhattan Medical Center Lexie já tinha
percebido que não tinha a mínima condição de clinicar naquela noite, não
considerando todo o álcool que tinha ingerido. Quando ela entrou na
Emergência trocando as pernas foi que se deu conta que talvez tivesse sido
melhor nem ter ido, porque a chance de o hospital inteiro falar que a
residente-chefe de cirurgia tinha chegado para atender um chamado médico
totalmente embriagada se espalhar era praticamente total.
Só que Lexie já estava ali, tentando se fazer de sóbria mas incapaz de andar
numa linha reta, ela caminhou fingindo demência pela porta da Emergência.
Sorte que o local estava um caos. A única pessoa que notou sua presença foi
justamente aquela que mais parecia ser a bússola enquanto ela era o norte:
Mark Sloan, obviamente. Como se a vida fosse uma imensa coincidência e
ele sempre acabasse nos mesmos lugares que ela, como se ele sempre
tivesse dentro de si um alerta para ter a atenção chamada quando ela
chegasse... realmente uma atração forte, que era a única explicação, mesmo
não sendo racional, do motivo pelo qual ele levantou a cabeça quando a viu
andando bêbada bem ali.
— Ei, que bom que você chegou – Mark disse puxando-a pelo braço –
Ande, vamos.
— Não temos tempo a perder – ele respondeu saindo com ela dali, sem
dizer que sim ou que não.
Lexie se deixou levar, andando no mesmo passe que Mark até um quarto
totalmente vazio num dos andares de cima do hospital. Não era um quarto
dos plantonistas e sim um que qualquer paciente poderia ficar, com maca e
toda o aparelhamento médico. Lexie pareceu confusa, estava esperando que
os dois fossem até um pós-operatório, quem sabe direto para a sala de
cirurgia, não para um quarto vazio.
— Hoje a paciente é você – Mark respondeu com uma careta – Vou te botar
no soro até curar essa bebedeira.
— Eu fui chamada aqui pra isso? – a careta dela foi idêntica – Eu não
acredito!
— Não, você foi chamada pra atender o paciente do trauma que está pra
chegar, mas alguns dos internos estão lá embaixo e eu imagino que você
não queira que eles vejam o quão bêbada você está.
— Você está – Mark insistiu – Eu te conheço. Senta aí, vamos furar esse
bracinho.
— Sim – Lexie suspirou – Pra ele dormir tranquilo tendo a certeza que o
futuro da fundação está são e salvo no hospital.
— Do que você...
— Avery não deve estar nem sabendo que a mãe foi falar com você – Mark
defendeu, mesmo sabendo que o seu pupilo não merecia tanto assim.
Mark estava com os olhos arregalados com o grau de sinceridade que Lexie
colocava naquela conversa, com tudo o que era possível de ler nas
entrelinhas. Ele tinha certeza que tudo o que ela revelava era fruto do álcool
no sangue, mas ao mesmo tempo se perguntava se dava para interpretar
pelo que ela dizia. Se ela estava sendo tão sincera assim e se realmente
estava comparando o relacionamento antigo deles com seu noivado com
Jackson. Porque se Mark estivesse certo no que pensava... queria dizer
muita coisa...
— Você vê...?
— Claro que sim – ele riu – Você vai ser uma cirurgiã brilhante. Vai se
casar, e vai ter uns três filhos... dois meninos e uma menina. E vai ser muito
feliz, eu tenho certeza disso. Mas pra isso, você precisa sobreviver a isso
agora. Porque veja como as coisas são... você e o Avery estão predestinados
a ficar juntos. Vai dar tudo certo.
Reconhece esse plano de futuro? Lexie reconhecia. Não era com Jackson
que ela tinha imaginado aquela vida. Era com o homem à sua frente que ela
tinha projetado. Um projeto antigo e mental, que ela fez quando ainda
estava no início da residência. Era bem futuro, ela colocava seu sucesso
profissional à frente daqueles planos, mas eles estavam ali... e teria sido
assim se Mark não tivesse engravidado Callie, se Lexie não enxergasse
aquilo como a quebra no pacto deles de esperar pelo momento dela, se ela
não tivesse visto tudo de outra maneira... aqueles planos poderiam ainda ser
futuros, mas seriam reais, porque seriam com ele.
A bebida colocou Lexie fechada com Mark naquela noite, naquele quarto, e
não atendendo o trauma para o qual foi chamada. A colocou frente a frente
para ele, falando mais do que deveria, confessando sentimentos que não
admitia nem para si. E agora terminava lhe dando coragem para fazer algo
que definitivamente não faria se estivesse sóbria.
Ignorando que estava com um soro na veia, ignorando que estava noiva de
outro homem e que ele não era Mark, Lexie se levantou dali e se encostou
em Mark, procurando a boca dele com desespero. Com saudade.
Encerrando um hiatus enorme entre a última vez que sentiu os lábios dele
nos seus, o calor de seu hálito, as mãos pesadas de Mark envolvendo-a.
Encerrando tudo.
Era incrível como o tempo não parecia ter passado para eles. Mark envolvia
Lexie da mesma maneira que antes, ela se moldava ao corpo dele como se
nunca tivessem se separado. Lexie ainda segurava a nuca dele como
costumava fazer, enquanto as mãos de Mark pareciam ágeis, indo da cintura
para as pernas dela, procurando qualquer rastro de sua pele nua. O beijo só
terminava para a boca dele procurar o pescoço dela, seu colo, as cinturas
dos dois se grudarem e, ao se encontrarem, ela começar a responder à
excitação que já sentia roçando contra o corpo dele. Mark por sua vez
segurava Lexie pelos cabelos como costumava fazer no passado, sem
qualquer freio, sem encontrar limite porque quem sabe, não o procurava.
Mas ele existia. E se materializou com Lexie sentindo uma dor ao perder a
veia do soro. Um gemido de dor que saiu involuntariamente de sua boca e
os interrompeu... e fez Mark enxergar onde estavam. Dentro de um quarto
no qual ela se recuperava de uma bebedeira, ignorando um mundo lá fora
onde ela estava noiva de um cirurgião do qual ele tinha sido mentor e que
antes o considerava seu amigo. Não era a maneira correta de agir. Se ela o
tinha punido por ter engravidado Callie, por ter sido essa a sua escolha, era
a vez de Lexie arcar com as consequências de ter aceitado se casar com
Jackson.
Ele nem conseguia, nem deveria fazer menção ao beijo dos dois. Não era o
correto. Eles tinham sido impulsivos, tinham pensado somente em si
mesmos e ignorado que não eram apenas eles. Mark agora os trazia de
volta ao campo racional, se afastava, fazia o que considerava correto. Só
que, se já estava difícil antes para os dois evitarem os flertes e as trocas de
olhares, não tinha como melhorar agora que eles se lembravam exatamente
qual era o gosto da boca um do outro.
Para Anahí estava muito difícil dormir naquela noite. Ela estava deitada em
sua velha cama, virando de um lado para o outro, sem que o sono fosse
mais forte que os pensamentos que perturbavam sua mente. A cabeça nunca
tinha estado tão pesada, as lembranças poucas vezes foram tão vívidas e
nítidas como estavam sendo naquele momento. Era aquele o medo que ela
tinha quando começou a fazer a regressão e o motivo pelo qual tanto
resistiu ao tratamento. Agora não dava mais tempo de voltar atrás.
Do lado de fora do quarto Karen também não conseguiu pegar no sono. Ela
dormia há sete anos ao lado de Keith e agora que o marido tinha se mudado
para outro lugar para respeitar o espaço da filha, simplesmente sentia falta
de alguém do outro lado da cama, que ficou grande demais somente para
ela. Naquela madrugada em especial Karen desistiu de tentar pegar no sono
novamente. Ela bebia um leite quente sentada no sofá e estava lá quando
Anahí abriu a porta do quarto e caminhou pelo corredor, chegando ao
cômodo.
— Cama grande demais só pra mim – Karen deu de ombros – Quer que eu
faça um leite quente pra você?
— Não precisa – Anahí mordeu os lábios – Você sente falta dele, não é?
— Eu não vou mentir pra você – ela respondeu – Mas isso não importa.
Minha prioridade nesse momento é a minha butterfly. Quando você estiver
com as suas asas recuperadas pra voar, eu ajeito a minha vida, Keith vai me
esperar.
— Eu adoraria que você desse uma chance pra ele – Karen murmurou –
Mas não vou insistir nisso agora.
— Eu não to pronta pra isso, não consigo – Anahí confessou – E a minha
vida ta uma bagunça, mãe. Essa regressão... são lembranças demais.
— Você sabe que pode conversar comigo a hora que quiser, não é? –
enquanto falava, Karen procurava a mão dela e a segurava em sinal de
apoio – Eu estou aqui pra você meu amor. Sempre, a qualquer minuto...
— É que... tem algo que eu tenho pensado e queria fazer, mas não queria te
deixar chateada – Anahí começou a dizer e a expressão de Karen a
encorajou a continuar – Eu... queria sair daqui. Eu queria ir morar em outro
lugar.
— Não – ela negou – Não me sinto segura pra isso, nem sei se um dia vou
sentir. Mas o apartamento do Christian e da Maite é grande, tem três
quartos, talvez... talvez eles me aceitariam lá. Eu não quero ficar aqui sendo
um peso pra você, te deixando longe do seu marido...
— Anahí... – Karen sorriu para ela apertando sua mão – Você não é nem
nunca foi um peso pra mim. Você é minha filha, minha única filha.
— Mas eu deixo a sua cama vazia e isso te faz perder o sono – Anahí
insistiu – E... eu sinto que eu preciso sair daqui, tentar viver a minha vida,
começar por algum lugar. E eu não consigo morar sozinha ainda, então
pensei, com a Mai e o Christian...
— Longe de mim tentar te impedir de tentar voar – Karen se virou para ela
confiante – Mas tem certeza de que é isso que você quer? Não quero que
você faça por mim.
— O que for melhor pra você é o melhor pra mim – Karen a abraçou – Mas
se sinta livre pra voltar a hora que quiser, ok? Essa sempre vai ser a sua
casa.
No abraço da mãe, Anahí se sentiu mais confiante de dar aquele passo.
Ainda tinha que ter a conversa com os amigos para saber se eles aceitavam
aquela ideia ou se era tudo precipitado demais, afinal ela poderia estar
sendo impulsiva... mas era uma sensação boa. A sensação de que ela talvez
não conseguisse naquele momento voar sozinha... mas estava começando a
tentar.
xxx
Dois dias depois da noite da saída com as amigas, Sophia tinha uma tarde
atípica na confeitaria. Poncho tinha levado Dani para passar algumas horas
com Samantha depois da escola e, quem sabe, distrair a menina, que
obviamente não estava recuperada da morte da mãe. Ele aproveitava aquele
tempo também para conversar com os amigos, sempre tinha o que
conversar com Sophia e Jesse, aquele não seria um dia diferente.
A questão era que Samantha estava tão grudada em Sophia que a conversa
entre os adultos acabou ficando só entre Jesse e Poncho, enquanto ela
estava sentada em uma das mesas da confeitaria brincando com as duas
crianças de um jogo. Os dois amigos apenas observavam-na com os dois,
Samantha no colo da tia mais dengosa do que nunca.
— Ela ficou nervosa porque a Soph saiu no outro dia, ficou com medo dela
não voltar como a Torrey não voltou naquela noite – Jesse explicou a
Poncho pesaroso – Eu queria tirar isso dela, mas não sei se há o que fazer.
— Leve-a num psiquiatra infantil, acho que vai fazer bem – Poncho sugeriu
– Hm, Jesse? Sophia e você estão...
— Juntos? Não.
— Ela passa metade do tempo no meu apartamento e quando volta pro dela,
a Samantha me enlouquece até eu desistir e ir pra lá – Jesse deu de ombros.
— Considerando que ela não sai do seu apartamento e nem você do dela,
não deve andar bem...
— Ela nunca mais disse nada e eu não sei como perguntar – Jesse deu de
ombros.
— Ela tem problemas demais – Sophia ressaltou – Você deve ter visto nos
jornais. A moça que ficou oito anos sequestrada... é ela.
— É um prazer.
— Muito bem, o que foi? – ela perguntou, impaciente ao mesmo tempo que
achava graça.
— Ah, nada – Sophia resmungou – Eu vi como por nada você não tirava o
olho.
Poncho prendia o riso pelo ciúme do amigo. Ele só não esperava o que
estava por vir.
— Se você quer saber, não é nada do que ta pensando – Sophia disse com ar
de riso cruzando os braços – Eu conheci esse cara no bar que fui com a
Lexie e a Any na segunda... ele não tirava os olhos de nós...
— Deu pra reparar Sophia – a voz de Jesse saía mais ciumenta do que
nunca.
— Mas quando se aproximou, confirmou o que eu já suspeitava desde o
início: que era a Anahí que ele queria.
Se fosse realmente obra desse, era sinal de que esse destino não estava
jogando no time de Poncho. Porque se antes ele ria de Jesse... agora era ele
que estava cheio de ciúme.
E todo mundo esperando Anahí avançar e eis que a menina Lexie passa na
frente e os gorós que a fizeram dizer sim pro Jackson agora a fazem avançar
a largos passos pro Mark. OPAAAA! Hahahahahaha 😏
E por fim, mal o Milo chega e já pousa nos ouvidos de um Poncho muuuuy
celoso! Hahahahahahaha por essa o Poncho não esperava mesmo!!!
E sobre AyA podem ficar tranquilas que eles estão vindo! E quando
vierem...
Boa semana!
Beijos,
Rafa
Capítulo 30 - To good to say goodbye
A noite do dia em que Poncho foi à cafeteria de Sophia para levar Dani para
ver Samantha foi a que Anahí foi até o apartamento de Christian querendo
ter uma conversa com ele e Maite. Tinha que ser à noite, porque os dois
amigos trabalharam durante o dia e Anahí tinha certeza que passaria o dia
inteiro lá esperando e nada deles. Arthur deixou a neta de carro na porta do
prédio e Christian a encontrou bem na porta. Ficou combinado que Anahí
dormiria lá, o que deixou Arthur aliviado e seguro de voltar para casa com a
certeza que de que a neta ficaria segura e com boas companhias.
— Eu não sei, mas quem sabe com você aqui ela resolve abrir o bico –
Christian suspirou esperançoso.
Eles não tinham se visto depois do dia que se beijaram, Maite queria
processar as informações, os sentimentos, era tudo muito novo, muita coisa
nova em pouco tempo. Mane estava dando aquele tempo para ela, indo
devagar, porque afinal eles nunca tinham tido nada, ele já tinha esperado
tempo demais, o que era alguns dias ou semanas? Mesmo assim Maite não
se manteve fria ou distante; pelo contrário, o procurou logo na manhã
seguinte e vinha sendo assim desde então. Christian notou aquela mudança,
sabia que Maite tinha saído na segunda à noite, mas ela não falou nem com
quem, nem para onde e ele se corroia de curiosidade, principalmente porque
desde então ela não desgrudava do celular, vivia falando com alguém e por
vezes parecia meio abobada e sorridente.
Ninguém cogitaria Mane, é claro que não. Maite passou tempo demais
ignorando os sentimentos do amigo, mesmo com todos os sinais de que ele
sentia algo por ela... tempo suficiente para que ali, mesmo que Sophia
tivesse exposto os sentimentos dele, ninguém fosse levar fé que Maite daria
uma chance. O fato é que ela tinha dado e não tinha se arrependido. Era
exagero dizer que Maite estava feliz, que ela tinha se apaixonado, mas a
verdade é que Mane estava lhe fazendo bem, lhe arrancando sorrisos. Ela
definitivamente estava bem. Só não estava no momento de dividir isso com
ninguém... o que, é claro, corroia Christian por inteiro.
— Olha ali, não te falei – ele disse abrindo a porta e espaço para Anahí
entrar e apontando para Maite, que levantou o olhar ao ouvir a voz dele –
Não solta desse celular...!
— Ih, começou o fiscal da minha vida – Maite disse fazendo uma careta,
terminando de digitar a mensagem, bloqueando o aparelho e deixando-o de
lado para falar com Anahí – Oi amiga. Ta tudo bem?
— Eu sou todo ouvidos – Maite disse apontando o sofá para que ela
sentasse.
— Será que dá pra Maite contar antes que é que ta rolando na vida dela? –
Christian perguntou ansioso – Quer dizer, pra aproveitar a visita da Anahí
na nossa humilde residência...
— A não ser que fosse pra cama do Poncho – Christian alfinetou – Ops...
— Poncho é casado, eu não sei se você lembra – Maite fez uma careta.
— Ai Maite, não custa sonhar né – Christian fez uma careta maior ainda –
Dentro do meu coração meu casal segue vivíssimo e ninguém poderá me
julgar.
— Você foi num bar com as garotas e não nos chamou...? – Christian
perguntou estupefato – Agora moradia você vem procurar aqui, né traidora?
— Então você vai se sentir assim aqui – Christian sentou do lado dela e a
abraçou – Bem vinda ao lar, bebê.
— O que você quer que eu faça? Que eu vire amiga dela como se nada
tivesse acontecido...? – Maite perguntou mordendo os lábios. Ela parecia
sincera.
— Ela não vai querer a minha amizade mais – Maite deu de ombros.
— Mai, nós literalmente vimos a Sophia gritando pela sua amizade – Anahí
completou – Ela ta passando por um momento bem difícil agora... a morte
da Torrey a abalou muito e ela ta dedicando 110% do tempo à Samantha.
Ela precisa de bons amigos do lado dela e eu sei por experiência própria
que, quando você quer ser uma boa amiga, você é ótima. A melhor.
Ele não trocou. Pelo contrário, Christian a cada cinco minuto de conversa
tocava naquele ponto novamente, insistindo que Maite não iria engana-lo e
que cedo ou tarde ela teria que ceder. No fim teve, não porque ele a venceu
pelo cansaço, mas porque bateram na porta e, quando ela abriu, foi com
surpresa que viu Mane do outro lado da porta.
— Eu... não sabia que você estava acompanhada hoje – ele sussurrou vendo
Maite dar um passo para fora e encostar a porta – Queria fazer uma
surpresa, mas acho que não foi uma boa ideia.
— Quer saber? – Maite disse convicta – Foi uma boa ideia sim.
Mane não esperava ver Maite ficando na ponta dos pés, sorrindo com a
alma daquele jeito e envolvendo-o pelo pescoço e o beijando. Foi
espontâneo, bonito e natural, como se aquilo fosse um hábito. Ele gostou
daquilo, de ser beijado daquela forma, como se fosse uma rotina ele deixa-
la na porta de casa com um beijo de despedida. E acabou que o sorriso que
Maite tinha antes acabou ficando nos lábios dele também.
Nem Anahí nem Christian sabia quem estava do lado de fora e com quem
Maite falava, achavam que era um vizinho ou um entregador de comida.
Definitivamente não esperavam quando a porta rangeu Maite entrar com
Mane de mãos dadas com ela. Anahí foi a primeira a perceber os dois juntos
ali e entender o significado daquilo. Christian descobriu pela reação dela,
correndo os olhos para a cena e arregalando-os em seguida. Era aquilo
mesmo que eles estavam entendendo?
Anahí por sua vez apenas olhava com encantamento os dois amigos, mas
mais do que isso, ela via o sorriso genuíno nos lábios de Maite e se ficou
satisfeita ao ver a amiga enfim se permitindo. Sabia que ainda havia um
longo caminho para Maite ser feliz de verdade, que Mane não era a solução
mágica para todos os problemas dela e que Maite tinha que fazer as pazes
com Poncho e Sophia ainda, mas aquele era um começo. A sensação em
Anahí era como ver a luz do fim do túnel havia esperança.
xxx
Se a primeira conversa que Jesse teve com Poncho o fez repensar o modo
como levava sua relação com Sophia, aquela segunda conversa – em
especial o fato de ver seu melhor amigo com ciúmes da ex-namorada e
diante da iminente possibilidade de perdê-la – foi o que faltava para fazê-lo
perceber que precisava tomar uma decisão para não perder Sophia.
Bruno Marz
Eu cometi erros
— Ela ta cada dia mais dura na queda – ela comentou rindo e suspirando –
Só dormiu depois que eu cantei a discografia inteira da Beyoncé.
— Cada dia mais viciada em música pop – Jesse fez uma careta rindo,
estendendo uma taça pra ela – Toma um pouco, foi um longo dia.
— Eu já disse, mas não custa repetir, você não tem obrigação e isso ta te
cansando demais – Jesse insistiu, mas Sophia fez uma careta imediatamente
negando.
— Meu namorado...?
— Sim – a careta de Jesse era gigante – Chad. Vocês não estão juntos? Ele
foi com você na festa da Lexie.
— Eu sei, eu sei – Jesse bufou tomado pelo ciúme – Eu não tenho direito
nenhum de te pedir nada. Inclusive não tinha o direito de tentar avançar
com você, eu fiz isso porque esqueci completamente daquele... daquele
idiota. Mas se você estiver com ele eu tenho que respeitar, porque afinal de
contas a culpa é minha né? Eu te entreguei de bandeja e não posso esperar
que você esteja aqui pra mim de volta...
Diga-me por que, por que não podemos tentar e começar de novo?
Sophia bem que pensou em apenas dizer que não, ela e Chad não estavam
juntos e ponto, apenas para deixar claro para Jesse que as coisas entre eles
dependia apenas deles próprios e de ninguém mais. Só que vê-lo agindo
daquela forma honesta e admitindo os próprios erros a fez reconsiderar.
Talvez fosse justo que ela também fosse honesta e dissesse a verdade.
Assim eles poderiam realmente recomeçar, sem mentiras, sem
desconfianças, um respeitando o outro. Uma relação cem por cento nova.
— Eu vou passar cada dia da minha vida tentando te merecer de novo Soph
– ele segurou o rosto dela colando seus narizes – Eu te prometo.
Sophia não demorou nada para avançar de volta para Jesse. Ele a tinha
beijado, a segurava pela nuca para não dar qualquer chance dos dois se
soltarem e ela simplesmente correspondia com todo o calor que emanava de
seu corpo. Logo ela empurrou Jesse de volta para o sofá e sentou no colo
dele, passando a perna para o outro lado e sentindo as mãos dele
percorrerem suas costas, ao mesmo tempo que a boca dele enfim soltava da
sua. Sophia sequer teve tempo de pensar, sentindo a boca de Jesse roçar por
seu pescoço e suas mãos chegarem às pernas dela e sua bunda. Estava claro
até onde eles iriam, se Sophia quisesse... e estava mais do que claro que ela
queria.
— Jesse... – ela murmurou como pôde. Parecia que de sua boca só sairiam
gemidos de prazer – Nós não podemos... ficar aqui... se a Sam...
Só Jesse era capaz de despertar aquele lado mulher dela. Com nenhum
outro era como era entre eles, Sophia tinha certeza daquilo, e
provavelmente com Jesse não era muito diferente. Tinha química envolvida
entre eles. Seus corpos se encaixavam, agora Sophia envolvia a cintura de
Jesse com as pernas e foi assim que ela ficou até ele fechar a porta do
quarto. Ela viu Jesse sequer prestando atenção se fechava direito ou não, se
fazia barulho, e sabia exatamente por que ele estava assim. Dava para sentir
contra sua intimidade que ele estava tão excitado quanto ela. Era algo que
os dois queriam.
— Eu estou com saudade, então saiba que não vou ser delicado – Jesse
confessou colocando-a sobre a cama e tirando a blusa de Sophia, sequer
dando tempo dela respirar antes de colocar aos mãos no fecho de seu sutiã
de renda – Dá pra gente fazer amor devagar depois de tudo, quem sabe
amanhã de manhã bem cedo, mas agora eu preciso muito, muito foder você.
— Eu não quero que você seja calmo – a voz de Sophia saiu mais rouca do
que nunca, ela estava embriagada de tesão – Eu quero que você me foda. Eu
sinto falta de você me comendo com força.
Sophia já sentia. Disso ela tinha certeza. E outra certeza era que nem se a
pele dela queimasse ela tiraria a própria roupa como Jesse estava fazendo.
Ele em dez segundos a deixou sem uma peça sequer, não hesitando em
toca-la por inteiro com as mãos, com a boca, com todas as partes do próprio
corpo. Não se tratava apenas de tirar a roupa dela, Jesse estava se despindo
também com toda a velocidade do mundo. Sophia gostava da pressa dele,
gostava do modo necessitado como ele tocava, mas de certa forma não
entendia por que ele parecia tão agoniado.
— Ei – ela disse segurando o rosto dele, fazendo Jesse encara-la – Olha pra
mim... nós não precisamos correr.
— É que... – ele suspirou, tirando uma mecha do olho dela – Eu tenho medo
que você racionalize tudo e acabe desistindo.
Diga-me por que, por que não podemos tentar e começar de novo?
Estava mais do que claro... ele achava que aquilo tudo era emoção, era
tesão. Não que não fosse, não que grande parte não se referisse ao sangue
quente dos dois.. mas Sophia que havia mais, muito mais.
Era o suficiente para Jesse. Aquelas palavras dela, especialmente pelo fato
de terem sido ditas olhos nos olhos, o convenceram. Ele não sentia mais
medo, então dali em diante começou a agir somente pelo prazer de tê-la em
seus braços, algo que algum tempo atrás achava que nunca mais
aconteceria. Ele queria sentir Sophia, e foi isso que fez. Passando o nariz
pela pele dela sentia de volta seu cheiro do qual sentiu tanta falta. As mãos
corriam livres pelo seu corpo, era como se a pele dela tivesse sido feita pra
ele. E ele sabia exatamente como fazê-la gemer, conhecia cada pontinho do
corpo de Sophia que lhe despertava o maior dos prazeres, e estava ali mais
uma vez disposto a explorar cada um deles.
A começar pelo fato de que ele sempre soube que Sophia amava receber um
oral.
Diga-me por que, por que não podemos tentar e começar de novo?
Quando Sophia sentiu a língua de Jesse tocando em sua boceta ela sabia que
aquele seria o seu fim. Ela sentiu o corpo desmanchar e seus olhos
imediatamente fecharam e se abriram de volta. O calor que já tomava conta
de Sophia parecia estar prestes a explodi-la. Ia da boceta para o resto do
corpo, incendiando-a. Jesse sabia disso e queria leva-la exatamente àquele
incêndio que amava causar nela.
A resposta dela era uma confirmação do que Jesse queria ouvir. Sabendo
disso, ele botou a camisinha e puxou a mão de Sophia para si. A viu com o
corpo mole e a expressão relaxada se levantando e sentando sobre ele,
procurando o melhor encaixe dos dois, que não demorou a acontecer. Jesse
segurou a base do pau, ajeitou sobre ela e deixou que os corpos dos dois
fizessem o resto. Estar dentro dela novamente era o paraíso, melhor que da
primeira e da última vez, como se nunca estivesse estado. Só que ele esteve,
ele sabia o que era achar que nunca mais estariam assim e estava disposto a
não deixar mais aquilo se repetir.
Sophia sentiu uma pequena pontada de dor ao sentir Jesse entrando dentro
dela. Por mais excitada que estivesse era tempo demais sem ninguém e
além disso, ele era enorme. Jesse pareceu perceber isso e a princípio foi
com calma, segurando-a pela nuca e pelas costas, mas logo em seguida
colocando ambas as mãos na bunda dela e, de certa forma, conduzindo os
movimentos. Foi assim que ele foi colocando aos poucos mais velocidade,
se mexendo com mais força, mais precisão, saboreando a visão que era ela
fechar os olhos cada vez que o sentia penetrar.
Bonito era ver os seios dela balançando enquanto ele a fodia, ver o prazer
tomar conta do rosto de Sophia. Bonito era ver como a expressão dela se
comprimiu quando gozou, enquanto Jesse também sentia a boceta dela fazer
o mesmo lá embaixo. Nesse momento ele parou de investir contra o corpo
dela e deixou Sophia aproveitando as sensações do seu orgasmo, voltando a
segurá-la pela nuca e pelas costas porque ela parecia tão leve que
provavelmente cairia para trás. Só depois ele voltou a se movimentar dentro
dela, até gozar. Até encostar o nariz no pescoço dela sentindo gozar em
jatos murmurando sôfrego o nome dela, certo de que nenhuma mulher era
capaz de lhe fazer se sentir tão completo quanto Sophia fazia.
Ele sabia que tinha feito uma promessa para Torrey, mas deixou de ser
sobre isso. Tinha a ver com o fato de que, depois que tirou a camisinha,
Sophia se aconchegou nos braços dele da mesma maneira que fazia no
passado. A maneira que ele sentiu tanta falta, fazendo-o se perguntar como
tinha se acostumado a ficar sem isso. Tudo era sobre o fato de que Jesse
agora sentia Sophia cair no sono em seu peito murmurando que não queria
estar em qualquer outro lugar e ter a certeza de que nunca tinha deixado de
ama-la. E que se antes ele era um idiota que tinha colocado aquilo a perder,
os erros tinham ficado para trás.
Jesse tinha lutado por um recomeço e agora não iria desperdiçar. Ele tinha
Sophia de novo, e a certeza é que não iria nunca mais perdê-la. Afinal, o
que eles tinham era bom demais para simplesmente acabar.
ENFIM BUSHFER
Vcs devem estar até estranhando né? Os casais demoram uma vida pra
ficarem juntos e quando um anda todos os outros saem correndo tb
kkkkkkkk ~menos os protagonistas~ hahahahahahahaha
Rafa
Capítulo 31 - New home
Karen já sabia que Anahí pretendia sair de casa, tinha tido uma conversa
com a filha e ouvido da própria boca dela. Ela só não esperava que as coisas
fossem acontecer tão rápido. Que Anahí fosse conversar com seus melhores
amigos de uma hora pra outra e resolver com eles que se mudaria para lá.
Agora ela estava sentada ao lado da filha vendo-a decidir quais coisas
levaria para aquele novo momento e simplesmente não sabia bem como
reagir.
— Você tem certeza que isso não é muito precipitado? – Karen perguntou
totalmente insegura – Quer dizer, não precisa ser corrido assim, dá pra se
planejar com calma...
— É que eu tenho medo de não conseguir te proteger com você não estando
mais aqui – Karen confessou. Então era isso.
Karen logo percebeu que não adiantaria nada lutar contra essa vontade de
Anahí de se mudar. E como já tinha vivido oito anos de saudade da filha –
sem falar nas semanas que a relação delas ficou estremecida pela rejeição
de Anahí à Keith – ela percebeu que a melhor maneira de não afasta-la era
apoiando-a. Era uma garantia de que Anahí deixaria que ela se mantivesse
por perto. Pensando nisso Karen apenas sorriu, ajudando a Anahí a
empacotar seus pertences e já começando a preparar as caixas para leva-las
a seu carro e posteriormente deixa-las no apartamento de Christian.
Karen e Anahí teriam passado ainda mais tempo se não tivessem sido
interrompidas por Ellie. Por um motivo mais do que justo, é claro.
Era uma surpresa para Anahí, sem dúvidas, mas ela reconhecia o olhar que
Keith dedicava à sua mãe. Ela já tinha recebido aquele olhar e sabia
exatamente o que ele significava. Keith segurava as mãos de Karen com
carinho enquanto os dois conversavam, ela ria de algo que ele falava, ele
sorria por fazê-la rir. Dava para ver que ali havia um sentimento genuíno,
algo muito especial e que, como ela não estava ali para ver começando,
simplesmente não conseguia acreditar.
E ela não fazia ideia que Karen e Keith falavam justamente dela.
— Ela realmente está determinada com essa mudança, e eu não vou dizer
que não estou com medo, mas acho que ela precisa disso sabe...? – Karen
comentou vendo o marido assentir – Então eu estava lá, ajudando-a a
guardar as coisas em caixas, com o coração apertado, mas tentando pensar
que qualquer momento com ela é melhor do que não ter um momento.
— Você quer participar de qualquer coisa, eu entendo – Keith assentiu – Ela
vai ficar bem Karen. Não vai ser agora nem tão cedo, mas eu realmente
acredito nisso.
— Nós nunca acreditamos que ela voltaria e veja só – ele comentou rindo –
E ela vai ficar com Christian e Maite. Os dois vão apoia-la. É importante
deixa-la ir pra que ela sempre queira voltar. Prendê-la é pior, ela já ficou
presa por tempo demais, nunca vai reaprender a viver se ficar nessas
paredes.
— Você tem razão – ela comentou – Mas tem outra coisa que eu queria
falar. Sobre você, nós dois... porque com isso você pode voltar pra cá.
Quando quiser.
— Você não acha melhor darmos um tempo antes por causa dela...?
— Não, a Any não se importa – ela ressaltou – Está se esforçando por isso.
Karen não sabia. De certa forma aquele "não saber" era um bom sinal. Sinal
de que não era Tobias Menzies.
— Sua amiga Sophia me passou o endereço daqui – ele ressaltou – Ela não
fez por mal. Eu apenas queria ver e dizer que sinto muito. Não tive a
intenção de te assustar, nem naquele dia nem hoje.
Não era algo com o qual ela estava contando. Não era algo que Anahí
esperava. Pelo contrário, ela tinha a sobrancelha arqueada de quem tinha
sido pega de surpresa, quem sabe pelo fato de que todas as pessoas ao seu
redor faziam uma grande questão de cerca-la, talvez ainda porque a última
referência de um homem em sua vida foi justamente aquele que a deixou
sem vida. Ela esperava por homens insistentes e perseguidores, e agora
tinha em sua frente um homem que respeitava seu espaço e suas decisões. E
não poderia estar mais surpresa.
— Espera – ela segurou o barco de Milo quando ele estava prestes a sair –
Você não quer... não sei... tomar um café...?
Só que no fim nem mesmo Karen precisou interferir. Anahí viu a mãe se
aproximando receosa e lhe lançou um olhar para tranquiliza-la. Como as
duas se conheciam há muito tempo, um mero olhar bastava. E aquele olhar
realmente acalmou Karen. Era o olhar de Anahí indicando que estava bem...
e que fazia sua mãe acreditar. Indicava que ela não precisava intervir... e era
isso que Karen iria fazer.
Talvez Karen estivesse errada, mas a verdade é que ela há muito tempo não
recebia qualquer indício de que Anahí estava ou poderia estar bem. E
aquele poderia ser um sinal de que as coisas poderiam encontrar o seu
lugar... mesmo que demorasse, iria acontecer.
xxx
A mente de Alfonso não estava exatamente em paz. Ele passou o dia inteiro
com os pensamentos longe. O notebook que o acompanhou no trajeto de
sempre à Starbucks para escrever permaneceu ligado, com o Word aberto
em sua frente, sem que Poncho conseguisse escrever mais de três linhas.
Porque sua mente não estava em seus personagens, mas na mulher que tinha
sido a origem da inspiração não apenas daquela história, mas de todas as
outras.
Ele achava que lidaria bem com aquilo quando acontecesse, mas agora se
dava conta que nunca tinha acreditado de verdade que iria acontecer. Na
cabeça de Poncho, a ideia de uma Anahí machucada, com cicatrizes demais,
ficou enraizada. Ele nem mesmo conseguia lembrar de como ela tinha sido
no passado dos dois, a mulher que ela era enquanto estava nos braços dele.
Ao se lembrar dela pensava em seu momento de reconstrução, com os
traumas que tinha vivido e o tanto de dor que tinha causado.
Se ela tivesse outro homem na vida dela, esse homem não a conheceria.
Nem a Anahí de antes, nem a de agora. Sequer seria capaz de supor o que
ela tinha vivido naquele lugar. Se para ele era difícil, imagine para alguém
que nunca conviveu com Anahí. Um homem que não a viu ao chegar no
hospital completamente machucada e totalmente irreconhecível em relação
ao que era antes. Que não tinha acompanhado a transformação pela qual ela
lutava e definitivamente não fazia ideia do doloroso aborto sofrido por
Anahí naquele maldito cativeiro.
Mas ele sabia que não era apenas preocupação por ela não estar em boas
mãos, ele tinha certeza. Talvez não fosse admitir, tampouco falar em voz
alta, mas lá no fundo tinha uma boa dose de ciúmes. Outro homem tocando
nela voluntariamente? Era difícil. E Poncho sabia que era egoísta, que ele
não tinha qualquer direito de ficar com raiva, na verdade de ter qualquer
sentimento negativo sobre aquela situação... não quando ele tinha escolhido
exatamente o caminho oposto e a deixado livre. E se Anahí estava livre, ela
poderia fazer o que quisesse.
A única pessoa capaz de tirar Poncho daquela situação era, é claro, Daniel.
Quando pegou o filho na escola Poncho conseguiu se distrair de tudo aquilo
que assombrava sua cabeça e foi assim até a noite, quando Diana chegou
em casa e, como de praxe, viu o menino bem cuidado e brincando animado
enquanto o pai preparava o jantar. Mas assim que Dani pegou no sono e ela
encontrou o marido de volta na cama notou que algo estava errado ali.
Poncho estava com o olhar distante como há muito tempo ela não via. Algo
estava faltando.
O dever mandava Poncho contar a verdade com Diana, ser sincero, mas ele
achava aquilo mais egoísta ainda. Não era justo mancomunar a esposa com
todas as suas dúvidas e interrogações. Ele sabia que dizer agora seria deixar
Diana machucada. Para falar com ela precisava antes saber o que queria,
saber qual era o seu ponto. E não era uma informação que Poncho tinha
naquele momento.
A verdade é que aquele mal estar pela simples ideia de Anahí seguindo em
frente com a vida era um sinal de que Poncho não estava 100% naquele
casamento. Não era nenhuma novidade, mas o que ele tinha certeza naquele
momento é que precisava se decidir em definitivo sobre o que realmente
queria para a própria vida. Não era justo continuar deixando Diana no
escuro, nem Anahí no limbo. Não era justo nem consigo mesmo viver entre
duas metades. E por mais que ele soubesse que aquela decisão estava nas
suas mãos, aquilo não facilitava em nada o que ele precisava fazer.
xxx
O plano perfeito de Jesse era acordar tranquilo naquela manhã com Sophia
em seus braços. Eles tinham passado a noite juntos e, como ambos dormiam
fundo e se mexendo pouco, não era assustador esperar que ela ainda
estivesse ali, no abraço dele, quando amanhecesse. No meio da madrugada
Jesse acordou e Sophia ainda estava ali, respirando no pescoço dele,
fazendo-o ter a sensação de que o tempo nunca tivesse passado, já que as
coisas pareciam ter reencontrado o seu lugar.
Mas no fim o que acabou acontecendo foi que eles descobriram que o
tempo tinha sim, passado. E que tudo tinha mudado.
Sophia realmente acordou nos braços de Jesse, mas não da maneira que
esperava. Não por acordar naturalmente, por senti-lo mexendo ou quem
sabe por uma claridade entrando pela janela. Nem mesmo um despertador
tocando, o que nem seria tão indesejável naquele momento, dado o fato de
que o que a despertou foi outra coisa bem pior: o choro e as batidas
desesperadas de Samantha na porta.
— PAPAI! PAPAI!
— Eu... eu... – ela dizia em soluços, mas no fim nada falava. Jesse levantou
da cama sem entender e se abaixou na altura das duas, trocando com Sophia
um olhar preocupado.
— Isso não vai acontecer, eu te prometo – Jesse garantiu – Você não precisa
chorar bebê, eu nunca vou abandonar você.
— Nem a tia Soso? – a menina disse olhando para a tia que ainda a protegia
em seus braços e deu um sorriso no canto da boca.
Num pesadelo, uma criança que não estava estável acabou regredindo uma
etapa, voltando a fazer xixi na cama, algo que Sophia sabia que já não
acontecia há pelo menos dois anos. Ela suspirou pesarosa com a
constatação, rapidamente trocando o lençol antes que Samantha percebesse
e ficasse envergonhada. Era óbvio que a menina estava frágil ainda pela
morte da mãe e que não era algo que seria superado rápido. E mais óbvio
ainda que aquele não era nem de longe o melhor momento para que ela
vivesse novas emoções.
Depois de trocar a roupa de cama e separar uma roupa limpa, ela viu Jesse
entrando com a filha envolta em sua toalha com capuz de unicórnio e um
bico enorme nos lábios. Logo o viu também vestir Samantha e deixa-la
sentada no sofá assistindo um desenho, prometendo que não demoraria a se
arrumar. Mas Jesse não foi para o quarto se trocar, ele foi para a área de
serviço onde Sophia colocava a roupa molhada de xixi na máquina de lavar.
Certo de que do ângulo em que estava Samantha não seria capaz de vê-los,
ele a abraçou por trás e deu um beijo em seu ombro. Mas pelo suspirar
pesaroso dela já percebeu que não estava tudo bem.
— Não era assim que eu queria acordar – Jesse confessou num sussurro,
fazendo-a se virar.
— Ela fez xixi na cama – Sophia disse e ele confirmou, pois já tinha notado
– Ela não ta bem, ainda ta muito instável por tudo.
— Eu sei – Jesse mordeu os lábios – Isso significa que não é a melhor hora
pra nós dois...
— Nós vamos ter tempo – ele se apressou em dizer – E sim, eu sei que
Anahí e Poncho não tiveram tempo, que Torrey e Nick também não, mas
raios não caem tantas vezes no mesmo lugar. Com a gente vai ser diferente.
Eu não sei como Soph, mas eu preciso ter esperanças.
— Ela dorme com a gente a princípio, vamos levando-a de volta pra cama
aos poucos...
— Nada de passar tempo demais sozinha – Jesse constatou – Você acha que
um psiquiatra infantil seria necessário?
— Acho que é uma boa opção – Sophia concordou – Pra acompanha-la, nos
dizer qual o melhor caminho...
— Então nós vamos levar – Jesse a abraçou – Obrigado por estar comigo
nesse momento. Eu sei que nem de longe é o ideal...
— Eu não queria estar em qualquer outro lugar – Sophia sorriu para ele –
Então... Starbucks?
— Starbucks!
E afinal, desde quando os momentos precisam ser ideais? Ideais não vêm de
ideias? Aquela era a realidade... e eles precisavam se acostumar, Samantha
precisava se acostumar... e apenas esperarem que tudo voltasse ao normal.
xxx
O dia começava com mais uma sessão de terapia para Anahí. Ela já estava
até acostumada com toda aquela sistemática: chegava cedo no hospital,
esperava no corredor ansiosa mas, quando a Dra. Balfe finalmente abria a
porta e lhe abria espaço para sentar naquele sofá, a coragem ia para o ralo.
Anahí sentia medo do que estava por vir, do que a psiquiatra diria, do que
estava prestes a lembrar.
A última lembrança dela foi de um dia que ele chegou do café de sua mãe,
relatando o quanto Karen, Arthur e Ellie pareciam bem e felizes, como se
tivessem esquecido dela e seguido em frente. Anahí lembrou de ter brigado
com ele, ter tentado agredi-lo pela raiva que a notícia gerou e como foi
espancada a ponto de mal conseguir se mexer no final, ficando quase três
dias jogada no chão sem comer, até Tobias se dar conta que ela continuar
assim provavelmente a mataria e a ele não iria convir sua morte. Por isso
ele a obrigou a comer.
Assim como ela não queria viver aquela vida que já tinha acabado. Não era
pra isso que ela tinha sido resgatada. O objetivo era, ou ao menos deveria
ser que elaseguisse em frente, que retomasse o que tinha sobrado de sua
vida. Lembrando o tempo inteiro Anahí simplesmente não conseguia. E ela
precisava viver, porque já eram coisas demais. O amor que ela não chegaria
a concretizar, o filho que tinha perdido, a carreira que nem sequer tinha
começado, todas as coisas que ela já tinha perdido... tudo era demais. Ela
precisava de algo bom em sua vida e a única esperança era que no final de
todas aquelas regressões alguma luz no fim do túnel aparecesse.
O problema era: quando seria o final? A Dra. Balfe parecia esperar por
algo, como se soubesse o que estava por vir. Como sabia, Anahí não fazia
ideia. Ela perguntava e não obtinha da terapeuta aquelas respostas. Estava
claro quem fazia as perguntas ali.
— Eu só quero que você faça as coisas que queira fazer, que assuma o
controle – Caitriona explicou – Você está bem com essa decisão?
— Desde que você esteja bem com uma amizade ou um romance – ela
propôs – Apenas deixe seguir.
Pronta, realmente, Anahí nunca estava, mas era algo que tinha que
acontecer de um jeito ou de outro. Por isso ela apenas assentiu, fechando os
olhos e se concentrando. Anahí tinha um firme propósito, ela queria
lembrar algo significativo. Algo que quem sabe encerrasse aquele martírio,
que a colocasse no fim da linha. Por mais que Anahí soubesse que não tinha
grandes controles sobre o que iria lembrar, diziam que a mente era mais
poderosa do que imaginava. Talvez funcionasse.
— Nada – Anahí disse franzindo a testa – Ta... ta tudo escuro. Eu acho que
a luz ta apagada.
Um choro...?
Se Anahí ouvia o choro, então não era dela. E provavelmente não era de
Tobias. Então era uma terceira pessoa?
E se primeiro ela achou que poderia ser outra mulher, outra vítima... logo
ela entendeu. Logo lembrou. A memória veio à sua cabeça como se dali
nunca tivesse saído. Não era um choro de vítima. Não era o choro
inconsciente dela, muito menos o de Tobias.
Esse capítulo focou bastante em AyA mas não nos dois enquanto casal e
sim neles separados, principalmente na Anahí. Mostra ela falando com o
Milo, ela abrindo o jogo com a mãe e enfrentando a terapia que contém
grandes revelações!
Por fim, Bushfer vai ter que segurar um pouquinho o momento love pra
cuidar da Sam. Prioridades, afinal! Vcs conhecem melhores papais? Eu
não! Mas fiquem tranquilas, não é o fim do casalzinho do pop.
Até quinta!
Beijos,
Rafa
Capítulo 32 - A twist of fate
— Não, eu não quero, eu quero saber de onde vem esse choro, eu preciso...
Conforme Anahí insistia na ideia ela ia ficando mais agitada. Seus olhos se
mexiam mais do que nunca, estava claro que ela, naquele outro plano onde
a regressão a levava, tentava a todo custo descobrir de onde vinha o choro.
Só que quando mais ela forçava, mais a cabeça doía e isso lhe causava um
tipo de sofrimento com o qual não estava contando. E logo a psiquiatra
percebeu que insistir naquela abordagem naquele momento traria mais
prejuízos.
— Anahí, talvez seja melhor você voltar – Caitriona propôs – Nós vamos
ter outras sessões...
— Você não está bem pra isso – a médica insistiu – Ande, vamos, volte.
Anahí claramente não estava bem para continuar, mas esperar pela
confirmação do que parecia estar acontecendo doía demais. Ela não saberia
lidar com a espera, com a expectativa, seria difícil. Era exatamente por isso
que ela não queria dar ouvidos à psiquiatra, queria seguir com aquilo e
descobrir o que estava por trás daquele véu que apagava sua memória. O
problema é que a lembrança não a afetava somente emocionalmente, tinha-
se ali um desgaste físico pela primeira vez. Sua cabeça doía e aquele
definitivamente era um obstáculo. Ela não sabia o que fazer.
— Quando você chegou aqui, depois de ser resgatada, um dos exames que
foram feitos foi um raio-X na sua pelve que apontou uma fratura que
indicava que você tinha passado algum trauma naquela região – ela
explicou – Ela acreditava que ou tinha sido uma agressão, ou um parto
normal mal feito...
— Eu acreditava que o que quer que tivesse acontecido, tinha a ver com a
sua perda de memória – Caitriona completou – Por isso eu insisti no
tratamento através da regressão... porque nesse caso nós poderíamos nos
aproximar do que quer que fosse esse trauma pelo qual você passou.
Caitriona sabia que Anahí estava com os nervos à flor da pele e que
simplesmente não lhe ouviria com o que quer que dissesse. Ela tinha suas
próprias suspeitas – que estavam longe de serem certezas, mas sem dúvidas
colocavam tudo em dúvida – do que poderia ter acontecido naquele
cativeiro com aquela criança, mas Anahí não estava em condições de ouvi-
las. Ela estava convicta daquela possibilidade, que a criança estava morta,
que não havia nada que poderia ser feito, e provavelmente seguiria
acreditando nela. Talvez fosse melhor deixar assim, ao menos por enquanto.
Afinal, outras sessões de regressão viriam e preencheriam as lacunas que
faltavam.
Só que Anahí não estava nem de longe satisfeita com tudo aquilo. Pelo
contrário, ela procurava por respostas e, depois daquele debate, parecia
claro que Caitriona Balfe não tinha algumas e não a deixaria buscar as
demais, ao menos não naquele dia. Ela teria que esperar para se recuperar,
resgatar algum equilíbrio e só depois as novas sessões dariam continuidade
àquela. Só que Anahí não estava disposta a esperar. Ela estava saindo do
consultório da psiquiatra somente com uma receita de remédios controlados
para dormir. Mas ela queria mais e iria atrás.
— Você quer saber por que... – ela franziu a testa encarando a amiga.
— A Dra. Balfe disse que eu fiz um exame na época que cheguei aqui, um
raio-X da pelve, e eu queria saber...
— Sim, ela está de plantão – Lexie confirmou num tom muito mais
cabisbaixo – Você quer que eu vá com você...?
Justamente por saber do que se tratava, Lexie deixou que Anahí seguisse
aquele caminho sozinha. Ela não tentou impedi-la ou, quem sabe, forçar a
barra para acompanha-la. Anahí já tinha deixado claro que não queria que a
amiga fosse com ela, que queria procurar a Dra. Robbins sozinha. E desde o
primeiro dia sua psiquiatra tinha deixado claro para todos o quanto era
importante que os desejos de Anahí fossem atendidos, depois de tantos anos
tendo seu consentimento sido violado de uma forma tão bruta.
O que Lexie fez, na verdade, foi agir nas sombras. Ela se preocupou em
avisar as duas pessoas que mais precisavam estar por perto de Anahí
naquele momento: Maite e Karen. Se apressando em pegar o próprio
celular, Lexie mandou mensagem de cara para as duas. O combinado era
esse: não importava quem estaria ao lado de Anahí, e sim que alguém
estivesse.
E elas mal sabiam que aquele era apenas o primeiro momento em que todos
teriam que se unir em favor dela...
xxx
Arizona Robbins era a única cirurgiã fetal do New York General Hospital, e
aquela especialidade lhe dava competência também para clinicar na área
ginecológica, obstétrica e neonatal. Por sua proximidade com o alto escalão
de cirurgiões do hospital foi ela quem foi chamada para atender o caso de
Anahí ainda na emergência no dia de seu resgate. E foi com sua esposa,
Callie Torres, a cirurgiã ortopédica que operou Anahí logo no primeiro dia e
nas vezes seguintes, que ela trabalhou em conjunto e isso resultou num
pedido de raio-X da pelve da paciente.
A dúvida final seria tirada naquela manhã com a cirurgiã. Por sorte Arizona
Robbins estava no fim de uma ronda com os internos e residentes. E Anahí,
no corredor, estava à sua espera.
É claro que ela esperaria.Cada minuto que se passou até Arizona Robbins
voltar com o bendito exame em mãos. Anahí achava àquela altura que a
médica provavelmente tinha esquecido dela ou acabou sendo bipada para
atender alguma emergência e esqueceu que ela a esperava, não era algo que
se poderia dizer que era incomum de acontecer ali. No fim não foi nada
disso. Arizona demorou porque estava procurando o prontuário de Anahí,
mas mesmo demorando ela chegou com o exame em mãos. Anahí, que já se
preparava psicologicamente para mais uma frustração, sorriu aliviada ao ver
a cirurgiã em sua frente. Se levantou de imediato, mas Arizona acabou
indicando que ela sentasse novamente. As duas tinham que conversar.
— Está vendo isso aqui...? É uma fratura – ela explicou – Nós chamamos
de fratura por avulsão.
xxx
Antes de receber a mensagem de Lexie que dizia que ela deveria estar
próxima à Anahí, Maite aproveitou a tarde livre para resolver outra
pendência, por assim dizer: fazer as pazes com Sophia.
Está certo, fazer as pazes era um certo exagero. Para quem tinha vivido num
extremo durante seis anos, não era possível simplesmente pular para outro,
como se nada tivesse acontecido. Virar amiga de Sophia como se as duas
nunca tivessem se distanciado – ou melhor, como se Maite não tivesse se
afastado dela – não era possível, soaria falso. Não tinha o menor clima se,
depois daqueles anos se evitando, elas simplesmente voltassem a ser as
amigas que tinham sido um dia. Não dava para pular do oito para o oitenta
sem mais nem menos, ela não conseguiria e provavelmente Sophia idem.
Exatamente por isso ela foi até a confeitaria da ex-amiga, se valendo do fato
de que tinha saído mais cedo da escola. Era o meio da tarde, Samantha já
tinha voltado da escola e estava sentada numa mesa próxima ao balcão
pintando um desenho. Jesse por sua vez estava no caixa – uma função que
até tempos atrás pertencia à Torrey – e Sophia estava ocupada tentando
organizar a cozinha ao mesmo tempo que treinava uma funcionária nova.
Tudo ali parecia estar se adaptando a uma nova realidade, não parecia nem
de longe ser o melhor momento para Maite aparecer, mas ali ela estava.
A surpresa se deu pelo fato de que ele não teve sequer tempo de reagir, já
que alguém conseguiu ser ainda mais ágil.
— Você não veio maltratar minha tia Soso não, né?
Samantha estava, com toda a altura que seus cinco anos permitia, de pé na
frente da Maite, mesmo que não tivesse a mínima chance de bloquear a sua
passagem. O que ela fez foi com que o pai arqueasse as sobrancelhas ao vê-
la peitando Maite, e a própria arregalasse os olhos com aquela afronta. Mas
nada intimidava a menina, que estava de braços cruzados com a expressão
de marrenta, demonstrando que mesmo com seu pouco tamanho, estava
disposta a tudo para proteger a sua tia Soso.
— Não Samantha, eu não vim – Maite disse, logo percebendo que não tinha
convencido em nada aquela criança – De verdade.
— Eu não esperava você por aqui – Sophia confessou olhando Maite com
certo receio – Aconteceu alguma coisa com a Any...?
— Não – Maite negou – Não tem nada a ver com ela, Anahí nem sabe que
eu to aqui. Eu vim porque queria conversar com você.
— É meio difícil imaginar o que nós duas teríamos pra conversar – Sophia
estreitou os olhos para ela.
— Eu queria te magoar, mas como sou meio pedra às vezes, nem sempre
consigo entender que as pessoas ao meu redor não são – Maite continuou –
Eu não tenho por que mentir. Estava com um ressentimento tão grande
sobre você, o Jesse e o Poncho que... cada vez que eu lembrava, cada vez
que me sentia mal... eu queria que vocês sentissem também. E como eles
sempre pareceram indiferentes a tudo, eu achei que você também era. E por
isso eu não parava. Continuaria achando isso se você não tivesse berrado a
plenos pulmões os sentimentos do Mane naquele dia.
— Eu sinto muito pelo Mane, ele não merecia ser envolvido nisso – Sophia
respondeu cruzando os braços – Agora, se isso te magoou? Sinceramente
Maite, é bem feito pra você.
— Pois que pena – Sophia estreitou os olhos. Havia mágoa demais na voz
dela – Como eu posso te magoar então...? Como eu posso fazer com que
você se sinta o lixo que eu me sinto cada vez que você me trata mal?
— Eu vim dizer que sinto muito – Maite completou – Isso não muda nada,
não apaga nada, mas de certa forma recomeça. Pode ser tarde demais pra
nós sermos amigas de novo, mas... não seremos mais inimigas. Ao menos
não da minha parte.
— Da minha nós nunca fomos – Sophia devolveu – Só que você não pode
esperar que eu finja que nada aconteceu. Eu ainda estou bem magoada.
Agora bastava que o tempo passasse para que Sophia soubesse dentro de si
se era suficiente.
xxx
Maite só foi ver a mensagem que Lexie enviou sobre Anahí depois de
conversar com Sophia e sair da cafeteria. O peso que ela julgava que tinha
saído de suas costas voltou com força total. Na mesma hora Maite varreu
qualquer plano que pudesse ter de como terminar aquele dia e partiu
imediatamente para a casa da amiga. Quer Anahí tivesse chegado, quer não,
ela estaria lá.
O que Maite não lembrava era um plano que ela tinha feito lá mesmo, na
casa de sua melhor amiga. Como de costume ninguém batia direto na porta
dos Portilla e sim ia para o café ver se alguém estava em casa. Maite, ao
chegar lá, procurava por Karen ou Ellie por trás do balcão, mas antes que
pudesse encontrar qualquer uma das duas, ela notou Mane sentado
bebericando um capuccino e sorrindo tranquilo pra ela.
De fato, ninguém.
Aquele tinha sido o dia que Anahí se mudaria para o apartamento de Maite
e Christian. Tudo estava combinado, Maite tinha saído cedo também por
aquilo e se aproveitaria que a amiga tinha uma sessão de terapia para se
resolver com Sophia. Só que Anahí tinha coisas demais e talvez fosse uma
boa ideia alguém que tivesse um carro e pudesse ajudar com as coisas.
Nada mal se também fosse alguém que arrancasse um sorriso de Maite e
recarregasse suas energias. Mane era o candidato perfeito.
Tudo o que ela disse a Mane foi que algo tinha acontecido a Anahí e que ele
precisava dar privacidade a elas. Mane aceitou de bom grado, sem qualquer
reclamação – não que se pudesse esperar outra coisa dele. Ao chegarem à
casa dos Portilla Maite tocou a campainha e logo Karen abriu a porta, com
uma expressão de que já tinha visto a filha e conversado com ela.
— Que bom que você veio – Karen murmurou – Ela está mesmo precisando
de você.
— Você quer deixar a mudança pra outro dia? – Maite sugeriu – Eu posso
remarcar com o Mane...
— Não, depois disso tudo quero me mudar mais do que nunca – Anahí
suspirou – Eu quero seguir em frente, Mai. Quero superar. Eu preciso disso.
— Tudo bem, como você quiser – Maite sorriu segurando-a pelos braços –
Eu só to meio assustada por você não ter chorado nisso tudo. To com medo
de ser pior na hora que as lágrimas simplesmente caírem.
— Eu acho que elas não vão cair dessa vez – Anahí confessou – Não sei se
é porque eu to calejada, ou outra coisa... talvez tenha sido melhor assim.
Ela só não contava que a vida poderia estar lhe reservando uma pequena
surpresa...
Outra coisa que eu preciso falar: eu estou bem, mas bem atrasada mesmo
nos comentários. E quem me conhece sabe que eu não sou disso. Eu apenas
não tenho nem tempo, nem 3G suficiente pra responder (porque meu único
tempo são as horas que eu to no ônibus)! Eu to trabalhando muito,
estudando muito e tem sido difícil até pra conseguir escrever. Não é
desculpa, mas eu sempre respondi todos os comentários de todas as webs e
aqui eu simplesmente não tenho conseguido. Só queria que vocês não se
sentissem abandonadas, eu leio todos, todos, todos os comentários e eu os
amo completamente como sempre amei! Apenas não tem dado :(
Desculpem. Tem sido foda.
Rafa
Lívia tinha razão. Ela sequer fazia ideia de que aquele "tê-la" não cabia na
frase, Jesse trocaria por "mantê-la", mas a funcionária não sabia que os dois
estavam juntos. Adaptações feitas, a frase caía perfeitamente bem. Jesse
tinha que mostrar para Sophia que tinha mudado, que ela tinha feito o certo
em tentar algo com ele. E ele jamais a convenceria se simplesmente desse
um ataque de ciúmes, demonstraria ser o mesmo de antes.
A mudança não estava nele deixar de sentir ciúmes pelo fato de Chad estar
por perto, mas sim de aprender a controlar esses ciúmes, a demonstrar
confiança nela, deixar que ela resolvesse a questão e lidasse com Chad da
maneira que preferisse. Jesse queria que Sophia sentisse que ela poderia
tomar a decisão que quisesse e ele ainda estaria no final com ela. Não iria
perdê-la como tinha sido no passado. Dessa vez as coisas deveriam ser
diferentes.
Sem que ele soubesse, Jesse se controlar acabou impondo a primeira derrota
do plano de Chad. Ele contava que o ex de Sophia daria um verdadeiro
ataque ao vê-lo ali, não seria a primeira vez, a cena apenas se repetiria.
Ledo engano. Chad era capaz de ver as veias de Jesse saltando, mas ele nem
se moveu. Voltou para o caixa do café, agiu normalmente, nem ignorando
Sophia e nem cercando-a. E se ele tinha notado isso, Sophia também tinha.
Chad foi capaz de ver o sorriso no canto da boca dela encarando a reação de
Jesse. Discreto, mas estava ali. E ele não gostou nem um pouco.
Então, se ele já estava ali, não podia deixar aquela ida ser totalmente
perdida.
— Torrey fazia de tudo por aqui, ela ajudava o Jesse com a administração,
servia as mesas, treinava funcionários novos, ficava no caixa... estamos
sentindo a falta dela em todos os aspectos do trabalho... além dos outros –
Sophia suspirou – E ainda tem a Samantha.
— Eu fiz isso, eu estou treinando uma garota nova, mas eu nunca treinei
ninguém, eu nunca servi, eu... – Sophia suspirou longamente – Eu to
exausta.
— Eu estou percebendo, mas cada vez tenho mais forte a impressão de que
a única pessoa pra quem você não tem tempo sou eu – ele revirou os olhos,
não deixando de perceber o modo como Jesse, ao fundo, encarava Sophia.
— Chad, será que você está ouvindo o que eu estou dizendo? – Sophia
estreitou os olhos para ele, completamente irritada – Porque parece que
você não se solidariza nem um pouco com o que eu estou passando.
— Sim, você está passando por um momento difícil, mas para que servem
os amigos senão para nos ajudar nessas horas?
— Quem sabe pra nos entender quando nós não temos tempo pra eles –
Sophia retrucou com violência.
— Por que você não admite a verdade Sophia? – Chad cruzou os braços
debochado – Por que não diz de uma vez que você voltou com o seu
querido ex e não quer admitir?
— Que diferença faria se eu estivesse com ele ou não? – ela perguntou com
os braços cruzados.
E parecia que Sophia estava mais perto do que nunca de uma verdade,
enorme verdade: que Chad nunca tinha sido seu amigo de verdade. A
máscara dele nunca esteve prestes a cair como estava agora.
— A diferença entre a mentira e a verdade – Chad retrucou disfarçando. Ele
percebeu o quanto estava perdendo o limite e se denunciando e resolveu ser
cauteloso.
— Isso não é da sua conta – Sophia devolveu – A minha vida não é da sua
conta. Se você não aceita os meus motivos, eu sinto muito por você, mas é
sinal de que você não tem mais espaço por aqui.
— Você ta fazendo a mesma coisa que ele fez, a coisa que você tanto
criticou – ela constatou – Honestamente... não faz a mínima diferença.
Chad disse aquilo claramente desafiando-a. Esse era o objetivo. O que ele
não esperava era a resposta que viria a seguir.
— Eu digo o mesmo.
Sophia, por sua vez, respondeu cansada. Chad poderia achar o que quisesse,
ela tinha dentro de si a consciência tranquila de que não estava trocando-o
por Jesse. Ela sabia que a aproximação com o ex tinha sido natural, sabia
que Jesse tinha amadurecido e que se eles não estavam oficialmente juntos,
era por Samantha. E sabia que ele não tinha nada a ver com o fato de que
ela estava se afastando do amigo que foi o estopim do fim do namoro dos
dois um ano antes. A única razão pela qual Sophia tinha deixado de
procurar Chad era somente o fato de que ela não tinha mais tempo. Nada
mais.
A questão é que Chad não conseguia enxergar as coisas assim. É claro, não
era algo que ela conseguia entender porque ele via tudo tão preto-no-branco
porque, na verdade, não fazia ideia da malícia em sua mente. Chad não
conseguia não encarar como se Jesse estivesse manipulando Sophia para
que ela se afastasse dele já que ele fez o mesmo um ano antes. E é o que
dizem, as pessoas enxergam os outros como seus espelhos, sempre esperam
que os outros façam o que ela faz. E assim se veem os seus reflexos.
Só que Sophia não estava vendo. Ela estava se afastando, antes natural e
agora propositalmente. Ela ainda não estava vendo.
xxx
— Claro que sim – Lexie disse se virando para a menina, cujos olhos
amendoados e grandes a encaravam – Ei Sofia! Você se machucou? Ta
doendo?
— Ela não está mais chorando, mas ficou um pouco assustada na hora, por
isso a Zola insistiu em vir – a funcionária da creche explicou – Posso deixa-
las com a senhora, Dra. Grey? Eu tentei bipar a Dra. Torres, a Dra. Robbins
ou o Dr. Sloan, mas estão todos em cirurgia, então eu tive que trazê-la pra
Emergência.
— Não está? – Lexie fez uma careta se virando para ela – Ótimo. Então vá
para o Leito 3 e veja como a paciente está.
Logo que dispensou a interna, Lexie pegou Sofia nos braços e a levou para
um leito próximo, liberando a funcionária que até então cuidava da menina.
Zola não deixou a amiga sozinha, valendo-se do fato de que ela seria
cuidada por sua tia, acompanhou as duas. Sofia logo demonstrou segurança
ao estar com Lexie; assim que passou para o colo daquela que poderia ter
sido sua madrasta, abaixou a cabeça no ombro dela e envolveu seu pescoço.
Lexie sentiu uma sensação estranhamente familiar naquela situação. Algo
que ela definitivamente não esperava.
— Então, conta pra mim – ela disse ao colocar Sofia na maca e colocar as
luvas para observar o corte em seu queixo – Como foi que você caiu feio
desse jeito...?
— Ora, mas você tem duas mães e um pai que são médicos, não precisa
ficar, eles sempre vão cuidar de você – Lexie disse terminando de examinar
o corte. Tinha sido profundo, ela iria precisar suturar.
— Fique tranquila Sofia, eu vou cuidar bem de você enquanto eles não
chegam – Lexie garantiu – Só não precisa ter medo, ok? Porque eu vou te
dar uma picadinha. Mas nem vai doer.
— Ah – Mark murmurou sem saber como reagir. Foi quando ele olhou
quem cuidava de sua filha e enxergou Lexie terminando a sutura. Ele não
poderia se sentir mais desconcertado.
Desde o beijo que tinha trocado com a versão bêbada de Lexie, Mark vinha
evitando-a. Ele tinha em mente que toda a situação tinha passado dos
limites e que talvez fosse melhor que eles se afastassem. Primeiro, Lexie
estava noiva; segundo, ela estava bêbada. E passada a bebedeira, ela não o
tinha procurado para falar do assunto e muito menos terminou com Jackson.
Aquilo lhe parecia um sinal de que ele deveria recuar.
Só que Lexie não esperava por aquele afastamento. Ela não sabia interpretar
bem as reações de Mark e não sabia se ele tinha recuado propositalmente ou
não. A única certeza era que parecia estranho que antes eles se encontravam
o tempo inteiro e agora o hospital parecia cinco vezes maior dada àquela
distância. E pior era o fato de que ela não sabia como as coisas seriam se ele
simplesmente resolvesse se ausentar de vez da vida dela.
Mas com Lexie cuidando de sua filha, Mark não poderia simplesmente
fingir que ela não estava ali...
— Ela está bem? – ele perguntou com a voz grave que sempre lhe dava
arrepios.
E agora parecia que eles tinham voltado ao mesmo ponto que estavam antes
do beijo: aquele no qual se dava conta que existia um clima intenso, quase
um magnetismo entre os dois, o qual nenhum dos dois poderia lidar. Era
irrenunciável, bastava que eles se encarassem e ponto. Forte como a
gravidade: não adiantava não acreditar, ela te puxa para baixo. Não havia
definição melhor.
A forma como o corpo dela reagia à Mark mesmo depois de tanto tempo
não era mais algo que poderia ser ignorado. E agora que ela sabia
exatamente como era sentir a falta dele em sua vida, ficava aquela pergunta:
será que ela tinha tanta certeza assim que deveria se casar com Jackson?
xxx
Anahí não tinha ideia que aquela era uma sorte de principiante. Desde o seu
resgate ela só tinha dormido em dois únicos lugares antes de chegar ali: a
cama de hospital na qual ficou por quase duas semanas e a sua velha cama
da adolescência de antes de ir para Georgetown. Se Anahí achava que a
casa de sua mãe era similar a um cativeiro pela sensação de liberdade
inexistente que tinha lá, ela não sabia o quanto de certa forma seu antigo
quarto representava um espaço de conforto e segurança para suas noites.
Foi quando Anahí resolveu utilizar algo que não sabia que teria utilidade:
uma faca que tinha levado para o quarto dias antes. Apenas por segurança,
para que ela se sentisse segura, menos ameaçada. Ela não queria ficar
deitada na cama esperando que invadissem seu quarto. Ela decidiu sair dali
e atacar o agressor, fosse quem fosse. Atacar antes de ser atacada. Não era
questão de ser ou não uma boa ideia, e sim de ser sobrevivente.
Anahí não pensou. Quando ela deu por si abria silenciosamente a porta para
não fazer barulho e caminhava descalça pelo porcelanato em passos lentos,
com a faca em mãos, empunhando-a, pronta para ir para cima de quem quer
que fosse.
Na sala, o barulho de seu por uma porta abrindo. A porta que abria o
apartamento. Christian estava aos beijos com um homem que ele não sabia
exatamente o nome. Mãos corriam para os lados. Ele não estava preocupado
se faria barulho, apenas em fechar a casa com segurança para não ter que
soltar a boca daquele homem que lhe dava tanto tesão. O beijo estava tão
apaixonado que ele sequer percebeu o que acontecia ao seu redor. Assim
como não percebeu que Anahí caminhava com uma faca afiada em mãos
prestes a pular em cima de quem estivesse ali.
O racional de Anahí sabia que estava tudo bem, mas o que fazer com seu
emocional? Com sua pele arrepiada, seus lábios que tremiam, seus olhos
que insistiam em expulsar lágrimas que ela nem sabia que estavam ali?
Enquanto Christian tentava acalmar as situações do homem que trouxe para
ali completamente trêmulo e sua melhor amiga aos prantos, Maite
caminhou com os olhos esbugalhados sem nada entender para a sala.
Acordada pelo grito, certa de que estava acontecendo algo muito estranho,
ela chegou na sala e se deparou com a cena que menos poderia esperar:
Anahí com uma faca nas mãos tremendo da cabeça aos pés, Christian e um
homem que ela nunca tinha visto do outro lado. Não dava mesmo pra
entender sem perguntar.
— Deus... – Maite murmurou olhando de um lado pro outro – O que
aconteceu?
— Era pra me proteger – Anahí tremia sem parar – Por favor, não me
expulsem... eu ouvi o barulho e... eu pensei... eu não pensei...
— Ei, fica calma – Maite a tranquilizou – Está tudo bem. Nós entendemos,
você não tinha como adivinhar...
— Não nos meus sonhos – ela respondeu, sem dar chances de qualquer um
dos dois rebater.
— Ok – Anahí concordou.
E elas saíram dali. Christian acabou percebendo que tudo estava bem
novamente, Maite tinha conseguido dar conta da situação e fazer Anahí
voltar a si. E ele tinha sido imprudente, esquecido que a amiga agora estava
ali e que ela precisava de cuidados. Anahí não era mais como antes, e se ele
e Maite tinham aceitado que ela fosse morar com eles, as coisas precisariam
mudar.
Maite manteve a proposta feita e ela e Anahí dormiram quando já era quase
dia. Maite na verdade cochilou, logo era manhã e ela precisava trabalhar.
Mesmo esgotada, ela não se arrependia: Anahí era sua melhor amiga e se
era preciso uma noite em claro e um dia se sentindo um caco, Maite faria e
repetiria.
Na consulta com a Dra. Balfe Anahí não somente aproveitou para pegar a
nova receita do medicamento, mas também para contar a situação da noite
anterior. Cait reagiu como se esperasse que aquilo fosse acontecer cedo ou
tarde, e Anahí já imaginava enquanto contava que provavelmente de suas
perguntas viriam novas perguntas e nenhumas respostas. Mas não foi isso
que aconteceu.
— Sim, pra que você troque experiências... você sabe, com mulheres que
sofreram o mesmo que você ou algo parecido – ela insistiu – Que tal você
apenas pensar no assunto?
Mas Anahí não precisou pensar. Porque quando ela abriu o folheto e leu o
nome daquelas ONGs e grupos... logo a primeira lhe chamou a atenção. Ela
conhecia aquele lugar. Era a My sister's place... a mesma ONG na qual ela
trabalharia se não tivesse sido sequestrada oito anos antes.
Não havia discussão. Era como se fosse o destino lhe dando o recado.
Como se Tobias tivesse tentado tira-la de seu caminho, e até conseguido,
mas a vida agora lhe dava o retorno. Mesmo não sendo da maneira que ela
imaginava, Anahí estava de volta ao lugar que sempre quis estar. Em outra
posição, mas ali. Seria um começo?
— Sim, eu sou a garota que passou oito anos sequestrada e acabou de ser
encontrada – ela disse acuada, mexendo no cabelo meio nervosa – Eu
imagino que seja por isso que você esteja me olhando.
Não sei se vcs estão percebendo mas, aos poucos, as dúvidas todas da web
estão acabando. Aos poucos descobrimos tudo, e assim como descobrimos
no último capítulo o que estava por trás dos exames da Anahí, aqui
começamos a descobrir que realmente tinha uma pessoa por trás da prisão
do Tobias.
Outra coisa importante a ser dita é que aos poucos a Anahí vai
reencontrando o seu lugar, vcs estão percebendo? Mesmo que o monstro do
Tobias a tenha afastado do próprio caminho, de pouco em pouco ela vai
voltando pro que é dela. E isso vai acontecer mais ainda Os corações
agradecem né? Ainda mais depois desse sustinho dela acordar no meio da
noite.
Por fim temos Sophia dando aqueeeeele corte no Chad que a gente pediu
SIM e Lexie toda trabalhada na fofinha cuidando da Sofia e marcando uns
pontinhos com a filha do mozão hahahah.
Beijos,
Rafa
Capítulo 34 - Marina
Marina acompanhou Tobias por anos a fio. Ela conhecia o perfil de homens
do tipo dele e começou a achar estranho o seu comportamento cerca de três
anos depois de se mudar para a casa ao lado, no Queens. A desconfiança
começou quando ela viu um médico entrando na casa e sendo acompanhado
pelo dono, seu vizinho. Então quem poderia estar doente? Marina começou
a estranhar esses fatos naquele dia e, desde então, a pulga nunca mais saiu
de trás da sua orelha.
— Porque você não fazia ideia de quem ele era – Anahí divagou. Aquele
assunto ainda a deixava um tanto atordoada.
— Sim – Marina abaixou o rosto – Eu sei que não era o certo, mas era a
única maneira. Eu tenho experiências nestes casos, se eu fizesse uma
denúncia dizendo a verdade a polícia não faria grandes esforços, iria lá,
olharia um pouco, mas sequer entraria no porão. Agora, uma denúncia de
drogas, de um laboratório de metanfetamina...? Eu tinha certeza que
funcionaria.
— É claro que sim – Marina sorriu satisfeita – Nós temos um grupo agora
pela manhã. Por que você não nos acompanha? Se você gostar... sinta-se à
vontade para se juntar à nós.
xxx
— Vera quem?
— Jackson... – Lexie franziu a testa – Eu não tenho tempo hábil para ficar
experimentando mil vestidos de noiva. Provavelmente vou a alguma loja,
compro o vestido que ficar bem e fim.
xxx
Quando Anahí saiu do My sister's place naquela manhã ela se sentiu
renovada pela primeira vez em séculos. Era como se ela finalmente tivesse
encontrado um lugar no qual se sentisse confortável, que recarregasse suas
energias e a fizesse sentir que valia a pena continuar caminhando, indicando
que ela poderia chegar a algum lugar e, quem sabe um dia, conseguir
superar tudo o que ainda a machucava tanto.
Anahí estava tão animada que não sabia nem por onde começar a contar
aquilo tudo. Como Christian e Maite estariam trabalhando naquele dia, ela
decidiu ir ao café e encontrar a mãe. Karen certamente ficaria feliz de como
a vida levou sua filha de volta ao lugar que um dia tinha passado por seu
caminho antes do desvio que sofreu.
Só que Karen não estava ali. Pelo contrário, quando Anahí entrou foi o
sorriso acolhedor de sua avó que se abriu do outro lado do balcão. Ela
franziu a testa, já que sabia que era raro a mãe se ausentar do café logo de
manhã, mas caminhou para entender a situação. Pela expressão, Ellie
parecia saber exatamente o que a neta pensava.
— Sua mãe foi encontrar o seu pai – ela explicou mesmo prevendo a careta
que Anahí faria ao ouvir Keith sendo referido daquela forma – Então eu
estou cuidando de tudo por aqui. Você avisou que viria? Acho que se ela
soubesse...
— Não, não avisei – Anahí fez uma careta – Quis fazer uma surpresa,
porque aconteceu algo... enfim. Quando ela estiver eu conto de uma vez.
— Não, é algo bom – dessa vez Anahí sorriu – Por mais inacreditável que
possa parecer...
— Você não quer sentar e comer alguma coisa? – Ellie sugeriu – Posso
fazer aquele suco de laranja que você gosta.
Afinal, o Karen's Cafe para Anahí era mais do que o pequeno negócio de
sua mãe, mas sim o lugar onde ela tinha conhecido Tobias. Anahí ainda não
se lembrava de como foi raptada por seu algoz, de como se deu a linha do
sequestro e se tinha começado naquelas paredes ou não, mas ela tinha
certeza que foi ali que começou a ideia, o planejamento, a obsessão daquele
homem por ela. Dessa forma, um novo homem se interessar por ela entre
aquelas quatro paredes, a princípio, parecia uma ideia muito mais
assustadora do que sedutora... sem a menor dúvida.
— Oi stalker – ela disse com ar de riso ao encara-lo – Pensei que você tinha
dito que não ficaria aparecendo.
— Espero que eu possa ser incluído nessas coisas boas – ele palpitou
levemente interessado.
Dessa forma, a única pergunta que pairava pela cabeça dela era: por que
não?
— Você quer sair daqui e dar uma volta? Está um dia bonito. Eu acho que
vale a pena.
xxx
Naquela noite Christian tinha decidido fazer um programa entre amigos que
animasse Anahí. Depois do episódio da faca ele tinha ficado
consideravelmente preocupado que o apartamento não fosse – ou não se
tornasse – um ambiente no qual Anahí se sentisse confortável e segura. A
alternativa que ele encontrou foi chamar os amigos para uma noite entre
eles, somente eles, para deixar Anahí mais relaxada. O "somente eles" se
dava porque só os amigos em si seriam convidados, para fazer Anahí sentir
a nostalgia dos velhos tempos, como se nem tudo tivesse mudado. Sem
filhos, sem esposas e namorados, somente eles.
— Pra mim é seu boy, porque aí eu já vou trabalhando na minha mente que
não posso ficar de pau duro quando ele aparecer – Christian ressaltou.
— Eu sigo confusa – Maite riu de nervoso – Você não estava no outro dia
dizendo que ainda amava o Poncho e tudo mais? O que mudou?
— O que não mudou é o fato de que o Poncho está casado – Anahí suspirou
– Eu não posso parar a minha vida por ele. Quer dizer, eu nunca mais vou
transar?
— Meu amor, em mim já deu vontade de transar com ele, como é que em
você ainda não bateu...?
— Christian pediu que eu viesse sem a Diana – ele deu de ombros – Como
nos velhos tempos.
Só que Anahí não precisou pensar muito, não precisou imaginar o que faria
naquela situação e que tipo de assunto puxaria com Poncho. Não quando
uma cena dentro do apartamento chamou muito mais a atenção dele...
— Ah, você já chegou meu Cielo? – Maite disse sorrindo indo na direção
de Mane.
— Se eu sou a sua lua, você é o meu céu – ela respondeu sendo envolvida
pelos braços dele e o beijando.
Anahí procurou a reação de Poncho quando se lembrou que ele não sabia
que Maite e Mane estavam juntos. E viu o que esperava ver: o ex-namorado
estava com os olhos arregalados de quem definitivamente não esperava por
aquilo.
— Que parte do filme eu perdi...? – ele murmurou para si mesmo sem saber
se ria ou se ficava boquiaberto.
— Uma boa parte – Anahí disse negando com a cabeça – Eu não reagi
muito diferente quando eles se beijaram na minha frente.
— Digamos que tudo – Anahí riu – Anda, entra. Mane te conta tudo aqui
dentro.
Mane não contou nada, ele não desgrudou de Maite desde que chegou e
Poncho apenas observou os dois de rabo de olho, silencioso enquanto
sentava no sofá e abria uma cerveja com Christian. Via o amigo sorrindo
mais feliz do que em qualquer outro momento de sua vida, a alegria
estampada em cada centímetro de seu rosto, e sabia que aquilo se dava pelo
fato de que ele finalmente estar ao lado da mulher que amava. Os toques de
Mane e Maite eram sutis, eram dedos que se tocavam, mãos dadas, por
vezes as mãos de um na cintura do outro, mas eles respeitavam o espaço um
do outro e de repente Poncho viu que não mais olhava a proximidade de
Mane com ela... mas sim de Maite com Anahí.
Isto é, porque depois de um tempo Mane se sentou ao lado dos dois amigos
e, enquanto Christian e ele riam sem parar de algo que Poncho não fazia a
menor ideia, ele fitava a ex-namorada conversando com a melhor amiga na
cozinha. Poncho tinha os olhos fixos em Anahí, no modo como ela parecia
bonita e espontânea ao rir, tinha certeza mesmo sem saber ao certo do que
elas falavam que Anahí provavelmente brincava com Maite por seu novo
relacionamento, a julgar pelas caretas que a morena fazia.
Era como reviver um filme... um deja vu, quem sabe. Poncho se lembrava
de ter visto a cena ao contrário, de como tinha sido quando ele e Anahí
começaram a sair juntos, como um casal, mais do que amigos. Todas as
reações que ela agora tinha com Maite tinham sido as que a amiga teve com
ela quinze anos antes. Afinal, Poncho se interessou por Anahí antes de ela
sentir algo por ele, enfrentou uma certa resistência dela por puro medo de
estragar tudo, e quando os dois finalmente ficaram juntos as pessoas
provavelmente olharam para os dois provavelmente como ele olhava para
Mane e Maite naquele momento. Como se duas peças que pareciam tão
diferentes finalmente tinham decidido encontrar um jeito de se encaixar.
A observação de Poncho foi notada por Christian, mas é claro que não era
ali que ele diria. Pelo contrário, Christian aproveitou que o grupo mudou
com a chegada de Lexie primeiro e, por fim, de Sophia e Jesse, os últimos
dado o fato de que tiveram que fechar a confeitaria e depois deixar
Samantha no apartamento dos pais de Torrey. Com a chegada dos três que
faltavam, o grupo finalmente estava completo. Eles finalmente eram oito de
novo, pela primeira vez em oito anos.
Bastava saber o que mais naquela noite voltaria para o seu velho lugar.
"Mas Rafa, como que AyA vai rolar se a Anahí ta cada vez mais envolvida
com o Milo?" NESSA PARTE VCS CONFIEM EM MIM rs. Eu sei o que
to fazendo, e onde to escrevendo as coisas já começaram a acontecer
hahahahahaha estamos quase lá e sei que vcs vão amar (ou espero!).
Além disso, abrimos caminho pro encontro dos amiguinhos. Adianto que o
cap 35 é o meu favorito da web
Beijos,
Rafa
Capítulo 35 - I'm jealous of the way you're happy without me
Já havia se passado muito tempo desde a última vez que aqueles oito
amigos não estavam juntos e, como na última vez, a bebida era um fator
muito importante. Praticamente todos eles compareceram com ao menos
uma garrafa, e em cima da mesa tinha copos e tipos de bebida totalmente
diversos para agradar a todos, de modo que era completamente impossível
que não terminassem todos embriagados no mínimo.
— É que demorou tanto pra acontecer, nós não tínhamos mais esperanças
de que vocês finalmente fossem desencantar – Jesse retrucou.
— Pois eu acho bom que ela não perca mais nada Jesse, porque eu to
cansado desse pingue-pongue entre a Sophia e você – Christian resmungou
– Quem nasceu pra ser endgame não fica indo e voltando desse jeito, vocês
têm que casar e ficar juntos pra sempre!
Lexie passava pela sala naquele momento com uma garrafa e algumas taças
em mãos direto para o novo quarto de Anahí onde Maite ajeitava o sutiã de
renda que a amiga tinha comprado, sendo ambas observadas por uma
Sophia que estava sentada na cama. Lexie já tinha começado a beber dentro
da cozinha e as três ali também não estavam exatamente sóbrias, mas é
claro, a mais fraca para bebidas naquele momento era Anahí. E elas sabiam
o que estar um pouco alta significava... coisas demais acabavam sendo
faladas.
— Passei pela sala e ouvi um certo passarinho comentando que uma moça
nesse quarto voltou com um ex-namorado – Lexie disse quase cantarolando
– E infelizmente não estamos falando da Anahí.
— Felizmente não está falando de mim – Maite riu observando Sophia com
rabo de olho.
— E você não conta nada, sua maldita...? – Anahí disse tacando uma
almofada em cima de Sophia, que riu.
— Não por mim, não sei se o Jesse disse pra ele ou se ele acabou se
denunciando – Sophia deu de ombros.
— Eu estou bêbada, então direi tudo o que eu penso – ela continuou, vendo
a cirurgiã arregalar os olhos com a sinceridade que sabia que estava por vir
– Você não queria casar com ele e agora é mais fácil culpar a sogra como se
fosse ela que tivesse aceitado o pedido e não você. A boa notícia, Lexie, é
que ainda dá tempo de voltar atrás.
— Mas eu queria me casar com ele – Lexie murmurou quase como tentasse
convencer a si mesma. Talvez essa seria a única que acreditaria, ela própria,
já que as três amigas estreitavam os olhos claramente duvidando.
— Você aceitou porque estava bêbada e porque ele fez um pedido ridículo
em público pra te constranger a aceitar – Anahí voltou a disparar – Coisa de
macho inseguro, eu diria. E porra, nós sabemos que você não é apaixonada
por ele. Eu não sei exatamente por que você está prosseguindo com isso
sendo que está nítido que o seu coração pertence à outra pessoa...
— Mark está com outra mulher Anahí – Lexie devolveu. Ela dava nome e
sobrenome à situação.
— Não passa pela sua cabeça que ele simplesmente não vá ficar te
esperando para sempre? – Maite palpitou – Ele pode ter seguido em frente
porque você está noiva.
— E cabe a você olhar pra cara dele e falar "olhe homem, é você que eu
amo, não ele, por isso eu não posso me casar" – Anahí continuou e, ao ver a
morena abrir a boca para retrucar, já prosseguiu – E sim, eu sei que isso
pode não dar certo e acabar com ele não te querendo mais, mas mesmo
assim Lexie, ao menos você evitaria estar em um relacionamento onde não
tem amor. Porque se já é difícil manter um amando, imagina quando não é o
caso.
— Anahí, você sabe que as coisas não são preto-no-branco assim – Lexie
murmurou, quase implorando por algum tipo de compreensão por parte da
amiga – Você sabe disso.
— Ah, não venha comparar – Anahí fez uma careta – Poncho e eu não
temos nada a ver com isso.
Na sala, onde esse mesmo Poncho estava sentado no sofá assistindo uma
partida da NFL com Mane, Jesse e Christian, mesmo com a TV ligada era
possível ouvir tudo o que elas diziam. É claro, as quatro tinham bebido,
Anahí principalmente, e com algum teor de álcool no sangue, se já era
difícil conter o que era dito, imagine o seu volume... dessa forma, Poncho
notou quando seu nome foi dito. Não apenas ele, os quatro ouviram. Jesse e
Mane chegaram a se entreolhar e Christian cogitou entrar lá e dizer que elas
deveriam falar mais baixo, mas a única maneira de conter Anahí naquele
momento era impedi-la de falar. Pelo visto ela continuava sendo a mesma
quando estava embriagada.
— Eu fui sequestrada, ele achou que eu estava morta, ele casou e eu voltei
– Poncho a ouviu dizer a plenos pulmões. Mas aquela não era a pior parte –
E agora eu não vou aposentar a minha boceta porque ele claramente não
deixou de usar o pau dele.
Poncho sentiu o corpo afundar no sofá ao ouvir aquilo, enquanto sua mente
trabalhava nas mais diversas possibilidades do que aquilo poderia significar.
Anahí falava demais quando bebia, tanto em palavras quanto em
revelações, ela nunca poupava. Mas ele não entendia ao certo o que ela
estava querendo dizer, a que ela se referia. Anahí deixava claro que
pretendia seguir com a própria vida como ele tinha feito, mas dizendo
abstratamente ou falava de forma concreta?
— Então, onde vamos assistir ao Superbowl no ano que vem? – Mane disse
abrindo uma cerveja e bebericando.
— Abriu um bar novo perto do meu apartamento que todos estavam falando
muito bem... – Jesse murmurou – Você já foi Poncho?
— Tão complexa que você não levou isso em conta quando fez essa
comparação esdrúxula entre Poncho e eu e você e Jackson – Anahí
comentou – Até porque eu tenho a impressão que você não transa, e isso há
oito anos atrás não era problema pra mim.
— Anahí... – Maite começou a falar num tom de censura, sendo
prontamente ignorada.
— Ele faz bem o seu tipo mesmo – Sophia murmurou – Sabe? Branco
caucasiano, barba, cabelo escuro, aquela cara de que tem uma pegada...
— Ah, pegada ele deve ter! – Lexie disparou – Ela entrou em pânico
quando ele a pegou de jeito...! Anahí, quando o trauma passar, meu amor...
você vai derreter nos braços daquele homem.
— Ah é, pra ser do tipo da Anahí o pau tem que ser enorme – Lexie
gargalhou.
— Puta merda, será que dá pra vocês falarem baixo? – Maite mordeu os
lábios dividida entre a vontade imensa de rir e a censura que não poderia
não ser feita – Eles devem estar ouvindo tudo o que nós estamos falando!
E estavam.
E por mais que Poncho soubesse que não deveria, que não tinha o mínimo
direito de fazê-lo, ele não conseguia não se sentir incendiado de ciúme pelas
palavras dela. Porque ele sabia que ali poderiam ser só palavras, mas que
elas representavam a concretude que ela queria colocar na própria vida.
Poncho sentia uma certa preocupação por Anahí estar disposta a se entregar
a outro homem, ele temia que ela acabasse se machucando e ficasse ainda
mais traumatizada com alguém que não conhecia suas cicatrizes e poderia
não respeita-las. Mas tinha que admitir, ao menos para si mesmo, que aquilo
não representava tudo o que ele sentia.
Tinha ciúme. Que não era seu direito, já que ela se mantinha afastada por
respeito ao seu casamento. Mas mesmo assim, tinha.
— Maite, deixa de ser chata – Sophia disparou, algo que normalmente não
faria... mas normalmente ela não estava bêbada – Dê um conselho amoroso
pra sua melhor amiga. Um conselho de sexo.
— Ah – Maite franziu a testa – Eu não sei. Acho que vai ser difícil no
início... mas... tem uma solução.
— Ok, eu vou falar – Anahí murmurou, aumentando o tom depois das duas
primeiras palavras – Ninguém goza só com a cabecinha, porra!
Naquele momento Poncho levantou do sofá, estava claro que ele não
aguentava mais ouvir aquilo. Mane e Jesse tinham claramente fracassado na
missão de tentar distrai-lo e, se a princípio ele queria ouvir tudo até o final,
agora parecia querer furar os tímpanos para não ser mais capaz de escutar
nada. E como já tinha dado para perceber que era impossível fazer as quatro
se conterem, ele decidiu ir para o mais longe possível dali.
Depois daquela conversa bem que Poncho tentou levar as coisas de uma
maneira tranquila, mas bastava que ele olhasse Anahí e a voz dela ecoasse
em sua cabeça. As quatro saíram do quarto logo em seguida e Maite se
sentou ao lado de Mane, Sophia ao lado de Jesse e aquilo só evidenciou
ainda mais o que parecia estar errado para ele: Anahí estava numa poltrona
e ele em outra, ele não conseguia parar de olha-la e imaginar que dentro de
alguns meses, talvez até semanas, ela poderia estar acompanhada de outro
homem que faria com ela tudo o que ele antes fazia. E nunca mais faria,
provavelmente.
Anahí não fazia ideia dos ciúmes todos que Poncho nutria naquele
momento. Ela estava se divertindo ao lado dos amigos, pela primeira vez
em anos. E o clima ali estava realmente bom e acolhedor, sem Sophia e
Maite se alfinetando o tempo todo, sem a morena estar em pé de guerra com
metade do grupo. Pelo contrário, Maite parecia ter aprendido a lição e
estava na sua, ao lado de Mane, com o braço livre dele envolvendo-a e os
corpos mais grudados do que os de dois amigos. Sophia e Jesse, agora
livres, também estavam colados. Apenas um ex-casal parecia mais duas
peças fora do lugar. Uma distância emocional que era impossível de ser
ignorada.
—Mas depois daquele dia com a Any, eu... fico com medo de deixa-la aqui
sozinha. Você entende, não é?
— Ah Maite todo mundo sabe que você não é virgem – Anahí devolveu –
Mane some com ela daqui e dá uns bons orgasmos pra minha amiga, ela ta
precisando.
— Anda, vão logo – Anahí disse quase empurrando os dois pra fora – Mane
se você não a fizer goz...
— Anahí vai pra lá vai – Maite disse empurrando a amiga de volta, mas
voltando em seguida e dando-lhe um abraço – Eu amo você! Estava com
saudade de você bêbada.
Maite voltou apenas para pegar a própria bolsa, saindo com Mane logo em
seguida. Christian sussurrou para ela que não se preocupasse, que ele estaria
ali para caso Anahí precisasse. Uma vez os dois saindo, o grupo foi
reduzido à metade. Restaram Christian, Lexie e é claro, Anahí e Poncho.
É claro que Lexie não esperava um conselho tão direto, cru e objetivo como
aquele. Então sua reação foi ficar estática, apenas esperando Christian
terminar, sem acreditar que estava mesmo ouvindo aquilo.
— Eu vou dizer que você não o ama, você vai dizer que amor não importa,
mas a verdade é que importa – Christian prosseguiu – Porque você ama
alguém. E não é ele. Você poderia descobrir lá na frente a burrada que ta
fazendo e acabar não tendo como voltar atrás e estragando tudo, mas já ta
dando pra perceber isso agora. Você já está infeliz. Você já tem o suficiente
pra perceber que isso não vai dar certo.
— Eu tenho certeza que passou pela sua cabeça em desistir do Jackson pela
mãe dele, porque ela é insuportável e tudo o que você já sabe. Mas se fosse
o Mark... você desistiria?
A resposta estava tão na ponta da língua que Lexie teve que morder os
lábios para não falar.
— Se entregar pra um cara que você nem conhece, pelo que, orgasmos? –
ele devolveu e a compreensão invadiu o rosto dela. Anahí arqueou a
sobrancelha enquanto ele continuava – O que você ta querendo, ser
sequestrada de novo?
— E o que você ta querendo dizer? Que o meu sequestro foi culpa minha...?
— Eu não disse iss...
— Tobias era obcecado por mim Poncho – Anahí enumerou – Ele estudou
meus passos assim que eu botei os pés de volta nessa cidade. Ele me
analisou, foi tudo planejado, iria acontecer de um jeito ou de outro. A culpa
não foi minha.
— É claro que não foi, mas isso não significa que não possa voltar a acont...
— Por que você pode ter uma vida normal e eu não posso? Por que você
pode transar livremente com a sua esposa e eu não?
— Eu sei que é diferente – ela devolveu – Eu sei, mas você não sabe.
Porque você não faz ideia do que eu vivi naquele porão. Você não faz a
mínima ideia do que eu vivi naquela casa com aquele homem. Você não foi
condenado ao que eu fui, não carrega os traumas que eu carrego, então eu
não vou admitir que você julgue a maneira como eu decidi superar.
E ela não tinha terminado. Poncho mordia os lábios nervoso, por tudo o que
já sabia e pelo que ainda ouvia dela.
— Então eu vou transar sim – Anahí prosseguiu – Eu vou gozar sim. Vou
transar e vou ter muitos orgasmos até esquecer tudo o que aconteceu... e não
vai ser com você.
E se tudo o que veio antes teve potencial de acabar com Poncho, aquele
trecho final o matou de vez.
Não era por isso que ela achava melhor que eles fossem, mas Poncho não se
importava. Ele só queria sair dali, queria sumir, o mais rápido possível. Sem
olhar para trás, ele apenas colocou a mão no bolso confirmando que o
celular estava ali e saiu o mais rápido possível, o rosto pegando fogo. Lexie
acenou para os amigos em seguida como uma despedida e partiu atrás dele,
não por medo de que alguma besteira acontecesse, mas sim porque sabia
que não era o melhor momento para Poncho ficar sozinho.
Vivas? Hahahahahahahaha
Rafa
Capítulo 36 - It was meant to be you
Ele ainda trocou algumas palavras com os pais de Torrey, que estavam
realmente preocupados com a neta. Samantha ainda aspirava alguns
cuidados e parecia que demoraria a se recuperar totalmente da morte da
mãe. Jesse então passou para os avós da filha os detalhes do tratamento com
o psiquiatra infantil ao qual levou Samantha, do avanço que ela tinha feito
desde então e da esperança que novos resultados fossem acontecendo aos
poucos. Ele viu sobretudo que os dois pareciam tranquilos por notarem não
apenas que Jesse estava dando tudo de si pela recuperação da menina, mas
ao verem com os próprios olhos o quanto Sophia estava sendo importante
naquela caminhada.
— Mas o que vocês fizeram lá onde vocês foram? – Samantha fez aquela
pergunta curiosa enquanto Sophia a colocava em sua cadeirinha no carro.
É claro que as coisas não estavam perfeitas para Samantha. Perder a mãe já
era difícil, e ela tinha apenas cinco anos e perdeu da maneira mais trágica e
dolorosa possível, sem direito a uma despedida. Não era nada fácil. Mas a
menina contava com Sophia e Jesse naquele momento delicado e não
poderia estar dando mais certo. Tudo o que Samantha precisava era de
estabilidade e segurança e isso ela estava tendo de sobra. Quis o universo
que os dois estivessem no melhor momento entre eles e conseguissem se
dedicar cem por cento a tornar aquele caminho o menos delicado possível
para aquela criança. Era apenas questão de tempo.
Só estava difícil para os dois se manterem afastados por causa dela. Não
que Samantha não fosse aceitar bem um relacionamento deles, Jesse apenas
não achava que era o melhor momento para explorar tudo e Sophia
concordava. Só que seguia sendo complicado. Eles eram apaixonados um
pelo outro e, quando finalmente tinham a chance de recomeçar, quis a vida
que algo consideravelmente mais importante fosse cuidado. Agora Deus
sabia quando eles teriam de novo aquela chance. Jesse só esperava que
Sophia não desistisse dos dois até ela chegar.
E eles aproveitaram.
E naquela cama, deitada com os olhos meio fechados, estava Samantha. Ela
não tinha pegado totalmente no sono e não apenas ouviu todo o diálogo,
mas também viu o suficiente para presumir o resto. Estava certo que Sophia
e Jesse estavam se contendo para preserva-la, mas a verdade é que
presenciar aquele beijo e juntar as peças concluindo que eles estavam juntos
novamente foi o que fez a menina fechar os olhos e abrir um significativo
sorriso antes de dormir.
xxx
Havia uma razão para Mane convidar Maite para o seu apartamento: jamais
daria certo se eles ficassem no dela.
Primeiro, ainda havia quatro amigos lá, todos meio bêbados, uns mais do
que os outros. Segundo, era preciso tirar Maite do raio onde Anahí estava
para fazê-la se desconectar da amiga. Mane admirava isso em Maite, o
quanto ela cuidava de Anahí e sempre estava presente pela amiga, mas
também sabia que Anahí tinha Christian por perto e que se não tirasse a
morena dali, ela nunca daria um tempo para si mesma. E Deus sabia há
quanto tempo Mane estava esperando por aquele tempo.
Se Maite ficou meio receosa no início, logo deixou a preocupação de lado.
Mane estava certo, Anahí não estava sozinha e ela não estava sendo egoísta.
Maite precisava viver, e se era preciso que Mane lhe lembrasse disso, então
ela deixaria.
— Eu acho que nunca vim no seu apartamento – ela murmurou assim que
eles saíram do elevador, após se dar conta que não sabia sequer para que
lado virar no corredor.
O quarto de Mane era sóbrio e simples, mas Maite só se daria conta disso
depois. Era pequeno, aconchegante e suficiente. A cama era ampla e grande
o bastante para os dois. Embora fosse certo que eles não ocupariam nem
metade de sua extensão... ao menos a princípio, é claro.
O modo como chegaram ali já disse pelo resto. Mane era um homem
delicado, o que significou que ele colocou Maite em sua cama com todo o
cuidado do mundo. Ele tinha esperado tempo demais por aquilo e não iria
desperdiçar simplesmente fodendo-a com pressa como se fosse apenas uma
transa sem importância. Maite, por sua vez, tinha a pressa que ele não tinha.
Não que para ela fosse uma foda qualquer, mas porque aqueles beijos de
Mane a fizeram descobrir mais desejo que imaginava.
Ela até poderia ficar irritada com toda a calma de Mane, mas os toques dele,
mesmo sutis, não deixavam. Mane conseguia colocar nos dedos toda a
representação do desejo que sentia por Maite. Ela o sentia tocando em sua
pele e era como se queimasse em brasas. Eram toques sutis e delicados,
gentis, demonstrando o que ele procurava dizer o tempo todo.
— Eu não consigo acreditar que você está aqui – ele murmurava tocando o
corpo dela sem parar e beijando o seu colo por cima do sutiã.
— É que eu sonhei tantas vezes com isso, é difícil acreditar que você ta nos
meus braços...
— É que eu quero ser suficiente pra você – Mane disse encarando-a nos
olhos. Enquanto falava aquilo, sentiu as mãos de Maite chegarem até sua
calça, desafivelarem seu cinto e depois o zíper.
— Então tem uma maneira de ser – Maite disse enquanto abaixava a calça
dele e puxava sua camisa para cima – Você me deixa terminar de tirar a sua
roupa toda e me ajuda a tirar a minha... e não vale ficar pensando o quanto
meu corpo é diferente do que você imaginou... porque eu sei que você
imaginou.
— Então... – a voz dela seguia como num sussurro, o que deixava Mane
ainda mais excitado – Você só precisa pensar que me deseja muito e que
quer me dar uma foda muito gostosa.
— Você tem uma boca muito suja – Mane murmurou sentindo a ereção
quase arrebentar a bendita cueca. Ele nunca tinha ficado tão duro – Porra
Maite, eu to...
— Eu sei – ela murmurou enquanto sua calça caía ao chão e se livrava dela
– Eu to sentindo. E é tudo o que você precisa agora... sentir.
Era difícil para Mane, ele estava como um adolescente em sua primeira vez.
Maite rapidamente percebeu que teria que conduzir. A ideia inicial era
deixar que Mane levasse as coisas, mas ela logo viu que ele estava
abobalhado pela ideia de estar na cama com ela. Maite tinha dito que não
era para ele reparar em detalhes de seu corpo, mas logo o viu fazendo.
Estava claro, para ela era uma transa possívelmente muito prazerosa com
um homem que vinha lhe dando muito tesão. Para ele, era fazer amor com a
mulher por quem era apaixonado há muito tempo.
Maite tinha que, de alguma maneira, controlar o tesão e deixar que tudo
fosse especial para Mane, por Mane. Por isso ela conseguiu se frear um
pouco e o sentou na cama tirando a sua cueca. Ela já estava sem o sutiã e a
calça e via os olhos dele fixos em seus seios nus. Não podia culpa-lo,
porque depois que terminou de despi-lo mal conseguia tirar os olhos de seu
pênis...
Era na medida certa. E uma vez nu, Mane puxou a calcinha dela para baixo,
deixando-a nua de vez. Maite estava em pé no chão, de frente para ele, e ele
sentado, com a ereção no limite, duro como uma pedra e sem tirar os olhos
dela. Maite achava que teria que comandar tudo, mas quando deu por si
Mane a pegou pela cintura e a conduziu até seu colo, sentando-a sobre ele e
guiando seu pau para dentro dela. Tomando a atitude no momento certo. Ela
estava molhada o suficiente para não demorar até senti-lo deslizar para
dentro de si. E quando os dois voltaram a se encarar, os dois já estavam sem
nada entre eles.
Porque era mais. Era realidade. Eles não tinham tido preliminares mas
Mane agora fazia valer. Primeiro ele se movimentou devagar dentro dela já
que beijava os seios de Maite enquanto já a penetrava. Mas logo desistiu,
segurando sua bunda para começar a penetra-la com mais força. Maite se
rebolava em cima dele, cavalgando enquanto mordia os lábios cheia de
tesão e se prendia em seus ombros, certamente marcando-o. Mane não
parecia se importar, ele metia certeiro dentro dela, impulsionado pelos
gemidos. Não soube por quanto tempo fez aquilo, eles perderam a noção do
tempo. Ele só sabia que aquilo era maravilhoso, que não tinha terminado
mas ele mal podia esperar a próxima vez e que tinha que proceder com
algum milagre para não acabar gozando antes dela.
— Eu amo você, sua doida – Mane disse segurando-a pela nuca, com força,
entre os cabelos. Os olhos castanhos vivos de Maite não paravam de encara-
lo – Você é a coisa mais inacreditável e surpreendente da minha vida. E
sempre vai vir em primeiro lugar. Sou capaz de gozar te vendo ter um
orgasmo comigo.
Porque agora eles estavam nos braços um do outro, finalmente. Para Mane
era mais do que Maite estar em sua cama... era a possibilidade, quem sabe
um dia a certeza, de que Maite poderia enfim ser sua.
xxx
Uma das razões que fez Diana não se importar de acompanhar Poncho na
noite dos amigos no apartamento que Christian, Maite e Anahí dividiam –
além de não gostar de ser a esposa grudenta que queria ir aonde o marido
fosse – foi o fato de ela estar dando tudo de si na organização do aniversário
de Daniel. O menino faria seis anos numa pequena festinha em sua casa,
mas por menor que fosse, nunca deixava de contar com os intensos esforços
de sua mãe.
Estava claro, Diana estava infeliz. Ela tentava disfarçar, sorrir, fingir que
estava tudo bem, mas a verdade é que aquela situação estava perto de se
tornar insustentável. Não era algo que ela gostava de admitir já que sua vida
sempre tinha sido seu ponto forte, mas aquela era a verdade: seu casamento
com o Poncho já não a preenchia mais. E aquela festa era provavelmente a
sua última tentativa de tentar amenizar e fingir que estava tudo bem.
Não apenas ela. Todos os amigos dele. Mas é claro que ela era a única que
era capaz de tira-lo do eixo.
— Você num dia odeia o Poncho e agora vai no aniversário do filho dele –
Christian disse para Maite, logo antes de se virar pra Anahí... – E você num
dia ama e no seguinte ta berrando pra ele que vai dar pra outro.
— Você, Poncho e bebida nunca foi uma combinação que tenha dado certo
– Maite fez uma careta – Sorte da Diana que acabou em briga e não em
sexo.
— Ah é – Christian riu abafado – Lembra daquela vez que ela virou e bebeu
depois que eles brigaram e aí quando ele chegou, disse pra gente que estava
tão puta que dessa vez não teria jeito, ela iria terminar com ele e terminou
mesmo, só que gemendo na cama...?
— Claro que ele sabe, vocês estavam aos berros lá dentro, e eu aqui
morrendo de vontade de ir lá pra dentro, embora estivesse bastante
divertido ver o namorado da Maite e o namorado da Sophia tentarem
distraí-lo em vão – Christian mordia os lábios com a lembrança – Macho
hétero não serve nem pra isso, quem aguenta?
— Que seja – Anahí revirou os olhos – Ele veio me cobrar que eu era
maluca de dar tão fácil assim pra um cara que nem conhecia blá blá blá... e
eu falei tudo o que pensava. Se estivesse sóbria não diria tantas coisas
assim...
— Que bom que você estava bêbada então – Maite disse entre os dentes.
— Maite, é sério!
— Anahí, ok, eu entendo ele ter casado com a Diana, mas ele continuar
casado meu amor, é porque quer – Maite ressaltou com ar de riso – Não se
pode ter as duas coisas ao mesmo tempo. Você vai morrer revirginada
esperando por ele? Não mesmo...! Transe com o Deus grego, transe muito,
se liberte de todos os seus traumas, goze bastante.
— Não precisa ser profeta pra saber disso – Anahí fez uma careta, tirando
Christian do caminho e abraçando Maite – Eu to feliz por você estar se
permitindo.
— E eu vou ficar igualmente feliz quando for a sua vez – Maite a abraçou
de volta dando o mais verdadeiro dos sorrisos – E vou estar aqui com você
comentando tudo. Como eu sempre estou.
xxx
Não demorou para aquilo ficar visível para Sandra. Ela, que sabia apenas
pela filha que a ex-namorada do genro da juventude tinha reaparecido, não
acreditava que os dois estavam tendo problemas, já que eles ainda estavam
juntos e Diana tinha passado muita segurança e maturidade na forma como
falou de Anahí. Só que agora aquelas possibilidades caíam por terra quando
ela via Evelyn observa-los demais. Será que havia mais ali e a filha não teve
coragem de lhe dizer? Será que Diana sabia que havia algo mais...? Poderia
ser qualquer coisa e Sandra, a partir daí, ficou com o alerta ligado.
— Eu não – Samantha fez uma careta – Talvez eu seja amiga delas também.
— Sim, porque meninas têm que se unir e não ser inimigas – Samantha
retrucou repleta de convicção – Tia Soso disse que a revolução vai ser
feminista.
— Não sei – Samantha fez uma careta e a tia de seu amigo se prendeu para
não rir – Dani, você sabia que o meu papai e a tia Soso estão namorando de
novo?
Aquela era uma informação e tanto que Erendira anotou mentalmente para
alertar Sophia mais tarde.
Foi ela própria, Erendira, quem levou as duas crianças para o banho. Eles
estavam prontos quando as outras crianças começaram a chegar. Samantha
cumpriu à risca o que disse para Daniel: não brigava com as outras meninas
na festa, pelo contrário. Com os dois livres para curtirem como quisessem, a
irmã de Poncho seguiu para o que queria fazer. Foi até os dois melhores
amigos de seu irmão, que estavam ao lado dele. Com ar de riso, ela se
aproximou.
— Fico feliz que vocês tenham percebido que nasceram pra ficar juntos –
Erendira observou sorrindo largamente – Se querem saber, eu sempre
soube.
— Da próxima vez que vocês se beijarem, se certifiquem que não vai ser na
frente da criança, porque ela pode estar fingindo dormir – Erendira sorriu
irônica levantando a própria taça – Saúde.
A própria Diana, por sua vez, foi quem recepcionou os convidados. Maite
estava se esforçando para ser agradável e não cometer os erros do passado,
carregava um grande presente para Dani. Christian também tentou ser
cordial, mas a pessoa do grupo que se dava melhor com a esposa de Poncho
era Mane. Curiosamente foi com Anahí que ela pareceu ter mais assunto.
As duas trocaram algumas palavras por longos minutos. Poncho bem que
tentou de longe fazer uma leitura labial para saber o que elas diziam,
totalmente sem sucesso. Na cabeça dele, elas só poderiam falar de Milo.
— Quanto mais velho fica, piora – Diana rolou os olhos – Enfim, Erendira e
Evelyn estão aqui, imagino que você queira falar com elas.
Anahí seguiu pela festa, encontrou Daniel correndo com Samantha, lhe
entregou o presente e não deixou de sorrir quando viu aqueles pequenos
olhos verdes – surpreendentemente puxados da mãe e não do pai –
brilharem ao ver o embrulho bonito. Logo o menino viu o jogo que tinha
ganhado, abraçou a amiga do pai pela cintura e arrancou dela um sorriso
satisfeito. Poncho observava tudo aquilo bebendo uma taça de vinho, logo
vendo a mãe alcançar a ex-namorada com um sorriso nos lábios e se
perguntando se Erendira faria o mesmo.
Só que não era com Erendira nem com Evelyn que Anahí queria falar. Ela
tinha ido ali para se resolver com Poncho. As coisas tinham ficado
estranhas na última noite e ela agora estava sóbria, queria deixar tudo em
pratos limpos. É claro que o aniversário de Daniel não era nem de longe o
melhor momento para aquilo, mas Anahí temia não ter outra oportunidade.
Ela queria sim avançar com Milo, mas não queria que aquilo significasse
um clima ruim entre ela e Poncho. Afinal, dentro da mente dela ainda dava
para os dois serem amigos...
E foi pensando nisso que, quando ela viu Poncho num canto próximo ao
corredor sozinho, Anahí foi atrás.
Poncho não esperava dar de cara com Anahí naquele momento. Já era
difícil de acreditar que ela estava na festa do filho dele, pior era o fato de ter
ido até lá para falar com ele.
— Você não disse nenhuma mentira – Poncho lembrou – Você estava certa.
Tem todo o direito de seguir em frente com quem você quiser, eu não devo
me meter.
— Eu não quero que você se sinta como um intruso na minha vida – Anahí
ressaltou – Mas entenda que não é fácil falar de outro homem com você.
Você estava sim errado no modo como falou comigo, mas... eu exagerei.
— Sim – ela prosseguiu – Eu não sei se vou conseguir levar isso à frente...
mas é algo que eu preciso fazer. Eu preciso tentar, preciso ser corajosa.
Preciso superar esse medo, tentar afogar essas lembranças e colocar outras
no lugar. Preciso sentir que alguém me quer e querer de volta.
— O cara que você quiser de volta vai ser o mais sortudo desse planeta –
Poncho respondeu encarando-a nos olhos – Eu te garanto.
Ela tinha essa certeza. Embora no fundo do peito soubesse que aquele cara
poderia ser Milo ou outro, se com ele não desse certo... mas o homem à sua
frente era o único por quem ela gostaria de ser correspondida.
E isso levava à tona a insegurança de Poncho por inteiro. Anahí agora não
estava bêbada e reafirmava seus planos, suas intenções e balançava todas as
certezas dele que não eram tão grandes. Ele sabia que nutria um sentimento
muito forte por ela, mas não esperava ficar tão mexido assim. Agora era
nítido que ela provavelmente sentiria por Milo um dia o que ele sentia por
Diana. Talvez ela o amasse como ele, de certa forma, amava sua esposa. E
talvez ele viesse a sentir o que a própria Anahí sentia quando encarava o
casamento dele.
Isso dava a Poncho uma única convicção: agora ele já não estava mais tão
incerto do que realmente queria.
Vi pelas reações do último capítulo que vcs adoraram não apenas o que
aconteceu, mas também a Anahí toda transformada depois de uns gorós
hahahahahaha o que uma bebidinha não faz né? No caso dela fez bastante.
Bom fds!
Beijos,
Rafa
Capítulo 37 - Teach me
Como a mulher segura que era, não alarmou Diana o fato de Anahí estar em
sua casa naquela noite na festa de seu filho com Poncho. E se isso não a
tinha alarmado, não foi o fato de seu marido estar conversando com a ex-
namorada em um canto onde os dois não poderiam ser ouvidos que a
apavoraria.
O mesmo, é claro, não poderia ser dito de sua mãe. Sandra passou boa parte
da tarde e o início da noite observando o genro minuciosamente. Ela via
que tinha algo de errado no casamento da filha e queria tirar a história a
limpo. Não era preciso ser um gênio para perceber que a presença de Anahí
tinha tudo a ver com aquela crise em potencial. O problema maior para
Sandra, no entanto, não era a ex-namorada de seu genro, mas o fato de a
filha ainda não ter se dado conta do que estava acontecendo em seu
casamento.
Dessa forma, no final da festa, quando o bolo já tinha sido cortado e Dani já
corria novamente pela casa junto com os amiguinhos, Sandra se valeu do
fato da filha estar comendo um doce sozinha na cozinha para aborda-la e
colocar as cartas na mesa de uma vez por todas.
— Quanto tempo vai demorar até que você diga pra sua velha mãe o que
está acontecendo? – ela perguntou.
Diana não era burra. Ela poderia não estar dimensionando a situação como
Sandra fazia, mas sabia exatamente a que a mãe se referia. Tudo o que
Sandra viu e ouviu, ela também vira e ouvira. O problema é que Diana
observava tudo, chegava a conclusões e as guardava para si. Obviamente
sua mãe não faria a mesma coisa.
— Querida... – Sandra suspirou irritada – Está evidente que eles não são
apenas amigos.
— Eu não iria tão longe, mas obviamente ele sente algo muito forte por essa
Anahí.
— Ele nunca foi cem por cento meu – Diana admitiu – Ele sempre
continuou amando a Anahí. E eu sempre soube disso e de certa forma
concordei com isso quando me casei com ele.
— Mas antes ela estava morta – Sandra completou – Agora ela circula pela
sua casa e basta chegar para atrair todas as atenções, todos os olhares dele.
É como se mais nada existisse.
— Mamãe...
— Antes ele conseguia deixar vocês duas coexistirem, agora ele
provavelmente ainda não te deixou porque está sentindo o peso do
compromisso – Sandra deu de ombros – Alfonso é exatamente assim. Ele é
íntegro, é um homem de palavra, sempre pareceu ser.
— E o que você me sugere? Que eu lute com unhas e garras por ele?
A constatação doeu em Diana como se levasse um tiro. Estava certo que ela
estava um tanto infeliz, preterida e sentindo que algo faltava em seu
casamento... mas era duro demais ouvir tudo aquilo com todas as letras,
sem a chance de uma interpretação equivocada que fosse. Sandra ali
colocava em palavras o que Diana tinha em seu peito na forma de suspeitas,
sem deixar qualquer sombra de dúvida. Sobretudo, ela colocava a coisa toda
num patamar que não tinha ficado antes: deixava claro para Diana não que
ela iria perder, como Evelyn tinha falado, mas que já tinha perdido. E que
cabia a ela abrir o jogo com Poncho e apenas finalizar o que já tinha sido
terminado.
Agora Diana não poderia simplesmente fingir que não estava vendo. As
palavras da mãe jogaram a responsabilidade de sua omissão em suas costas.
Ao repeti-las mentalmente vinha na cabeça dela as cenas de Poncho
sorrindo para Anahí, preocupado com a ex, se recusando a se desligar dela.
Diana realmente tinha perdido Poncho e precisava admitir para si mesma
com todas as letras. Não tinha sido agora. Se ele nunca tinha sido cem por
cento seu, agora podia-se dizer que a única coisa que os prendia era o
compromisso.
E cabia a ela, Diana, decidir se esse continuaria ou não sendo o único laço
que os uniria.
Do lado de fora, Poncho não tinha uma conversa muito diferente.
— Você estava certa – Poncho confessou assim que se sentou ao lado dela –
Sobre a Anahí.
— Mas seria – Erendira observou – Você apenas nunca cogitou que a Anahí
voltaria. E bem... não se sinta tão culpado, maninho. Ta na cara que ela é a
sua lagosta.
— Diana não é a sua Rachel – Erendira concluiu – Ela não é a sua lagosta.
Não é ela que você procura no aquário pra viver a sua vida inteira. Ela pode
te fazer feliz, te fazer rir, mas não é ela que te transborda. Se você estivesse
com a Anahí eu acho que não se sentiria do mesmo jeito. E quanto mais
tempo você demora a admitir isso pra si mesmo, mais sofre e faz as duas
sofrerem.
Poncho agora sabia: ele precisava terminar com Diana. Só não sabia como.
xxx
Anahí não fazia a menor ideia que seu ex-namorado tinha deixado de negar
os sentimentos que ela não afastou em momento algum. Enquanto Poncho
admitia o quanto ela ainda mexia com ele, Anahí seguia para o novo lar ao
lado de Christian. Maite, novamente, não os acompanhou – ela estava
inclinada a princípio a acompanhar Mane em seu apartamento e ouviu de
seus dois melhores amigos todo o incentivo do mundo para seguir com
aquilo. Mesmo a morena demonstrando uma certa insegurança, tal como da
primeira vez, ela demorou menos tempo para ser convencida do que antes.
Aos poucos todos eles se acostumariam, em especial Anahí, que ficou mais
tranquila com Maite saindo de perto dela do que tinha ficado da vez
anterior. Até porque Christian não lhe dava tempo nem para pensar, quanto
mais para se sentir insegura.
Aquele aparelho com a tela touch screen e um único botão de iniciar não
era o que Anahí estava acostumada. Ela ainda estranhava sentir o celular
vibrar e toda a tecnologia que ele envolvia, mas aos poucos se tornava
comum. Karen dera o celular à filha não apenas para que Anahí se
comunicasse, mas também porque queria que ela se sentisse de volta ao
mundo real. De certa forma servia mais para a primeira finalidade do que
para a segunda, porque numa noite daquelas uma ligação para o aparelho
era o que fazia Anahí estar conectada à Milo.
— Anda Anahí! – Christian esbravejou – Atende a ligação! Atende o
bofe...!
— Oi Any – ele disse do outro lado da linha – É que... eu estou perto do seu
apartamento e queria saber, não sei... se poderia, quem sabe, aparecer... se
não for atrapalhar... claro que se você não quiser...
— Perfeito – Milo sorriu do outro lado da linha – Nos vemos daqui a pouco
então.
— Ai-meu-Deus quer dizer que eu vou conhecer o Milo essa noite...? – ele
quase dava pulinhos – Meu Deus, que noite...!
Claro que Anahí não poderia esperar nada muito diferente de Christian,
aquilo fazia parte de quem ele era. Quando o táxi parou Milo já estava no
saguão do prédio dela, sentado nos degraus que davam para a portaria, e
Anahí ao descer do carro sorriu e acenou, vendo-o fazer o mesmo. Com a
proximidade do inverno o ar estava cada vez mais gelado àquela hora, por
isso ela colocou as mãos dentro dos bolsos do casaco e caminhou até ele
com um sorriso discreto nos lábios.
Anahí não esperava que Milo a procurasse naquela noite, na verdade não
esperava sequer que Milo continuasse a procura-la. Mas estava
acontecendo. Ele sabia por alto do passado dela, embora nunca tivessem
conversado a respeito e Anahí não tivesse chegado a entrar em detalhes
sobre o que tinha vivido por oito anos naquele porão. Mas sabia o suficiente
para saber que deveria ir com calma, que não podia avançar rápido demais,
ela não suportaria. Na cabeça de Anahí qualquer homem que chegasse e
percebesse suas limitações se afastaria, porque não era algo fácil de se lidar.
Mas Milo não. Milo não parecia se assustado ou intimidado, pelo contrário.
Também não achava que ela representava um desafio para ele, que tê-la era
como receber um prêmio. Ele simplesmente parecia interessado. E como
tal, disposto a esperar o tempo que fosse necessário, da forma que tivesse
que ser, para estar com ela. Parecia impossível, mas estava ali, acontecendo.
Ela preferiu fazer as apresentações logo. Sabia que Christian não sairia dali
enquanto não fosse formalmente apresentado a Milo. E sabia também que
ele precisava sair, porque as coisas que nadavam em sua mente, ao menos
algumas delas, precisavam ser faladas com ele.
Milo deu um leve ar de riso ao ver a cena, era bem provável que Anahí
tivesse falado algo dele para seu melhor amigo. Christian observou Milo
nos detalhes, tentando disfarçar mas sendo impossível, mas não tardou a
decidir subir e se despedir dos dois. Ele antes disse à Anahí que estaria lá
em cima caso ela precisasse, que poderia ligar se fosse necessário. Sabia
que ela ficaria bem.
Claro que Anahí sabia que Christian tinha uma certa insegurança de deixa-
la sozinha com um homem, e de certa forma até ela ficava. Mas ela não
poderia deixar de viver e tinha certeza que era com essa frase que seu
melhor amigo tentava espantar aquela hesitação. Era para isso que Anahí
tinha se mudado para lá, porque tinha a certeza de que, se ficasse na casa de
Karen, ela agora não estaria ao relento com um homem que mal conhecia
sem nenhuma companhia.
Mas Milo não era Tobias. Ela queria confiar. Se estava disposta a se
entregar para ele, a recomeçar, tinha que justamente começar de algum
lugar. E pelo visto, seria dali.
— Você falou de mim pros seus amigos? – ele franziu a testa com ar de
riso.
— Eu entendo – Milo riu – Não que seja problema sabe? Seus amigos
saberem de nós dois...
— Eu sei que não é – Anahí mordeu os lábios – Milo... você sabe que eu
tenho um passado complicado, não é?
— Eu sei.
— Eu não me refiro só ao meu sequestro, tem outras coisas que você não
tem como saber – Anahí disse se sentando no mesmo degrau que ele estava
quando ela chegou, vendo Milo se sentar rapidamente ao lado dela – Sabe
de onde eu vim agora? Da festinha de aniversário do filho do meu ex-
namorado.
— Nossa – ele franziu a testa – Sério...?
— Sim – Anahí suspirou – Poncho foi meu único namorado, antes de... não,
ele realmente foi o meu único namorado. Ele foi o meu primeiro homem, o
meu primeiro amor. Meu único amor.
— Exatamente – ela fez uma pausa antes de continuar – Ele casou e teve
um filho lindo. E as coisas ficaram meio estranhas quando eu voltei. Nós
estamos tentando ser amigos porque ele continua casado, mas... tem horas
que tudo parece ser meio esquisito. Eu não cogitei uma vida sem ele. Eu
achava que, se um dia eu saísse daquele porão... de alguma maneira era pra
ele que eu voltaria.
— Entendi – Anahí respondeu – Bom, acho que isso nos coloca de certa
forma em um pé de igualdade, não é?
— Não estamos cem por cento aqui, mas queremos um dia estar – Milo
completou – Por mais que eu ainda goste da Mandy, eu quero tentar algo
novo. Não deu certo com ela, mas a minha vida não acabou. Assim como a
sua também não.
— Tudo bem – Milo acariciou o rosto dela – Desde que você queira tentar...
está tudo certo pra mim.
Com ela e Milo em silêncio se encarando, Anahí percebeu que eles não
tinham mais nada a perder. Ela já tinha perdido demais, era melhor encerrar
ali. Se aproximando dele, Anahí acariciou sua barba, sentindo um frio na
barriga que não era causado pela ansiedade de uma mulher em um primeiro
encontro. Ela sabia que ali tinha nervosismo por ser uma mulher
traumatizada e ainda em frangalhos. não era medo de se magoar, era medo
de sequer conseguir.
Milo a notou hesitante e fez o resto, tomando a atitude sem ser brusco, para
não assusta-la. Ele se aproximou encerrando o espaço que ainda havia entre
os dois e a beijou com delicadeza, deixando que Anahí se acostumasse aos
poucos com uma boca contra a sua e com um homem em sua frente
novamente. Funcionou. Como ele estava sendo delicado, Anahí abriu a
boca e se deixou ser beijada, se aproximando aos poucos e se entregando ao
momento. Não era, e nem seria, um beijo lânguido e cheio de paixão. Era o
beijo de uma mulher que estava querendo seguir em frente, que tinha
encontrado alguém que sentia a textura de suas cicatrizes e parecia querer
protegê-la de novas feridas. Sabia que não podia cura-la, mas ao menos
estava disposto a amenizar.
O beijo de Milo era bom e Anahí resolveu não para-lo. Pelo contrário,
quando acabou ela o beijou de novo, vendo-o virar de lado para segurar
melhor o rosto dela e abrindo ainda mais a boca. Aos poucos aquele
primeiro nervosismo foi passando, conforme o medo era trocado pelo
prazer, pela tranquilidade de saber que estava bem e que continuaria assim.
No fim Anahí gostou daquilo, de ser beijada por aquele homem que lhe
fazia bem, que respeitava seu espaço e que estava disposto a caminhar
devagar para ir no passo dela, fosse no ritmo que fosse.
Quis o destino que, justamente quando Poncho se dava conta de que ainda a
amava e que seu casamento precisava chegar ao fim, era quando ela dava
um passo com outro homem. Um passo que a deixava mais distante do que
nunca dele.
xxx
Só que naquele aniversário de Dani Lexie não iria. Ela estava exausta por
tudo... a rotina do hospital estava cansando-a, sem falar no desgaste
emocional que Lexie carregava desde a pequena reunião no apartamento de
Anahí. Naquele dia ela, um pouco mais alta do que deveria, admitiu para as
amigas o quanto estava mal humorada com sua futura sogra, Catherine
Avery. Falou para Maite, Sophia e Anahí tudo o que pensava, sem esperar o
desfecho da noite: Christian se sentando ao seu lado e, sem esperar que ela
pudesse lhe interromper, dizendo tudo o que pensava a respeito de seu
casamento.
Não teria problema ouvir os conselhos que Christian tinha lhe dado se eles
não encontrassem eco no coração de Lexie. Se ela estivesse convicta de que
seu noivado era a melhor ideia possível, como procurava passar a
impressão, estaria tudo certo. O problema é que ela não estava. E Lexie
podia dizer para todos que estava desgastada, poderia jogar a culpa o quanto
fosse em Catherine, mas no fundo tinha que admitir, ao menos para si
mesma, que Christian tinha lá sua dose de razão. E uma dose bem grande,
na verdade.
Lexie naquele fim de expediente ouviu sua interna, Brenda Cocatti, dizendo
ao grupo de amigas que tinha conseguido uma nova estratégia para se
aproximar de Mark: forjar um suposto interesse em Cirurgia Plástica. Se
normalmente Lexie reviraria os olhos para aquele "golpe", dessa vez ela
apenas encostou-se a um dos armários e ouviu a conversa até o final.
Brenda se gabava de tudo estar funcionando, de Mark ter parecido
interessado em lhe ensinar algumas suturas, sem sequer fazer ideia de qual
era a real intenção por trás daquilo. Ela tinha certeza de que o plano
funcionaria, afinal Mark gostava de ensinar internas. Ao menos era isso
que o hospital inteiro dizia.
Brenda não sabia qual era o motivo para as pessoas dizerem aquilo, mas
Lexie sim. Era por causa dela. Muita gente poderia julgar mal, acreditando
que Lexie era uma alpinista e que se envolveu com um atendente para subir
na carreira, mas não era nada daquilo. Lexie no início realmente queria
aprender. Se envolveu com Mark e o aprendizado que teve com ele acabou
se tornando algo natural. Eles sempre souberam separar as coisas enquanto
estavam juntos, só que acabaram se distanciando depois de tantos términos.
E quando finalmente voltavam a se aproximar, Lexie se deixou levar pelos
impulsos e o alto teor alcoólico em seu sangue e beijou Mark enquanto
estava noivo de seu pupilo.
O universo tinha que fazer mais... tinha que colocar mais uma pessoa que
diria o que ela precisava ouvir.
— Eu sou casada com o melhor amigo dele, esqueceu? – ela deu de ombros
– Derek que não me ouça te contando quando eu sequer deveria saber, mas
não Lexie, Mark não está com a interna e nem ficará. Ele a cortou no dia do
seu aniversário, na cozinha da minha casa. Cerca de uma hora antes de você
aceitar aquele pedido de casamento.
E Lexie sentiu como se o chão tivesse sumido e seu corpo caísse em queda
livre para o centro da Terra.
— E ele nem vai ficar com ela, se é o que você está pensando, e eu acho
que você sabe o porquê – Meredith a encarou bem séria – Ele disse isso ao
Derek, ele garantiu que não tinha nada com ela e nem teria. Mas ele não vai
dar um passo sequer a não ser que você dê.
Conhece aquela famosa expressão "deja vu"? Geralmente nós não nos
lembramos da cena anterior, apenas o presente lembra um passado que
sequer se sabe se aconteceu. Mas acontece mesmo assim. Mark estava num
dia cansativo depois de trabalhar até dizer chega e ainda brincar com Sofia
no início da noite. Ele finalmente estava no próprio apartamento
mergulhado num silêncio merecido, pronto para usufruir do descanso dos
justos. Quando ouviu a batida na porta.
Do outro lado da porta de madeira, Lexie. Que viu uma testa franzida de
Mark ao se deparar com ela, exatamente como cinco anos atrás. Deja vu.
— Eu vim te desculpar por só ter feito tudo quando estava bêbada – ela
disse já tirando a jaqueta. Mark permanecia atônito apenas observando a
cena – E ter te dado a impressão de que só fiz aquilo pela bebida. O que não
é verdade.
Deja vu.
— Eu ouvi uma interna dizer hoje que queria ser sua aluna – ela continuou,
ignorando a surpresa no rosto de Mark e tirando os sapatos – Porque você
tinha muito a ensinar a ela. E bem... você me ensinou muito também. Só
que ainda tem outras coisas que eu ainda não aprendi.
— Lexie... pare...
— Você está noiva – Mark murmurou sem tirar os olhos dela. Ele falava
com a razão, mas todos os seus sentidos a queriam desesperadamente.
— Me ensine – Lexie pediu – Me ensine a jogar tudo pro alto. Me ensine a
não pensar, Mark. Me ensine o que realmente importa.
E Mark Sloan poderia ter sido nobre, poderia ter sido educado. Poderia até
mesmo ter lembrado à Lexie que aquela era a maneira errada de fazer as
coisas. Talvez ele não fosse um professor tão bom assim. Talvez, no fim, ele
estivesse lhe ensinando errado...
Mas se ela iria para o inferno, ele iria junto. Que se danasse.
Para Mark não importava ser o melhor professor. Ele só queria ser o homem
que terminaria de despi-la e sentiria as sedosas mãos de Lexie tirando cada
peça de sua roupa. Ele queria ser o homem a quem ela se referia, o homem
que deixaria o certo estocado no fundo do cérebro, totalmente esquecido, e
se entregaria ao que queria. O homem que lutaria por ela.
E Mark agora era o homem que, tal como cinco anos atrás, caminhava para
Lexie desistindo de ser um bom homem e a tomando nos lábios com toda a
paixão no corpo. Não importava ser um bom homem e sim ser o homem
dela. Algo que, agora eles tinham certeza, ele nunca tinha deixado de ser.
Acho que vcs perceberam pelo capítulo de hoje que o único casal que não
está resolvido (ou temporariamente resolvido) é AyA né? Eu primeiro
ajeitei Manerroni, depois Bushfer e agora Slexie, falta os protagonistas. Me
divirto é com os comentários, porque embora haja uma maioria que siga
AyA e não abra mão, tem um grupinho que quer Poncho com a Diana e
Anahí com o Milo hahahahahahahaha rio mt
Mas já adianto que em menos de 10 caps essa trama vai ter um bom
seguimento e vcs vão saber a quantas tudo vai ficar. A partir de quinta
veremos o Thanksgiving e depois entraremos numa sequência de capítulos
bem focada nos protagonistas. Aí quem ama os outros casais guarda a
saudade que, depois disso, eu inicio uma nova "fase" da história contando a
segunda metade do que tem sobre eles. Sim, estamos chegando na metade!
Será que voou ou ta no ritmo tartaruga lerda da escritora? hahahahahahah
Rafa
Capítulo 38 - Confess
Mark Sloan queria ter Lexie Grey em seus braços há tanto tempo que mal
sabia como reagir. Ele parecia refém de um sentimento que rasgava seu
peito, do tesão que mal o deixava raciocinar. Mark não tinha sido nem um
pouco racional quando caminhou a passos largos na direção de Lexie e a
beijou com uma paixão não recomendada a ser feita com uma mulher que
se casaria com outro homem. Mas agora não importava o noivado de Lexie
nem nada relacionado. Nada importava senão eles.
A própria Lexie não estava sendo nem um pouco racional. Se ela tivesse
usado um pouco da inteligência a qual todos sabiam que tinha,
provavelmente não estaria ali. Lexie vinha sendo passional nos últimos
tempos, era emoção pura quando disse sim à Jackson e continuou sendo
ignorando que não era pelo noivo que ela estava apaixonada. Mas o que
levava seus sentimentos à flor da pele era o ciúme que sentia por Mark com
aquela interna. Era o fato de poder perdê-lo de vez, de tê-lo deixado
novamente escorrer por entre seus dedos sem fazer nada. Era isso o que a
levou ali. Agora, certo ou errado, ela estava ao menos fazendo.
I always will
Eu sempre amarei
— Por que você está totalmente vestido e eu estou praticamente nua? – ela
questionou rindo do fato de até mesmo sua calça já ter sido tirada por Mark
no caminho até o quarto enquanto ele permanecia intacto.
— Talvez seja porque você bateu na porta do meu apartamento e antes que
eu conseguisse me lembrar que dia é hoje, estava tirando a roupa e
implorando com essa boca deliciosa e esses olhos enormes e sedutores que
eu te fodesse até dizer chega – Mark disse já tirando a camisa e empurrando
a calça abrigo para baixo. Ele tinha pressa.
— Na verdade eu estava pedindo por outra coisa, mas essa opção de você
me foder não parece nem um pouco ruim – Lexie confessou rindo sem tirar
os olhos dele – Eu acho que não vou me cansar nunca de te ver tirando a
camisa.
O resto em questão era tirar a única peça que ainda estava nele, a cueca.
Enquanto Lexie tinha os olhos fixos no que fazia – deixa-lo nu, vê-lo sem
roupa alguma e apreciar sua nudez que muito a agradava. Mark, por sua
vez, estava satisfeito com as reações dela. O modo como Lexie o olhava
dizia muito sobre os sentimentos dela. Naqueles olhares ela dizia muito
mais do que sua boca ousava esconder das palavras que passavam em sua
mente. Era maravilhoso ver aqueles olhos enormes e castanhos revelando o
quanto ela sentira a falta dele.
— Pronto – Mark disse após Lexie despi-lo totalmente. Ela ainda olhava
para a nudez dele – Será que agora eu posso terminar de tirar a sua roupa...?
O dedo de Mark deslizou para dentro da calcinha dela. Mark estava de olho
para ver qual era a reação dela, e mordeu os lábios ao ver a cabeça de Lexie
caindo para trás e seus olhos se inebriando de prazer. Era bom saber que ele
causava tudo aquilo nela. Ele estava com saudade não somente do seu
corpo, mas também dos pequenos gemidos que sua boca soltava, da pele
arrepiada pelo toque dele, e dos orgasmos que um causava no outro, é claro.
I always will
Eu sempre amarei
— Mark... eu pensei que você estava com pressa – a voz dela parecia mais
agoniada do que nunca. Mark sorriu ao constatar – Eu acho que já deu pra
perceber que estou pronta...
E não teria mesmo. Não quando a mão de Lexie já procurava pelo pau dele.
Foi a vez de Mark perder o controle. Lexie acariciou a cabeça do pau com
sua mão pequena e jeitosa, vendo somente os olhos dele se revirarem e a
respiração de Mark ficar tão pesada que parecia que ele iria explodir. Só
que o objetivo de Lexie não era masturba-lo e fazer Mark explodir naquela
mão, mas sim leva-lo aonde ela realmente o queria. Lexie segurou Mark e o
guiou até a entrada de sua boceta, deixando os corpos dos dois se
encontrarem e o magnetismo fazer o resto.
O suspiro aliviado de Mark ao se enterrar dentro dela mais uma vez era algo
que Lexie provavelmente nunca esqueceria. Estava marcado na pele dela,
em seus sentidos. Os corpos dos dois se encaixaram como tinha sido um dia
e como provavelmente sempre seria. As mãos dele a tocavam e a
seguravam, apoiando o corpo de Lexie junto ao seu. Como fazer isso e não
se perder no prazer deles não era algo que ela entendia, mas não era hora de
racionalizar. Mark se sentou na cama sentindo Lexie envolver sua cintura e,
com uma mão segurando a coxa direita dela e com a outra apoiando suas
costas, ele começou os movimentos.
Difícil conciliar saudade e eternidade. Mark queria ficar daquela forma para
sempre, tinha demorado tanto tempo para tê-la novamente que não queria
desperdiçar. Ele não queria que os gemidos de Lexie virassem lembrança e
sim rotina. Queria ouvi-los sempre que pudesse. Queria os dedos dela
enroscados em seu cabelo com frequência, e não esquecer como era sentir a
boceta dela comprimindo seu pau. A pele de Lexie estava suada e pegajosa
e Mark a amava assim, sobretudo amava senti-la prestes a gozar como
acontecia. E percebeu que tudo ainda era como antes, como o orgasmo dele
chegava perto do dela e tinha que se controlar para deixa-la chegar
primeiro... e foi exatamente o que ele fez, gozando com força e em jatos
assim que ela se recuperou.
Não era a única coisa que tinha permanecido intacta com o tempo. Ela
ainda era o melhor sexo possível. Ela ainda era muito mais do que sexo. E
ele ainda tinha certeza de que faria tudo para ter muito mais do que aquilo
com ela.
I always will
Eu sempre amarei
I always will
Eu sempre amarei
I always will
Eu sempre amarei
I always will
Eu sempre amarei
xxx
— Isso o quê?
— Esse jantar – Ellie explicou, logo notando que precisaria ser óbvia –
Anahí e Keith juntos.
— Ah – Karen entendeu – Bem, a Any não ama o pai, mas ela concordou
em vir sabendo que ele estaria aqui.
— Isso não significa que vá dar tudo realmente certo – Ellie fez uma careta
– Você conhece sua filha. Ela sabe ser bem temperamental.
— Ela não vai vir sozinha – Karen sorriu – Christian virá com ela. E não
apenas ele... aquele rapaz que ela conheceu no café também.
— Se nada tivesse acontecido com ela nós não teríamos por que nos
preocupar, não é? – Karen lembrou – Se fossem condições normais...
Ellie estava receosa, é claro que estava. Keith e Anahí juntos na mesma
mesa era a receita perfeita para o fracasso do jantar familiar. Para
completar, um dia antes Anahí perguntou à mãe se, além de Christian, que
já era esperado por sua família, poderia também levar Milo. Eles estavam
juntos, era natural que ela o acompanhasse. A notícia foi recebida com
surpresa por Karen, ela não sabia que o relacionamento da filha estava
avançando tanto assim. Se metade dela era preocupação pelo que poderia
acontecer, a outra metade era de um certo alívio por Anahí estar finalmente
se permitindo.
Ellie e Arthur não sabiam que Anahí estava com Milo. Na verdade, Ellie,
como alguns dias, ajudava a filha no café, sabia que Anahí tinha um
interesse naquele rapaz. Diferentemente de Arthur, que não fazia ideia que
sua querida neta estava se relacionando... e como Ellie conhecia o marido,
tratou de prepara-lo para aquela "surpresa". E acabou sendo a melhor
decisão que tomou.
— E quem é esse rapaz? Quem o aprovou? Ele sabe da história dela? Como
vamos saber se é respeitador...?
— Arthur, deixe o lado paternalista de lado, nem Keith está assim – Ellie
fez uma careta – Pelo que a Karen disse ele é um ótimo rapaz. E eu também
me preocupei, mas confio na Any. Se ela o escolheu, é uma boa escolha.
Milo não estava uma pilha de nervos como Anahí imaginou que estaria,
pelo contrário. Ele parecia seguro de si, tanto quanto estava quando
conheceu Maite – e foi reapresentado a Sophia, Lexie e Christian. Era como
se ele tirasse aquilo de letra. Anahí acreditava até então que ele estaria com
as mãos suando, apreensivo pelo que a mãe e os avós dela achariam dele, se
aprovariam o relacionamento dos dois... mas nada daquilo acontecia.
Demorou algum tempo até ela se dar conta de que pensava dessa forma
porque esse tinha sido o modo como o único namorado que ela apresentou à
família tinha reagido.
Ela se lembrava de como tinha sido com Poncho. Os dois tinham acabado
de namorar e era óbvio que as famílias não precisavam ser apresentadas a
eles, já que os dois se conheciam desde que eram crianças, suas mães
inclusive eram amigas. Mas mesmo assim, quiseram fazer as coisas direito.
Primeiro Anahí foi até a casa dele e tudo saiu dentro da perfeição, mas nada
deixou Poncho imune de ficar nervoso ao ir até a casa de Karen e ser
"apresentado" a ela e aos avós de Anahí como seu namorado.
Acabou dando tudo certo. Arthur e Ellie, tal como Karen, abriram os braços
para ele. Não que Anahí esperasse algo diferente... se sua família adorava
Poncho, imagine quando eles perceberam que ele era o responsável por
aqueles novos sorrisos que sua menina começou a dar espontaneamente e
de repente?
O esforço que Anahí tinha que fazer era para não comparar os dois. Milo e
Poncho, além de serem totalmente diferentes, faziam parte de momentos
bem diferentes da vida dela. Anahí em nada lembrava a menina inocente de
anos atrás. Ela tinha endurecido e se machucado demais e agora trazer até a
sua família um namorado que não lembrava o anterior parecia combinar.
Se alguém estava em chamas naquilo tudo era Christian. Ele não conseguia
se conter próximo ao namorado da amiga, por mais que a presença de Milo
já tivesse entrado na normalidade. Quando entravam na casa dos Portilla,
ele parecia fumegar.
— É que eu não achei que fosse viver pra ver você trazendo outro boy pra
mamãe conhecer – Christian disse batendo palminhas.
— Mais do que nervosa, constrangida – ela bufou longamente.
— Ei, está tudo bem – Milo sorriu – Christian está apenas... empolgado.
Deixe-o, pessoas felizes não enchem o saco.
— CHRISTIAN!
Nenhum puxão de orelha era suficiente para conter Christian e Anahí sabia
disso. Milo parecia tranquilo, não caía na pilha e ia tranquilamente de mãos
dadas com a namorada. Quando eles entraram na casa da mãe dela Karen os
recebeu na porta com um sorriso tranquilo e um aperto de mão confiante ao
ser apresentada a ele. Na verdade, o único Portilla a não ser um mar de
amores foi Arthur, mas Anahí já esperava por isso – ele sempre foi um fã de
Poncho, afinal.
O que Anahí estranhou de cara – e lhe chamava muito mais atenção do que
o interrogatório completo que sua avó fazia à Milo – era a ausência de
Keith. Karen tinha deixado claro para a filha não somente que seu pai
estaria ali, como também que ele traria consigo uma certa novidade que
precisava tratar com a família. Anahí ainda fazia uma careta ao ouvir aquela
palavra se referindo a um círculo que incluía ela e Keith... mas agora não
era algo a se preocupar.
— Ah, esse é ele? – ela falou e Anahí escutou – Seja bem vindo querido.
Pelo visto a surpresa era uma pessoa. Anahí ao se dar conta disso virou de
costas para onde Keith entraria. Viu primeiro a mãe apresentando o espaço
e, junto com o pai, um garoto. Adolescente, branco e completamente
abatido, ele parecia ter 17 anos e olheiras imensas. Algo definitivamente
estava muito errado com aquele menino... e ela entendia menos do que
nunca.
— Desculpem a demora – Keith pediu – Mas eu tive um... motivo. Tive que
convencer alguém a vir comigo.
— Presumo que o alguém seja esse rapaz parado ao seu lado – Ellie disse
ao abrir seu sorriso convidativo – Acho que ainda não fomos apresentados...
— Quem é ele, seu filho? – a voz de Anahí saía mais ácida do que nunca –
Ah, vai me dizer que você traiu os nobres sentimentos que nutriu pela
minha mãe por anos e teve outro filho? Seria esse meu irmãozinho?
— No Serviço Social – ele respondeu com a voz quase inaudível – Foi pra
onde me levaram depois que o laboratório de metanfetamina dos meus pais
foi descoberto.
O clima tinha ficado o pior possível depois de toda aquela situação. Nem
parecia mais um Thanksgiving. Arthur sequer estava mais incomodado com
a presença de Milo. Agora tinha um pai e uma filha que não se ajustavam
de forma alguma e um adolescente que aparentemente era viciado – o que
explicava sua péssima aparência física – em meio a um processo de
desintoxicação e estava totalmente exposto diante da família de seu novo
"pai". Karen tomou as rédeas da situação explicando que Keith era
conveniado com o Serviço Social de Nova York há anos para dar apoio a
adolescentes em situações de risco e que somente quando estava morando
sozinho aceitou abrigar Harry durante algumas semanas, até que fosse
encontrada uma família para ele.
O problema é que essa família não foi encontrada. O garoto era quase
adulto e totalmente problemático, com dificuldades de sair das drogas às
quais os pais o expuseram. Keith continuou com Harry sob seus cuidados e
responsabilidade durante aquelas buscas e, ao ver o menino totalmente
deprimido e desmotivado diante do fato de que ninguém parecia querê-lo,
decidiu ele próprio adota-lo.
É claro que aquilo pedia o apoio de Karen, porque, por mais que estivessem
separados, os dois permaneciam casados. Mas ao contar a verdade para a
esposa, mesmo repleto de receio, o que Keith recebeu foi todo o apoio do
mundo. O único obstáculo passou a ser a família dela... afinal, se todos ali
não soubessem lidar bem com a presença de Harry, tudo seria em vão.
Só que Karen sabia que Arthur e Ellie, donos de dois corações enormes e
molengas, não seriam problema. A única pessoa que realmente poderia
colocar óbice a tudo ali era Anahí.
No fim, eles procuraram jantar na busca do clima que tinha sido perdido.
Christian era um grande colaborador, fazia piadas o tempo inteiro e
arrancava risadas de quem estava disposto a rir. Mas Anahí não conseguia.
Ela estava incomodada por ter julgado Keith mal e não parava de analisar o
pai junto ao seu novo "filho". Via seus avós e Karen tentando criar um
ambiente confortável para Harry, mas era óbvio que o garoto era fechado e
introspectivo e estava longe de se sentir à vontade. Visivelmente ele
precisava de todo um apoio psicológico como o que ela estava tendo. Era
inevitável: o lado social de Anahí não conseguia não fazê-la se sentir
mexida e disposta a participar daquilo. E não conseguia não se sentir de
modo diferente ao olhar Keith sendo tão bom com um garoto que não era
nada seu.
xxx
O Thanksgiving da casa dos Herrera tinha sido prejudicado por um Daniel
doente que acabou comprometendo os planos de Alfonso e Jesse fazerem
um jantar conjunto para reunir seus filhos. Diana acabou se vendo obrigada
a cancelar o jantar em questão já que Dani estava febril e volta e meia
vomitava, e Samantha não era exatamente a criança mais compreensiva
quando o amiguinho não tinha como lhe dar a atenção desejada.
Diana, por sua vez, estava evitando o inevitável. Ela sabia que não
adiantaria nada postergar aquela situação, sabia que cedo ou tarde teria que
encarar o fato de que seu casamento estava em crise. Mas ela se esforçava
tanto em fingir que nada estava acontecendo e não jogar a toalha que não
percebia que, mesmo que não o fizesse, Poncho faria. E o tic tac do relógio
tornava o momento cada vez mais próximo.
— Será que ele dorme essa noite inteira...? – Diana perguntou ao marido
logo após confirmar que o filho realmente tinha apagado – Eu não sei se
minhas costas aguentam mais uma noite sentada aqui...
— Acredito que sim, mas não se preocupe – Poncho sorriu – Eu já iria ficar
acordado escrevendo, então pode ir dormir tranquila. Eu fico com ele.
— Você vai escrever aqui? – Diana franziu a testa – Essa sua inspiração
realmente está fazendo milagres.
Viria a calhar que Diana fosse dormir e ele ficasse ali, velando o sono de
Daniel e a postos caso o filho acordasse novamente passando mal. Poncho
deixava a esposa descansar, cuidaria do filho e escreveria solitário,
provavelmente a noite inteira. Algo que vinha acontecendo com alguma
frequência nas últimas semanas, exceto pelo fato de que normalmente ele
faria isso no pequeno escritório que tinha montado, não no quarto de Dani.
A solidão não era uma exigência da escrita, não quando Poncho costumava
rascunhar seus livros na Starbucks barulhenta. Ele gostava de agitação, de
ver pessoas, era necessário para se inspirar. Não com aquele novo livro.
Para aquele, tudo o que era necessário era a concentração total.
Era a história dele com Anahí. E o final que eles não puderam ter, ele iria
escrever.
Bom fds!
Beijos,
Rafa
Capítulo 39 - I'm here
Mas o principal era que ela estava vendo com bons olhos o relacionamento
dos dois. Depois que Erendira jogou na cara deles que a menina já sabia de
tudo, Jesse e Sophia sentaram co ela e explicaram a situação de uma
maneira madura demais até para uma criança daquela idade. Eles deixaram
claro que havia chances de novamente não dar certo e eles se separarem,
mas que os dois ainda se amavam e que se esforçariam para que
funcionasse dessa vez. Samantha acreditou e os abraçou,
surpreendentemente agradecendo por eles estarem se dando uma chance
novamente.
Foi quando Jesse entendeu algo que nunca tinha ficado tão nítido: ele e
Sophia se darem uma chance era ao mesmo tempo dar a chance de uma
família para sua filha.
Mas naquela noite, Samantha estava emburrada. Ela tinha feito planos
mentais de brincar com Daniel e tudo tinha ido por água abaixo quando
Diana avisou que o menino estava doente. Samantha não ficava exatamente
feliz quando seus planos eram frustrados e Jesse, por mais que soubesse que
a longo prazo aquela ideia não era das melhores – dado ao fato de que sua
filha já não era boa em aceitar não's – acabou decidindo dar um jeito de
anima-la, mesmo que de outra maneira.
Sophia estava cozinhando o jantar daquela noite com um olho no peru, nas
batatas e no molho de crawmberry e outro em Samantha que estava deitada
no sofá vendo TV com um bico enorme. Quando ela ouviu o pai abrindo a
porta e entrando não deu qualquer atenção, já que estava cabisbaixa. Sophia
também não levantou a cabeça para ver o namorado, só ouviu-o falando
com a filha com um ar de malícia na voz.
A palavra surpresa fez Sophia não gostar. Ela levantou a cabeça quase que
ao mesmo tempo que Samantha, mas enquanto a menina não conseguiu
entender de cara o que continha na caixa enorme que seu pai tinha nas
mãos, Sophia imediatamente juntou as peças e percebeu do que se tratava.
Jesse colocou a filhote no colo de Samantha, mas não demorou até que ela
fugisse dali. Sophia riu ao ver que o cachorro correu para o colo dela e,
como Jesse previu, o sorriso dela foi tão grande quanto o de Sam. Sophia a
pegou, alisou o pelo, fez uma careta e logo as três estavam familiarizadas.
Tanto que Samantha chegou a confirmar com o pai se o presente tinha sido
realmente para ela e não para a sua tia.
É claro que Sophia depois ralhou com Jesse, disse que ele era maluco e que
não pensava em nada, que Samantha era muito jovem para se
responsabilizar por um filhote e que tudo recairia sobre eles. Jesse
concordou que ele deveria ter consultado Sophia antes de decidir sobre o
filhote, mas que tinha sido de repente e acabou não havendo tempo. Além
disso, garantiu que dividiria tudo com ela... como já vinha sendo com a
confeitaria, com Samantha, com tudo. No fim, o que Samantha viu foi a tia
bancando a marrenta na frente do pai e Jesse a abraçando-a, os dois
terminando num beijo de quem se reconcilia e tanto ela quanto a filhote
paradas olhando os dois. Ela com um sorriso de quem finalmente estava
feliz, é claro.
— Er... – Jesse coçou a cabeça – Sam, as coisas não são assim. Sua tia
Sophia e eu nem somos casados.
— Então casa com ela ué – a menina deu de ombros – É que... eu gosto de
brincar com o Dani. Queria alguém assim todo dia o dia todo.
— Mas vai ser um bebê, bem pequenininho, não como você e o Dani –
Jesse esclareceu beijando a testa da menina – Ande, vá dormir. E não peça
isso para a Sophia, ok?
— Ok – ela fez uma careta – Boa noite papai. Obrigada pela surpresa.
xxx
— Eu não sei se isso é uma boa ideia – Maite murmurou pela milésima vez
assim que Mane estacionou o carro – Ainda dá tempo de desistir?
Ouvir Mane perguntar daquele jeito, com aquele tom de voz, fazia com que
Maite, de repente, não quisesse. Ela sabia que, se respondesse que sim, que
queria desistir, Mane aceitaria na mesma hora, mandaria uma mensagem
para as mães dizendo que iria se atrasar e a levaria a algum lugar. Mane a
respeitava e a priorizava, e não era algo que Maite estava acostumada
depois de tantos relacionamentos ruins. Mas ao mesmo tempo, era o que a
fazia estar disposta a um esforço extra em momentos como aquele.
— Não – ela meio que mentiu mordendo os lábios – É que eu to meio que
nervosa. Sua família nem sabe que eu vou vir.
— Porque se eu dissesse teria tirado a paz do dia da minha mãe – Mane
disse com ar de riso – E eu não entendo porque você está tão nervosa, as
duas conhecem você, na verdade as três, e elas te adoram. Jade
principalmente.
— Estou nervosa porque elas podem me olhar mais de perto e ver que eu
não sou tudo isso – Maite confessou. A insegurança reinava por ali – Eu
não sou a melhor pessoa em relações pessoais ok? Eu tendo a estraga-las.
— Ok – Mane mordeu os lábios rindo – Mas isso não te define. Nada disso
te define. Você cometeu erros sim, mas sabemos que está desde então
tentando voltar atrás deles. É isso que te define.
Maite mordeu os lábios. Não havia sido cem por cento convencida, mas
definitivamente Mane tinha feito um avanço naquele ponto.
— Como eu disse, minha família adora você – Mane repetiu – Você é a nora
dos sonhos da dona Jade. Vamos entrar e fazê-la feliz?
— Ok, vamos.
— Mane, que bom que... – ela murmurou antes de ver que o filho estava
com Maite – Oh. Oh...!
— Não pra você, pra mim sim – Priscila constatou – Sua mãe vai ficar
furiosa ao se dar conta que o jantar não é fino o suficiente.
Os comentários deixaram Maite mais nervosa, mas Mane lhe passava toda a
segurança acariciando sua mão. Foram aquelas mãos dadas que não
deixaram margem de dúvidas para a interpretação de Priscila – era
exatamente aquilo que ela estava pensando, sem sombra de dúvidas. Maite
e Mane estavam juntos e ele acreditava que a melhor maneira de anunciar à
família era leva-la de surpresa para um jantar de feriado em casa.
Mas Mane sabia que sua família funcionava melhor com surpresas. Por isso
ele teve o cuidado de não fazer nenhuma postagem em suas redes sociais
que denunciasse que ele e Maite estavam juntos. Agora ele estava ali, de
mãos dadas com ela, entrando na casa de suas duas mães. Kamilla foi a
segunda a notar o irmão e a cunhada adentrando no espaço e já arregalou os
olhos até o impossível. Ninguém esperava, depois de tanto tempo de amor
não correspondido, que aquilo fosse se realizar. Mas definitivamente, a
reação mais esperada não era de Priscila ou a da irmã de Mane. Era, é claro,
da outra mãe, a maior torcedora daquele romance quando ainda nem
poderia ser considerado um.
— Estou descendo!
— Ah, pena que eu não fiz pipoca – Kamilla comentou animada – Isso vai
ser divertido.
A única que não parecia estar de fato se divertindo era Maite. Pelo
contrário, seus olhos amendoados acompanhavam apreensivos a chegada da
sogra que descia as escadas da casa sem fazer ideia que ela estava ali. E a
reação de Jade não poderia ser menos dela: quando chegou até o andar
inferior da casa e viu aquela que até então era a amiga de seu filho por
quem ele era apaixonado ao lado dele, em sua casa, no Thanksgiving.
Aquilo só poderia querer dizer uma coisa...
— Olá Maite – Jade disse pisando com calma no terreno – Eu não sabia que
você viria, querida.
— Eu queria fazer uma surpresa – Mane disse abraçando Maite por trás
com um sorriso no canto da boca, claramente sedento pela reação da mãe.
— Ai meu Deus, nem é meu aniversário nem nada – Jade disse colocando a
mão no peito, com os olhos indo do filho para Maite tentando acreditar que
aquilo era mesmo verdade – É isso mesmo que eu to pensando?
— Querida, você quer sentar onde? – Jade já empurrava Maite – Quer uma
sobremesa? Quer beber algo...?
xxx
Parecia perfeito. Jackson iria viajar e ela não. Mark e ela teriam a noite
inteira, a madrugada inteira. Não tinha como dar errado.
Mas surpreendentemente deu. Assim que Callie avisou à Mark que Sofia, a
filha deles, tinha pedido à mãe que fizesse um jantar de Thanksgiving junto
com Meredith, para que ela pudesse passar a data com Zola. As crianças
decidiram praticamente sozinhas e as mães não tiveram como dizer que
não. Quando Mark piscou, Arizona e Meredith, Callie e Derek já estavam
decidindo pratos e fazendo uma divisão de tarefas para aquela noite, que
obviamente incluía a participação dele.
Mark a princípio achou que Lexie iria para Boston com Jackson, então
acabou entrando nos planos do Thanksgiving na casa de seu melhor amigo
e da esposa. Ficou decidido que ele e Arizona cozinhariam, já que deixar
Meredith ou Callie na cozinha era a representação do fracasso do peru da
data e todos morreriam de fome. Ele passou o dia inteiro na cozinha de
Derek cozinhando, um tanto cabisbaixo pela ideia óbvia de que queria
passar o Thanksgiving com ela, de uma maneira diferente da que estava
tendo. Mark não tinha problemas em ficar em família, ele se sentia a
vontade entre os Shepherd e ao lado de Callie e Arizona, mas queria estar
cozinhando aquele peru esperando que Lexie chegasse no fim do dia e ele
pudesse beija-la na boca na frente de todos e que um dia os filhos deles
estivessem no chão brincando com Zola, Sofia e Bailey, como a criança que
Meredith esperava logo estaria.
É lógico que Mark não ousava brincar com a sorte ou sequer reclamar. Ele
tinha decidido para si que ainda tinha tempo para fazer Lexie desistir
daquele casamento e ficar com ele. Sabia que seria difícil, que ela temia
magoar Jackson e dar um passo em falso com ele. Lexie não era boa em
arriscar, mas Mark tinha esperanças. O problema é que não dava para
avançar daquela forma. Não com ela voando para Boston com o noivo e ele
cozinhando para a família.
Lexie foi tomada pelas crianças e mal teve tempo de falar com os adultos na
cozinha. Zola e Sofia exigiram a sua atenção e, quando ela deu por si,
estava sentada na sala de estar de Meredith. Mark mesmo da cozinha
conseguia vê-la e seus olhos procuravam pelos dela, ignorando uma
conversa cirúrgica que acontecia na cozinha e envolvia todos os presentes.
Amelia tinha chegado como sempre espaçosa dizendo sobre um caso da
Emergência naquela tarde e ela e Derek debatiam fervorosos como sempre,
os demais participavam. Mark então aproveitou a distração dos presentes,
verificando que o peru estava quase no ponto, e disse que iria ao banheiro.
Todos compenetrados sequer perceberam a sua escapulida e muito menos os
motivos que o faziam sair dali.
Quando Mark passou pela sala viu que não era apenas ele que tomava conta
de Lexie com os olhos, ela fazia o mesmo. Os dois trocaram um breve olhar
sem serem notados pelas crianças, logo antes dele seguir para o banheiro.
Lexie acompanhou a silhueta dele se afastando, estando certa do que Mark
queria e do que aquele olhar significava. Ela contou um minuto com
ansiedade, segundo por segundo, e disse às crianças que logo voltava. Deu
uma volta na casa para disfarçar, mas acabou parada na porta do mesmo
banheiro que sabia que ele tinha entrado.
Duas batidas com somente dois dedos na porta e Lexie viu a maçaneta
rodando. Depois disso não houve muito o que ser visto... exceto pelo raio de
segundos antes de Mark puxa-la pelo braço para dentro do banheiro e
trancar a porta, jogando-a contra a parede em seguida.
— Você vai me deixar louco – ela o ouviu murmurar. Seus olhos nadavam
desejo – Eu pensei em você o dia inteiro...
— Eu estou aqui...
— Achei que você não viria – ele colocou a boca no pescoço dela,
desabotoando sua calça – Lex...
— Mark... – ela segurou o rosto dele – Eu estou aqui.
E ela estava. Mark sorriu ao constatar isso e perceber que eles não tinham
nada a perder. A calça dele ficou igualmente desabotoada e Mark se limitou
a imprensa-la de vez na parede, segurando-a pelo quadril e vendo-a
envolver sua cintura com as pernas. Lexie estava excitada a ponto de seu
pau deslizar para dentro da boceta dela. Era delicioso ver a expressão que se
formava no rosto dela ao ser penetrada, em especial porque aquele era o
pior momento para aquilo, no lugar mais inoportuno, mas mesmo assim
nenhum dos dois se importava.
— Tio Mark? – Zola chamou – Por que você e a tia Lexie saíram do
banheiro juntos?
Dessa vez Amelia não aguentou. Quando ouviu Sofia dizer aquilo a
neurocirurgiã explodiu numa intensa gargalhada. Vendo a amiga reagir
daquela forma Arizona também não aguentou. O único que permanecia
estático – além dos próprios envolvidos, é claro – era Derek.
— Temos que agradecer que Mark está aqui para ensinar à Lexie o caminho
do banheiro – Derek murmurou irônico.
Mas a verdade é que Lexie se preocupava com aquele tom um tanto crítico
do cunhado. No fundo Derek ecoava a crítica que ela fazia a si mesma. A
crítica de quem sabia que estava fazendo algo errado e que teria que sair de
cima do muro.
xxx
Diana insistiu com Alfonso que eles fossem a um bar no qual tinha sido um
de seus primeiros encontros, quase sete anos atrás. Ele não estava
exatamente animado e sequer achava uma boa ideia que eles fizessem uma
saída em casal que representasse uma nostalgia que não sentia, não quando
procurava as melhores palavras para dizer à esposa que não sabia se queria
continuar com ela. Diana, por sua vez, ignorava os sinais de que tudo
parecia estar chegando ao fim e se apegava a qualquer detalhe que indicasse
que seu casamento ainda tinha alguma chance, mesmo que o detalhe fosse
criado por ela.
— Então você está me dizendo que criou esse rancor enorme por um cara
que nem sequer sabia da sua existência e que agora está fazendo de tudo
pra se aproximar de você...? – Milo franziu a testa – Eu não entendo.
Ela não poderia dizer a Milo que ele estava tendo a mesma reação que
Poncho. Não poderia comparar os dois tão explicitamente, por mais que
eles insistissem em ser parecidos até nisso.
— Todos os meus amigos defendem o Keith – ela rebateu. Assim falaria de
Poncho sem dizer o nome do ex-namorado – Ninguém entende o meu lado.
— O lado da garota que passou a vida inteira acreditando que o pai era um
insensível e que agora simplesmente não consegue se convencer só porque
todo mundo acredita que ele é o melhor pai do mundo!
— Me impedir?
— E se você estivesse aqui quando ele apareceu? Talvez oito anos depois,
você já teria perdoado, vocês seriam pai e filha.
— Você é um cara legal – Anahí deu um sorriso sincero – Estou feliz por
estar com você.
E de repente ficou claro que, se ele não fizesse a escolha dele, iria perdê-
la... isso se já não tinha perdido.
Quem não sentiu o cheirinho agora vai sentir com certeza kkkkkkkkkkkk
Esse capítulo ainda mostrou mais um pouco de todo mundo porque tivemos
o Thanksgiving. Vocês só verão meeeeeesmo os outros casais no Natal e
teremos por volta de seis capítulos entre uma data e outra. O quanto AyA
muda nesse meio tempo? Será que vai? hohohoho. OPINEM!
Beijos,
Rafa
Capítulo 40 - Happier
Ouça "Happier" –
Ela enxergou Anahí beijando Milo no fundo daquele bar segundos depois
de Poncho ver. Imediatamente Diana entendeu o que aquilo significava: era
impossível que Poncho não se afetasse pela cena que acontecia bem à sua
frente. Ao mesmo tempo, parecia um teste, já que, se ele superasse aquilo e
seguisse em frente, seguiria com qualquer coisa que surgisse a respeito de
Anahí.
O lado esperançoso de Diana conseguia ver algum lado bom naquilo.
Talvez Poncho enxergando aquela cena mudasse com relação à Anahí, visse
que a ex estava feliz e seguindo em frente e aceitasse que os dois não iriam
ficar juntos. Talvez. Mas como toda boa insegurança, ela continuava
atormentando a cabeça daquela mulher e assim seria enquanto não tirasse a
história a limpo. Ou seja, a dúvida precisava ser sanada.
Poncho, por sua vez, ao ver Anahí com Milo sentiu parte do corpo morrer.
Ele não esperava, embora seu lado racional soubesse que aquilo poderia
acontecer cedo ou tarde. Anahí e ele moravam na mesma cidade e ela pelo
visto estava realmente namorando outro homem. Os dois tinham o mesmo
círculo de amizades, conviviam com as mesmas pessoas. Mas talvez seria
mais fácil para Poncho vê-la acompanhada daquele cara em algum evento
de Lexie ou de Sophia, e não desprevenido num bar no meio da noite.
Um bar. Como se não fosse perigoso ela estar no meio do nada com um
homem que não conhecia direito. E se ele fosse como Tobias? E se tudo
acontecesse de novo? O peito de Poncho queimava. Ele já não sabia mais o
que era ciúme e o que era preocupação.
— Você acha que isso seria uma boa ideia? – Poncho perguntou franco. A
ideia de caminhar até sua ex-namorada enquanto ela estava ao lado de Milo
fazia o monstro do ciúme em seu peito simplesmente rugir.
Era claramente uma cobrança. Ela estava exigindo, mesmo que em silêncio,
que ele se posicionasse. E Poncho simplesmente estava perdido. No fim ele
acabou concordando, assentindo com a cabeça, prometendo para si mesmo
que se controlaria com a classe que se acostumou a ter, embora nunca
tivesse ficado naquela situação antes, nunca tivesse se colocado a prova.
Era a hora de saber como ele reagiria quando a situação estava inversa,
quando tudo estava o contrário.
Quando era ele a caminhar até Anahí e o novo homem que, pelo visto, a
fazia feliz.
— Boa noite – Diana disse ao se aproximar de Anahí e Milo, que não mais
estavam se beijando.
— Boa noite – Anahí respondeu com o sorriso mais amarelo que tinha no
rosto – Que coincidência...
Por mais constrangida que Anahí estivesse, ela sabia que simplesmente não
havia como ignorar a situação e não apresentar Milo a Diana e Poncho, não
quando eles estavam parados ali na frente deles. Por isso ela tocou o braço
dele, fazendo Milo perceber sua intenção e se levantar sorrindo, e fez aquilo
antes que se arrependesse.
Segurando uma garrafa vazia e repetindo para mim mesmo que você está
mais feliz
Aren't you?
Não está?
Ele guardava os sentimentos para si, jamais trataria Milo mal e faria Anahí
passar algum constrangimento, Diana passar alguma vergonha. Aquele
homem não tinha culpa de nada, enquanto ele fizesse Anahí feliz, enquanto
não derramasse uma lágrima dela, tudo estaria bem. Ou supostamente bem,
não importava. Poncho não tinha qualquer direito de sentir raiva ou
despeito por Milo, afinal fora ele quem deixara o caminho livre. Ele fez a
escolha e agora arcava com as consequências. Quem poderia culpar Milo
por ficar com Anahí quando ela estava completamente desimpedida?
Nenhum homem em sã consciência seria capaz de rejeita-la.
Exceto ele.
Anahí, por sua vez, não sabia bem como recomeçar o assunto com Milo.
Ele a encarava com um certo ar de riso no rosto esperando que ela
começasse a dar explicações. Anahí realmente as buscava, pensava no que
dizer, mas nada vinha à mente. No fim, foi Milo quem tomou as rédeas da
conversa, exatamente com o assunto que ela não sabia como falar.
— Como você...
— Você disse o nome dele quando contou dos dois – Milo explicou, mas
havia mais – Só que mesmo que não tivesse dito nada, é completamente
óbvio pela forma como ele olha pra você.
— Como ele olha pra mim...? – Anahí perguntou intrigada, sentindo uma
onda de surpresa tomar seu corpo. Ela não esperava por aquilo.
— Sim – Milo confirmou – Você não disse que ele ainda era meio
apaixonado por você.
— Não é isso que os olhos dele dizem – Milo retrucou – O olhar denuncia
tudo, todas as coisas que nós sentimos, as coisas que não admitimos... então
eu acho que sim, ele e a esposa podem estar juntos e podem formar um
casal bonito como você diz, mas isso não muda o fato de que ele ainda
sente algo muito forte por você, mesmo que não admita.
Aquela fala de Milo deixava Anahí ainda mais confusa. Ela tinha se
acostumado com a ideia de que Poncho amava Diana e que foi por isso que
ele escolheu continuar seu casamento. Se ele ainda a amava, se ele sentia
alguma coisa com ela... por que tinha deixado as coisas ficarem daquela
forma?
— Você não precisa ficar assim – Milo disse acariciando a mão dela – Me
desculpe se te deixei chateada com isso.
— Você não deixou, ele deixa – Anahí suspirou mordendo os lábios. Ela
estava mais confusa do que nunca – Eu não entendo porque complicar
coisas simples.
— Talvez seja simples pra você, não veja tudo preto-no-branco – Milo
observou – Veja bem, nós somos duas pessoas que estamos nos
relacionando mesmo admitindo que sentimos alguma coisa por outras
pessoas. Talvez seja o caso dele. Casamento não é algo frívolo, deve ser
uma escolha difícil.
— Sim – Milo confirmou – Mas o amor não é a única coisa na vida. Amor
não sustenta relacionamento nenhum, como não sustentou comigo e com
ela. Precisava de presença física, precisa também que as duas pessoas
queiram a mesma busca, busquem os mesmos objetivos, tenham as mesmas
prioridades. A sua prioridade é se reerguer, seguir em frente com a sua vida,
voltar a se sentir você mesma ou algo parecido, e a dele... bem, ele tem uma
família. Tem um filho no qual precisa pensar. A Mandy escolheu a carreira
dela e eu a entendo, entendo de verdade, mas não era o que eu queria pra
mim. Então pra que nós voltássemos eu precisaria ver que ela e eu estamos
no mesmo patamar, buscando a mesma vida. Do contrário não daria certo.
E a conversa que Milo tinha com ela só fazia Anahí acreditar que, talvez,
Poncho tivesse feito a melhor escolha para os dois. Talvez fosse o certo ele
optar por ficar com Diana e manter a família de Daniel. Era a prioridade
dele. Ela precisava de alguém que se entregasse para ela, que fosse livre
para segurar sua mão e ajuda-la a reconstruir sua vida. Era Milo quem
estava com as mãos livres. Era ele quem queria dar a mão para ela.
Chegando em casa Diana liberou Bea, que estava cuidando de Dani aquela
noite, e apenas velou o sono do filho por alguns minutos, encarando a
serenidade daquela criança de seis anos e se perguntando se valia a pena ir
tão longe por um relacionamento que dava sinais de fracasso cada vez mais
fortes. Dentro de si Diana buscava coragem para ter uma conversa
definitiva com Poncho e pedir ao marido que fosse franco com ela, embora,
mesmo que aquilo não acontecesse, Diana estivesse cada vez menos
disposta a esperar que as palavras de Poncho saíssem. As atitudes dele, a
distância, o olhar que ele seguia lançando para sua ex-namorada pareciam
suficientes para fazê-la pensar se não era melhor que ela desse o ponto final
oficial que a covardia dele se recusava a dar.
Mas no dia seguinte ele sairia. Ele levaria Daniel para a escola e Diana
ficaria sozinha. Era o dia que ela iria descobrir.
xxx
— Você não sabe dizer à Diana que é a Anahí quem você quer?
Por fim admitiu. Por fim concordou, em voz alta. Jesse já sabia, o mundo
inteiro já sabia, até Diana. Faltava apenas que ele terminasse de juntar as
peças.
— Nós não somos tão diferentes assim – Jesse deu uma risadinha – Dois
idiotas que só perceberam o quanto deveriam ter dado valor quando
perderam.
— É claro que não – ele explicou – Eu não sou um canalha Jesse. Seria
egoísmo da minha parte desrespeitar o relacionamento da Anahí quando ela
sempre respeitou o meu. Mais egoísmo ainda decidir me separar da Diana e
achar que ela deve ficar comigo agora que eu sei quem eu quero. Eu não
posso fazer isso com ela.
— Eu entendo...
— Você pode ficar com o Dani por algumas horas pra mim...? – Poncho
perguntou levantando – Geralmente é ele quem distrai a Sam, hoje eu
preciso do contrário.
— Você levou mesmo a sério isso de resolver o mais rápido possível – Jesse
comentou assombrado.
E era verdade. Agora que Poncho já sabia dentro de si o que deveria fazer,
faltava completar.
xxx
De repente Diana se viu sete anos antes, diante das primeiras palavras
escritas por Poncho que lia, ainda em um manuscrito encadernado que
estava numa pilha ao lado de sua mesa de cabeceira. Ela era muito mais
jovem, recém-chegada em Nova York, encantada pelas palavras daquele
homem, cada uma mais triste e melancólica do que a outra. A busca de um
amor perdido, a tentativa de se reerguer, a desistência... aquilo a tocou. E
ela se apaixonou por cada linha, e depois pelo homem que as criou. Mesmo
sabendo que aquele homem estava preso àqueles textos e à mulher que,
mesmo morta em vida, permanecia intacta naquela história. E também nas
que viriam.
Mas agora ela estava duplamente viva. E pelo visto seu autor tinha
encontrado um jeito de viver o seu amor por sua musa inspiradora. Se antes
era uma maneira de não deixa-la morrer, agora Poncho usava o novo livro
para reescrever a história que não vivia em vida. Ele se narrava como um
personagem preso, quase algemado. Narrava Anahí como uma mulher que
se tornava inalcançável dadas as correntes dele. Não era difícil para Diana
entender as metáforas contidas no texto dele... as correntes eram ela. Era ela
quem prendia Poncho, quem o impedia de viver o que realmente o fazia
feliz. Estava mais do que claro, inclusive o motivo pelo qual ele estava
distante para escrever aquela nova história.
Poncho entrou em casa chamando por Diana quando ela ainda estava lá,
processando as informações do que tinha lido. Diana até pensou em se
levantar e fingir que não tinha lido nada, que nada tinha acontecido, mas
não teve forças. Mesmo que o fizesse, seus olhos a denunciavam. Não dava
para simplesmente fingir. Ela poderia até forjar como se não tivesse lido
nada sem ter um exato direito, mas não mudava o fato de que seu
casamento tinha acabado. Eles só precisavam colocar o ponto final oficial.
Uma pausa para o silêncio, enquanto ele pensava nas melhores palavras
para concretizar o inevitável.
— Tem coisas que não dá pra lutar Poncho – ela disse ao parar bem na
frente dele, o encarando – Eu também tentei lutar, lutar pra fingir pra mim
mesma que nada estava acontecendo, que dava pra ser mesmo assim, mas
depois de ler essas palavras...
— Mas ela existe Poncho – Diana observou – E é ela que você quer. E eu
preciso sair do caminho. Ao menos por enquanto.
— Porque talvez você fique com ela e descubra que não iria dar certo –
Diana deu de ombros. Ela se agarrava a um último fio de esperança – Vocês
iriam se casar, iriam ter um filho, mesmo que você só tenha descoberto anos
depois... iriam, mesmo assim. Sempre ficou esse vácuo entre vocês, esse "e
se...?". Antes ela não existia então o vácuo estava condenado a continuar,
mas agora não, agora ela está viva e você também e você quer viver isso.
Eu vou te dar essa chance, mas mesmo assim, eu vou te esperar.
— Diana... – Poncho murmurou. Não era exatamente isso que ele queria,
iludi-la ainda mais.
— Não diga nada – ela pediu – Meu pai está doente, eu fiquei sabendo hoje.
Eu vou pra Boston ajudar a minha mãe e cuidar da sede da Planet. Eu vou
ficar por um tempo lá, só preciso que você fique com o Dani por causa da
escola, perto do Natal eu posso fica com ele lá. E com isso você vai ter o
tempo que precisa pra se decidir, pra viver isso com ela e saber se é
realmente o que você quer. Se você não quiser... eu vou estar te esperando.
Mas eu não quero que você me procure até ter certeza.
Era uma opção. Diana queria manter a chama viva, a chance na mesa, a
porta ainda aberta para eles. Era uma possibilidade. Poncho acabou
assentindo apenas porque sabia que não iria dissuadi-la do contrário. Porque
ele sabia que não tinha chance daquilo não dar certo. Ele sabia que, se
Anahí escolhesse Milo, ele escolheria a solidão. E que se Anahí decidisse
voltar para ele como ele queria voltar para ela, não seria uma dúvida, pelo
contrário. Seria apenas o começo de algo que nunca deveria ter sido
interrompido.
Vou poupar o meu latim em relação ao capítulo e deixar pra vcs porque
tenho um aviso pra dar e é algo chato que exige muita fala, então já vou
começar porque detesto enrolações rs.
Antes de qualquer coisa aviso a todas que não foi uma decisão fácil, mas
que eu demorei muito tempo pensando nisso e, quando me decido, é
definitivo.
Eu infelizmente não tenho mais como postar duas vezes na semana :( O que
significa que, a partir de agora, SVE somente será postada às quintas.
Talvez eu mude o dia da semana, é algo que vai ser melhor decidido
depois.
Espero contar com a compreensão com vcs como sempre foi. A presença de
vcs é sempre muito importante pra mim e sempre será.
Rafa
Capítulo 41 - 10 wishes
Anahí não fazia a menor ideia do que acontecia entre Alfonso e Diana. Ela
não sabia que a esposa de seu ex-namorado tinha viajado para Boston e que
para todos os efeitos – para os pais dos dois, os amigos e principalmente
para Daniel – Diana estava apenas saindo de cena para cuidar do pai que
estava doente e tomar, mais uma vez, a frente dos negócios da família.
Anahí estava com a cabeça em outra situação, quase em outro hemisfério.
Na manhã seguinte à sua saída com Milo que resultou no encontro com
Diana e Poncho, Anahí se levantou bem disposta e decidiu ir até a casa da
mãe. Ela queria tirar a limpo a história do surgimento de Harry em sua
família. Por mais que não gostasse de admitir, Anahí sentia que tinha
pegado pesado com Keith daquela vez e com o próprio Harry, que não tinha
culpa de sua relação mal resolvida com o pai. Então era melhor resolver
aquilo de uma vez antes que se tornasse uma bola de neve imensa. Outra
bola de neve, na verdade.
Para a sua própria surpresa Anahí se sentiu segura o suficiente para ir para a
casa da mãe sozinha, sem a companhia de qualquer dos amigos. Ela não
queria atrapalhar Christian porque sabia que o amigo estava dormindo após
chegar tarde na noite anterior. Maite, por sua vez, estava com Mane em seu
quarto. Anahí não era louca de atrapalhar nenhum deles. Se ela não se
sentisse tranquila o suficiente para ir sozinha provavelmente desistiria e
deixaria para se resolver com Karen em outro dia, mas surpreendentemente
não era o caso. Tudo o que ela fez foi deixar um bilhete na geladeira para
tranquiliza-los quando acordassem. De uma forma ou de outra, Anahí não
pretendia demorar.
Ela não foi para o café e sim diretamente para casa. Era sábado e Anahí
sabia que Karen não estava trabalhando, era a manhã de Ellie. Ela não tinha
certeza se Keith estava na casa de sua mãe – ou seria casa deles? – mas de
uma forma ou de outra, seguiu para lá. Afinal, se Anahí estava
desconfortável com o modo como supostamente tinha exagerado, evitar a
presença do pai não era a melhor opção.
Anahí estava certa. Karen abriu a porta e viu com total surpresa a presença
da filha às oito da manhã. Definitivamente não era algo que ela poderia
esperar.
— É claro que não, a casa é sua – Karen disse abrindo espaço para que ela
entrasse, mas visivelmente sem jeito – É que... Keith está aqui... eu vou
falar com ele, me dê apenas...
— Mamãe – Anahí segurou-a pelo braço – Tudo bem. Eu não vim criar
problemas.
— Você não cria – Karen respondeu, mas estava claro que aquela era uma
enorme e redonda mentira.
Ela realmente vinha. É claro que Karen não estava cem por cento confiante
naquela informação, afinal conhecia perfeitamente bem a filha que tinha.
Mas Anahí realmente parecia decidida a hastear a bandeira branca.
Enquanto Karen convidava a filha para entrar e passava na frente, indo até a
cozinha lhe servir um café, Anahí caminhava até a sala e via um Harry que
tinha acabado de acordar esfregando o olho e encarando com toda a
desconfiança para a nova "irmã". Era óbvia a hostilidade que viria dali, já
que o primeiro e único encontro dos dois não tinha sido exatamente
positivo. Se Anahí deixou Harry envolvido em sua relação mal resolvida
com Keith, era óbvio que ele já não gostava da filha de Karen por motivos
totalmente autoexplicativos.
— Keith está lá dentro Harry, se você quiser falar com ele... – Karen disse
de volta à sala, vendo Harry assentir e entrar. Ela tinha em mãos duas
xícaras e sorria para a filha, tentando amenizar o clima que se instaurou na
sala.
— Nós estamos vendo como as coisas vão ficar – Karen explicou secando a
garganta – Não há outro quarto disponível querida.
— Mãe, eu nem moro mais aqui – Anahí mordeu os lábios. Antes que
Karen pudesse responder, ela já tinha em mente algo para retrucar – Eu
posso desocupar aquele quarto.
— Você acha razoável que aquele quarto fique cheio de coisas velhas e o
garoto durma na sala...? – Anahí franziu o cenho como quem diz o óbvio –
Eu tenho um quarto inteiro no apartamento do Christian... nosso
apartamento, na verdade. O que deve ter aqui são mil pertences antigos que
eu nem vou usar novamente.
Karen perguntava para Anahí o tempo inteiro se ela tinha certeza daquilo.
Anahí não viu nem Keith e nem Harry, apenas se trancou no quarto e
tranquilizou a mãe, garantindo que estava certa do que queria e já
começando a revirar o quarto naquele mesmo momento. Começando pelo
armário, que tinha roupas de quase uma década atrás, algumas inclusive de
quando ela ainda estava no colegial. Aliás, pertences daquela época era o
que não faltava, era praticamente o que dominava o quarto. Cada gaveta
que Anahí abria era rodeada de caixas, fotografias antigas, roupas, cadernos
com seu rabiscos e todas as coisinhas que lembravam outros tempos, outra
pessoa, outra vida.
A vida que ela deixou de ter. A pessoa que ela deixou de ser.
Aos poucos Anahí fazia uma triagem do que iria para o lixo, o que seria
doado para uma instituição de caridade ou qualquer pessoa necessitada e o
que ela levaria para seu novo quarto no apartamento que dividia com os
amigos. Não era uma tarefa fácil levando-se em conta que metade da sua
vida foi passada naquele quarto acumulando pertences e agora ela tinha que
se livrar de tudo da noite para o dia. Na hora do almoço Anahí ainda estava
esvaziando o armário e não foi nenhuma surpresa quando, no fim da tarde,
ela se deu conta que ainda estava sentada no mesmo lugar.
Maite ficou preocupada quando se deu conta que a amiga não tinha voltado
ainda. Era óbvio, qualquer sumiço de Anahí sempre geraria em Anahí o
medo de tudo acontecer de novo. A morena só ficou tranquila porque a
amiga respondeu sua mensagem rapidamente garantindo que estava bem e
que ela não deveria se preocupar. Maite tinha planos com Mane, mas
quando Anahí disse que estava na casa da mãe desocupando um quarto
inteiro, reconsiderou. Melhores amigas eram exatamente para horas como
aquela.
— Quando você diz "meus pais" quer dizer Karen e Keith...? – Maite
questionou agora rindo – Quer dizer, você está chamando o Keith de pai?
— Você entendeu o que eu quis dizer – Anahí fez uma careta se corrigindo.
Aquele, para ela, era um pequeno deslize, mas não era dessa forma que
Maite via.
— Para de deboche – Anahí revirou os olhos – Você não tinha planos com o
Mane?
— Tinha – Maite disse se sentando na cama, empurrando as coisas que
estavam ali para o lado – Mas eu pensei que você poderia querer
companhia, quem sabe ajuda...
Dessa vez Anahí sorriu, encarando a amiga com os olhos estreitos. Ela
sabia, Maite era transparente demais, quem a conhecia bem sabia distinguir
suas emoções e sentimentos pela expressão. Quando ela estava com raiva
seu rosto ficava vermelho, e não era diferente quando se tratava de
felicidade, sono ou fome. Naquele momento ela parecia ansiosa, olhava de
Anahí para o celular, do aparelho para o relógio, e não demorou para que a
amiga percebesse que havia algo errado. Provavelmente algo que estava
atormentando-a e que ela tinha, por fim, decidido falar.
— O quê?
— Ok – Maite suspirou – Muito bem. Lá vai... Diana foi pra Boston. Ela
deixou o Poncho.
— Ela... o quê?
Como imaginou que seria, Maite deixou Anahí perplexa com a notícia. Ela
definitivamente não esperava, então não sabia como reagir senão com a
mais absoluta surpresa. Sua mente tentava processar aquela informação,
buscar o que deveria pensar àquele respeito,mas era difícil, realmente
difícil. Afinal, Poncho e Diana pareciam um casal completamente feliz,
Anahí tinha se acostumado realmente a lidar com o fato de seu ex-
namorado estar dentro de uma família, estar feliz com a esposa e o filho e
que ele provavelmente continuaria assim. Quando ela menos esperava tudo
entre os dois tinha desmoronado. E agora, o que pensar? O que aquilo
significava, o que ela deveria esperar?
— Eu não sei ao certo, não perguntei detalhes, afinal nem a Lex sabe
direito, ela e eu só estávamos preocupadas em discutir se deveríamos te
dizer logo ou não, e acabamos concluindo que você tem o direito de saber –
Maite suspirou – Eu não sei se é bom ou não, se muda algo na sua vida ou
não, porque agora você tem o Milo, mas mesmo assim eu senti que você
deveria saber. É isto.
— Então o quê?
— Então, o que isso muda pra você? – a morena voltou a perguntar – Não
venha dizer que não muda nada Any, eu conheço você.
— E aí aquela parte do "não fazia mal a ninguém" caiu por terra, porque
antes era dividi-lo com um fantasma, mas esse fantasma ganhou carne e
osso e diga-se de passagem carnes que ainda o atraem muito – Maite deu de
ombros – Se eles se separaram sem saber dos beijos que vocês andaram
dando, imagine se a Diana soubesse...
— Ele pode ter contado... – Anahí opinou, mas Maite balançou a cabeça
rindo.
— Ta bom Any – Maite sorriu para ela – Eu vou deixar você descobrir
como a sua própria vida vai ficar ok?
Maite sabia que insistir com Anahí sobre o que ela tinha certeza que iria
acontecer de nada iria adiantar. Anahí era teimosa o bastante para negar até
o fim seus sentimentos por Poncho e, mesmo que chegasse no ponto de
admitir o quanto o ex ainda mexia com ela, insistir mais ainda que eles não
tinham mais chances e que ela estava com Milo e com ele permaneceria.
Como tinha dito, Maite esperava por aquilo. Parecia que os papeis tinham
se invertido, agora Poncho era livre, descompromissado e não hesitava em
admitir, ao menos para os mais próximos, o quanto a ex ainda mexia com
ele. Anahí era quem se prendia ao bom relacionamento que tinha e dele não
abriria mão, mesmo sabendo que seu coração não estava cem por cento ali.
Logo Maite lhe deu o silêncio do ponto de vista físico, mas Anahí não
conseguia mais sentir a tranquilidade de seus pensamentos. Ela revirava
uma caixa repleta de papeis enquanto sua mente debatia a separação de
Poncho, tentando acalmar o coração que estava agitado com aquela
novidade. Ela não queria admitir nem para si mesma o quanto tinha se
sentido mexida com aquilo tudo, queria estar bem com Milo, queria se
permitir e ter uma chance que não fosse no olho do furacão. Sua cabeça
parecia que iria explodir no meio da intensidade daquela situação, e
curiosamente foi justamente naquele momento que ela achou um envelope
decorado e antigo, um tanto amarelado, que trouxe uma vontade de abrir e
ver o que tinha dentro.
A caligrafia era antiga, Anahí tinha certeza que tinha mudado bastante
desde então. Ela franziu o cenho quando se deparou com o que era. Uma
velha lista. Ela voltou no tempo e se viu em outro momento, quinze anos
antes, quando se lembrava de ter escrito aquilo. Outro cabelo, outra
aparência, outros sentimentos, outra vida. Mas mesmo tendo sido um
momento totalmente diverso e ter se passado mais de uma década desde que
esteve sentada naquela cama, naquele quarto e escrito naquele papel alguns
velhos desejos, eles estavam ali, imortalizados na sua antiga letra, meio
borrados pelo tempo mas vivos em sua lembrança.
Alguns pareciam bobos, outros nem tanto. De um em um, ela foi lendo.
10 Desejos.
5) Tomar um porre.
8) Adotar um cachorro.
Anahí parou no nono, pensando que alguns desses desejos já tinham sido
realizados. Ela fez a lista quando tinha quinze anos, quando era uma garota
boba que não fazia a menor ideia dos momentos de dor e solidão que a vida
lhe reservava. Se ela pudesse refazê-la hoje definitivamente não se ocuparia
colocando "assistir a um filme de terror" ou "tomar um porre", eram duas
coisas que acabaram sendo feitas e ela nem sabia dizer se, quando as
realizou, se lembrava que um dia tinha rabiscado-as como metas futuras.
Mas era o décimo, o último desejo, que realmente mexia com seu peito.
Isso era o que ela realmente queria. O que ela realmente quis. Com os olhos
se enchendo de lágrimas, Anahí se lembrou da memória do aborto. Do
choro da criança no cativeiro. Os dois filhos que ela tinha perdido, as duas
crianças que Tobias lhe tirou. Será que havia tirado mais? Ela passou a mão
na própria barriga pensativa, imaginando se ainda poderia ser mãe, se todos
aqueles traumas do cativeiro tinham afetado sua fertilidade, sua
possibilidade de voltar a engravidar. Era algo que ela queria saber, que
precisava saber. Não era coincidência que aquele ponto ocupava a última
posição na lista dela, era a mais importante, a primordial. Agora ela
precisava saber, porque aquele desejo importava muito mais do que todo o
resto, e a sua negativa a derrubaria muito mais do que não concretizar
nenhum dos outros nove desejos que ainda não tinham sido realizados.
— Ta tudo bem? – Maite franziu a testa vendo que a amiga parecia mexida.
Dentro do envelope havia outro papel. Era outra lista, mas não de Anahí.
Ela colocou o envelope na bolsa e só voltou a abri-lo, notando a existência
daquela segunda lista, quando chegou em casa e estava em sua cama
relendo seus próprios desejos. Ao abrir e reconhecer a outra caligrafia,
totalmente diferente da sua, ela se lembrou.
10 Desejos.
1) Publicar um livro.
2) Pular de paraquedas.
3) Ir a um show do Coldplay.
Mas sobretudo o objetivo de Poncho era que eles discutissem a lista juntos,
riscassem juntos. Claro que ele tinha imaginado que Anahí a encontraria
por acaso e mostraria na cama dos dois, assim que eles acordassem e que
ambos iriam encontrar algum tempo entre a rotina louca que certamente
viveriam e o cuidado com os filhos para fazerem aquilo. Poncho jamais
imaginou que o momento no qual confrontariam os desejos do passado, os
desejos sobre um futuro que agora era presente e era totalmente diferente do
planejado, se daria com Anahí tocando a sua campainha numa manhã de
domingo, dois dias depois que sua esposa tinha forjado uma viagem para
não admitir que o casamento deles tinha acabado.
Poncho não esperava por Anahí naquela manhã, mas não poderia negar que
aquela era uma grata surpresa...
— Não – ela sorriu – Eu só... queria falar com você. Você tem cinco
minutos?
— Sim, eu vim falar com ele – Anahí deu um beijo na testa dele – Ta tudo
bem?
— Hum, entendi – Anahí murmurou. Ela não queria entrar nos méritos da
viagem de Diana porque sabia que aquilo não apenas não daria em boa
coisa, mas também impediria a conversa que queria ter com ele.
— O que é isso? – ele perguntou com a testa franzida mas Anahí não
respondeu, ela estava à espera dele abrir o papel e ler por si próprio, ficou
em silêncio esperando sua reação e sorriu ao vê-la – Meus dez desejos.
Deus...!
— Você lembra? – ela perguntou se sentindo iluminada.
— Algum problema?
— Te perdoo se você deixar que eu leia agora – ele a encarou com cara de
criança pidona.
— Ok, mas não ria – Anahí estendeu o papel com uma boa dose de
vergonha – Leve em consideração que eu era uma garota boba de quinze
anos.
— Eu nunca achei você uma garota boba, nem nos seus adoráveis quinze
anos...
Poncho disse aquilo com uma expressão deliciada que ela não sabia se era
por finalmente ler sua lista ou se por lembrar de como ela era aos quinze
anos. Anahí tentou não pensar em qual que seria a razão por trás daquela
reação dele, apenas viu como ele franzia a testa e sorria bobo com os
antigos desejos dela, se perguntando quanto tempo demoraria até que eles
estivessem sentados no sofá riscando o que já tinha sido realizado e
planejando o que faltava... ao menos o que era possível, é claro.
Anahí não terminou de ouvir a notícia. Pelo visto, o inferno não tinha
acabado.
E aí, o que vcs acham que vem daqui pra frente? Alguém ja ta enjoada de
AyA? Porque vai ter bastante!
Beijos,
Rafa
Capítulo 42 - I'll be on your side forever more
Era como se ela tivesse voltado oito anos no tempo, só que não estava na
terapia. Era ali, vida real, bem distante do confortável e sobretudo seguro
consultório da Dra. Balfe. Pelo contrário, agora não era uma lembrança de
algo que tinha vivido e supostamente não voltaria. Naquele momento era
real.
Anahí não tinha desmaiado, mas o ataque de pânico que se iniciou ao ouvir
aquela notícia a fez se desligar antes do final dela. Daniel tinha esquecido
da TV e brincava com os brinquedos espalhados no tapete, totalmente
alheio ao que acontecia ali perto. Seu pai não. Poncho, diferentemente do
filho, tinha ouvido bem o que fora dito no noticiário e sabia o que
significava. Sabia o desespero que isso causaria na ex-namorada e que
deveria, a todo custo, impedir que ela ficasse pior.
— Você ouviu – ela murmurou como pôde – Ele está livre... ele saiu da
prisão... ele vai me pegar, vai me encontrar...
— Ele não vai – a voz de Poncho estava tensa, mas segura. Estava convicta
– Eu não vou deixar.
Só que ao mesmo tempo que o pânico corria solto e que ela se deixava levar
pela agonia daquela notícia, sentia o contraste daquele medo com a
segurança dos braços de Poncho. O calor dele, seus dedos tocando-a, a
tranquilidade de sua voz e de sua respiração definitivamente eram fatores
que poderiam acalma-la... mesmo que demorasse. E Poncho costumava ser
paciente.
— Nem que eu tenha que passar o dia inteiro do seu lado... cada segundo de
cada dia... – a voz tranquila de Poncho dizia num sussurro próximo ao
ouvido dela – Eu não vou deixar que ele toque um dedo sequer em você
novamente.
— Poncho, você não pode parar a sua vida por mim – Anahí lembrou –
Você tem um filho...
— A minha vida acabou uma vez quando você desapareceu – ele continuou
– Eu não vou deixar que isso aconteça de novo. Eu não sou forte o bastante
pra me reerguer mais uma vez. E você ainda não terminou de se levantar.
Ele não vai te derrubar de novo Any, eu te prometo.
Anahí era a violada ali, Anahí era a trancafiada, então era ela quem teria
aquele medo. Ela sabia que ficar ali, nos braços do ex-namorado que ainda
era casado com outra mulher, enquanto seu sequestrador estava sendo solto
não iria adiantar nada, não a deixaria mais segura. Sabia que precisava ser
forte e encontrar alguma forma de sobreviver a mais aquilo, tal como fez no
passado, muito embora, como Poncho havia dito, ela ainda não tinha
terminado de se reerguer de todos aqueles traumas. Mas mesmo assim, se
dava o direito de chorar naquele momento. Chorar ali e ser forte depois,
essa era a ideia.
— Vai ficar tudo bem – Poncho garantiu – Ele pode ter sido solto, mas você
está fazendo um tratamento. Você vai lembrar de tudo, vai testemunhar no
julgamento e ele vai ser condenado.
Poderia parecer que ela estava mal humorada, mas não era verdade. Afinal,
ela continuava nos braços dele.
Era Daniel.
Foi a hora que ela se soltou de Poncho. Justamente a hora que era
conduzida até o tapete confortável por sua versão em miniatura. Ele, por
sinal, sorria abertamente com a cena à sua frente, encantado pelo modo
como seu filho era carinhoso e acolhedor, pela maneira como ele parecia
conseguir acolher Anahí e provavelmente distraí-la. Era um bom alento
para aquele momento, considerando tudo o que ele sabia que viria depois.
Porque viria. Poncho dizia aquilo tudo para deixar Anahí tranquila mas, no
fundo, não tinha como garantir que ela estaria cem por cento a salvo. Ele
não podia ficar vinte e quatro horas colado nela, tinha várias variáveis que
não estava levando em consideração. Anahí tinha um namorado, ele tinha
um filho que não sabia da separação dos pais. Poncho não tinha como
garantir nada, mas a certeza era única: não era como da primeira vez. Agora
eles conheciam a ameaça e poderiam defendê-la. Eles, porque
definitivamente Poncho não agiria sozinho.
Então, a primeira coisa que ele fez foi mandar uma mensagem para Karen e
tranquiliza-la dizendo que Anahí estava na casa dele e que não tiraria os
olhos dela. A ex-sogra o ligou no minuto seguinte porque obviamente ela já
sabia o que tinha acontecido e estava mandando mil mensagens para a filha,
todas ignoradas num celular esquecido dentro da bolsa. A segunda pessoa
com quem Poncho fez contato provavelmente não fazia ideia do que
acontecia, mas tinha o direito de ser tranquilizada antes mesmo de
descobrir.
Maite estava com Mane... é claro. Como ela achava que estava tudo bem
com Anahí, como Anahí parecia estar caminhando bem, ela passava todo o
tempo livre do mundo na companhia do namorado, a definição de pisar em
nuvens de tanta felicidade. Poncho não se sentia confortável de estragar a
tranquilidade que sabia que a melhor amiga de Anahí sentia, mas era
necessário. Agora era preciso que todos se unissem por ela, que todos
abrissem mão da própria tranquilidade por Anahí.
— Você tem meu número? – ela franziu a testa – Desde quando...?
— Desde muito tempo, você apenas não sabia – ele bufou – Isso não
importa agora.
— Não, o que importa é o motivo pelo qual você está me ligando – Maite
respondeu.
É claro que Maite avisaria. Mas ela conseguia ver as coisas em larga escala,
o plano completo. Ficou decidido entre ela e Christian que ele não iria até
Anahí na casa de Poncho, e sim iria para o próprio apartamento. Garantiria
que não tinha ninguém rondando por ali, que Anahí poderia chegar em
segurança. Isso porque ninguém poderia segurar Maite de ir até Anahí. Ela
tinha certeza de que a amiga estava segura com Poncho, sabia que apenas se
passassem por cima dele, Poncho deixaria que algo acontecesse com Anahí.
Mas mesmo assim Maite só se sentiria tranquila novamente quando
estivesse enfim na frente dela.
Mane não teve alternativa senão acompanhar a namorada. Os dois
chegaram na casa de Poncho cerca de vinte minutos depois da ligação.
Poncho abriu a porta quase segurando Maite porque ela mais parecia um
furacão. Não seria bom que Anahí a visse assim.
— Se ela não resiste ao pai, não vai resistir ao filho – Maite murmurou
entre os dentes para si quase inaudível.
— Você já viu Toy Story, tia? – Daniel perguntou. Maite mal teve reação ao
notar que o filho de Poncho se dirigia a ela – Quer ver com a gente?
E o improvável aconteceu...
— Está aí uma coisa que eu nunca pensei em ver – Poncho disse franzindo
a testa ao observar a cena – Maite, Anahí e meu filho no meu sofá
assistindo a um filme.
Quando o filme acabou Maite propôs que Anahí fosse para casa e ela
concordou. Dentro de um abraço confortável de Poncho ela se despediu
dele, agradecendo o apoio daquele dia. Mas o verdadeiro abraço carinhoso
que ela recebeu foi de Daniel, que pediu que ela voltasse mais vezes e disse
que estava torcendo para que ela ficasse bem. Toda a cena foi observada
com olhos interessados por Maite, mas Poncho percebeu que ela não estava
rejeitando como fazia antes. Pelo contrário, ela parecia apenas analisar. A
morena não estava como fiscal de Anahí exigindo que Poncho a protegesse
e a amasse... ela apenas queria parecer protegê-la.
E ficou claro mais tarde, naquele mesmo dia, que aquele objetivo era
comum entre eles.
Poncho estava em casa se corroendo para saber se Anahí estava bem, mas
se perguntava se deveria se intrometer ou não, se deveria mandar uma
mensagem para ela própria ou seus amigos e saber se ela estava melhor. Ele
se perguntava se Milo estava ao lado dela, consolando-a, dividido entre o
racional de saber que ele estava no seu direito e o emocional que sabia que
não tinha qualquer direito. De qualquer forma, a única coisa que ele
conseguia desejar e também imaginar era estar ao lado dela, abraçando-a e
consolando-a em sua cama, sussurrando em seu ouvido que tudo ficaria
bem e sentindo-a adormecer em seu peito com a certeza de que ele
garantiria que realmente ficaria.
Mas a realidade era bem diferente... com Poncho no mesmo sofá que Anahí
tinha ficado com seu filho mais cedo, ele tentava prestar atenção na terceira
sequência de Toy Story que assistia com Daniel sem qualquer sucesso, já
que sua cabeça estava em outra casa, em outra pessoa. O que ele não
esperava é que a forca de seu pensamento fosse tão forte a ponto de
praticamente atrair. Ele percebeu isso quando o telefone tocou com a grata
surpresa.
— Não tinha outra maneira de nós sete conversarmos aqui sobre ela –
Lexie concluiu.
— E nós temos que nos unir por ela – Maite disse olhando a todos – Ela
precisa de nós, ela nunca precisou tanto de nós. A Any é forte mas também
é frágil e ela estava indo bem, mas...
— Não tem como continuar indo bem com ele solto – Sophia respondeu –
Como que ela vai sair na rua assim?
— Ela foi lá em casa hoje sozinha – Poncho observou – Agora eu já não sei
o quanto é bom que ela saia sem companhia.
— Saiu no noticiário que ele foi liberado mediante restrição, não pode se
aproximar de 200m de qualquer lugar que ela esteja – Jesse disse – Mas o
cara é um criminoso. Vai que ele não se importe com isso?
— Mas por que diabos ele foi solto? – Lexie perguntou revoltada – Como
um estuprador e sequestrador é solto assim sem mais nem menos?
— Eu não sei se ela vai aceitar isso – Poncho observou. Ele conhecia o jeito
independente de Anahí, não seria fácil.
Namorado. Foi a hora que Poncho abriu uma careta gigantesca. Enquanto
os amigos se dividiam entre a culpa por terem abstraído o namorado de
Anahí numa situação crucial que a envolvia e uma espécie de autoperdão
por estarem tão acostumados a serem apenas eles que não teriam como
lembrar... ele era apenas ciúme. Novamente, como quando estava em casa,
era razão versus emoção em altas doses, sem que ele conseguisse lidar.
Os amigos acabaram indo para a sala ficar na companhia das crianças e
Maite tinha em mãos uma prancheta e um caderno anotando uma escala de
quem ficaria com Anahí em cada dia, atendendo a critérios profissionais,
compromissos inadiáveis, datas que não poderiam de forma alguma. O
objetivo era que ninguém tivesse que parar a própria vida por conta da
segurança dela, o que deixava Poncho um tanto incomodado porque ele
sabia o quanto desejava exatamente aquilo: parar a vida por ela. Ou poder
parar... porque ele ainda tinha um filho que não entendia exatamente o que
estava acontecendo... e ela ainda tinha um namorado.
O leão dentro do peito de Poncho rugiu. Por que alguém deveria ser Milo?
A mente sabia responder, ele sabia que aquele homem era o namorado dela
e que ele tinha todo o direito do mundo de estar ali. Ao abrir os olhos
depois de alguns segundos notou que alguns dos presentes estavam
encarando-o, obviamente notando sua clara reação de ciúmes. Jesse o
olhava, Sophia idem... e Maite também.
— Talvez isso sirva pra ele aprender a não deixar chances escaparem assim
– Lexie mordeu os lábios rindo.
Lexie preferiu ficar calada. Ela não havia dito aos amigos de seu recente
envolvimento com Mark porque não queria ser criticada sobre não ter
terminado com Jackson e estar com os dois ao mesmo tempo, queria apenas
curtir o momento. Apenas Meredith sabia, porque sua irmã era a pessoa que
a encobria, alguém precisava saber. Talvez com aquilo tudo algo viesse a
calhar... ela teria mais um álibi, mais um motivo para estar distante. Ainda
faltavam meses para o casamento, ela tinha tempo de sobra para aproveitar
Mark antes de ter que decidir.
xxx
— Shhhh, tudo bem – ele disse sentando na cama e abraçando-a – Está tudo
bem, de verdade.
— A última vez que eu acordei com um homem do meu lado... era ele.
— Eu sei. Eu sei.
— Os que a Dra. Balfe me passa pra dormir – ela explicou – Eu tomei dois
comprimidos ontem.
— Seus amigos abriram pra mim, é claro – ele explicou – Estavam todos
aqui quando eu cheguei.
— Tudo bem – ele beijou a testa dela – Eu só fiquei porque não sabia que
você estava sob o efeito dos remédios. Fiz mal? Achei que você fosse
acordar...
— Não, não fez mal – Anahí sorriu – Eu não conseguiria dormir sem eles.
Você já sabe, não é?
— Você não precisa ter – ele acariciou a cabeça dela – Ele tem uma ordem
de restrição, não pode se aproximar de você. E eu imagino que aquele
motim na sala ontem à noite foi exatamente pra garantir a sua segurança.
— Eu sabia que eles fariam isso – Anahí parecia nervosa – Eu não quero ser
um peso pra mais ninguém...
— Você não é um peso pra ninguém – Milo disse segurando o rosto dela –
Eu preciso ir trabalhar. Ficaria se pudesse, mas... eu não posso. Volto
quando chegar do trabalho, ok? Tudo bem pra você?
— Sim, sim, é claro – Anahí sorriu antes de beijar os lábios dele – Por
favor, volte. Durma aqui comigo. Dessa vez sem tantos remédios pra que eu
possa sentir.
Talvez não fosse a melhor hora, talvez fosse cedo demais como Milo tinha
observado, mas ela não se importava. Agora Anahí não era mais a pessoa
que esperava pelo momento certo, era a pessoa que fazia aquele momento.
E era exatamente isso que ela queria: fazer... fazer tudo o que sabia que
tinha direito. E não se poupar de mais nada.
Anahí por sinal cada vez mais perto de ter que decidir de vez: Milo ou
Poncho? O que vcs acham? E o que vcs QUEREM? Hahahahaha
Por fim, queria dizer que, como nunca vou conseguir botar os comentários
100% em dia, resolvi pular e responder direto os dos últimos. E vou tentar
postar o proximo ja tendo respondido os desse, pra não acumular mais. E é
o que temos pra hoje 😂
Beijos,
Rafa
Poncho passou todo o tempo que esteve acordado, daquela noite até a
manhã seguinte, pensando em qual pretexto poderia usar para voltar ao
apartamento de Anahí. Tinha que ser algo bom, convincente, que
justificasse a necessidade de uma ida lá e não parecesse que era apenas um
pretexto para aparecer – como de fato era.
Depois de uma madrugada sem ideias, certo de que tinha que ir cedo,
Poncho acabou encontrando a resposta na mesinha de canto da sala de sua
casa: a lista de desejos dela. No meio daquele furacão ele tinha ficado de ler
e não o fez, ela acabou esquecendo o papel ali, tudo ficou esquecido.
Poncho encontrou a lista justamente antes de levar Daniel para a escola, e
de repente se deu conta que tinha em mãos o motivo perfeito para encontrar
a ex-namorada.
"Queria ver a Anahí hoje... eu preciso entregar algo a ela, que esqueceu
aqui. Você sabe se o Milo ainda está aí? Não quero ser inconveniente".
Mane ainda estava dormindo, mas Maite estava vestida bebendo sua xícara
de café expresso quando bateram na porta. Ela sabia exatamente quem era.
Anahí ainda não tinha sido informada pela amiga que o ex-namorado estava
ali para vê-la, exatamente porque, antes de anunciar a presença de Poncho,
Maite queria um certo acerto de contas com ele.
— Bom dia – Maite disse abrindo espaço para que ele passasse – Pode
entrar.
Poncho quase riu por dentro. É óbvio que Maite não facilitaria tanto assim
as coisas para ele. Estava indo bem até demais.
— Sou todo ouvidos – Poncho respondeu. Afinal, o que ele tinha a temer?
— Vou ser direta porque eu não sei enrolar – ela prosseguiu – Que diabos
você quer com ela?
— Eu não consigo ficar longe dela Mai – ele entregou totalmente franco –
Eu desisti de tentar.
— Ela não te contou? – Maite perguntou tensa. Pelo visto ela tinha dito
demais – Ela lembrou de um choro de criança. Uma criança que ela
provavelmente perdeu, nasceu morta ou algo do tipo.
— Se ela não contou, você deve perguntar pra ela, eu já falei demais – ela
bufou – Poncho, ela ta namorando. Não é justo que você destrua o lance
dela com o Milo só porque se decidiu, ele gosta dela, ele faz bem pra ela...
Xeque mate.
Aquela frase desarmou Maite. Ela estava pronta para agir como a amiga
leoa e protetora de sempre, armando um verdadeiro cerco ao redor de
Anahí, mas Poncho dizer aquilo não era algo que ela esperava. De repente
todas as desavenças dos dois desapareceram, ele voltava a olha-la como
uma irmã mais nova, a forma como a enxergou um dia. É lógico que isso
não eliminava os anos de distância e mágoas que os dois tinham construído,
mas pelo visto ambos estavam prontos para dar um ponto final naquilo e
recomeçar.
E se Maite não esperava por aquela frase do ex-amigo – ou não tão ex assim
– menos ainda pelo abraço que Poncho lhe daria logo em seguida. Ela
estava completamente desconcertada, não apenas porque não esperava fazer
as pazes com ele daquela forma tão natural, sem ser pela iniciativa dela
como tinha sido com Sophia, mas também porque se acostumou de maneira
tão natural a ter uma imensa desconfiança e manter afastamento de todos
que agora parecia totalmente estranho agir de forma contrária.
— Pela hora também está dormindo – Poncho riu – Quem vai ficar com ela
essa manhã?
— Eu... – ele hesitou pensando se deveria mentir ou não. Não parecia uma
boa ideia, então foi a verdade – Vim ver como você estava. E entregar isso.
— Eu quero falar da minha lista – Anahí sorriu insistindo – Anda, não era o
que você queria até ontem? Leia.
— Bom, acho que algumas coisas aqui podem ser cortadas – Poncho
constatou ainda lendo.
— Algumas? Você quis dizer duas né? – e Anahí fazia uma careta – No
máximo.
— Você tem medo de escuro, não pode falar dos filmes que eu não gosto de
assistir – Anahí retrucou vendo-o reagir completamente ofendido.
— Nem todos são bobos – ele respondeu entregando de volta a lista pra ela
– Morar no apartamento dos sonhos, aprender a falar francês, trabalhar
mudando a vida de mulheres... Any, são desejos reais.
— Por quê? – a voz dela saiu com um tom de desdém – Você já fez?
Poncho teve que se segurar a cada fibra de autocontrole para não sorrir por
notar a irritação dela. Apenas mordeu os lábios e torceu para que Anahí não
percebesse que tinha sido descoberta, do contrário ela certamente se armaria
de novo e se fecharia ainda mais.
— É claro que não – Poncho respondeu – Tem que ter muita paixão pra
fazer um troço desses.
O que ele queria dizer? No casamento dele não tinha paixão suficiente para
fazer sexo no capô do carro? Anahí tinha até medo de perguntar.
— Quer dizer... – ele continuou, coçando a cabeça – Você tem que sentir
necessidade, deve ser algo bem primitivo. Estar no meio do nada e transar.
Deve dar mais liberdade do que no banco traseiro, mas o sangue tem que
estar muito quente porque, afinal, qualquer um pode passar e ver.
Anahí nunca tinha pensado... aquele desejo em especial era fruto dos
devaneios de uma adolescente sem noção do que era vida que um dia ela
tinha sido. O lado visceral do sexo tinha passado por sua imaginação à
época, mas aquele outro lado que Poncho dizia agora? Isso só sabia
vivendo. E Anahí sabia perfeitamente bem como ele tinha aquele
conhecimento. Eles tinham vivido... juntos.
Não no capô de um carro sob a luz das estrelas, mas em camas como a que
ainda estava em seu velho quarto na casa da mãe, a cama que ele usava no
antigo apartamento de seus pais no qual agora morava Erendira. O pós-sexo
é o que define o relacionamento e não o sexo em si. É onde os sentimentos
residem, o que diz o que você sente por aquela pessoa com quem acabou de
trocar uma experiência iminentemente carnal. O que diz se aquela
experiência vai ser apenas carnal ou não... se você vai levantar e deixar por
isso mesmo, no âmbito do físico, ou se vai permanecer e amanhecer, sentir
a pele, sentir o cheiro, dividir um banho. Eram coisas que ela não tinha
como saber aos quinze. Eram coisas que Tobias e o trauma não conseguiam
tirar dela, porque mesmo depois de tudo o que tinha vivido, Anahí poderia
não se lembrar de como era bom fazer sexo, mas sabia exatamente como
era ser amada.
— Qual a cor da caneta que você usou pra riscar os que já fez? Azul?
Então... pega outra, de outra cor... vermelha, não sei, qualquer cor. E
envolve o número dos desejos que você ainda quer realizar.
— Eu acho que, como você mesma disse, você tinha quinze anos quando
fez a lista – ele sorriu para ela – Pode ser que tenha alguns aí que não façam
mais sentido, outros que ainda sejam coisas que você queira. Talvez tenha
desejos novos... eu não sei Any. Olhe você mesma.
Principalmente, porque foi exatamente sobre esse desejo que ele resolveu
falar.
— Não acho não – Poncho respondeu – Pra mim trabalhar mudando a vida
de mulheres me parece bem pior. O simples "ter um filho" não é tão difícil,
na verdade em dois minutos já resolve... é claro, tem os nove meses, mas...
— Poncho – Anahí segurou as mãos dele – Você não tinha como saber.
— Sem "mas" - ela cortou – Não é sua culpa. Não é culpa de ninguém, além
dele. É só que... eu não queria perder mais isso. Mais essa chance, entende?
Você sabe que eu sempre quis ser mãe, eu já queria antes de nós dois, não
queria ter que abrir mão.
— E você não deve mesmo – Poncho respondeu – Você não vai. Mesmo
que seja difícil, nós vamos dar um jeito ok? Eu estou com você nessa, estou
com você em todas. Eu vou te ajudar.
Anahí sabia que ele falava sério. Poncho nunca fazia uma promessa se não
estava disposto a cumprir.
E tanto falava que aquela história de "nós podemos ir" não era como
daquelas conversas que terminam com "sim, vamos fazer", mas nunca são
feitas. Poncho não deixou para o dia seguinte, nem mesmo para as horas
seguintes, seria ali mesmo. Ele rapidamente insistiu que Anahí se arrumasse
e eles fossem para o hospital, ignorando as preocupações dela de estar
supostamente atrapalhando... eles foram. E quando Christian, que era dono
do "turno", acordou, se deparou com a amiga pronta para sair e o mais
surpreendente, Poncho ao lado dela.
Naquela manhã Anahí fez um combo, foi a uma sessão de terapia para falar
sobre o estresse causado pela soltura repentina de Tobias e também
aproveitou para fazer aqueles exames. Quem os solicitou foi Arizona
Robbins, a cirurgiã que fez aquele raio-X, era um pedido de Lexie para
evitar que a amiga tivesse que dar maiores detalhes daquela delicada
situação na Emergência. Anahí demorou mais tempo no consultório da Dra.
Balfe do que se submetendo àquela bateria de exames, foi uma manhã
intensa e agitada e no fim só faltava esperar que os dias passassem rápido e
os resultados saíssem logo. Só assim as perguntas que haviam dentro dela
seriam respondidas e seus medos, sanados. Ou não...
Eles estavam obviamente inseguros. Com Tobias solto, era inevitável não
estar, ele próprio estava. Mas ao mesmo tempo Poncho sentia uma série de
sensações e era invadido por diversos pensamentos que não teria como
imaginar. Ele estava realmente confortável aguardando por Anahí sem
conseguir não pensar em como seria se fosse sempre assim. Uma vida
cuidando dela, à espera dos resultados de seus exames, realizando cada
desejo que sobrou de sua lista, apoiando-a em seus projetos. Poncho
facilmente conseguia se imaginar comemorando com Anahí o futuro novo
emprego dela, abrindo um champagne quando o nome dele voltasse aos
best seller do The New York Times em seu novo lançamento, aguardando
ansioso se o bastão indicaria um positivo para o filho que eles poderiam ter
juntos.
De repente ele percebeu que aquele último desejo da lista dela também era
um desejo dele. Ele queria realizar os sonhos dela, ele queria terminar a
própria lista com ela. Surpreendente era pensar o quanto tinha se enganado
em todo aquele tempo.
Poncho sentiu uma boa dose de pesar ao ter que deixar Anahí. Ele sabia que
não poderia ficar mais, tinha que organizar a própria vida e às quatro Daniel
sairia da escola, ele tinha que estar lá para busca-lo. Poncho como todos os
outros tinha sua vida, suas responsabilidades, a diferença é que os outros
amigos não ficavam com a boca meio amarga pela sensação de estar
deixando Anahí. Ainda mais porque ele sabia que o homem que certamente
chegaria lá mais tarde o incomodava de uma maneira que só era assim com
ele. Em especial porque, dentre os outros seis, ninguém tinha qualquer
motivo para não gostar de Milo.
Então, quando Milo chegou, ela sorriu, mas não como tinha sorrido um dia
antes. Ele tirou o sapato, falou sobre o seu dia, ela fingiu prestar atenção, a
cabeça estava longe. Depois ela viu o namorado se aconchegar na cama ao
lado dela, se surpreendeu ao ouvi-lo perguntar se poderia ficar ali e assentiu
em resposta. Ela não percebeu quando Milo a beijou e não se deu conta que
ele estava fazendo aquilo em resposta ao que ela disse horas antes. Tinha
sido a própria Anahí quem incentivou que eles dessem o próximo passo,
que disse que eles não deveriam perder tempo.
Só que Milo não sabia que, naquele meio tempo, Anahí tinha sido afogada
por uma série de sentimentos que eram mais fortes do que os que ela nutria
por ele. Chegava a ser covardia. Por isso, quando ele começou a beijar seu
pescoço, houve sim o nervosismo causado pelo seu trauma... mas também
houve a sensação de que não era ele que a ajudaria a superar.
A resposta estava na ponta da língua. Ela apenas não estava pronta para ele.
Com ele. Talvez nunca estivesse. Talvez só pudesse ser com outra pessoa,
com outro homem... homem esse que agora estava livre.
Sobre o cap: um cap feliz pra quem ama Herroni porque aqui vemos o voto
de confiança da bff! Maite arregando lindamente por AyA antes de muita
leitora hahahahaha Poncho tem que fazer valer esse voto de confiança viu!
E falando em AyA foi o que maaaaais teve nesse cap de hoje! Os dois
esbanjaram mel e isso deixou a Anahí mais dividida do que em Dos
Hogares! E agora, vai ou racha? Seria o final um spoiler?
Estamos no meio da web e as coisas vão dar uma boa virada a partir do cap
50. Alguém arrisca um palpite?
E queria dizer que to muitoooo feliz porque chegamos a 40K views e temos
quase 5K votos! Eu amo mt vcs por isso Obrigada por todos os votos e
comentários!
Rafa
Capítulo 44 - D Day
Rejeitar Milo não estava nos planos de Anahí. Ela esperava, na verdade, ir
se apaixonando aos poucos por ele. Que começasse com um encantamento
e depois evoluísse para um sentimento. De fato, o encantamento tinha
surgido, do contrário eles jamais teriam se juntado. Então o que estava
dando errado?
Talvez Anahí tivesse decidido transar com ele rápido demais, mas a verdade
é que ela não tinha parâmetro algum. O único relacionamento sério e com
sexo consensual que teve em sua vida foi com Poncho e ela era virgem, a
decisão do melhor momento estava envolvida. Agora ela não era mais
virgem e não apenas aquilo, ela era uma mulher traumatizada. Mas será que
era o trauma que a impedia? Não era outra coisa?
Anahí suspeitava que tinha algo mais. Lá no fundo, ela tinha quase certeza
do que era.
Milo lhe deu um tempo para pensar. Ele ficou absolutamente sem graça
pelo modo como ela se esquivou e rapidamente se deu conta que não restou
qualquer clima para permanecer no quarto dela. Se despedindo, disse que
voltaria no dia seguinte para que os dois conversassem. Só que Anahí tinha
certeza que ele não encarava a situação no mesmo prisma que ela. Ela tinha
toda a certeza do mundo que Milo não fazia a menor ideia do que estava por
trás daquela recusa dela.
O único problema é que Anahí tinha quase cem por cento de certeza de que
não haveria mais tentativa alguma.
Eram dúvidas demais, dúvidas que comprometiam seu bem estar. Ela não
gostava de ser indecisa e de não ter em mãos o que queria. A possibilidade
de machucar Milo ou de sua demora em se decidir acabar ferindo-o era algo
que a incomodava. Por isso Anahí decidiu, dentro de si, que faria alguma
coisa para deixar as coisas mais claras. O único problema é que, como era o
meio da semana, Maite estava trabalhando, Sophia também e Lexie idem.
Conversar com as amigas não era uma opção, a vida das três não era como
a dela, totalmente desocupada, e ela tinha quase certeza que Christian
estava fotografando naquela manhã. Para completar, não era dia de terapia
e, mesmo que fosse, Anahí não se sentia confortável para sair do
apartamento sozinha, não com Tobias podendo estar em qualquer lugar.
— Passar o dia com você – Jesse abriu um falso sorriso irônico e imenso.
— Por quê?
— Que seja, por que vocês fizeram uma escala pra me...
— Não é óbvio? – ele voltou a perguntar. Era, mas Anahí queria ouvir para
acreditar – Any, nós queremos cuidar de você. Proteger você. E vamos fazer
isso, já estamos fazendo. Bem, hoje é a minha vez.
Bem que Anahí tentou rebater. Ela queria, no fundo, esbravejar e reclamar
até dizer chega, ponderar que aquilo era um absurdo e que Jesse não
deveria passar o dia inteiro na companhia dela, que ele deveria ir para o
trabalho. Que Anahí poderia cuidar de si própria sozinha, que ela não
precisava de ninguém. Mas no fim ela ficou calada, porque sabia que
seriam mentiras.
Ela não podia cuidar de si... ainda. E precisava dos amigos. Sabia que só
podia dormir tranquila à noite pelo efeito dos remédios e porque Christian
colocou uma tranca extra na porta para deixa-la mais calma. E sabia que
provavelmente cada um dos amigos ficaria livre um dia na semana e que
eles dariam um jeito para cuidar dela e estar por perto, certamente dariam.
A velha Anahí não gostava de ser dependente e de fazer com que os outros
perdessem seu tempo com ela. Mas, ao mesmo tempo, tinha certeza que não
tinha outra opção senão aceitar, não apenas porque precisava, mas também
porque não daria chance para qualquer um deles recusar se fosse o
contrário.
— Então? O que você quer fazer? – Jesse perguntou sorrindo – Quer ficar
em casa ou sair pra algo especial?
— Ok – ela riu – Sendo assim... tem um lugar sim que eu quero ir. Você me
espera me arrumar e tomar café?
— Ela adorou – Jesse riu com a lembrança – Mas não para de repetir que o
que quer mesmo é um irmão.
— Anahí...
— Eu disse isso pra Maite e vou dizer pra você, não se impeça de nada –
ela aconselhou – É sério. Você vai pensar que não vai acontecer com vocês
o que aconteceu comigo e eu até concordo, mas mesmo assim... se for pela
Samantha ok, mas por vocês dois? As coisas se ajeitam.
— É bom crescer com uma criança, eu não tive essa chance – ela lembrou –
E Dani não tem irmãos, ela não tem, fica tudo certo.
Mas ainda assim Jesse estava arrependido e exatamente por isso tentaria a
todo custo reverter as coisas. Durante todo o caminho ele fez o possível
para amenizar o clima e desfazer a situação ruim que tinha criado, mas
Anahí estava monossilábica e não respondia com entusiasmo. Ela não tinha
dito para onde iria, se limitou a dizer a Jesse o endereço e ele se corroia de
curiosidade de saber qual era o destino, mas não tinha exatamente coragem
de perguntar. No fim não foi sobre isso que ele falou, já que o incômodo
real, na verdade, era outro.
— Ele não vai voltar pra ela Any – Jesse respondeu quebrando o silêncio
até então interminável – Eu te garanto.
A verdade é que ele esperava que Anahí, mais uma vez, se desvencilhasse
do assunto. Mas foi com surpresa que ele viu que não aconteceu.
— Você não tem como garantir – ela murmurou, olhando para o vidro do
carro e a paisagem lá fora.
Bingo.
— Senti um deja vu com você dizendo isso agora – Anahí olhou para ele
rindo – Como se eu tivesse dezessete outra vez. Algumas coisas mudaram,
outras não.
— Sua filha foi praticamente criada por você e pela Sophia – foi a vez de
Anahí corrigir – Ela sempre viu você e a Soph juntos, isso se tornou algo
natural pra ela. Com o Daniel é totalmente ao contrário, ele cresceu com os
pais casados, imagina o baque que seria descobrir que os dois não estão
mais juntos e me ver substituindo a Diana.
— É claro que seria difícil pra ele, mas Any... – Jesse suspirou antes do que
viria a seguir – Novamente citando a Sam... eu tenho uma filha que está
lidando com a morte da mãe. Nada pode ser pior do que isso. E ela está
melhorando, aos poucos, um passo de cada vez. É claro que vai ser
complicado pro Dani entender que a Diana e o Poncho terminaram, é claro
que ele pode te rejeitar... mas mesmo assim... aos poucos, ele vai aceitar.
— Como você pode falar isso com tanta certeza...? – Anahí perguntava
incrédula.
Jesse só foi reconhecer o tal lugar, o My sister's place, quando eles estavam
na porta. Ele deixou Anahí literalmente ali, ela pegou o celular, ligou lá
para dentro e só saiu do carro quando Marina estava à sua espera na
calcada. Jesse prometeu que estacionaria e esperaria por ela, a fim de deixar
Anahí totalmente segura. Ela ficou tranquila de sair da presença de um
amigo para uma protetora. Afinal, aquela história de escala dos amigos para
lhe acompanhar não era tão ruim assim.
Marina parecia feliz ao ver Anahí ali, mas seu lado sensitivo rapidamente
percebeu que havia algo errado. Anahí de certa forma parecia apreensiva e
ficou assim durante toda a reunião, inquieta com o olhar enquanto ouvia o
relato da mulher que dava o seu depoimento. Na cabeça de Marina se
passavam mil possibilidades sobre o que poderia estar afetando-a,
obviamente a soltura de Tobias era a primeira delas, a verdade é que o
simples fato de Anahí estar ali mesmo com seu sequestrador estando nas
ruas já era algo que lhe surpreendia e muito. Mas no fim ela teve que
esperar a reunião acabar e as duas estarem finalmente sozinhas para poder
perguntar.
— Tem um cara, Milo, com quem eu estou saindo há algum tempo e nós
tentamos dar o próximo passo ontem à noite – Anahí respondia calmamente
– Eu pensei estar pronta, mas...
— Não, não, longe disso – Anahí sorriu, olhando em seguida nos olhos dela
para se fazer acreditar – De verdade. Eu não tenho porque mentir. Milo é
ótimo, ele me respeita, ele sabe de tudo e entende.
E de repente, Anahí percebeu que dizer com todas as letras qual era o
problema era o que a faria admitir o que realmente estava acontecendo.
— Então não faça – ela devolveu – Com ele. Nem com ele, nem com
ninguém. Até você querer.
— Veja bem, você teve o seu consentimento violado por muito tempo –
Marina explicou – Só que muitas vezes nós, mulheres, somos ensinadas a
nos violarmos. Temos a cultura de nos obrigar a corresponder. Pensamos
que "ah, mas ele gosta de mim, então eu preciso querer isso, eu tenho que
corresponder e querer dormir com ele"... só que você não tem que querer.
Se é isso que te faz estar tentando dar esse próximo passo, então não dê.
Espere. Espere até estar pronta, estar segura, porque se não você pode
estragar esse recomeço e acabar se frustrando de novo.
— Então finja que você é uma – Marina observou – Quando você perdeu a
virgindade, como foi? Foi por que você quis? O que embasou a sua
decisão?
Era fácil lembrar. A primeira vez dela foi aos dezesseis. Foi com Poncho.
Anahí tinha facilmente essa lembrança e sentiu o rosto esquentar pelo quão
boa ela era. Foi inevitável seus lábios não agirem por si e um meio sorriso
se abrir. Aquela lembrança era realmente gostosa.
— Então eu acho que você tem a sua resposta – Marina sorriu satisfeita.
— É que... eu apenas não queria me sentir menos mulher por isso – Anahí
admitiu. Era o que realmente a incomodava lá no fundo.
— Mas você não é menos mulher por isso – ela completou – O que nos faz
ser mulheres não é o sexo... é poder decidir sobre ele. E quando a voz que
existe dentro de você te disser que é a sua hora certa, é o momento que
você tem que seguir com isso. Antes disso, se quer o meu conselho, nem
tente.
A questão é que se fossem Maite ou Sophia ali, Anahí não teria a paz que
precisava e buscava. Felizmente era Jesse, que a deixava calada com os
pensamentos tentando ouvir a voz do próprio coração. A razão tinha
maquinado tudo desde que ela conheceu Milo, ela queria ter a chance de ter
algo saudável com uma pessoa, mas não tinha feito aquilo porque sentiu e
sim porque decidiu. Talvez esse fosse o erro desde o início, Anahí estava
tentando se forçar a ser o que tinha para si como a ideia uma "mulher
normal" e se esquecia que mulheres normais simplesmente vivem e deixam
as coisas fluírem e não ficam se obrigando como ela estava.
Sozinha nos próprios pensamentos Anahí se deu contava que gostava sim
de Milo, mas o que realmente gostava era da ideia de que com ele ela
poderia voltar a ser ela mesma. Mas a verdade é que ela jamais voltaria a
ser aquela velha Anahí e tinha que parar de buscar esse objetivo, era hora de
aceitar. Suspirando e mordendo os lábios, ela admitiu para si que precisava
fazer as coisas certo dessa vez, que Milo era bom e não tinha culpa de seu
passado complicado, sua confusão de sentimentos e de um certo ex-
namorado ainda estar próximo demais para terminar de bagunçar tudo.
Mas o quanto Poncho tinha a ver com aquela tormenta toda? Anahí tentava
colocar todos os sentimentos no lugar, mas ao mesmo tempo, não sabia que
papel dava para o ex-namorado. Será que ela não queria Milo por Poncho?
Ou será que ela não queria Milo por ter ido rápido demais? As respostas
não vinham na velocidade que Anahí gostaria, e ela sentia que precisava de
uma conversa com o namorado para deixar tudo em pratos limpos. A
questão é que a única coisa certa naquela conversa era o fim, as dúvidas
ficariam pelo meio. Anahí sabia onde queria chegar, só não sabia como
diria.
Milo chegou no apartamento dela à noite, quando Jesse já tinha ido embora
e o "turno" era de Christian. Ele abriu a porta para o namorado da amiga
achando que tudo estava rotineiro, sem fazer ideia do mar agitado de
sentimentos que havia dentro dela. Milo acenou e caminhou para o quarto
dela pronto para uma conversa que teriam, cujas palavras ele tinha treinado
o dia inteiro. Mas o que ele não fazia ideia é que Anahí também tinha algo
em mente para dizer e não poderia ser mais diferente.
— Oi – Milo disse. Ele ainda não sabia bem como chegar até ela.
— Confesso que não sabia se deveria vir depois de ontem, mas mesmo
assim senti que te devia um pedido de desculpas – Milo disse sentando na
beira da cama e se aproximando conforme via espaço e aceitação por parte
dela.
— Você não deve – Anahí constatou – Você não tem culpa. A questão é que
eu passei o dia inteiro refletindo pra tentar entender que eu também não
tenho.
— Any... – ele segurou as mãos dela com todo o carinho do mundo – Nós
podemos esperar até você estar pronta. Por que temos que ter pressa?
— Eu sei – Milo replicou – Você ta fazendo isso pra deixar fluir. Mas você
sabe que, quando os seus sentimentos fluírem, vai acabar voltando pra onde
nunca deveria ter saído.
Aquelas palavras marcaram Anahí muito mais do que ela acreditava ser
capaz. Ela ainda estava embriagada por aquele significado quando Milo a
abraçou, lhe deu um selinho e um beijo na testa, desejando que tudo ficasse
bem com ela e que ela encontrasse o que procurava, ou que descobrisse o
que realmente queria. Ela se permitiu colocar a própria mente no mudo para
se despedir decentemente dele, afinal Milo era um homem bom e digno e
ela teria sido feliz de verdade com ele se não estivesse imersa naquele mar
denso e agitado do autoconhecimento.
Ele estava certo: ela precisava deixar fluir. Precisava fazer as coisas pela
vontade, pelo impulso. Só não sabia se ele estava certo de onde ela acabaria
terminando, se era no mesmo lugar de onde tinha saído. Mas ao mesmo
tempo, agora sabia que só iria descobrir se se permitisse tentar.
A decisão tarda mas não falha! E o tão esperado dia D da Anahí chegou: D
de Decidida! Hahahahahaha.
Sei que muitas aqui preferiam que a Anahí ficasse com o Milo (ou ao
menos que ficasse mais tempo com ele), mas a Anahí é muito fiel aos
próprios sentimentos e agora, mais do que nunca, ela sabe o que sente e por
quem sente. E o Milo, agora o melhor ex-namorado do mundo, super
entende como homem maravilhoso que é né?
Rafa
Capítulo 45 - I feel at home
É claro que rolaria bebida. Se tinha um aspecto da vida de Anahí que ela
estava voltando a ser ela mesma era o álcool. Com exceção da noite que os
oito amigos se reuniram no apartamento que ela dividia com Christian e
Maite, na qual as doses de álcool ingeridas a tinham feito falar mais do que
deveria para Poncho, ela estava conseguindo fazer uma boa reinserção
naquele ponto da "vida adulta". Agora Anahí conseguia beber sem ficar
bêbada de cara, o que, para ela, era uma vitória e tanto.
E é claro que ela não seria a única a beber. Tinha diversas garrafas e taças
sobre a mesa de centro da sala do apartamento, tantas que Anahí chegou a
se assustar. Mas ela sabia que bastava escolher uma bebida e ir até o final,
tudo ficaria bem como sempre ficou.
— Você deveria estar bebendo tanto assim? – Maite censurou Lexie ao ver
a cirurgiã se servir de mais uma taça – Que horas começa o seu turno no
hospital amanhã?
— Isso era algo sobre o qual eu queria falar – Lexie deu um sorriso amarelo
virando-se para Anahí – Eu não vou trabalhar amanhã, mas também não
estarei aqui, mas Jackson acha que eu estarei.
— E por que Jackson acha isso Lexie? – Anahí ergueu as sobrancelhas para
a amiga – Onde você vai estar que Jackson não pode saber...?
— Meu Deus, que meus pensamentos sejam reais, eu nunca pedi nada –
Christian murmurou esperançoso.
— Mark Sloan, hum? – Christian debochou. Era óbvio que ele não
pretendia se segurar – Aquele por quem você não nutria mais sentimentos,
não é?
— Um mês Lexie? – Maite questionou – Por que esconder isso por tanto
tempo...?
— Tem uma maneira de sair disso sem terminar com Mark – Maite
observou – Cancelando o casamento.
— Sim – Lexie mordeu os lábios – Não pensem que eu não sei disso. Não
depois que Derek me sentou no final do jantar do Thanksgiving e palestrou
por meia hora no meu ouvido sobre o quanto Mark e eu poderíamos
resolver tudo de uma maneira mais simples. Mas eu não posso fazer isso
com o Jackson.
— Faltam dois meses pro seu casamento – Anahí lembrou dessa vez – O
que você pretende fazer quando ele simplesmente chegar?
— Eu gostaria de dizer que você tem outra opção, mas tenho fé que Mark
Sloan vai te mostrar a luz do fim do túnel e te fazer entender que casar sem
amor é a pior opção que você pode ter – Christian fez uma careta pra ela.
— A Any com a gente – Christian disse olhando para elas – Soph com
Jesse. Maite com Mane. Lexie noiva e traindo Jackson com Mark Sloan.
Puta merda, só a minha vida não mudou...?
— Eu ando bem agradecida por tudo – Anahí continuou – Não apenas por
ter voltado, mas por tudo o que tem acontecido, as chances que a vida me
deu. Eu sei que ainda falta muito pra estar tudo bem, porque num cenário
bom ele vai estar definitivamente preso e eu vou estar definitivamente livre,
e noites como essas nós estaremos num bar legal da moda comemorando a
minha promoção no emprego dos meus sonhos ou a compra do apartamento
que eu sempre quis morar. E vocês? O que querem comemorar?
— Estou surpresa de não ter o que pedir – a morena negou com a cabeça
rindo – Estou feliz, surpreendentemente feliz. Eu acho que é isso que me
choca, porque como eu disse... se me dissessem há seis meses atrás que eu
estaria assim, eu provavelmente riria da cara da pessoa e diria uma daquelas
minhas frases. Mas eu estou feliz profissionalmente, estou feliz no amor e
estou muito, muito feliz de estar com vocês aqui.
O uso daquele "vocês" jamais poderia passar despercebido, já que não havia
nenhum pesar em Maite e Sophia estarem no mesmo lugar. Elas não eram
as amigas de antes, talvez nunca voltassem a ser como no passado, mas não
eram mais inimigas, não se queriam mal e não estabeleciam um clima ruim
repleto de indiretas e provocações como já tinha sido. Pelo contrário, a
bandeira branca estava definitivamente hasteada.
— Minha vida não é ambiciosa, Soso – ele riu – Tem gente igual a nossa
Any que tem sonhos grandes, os meus sempre couberam dentro de mim. Eu
queria ter um emprego legal que pagasse as contas e se me fizesse feliz
também, ok. Se eu encontrasse uma pessoa pra passar a vida inteira ela seria
bem vinda, mas se não encontrasse e todas elas simplesmente passassem
pela minha vida... tudo bem também. Acho que eu tenho o principal sabe?
Minha família e meus amigos me aceitam como eu sou, eu me aceito como
eu sou, gasto o meu dinheiro com aluguel e bebidas, pra mim tem sido o
suficiente.
— Eu não estaria pedindo demais? – Anahí olhou para eles mas viu todos
negando.
Aquela ordem de coisas que Anahí listava não era por acaso, era
exatamente os itens mais importantes de sua velha lista de desejos. Parecia
que a Anahí de quinze anos que tinha vivido mais de uma década antes não
estava tão morta assim, não quando ela mantinha as mesmas prioridades. É
claro que Anahí queria outras coisas, mas de alguma maneira conseguia
entender porque, mesmo tão jovem, tinha optado por aquelas. Porque
quinze anos depois, mesmo depois de tudo o que tinha vivido e da
maturidade que lhe tinha sido imposta, ela no fundo seguia intacta.
Era verdade que sua criação tinha feito Anahí não priorizar a ideia de um
casamento e deixar a maternidade para depois, ela nunca tinha acreditado
que uma coisa dependia da outra, que a primeira deveria anteceder a
segunda. Karen tinha sido uma mãe maravilhosa e Anahí nunca sentiu falta
de um pai, não quando recebia tanto dela quanto dos avós todo o carinho e
cuidados possíveis, a mágoa por Keith se dava somente por ela ter
construído a ideia de ter sido abandonada, por ter visto a mãe sofrer. A
Anahí que fez a lista aos quinze anos ainda não era apaixonada por Poncho,
eles só começaram a namorar um ano depois daquilo, ainda eram apenas
amigos naquele momento. Mesmo assim, o último item da lista dele era
"casar com a garota mais linda do mundo", com um complemento digno de
nota e escrito entre parênteses – "que eu já sei exatamente quem é".
Poncho, àquela altura, já era apaixonado por ela. Tal como Mane com
Maite, ele esperou pacientemente que Anahí percebesse seus sentimentos.
Felizmente ela não tinha demorado mais de uma década como sua melhor
amiga e não sentiu tanto medo como no caso da morena. Anahí apenas se
abriu à possibilidade e se deixou levar, se apaixonou por Poncho conforme
ele começava a fazê-la sorrir de graça e, após um ano de namoro, mesmo
não lembrando de item por item de sua velha lista de desejos, sabia que
qualquer um que sentisse, era com ele que se realizaria.
Naquele momento Anahí tinha para si que o velho sonho de ser mãe cabia
mais uma pessoa. Poncho também queria ser pai, também queria uma
família de dois, três filhos. Ele era muito familiar, tinha uma ligação com os
pais e era o melhor amigo da irmã, Erendira. Os laços familiares e de
amizades para Poncho eram sagrados, era algo com o qual Anahí se
identificava, não havia dúvidas que era com ele que ela queria construir a
própria família. Anahí soube naquele momento que não precisava de
Poncho para ser mãe, mas era uma escolha, porque seria mais feliz se fosse
com ele, seria melhor se fosse com alguém que ela amava.
Mais de dez anos depois, tudo tinha mudado. Poncho realizou a paternidade
sem ela, ela teve duas chances que não foram para frente e agora
reconstruía sua vida como podia. Mas aquele velho dilema, naquele
momento, voltava à tona... novamente ela sabia que poderia fazer tudo
sozinha, que não precisava nem de Poncho nem de ninguém para ser mãe,
teve a certeza que seria suficiente. É claro que o cenário não era o mesmo
de quinze anos antes, agora ela era uma mulher, ela sabia que tinha outros
fatores como o seu trauma e o casamento dele que não tinha terminado
totalmente, tinha Daniel que não sabiam como reagiria... mas em alguns
pontos Anahí continuava enxergando a situação de uma maneira totalmente
simples.
Com Milo fora de cena, com Diana fora de cena, ela sabia exatamente o que
queria. Quem queria.
xxx
— Bom dia pra você também Samantha – Maite disse alfinetando a enteada
de Sophia, que fazia a cara de provocação de sempre. Logo em seguida se
voltou para o adulto que trazia aquela criança atrevida – Isso são horas de
se pendurar na campainha do alheio, Poncho?
— A Sam pediu pra tocar a campainha, não imaginei que ela fosse quase
furar o dedo nela – Poncho levantou as mãos em pedido de desculpas.
— Sim, têm que ser, algumas pessoas têm horário – Lexie cortou – Ok,
Poncho chegou, eu tenho que ir.
— Minha vovó caiu e meu papai teve que ir cuidar dela, e aí a tia Soso
pediu pro tio Poncho cuidar de mim hoje – Samantha rapidamente explicou.
— Será que a Sam acordou a tia Any com a campainha? – Daniel perguntou
ainda esfregando o olho.
— Vou deixa-la com você – Maite disse apertando o ombro dele – Sei que
não há melhores mãos do que as suas. E nem mãos que ela goste mais.
— Cansou né pestinha? – Anahí riu – Não deveria! Sou mais velha que
você e não to cansada.
— É porque você tava descansando enquanto dormia tia – Daniel deu uma
risadinha.
— Veja só essa provocação – Anahí disse levantando o rosto até seu olhar
encontrar o de Poncho.
Se Poncho não tinha certeza do modo como sua expressão estava ao encarar
Anahí distraído, como se nada mais houvesse no mundo, ele teve quando
ela percebeu aquele olhar. Anahí ficou completamente sem graça ao se
deparar com aquele olhar tão detalhado, abaixando os olhos de volta
tentando formular uma frase completa na mente, mas totalmente perdida
naquele mar de sentimentos.
— Papai disse pra nós irmos ao parque – Daniel confidenciou – Você quer
ir tia?
— Vamos deixar a tia Any se arrumar pra irmos pro parque – Poncho disse
cortando o assunto, rapidamente recebendo dela um sorriso de
agradecimento por poder evitar o assunto Keith na frente das crianças.
Menos mal.
A ida para o parque foi divertida, pena que nem Anahí nem Poncho
conseguiram sequer ouvir os próprios pensamentos. Samantha e Daniel
falavam em qualquer curto espaço de tempo debatendo tudo o que poderia
ser imaginado, não deixando os adultos terem qualquer tipo de
comunicação senão por olhares. Olhares esses que não faltavam. Quando
chegaram ao Central Park as crianças mal saltaram do táxi e já saíram
correndo, e assim continuariam se Poncho não tivesse ralhado com elas, o
que adiantou por menos de dois minutos. Ao ficarem numa área livre de
novo Daniel e Samantha voltaram a correr e brincar de pega entre si.
— Você vai brincar com a gente, tia? – Samantha perguntou olhando para
Anahí.
— Ela disse "mãe, criança não namora" umas quinhentas vezes – Poncho
riu – Você conhece bem demais a minha família.
— Eu sempre gostei deles, era como uma segunda família – ela explicou.
Anahí tinha muitas coisas em mente para serem ditas naquele momento,
coisas que o coração dela mandava dizer. Poncho ainda parecia meio
confuso com aquela linha de raciocínio no meio do assunto, tentava
entender o que ela queria dizer e por que ela falava de sua família justo ali.
Anahí se lembrava com carinho de como tinha sido bem recebida pelos pais
dele no início do namoro dos dois, de como Erendira sempre a tratou como
uma irmã mais velha. Ao pensar melhor sobre aquilo Anahí se dava conta
que sentia o peito esquentar só de imaginar o tempo antigo no qual os dois
estavam juntos, eram lembranças que realmente acalentavam seu coração e
a faziam ter a certeza do que realmente queria,
Ela não iria falar da família de Poncho por eles em si, mesmo que Evelyn e
Robert sempre a tivessem tratado maravilhosamente bem. Ela queria falar
dela e de Poncho. Queria falar que ele provavelmente também se sentia da
mesma forma com Karen, Arthur e Ellie. Que talvez fosse assim porque as
famílias de ambos sabiam como os dois se sentiam e apoiavam porque não
saberiam, não poderiam negar os brilhos nos olhos que os dois sentiam.
Não havia a mínima possibilidade.
— Seus pais e sua irmã não foram me visitar no hospital e no inicio eu não
entendi, depois juntei aos pontos quando descobri que você tinha se casado
– Anahí continuou – Eu juntei as peças, tudo tinha mudado, é óbvio que
aquilo também mudaria. Mas então eu voltei pra casa e, sem que pudesse
esperar, lá estavam eles. Evelyn e Robert tinham viajado de Chicago pra cá
pra me ver. Eu pensei "nossa, mas eles estão fazendo tudo isso mesmo pela
ex-namorada do filho?". Me deixou confusa, eu admito.
— Só que não foi bem assim – Anahí parou de andar porque precisava ficar
com os olhos bem fixos nele – Porque não eram eles que me faziam me
sentir realmente de volta ao lar. Na verdade... a única pessoa que me fez me
sentir assim foi você.
Quem dera que Poncho tivesse tempo para assimilar aquela informação.
Mal a pele dele se arrepiou por completo, tanto pela mensagem que tinha
acabado de ser dita quanto pelo olhar definitivamente fixo que ela tinha
nele. Mas não foi assim, porque as crianças escolheram justamente aquele
momento para correr de volta aos adultos e pedir algo que tinham acabado
de descobrir que queriam. O timing, dessa vez, estava bem longe de ser
perfeito.
Ele falava de doces, de simples doces que ela poderia querer.Mas Anahí
encontrou naquele o momento perfeito para falar a frase que estava presa na
sua garganta.
Enfim solta.
Anahí sabia que não era àquilo que ele se referia, mas não importava. As
crianças estavam longe, Milo estava fora de sua vida, Diana tinha se
afastado. Estavam ela e Poncho ali, oito anos e seis meses depois da última
vez, à uma vida de distância. Separados uma vez por Tobias, outra vez pelas
circunstâncias, não tinha chance de uma terceira. A vida costuma ser feita
de momentos, sem placas ou sinalizadores para indicar quais deveriam ser
aproveitados, você simplesmente precisa aprender a arriscar se pretende
alcançar o que quer. E ali estava Anahí, arriscando, deixando para a trás
toda a merda do seu passado, ignorando que eles estavam em polos
totalmente distantes e decidindo enfim voltar a escrever a própria história.
Poncho definitivamente não esperava por aquilo. Ele teve que olhar para
ver se Daniel e Samantha estavam a uma distância segura para que não
interrompessem daquela vez, já que seria difícil explicar para duas crianças
por que sua pele estava tão arrepiada e seu coração tão acelerado. Depois de
constatar que os dois estavam comprando os doces que tanto queriam,
Poncho pôde olhar para a mulher que estava à sua frente. Mesmo com o
peso dos anos e de tudo o que eles tinham trazido, as mudanças no rosto, no
cabelo, o rosto mais maduro, ainda era a Anahí dele bem ali à sua frente. A
vida os havia afastado mas ela se mostrava brava e forte como antes,
lutando por eles, disposta a vencer uma luta da qual ele acabou desistindo.
Mas estava ali, de pé. Ainda havia uma segunda chance. Poncho precisava
aproveitar.
— Eu sabia que não, mas achei que você quisesse se dar a chance.
— E eu dei – Anahí deu de ombros – Mas não era ele Poncho. Eu disse uma
vez que era pra ser você, e eu descobri que eu não quero ninguém que não
seja você. Então... se houver alguma parte de você que ainda me queira de
volta...
— Se não for pra ser com você, eu não quero que seja com mais ninguém –
Anahí completou – Porque quando você me chamou de meu amor naquele
hospital, foi naquele abraço que você me deu, naquele beijo que a gente
trocou, que eu me senti de volta em casa. E ninguém mais vai me sentir
assim... então eu não quero menos do que isso.
— Tia, olha! – Samantha disse chegando como um foguete aos pés dos dois
– Minha língua ta azul!
Quem olhasse e os visse diria que eram uma família. Um casal com seus
dois filhos. Era fácil de imaginar. Anahí era boa com crianças e Poncho, ao
vê-la interagindo com seu filho e sua afilhada, sentia essa certeza cada vez
maior, que ela teria sido uma mãe maravilhosa para o filho que eles tinham
perdido e também para a criança que ela teve no cativeiro e não vingou.
Mas ao invés de se deixar levar pela melancolia Poncho mentalizou algo
diferente pela primeira vez. Ela estava ali, viva e saudável, disposta a viver
uma vida inteira que viria pela frente. Ele sentiu esperança pela primeira
vez ao se dar conta que Anahí poderia reconstruir o que fosse. Eles
poderiam recomeçar. Poderiam ter uma família. Daniel teria nela uma
segunda mãe maravilhosa e nos filhos deles, os irmãos que um dia pediu ao
pai. Não era da maneira que o menino tinha imaginado, mas a vida nem
sempre dá o que nós pedimos mas o que precisamos. Talvez ele precisasse
disso e iria aprender a ser feliz dessa maneira e a crescer, como tinha sido
com o pai e com Anahí.
E Poncho pegou aqueles limões naquele dia. Ele não enxergou aqueles
momentos com as crianças de forma negativa, pelo contrário, os aproveitou
ao máximo. E no fim do dia, deixou Anahí de volta na porta de casa, sã e
salva, enquanto os dois pequenos esfregavam o olho de tanto sono depois
de brincarem o dia inteiro. Ele não se deixou levar nem mesmo pela dor de
ter que deixa-la para trás, porque não era definitivo e sim um intervalo.
O que Poncho fez foi levar as crianças para casa, lhes dar banho e bota-las
na cama. Logo depois ele fez uma ligação muito importante para Sophia
indicando que elas estavam seguras e adormecidas, mas que ele tinha algo a
fazer. Como ela ainda estava na confeitaria já que teria que fechar tudo
sozinha, houve uma segunda ligação para Bea, a babá de Samantha e de
Daniel. Em meia hora a moça estava ali encarando Poncho sem entender
aquela chamada repentina.
— Eles estão dormindo esgotados – ele explicou – Hoje você pode ficar
tranquila.
— Estou chocada – Bea riu – Você vai sair não é? Vai demorar? Só pra caso
o Dani acorde, eu tenho certeza que vai ser a primeira coisa que ele vai
perguntar.
— Só tempo suficiente.
Suficiente sim, para suprir oito anos em, quem sabe, oito minutos. Poncho
não esperou mais, pegou o carro na garagem quase sentindo os dedos
dormentes pela adrenalina. Felizmente o caminho era curto, a distância não
era tanta assim. Aquela noite a escala era de Maite e, ao abrir a porta, a
morena viu nos olhos dele o que pretendia fazer. Apenas sussurrou que
Anahí estava no quarto, não se colocando no caminho. O voto de confiança
estava dado.
A Anahí que a abriu era diferente da que ele tinha se acostumado. Ela
estava com o cabelo bagunçado num coque feito de qualquer jeito, sem
nenhuma maquiagem e as olheiras enormes, vestida num pijama
confortável de quem já tinha ido dormir. Mas estava com seu cheiro natural,
o cheiro de casa. E Poncho a abraçou assim que ela abriu, fazendo-a dar um
passo para trás meio que no susto. Não demorou tanto tempo assim pra
entender o que ele tinha ido fazer ali. Não demorou tempo algum para seu
corpo reagir e ela o abraçar de volta, sentindo exatamente o que sempre
soube que sentiria caso aquilo voltasse a acontecer.
Mas, para Poncho, o beijo que lhe deu a certeza de que era recíproco...
porque ele também se sentia em casa nos braços dela... num jeito que não
era em nenhum outro lugar.
Enfim... AyA
Nem tenho o que dizer depois desse capítulo! Vou ficar no aguardo das
reações (ansiosa!)
Rafa
Capítulo 46 - Other half
Eis uma consequência de quando você passa tempo demais longe da pessoa
que você ama: uma vez junto, é quase impossível de se separar de novo.
Poncho sentia tanta falta dos beijos de Anahí que não tinha sabido mensurar
até ter os lábios colados nos dela novamente. Estava certo que já a havia
beijado duas vezes desde o reaparecimento dela, mas eram beijos cheios de
receio, de culpa pelo fato de ele não estar livre. Agora não era mais assim.
Agora ele estava totalmente livre para ela... e ela estava totalmente livre pra
ele.
— Any, você não acha que... – a voz de Poncho indicava seu receio – Não é
um pouco cedo demais...
— Não por isso Poncho – ela riu – Eu quero sentir a sua pele, a sua
respiração. O sexo não é a única coisa que eu sinto falta em nós dois, eu
quero tudo de volta.
Então ele se deu conta que não precisava mais agir como somente amigo.
Por mais que fosse um esforço lembrar como eles eram no início, Poncho se
deu conta que não deixou de ser o amigo leal de Anahí após os dois
trocarem o primeiro beijo. Ele continuou estando incondicionalmente ao
lado dela, apenas era o amigo que também a via nua. A relação dos dois
apenas cresceu, e era isso que aconteceria ali. Ele secaria suas lágrimas de
novo, mas não precisava mais se poupar de tocar seus lábios. E sentir a
respiração dela estava sendo, ao mesmo tempo, sua vida e sua morte. Por
isso ele apenas mudou a posição que ambos estavam para beija-la
novamente, já que não queria mais ficar tão distante da boca dela quando
tinha a opção de simplesmente agarra-la.
Nada mais precisava ser dito. A mensagem era perfeitamente clara: ela
estaria ali se ele não a perdesse. E aquilo não era sequer uma possibilidade
para Poncho. Ele tinha aprendido a lição e não estava disposto a andar para
trás. E por ele, ficaria a noite inteira ali, com Anahí em seus braços, como
se não houvesse mais nada no mundo e nada pudesse entrar entre eles. Só
que havia. E Anahí foi a primeira a se dar conta disso.
— Você vai preferir deixar nós dois em segredo por enquanto, não é? –
Anahí mordeu os lábios – Por causa do Dani.
— Eu não posso dizer pra ele que estou com você antes que Diana e eu
conversemos sobre estarmos separados – Poncho explicou – Ele só tem seis
anos, eu preciso ir com calma, não quero magoa-lo.
— Eu entendo – ela respondeu totalmente compreensiva – De início vai ser
difícil e pode ser que ele me rejeite. Eu tenho noção disso e vou ter
paciência pra conquista-lo aos poucos.
— Não faz isso agora – Anahí pediu – Vamos ver como vai ser entre nós
dois. Pode ser que não dê certo.
— Anahí... – ele riu negando com a cabeça – Nós vamos dar certo.
— Eu entendo, mas não consigo não criar grandes expectativas com nós
dois – Poncho deu de ombros – A vida não seria cruel de nos separar de
novo. E mesmo que seja, eu não vou deixar que te levem de mim dessa vez.
Vou te abraçar, te agarrar, fazer birra. Ninguém vai te tirar de mim.
Anahí sabia que não era simples assim, mas Poncho sempre foi daquela
maneira, metido a super-herói, a tranquilizando colocando coisas
complicadas como simples, vendo tudo preto-no-branco quando ela via
vários tons de colorido e, neste caso, de preto e branco. Ela sabia que tudo
aquilo era complexo, que ele não pôde deter Tobias da primeira vez e que
era quase certo que não conseguiria agora. Mas ao mesmo tempo ela não
queria sofrer por antecipação, não queria ficar adiantando coisas ruins que
deveriam ficar nos seus respectivos momentos. Não quando ela estava tão
bem, tão feliz.
Poncho ficou tempo suficiente ali para tranquiliza-la, embora não fizesse
ideia que Anahí ainda se preocupava, somente não dizia para ele. Mas de
um jeito ou de outro, a respiração dela voltou a ficar calma e ele voltou para
a posição que estava antes, sentindo a cabeça de Anahí repousar sobre seu
peito e a mão enroscar em seu pescoço. Ele ficou ali sentindo a
tranquilidade habitar o corpo dela, o peso de Anahí cair sobre o seu, ela ir
respirando cada vez mais devagar até adormecer. Poncho amou aquela
sensação. Era como voltar no tempo, só que com toda a saudade acumulada,
era ainda melhor.
A única razão que fez Poncho ter que sair dali foi a certeza de que deveria
voltar para casa, para Daniel. Com Diana fora da cidade ele era a única
referência que o filho tinha e se lembrava perfeitamente bem do quanto
Daniel tinha ficado afetado emocionalmente da última vez que se sentiu
distante emocionalmente do pai. Por isso ele teve que fazer o mais difícil, se
afastar deixando Anahí dormindo para trás, somente com um bilhete de
despedida na mesa de cabeceira. Ele sabia que deixava metade de si
dormindo naquela cama enquanto ia encontrar a outra metade.
— Eu disse ao Christian que você não iria dormir aqui, mas essa bicha
teimosa não acredita no que eu digo – a morena tinha a sobrancelha
arqueada.
— Eles estavam esperando há séculos por isso, eu não achava que iriam
perder a oportunidade...! – Christian se defendeu.
— Como vocês sabem que a Any e eu... – Poncho começou a pergunta mais
uma vez se esquecendo do potencial dos dois melhores amigos de Anahí.
— Deveríamos ter feito uma aposta sobre quanto tempo iria demorar –
Maite suspirou – Christian certamente apostaria que seria no dia que a
Diana foi embora e iria perder de novo.
— Ei, só eu o chamo assim – Maite fez uma careta, se virando para Poncho
em seguida – Está tudo bem né? Você ta indo embora pelo Dani e só, não é?
Ela reagiu bem...?
E era isto.
É claro que falar era fácil, para Poncho tudo se tornava difícil cada vez que
ele tinha que ir embora e deixar Anahí para trás, por não poder
simplesmente sentar na frente do filho e explicar a situação, já que não
poderia simplificar coisas complexas. Para Daniel os pais ainda estavam
juntos, somente em cidades diferentes como já tinha acontecido antes. E
Poncho sabia que tinha que ir a Boston e acertar as coisas em definitivo
com Diana, mas ele deixava isso para outro momento, porque agora a bolha
com Anahí era maravilhosa e ele não queria perder aquela chance de viver
como se tudo fosse perfeito.
É claro, não era. Ele poderia estar com ela somente em momentos que o
filho estava na escola, com a babá ou com Sophia na companhia de
Samantha. Eram aqueles momentos que Poncho aproveitava para se trancar
em seu infinito particular, onde rezava para o tempo não passar e ele ter
todas as horas do mundo nos braços dela. Não importava não poderem sair
do quarto dela, acabavam unindo o útil ao agradável da segurança e da
privacidade, e logo aquela escala que cada amigo passava um turno ao lado
de Anahí se tornou uma nova, em função dos horários que Poncho podia ou
não estar com ela.
Era tão bom para Poncho ter Anahí de volta em seus braços, redescobrir o
sabor de seus lábios e o calor de seu corpo que ele sequer se importava dos
claros limites que tinham que ter. Por duas vezes ela se assustou e lembrou
aos dois que eles não eram mais os jovens de oito anos atrás, vezes essas
que, colados um ao outro em meio àqueles beijos, a fronteira ficou clara
quando Poncho se deixou levar pelo momento e acabou indo longe demais
para aquele momento. Lugares que antes eram pontos comuns agora ele
tinha que hesitar em chegar, mas que ele sabia que voltaria a chegar. Não
porque estava desesperado por aquilo... mas porque sabia que era um lugar
dela, um lugar deles. Lugar este que lhes foi tirado e que eles iriam
reconquistar.
Com o Natal, uma mudança na rotina: Daniel iria para Boston passar a data
com a mãe. Já o pai...
— Você tem certeza que não quer sequer leva-lo? – Erendira perguntou
cruzando os braços – Resolver as coisas com a Diana de uma vez...?
— Se eu aparecer lá ela vai se iludir, vai achar que está tudo bem e vai criar
esperanças, será pior – Poncho constatou pela milésima vez – Pior pra ela,
pro Dani, pra todo mundo.
— As coisas dando ou não certo com a Any eu farei isso – Poncho pareceu
mais decidido do que nunca – Estou fazendo isso não por ela, mas pela
Diana e por mim, porque ela merece a minha honestidade. E to esperando
apenas o momento que isso a destrua menos.
— Ao menos ela não vai ter lembranças horríveis do Natal – Poncho deu de
ombros.
— Você não vai mesmo...? – Daniel perguntou triste – Nós nunca passamos
o Natal separados...
— A mamãe ta com saudade de você – Poncho voltou a explicar – E eu
preciso esperar os seus avós aqui... eles chegam amanhã.
— Claro que sim – Poncho riu da inocência do filho – Mas olha, algo me
diz que ele não vai errar. Afinal de contas... ele sempre sabe de tudo, não é?
Missão cumprida.
É claro que Poncho não estava nem um pouco feliz de deixar o filho ir
sozinho para Boston passar o Natal, era o primeiro que ele estava separado
de Daniel, mas as coisas tinham que ser assim. Ele ir junto confundiria as
coisas para Diana, ela certamente entenderia errado. Poncho só podia
aparecer por lá quando fosse para terminar de vez, encerrar as expectativas
que ela, sozinha, tinha criado. E ele não achava justo que o divórcio viesse
justamente no Natal.
No mais, por mais que machucasse passar o Natal ao lado do filho que era
metade de seu coração, amenizava a ideia que ele poderia estar por perto da
pessoa que preenchia a outra metade.
Quer dizer, não tão perto assim. Erendira ao desembarcar já deixava claro
para a mãe que estava em Boston somente temporariamente, que na manhã
seguinte voltaria a Nova York para passar o Natal com os pais e os irmãos.
Felizmente Daniel já estava mais conformado com a data acabar dividida
entre os pais e em ficar distante de Poncho e de sua casa. Ele caminhava de
mãos dadas com a tia, com sua pequena mochila de macaquinho com
detalhes vermelhos nas costas, os pequenos olhos verdes procurando
ansioso pela mãe que já não via há semanas e de quem morria de saudade.
Diana também estava ansiosa para ver o filho, mas ela não podia negar
dentro de si que o nervosismo que a fazia olhar sem parar para os lados era
por esperar ver Poncho levar o filho. Mesmo que ele não fosse ficar, ela
queria olhar nos olhos do homem que um dia tinha sido seu marido – agora
já não sabia mais se poderia chama-lo assim ou se referir como ex – e
entender em que ponto as coisas estavam. Diana conhecia Poncho, ela
saberia pelo olhar dele se ele viera por Daniel ou por ela, como as coisas
tinham terminado com Anahí. Só que a ansiedade acabou sendo trocada por
uma considerável frustração quando ela percebeu que quem trazia Daniel
não era seu pai e sim a tia Erendira.
O olhar de Poncho não estava ali para responder as dúvidas dela, mas sua
ausência dizia bastante coisa...
Talvez fosse melhor se agarrar ao que era concreto, ao que era real. Daniel
estava ali, feliz e sorridente olhando como se ela fosse a coisa mais
importante do mundo, e talvez realmente fosse. Diana se dava conta pela
primeira vez que ela tinha que deixar que o filho preenchesse o espaço em
seu coração que estava para ficar vago. O espaço que Poncho insistia em
não mais ocupar.
— Dani? – Erendira chamou o sobrinho – Me deixa conversar com a
mamãe um pouquinho?
— Eu sei que não era eu quem você esperava ver – Erendira ressaltou – Eu
cheguei a perguntar se ele não achava melhor vir, mas... enfim, quando
vocês se encontrarem as coisas ficarão resolvidas.
— Você está sugerindo o quê? Que eu procure um novo amor como ele
procurou?
— Ele não procurou – a cunhada observou – Ele encontrou, mas nem todas
as coisas que nós achamos são procuradas. E não é um novo amor, é o amor
de sempre. Algo que você não pode competir. A questão é que a vida não é
só o amor no sentido paixão... seu filho te deu um abraço completamente
sincero e cheio de saudade porque, embora no início do voo ele ainda
estivesse um pouco triste por estar indo pra longe do pai, estava
completamente ansioso pra ver você. E Diana, você está nessa cidade pra
cuidar do seu pai, pra tomar conta do negócio da sua família. Você já era
uma mulher amada por muitas pessoas, bem sucedida e feliz antes de
encontrar o meu irmão. A única coisa nova que o Poncho te deu foi o Dani.
Então aproveite a melhor parte de vocês dois, fique com as boas lembranças
e procure novas, porque acredite, a vida não acabou pra você, ela te reserva
muito mais.
— Seu pai quer desistir – Evelyn explicou pesarosa – Mas eu não queria
decepcionar sua irmã e você...
— Tenho certeza que a Erendira não vai ficar aborrecida – ele sorria – Está
tudo bem. Nós nos vemos depois do Ano Novo.
— Se for na forma de um novo best seller sendo escrito serão muito bem
vindas – Evelyn comentou animada.
Poncho tinha que admitir que os pais não estarem vindo o deixou meio
animado. Ele amava Robert e Evelyn e adorava passar aquelas datas em
família, mas não quando estava recém-separado da esposa e se
reconciliando com a ex-namorada da juventude. Ele não queria responder às
certeiras perguntas da mãe quando elas ainda não eram certezas em seu
peito.
O que falar desse Natal que nem começou e todo mundo já considera
pakas? Tenho certeza que vcs vão amar os próximos, porque além de
termos os outros personagens de volta (após doses e doses cavalares de
AyA) ainda teremos os protagonistas em grande quantidade ainda.
Rafa
Capítulo 47 - Christmas Magic
— Sem graça – Anahí fez uma careta – Não deboche da minha alegria!
Você sabe que há tempos eu não tenho um Natal.
— Amanhã você vai estar desmaiada de sono e com cookies saindo pela
orelha – Maite voltou a debochar – Nós vamos abrir hoje.
Agora Anahí teria que abrir os resultados. Ela olhava com apreensão os
envelopes de cada um dos exames que tinha feito e percebia que a verdade
já estava ali, documentada. O problema é que ela estava numa fase boa. Ela
estava conseguindo viver mesmo com Tobias solto, ele realmente tinha
respeitado a ordem de restrição imposta pelo juiz e não estava perseguindo-
a. Ela não estava brigando com a família, seus amigos tinham encontrado
uma dose de paz, ela estava bem com Poncho. Anahí não queria abrir uma
janela negativa de sua vida e voltar a sofrer com o que quer que fosse, não
quando já tinha se acostumado com a dúvida, se acostumado a não pensar
naquilo e fingir que aquele problema não existia.
Mas existia. E era a hora de sanar as dúvidas de vez.
— Ah, que você não tem coragem eu sei – Maite suspirou pegando os
envelopes e abrindo-os na maior pressa que tinha – Mas seja qual for o
resultado, ele já está aqui. Nós vamos passar por isso juntas.
— Ele foi pra casa dos pais – Maite fez uma careta – Christian esteve aqui a
semana inteira e você não quis abrir. Pare de ser enrolona.
— Não sou médica e você sabe – Maite disse ainda lendo os papeis – Mas
aparentemente... Não tem nada de errado com você.
É claro que o alívio de Anahí foi imenso, e é claro que ela ficou insegura a
ponto de fazer questão de ligar para Lexie para ter cem por cento de certeza
daquilo que Maite e ela concluíram juntas. A cirurgiã acabou passando a
ligação para a Dra. Robbins que, após ralhar com Anahí dizendo que ela
deveria ter ido se consultar, confirmou as informações do laudo e disse que
ela muito provavelmente, de fato, estava bem. Foi o que faltava para as
duas soltarem aquele suspiro de alívio que tanto esperaram.
— Eu não planejei, é claro que não – Maite observou – Pelo visto a pílula
do dia seguinte não é tão eficaz assim... mas enfim, aconteceu. E eu
precisava te contar. Fiquei uma semana inteira te mandando abrir esses
resultados e to completamente aliviada porque eu não sei como seria contar
isso se o laudo dissesse que você não poderia ser mãe.
— Você está grávida – Anahí constatou. Mais parecia que ela não ouvia
nada – Você vai ser mãe...!
— Não conte que o Mane não surte – Anahí disse rindo e enfiando Maite
em seu abraço novamente – Deus, eu vou chorar de novo.
— Deixa de ser manteiga derretida Anahí – ela fez uma careta gigantesca –
Pelas minhas contas foi numa das minhas primeiras transas com o Mane, eu
fiz alguma merda mas enfim, ta feito. Agora a vida vai girar de ponta a
cabeça e eu tenho que estar pronta pra isso.
— Algo me diz que mesmo no dia que ele ou ela nascer você ainda vai se
sentir do mesmo jeito, minha mãe sempre disse isso – Anahí suspirou – Eu
vou ser madrinha...!
— Que nada – Anahí negou com a cabeça – Mane vai tirar de letra, ele vai
manter toda a segurança que já tem de sobra, vai segurar as suas mãos e não
te deixar surtar.
— Ele no momento está surtando porque quer me pedir em casamento e eu
já disse que não vou casar tão cedo – Maite deu de ombros – Ele só não
sabe o porquê.
Do outro lado da cidade, ignorando o fato de que era Natal e que as lojas
estariam completamente lotadas, numa manhã um tanto gelada, Jesse
convidou seus dois melhores amigos para a busca de um presente inusitado
para Sophia. Mane e Poncho não entendiam porque ele tinha decidido
procurar aquilo em cima da hora, Jesse tinha uma explicação bem plausível.
— Não tive como vir antes porque ou estava trabalhando, ou estava com a
Sam, e ela certamente contaria pra Soph – Jesse ponderou – E estragaria
tudo.
— E que presente misterioso é esse que a Sam não pode saber...? – Mane
perguntou, mas quando ele e Poncho olharam para frente, rapidamente
entenderam.
— Bem... – Poncho riu ao encarar a fachada da loja – Acho que você não
nos traria para comprar um brinco de brilhantes, não é?
— Nos mate de inveja de uma vez então e compre esse anel – Mane
sugeriu.
Poncho sorriu vendo Jesse quase flutuar na escolha daquele anel. Ele tinha
levado os amigos até ali para ajuda-lo a escolher o anel de Sophia, o que ele
usaria para pedi-la em casamento naquela mesma noite, mas não tinha
adiantado muito, já que, dos três, era justamente Jesse quem melhor
conhecia o gosto da própria namorada. Não houve muito espaço para Mane
ou Poncho opinarem, Jesse era bem decidido quando queria e era um tanto
objetivo. Ele escolheu o anel, pagou por ele e saiu da joalheria com o maior
sorriso do mundo, que não era, no entanto, maior do que o que ele teria nos
lábios mais tarde, quando a mulher que amava finalmente lhe dissesse sim.
— Não que precise – Mane observou – Sophia vai dizer sim sozinha com
você ou na frente da Times Square lotada no Ano Novo Jesse, tenha essa
certeza.
— Se vocês dizem... – ele deu de ombros mas sorrindo orgulhoso – Quais
os planos pro Natal?
— Maite e eu vamos dirigir até a casa dos pais dela em Nova Jersey – Mane
comentou – Thanksgiving com as minhas mães, Natal com os pais dela, e
eu estou suando de nervoso mesmo conhecendo os dois desde que era um
fedelho.
— Não pode ser mais enlouquecedor do que foi pra ela aguentar a alegria
sufocante da sua mãe ao recebê-la – Poncho lembrou rindo. Mane balançou
a cabeça, eis que Jade ainda não tinha se recuperado da ideia de Maite e seu
filho finalmente estarem juntos.
— Ah – Poncho riu – Não, não estão. E nem virão. Meus pais ficaram
presos em Chicago por causa da neve e a Eren ficou propositalmente presa
em Boston pra me deixar... solto... aqui.
xxx
Era Natal e aquela data sempre significou muito para Anahí. Ela agora
pensava que seu feriado favorito não deveria ficar marcado por lembranças
ruins e de brigas com Keith. Ele era seu pai, por mais que não houvesse
carinho ou amor naquilo, ao menos não por parte dela. Ele estava sendo
bom para aquele garoto, Harry, isso Anahí tinha que admitir. Talvez eles
nunca viessem a ter uma relação de pai e filha, mas Anahí estava cansada
de brigar, aquela não era a personalidade dela. Era a hora de uma trégua.
Keith merecia isso, Karen também, a família inteira e ela, Anahí,
principalmente.
É claro que a sala parou pela chegada de Anahí. Assim como Arthur fez ao
ver a neta, Ellie também veio da cozinha para abraça-la. Karen é claro,
assim que chegou à sala sorriu feliz e aliviada ao constatar que a filha não
apenas tinha ido, como chegara cedo. Não era algo que ela estava
esperando. Keith, por sua vez, não tinha coragem de ir até a filha. Ele sabia
que não tinha uma relação com Anahí e, em nome da paz no Natal –
sobretudo, em não afasta-la mais – preferiu ficar no canto admirando a
esposa e os sogros abraçarem Anahí e comemorarem sua chegada. Ele
estava feliz, dava para ver em seu sorriso, no brilho de seus olhos. Harry
notava isso e não conseguia não se sentir incomodado, afinal estava
olhando para o homem que lhe deu uma casa e que vinha lutando para que
ele se mantivesse sóbrio sendo rejeitado pela filha a quem ele tinha tanto
amor para dar. Era completamente injusto.
— Você pode montar conosco se quiser – ela disse suficientemente alto para
somente Harry ouvir, como se estivesse prevendo a resposta que iria
receber.
Nada natalino.
O rosto de Anahí esquentou com aquilo, ela não esperava aquele fora. Mas
não poderia culpar Harry, já que ela não conseguia ser exatamente legal
com Keith. Imaginava como isso machucava o pai, como isso incomodava
Karen, mas ao mesmo tempo não poderia se culpar por isso. Não dava para
ser falsa, ainda mais numa relação que envolvia um pai e uma filha. Só que
ao mesmo tempo, tudo aquilo a fazia reconsiderar.
— Fico feliz por fazer parte disso, de verdade – Keith sorriu completamente
sincero – Mesmo que de longe.
E aquela era a primeira vez que Anahí se sentia mal por não amar o pai da
maneira que ele parecia merecer.
— Eu achei que você fosse mandar uma foto da roupa que está usando –
Anahí comentou rindo, tentando passar um batom na frente do espelho ao
mesmo tempo que falava com ele.
— Não se desculpe – Anahí sentiu o rosto esquentar mais ainda – Não foi
algo ruim, eu apenas... não esperava. Desacostumei.
— E você não disse nada por quê? – ela franziu a testa – Eu teria te
convidado pra vir pra minha mãe...
Como se Anahí pudesse ver aquele sorriso, ela estava derretida do outro
lado da linha.
— Você não precisa implorar – Anahí respondeu encostada na parede –
Você não precisa nem de convite.
Anahí não falou nada, nem para Ellie e muito menos para Arthur, que tinha
combinado com Poncho de se encontrarem na casa de Karen. Estava
consideravelmente frio naquela noite e os avós iam abraçados ao lado dela,
Arthur dizendo que iria esquenta-la e Ellie fazendo pouco caso, mas na
verdade adorando. Anahí caminhava imaginando se ela e Poncho estariam
muito diferentes se não tivessem se passado os oito anos do hiatus.
E logo ela se deu conta, quando o viu sentado nos degraus do deck da casa
da mãe dela, que provavelmente ela teria aquela resposta dali oito anos.
— Não está Arthur – Ellie respondeu rindo – Você é velho, não cego.
— Acho que temos que entrar pra que possa acontecer o que queremos
comemorar...
Ellie estava certa. Anahí prendia a risada para não rir dos avós, vendo
Poncho se levantar sorrindo e ao mesmo tempo atento com a expectativa
que saía dos olhos dos dois. Foi surpreendente ver Arthur conseguindo
conter a própria expectativa e entrando direto após cumprimentar Poncho,
já que de Ellie já se poderia esperar isso. Ele sabia que os dois só estavam
deixando a neta para trás porque ela estava agora acompanhada da pessoa
que, provavelmente, se estiraria no chão antes de deixar que algo mais lhe
acontecesse.
A resposta veio na boca de Anahí – elogiar o suéter dele também, que era
de um vermelho bem vivo, tom de sangue. Mas a primeira coisa que veio à
mente dela foi Poncho sem camisa. Sua última lembrança se misturava com
sua imaginação, ela já não sabia mais o que era o que, além de uma
constatação óbvia: ela precisava urgentemente atualizar aquela imagem
mental.
E aquele mesmo calor que ela sentiu mais cedo correu por dentro do corpo
dele. Só que agora eles não estavam separados por uma ligação telefônica,
de modo que nada impediu Poncho de pega-la pela nuca e dar o beijo cheio
de paixão que ainda se lembrava de como era. A boca de Anahí estava
gostosa e quente e ela não estremeceu por aquele beijo. Pelo contrário,
correspondeu com muita paixão, envolvendo o braço no pescoço dele e
enroscando o dedo em seus cabelos. Um beijo de saudade que fazia pegar
fogo mesmo no gelo que estava lá fora. Um beijo que fez Anahí, quando os
dois se separaram, continuar de olhos fechados, sentindo que ao menos para
uma coisa aquela maldita distância de oito anos tinha servido: agora ela
sabia que jamais seria capaz de deixar que Poncho se fosse de sua vida
novamente.
~
Ahhhhhhhh o Natal ❤
E aí, gostaram do capítulo? Não que eu ache que tenha como não gostar
hahahahaha. Porque afinal temos Maite grávida, Anahí descobrindo que não
é estéril e começando a abrir o coração pro Keith, Jesse comprando anel pra
pedir a Sophia em casamento, AyA... em suma, amor demais!!!
Beijos,
Rafa
Capítulo 48 - Thanks for coming back to me
A única coisa que passava pela cabeça de Mane enquanto dirigia para a casa
dos pais de Maite em Nova Jersey é que ele tinha que dar certa razão para
Anahí quando vetou a ideia dele pedir a namorada em casamento. Mane
estava, naquele Natal, indo jantar com os pais de Maite pela primeira vez. É
claro, ele já conhecia Javier e Victoria há séculos, mas nunca tinha ido na
casa dos dois como namorado da única filha deles. Talvez fosse melhor dar
um passo de cada vez, eis que, por mais que ele fosse apaixonado por ela há
séculos, os dois estavam juntos há somente dois meses. Eles teriam tempo.
Maite também estava calada no banco do carona porque ela e Mane tinham
saído tão apressados que não conseguira encontrar o momento ideal para
contar para ele a novidade. Maite sentia que deveria dizer aquilo em algum
momento, fosse para que os dois pudessem se decidir se era melhor contar
aos pais dela de uma vez, fosse porque não aguentava mais guardar a
notícia para si. Só que mesmo seguindo no caminho inteiro, foi só na porta
da casa dos pais que ela decidiu falar de uma vez.
— Você não saiu do carro – ele estranhou – Aconteceu alguma coisa, Luna?
— Não Cielo, não se preocupe – ela riu da preocupação dele – Quer dizer...
sim. Tem uma coisa que eu preciso contar.
— O que foi? – a testa de Mane parecia mais franzida do que nunca – Você
não contou aos seus pais que nós estamos juntos e que eu viria hoje?
— Contar o que Luna? – Mane dizia agora não tão assustado, mas não
menos ansioso para saber de uma vez a que ela se referia.
— Eu estou grávida – Maite repetiu – Nós vamos ter um bebê. Vamos ser
pais.
— Luna, não, eu... eu não odiei... – Mane disse apertando as mãos dela e
trazendo-a para perto – Eu apenas... eu não consigo...
— A ficha não cai? – Maite perguntou. Ela sabia como era se sentir assim –
Eu fiquei mais ou menos desse jeito quando descobri.
— Agora não fica tão ruim né? – ele riu – Nós vamos ter um filho.
— Isso quer dizer que temos que nos casar? – Maite pareceu ofendida –
Que ideia mais antiquada.
— Eu não quero casar com você porque te engravidei, quero casar porque
eu amo você – Mane admitiu olhando no fundo dos olhos dela – Mesmo
parecendo cedo demais, isso não vai mudar por estarmos juntos há dois
meses. Daqui a dois anos, vinte anos, vai ser a mesma coisa.
— Eu não entendo, você surta com casamento mas com gravidez não?
— Deus, eu amo você – Mane a abraçou com todo o carinho que tinha em
si – Vocês... – ele rapidamente se corrigiu – E vou me agarrar nisso pra não
surtar pela primeira vez que visito os meus sogros, vou contar que
engravidei a filha deles.
— Nós não vamos contar agora – Maite decidiu entrelaçando os dedos dos
dois – A novidade é só nossa por enquanto.
xxx
Jesse e Sophia já esperavam que aquele não fosse o Natal mais animado da
vida de Samantha, pelo contrário, era o primeiro que a menina passava sem
a mãe. Por isso os dois prepararam todo tipo de coisa para distrair a menina
e deixa-la feliz. Era melhor um Natal calmo e sem grandes surpresas ou
presenças, fato este que fez ambos pedirem que as mães dos dois e as irmãs
de Jesse não aparecessem, de modo que somente os três ficariam ali -
quatro, se contassem com Frankie, a cachorrinha deles.
— Papai? Já é Natal?
— Amanhã vai ser – Jesse beijou a testa dela – Durma meu amor.
Ops...
— Eu acho que o Papai Noel não pode dar essas coisas – Jesse respondeu
rindo e fazendo carinho na cabeça dela – Durma bem filha. Feliz Natal.
Enfim.
Jesse voltou rindo para a sala vendo que Sophia já desligava o bluray e
dobrava a coberta que os cobria logo antes. A risada dele chamou sua
atenção e imediatamente ela se virou para ele para saber do que achava
graça.
— Adivinhe o pedido que sua filha fez ao Papai Noel – Jesse comentou e
Sophia não conseguiu não sorrir com o modo com o qual ele se referiu à
menina – Um irmão.
— Ah, eu sabia disso – ela riu negando com a cabeça – Eu li a cartinha que
ela fez pra garantir que compraria o jogo certo. No final dizia "se não der,
pode ser um Twister".
— Nós precisamos falar isso com o Dr. Lewis – Sophia divagou pensativa –
Pra ver se isso realmente faria bem pra ela.
— Nós não podemos ter um filho só pra dar um irmão pra Sam – Jesse
retrucou, mas a resposta dela estava na ponta da língua.
— Eu não teria por isso – ela observou – Eu teria porque eu quero ter um
filho com você Jesse.
— Eu sei que talvez não seja o melhor momento pra nós, mas e se for o
melhor momento pra Sam? – Sophia insistiu – A gente não deveria
considerar?
— Soph... tem algo que vem antes – Jesse ressaltou – Acho que você sabe o
que é.
— Jesse... – ela disse num suspiro aliviado com o maior sorriso que tinha
estampado no rosto – Eu jamais diria não pra você. Eu te amo.
O dedo com o anel agora brilhante, tal como todos os outros, se enroscaram
nos cabelos de Jesse quando Sophia o beijou. Mas não brilhava mais que
seus olhos, agora fechados sentindo a boca dele. Provavelmente se desse
para enxergar o interior de seu corpo, se veria o que realmente brilhava. Era
o melhor Natal possível e eles agora sabiam que estavam prestes a começar
a viver a melhor vida de suas vidas. E era realmente apenas o começo.
xxx
No início da noite Lexie veio direto do hospital para a casa da irmã mais
velha e encontrou um cenário parecido com o que já tinha visto no
Thanksgiving: Meredith bem longe da cozinha, Derek com as crianças,
Arizona comandando o preparo da ceia com Amelia e Callie por perto.
Dessa vez Mark estava lá, cozinhando com elas, já que em matéria de
culinária Arizona e ele eram definitivamente parceiros. E é claro que mal
Lexie entrou na cozinha os dois já trocaram um olhar intenso, com a
diferença de que agora todos já sabiam o que acontecia ali.
Ela falava com Mark, enquanto Lexie estava a uma distância suficiente
conversando com a própria Callie, ambas incapazes de ouvi-los.
— Eu não tenho nada pra resolver, quem tem é ela – Mark disse com os
olhos fixos em Lexie – Eu não posso força-la, nem obriga-la. Tenho medo
de pressionar e acabar perdendo-a.
— E você não tem medo de não falar nada e acabar perdendo-a do mesmo
jeito...? – Arizona questionou – Ela não está fazendo qualquer esforço pra
encarar de frente o fato de que se casa no fim do mês que vem.
— Shhhhh, eu sou mentora dela, mentoras servem pra isso, pra se meter –
Amelia piscou, rapidamente deixando claro que ninguém a seguraria –
Deixe comigo.
Mark não esperava boa coisa disso, mas a verdade é que as palavras de
Arizona mexeram com ele. Era a primeira vez que alguém – exceto Derek,
mas este não era ouvido – o confrontava com o que ele pensava, mas nunca
em voz alta. Mark sabia que Lexie estava caminhando para deixar tudo para
ser resolvido na última hora e sabia mais ainda que aquilo significava que
ela provavelmente não tinha, e nem teria, coragem para terminar o noivado
com Jackson. Afinal, se Lexie realmente pretendesse acabar com tudo, faria
naquele momento. Quanto mais próximos eles ficavam da data do
casamento, menor a chance dela decidir aquilo, já que mais complicadas as
coisas ficariam.
Então Mark acabou percebendo que Arizona tinha razão, ele tinha que
confrontar Lexie. Não iria deixar para Amelia fazer o que era dever seu. Ele
iria colocar a amante contra a parede e deixar claro que era ele ou Jackson.
Mark não queria criar ilusões, não queria deixar que Lexie o machucasse.
Ele já tinha vivido uma vez aquela história com Addison e Derek e acabou
preterido. Se tinha doído da primeira vez, nessa certamente ele terminaria
devastado. Afinal, Lexie – e não Addison – era o grande amor da vida dele,
a mulher com quem ele queria passar a vida e, portanto, aquela com
capacidade e potencial para destrui-lo, caminhando cada vez mais certeira
para aquele fim.
Só que Mark acabou esperando demais por aquela chance. Quando ele
finalmente viu Lexie sozinha e resolveu se aproximar, a campainha tocou e
uma voz conhecida – e nem um pouco desejada – entrou ali. Era Jackson.
Ele não estava sozinho, tinha vindo com Alex Karev, o melhor amigo de
Meredith, e a noiva dele, Jo Wilson. Só que ao contrário do casal cuja
presença era esperada, ninguém achava que Jackson apareceria ali... Lexie e
Mark principalmente.
— Eu... – ela sequer conseguia responder. O que faria, mentir? Diria que
tinha gostado quando não era assim? – Eu achei que você fosse...
— Você é louco de confiar neles – Lexie respondeu ainda sem saber bem o
que dizer – Espero que seu chefe não fique irritado com isso.
Jackson achou que não, mas Lexie entendeu exatamente a que o noivo se
referia ao falar aquilo. Ela não precisava olhar para Mark para saber que ele
os observava, até porque o gesto de Jackson de abraça-la de lado tinha sido
somente para marcar terreno... Lexie sabia. Só que tudo aquilo era péssimo.
Lexie planejava escapar dali assim que desse meia noite para qualquer lugar
onde ela e Mark pudessem estar sozinhos, dentro ou fora da casa, e os
planos tinham acabado de naufragar. Agora teria que fingir a noite inteira
que estava feliz pelo noivo estar ali quando definitivamente não era assim
que ela se sentia.
Lexie acreditou realmente que, com a presença de Jackson, Mark fosse se
manter distante. Ledo engano. Depois que todos cearam ela foi até o
banheiro, quando percebeu que Jackson estava absorto em um debate
cirúrgico entre Karev, Amelia e Derek e sequer notou que a noiva tinha
saído. Para Mark aquela era a hora certa.
Foi quando Lexie saiu do banheiro que Mark a puxou para a área de
serviço. Ela arregalou os olhos prestes a dizer que ele não poderia fazer
aquilo, que era louco, que certamente Jackson os veria daquele jeito... mas
nada do que Lexie tentou balbuciar impediu Mark. Ele rapidamente parou
em um canto onde ninguém poderia vê-los e a encarou um tanto sério.
— Você ficou louco...? – Lexie parecia ofegante, apenas não sabia se era
medo ou a pura adrenalina – Se alguém nos ver...
— Eu amo você.
— Mark... – o fio de voz dela soltou. Lexie estava mais atordoada do que
esteve sua vida inteira.
— Eu nunca senti por ninguém o que eu sinto por você – Mark insistiu –
Você é a mulher da minha vida. Isso não vai mudar, nós fiquemos juntos ou
não.
— Eu disse uma vez que ainda era apaixonado por você, lembra? – Mark a
trouxe de volta ao passado – Você estava com o Karev. Eu me declarei...
você disse que estava namorando. Lembra da resposta que eu te dei?
— Você pode – Mark insistiu – Você vai ter. Se você casar com ele...
Jackson é um bom homem, e tenho certeza que ele vai ser bom pra você...
mas se eu ocupo em você o mesmo lugar que você ocupa em mim... eu sei
que só eu serei capaz de te transbordar.
Mais uma vez ela foi incapaz de conseguir responder. Os lábios de Lexie
tremiam, ela definitivamente não esperava por aquilo. Por sorte estava
encostada contra a parede, do contrário suas pernas já a teriam derrubado,
elas fraquejavam.
— Eu sei que vai – Lexie mordeu os lábios desviando o olhar – Mas eu não
sei se eu sou o suficiente pra você. Da primeira vez foi a sua filha que
apareceu, da segunda você tinha engravidado a Callie... nós não queremos a
mesma coisa, nunca quisemos...
O recado estava dado. Mark saiu em seguida, porque ficar ali ainda mais
tempo era brincar com a sorte. Lexie, por sua vez, não voltaria tão cedo. Ela
se afundou na parede quando ele desapareceu, sentindo que desmancharia a
qualquer momento, tomada pela vontade de chorar. Ela estava
completamente perdida mas, ao mesmo tempo, sabia exatamente o que
queria. A única coisa que faltava era a coragem necessária de ir atrás.
xxx
Quando Anahí entrou de mãos dadas com Poncho na casa de sua mãe, a
primeira visão que ela teve foi de um agoniado Arthur que esticava o
pescoço para sua visão alcançar a porta e ver a hora que a neta entrasse,
certamente esperando que o que quer que acontecesse confirmasse suas
suspeitas. Ela viu o avô quase dar um pulo ao reparar que a neta não
somente estava com o ex-namorado, como eles entravam definitivamente
demonstrando que estavam juntos.
— Como assim?
— Poncho...? – Karen, uma das únicas que não sabia que o ex-genro
estaria ali, se aproximou com um misto de sorriso e surpresa no rosto.
— Feliz Natal Karen – Poncho disse abraçando-a – A Any disse que não
tinha problema que eu viesse pra cá...
— Ora, é claro que não querido – Karen negou ainda abismada – Ande,
vamos, você está em casa.
— Você estava no último – Ellie lembrou – Seus pais também não puderam
vir...
— O quê? – Arthur resmungou – Você acha que essas mãos dadas querem
dizer o que, Karen?
— Não se faça de boba Ellie, você mesma disse no outro dia que não vê a
hora de ser bisavó...!
Era uma maneira de pulverizar os presentes, mas logo viram que não
adiantaria tanto. Poncho se adiantou para cumprimentar Keith e ser
apresentado a Harry, não demorou cinco minutos para notar que ele e a
"irmã" não exatamente estavam se dando bem. Mas logo todos se sentaram
à mesa, Ellie fez a tradicional oração natalina com a qual Poncho quase se
desacostumou e logo todos estavam ceando.
Dava para ver há quilômetros de distância a felicidade que Karen sentia
naquele momento. Ela estava ali, num Natal, pela primeira vez com toda a
sua família, todas as pessoas que mais amava. Por mais que ainda não se
tratassem como pai e filha, Keith e Anahí estavam se dando um pouco
melhor. Aos poucos Harry, que agora era um filho caçula, se integrava à
família. O improvável acontecia com Anahí e Poncho voltando a se
envolver. E todos eles, junto com seus pais, o casamento mais sólido que
ela conhecia, estavam ali, na mesma mesa. Ao ver todos rindo e
conversando como uma família, Karen discretamente fechou os olhos. Ela
só tinha a agradecer.
Quando a ceia terminou e era quase meia-noite, Anahí viu Poncho se afastar
e sentar-se ao canto da sala, longe de todos. Enquanto a família tirava a
mesa, ela discretamente foi até ele e sentou ao seu lado, vendo então que ele
estava ao telefone. Ela não precisava ouvir pra saber com quem você falava.
— E como está sendo o Natal? Você está gostando, está feliz? – Poncho
perguntou com o sorriso mais bobo. Anahí sorriu também ao vê-lo assim,
sem dúvidas a versão dele pai era agora a que mais gostava – Que bom meu
amor. Eu também estou com saudade. Dê um beijo em todos aí, ok? Eu amo
você Dani. Nós nos vemos daqui a alguns dias.
Anahí viu toda a nostalgia que Poncho sentia ao desligar. Por mais que ele a
amasse, por mais que estivesse radiante por passar um Natal novamente
com ela, sempre faltaria um pedaço por ele não estar ao lado do filho e ela
entendia. Se fosse mãe provavelmente também seria assim com ela, foi o
que ela pensou ao vê-lo desligar o telefone e olhar com carinho para a foto
com o filho, no fundo de tela.
— O primeiro Natal sem você foi horrível – ele admitiu. Anahí ergueu as
sobrancelhas, Poncho nunca havia falado concretamente da ausência dela –
Eu simplesmente não saí de casa. Meus pais vieram pra Nova York, eu
estava no apartamento da Erendira, eu... eles estavam desesperados.
Achavam que eu nunca iria superar aquilo.
— Eu fico feliz que você tenha superado – Anahí disse segurando a mão
dele. Ao encara-la, Poncho viu que ela era sincera em seu sorriso – Porque
mesmo você tendo seguido em frente, eu senti desde o primeiro abraço que
ainda existia algo de mim dentro de você.
— Eu não me incomodo – ela negou rindo – Ela sempre vai fazer parte da
sua história.
— Sim – ele admitiu – Mas é um capítulo. Você... eu quero que seja o resto
do livro. É com você que eu quero escrever o meu final feliz, só que dessa
vez real.
Agora ela não precisava ouvir mais nada. A melancolia que Poncho sentia
antes por estar distante de Daniel se dissipou quando Anahí entrou nos
braços dele. Ele sabia que demoraria a poder ter os dois juntos em sua vida,
estar realmente completo... mas enquanto não era possível, se esforçaria
para sentir bem com aquela sua outra metade.
— Feliz Natal meu amor – ele desejou beijando a boca dela – Obrigado por
voltar pra mim.
Quem é você nesse capítulo? Aquela que tava doida de saudade dos casais
coadjuvantes? Aquela que passou o capítulo todo esperando AyA? Ou
aquela que amou tudo?
Me contem! Não pensemmmm que eu vou parar de colocar os
protagonistas. Até porque, ja digo pra se prepararem pros caps 50 e 51.
Muito amor por aí!
Beijos,
Rafa
Capítulo 49 - Still friends?
— Mas pra que serve isso...? – a voz de Anahí soltou aquela pergunta mais
confusa do que nunca.
— Sim, mas aqui é só pra postar, mais nada – ele voltou a explicar – Como
se você postasse todas as fotos importantes, dos momentos importantes da
sua vida. E também tem o stories...
— Que é...? – a testa de Anahí franziu. Quanto mais ele explicava, menos
ela entendia.
— Ou seja, pra que o resto do mundo saiba absolutamente tudo o que você
está fazendo – Anahí concluiu. Ele tinha que admitir, não conseguiria dar
resposta melhor.
— Quanto mais você fala desse stories, mais sem sentido eu acho – Anahí
suspirou.
— Você se acostuma – ele insistiu – Olhe, vamos ver o que Sophia postou,
como foi o Natal dela.
— Comprei o anel com ele ontem pela manhã – ele deu de ombros.
— É claro que sabia – ela reafirmou – Jesse não iria fazer uma coisa dessas
sem o bff participar de tudo.
— Você tem razão – Anahí disse dando um selinho nele – Vamos viver. Mas
amanhã ok? Porque hoje ainda é Natal e tem uma árvore inteira de
presentes pra serem abertos.
Poncho acabou ligando para Daniel mais umas duas vezes naquela dia de
Natal. Ele e Anahí só saíram da casa dos pais dela quando já começava a
escurecer, quando Poncho dirigiu até o apartamento dela e a deixou lá, já
saudoso por antecipação mas sabendo que precisava dar à ela um espaço
vital que fosse.
E ele deu. Afinal, a vida de Anahí não se restringia a Poncho. Quando ela
chegou em casa Christian e Maite já estavam lá e os três terminaram a noite
bebendo uma garrafa de vinho e compartilhando como tinha sido o Natal de
cada um. Maite contava, aos risos, como Mane tinha reagido à notícia da
gravidez dela, se esquecendo que Christian ainda não sabia e o que
aconteceu foi o amigo dar um berro ao reagir e terminaram com os três
fazendo planos para o futuro daquela criança que ainda não tinha nascido,
mas já fazia parte deles.
No dia seguinte, por sua vez, não era mais Natal e as quatro garotas daquele
grupo tinham um compromisso em conjunto referente a um evento que, por
mais que ninguém se lembrasse, não estava tão distante de acontecer: o
casamento de Lexie. Elas seriam damas de honra e havia uma prova de
vestidos marcada justamente para aquele dia. Se a noiva estava trabalhando
e só as encontraria na loja, as outras três decidiram marcar para saírem
juntas. E o ponto de encontro era a confeitaria de Sophia.
— Ela não vai comprar isso – Anahí fez uma careta debochada.
— Então terei que dizer a verdade – a morena deu de ombros – Que eu não
quero assinar embaixo da burrada que ela está prestes a fazer.
— A menina Grey sempre foi inteligente, mas nunca foi corajosa – Maite
retrucou empurrando a porta da confeitaria para as duas entrarem.
Mesmo no dia seguinte ao Natal, aquela confeitaria estava tão cheia quanto
de costume. A primeira coisa que Maite viu foi Sophia passando instruções
à Jesse provavelmente por estar ligeiramente nervosa por ter que deixa-lo à
frente de tudo e sair. Anahí, por sua vez, sentiu as bochechas afrouxarem ao
notar que Poncho estava ali, sentado em uma mesa ao canto, próxima à
janela, com um prato que tinha alguns donuts e uma caneca de café,
concentrado digitando furiosamente no laptop algo que provavelmente era
um capítulo de seu novo livro. Mas a primeira pessoa que notou a chegada
das duas não foi nenhum dos envolvidos e sim Samantha, que saiu correndo
na direção delas com a maior expressão de êxtase que se poderia esperar.
— Conhecendo seu pai e sua tia é surpreendente que você ainda não tenha
um – Maite alfinetou sentindo uma cotovelada de Anahí logo em seguida.
— Você... – Anahí começou a falar logo em seguida com Maite, mas com
os olhos fixos bem longe dali – Você se importa se eu...
— For ficar colada por alguns minutos com o seu mozão? – Maite
pronunciou aquela última palavra com um nítido sabor – Não, pode ir. Eu
espero você e Sophia aqui.
— Não tente entender Anahí Portilla – ele sorriu de volta antes dela beijar-
lhe os lábios.
— Oito anos depois e você ainda tem essa mania horrorosa de beber a
bebida alheia – ele comentou franzindo a testa com uma careta gigantesca.
Poncho não tinha pedido que ela fosse até lá apenas porque queria guardar a
própria bebida para si, mas também porque precisava aproveitar alguns
minutos que fossem ao lado de uma pessoa para quem ele poderia perguntar
algo sobre Anahí.
— Anahí tem uma lista de desejos? – Maite franziu a testa – Eu não sabia.
— Ah, é claro que você pode – ela debochou óbvia – Bom Poncho, a nova
Anahí eu ainda to conhecendo, mas a velha eu tenho certeza que amaria
uma viagem romântica. Já pensou no destino?
— O anel dela ta brilhando tanto que meus olhos ardem – Maite disse
fingindo tampar os olhos enquanto via Sophia segurar o rosto de Jesse ao se
despedir do noivo.
— Você nunca vai perder esse jeito alfinetador né? – Poncho debochou
rindo de leve, vendo a morena dar de ombros.
— Enfim! Vamos!
O modo como Meredith reagia, como Derek, como todos a tratavam, fazia
com que Lexie esperasse mais do que nunca que as amigas chegassem para
ter algum afago. O problema é que, das três, apenas Sophia não a colocava
contra parede. Na verdade elas haviam entrado em um consenso de
comparecer àquela prova de roupa somente por consideração a ela, porque
na verdade motivos para um boicote não faltavam. Mas todas conheciam
Lexie o suficiente para terem a certeza de que simplesmente virar as costas
não funcionaria, pelo contrário, estava arriscado a morena sentir ainda mais
força naquela ideia de casamento que, mais do que nunca, se mostrava
totalmente equivocada.
— Ah, elas chegaram! – Lexie se levantou com certa euforia assim que viu
as três entrarem na loja. Estava claro que ela não aguentava mais ficar
sozinha com a irmã – Vocês vieram...!
— Sim, nós viemos – Anahí disse sem conseguir deixar de colocar um tom
de desânimo na voz.
— Lex, será que nós podemos trocar uma ideiazinha? – Maite pediu.
Ficou claro sobre o que a morena queria falar. Lexie fez uma careta,
percebendo a armadilha e rapidamente se esgueirando dela.
— Quer dizer, até quando ela vai fingir demência? – Maite questionou
rolando os olhos – Ela ainda não percebeu que todo dia caminha um passo a
mais na direção daquele altar?
Por isso, Maite teve a maior surpresa possível quando viu Sophia reagindo
lhe dando um abraço emocionado. A morena definitivamente não esperava
por aquilo e rapidamente se deu conta que era realmente uma reação.
Sophia provavelmente não planejou agir daquela forma, não maquinou
comemorar com a futura mamãe em um abraço, mas foi isso que acabou
acontecendo. Maite, por sua vez, não soube como devolver e acabou
retribuindo aquele abraço. Sua inércia não se dava por desprezo à Sophia
como tinha sido um dia, mas por realmente não esperar aquele tratamento
carinhoso. Ela tinha sido pega totalmente de surpresa... e logo que abraçou
a ex-amiga de volta – talvez não tão ex assim – viu que, atrás de Sophia,
Anahí tinha um sorriso maravilhosamente satisfeito enfeitando o rosto.
— Eu sei Soph, eu sei – ela deu de ombros – Mas não contamos pros meus
pais. Vamos reunir os dois com as mães dele e a irmã e contarmos de uma
só vez. Mas em todo caso, isso torna tudo complicado pra eu ser sua dama
de honra, Lex.
— Olhe, não culpe sua irmã, não culpe nenhuma de nós, nós queremos que
você seja feliz e estamos vendo que você está sendo covarde mais uma vez
e se recusando a admitir que ta cometendo um erro – Maite finalizou – Eu
estarei lá no seu casamento, mas não no seu altar. Eu simplesmente não
consigo Lex. E se você quiser ficar com raiva de mim, fique. Mas admita
pelo menos pra si que você só vai sentir essa raiva porque não pode ficar
com raiva de você mesma por não ter coragem suficiente pra fazer o que
você realmente quer.
Xeque-mate.
— Eu não acredito que você usou a Luninha pra pular fora do casamento da
Lexie – Mane recriminou a namorada.
— Maite sai da guerra, mas a guerra não sai da Maite – Christian negou
com a cabeça em deboche – Imagine como a Luninha vai sair...!
— Não, vão lá pra dentro curtir um pouco só vocês dois – Maite levantou
empurrando-os – Ignorem o Christian.
Anahí decidiu seguir o conselho dos amigos. De mãos dadas com Poncho,
eles foram para o quarto dela, para ter mais privacidade. Mal fechou a porta
e os colocou sozinhos, ele não perdeu tempo em voltar a beija-la. Tinha
saudade e dizia em gestos, em atitudes, no olhar desejoso que lançava a ela.
Um olhar apaixonado, de quem aproveitaria cada minuto do tempo que
estavam juntos, já que não tinham o dia inteiro, não poderiam aproveitar
cada minuto da vida inteira.
Ele era respeitoso. Poncho não ia além, não tirava as mãos da cintura, dos
braços e do rosto dela, mesmo quando estavam deitados e os corpos
embolados dele e de Anahí virassem uma realidade. Era o que acontecia
naquele momento – logo os dois estavam na cama e ele sobre ela, buscando
apoiar o braço no colchão para evitar jogar todo o peso por cima do corpo
de Anahí, não assusta-la. Ele não sabia o quanto ela se sentiria acuada por
ter um homem em cima dela de novo e Poncho não queria, em hipótese
alguma, remetê-la a Tobias de novo.
Mas no fim, Anahí pareceu estar reagindo bem aos pequenos passos que
eles davam. Tanto que logo veio um convite que Poncho definitivamente
não poderia esperar.
— Isso responde uma dúvida que eu tinha – ele comentou – Era pra ser
surpresa, mas... eu tinha pensado em nós dois fazermos uma viagem. Só nós
dois... pra uma casa no lago em Vermont.
— E por que esse tinha pensado parece mais passado que futuro? – ela
perguntou franzindo a testa.
— Porque eu queria fazer como uma surpresa, só que tinha medo de você
reagir e achar que eu estava forçando as coisas – a voz dele deixava claro o
quanto estava hesitante – Porque eu vou te esperar o tempo que for
necessário...
— Eu... – Poncho quase se sentia tonto pela forma como ela sempre parecia
simplificar coisas que, para ele, eram totalmente complexas – O dono dessa
casa é amigo do meu pai e ele está em Nova York visitando o filho. Basta
uma ligação e amanhã mesmo estamos na estrada. Se você quiser...
Helloooo meuzamô!
Rafa
Capítulo 50 - Vermont is for lovers, too
— Está frio – Karen constatou cruzando os braços para a filha – Você está
levando casacos suficientes...?
Maite teve que prender a risada quando viu o olhar que Anahí lançou para a
mãe.
— Deus, será que quando eu for mãe vou mandar essas frases clichês
também...? – a morena fez uma careta do tamanho do rosto.
— Se não for a Luninha terá mais sorte do que eu – Anahí deu de ombros,
vendo a amiga aumentar a careta ao ouvir o apelido carinhoso que seu bebê
havia recebido.
Anahí abriu a boca para responder, mas viu sua melhor amiga ser mais
rápida.
— Você vai pra uma casa na frente de um lago – Karen repudiou – O frio
deve ser ainda pior lá! Não estou querendo ser estraga-prazeres, mas eu sou
sua mãe, eu tenho que me preocupar... você ficou oito anos trancada num
lugar e agora ta exposta a um inverno desses...
— Eu quase esqueci que você vai viajar com uma pessoa que é quase tão
preocupada contigo do que eu – ela constatou.
— Fique tranquila mãe – Anahí disse beijando a bochecha dela, logo antes
de se voltar para a mala para fecha-la – Eu vou ficar bem. O máximo que eu
pego é uma gripe, mas não tem problema porque eu estarei feliz.
— É alguma mentira que você vai tentar romper as barreiras do sexo nessa
cabana? – Maite cruzou os braços encarando Anahí – O quê? Você tem
vergonha de falar de sexo com a sua mãe?
— E não é – ela confirmou – Olhem, eu não sei como vai ser essa viagem.
O Poncho me garantiu que não estava planejando nada com o intuito de me
forçar a transar com ele. Mas de uma forma ou de outra, eu queria que fosse
algo que dependesse só da minha vontade. Que, caso eu tivesse vontade,
rolasse.
— Talvez caso você tenha vontade role – Maite opinou – Você teve vontade
até agora?
— Eu gostava do Milo, mas tudo o que ele me fazia querer era a vontade de
querer algo mais – ela explicou melhor – Eu não cheguei a sentir com ele
aquele calor que dá no meio do corpo quando a gente sabe que realmente
quer. Eu queria sentir isso nessa viagem, eu vou me dar essa chance.
— Olhe, se você estiver bem pra isso... ok – Maite recomendou – Você sabe
disso. Ele vai continuar amando você independentemente de qualquer coisa.
Faça isso por você, não por ele.
— Poncho, faça algo pra essa mulher parar de chamar meu bebê assim –
Maite disse com uma careta imensa.
— Eu meio que gostei do apelido Mai – Poncho riu – Não me mate, por
favor.
— Cuide bem da minha butterfly... não que eu precise pedir – Karen disse
abraçando Poncho ao se despedir – E você querida... qualquer coisa...
— Você acha que ela realmente vai ficar bem? – perguntou – Que essa
viagem vai fazer bem mesmo pra ela...?
xxx
— Outra rede social? – ela franziu a testa. Anahí não estava exatamente
adaptada à tecnologia ainda.
— Eu aposto como ele percebeu que ser astro do time de futebol não valia
tanto assim – Anahí observou sorrindo.
— Mais uma razão pra você ir – ele insistiu – Pra ninguém te olhar como
uma pobrezinha que foi sequestrada e sim como uma mulher forte que
sobreviveu a tudo.
— É claro que eu respeito caso você decida não ir – Poncho fez questão de
observar – Mas tenho que dizer que adoraria entrar naquela escola de
braços dados pra você... os dois ex-nerds nada populares que formaram um
casal maravilhoso.
— Na verdade a festa seria cheia de casais inusitados – Anahí continuou –
Sophia era a garota também nem um pouco popular que terminou noiva do
capitão do time de futebol... e Maite, a rainha das líderes de torcida, está
grávida do carinha da banda escolar...
— Você não sabia? – ela ergueu a sobrancelha – Sim, ela está grávida.
Apelidamos o bebê de Luninha inclusive.
— Então era por isso que vocês estavam falando de uma Luninha? Eu achei
que fosse hipotético... – Poncho riu abafadamente – Isso explica porque ela
enjoou com o meu café.
Anahí continuou com uma animação de dar inveja o resto da viagem. Num
determinado momento Poncho parou num posto para abastecer e a viu
andar graciosa para o posto de conveniência e voltar com o capuccino que
sabia que ele também gostava, dizendo que ele deveria se manter atento,
que eram quase seis horas de distância num total entre Nova York e
Vermont, que seria mais simples se ela pudesse dividir o volante com ele...
Poncho se lembrou, Anahí sabia dirigir, mas seus documentos
provavelmente estavam vencidos já que ela passou oito anos ausente. Mas
será que o problema era só esse?
— Eu não sei se saberia – Anahí admitiu – Não é mais uma coisa que eu
gostaria de descobrir que sou limitada.
Poncho queria dizer que ela não era limitada para nada, mas perdeu a voz.
Talvez fosse melhor não falar nada, algumas coisas eram melhor
comprovadas com atitudes, não palavras. Anahí desviou o assunto, depois
olhou para a janela e ficou por alguns bons minutos admirando a paisagem
no mais absoluto silêncio. Ele ficou dirigindo concentrado, focando no
tanto que queria ter dito a ela e não o fez, em como queria mudar as coisas e
imaginando quanto tempo Anahí ficaria calada. Logo viu que não muito:
bastou tocar uma música que ela conhecia para fazê-la voltar a cantar,
notadamente ficando feliz de novo.
Menos mal.
Os dois chegaram a Vermont no meio da tarde. Poncho podia ver nos olhos
de Anahí a empolgação pelo que via: a natureza, as árvores quase sem
folhas, o frio retratado em cada centímetro da natureza. Ele sorria. O
encanto dela não mudou quando finalmente chegaram na cabana e saiu do
carro, sentindo o ar frio penetrar em cada parte do seu corpo mas em nada
se afetando. Era maravilhoso, como um sonho, só que indiscutivelmente
real.
Ele sorriu, colocando as coisas para dentro enquanto a via animada como
uma criança correr por cada quarto, cada pedaço da cabana e depois de fora
dela. Poncho não pediu ajuda, apenas instalou as malas dos dois, abriu a
casa, passou uma vassoura e preparou um sanduíche para si e um para ela,
colocando numa bandeja junto com duas canecas de um café quente que
preparou para aquecê-los. Foi quando ele procurou por ela por todo o
espaço da cabana, sem encontra-la em lugar algum.
— Você não gostava de frio – Poncho afirmou. Ela não respondeu, então
provavelmente concordava – Isso mudou?
— Não – Anahí negou – É que eu esperava que nevasse, mas não nevou.
Achei que fôssemos brincar de fazer um boneco de neve ou fazer guerra de
bolinhas de neve, mas não. E também não está calor suficiente para fazer o
que eu realmente quero...
— Pular nesse lago – Anahí mordeu os lábios certa de que suas bochechas
estavam vermelhas como se pegasse fogo por dentro – Sem roupa.
Tal como aconteceu com Anahí no Natal, Poncho logo se viu ser invadido
por uma onda de calor sem precedentes ao imagina-la nua nadando sem
pudor naquele rio num dia de calor. Sabia que Anahí não tinha qualquer
intenção de excita-lo, mas também sabia que ela tinha que ser muito
ingênua se pensasse que não causaria qualquer efeito nele. Tal como ela
tinha pensado dias antes, ele também se deparou com a realidade de que
não conhecia mais o corpo de Anahí. Provavelmente ela tinha mudado,
provavelmente ele reconheceria cada mínima mudança, mas certo mesmo
era que ele encontraria o prazer nos braços dela, de uma forma ou de outra.
Quanto a isso não havia qualquer dúvida.
— Isso não tava na sua lista de desejos – Poncho comentou mordendo os
lábios, tentando ajeitar a calça disfarcadamente. Ele não queria que Anahí
percebesse o quanto estava excitado com aquela cena que ela o fizera
imaginar.
— Eu não consigo projetar todos os meus desejos – ela bufou, não pela
pergunta dele, mas pela vontade que sabia que não poderia realizar –
Podemos voltar no verão?
— Se você me disser que a água está ótima na maior das caras de pau, sou
capaz de entrar aí pra te dar um tapa – os olhos de Anahí rolaram ao mesmo
tempo que o maior sorriso dele se abriu.
Para variar, ela não tinha nenhuma convicção daquilo. Continuava pensando
em todos os contras, no quanto sentiria cada centímetro de seu corpo
certamente congelaria quando entrasse naquela água. Mas mesmo assim,
aquela repulsa à ideia maluca contrastava com Poncho dentro daquele lago.
Mesmo com um casaco, Anahí o via sexy sorrindo para ela, com os cabelos,
a barba, o rosto, estava totalmente molhado. Ela sabia que a proposta dele
não era boa e que ela iria se arrepender quando caísse no lago, mas para
isso precisava de fato cair.
Enquanto não o fizesse, aquela frase incessante, aquele sopro no ouvido que
alimentava sua coragem, não pararia de ecoar em sua mente. Tem horas na
vida que você não tem que ponderar, você tem que arriscar. Esquecer os
contras. Lembrar que tudo muda num piscar de olhos, como já tinha
mudado pra ela uma vez. Se focar no fato de que todo erro é relativo,
porque Anahí poderia naquele momento estar errando sob o aspecto de que
não pensaria num resfriado futuro... mas seria um erro maior ainda não se
jogar naquele lago e encontrar o homem que amava.
Sem aviso prévio, sem preparar Poncho, ela simplesmente tirou o casaco
que usava por cima da blusa, tirou os sapatos com pressa, deixando tudo no
deck e pulou no lago com pressa, antes que a coragem que a empurrava se
esvaísse. A reação de Poncho quando ela agiu depressa foi de surpresa
misturada com alegria, mas rapidamente tudo se esvaiu quando ela sentiu a
água fria penetrar em seu corpo. Ao levantar a cabeça na superfície, ela não
sorria como ele fazia. Seu corpo sensível agora tremia e ela já começava a
se arrepender.
— Eu vou te matar por ter me feito fazer isso – agora ela tremia sem parar,
enquanto Poncho continuava sorrindo e segurava seu rosto com delicadeza
– Essa água ta impossível.
Sem esperar que Anahí exatamente autorizasse, Poncho avançou para ela
com um beijo lascivo. Ele não procurou uma permissão, porque aqueles
beijos mais quentes eram uma realidade para os dois nos últimos dias, não
faziam parte da esfera na qual ele ainda hesitava em entrar, não sendo
necessário que Anahí lhe desse um aval. Por isso Poncho a segurou pela
nuca e trouxe Anahí para si, colando seus corpos e sentindo os seios dela
pressionarem seu peito. A ideia de uma Anahí molhada e convidativa o
excitou, e certas reações corporais eram impossíveis de serem disfarçadas.
Provavelmente por eles estarem dentro d'água, Anahí sentiu a ereção dele
melhor do que sentiria antes. E isso a fez hesitar e rapidamente se assustar.
— Você tem uma história – ele voltou a fazer carinho no rosto dela – Não
dá pra ignorar.
Any. De repente ela se deu conta que esse era o apelido que Tobias usava
com ela. Ele a chamava de "minha Any", completando com "só minha". Ela
passou a associar a forma como os avós a chamavam – que certamente ele
tinha conhecimento – com o seu algoz. Quando voltou do cativeiro, não
queria que ninguém a chamasse daquela forma. Se ela era a Any dele, não
poderia ser de mais ninguém. Era doentio.
Mas agora Poncho a chamava assim. Jesse a chamava assim. Maite,
Christian, todos voltaram a chama-la assim, sobretudo Ellie e Arthur. Ela
tinha ultrapassado aquele obstáculo sem sequer perceber. Então se tinha
conseguido aquilo, por que não conseguia todo o resto? E a resposta vinha
clara em sua mente... tinha muito a ver com o medo de tentar. Tudo a ver,
quem sabe.
Anahí estava cansada de ter medo. Era hora de parar com aquilo.
De repente Anahí sentiu a água do lago bater na parte inferior de seu corpo,
enquanto a superior sentia o ar gelado que corria ali. Dava frio, é claro que
dava, mas também dava... paz. As mãos de Poncho estavam firmes em suas
costas, na altura da cintura, segurando-a, e ela se sentia livre. Tanto que os
braços se soltaram voluntariamente, com Anahí deixando-os abertos em
sentidos opostos, apenas sentindo a leveza das pequenas ondas relaxarem-
na por completo.
Ela confiava. Dava medo, mas... era só não pensar nisso. Ele estava ali, ele
não sairia dali. Entregue àquela brisa gelada, Anahí sentia as mãos de
Poncho soltarem-na aos poucos, mas o corpo estava relaxado o suficiente
para não se desesperar. Ela se lembrou que não estava num lago fundo, que
mesmo que se desequilibrasse não iria morrer afogada e que Poncho jamais
a colocaria em risco. E aos poucos, dedo a dedo, o apoio dele se foi. E era
só ela.
E ela estava boiando. Anahí estava boiando. Ela não sentiu o momento
exato que Poncho deixou de segura-la, que ele a deixou fazer aquilo
sozinha... mas ela estava. Só se deu conta depois, quando já era capaz,
quando tinha conseguido. E mesmo a constatação não foi capaz de derruba-
la, de tira-la dali. Anahí não disse nada, apenas sorriu, balançando as mãos
e os pés lentamente, sentindo a água gelada, a brisa, ouvindo o barulho dos
pássaros, das folhas das árvores balançando... sentindo a coragem que tinha
dentro de si e já tinha esquecido.
— Você é capaz de fazer o que quiser – a voz sexy de Poncho nunca tinha
sido tão suave como antes – Qualquer coisa.
Qualquer coisa.
Ao ouvir a voz dele Anahí se desequilibrou. Não por medo, não por não
conseguir se manter boiando, apenas por pura desconcentração. Ela acabou
virando, Poncho tentou segura-la mas ela voltou a si e, assim que pôs os pés
no chão novamente, desatou a rir. O Poncho que estava preocupado com
ela, com os olhos arregalados, demorou a relaxar e riu também. Ele ainda
estava incrédulo, pensando que todo o esforço tinha ido para o ralo com
uma simples frase, mas não era isso que via ali. Definitivamente não.
Anahí não disse nada, tal como horas antes no carro ele não tinha dito. E
mesmo sem saber, fez a mesma escolha que ela: procurou agir, não dizer.
Ela reparou o modo como o olhar dele, mesmo numa tentativa inútil de
disfarçar, acabava repousando na blusa branca e fina que ela usava que, sem
sutiã, deixando os seios transparentes. Ela decidiu que gostava daquele
olhar de desejo. Gostava de vê-lo quase comendo-a com os olhos. E decidiu
também que queria que ele de fato fizesse todo o resto.
A atitude foi um beijo lascivo da parte dela. O beijo que ele tinha dado
antes, mas agora com o toque final da sua permissão para ir até o fim. Dessa
vez era Anahí quem o beijava e sentia a ereção dele voltar a crescer entre
suas pernas. E dessa vez ela não iria se esquivar, não iria fugir. Agora ela
ainda sentia medo, mas sabia que era capaz, queria ser capaz. E iria até o
fim.
~
Ahhhhhhh o 50!!! Amo tanto que nem sei!
E alguém tem algum palpite do que vem por aí na quinta que vem?
Preparadas? FIQUEM!
Beijos,
Rafa
Capítulo 51 - Perfect
Ouça "Perfect" –
Ed Sheeran
Talvez fosse esse o querer desejar que tanto faltava em sua relação com
Milo. Ela bem se lembrava de sua primeira vez com Poncho, na
adolescência. Ambos tinham dezessete, Anahí deu o primeiro passo, porque
a perda da virgindade é algo mais marcante para a mulher. Ela deixou claro
para Poncho que queria porque sabia que bastava o sinal verde para que ele
quisesse também. E ela soube que queria porque seu corpo a denunciou, foi
algo que veio de dentro, quando a vontade passou a ser maior do que o
medo e a insegurança. De alguma maneira, treze anos depois, ali ela sentia
mais forte o desejo por Poncho e a força para recuperar aquele lado seu do
que o trauma causado pelo sequestro e pelos abusos que sofrera. Ela sabia
que uma hora teria que enfrentar aquela barreira. Pelo visto, a hora tinha
chegado.
— Você realmente ficou com frio – Poncho comentou olhando-a ao entrar
no quarto. Carregava alguns pedaços de madeira seca que Anahí
rapidamente constatou que ele usaria como lenha.
Oh, eu nunca soube que era você quem estava esperando por mim
Ela ainda estava com os olhos ansiosos procurando por ele, mas sem a
coberta envolvendo-a. Poncho se sentou ao lado, com tudo na ponta da
língua. Precisava convencê-la de que o desejo não diminuiria pela espera.
Não havia nada que o fizesse desistir daquela mulher. Se o sentimento tinha
sobrevivo a uma suposta morte dela por oito anos, sobreviveria a qualquer
coisa. Ela apenas precisava saber.
— Any...
— Você me fez me sentir assim – Anahí continuou – Você me fez ver que
medo eu sempre teria, sempre terei... mas eu preciso enfrentar pra saber o
que vem depois. Eu gostei de ter boiado. Gostei de sentir o ar gelado
entrando em mim, de ouvir só o barulho da natureza lá fora. Eu não teria
feito isso se tivesse continuado me levando só pelo medo.
— Eu não tenho camisinha – ele confessou. Era sua última cartada, algo
que, de fato, era uma preocupação – Eu não planejei... e nós não podemos...
— É claro que eu quero – Poncho segurou o rosto dela com carinho – Não
tem uma maneira que eu não te queira Any. Não inventaram.
Ela sabia exatamente qual frase estava faltando ali. Qual frase tinha sido
dita com naturalidade por anos a fio, fosse pessoalmente, por escrito, por
telefone... e agora ela se dava conta que, desde seu retorno, desde o início
daquele recomeço, não a havia dito nem uma vez. Já passava da hora.
— Eu não farei – Poncho roçou o nariz no dela, passando por seu pescoço.
Anahí sentiu os olhos fecharem no automático quando o calor do hálito dele
tocava sua pele – Eu nunca deixei de amar você. Nem por um minuto. Eu
desisti de tentar te esquecer...
Estava.
Descalços na grama
Poncho não respondeu. Não havia mais o que ser dito. Agora, ele precisava
agir. Então simplesmente levantou e pegou Anahí nos braços, tirando-a do
chão, vendo-a sorrir com sua delicadeza. Era assim que ela precisava se
sentir: amada. Colocando-a no colchão e vendo o olhar de expectativa de
Anahí para ele, Poncho se deu conta de que não sabia sequer por onde
começar. Quando eles tiveram a sua primeira vez treze anos atrás, ambos
eram inexperientes. Eles descobriram juntos. Não havia um mundo de
traumas por trás dela. Mas agora havia e o fazia não saber como proceder.
— Eu não acho que consiga fazer isso sozinho, tem que ser nós dois –
Poncho mordeu os lábios – Vou perguntar algo delicado e não pense que vai
ser fácil pra mim ouvir... mas eu preciso de um norte, então... o que ele
nunca fez com você?
Mas mesmo sem entender a razão de ser da pergunta, ela não se acovardou
em dar a resposta.
— Ele sempre quis ser você – ela completou, recebendo um olhar surpreso
da parte de Poncho – Mas nunca conseguiu. Então seja você e será o
suficiente... eu acho.
A primeira coisa que Poncho fez foi levantar a própria camisa. Era curioso
lidar com Anahí naquela situação porque os olhos dela corriam para os
detalhes do corpo dele, desde a base da camisa, revelando sua barriga, até
os braços. O rosto dela rapidamente enrubesceu e ele lembrou da conversa
no Natal, quando se encontraram na porta da casa de Karen e Anahí admitiu
que queria vê-lo sem o suéter. Ela agora via. Poncho por isso estendeu sua
mão e a convidou a se aproximar, vendo o receio sair pouco a pouco de seu
corpo quando os dedos tocaram seu peito. Eles ganharam agilidade
conforme redescobriam o peitoral dele. Anahí parecia demais com a
adolescente que tinha sido um dia e da qual Poncho ainda se lembrava.
I found a lover
Eu encontrei um amor
Poncho, obviamente, tinha um receio de tocar Anahí. Ele sabia que ela
estava dando carta branca para os dois, para que as coisas acontecessem e
fluíssem naturalmente, mas era inevitável sua insegurança. Anahí
rapidamente juntou as peças e percebeu que não apenas ele não tiraria uma
peça sequer de roupa sua, como também provavelmente não avançaria. Ele
estava sendo gentil. Ela precisava avançar, se quisesse que eles chegassem a
algum lugar.
Logo ela se deu conta de que ele estava. Não tinha como não estar. Como
no passado, Poncho a segurava pela cintura e balançava seu quadril
conforme encaixava o seu. Anahí sentia a ereção dele bem firme, tocando
sua pélvis. Ela estava completamente febril com aquele toque íntimo,
sentindo o prazer se construir pouco a pouco. De repente não era a lareira
que esquentava o quarto, eram eles. Foi o que a fez perceber que, talvez,
eles estivessem com roupa demais ainda, ela especialmente. Por isso Anahí
repetiu o gesto que viu Poncho fazer logo antes: começou a subir a própria
blusa. Como estava sem sutiã, os seios pularam para fora revelando sua
nudez.
Era a primeira vez que ela ficava nua na frente de um homem desde...
então. E o olhar que Poncho lhe lançou não poderia ser mais diferente do
que ela se acostumou a receber de Tobias. Poncho a olhava como ela olhava
para ele. Como se olha para uma coisa que não se vê há muito tempo. Havia
carinho, mas também havia desejo. As diferenças começavam ali e não
iriam parar.
Anahí não sabia exatamente o que ele queria com aquilo, mas se deixou
levar. Poncho deitou na cama e guiou-a pela mão a fazer o mesmo, deitando
por cima dele. Sem pestanejar, Anahí fez exatamente aquilo, sentindo as
bochechas esquentarem conforme seu corpo se encaixava no dele. Para
Poncho, a sensação dos seios dela pressionarem seu peito foi o mais perto
de uma morte deliciosa que ele poderia imaginar. Logo ele viu Anahí tirar a
calça abrigo que usava e, em seguida, tentar fazer o mesmo com a dele. Foi
quando ela viu o volume do pênis dele por cima da cueca e sentiu o rosto
pegar fogo. Ao mesmo tempo que a reação tomou seu corpo, negou com a
cabeça, odiando se sentir como uma adolescente.
Ela deitou. Era incrível como, tanto tempo depois, os corpos dos dois se
encaixavam tão bem. Não demorou nada para que Anahí entendesse o que
estava por trás daquela ideia de Poncho: colocando-a sobre o corpo dele, ela
não se sentiria sufocada ou amordaçada. Poncho não tentava nada, apenas
segurava com poucos dedos o quadril dela, por vezes os dedos raspando na
calcinha de renda que Anahí usava. Ela via as reações dele quando
acontecia, o modo como os olhos dele pareciam rolar de tesão, e aquilo a
excitava de volta. É claro, boa parte daquele componente que fazia seu
sangue correr quente nas veias era o fato de sentir o pênis dele bem duro no
meio de suas pernas. A estimulava. E com isso, os movimentos dos dois
eram quase que naturais. Os corpos dos dois se encaixavam sozinhos e a
natureza seguia seu curso.
— Poncho, eu... – a respiração dela estava tão falha quanto era possível –
Eu acho que estou... acho que to... perto...
— É que... tem tanto... tanto tempo que eu... – Anahí mal conseguia
completar a frase. Estava totalmente ofegante... – Que eu não...
— Isso foi... – a voz de Anahí seguia meio falha, meio perplexa. Poncho só
sabia sorrir.
— Foi tão bom que eu nem me lembrava – ela respondeu antes de dar um
beijo apaixonado nele. Um beijo repleto de alívio.
Descalços na grama
Looking so beautiful
Para Poncho era o suficiente por uma noite, por todo um dia. Ela tinha
aceitado viajar com ele, não tinha se deixado levar pelo medo por eles irem
sozinhos por alguns dias no meio do nada. E logo no primeiro dia ela
ignorou a velha predileção pelo verão e se jogou no lago naquele frio que
fazia. Depois, deixou que ele a ensinasse a boiar, lhe deu um beijo que
desafiava a temperatura da água e agora estava ali, reaprendendo a ter
prazer bem em cima dele. Eram avanços demais. Poncho achou que ter
mais do que isso seria exigir demais dela, por isso, quando Anahí caiu para
o outro lado da cama, ele fez menção de levantar. Se surpreendeu quando,
em suas costas, Anahí segurou sua mão.
— Ah, não me diga que você vai pra aquele chuveiro perder essa ereção –
ela negava com a cabeça sem acreditar – Poncho, não é justo.
— Nada é justo Any – Poncho devolveu – Não é justo que nós tenhamos
que fazer tudo isso pra que você não se assuste automaticamente. Não é
justo que ele tenha roubado tanto de nós, oito anos de nós, mas aqui
estamos, e a culpa não é minha, nem sua, por isso... por isso eu vou aceitar
o nosso pequeno progresso e tentamos novamente amanhã.
— Eu não quero parar – ela anunciou. Pelo seu tom de voz, parecia ter cem
por cento de certeza – Eu não quero tentar amanhã. Eu quero agora.
— Any...
— Não, não venha com "Any" pra cima de mim – Anahí disse – Sim, eu
tenho medo. Sim, eu sei que perdemos muito e sei que vai ser difícil. Mas
foi você quem me deu esperanças novamente. Você começou com isso
quando me ensinou a boiar mesmo achando que iria me afogar. E agora
você acha que eu vou, mas eu não vou Poncho... eu não vou.
— Você tem certeza disso? – ele respondeu se virando de vez para ela e
mordendo os lábios – Você não vai se arrepender...?
A resposta que Anahí deu não era exatamente o que ele estava perguntando,
mas de toda forma...
Looking so beautiful
Poncho não conseguiu não sorrir ao vê-la assim. Caminhando pela cama,
ele se sentou na beira mordendo os lábios e tirando a cueca, vestindo a
camisinha em seguida. Ele sentiu o movimento dela por trás e as mãos dela
logo tocaram seus ombros, sua respiração encostou em sua nuca, fazendo-o
arrepiar. Ele pensava sem parar que precisava ter todo o autocontrole do
mundo para ir com calma, mesmo sabendo que tinha quase nove anos que
não tocava naquela mulher e que, se ela costumava ser sua perdição, o
decurso do tempo tornaria tudo ainda pior.
— Você vem por cima de mim... – Poncho propôs, mas logo a viu negar.
— Não – Anahí disse com todas as letras – Eu quero sentir o seu peso.
Quero que você me ame da forma mais tradicional e piegas que a gente
conhece... a primeira com a qual você me amou, quando eu ainda era uma
garota.
— Você vai se assustar se fizermos assim – ele alertou – Eu não quero que
você se lembre dele enquanto estiver comigo.
— Eu sei que você consegue me fazer não me lembrar de nada – ela beijou
o queixo dele e depois sua orelha – Anda, vem.
Agora era Anahí quem guiava tudo. Ela deitava na cama, sussurrando que
Poncho deveria tirar sua calcinha. É claro que vinham imagens na cabeça
dela, imagens nada boas... mas para cada uma delas Anahí tentava construir
novas lembranças. Poncho ajudava, é claro, mesmo sem saber. Quando ele
tirava a calcinha dela o fazia beijando seu quadril, suas pernas, alisando a
pele entre suas coxas, eliminando a memória desconfortável daquele
homem que no passado não tão distante puxava uma peça de algodão a
ponto de machuca-la para penetra-la em seguida com a mesma falta de
delicadeza de sempre.
Poncho, não. Ao vê-la nua de novo ele contemplou. Sentiu as mãos dela
passarem delicadas por seu abdômen, rindo dizendo que ele não tinha um
tanquinho. Ele se posicionou para penetrar nela mas antes fez questão de
estimula-la com os dedos, garantindo que ela estava pronta. E quando
ajeitou o pênis próximo à entrada dela, por alguns segundos viu o olhar de
Anahí estar prestes a demonstrar seu pavor, ele hesitou. Mas logo em
seguida percebeu que precisava encontrar uma maneira de fazer com que
eles fossem até o final. Por ela. Por eles.
— Any, Any, ei – Poncho segurou o rosto dela – Sou eu aqui. Somos nós.
Anahí sabia que eram eles. Sua mente sabia, mas seu corpo, seus sentidos...
não. Poncho tinha certeza que ela precisava mais do que saber, precisava
que aqueles sentidos estivessem focalizados nele. Era isso ou nada daria
certo.
— Olhe pra mim – ele pediu – Apenas olhe pra mim...
Poncho não parou. Pelo contrário, ele se enterrou nela, mesmo devagar,
sentindo cada pedaço da boceta dela comprimindo seu pênis. Em outras
circunstâncias ele a elogiaria de todas as formas possíveis e impossíveis,
diria que continuava gostosa e quente, mas naquele momento não cabia. Ele
deixou seus instintos de lado quando envolveu as pernas dela nas suas e
começou a se movimentar, vendo novas lágrimas brotarem de seus olhos
azuis. Estocava devagar, ditava o ritmo dos dois, sentia o suor de ambos se
acumulando e os seios dela apertando seu peito mais do que nunca, o corpo
dela se comprimindo sobre o seu e apenas dizendo o quanto sentira a falta
dela, o quanto suas peles se encaixavam e nada mais conseguia ser igual
àquilo.
Nada era mentira. Poncho naquele momento descobria que amava Anahí
mais do que a desejava, porque aquele desejo estava trancado em seu corpo
pelo nítido sentimento de que deveria ir no tempo dela. Sabia que ela
chorava cada vez mais mas não sabia o motivo, se era pelas lembranças que
vinham à tona ou pelo que reconstruíam. Mas aos poucos ela se desinibia,
segurando-o com mais força, se mexendo com mais vontade e por vezes,
colocando um sorriso no meio daquele choro. Isso lhe deu uma certa carta
branca para aumentar os movimentos, aliviado por estar dentro dela de
novo, próximo à boca dela. De alguma maneira o beijo de Anahí ficava
mais gostoso quando ele estava penetrando-a daquele jeito e ele se sentia
embriagado por ter tudo de volta: o cheiro dela, seus olhos azuis intensos,
sua pele pegajosa, o modo como os corpos dos dois se conheciam, se
reconheciam, e como tudo voltava a ser como antes, só que melhor. Porque
agora eles sabiam o que tinham perdido. E sabiam que tinham se
reencontrado e que aquilo era mais.
E as mesmas sensações que ela teve antes com a pélvis friccionando o pênis
dele, ainda por fora, se repetiram ali. A boceta dela tragou o pênis dele e o
apertou até o limite até que ela explodisse no orgasmo, pulsando
continuamente. Anahí soltou um suspiro de alívio e voltou a falar tudo o
que ele não entendia. Curiosamente, era quando ela ficava incompreensível
que Poncho a entendia melhor, sabia que ela estava bem, que ela estava
feliz e satisfeita e que novamente, eles voltavam a ser totalmente um do
outro. E que mesmo algumas lagrimas tendo caído no processo, valia a
pena, porque se antes o sexo lhe lembrava uma violência, agora parecia
muito mais com o prazer.
— Obrigada – ela o segurou pela barba, sorrindo boba – Eu sabia que tinha
que ser com você.
— Agora é a sua vez – Anahí anunciou – Eu vou ficar ofendida se você não
quiser gozar em mim.
— Digamos que não vai ser nenhum sacrifício – ele riu mordendo os lábios.
Se fosse para ser, seria totalmente colado nela. Corpo no corpo, boca na
boca. Poncho fez questão de beijar Anahí e de segurar suas pernas,
novamente enroscadas nas dele, antes de voltar a estocar dentro dela. Agora
os braços dela envolviam seu pescoço, sentindo a pele úmida pelo suor de
suas costas sem se importar. Eles cheiravam a sexo, o quarto inteiro
cheirava e isso só o excitava mais. Depois do novo orgasmo Anahí ficou
ainda mais escorregadia por dentro, gozar duas vezes a deixou assim, então
ele tinha livre passagem para deslizar para ela e sair em seguida, fazendo e
repetindo e arrancando os suspiros de uma mulher que ainda estava
sensível. Não por tanto tempo assim, já que a explosão dele não demorou a
vir: dentro dela, segurando sua bochecha, sussurrando que a amava. Como
deveria ser. Como sempre deveria ter sido.
Dessa vez Anahí não precisou manter os olhos abertos e não houve novas
lágrimas. As de antes já jaziam secas em seu rosto e apenas o sorriso
sobrou. As lembranças do passado poderiam existir em sua cabeça mas não
em seu presente. Elas tinham sido substituídas por outras, mais intensas e
mais verdadeiras, construídas por e com amor. Lembranças de felicidade e
reencontro nos braços de quem ela sempre quis estar.
Beijos,
Rafa
Capítulo 52 - In danger
Quando Anahí acordou ela se deu conta de que já tinha séculos desde a
última vez que acordava exposta a um frio daqueles. Pudera, ela tinha sido
trancafiada em um porão quente e abafado por quase uma década e após o
fim deste período, resgatada justamente no verão. Em Nova York o inverno
ainda não tinha chegado com força como estava começando a chegar ali.
Curiosamente no dia anterior Anahí estranhou não nevar, mas ao olhar para
a janela viu que não era mais o caso.
"Rolou".
— Não – Maite negou contendo sua reação – Nada, é só... uma coisa.
A resposta de Anahí – que também sorria tanto quanto cabia no rosto – não
demorou nada a vir. "Estou com um pouco de dificuldade de digitar porque
ele ta totalmente colado em mim. Mas eu tenho que dizer que nem lembrava
mais como era me sentir assim. To com tantas, mas tantas partes do corpo
doloridas... mas acho que quero me sentir assim o resto da semana. Esse
tipo de dor vale a pena sentir".
— Não era a isso que eu tava me referindo – ele franziu a testa, finalmente
abrindo os olhos e vendo-a sorrir.
— Eu sei que não – Anahí fez uma careta – Eu estou... não sei, diferente.
— E isso é bom?
— Nessa história toda você acabou esquecendo que eu sou uma mulher que
gosta de ser satisfeita – Anahí devolveu totalmente provocante – E você me
satisfez ontem... de uma maneira que eu nem lembrava mais. Afastou
muitos fantasmas de mim. Eu me sinto mulher de novo.
— Será que posso te fazer mulher de novo? – ele mordeu os lábios já
começando a subir por cima dela – Ou seria pedir demais...?
— Será que pode ser depois de tomar café da manhã? – Anahí fez uma
careta – Eu estou faminta.
Ele quase tinha se esquecido que ela tinha toda a fome do mundo de
manhã... na verdade em todas as horas do dia, mas de manhã mais ainda.
Poncho riu, negando com a cabeça e imediatamente fazendo do desejo dela
uma ordem. Logo ele estava em pé na cozinha, preparando sanduiches com
frutas e iogurtes, o café da manhã que ela gostava – embora soubesse que
provavelmente meia hora depois Anahí reclamaria que queria café preto.
Ela era dependente de cafeína, Poncho lembrou enquanto cortava morangos
e jogava sobre o iogurte. Quando caminhou de volta para o quarto viu uma
Anahí esparramada na cama, os cabelos jogados pelo travesseiro, com um
sorriso nos lábios e os dedos digitando uma mensagem para Maite.
Uma resposta para a pergunta dela: "Por que você ainda não me contou
absolutamente TUDO?".
— O que você...
Mas ele não respondeu. Apenas digitou a resposta ("Porque ela está
ocupada com o segundo round. Depois ela te conta tudo. Poncho") e
enviou antes que Anahí pudesse impedi-lo. Mas ela não estava brava. Pelo
contrário... estava rindo.
— Não queria não – Poncho negou – Você queria ficar aqui, sozinha
comigo que eu sei.
— É – ela reconsiderou – Digamos que eu prefira.
— Vamos alimentar você então – ele sorriu após constatar que estava certo.
Anahí era o tipo de pessoa cujo humor dependia do estômago. Ali estava
ela, entusiasmada com uma bandeja de café da manhã, fazendo Poncho
sorrir por toda a sua espontaneidade. Logo eles não estavam mais um de
frente para o outro e ela devorando o café da manhã. Conforme a bandeja
foi se esvaziando, Anahí estava entre as pernas dele, sentada em seu peito, o
peso jogado sobre seu corpo.
— Você e essa sua boca – Poncho riu – Nevou. Não há muito a fazer lá
fora, a não ser...
— Bonecos de neve? – Anahí franziu a testa rindo. Não era bem o que ela
tinha em mente e, pelo visto, nem ele.
— Eu acho que temos coisas mais interessantes pra fazer dentro desse
quarto – ele respondeu mordendo a orelha dela.
Poncho sabia que não era porque Anahí tinha se entregado na noite anterior
que ela tinha voltado a ser como era quase uma década atrás. Aquela Anahí
não tinha fantasmas e ele tinha certeza que não tinha exorcizado todos da
atual. Por isso a lógica que dava certo seguia: mordia a orelha dela
deliberadamente enquanto a mão escorregava por dentro daquela blusa de
pano mole que ela usava e dava caminho livre para seus seios. Ela precisava
se excitar aos poucos e era isso que ele iria fazer.
Ela não acreditava que ele poderia, mas Poncho sempre aceitava o desafio.
Exatamente por isso ele saiu daquela posição e botou Anahí à sua frente,
tirando a blusa dela sem deixar chance para arrependimentos. Rapidamente
a boca roçou em seus seios e Poncho os abocanhou, apenas ouvindo os
gemidos dela. Tinha certeza de que Anahí fechara os olhos enquanto a
cabeça caíra para trás de tesão. Ele só sentiu os dedos dela em seus cabelos
e apertando-os. Era uma bela prévia do que estava para vir, já que, se ele
conseguia tanto com tão pouco...
— Ei, escute – Poncho disse após deixar os seios dela para trás. Ambos
estavam vermelhos dado o tempo que ele lhes havia dedicado – Sou eu
aqui. Se em algum momento você esquecer disso por qualquer motivo que
seja... abra os olhos e você me verá.
— Eu não vou transar com você o dia inteiro – Anahí ria, mas Poncho
conhecia o apetite sexual dela e isso dizia o contrário...
E eles faziam. Eles fizeram. Poncho sabia que ainda não era o momento
para um sexo duro e forte, mas eles chegariam lá. Dessa vez ele, após despi-
la, puxou Anahí para o seu colo. Achava arriscado demais continuar
transando por cima dela e pudera, ela sempre gostou daquela posição. O
sorriso travesso que viu nascer em seus lábios disse por si. Anahí deixou
que as pernas envolvessem a cintura dele e a natureza fez o resto com seus
corpos se encaixando. Ela deu um grande gemido quando sentiu o pau dele
entrar em sua boceta e agradeceu aos céus por estar excitada o suficiente
para que Poncho deslizasse dentro dela.
— Isso, isso... – ele gemeu – Boa menina... rebola em mim, meu amor.
— Então goza dentro de mim – ela pediu – Goza até você se acostumar
comigo de novo...
A frase sequer foi completa. Poncho sorriu sentindo a boceta dela friccionar
seu pau e aperta-lo mais ainda, enquanto o corpo dela estremecia. Anahí
grudava nele para, em seguida, relaxar e se jogar sobre o seu corpo, a
respiração indo do mais agitado para algo ofegante. Antes inquieta, depois
tranquila e sorridente.
Neste caso, ela tinha certeza que, tal como ela, Poncho estava muito, mas
muito satisfeito.
xxx
Enquanto em quarto de uma cabana em Vermont, Anahí e Alfonso
alcançavam o mais perto do paraíso, em Nova York, mais precisamente em
uma simpática confeitaria no Brooklyn, a realidade chegava a estapear.
Chad.
Ajudado, é claro. Porque agora Jesse sabia onde tinha errado, e não estava
disposto a repetir.
— Nós não nos vemos há muito tempo – Chad continuou – Então eu pensei
em fazer uma visita, espero que não tenha problema.
— Não, não tem – Sophia respondeu negando, dando a volta no balcão para
encontra-lo e dar um abraço – Então, como você está?
Era evidente que ela estava sem graça, sem saber como reagir. A última vez
que tinha visto Chad tinha sido através de um ultimato para que ele ficasse
fora da vida dela caso não concordasse com os seus rumos. Chad tinha
surgido naquele momento para demonstrar sua discordância com o fato de
que Sophia estava prestes a reatar seu relacionamento com Jesse. Ele queria
ser uma lembrança de que, se não tinha dado certo da primeira vez, tinha
tudo para nunca dar certo. Mas o que Sophia fez foi afasta-lo e, em seguida,
cair nos braços de Jesse de novo. Chad acabou percebendo que tinha dado
vários passos para trás, então estava ali com o objetivo claro de voltar a
marcar pontos.
— Eu... estou bem – ele disse cortês – Mas acho que não tanto quanto você.
Soph, você está noiva. E eu... descobri pelo Instagram.
— Todo mundo descobriu – ela riu negando com a cabeça – Exceto minha
mãe, é claro. Eu liguei pra ela antes de anunciar. Você não está chateado,
não é?
— Ele está te fazendo bem? – Chad perguntou, vendo-a assentir – Não está
te machucando de novo? Porque essa é a minha única preocupação. Eu
quero ver você feliz Soph.
— Ele me faz muito feliz – Sophia garantiu sorridente – Nós somos uma
família.
— Então está tudo bem pra mim – Chad confirmou – De verdade. Parabéns.
O que quer que Chad e Sophia conversassem, qualquer que fosse o rumo
daquela conversa, não agradava Jesse nem um pouco. Ele tinha os olhos
fixos na noiva e em seu suposto amigo, acompanhando cada olhar que Chad
lançava para ela, esperando que ele desse qualquer passo em falso para a
máscara cair... mas nada acontecia. E nesse meio tempo, todo mundo que
entrava na confeitaria, ele levantava o rosto. E numa dessas vezes, Jesse se
deparou com a última pessoa que esperava ver ali.
Quando Sophia viu Lívia tirando Samantha a todo custo dali ela estranhou,
a princípio sem entender. Levantando o rosto em meio à fala de Chad, seus
olhos alcançaram Jesse, já que o primeiro raciocínio a fez pensar que o
noivo estava prestes a interromper a conversa dos dois... mas não era nada
daquilo. Jesse olhava fixamente para outro lugar, para outra pessoa. E
quando ela procurou a direção que ele encarava, se deparou com a imagem
que explicava tudo e na qual ela não conseguia acreditar.
Tobias Menzies.
Ninguém entenderia...
Só que, antes que ela pudesse ter qualquer tipo de reação, Jesse, após ter
certeza que Samantha não estava mais ali, avançou para Tobias de uma
forma tão decidida que Sophia teve certeza que ele não deixaria nada
sobrar.
Por sorte – de Tobias, provavelmente – Chad foi mais rápido. Jesse estava
cego de raiva, com sangue nos olhos e já estava pronto para surra-lo se
possível até a morte. O que não esperava era que o rival fosse praticamente
correr para impedi-lo, certo de que ele cometeria um erro enorme se fosse
deixado chegar até o final. O que Sophia e todos os clientes e funcionários
viram foi Jesse caminhando a largos passos para agredir um cliente e o
homem que ele mais detestava até então se tornar o segundo mais detestado
– e justamente aquele que o impediria de ir até o fim.
— Ora ora, é assim que vocês tratam os seus clientes? – a voz arrastada de
Tobias parecia mais irônica do que nunca – Eu não sabia.
— Seu desgraçado – Jesse urrou – ME SOLTA!
— Ela tem uma ordem de restrição – Sophia lembrou, ainda atrás de Jesse,
mas definitivamente encarando Tobias sem qualquer sombra de medo –
Você não pode chegar a cem metros de onde ela está.
— Exatamente por isso que estou aqui hoje – Tobias disse calmamente –
Ela está viajando, não é? Não tem perigo algum então, eu não violo decisão
alguma.
Chad achou que Jesse fosse explodir. Teve que fazer o dobro de força para
mantê-lo ali. Já Sophia sentiu um enjoo forte tomar conta de seu corpo. Era
óbvio, Tobias sabia cada passo de Anahí. De alguma maneira ele estava
vigiando-a e só tinha ido ali porque sabia que ela não estaria, que estava
viajando com Poncho. Era possível que ele soubesse até mesmo onde os
dois estavam. E aquilo colocava toda a situação num nível sem precedentes,
que nenhum deles poderia imaginar.
Então era hora de agir. E como Jesse estava insano, era Sophia quem teria
que fazer.
E ela fez. Caminhando até Tobias em passos largos que Jesse não poderia
impedir, ela pegou o bule de café que tinha em mãos e despejou na calça de
Tobias.
— NÃO OUSE FALAR ASSIM COM ELA! – Jesse gritou violento, mas
Sophia não se acovardou. Pelo contrário... ela ainda peitava Tobias.
— Não estou com medo por mim, e sim pela Any – Sophia disse mordendo
os lábios – Você o ouviu. Ele está controlando os passos dela, e isso... é
repugnante.
— Vocês precisam tomar cuidado – Chad recomendou – Já deu pra ver que
esse cara vai se valer de quando ela não estiver por perto para intimidar...
— Que bom que eu segurei então – Chad alfinetou fazendo uma careta –
Porque não resolveria nada, honestamente.
Mas a paz era real em Vermont. Maite sentiu isso quando viu as mensagens
de Anahí naquela manhã. O ímpeto de dizer a verdade foi interrompido pela
certeza de que não tinha o direito de estragar a felicidade da amiga. Não era
justo.
— Mais sério do que nunca – a morena sorriu – Mane, eu sei que você ta
preocupado, mas ela ta nas nuvens. Nós não podemos tirar isso dela.
— Ele não vai – Christian insistiu – Ele pode saber onde ela está, mas quer
intimidar. Quer se mostrar no controle. Se nós dissermos ao Poncho e
deixarmos os dois com medo, faremos o jogo dele. Os dois estão bem e
provavelmente vão transar o resto dessa viagem. Ela já ficou oito anos sem
orgasmos, Deus sabe que ta precisando.
E estava mesmo.
Depois dessa chuva de amor (e de outras coisas) de AyA, eis que o the
monio chega em grande estilo mais vivo do que nunca... e pelo visto
sabendo mais da Anahi do que todo mundo esperava.
E aí?
Perguntassss! Me respondam!
Beijos,
Rafa
Capítulo 53 - Other memories
Poncho e Anahí ficaram mais uma semana em Vermont, até depois do Ano
Novo. Todos os dias ela o via pegar o celular à noite, ligar para Daniel e
argumentar de diversas maneiras as razões pelas quais não estava indo para
Boston visitar o filho. Anahí o ouvia com o coração um tanto apertado já
que testemunhava Poncho meio que mentir para o menino, já que ele não
dizia onde estava, muito menos com quem. De certa forma, por mais que
Poncho evitasse magoar o filho admitindo que seu casamento com sua mãe
tinha terminado, acabava por alimentar aquela expectativa pelo tempo que
não voltava.
Foi no segundo dia do ano. Por mais que ambos estivessem tristes por saber
que teriam que voltar para a vida real, estavam com a boa dose de felicidade
causada por todos aqueles dias que passaram ali. Anahí não parecia tão
incomodada assim, já que ainda estava em transe pelos dias que eles
passaram ali. Era uma lição: não ficar triste pelo que os esperava, mas sim
esperar pelo que ainda viveriam mais para frente.
— Também – ele concordou – Mas você cabe nisso. Quer dizer... se um dia
a Diana reconstruir a própria vida e conhecer outra pessoa, ele não será
parte da vida e da família do meu filho? Por que você ficaria de fora?
— Porque esse cara não destruiu a família do seu filho – ela suspirou
pesarosa pela primeira vez em dias. Poncho, por outro lado, não parecia
disposto a deixa-la se abater.
— Deixe de ser boba – ele segurou o rosto de Anahí sorrindo – Você não
destruiu a família dele. Como você mesma disse, Diana e eu sempre
seremos a família do Dani, juntos ou separados. Ela é uma boa mãe e eu sei
que vai saber levar tudo de uma boa maneira porque ele é o que realmente
importa entre nós. E eu sei que o meu filho vai aprender a te amar... é
impossível não aprender a te amar.
A viagem de volta foi tão animada quanto a de ida. Poncho dirigia com
mais cuidado porque agora, nevando, a pista estava mais escorregadia, mas
os dois não tiveram problemas em chegar em Nova York. Anahí olhava a
janela vendo as paisagens, os arranha-céus, as miragens que tanto gostava e,
mesmo sabendo que Poncho e ela ficariam alguns dias separados, sem se
verem, não conseguia ficar triste. Depois daquela semana ao lado dele e
isolada do mundo, como se nada mais existisse, tudo o que passava em seu
peito era gratidão.
— Eu não qu...
Não houve tempo para resposta. No minuto seguinte era o celular dela que
tocava em seu bolso e dessa vez era Karen quem ligava. Anahí franziu a
testa já começando a ficar apreensiva. Afinal, se ambos os pais estavam
procurando por eles, algo devia ter acontecido.
Obviamente Poncho não se opôs, ele estava tão curioso e apenas um pouco
menos apreensivo que Anahí. Sabia que Karen não atrapalharia a
intimidade e a rotina da filha por qualquer motivo, Keith menos ainda. Eles
não tinham apenas ligado para Anahí, tinham mandado mensagens para
Poncho indicando que algo estava errado. E Poncho nem conseguia
imaginar o que poderia ter acontecido, apenas ficava tenso imaginando e
sentindo a tranquilidade daqueles últimos dias evaporar, escorrer entre seus
dedos. Ele mudou o caminho e seguiu para o já conhecido trajeto até a casa
da sogra, torcendo para o que quer que fosse, não ser grave o suficiente para
minar sua pretensão de ir para Boston naquela noite e deixar Anahí sozinha.
Tão logo Poncho estacionou do outro lado da rua da casa de Karen, Anahí
viu Arthur parado na porta da filha, os braços cruzados e a expressão
aborrecida. Antes que ela pudesse ter qualquer reação, já foi capaz de ouvir
o que o avô disse.
— Karen! Eles chegaram! Venha ver com os seus próprios olhos pra parar
de se apavorar...!
Mas bastava de especular. Quando Anahí chegou na porta ela estava aberta
mas o avô não estava mais ali. Karen, por outro lado, ao lado de Ellie,
esperava a filha na sala e não tardou a abraça-la assim que os dois
colocaram os pés ali. Anahí viu os avós e o pai parecerem tensos em sua
frente enquanto era envolvida pela mãe, sem saber que Poncho ficou mais
ainda ao perceber a expressão de todos.
— Já disse que ela está bem Karen – Arthur resmungou com a filha mais
uma vez – Não precisava disso tudo.
Anahí rapidamente sentiu uma fraqueza nas pernas. Por sorte Poncho estava
atrás dela, notou o impacto da informação em seu corpo e a segurou pelos
ombros, evitando que ela caísse. Mas tinha sido um baque inegável. Anahí
sequer sabia exatamente o porquê daquela sua reação: se era o medo do que
Tobias poderia fazer, o temor de um novo sequestro ou a repulsa pela ideia
dele estar vigiando-a. Será que ela nunca estaria livre daquilo?
E uma vozinha em seu cérebro deu o tom da resposta: estaria livre, quando
Tobias não estivesse mais... a liberdade dela dependia da prisão dele. Era
óbvio.
— Como ele poderia saber onde nós estávamos? – Poncho franziu a testa e
cruzou os braços, obviamente incomodado – Praticamente ninguém sabia
além de vocês e dos nossos amigos. Eu não disse sequer aos meus pais.
— Nós não sabemos Poncho – Keith continuou – Mas pelo que o Jesse
disse, ele só apareceu por lá porque sabia que a Any não estava na cidade. E
deu a entender que sabia também pra onde vocês tinham ido.
— Isso é impossível – Poncho insistiu – Ele estava blefando. Ele quer nos
deixar em pânico.
— Eu não sou uma prisioneira mais – Anahí devolveu – Ele me trancou por
oito anos, foi tempo demais. Não vou parar de viver a minha vida por causa
dele.
— É um risco – Keith alertou – Você tem certeza que está disposta a corrê-
lo?
— Ele não vai me sequestrar de novo bem debaixo do nariz de todo mundo
– ela ponderou um tanto segura. Ellie e Karen a olhavam abobadas: de onde
tinha saído aquela tranquilidade toda? – Ele sabe que está sendo vigiado e
que basta um estalo pra que seja preso de novo. Ele quer me deixar com
medo e eu não vou deixar que ele me tire o pouco que me restou, o que eu
to recuperando. Não vou.
— Entenda querida – Ellie insistiu – Talvez ele não tenha tanto a perder. Ele
é obcecado, imagine se ele decide te tirar de nós e simplesmente te matar?
Neste caso será que importaria se ficasse o resto dos dias preso...?
— Por que vocês não nos disseram? – Poncho questionou – Isso aconteceu
ontem? Hoje?
— O que eu me pergunto se foi uma boa coisa, porque a Karen não tem paz
desde então – Arthur deu de ombros.
Poncho até pensava em algo, mas não era o mesmo que ela, definitivamente
não.
— Não – Anahí devolveu tão decidida quanto – Você tem que ir Poncho.
Você precisa resolver as coisas com a sua família.
— Tento sim – ela insistiu – Você precisa encerrar tudo com a Diana. Você
deve isso a ela, deve isso ao Dani. Ele ta com saudade de você e precisa de
um norte nisso tudo. A Diana merece uma conclusão. Você não pode
continuar adiando.
— Mas...
É claro que Poncho não tinha toda a segurança do mundo naquela promessa
dela, muito menos que tudo ficaria apenas bem. Mas ao mesmo tempo,
ponderava as coisas que Anahí tinha dito, os fatores que ele até então
ignorava. De um lado, o medo de não estar junto dela e a história se repetir.
De outro, a família que o esperava em Boston, o ponto final que ele sabia
que precisava dar. Por Diana. Por Daniel.
— Tudo bem – Poncho bufou, se decidindo, mas completamente insatisfeito
– Você me garante que vai ficar dentro de casa quietinha?
— Uhum...
Valeria a pena.
xxx
— Você viaja pela minha companhia aérea e acha que eu não vou
descobrir? – ela cruzou os braços com ar de deboche – A comissária do seu
voo é minha amiga, ela te viu e mandou uma mensagem, simples assim.
— Eren, o que tem pra contar? – o rosto de Poncho corava – Você já deve
ter presumido tudo.
— Eu não sei irmãozinho – ela deu um tapinha nele – Você passou uma
semana com ela no meio do mato, imagino que os fantasmas já devam ter
sido espantados. Acertei?
Diana não sabia que o marido estava indo para Boston naquela noite. Ela
simplesmente não tinha ideia de quando Poncho chegaria à cidade para que
eles resolvessem as coisas. Como tudo demorava e Erendira não tinha lhe
dado qualquer pista do que o irmão fazia em Nova York naquele período,
ela apenas esperava sem saber se tinha mesmo algo pelo qual esperar. Não
sabia o que aconteceria com seu casamento, o que estava reservado para ela
e Poncho. Por mais que soubesse que a possibilidade dele realmente ficar
com Anahí, ainda havia aquela fagulha de esperança de, após uma tentativa,
ele perceber que o romance tinha ficado no passado e acabar voltando para
ela, para sua família.
Toda vez que a campainha tocou no último mês Daniel correu para a porta
na expectativa de se deparar com Poncho. Àquela altura já tinha desistido.
Então, quando ouviu o barulho, ele pensou que era o tio, irmão de sua mãe,
ou quem sabe algum amigo dos avós. Foi com surpresa que ouviu a voz da
avó anunciando o que ele mais quis ouvir.
O menino quase tropeçou nas próprias pernas naquela corrida. Diana e ele,
que estavam em cômodos diferentes, chegaram à entrada da casa ao mesmo
tempo. Mas enquanto ela apenas dava um sorriso bobo, o filho corria como
um foguete. Foguete esse que colidiu com o pai, que estava agachado com
os braços abertos esperando para abraça-lo. Sem dúvidas era emocionante
vê-los assim. A esperança de Diana pulsou mais forte do que nunca naquele
momento.
— Você veio! Você veio!
— Eu disse que viria – Poncho disse abraçando o filho forte, deixando toda
a saudade se dissipar.
Poncho apenas ria das reações do filho. Ele mal teve tempo de falar com
Diana – que se controlou em não pular em cima dele, se limitando a dar um
selinho em sua boca – ou com os sogros. Daniel ocupou todo o tempo com
o pai, deixando-o apenas trocar de roupa e guardar a mala no quarto onde a
mãe estava – embora não fosse exatamente essa a sua ideia inicial, era algo
que deveria ser resolvido mais tarde. O resto da noite foi composto por
Poncho brincando com o filho, lhe dando banho, jantando e colocando
Daniel para dormir. Ele mal teve tempo de mandar uma mensagem
avisando Anahí que tinha chegado. Seus segundos estavam obviamente
preenchidos.
Diana só foi ver o marido depois que o filho já tinha dormido, mas ela não
estava incomodada. Entendia perfeitamente bem a razão de ser de Daniel
estar tão carente assim da atenção do pai e tê-la sugado exclusivamente para
si, relegando à mãe pouco tempo com ele. Daniel não entendia o que estava
acontecendo, não compreendia a razão de ser da mãe estar em Boston e
Poncho ter ficado para trás em Nova York, do primeiro Natal e Ano Novo
separados que ele se lembrava. Ela tinha poucas explicações para aquilo, tal
como o marido, e todas eram pouco convincentes. Mas o menino não se
preocupou com as suas perguntas, já que para ele, como o pai estava ali,
tudo estava terminado. Das duas uma: ou Poncho ficaria dali para frente
com eles, ou os três voltariam para casa. Não havia qualquer chance na
cabeça daquela criança de que os pais poderiam se separar de vez e ele
fosse conviver com um dos dois menos do que estava acostumado, quem
sabe tanto quanto vinha convivendo com Poncho naquele momento, se a
mãe resolvesse se manter em Boston.
Ela sabia que ele iria começar a falar ali. Viu o suspiro de Poncho, típico de
quando ele iniciava assuntos. Mas não lhe deu tempo. Quando viu sua boca
se abrir, Diana se jogou para cima dele, beijando-o e tentando puxar sua
camisa para cima. Não se importava dele não estar correspondendo ao
beijo, nem de estar tentando interrompê-lo. Daniel tinha demonstrado de
sua forma que sentia falta dele, ela faria o mesmo.
— O quê? – Diana continuou – Vai me dizer que ela foi pra cama com
você? Eu aposto que você sente falta de uma mulher no sexo Poncho, não
venha dizer que...
Sim, finalizou, porque aquela frase queria dizer tudo. Apenas começava o
assunto, mas dava fim às esperanças de Diana. Agora ela sabia que estava
tudo acabado, que Poncho tinha transado com Anahí e provavelmente a
livrado de seus fantasmas. Ela não esperava que tudo fosse tão longe, por
mais que soubesse que eles tinham uma história forte e intensa, acreditava
que o presente poderia não repetir o passado. Mas estava enganada.
— Isso quer dizer o que? – a voz dela saía mais amarga do que Poncho
jamais tinha ouvido – Você não me amava? Nunca me amou...?
— É claro que eu amei você, eu ainda amo você, só que são amores
totalmente diferentes – ele esclareceu – Nós construímos uma história, uma
família. Agora ela... eu não lembro de um dia que eu não a tenha amado. E
não é justo com ninguém que nós continuemos dessa forma.
— Você precisou dormir com ela pra saber disso?
— Porque afinal de contas, você não quer perder mais uma noite sequer
sem dormir com o seu grande amor – Diana desdenhou. Poncho fechou os
olhos, lamentando a forma como ela não conseguia evitar de conduzir as
coisas.
— Porque você não merece isso – ele corrigiu – Porque o Dani não merece
isso. Eu precisava encerrar as coisas de forma decente com você, em nome
de tudo o que vivemos, do quanto você me fez feliz e de como me deu luz
quando tudo o que eu via era a escuridão. Nosso filho merecia que nós nos
sentássemos com ele e o colocássemos em primeiro lugar, explicássemos
tudo...
— E o que você quer explicar? Que você nos trocou por algo muito
melhor...?
E seria mesmo.
xxx
É claro que não era qualquer lugar. O New York General Hospital era
perfeitamente seguro. Afinal, Christian jamais concordaria em expor Anahí
a qualquer tipo de risco. Não, ela não procuraria Tobias, não o enfrentaria.
Mas isso também não significava que não lutaria contra. Apenas seria com
as suas próprias armas.
Naquela manhã Christian estava sentado no corredor do hospital vendo
Anahí bater na porta da sala da Dra. Caitriona Balfe logo após o paciente
dela sair dali. Ele viu a expressão da terapeuta da amiga revelar surpresa ao
vê-la ali e sabia por que. Anahí passara mais de uma semana viajando com
Poncho para Vermont. Somando o tempo total, tinha quase duas que ela não
comparecia a uma consulta com sua psiquiatra. Claro que Caitriona não a
esperava.
— Anahí? – a testa dela estava franzida – Nós não temos consulta marcada
hoje, temos?
— Não, não temos – Anahí assentiu – Mas se você tiver algum horário
vago... eu estou realmente precisando.
— Sim, mas não é sobre isso – ela respondeu – Eu sei que tem algo que eu
preciso lembrar. Eu sinto. E mais do que nunca... eu preciso.
Primeiro queria dizer que vocês devem ter percebido que a Anahí ta ficando
cada dia mais forte e nem lembra mais o, como ela dizia, "bichinho
assustado" do início da web. Ela pouco a pouco adquire confiança em si
própria e enfrenta as próprias barras. Tobias já não a amedronta mais tanto
quanto amedrontava antes. Um avanço e tanto!
Segundo, eu estou torcendo muito pra que vocês sejam bemmmm razoáveis
e não fiquem loucas de ódio da Diana pela atitude dela no capítulo. Sim, ela
se iludiu e o Poncho não lhe deu esperanças, mas ela nutriu assim mesmo e
deu com a cara na parede. Diana erra como a humana que é (bem menos
que eu e que provavelmente vocês também) e esse foi o primeiro deslize
dela a história inteira e eu espero que não a defina nas opiniões de todo
mundo.
Terceiro, o que será essa lembrança da Anahí? Podem ter certeza que vai
sacudir o próximo capítulo! Preparem os lencinhos!
Beijos,
Rafa
Capítulo 54 - Angel flying too close to the ground
A dor de cabeça não era tão forte quanto a dor em sua alma. Ela se
lembrava de tudo o que tinha dito e que tinha feito antes e depois de Poncho
deixar visivelmente claras as suas intenções ao ir até lá: pedir o divórcio e
resolver as coisas com ela. Diana estava desesperada, estava carente. Ela
tinha treinado, durante todo aquele tempo, uma conversa civilizada na qual
os dois resolveriam tudo como adultos, mas aquela ideia naufragou quando
ela o viu e se deixou levar por uma falsa impressão de que ele poderia estar
ali para se reconciliar com ela.
Após isso, o papel que Diana tinha exercido fora patético. Ela se jogou para
cima de Poncho – e fechou os olhos tomada pela vergonha ao se lembrar
daquela cena – e pior, se ofereceu para ele caso Anahí não tivesse "o
satisfeito". Em menor grau do que sentia agora, a vergonha já começou a
bater quando se deu conta que não era o caso – seu agora ex-marido tinha se
envolvido até demais com a ex-namorada, a ponto dela não saber dizer se
poderia chamar Anahí de ex dele, não mais. Poncho foi quem abriu o
caminho para a tal conversa civilizada que Diana tanto ensaiou, deixando
de maneira clara e educada que o casamento deles tinha acabado, mas,
mesmo assim, muito deveria ser resolvido.
Diana sabia desse muito. O cerne de toda a questão era Daniel. Antes da
ficha sobre a verdade cair, ela tinha planejado voltar para casa com Poncho.
Seu pai já estava bem, ela poderia voltar para sua vida normal com o
marido e o filho. Ledo engano. Tudo recomeçava ali. Poncho e ela teriam
que sentar e decidir tudo, desde quem ficaria com Daniel, como seria a vida
e a rotina do menino dali para frente, quem ficaria na casa que eles
compraram juntos ao se casarem no Brooklyn.
Afinal, o que a cidade ainda lhe reservava? A única coisa que ainda tinha
por lá eram os negócios da família, a filial que ela abriu. Mas seu
casamento tinha ruído e, bem ou mal, seus pais estavam em Boston. Em
Nova York ela teria que ver o ex-marido começar uma nova vida ao lado do
grande amor da vida dele, que não era ela. Talvez fosse melhor que ela
fizesse o mesmo, longe da cidade que se acostumou a chamar de casa. Seria
menos doloroso, sem sombra de dúvida.
— Não – Sandra fez uma careta – Eu apenas vejo os sinais. Você pode ter
achado que ele viria resolver tudo, mas eu sempre soube que não. E quando
vi que ele ocupou o outro quarto... bem... imagino que vocês precisam
resolver algumas coisas. O Dani não pode estar aqui.
Diana não evitou sorrir ao ouvir as palavras da mãe. É claro que na teoria
tudo parecia eternamente simples, enquanto na prática... ela estava a anos-
luz de conseguir aquela serenidade toda, mas a fala de Sandra a fazia
lembrar que deveria tentar. Tentar para alcançar.
Poncho estava tomando café quando ela desceu, já certa de que os pais
tinham saído e levado Daniel, portanto os dois estariam sozinhos. Diana
sentia o rosto queimar pelo confronto que estava por vir, nem tanto pelo
teor da conversa que eles teriam, mas sobretudo pelas coisas que se
lembrava de ter feito e dito na noite anterior. Ela teria que encarar Poncho
depois de ter se oferecido nele, praticamente se esfregado e implorado que
ele lhe desse uma chance. E agora estava mais envergonhada do que nunca
por aquelas atitudes.
Felizmente, em meio àquelas dúvidas, não foi ela quem deu o primeiro
passo.
— Eu não sabia que você estava acordada – ele disse logo depois de
pigarrear. Pelo tom de voz e a expressão no rosto, estava tão sem jeito de
falar quanto ela.
— Diana...
— Eu posso não ter perdido você de uma certa maneira, mas de outra... nós
nunca mais seremos o que eu esperava que fôssemos a vida inteira – Diana
admitiu – Só que eu me enganei. Eu quis me enganar, eu quis nutrir
esperanças, mesmo tendo aquela vozinha no fundo da cabeça que sabia
desde o início que eu não tinha chances... eu me iludi mesmo assim. E
quando você chegou aqui a minha esperança quase explodiu. Foi difícil
quando tudo se quebrou, eu não soube reagir.
— Eu ainda não sei se quero voltar pra Nova York – ela anunciou
encarando-o nos olhos – Eu voltaria se fosse pra nós ficarmos juntos, pro
Dani voltar pra rotina dele e eu voltar pra minha, voltar pra filial da
Planet... meu pai já está bem... bem, esses eram os planos. Mas a verdade é
que... eu não sei se... se consigo te ver com ela.
— Então pensei que o Dani pode voltar com você – Diana propôs – Se isso
não te atrapalhar.
— A mentira magoa muito mais – ele observou – Se ele for pra casa
comigo e depois de meses se der conta que você não vai voltar pra lá ou
que, caso volte, nós não fiquemos juntos... vai reagir de uma maneira muito
pior do que a que você reagiu. Estamos falando de um menino de seis anos.
— Você tem razão... – Diana admitiu – É que... eu não sei como dizer a ele.
— Nós vamos encontrar uma maneira – Poncho segurou as mãos dela – Vai
tudo ficar bem, as coisas vão se ajeitar e ele vai entender, mesmo que não
seja de cara.
Para Poncho era fácil dizer aquilo, já que ele estava na zona de conforto
naquilo tudo. O casamento tinha acabado porque ele era apaixonado por
outra mulher, e curiosamente ele e a mulher em questão estavam juntos. No
final de tudo aquilo ele voltaria para Nova York com o filho e aos poucos
faria com que Daniel se inserisse naquela sua nova realidade, aceitando aos
poucos Anahí na vida do pai no lugar que se acostumou a ver a mãe
exercendo. Com o tempo o relacionamento deles amadureceria, Poncho iria
morar com Anahí, depois se casaria com ela, eles certamente teriam filhos...
dentro da perspectiva dele isso era tudo dar certo.
Mas quando daria certo para Diana? Ela já não sabia se Nova York seria um
lar depois daquilo. Ela não sabia se continuaria morando na casa que eles
dividiam ou se cederia o espaço para ela. De qualquer forma, como olhar
para aquelas paredes e não se remoer pelo que poderia ter sido? Por mais
que Diana soubesse que sua felicidade não dependia do marido, era
inevitável não se sentir vazia com aquele espaço agora desocupado.
No fim, Poncho e Diana acabaram decidindo que a casa onde moravam
ficaria com ela. Poncho, a princípio, levaria Daniel de volta por algum
tempo, até que ela estivesse pronta para voltar para a cidade. Naquele meio
tempo ele procuraria um apartamento e se mudaria, de forma que, quando
ela retornasse, ele já estivesse pronto para sair dali. Como já havia ficado
acertado entre os dois, a princípio o menino não saberia sobre Anahí. Mas
ele precisava saber sobre os pais... e assim que ele voltou do mercado com
os avós, ambos decidiram que era a hora de falar.
— Papai, papai! Sabe o que a vovó vai fazer mais tarde? Bolo de
chocolate...! – Daniel contou para o pai pulando de alegria.
— Sério? – Poncho disse sorrindo, mas levemente agoniado por saber que
estava prestes a estragar toda aquela animação do filho – E você agradeceu
à vovó?
— Dani... nós dois amamos você – Diana começou a falar. Ela via o
nervosismo espelhado no rosto do filho – Seu pai e eu. E nós sempre vamos
amar, não importa o que aconteça.
— Não, você não fez nada errado – Poncho riu – É só que... sua mãe e eu
conversamos e bem... nós decidimos que talvez fosse melhor que nós não
continuássemos casados.
— É claro que nós nos amamos – a voz de Diana saiu mais serena e segura
do que nunca – Apenas... não da maneira que precisamos amar quando
queremos estar casados. E por isso nós decidimos conversar com você com
calma, pra te explicar tudo, pra que você não fique chateado.
— A gente não vai mais morar na mesma casa? – ele perguntou com a voz
sombria.
Daniel chorou nos braços de Poncho. Pior do que a ideia dos pais se
separarem, era a ideia de que ele não moraria mais com os dois. Isso lhe
causava uma certa instabilidade, justamente na vida de uma criança que
estava acostumado com tudo ser sempre estável. Desde sempre ele convivia
tanto com Diana quanto com Poncho, em tempo integral. Agora os dois
estavam em duas cidades diferentes, o menino tinha passado um mês longe
do pai e agora seria um mês distante da mãe.
O choro era até pouco naquele momento, pois Poncho achou que o filho
ficaria revoltado. Com aquela tristeza ele poderia lidar, bastava cumprir a
promessa de que ele e Diana não deixariam o filho de lado.
Independentemente das decisões que tomassem com relação um ao outro,
independentemente dos rumos de suas vidas particulares... Daniel sempre
viria em primeiro lugar.
Era uma promessa que ambos estavam determinados a cumprir.
xxx
— Como você sabe que tem algo pra lembrar? – Caitriona questionou –
Veio algum flash na sua mente...?
— E chegou? Te intimidou...?
Apenas o primeiro...
Mas é claro, logo o pesadelo tinha voltado à tona quando chegaram à Nova
York. Como se não bastasse Tobias estar solto, ainda tinha que estar à
espreita, passando a impressão que poderia estar em todo lugar, a cada
esquina. Para completar, uma separação foi imposta a ela e Poncho, já que
ele teve que ir a Boston resolver em definitivo as coisas com Diana. E ali
estava ela, descumprindo a promessa feita a ele sobre não sair de casa. Ela
estava no hospital, na sessão de terapia... sabia que não deveria ter
prometido nada a Poncho ou que, quem sabe, por certo, poderia espera-lo
voltar. Mas se fizesse isso, não era Anahí. É claro que ela não iria esperar.
— Eu fico feliz que você tenha ido tão longe – Caitriona sorriu sincera – É
bom porque isso pode te dar força para o que vem agora. Nós sabemos que,
independentemente do que você lembrar, não será fácil.
— Mas ao mesmo tempo, quero que você fique tranquila – ela recomendou
– O que quer que seja, ficou no passado. Apenas pense em como você pode
usar como ferramenta no presente.
O choro...
— Me diga onde ele está – ela exigiu – Você não pode simplesmente fingir
que não está acontecendo!
— Eu não sei do que você está falando, minha Any – Tobias usou de seu
tom de desdém de sempre. Aquilo a enervava.
— Você está doente e está confundindo com algum pesadelo Any – ele
sorriu malicioso – Você não tem nenhum filho.
— Talvez você esteja mesmo louca querida – ele sorriu sádico – Você nunca
teve filho algum.
Não era loucura. Ela se lembrava do choro, do medo, da barriga enorme,
da dor e do sangue. Se lembrava dele fazendo o parto de qualquer forma.
Se lembrava do médico contendo uma hemorragia depois. Ela não estava
louca, não estava...
Eu ainda me lembrarei
— Eu não levei ninguém, minha Any – ele disse subindo o vestido que ela
usava – Somos só nós dois...
— Ele era seu filho também – ela murmurou sem conseguir sequer impedi-
lo. Estava cansada demais, tão cansada...
— Não, não...
— Não vai perguntar mais do seu filho...? – ele perguntou num dia
qualquer depois de vê-la terminar o prato que comia.
E ela acordou.
Estava feito. Foi assim que ele a fez esquecer: negando. E negando. E
voltando a negar. Chamando-a de louca, insistindo que tudo era um
pesadelo, negando, e negando, e voltando a apontar uma loucura que não
existia. Inventando como se tudo não tivesse passado de um sonho ruim,
quando na verdade era uma memória perdida, apagada. Apagada por ele. E
agora recuperada. Agora Anahí sabia que era real. O choro, o sangue, a
dor... seu filho.
— Anahí? – a Dra. Balfe voltou a chama-la – Você não disse onde estava...
isso nunca acont...
— Ok, se acalme – a médica disse estendendo uma caixa de lenços para ela
– Você precisa falar com calma, pra que eu possa entender...
— E por isso você acha que a criança está viva – Caitriona constatou –
Anahí, não necessariamente...
Eu ainda me lembrarei
— Então seu filho pode estar vivo, segundo essa lógica – a médica
concluiu.
— Não pode estar, ele está – Anahí respondeu mais certa do que nunca –
Ele está em algum lugar me esperando, precisando de mim. Eu preciso
encontra-lo. Cait... eu querendo ser mãe o tempo todo, e o meu filho em
algum lugar que eu nem sei onde é, sem que eu fizesse ideia.
— Eu vou lutar – Anahí garantiu – Eu sei que ele está vivo, eu sinto. Se
quiser me chamar de louca como ele chamou, fique à vontade, mas agora
eu sei que não estou. Eu vou acha-lo Cait. Ele ou ela... eu vou achar. E vou
ser a mãe que nunca pude ser... a mãe que Tobias não deixou que eu fosse
por todos esses anos.
O que Anahí não esperava, jamais poderia sonhar, é que o que tanto
procurava estivesse mais perto do que imaginava...
Beijos,
Rafa
Capítulo 55 - Eternity for both of us
— Mas ele disse o tempo inteiro que nada tinha acontecido, que eu era
louca e não tinha um filho – ela divagou – Será que...
Anahí realmente teria que fazer um enorme esforço para não se deixar levar
pelo que tinha perdido de seu próprio filho. Ela não sabia sequer qual era a
idade da criança, já que não tinha ideia de quando todos os fatos agora
lembrados tinha acontecido. Não sabia o sexo, não fazia a menor ideia para
onde Tobias tinha levado, com quem havia deixado. Talvez precisassem
contratar um investigador para descobrir o paradeiro de seu filho, mas como
faria isso? Onde encontraria? Como pagaria? Perguntas demais e nenhuma
resposta.
Quando Anahí finalmente saiu do consultório da Dra. Balfe, pôde notar que
Christian já estava impaciente de tanto ter que esperar, haja visto o pulo que
ele deu da cadeira quando a viu de volta ao corredor. Christian obviamente
não fazia a menor ideia do que estava acontecendo com sua melhor amiga,
então simplesmente agiu sendo... Christian.
Mas a resposta – e principalmente, seu tom – não eram algo que Christian
esperava.
Bastou. Christian percebeu que, o que quer que tivesse acontecido na sessão
de terapia daquela vez, tinha mexido com Anahí. Ele pensou também que,
se a amiga quisesse falar a respeito, falaria. A amizade deles era daquele
tipo que sequer precisava de um aviso prévio do tipo "se precisar de mim eu
estou aqui" porque eles sabiam e ponto. Por isso Christian apenas se
manteve por perto, pronto para pega-la no colo, consola-la ao ouvir seu
desabafo e estar ao lado dela num momento ruim.
Mas o olhar de Anahí estava vago e distante. Ela claramente estava presente
de corpo, mas totalmente ausente de alma. Seus pensamentos estavam
muito longe dali, Maite notou assim que colocou os olhos na amiga.
Christian rapidamente tentou fazer gestos que indicassem que a amiga
estava um tanto aérea e pensativa desde que tinha saído do consultório de
sua psiquiatra. Obviamente ele não esperava que Anahí terminasse por
revelar o que a fazia falar tão pouco.
— O que exatamente você lembrou? – dessa vez foi Maite quem perguntou.
— E como você pode ter tanta certeza que essa criança ta viva? – Christian
perguntou evidentemente receoso – Quer dizer, até ontem você tinha toda
essa certeza que estava morta, o que mudou?
— Se ela estivesse morta ele teria dito isso – Anahí respondeu – Ele diria
que o bebê tinha morrido. Ele não me faria acreditar que nunca sequer
existiu. Ele tirou meu filho de mim, o entregou pra alguém e Deus sabe
onde ele está agora.
— Eu sei que não vai – Christian disse cheio de orgulho e apertou a mão
dela – É claro que não. É só que... com isso que surgiu agora...
— Tenho Mai – ela respondeu – Eu tenho uma boa ideia de como fazer.
Keith Scott estava tendo uma manhã como outra qualquer e jamais poderia
imaginar que sua filha viria ali para pedir sua ajuda. Ele estava lendo um
livro na parte exterior da casa que há alguns anos dividia com Karen
quando a esposa saiu dali com o ar preocupado que rapidamente o alarmou.
Ele imediatamente pensou que algo acontecera com Anahí, só não sabia o
que era.
— A Any está vindo pra cá – Karen disse com a testa franzida – Ela disse
que quer falar algo... conosco.
— Sim – Karen confirmou meio confusa – Eu não faço ideia do que seja,
estou tão surpresa quanto você.
Mas Keith não estava apenas surpreso, ele estava definitivamente feliz. De
alguma maneira, por algum motivo, Anahí o incluía numa conversa que
inicialmente poderia ser apenas entre ela e a mãe. E ele estaria presente. Ele
ouviria, ele teria voz naquilo, ela dividiria o que fosse com o pai pela
primeira vez e ele não poderia estar mais feliz. Não importava o que
estivesse por vir, Keith faria o que fosse necessário, porque abertamente ele
tinha ali sua primeira chance para se aproximar da filha e marcar pontos
com Anahí. Não iria, de forma alguma, desperdiçar.
Anahí estava completamente sem jeito de pedir ajuda a Keith. Era uma
lição e tanto de humildade, já que ela o afastou tantas vezes, rejeitou outras
inúmeras, e agora estava ali, na casa dele, sabendo que não tinha outra
opção senão recorrer ao pai. Mas valia a pena. O objetivo era claro e não
era negociável. Logo ela se viu na frente de um Keith que parecia tão
nervoso quanto ela e ansioso para saber no que poderia ajudar.
— Eu sei que não é justo que... que depois de tudo eu venha aqui pedir a
sua ajuda – Anahí falava especificamente com Keith – Mas... eu não tenho
outra escolha. Eu quero que você saiba que, se eu tivesse, pode ter certeza
que eu não...
A solução que Keith arranjou foi chamar seus advogados. Naquela mesma
tarde os dois estavam ali na sala de estar de Karen debatendo com ele as
possibilidades do que viria para frente. A investigadora do escritório
daquela equipe de advogados foi chamada e as estratégias começaram a ser
lançadas. Naquele mesmo dia as investigações sobre onde o filho de Anahí
que lhe fora tirado começaram. Keith não estava poupando esforços, muito
menos recursos. Ele iria encontrar aquela criança e iria tirar de Anahí
aquela dor, custasse o que fosse.
Com isso vieram os dias, e com os dias vieram Alfonso e Daniel de volta
para Nova York. O menino já sabia que os pais estavam separados e,
embora triste, estava ligeiramente conformado com a separação. Ele estava
voltando para a própria rotina porque o recesso natalino chegou ao fim e a
escola iria voltar. Poncho e Diana acharam por bem que Daniel deveria
voltar pra Nova York até as coisas ficarem definitivas. A única coisa que ele
não fazia ideia era do romance que seu pai estava tendo com Anahí.
Com a ausência de Poncho ele acabou sendo o último a saber das novidades
sobre a regressão de Anahí. De toda forma isso não impediu que ele
consolasse a namorada à sua própria forma – com beijos, carinhos que
terminaram em sexo – de forma discreta e contada nos ponteiros do relógio,
já que ele agora tinha hora para voltar para casa. Poncho se desdobrava em
três para cuidar da casa, do filho, do livro que estava escrevendo e de
Anahí. E de alguma maneira ele não deixava a desejar em nenhuma
daquelas esferas.
Só que a busca por aquela criança não era o único evento que estava
acontecendo. Havia outro, para acontecer, que encontrava seus contornos
finais. E a proximidade – somada à inércia de sua principal envolvida –
ainda renderia frutos...
Lexie Grey estava com a escala dos residentes de lado naquela manhã
porque acertava os detalhes da prova final de vestido de sua última dama de
honra, Jo Wilson – a noiva de Alex Karev, que além de ser o melhor amigo
de sua irmã, acabou se tornando também o padrinho de Jackson após a
evidente recusa de Mark. Jo acabou tendo que aceitar o convite quando
Alex quase implorou que ela o fizesse, já que ninguém mais naquele
hospital parecia disposto a entrar naquele casamento. Após a confirmação
da saída de Maite daquilo tudo, Lexie estava ficando ligeiramente
desesperada. Faltava apenas uma semana e meia para o casamento. Jo
realmente fora um anjo em aceitar.
— Você não precisa ficar preocupada, vai tudo dar certo – Jo disse a ela
sorrindo calmamente – Nós nos vemos na prova do vestido mais tarde.
— Um tumor inoperável não vai mudar a sua vida Grey – ela observou –
Mas esse vídeo vai.
Lexie não fazia ideia do quanto Amelia pretendia ser verdadeira com
aquelas palavras e fazia menos ideia ainda do que ela estava prestes a ver.
Assim que ela deu play no vídeo, é claro, deu pra dar uma boa ideia. Assim
que a imagem apareceu Lexie se deparou com um Mark de alguns anos
atrás vestido num terno elegante num cenário que ela reconheceu como o
casamento de Callie e Arizona. Ela se lembrou daquele dia. Ela estava com
Jackson, era o primeiro relacionamento deles. Rapidamente Lexie franziu a
testa já supondo qual seria a razão de ser de Amelia lhe mostrar aquele
vídeo. Não sabia qual era seu conteúdo – a princípio era apenas Mark
desejando felicidades às noivas daquele casamento, algo aparentemente
inofensivo – mas sabia que boa coisa não sairia dele.
Não iria funcionar. Não iria mesmo. Ela tinha certeza. Lexie não tinha
sombra de dúvida.
Até que...
E o vídeo acabou... com aqueles mesmos olhos azuis olhando para a tela
como se soubesse que tinha acabado de destruí-la por inteiro com tão
poucas palavras.
— Mark...
A primeira coisa que ele fez foi se virar e constatar que Lexie realmente
estava ali. Sua cabeça se banhou em dúvidas sobre o que ela queria com ele,
mas os olhos castanhos dela eram decididos demais para não dar fim à tudo
aquilo. Quando Mark abriu a boca para perguntar e confirmar suas suspeitas
– ele não queria criar esperanças em vão – Lexie caminhou, o envolveu
pelo pescoço e beijou sua boca com paixão. É claro que ele correspondeu,
mas não por muito tempo: tinha uma coisa que precisava saber antes de se
jogar de cabeça mais uma vez.
— Lexie... eu...
— Eu entendo – Mark a segurou pelo rosto – Vai ser duro, mas... eu vou
estar aqui.
— É bom que esteja – Lexie beijou os lábios dele – Espere por mim.
Por toda a eternidade quem sabe. Talvez nem tanto. Quem sabe apenas até a
dança do casamento de sua neta, provavelmente.
SLEXIE! À pedidos
De modo geral preciso dizer que Samantha nem Daniel são filhos da Anahí,
e vocês quando estão nervosas criam umas ideias que eu fico pensando de
onde tiraram isso kkkkkk. De toda forma, eu já disse algumas vezes que a
Diana não é vilã da web, então eu repito - e repetirei quantas vezes forem
necessárias - que vocês não devem esperar que ela faça algo no sentido de
sacanear o Poncho, engana-lo.
Não seria muito conto de fadas se o Daniel fosse filho da Anahí e a Diana
fosse a megera da história? A meu ver seria um conto dos horrores.
Imaginem a criança ficando totalmente sem referência porque a pessoa que
foi a mãe a vida dele inteira seria uma megera! Nossa, eu tenho arrepios só
de pensar nisso. A vida do Dani cabe muita gente, e vai caber tanto a Diana
quanto a Anahí exercendo papeis diferentes - e complementares - na vida
dele. Vocês sabem que eu não gosto de tramas fantasiosas e isso seria
fantasia ao extremo. Eu gosto de histórias nas quais uma Torrey morre e
fica, no leito de morte, aliviada por deixar a Samantha com uma Sophia que
sempre vai amar e cuidar dela. Da mesma maneira, o Daniel vai ter tanto a
mãe quanto a madrasta na vida dele. Assim tudo fica mais bonito, colorido
e real, porque a maioria das famílias que nós conhecemos na vida são
assim, mosaicos, porque se quebram e se reconstroem.
A criança que é filha da Anahí não é nem Daniel nem Samantha, e como eu
disse, vocês estão preocupadas demais com o QUEM quando o mais
importante é o COMO. Porque vejam bem, mesmo depois da criança
aparecer nós ainda teremos uma boa quantidade de capítulos mostrando o
que realmente importa (e eu não direi o que é - apenas posso adiantar que é
o que eu mais amo nessa web e to ansiosa pra escrever!).
Rafa
Capítulo 56 - She cames home
Era a primeira vez que Lexie estava realmente disposta a cancelar o próprio
casamento. Ela fez o trajeto entre o hospital e o apartamento que vivia com
Jackson – que era dele, diga-se de passagem – tentando ignorar os
fantasmas que lhe diziam que ela tinha tido gastos com vestido, com a
recepção, com os convites e com as reservas de tudo o que tinha sido feito
para o grande dia. Ignorava, sobretudo, o fato de que certamente ela
terminaria a noite colocando seus principais pertences numa mala e
voltando ao porão da casa de Meredith, agora super ocupada pelos filhos
que ela tinha.
Mas tudo aquilo só fazia Lexie pensar que, de certa forma, era culpa dela
própria a situação na qual estava. Desde o início da residência ela tinha
trocado a casa do pai pela da irmã, depois apartamentos com Mark, com os
amigos, com Jackson, nada seu. Sempre dependente do que era de terceiros.
Era hora de mudar. Era hora de andar com as próprias pernas e ali seria o
primeiro passo.
Só que não foi bem assim. Nunca era bem assim, se pensado bem.
Quando Lexie entrou pela porta ela viu Jackson sentado no sofá com a
cabeça baixa e ambas as mãos na nuca. Ela rapidamente percebeu que algo
tinha acontecido, embora não fizesse ideia do que era. Tratou então de se
aproximar levemente receosa, se dando conta naquele momento que não o
vira o dia inteiro e não tinha percebido até então. Não tinha sentido falta de
Jackson um minuto sequer no hospital. Será que ele não tinha ido ou será
que tinha ido embora mais cedo? Será que algo tinha a ver com a razão para
ele estar sentado ali, cabisbaixo daquela forma?
O que quer que fosse, não poderia impedir Lexie de fazer o que queria.
— Jackson – Lexie chamou o noivo – Nós precisamos conv...
Bomba. Caindo suave, sem que se perceba, mas quando cai... devastação.
Lexie se sentiu exatamente assim quando ouviu aquela notícia: devastada.
Então era isso. Harper Avery tinha morrido dez dias antes do casamento do
neto e deixando-o... daquela forma. Lexie não sabia qual choque tinha sido
maior: a notícia da morte em si, Jackson se aninhando nos braços dela em
lágrimas copiosas em seguida – ela nem sabia que ele era tão próximo
assim do avô, os dois mal pareciam ter uma relação – ou a constatação do
que aquilo significava. Como ela deixaria um homem e cancelaria seu
casamento com ele na mesma noite em que ele tinha perdido o avô?
Jackson então começou a falar sem parar sobre o infarto fulminante que
Harper Avery tinha sofrido em Boston. Sua mãe, Catherine, já estava na
cidade e ele tinha que se deslocar para lá. Obviamente esperava que Lexie
fosse com ele para acompanha-lo e apoia-lo naquele momento
decididamente difícil. Mas a cabeça de Lexie girava com força e sem parar.
Eram apenas dez dias separando a morte do avô dele e o casamento dos
dois. O luto provavelmente duraria seis ou sete dias e, depois disso, ela não
teria mais tempo para cancelar aquele casamento. Dizer a Jackson o que ela
tinha pensado naquele momento misturaria as dores dele. Ele perderia
Harper Avery ao mesmo tempo que seria abandonado pela noiva às
vésperas do casamento. Ela seria egoísta e mesquinha se falasse o que
pensava, seria cruel deixa-lo naquele momento.
xxx
— Eu sei que você não nos esperava aqui – Keith disse assim que entrou no
apartamento – Mas viemos por uma boa causa.
— Eu imagino que seja – ela franziu a testa. Realmente não esperava por
seus pais, juntos, àquela hora da manhã.
— Nada promissor – Keith fez uma careta – Não era exatamente sobre isso
que nós queríamos falar.
— Nós vamos dar privacidade a vocês – Maite disse fazendo um sinal para
que Christian saísse junto com ela.
— Ah não queridos, claro que não, nós queremos que vocês fiquem – Karen
observou – É bom que vocês ajudam a Any a... decidir.
A ideia foi debatida à exaustão. Desde entre Anahí, Christian e Maite, até
os outros amigos. Como sempre as opiniões estavam divididas. Maite e
Sophia, sempre muito protetoras, se preocupavam com o desgaste de Anahí
naquela situação, já que ela chamaria a atenção da imprensa e da sociedade
de volta à sua história com requintes de sofrimento totalmente inéditos. Os
outros, por outro lado, eram unânimes em acreditar que aquela poderia ser
uma boa ideia, um impulso decisivo numa situação na qual era necessário
arriscar. Como sempre um grupo dividido, mas cuja decisão final caberia
somente à pessoa a quem realmente interessava: a pessoa que estaria na
frente daquelas câmeras para contar a própria história. A pessoa que tinha
perdido o próprio filho.
— Você acha isso mesmo uma boa ideia? – Sophia perguntou a um Poncho
que terminava de ensacar as próprias compras no supermercado – Imagina
todos aqueles repórteres na porta dela assediando-a de novo...!
— Eu não sei – Sophia bufou – Não deveria ser mais simples? Porra, como
os investigadores simplesmente não acham essa criança? Eu não sei como
funciona.
— Eu imagino que n... – Sophia disse antes de sua atenção ser roubada –
Sam! Ei, não mexe nisso...!
Ou quase tudo.
— Seu pneu está furado – Sophia anunciou fazendo uma careta olhando
para o carro dele.
— Quer que eu ligue pro meu papai, tio Poncho? – Samantha se ofereceu
sabichona como sempre – Ele pode vir resolver, ele sempre resolve tudo.
— Mas será que vai demorar? – Sophia cruzou os braços – Eu posso ligar
pro Jesse...
— Eu cheguei a te dizer que Chad foi quem segurou o Jesse no dia que o
Tobias apareceu, não é? – ela perguntou mordendo os lábios. Poncho se
limitou a responder com um "uhum" e ela resolveu continuar – A atitude
dele me surpreendeu, honestamente. Eu não esperava e bem, fiquei
pensando se, não sei... talvez ele tenha mudado. Talvez a nossa amizade
seja algo que dê pra conciliar com o meu noivado com o Jesse...
— Ele me chamou pra sair amanhã à noite – ela admitiu – Só que eu não sei
se o Jesse vai achar uma boa ideia... e como você é o melhor amigo dele...
— Mas...?
— Eu não confio nesse Chad – Poncho devolveu – Não acho que ele tenha
boas intenções. Mas isso é a minha opinião. Se você pensa o contrário...
— Ele mudou, eu sei que ele mudou... – Sophia começou a falar, mas logo
viu que o amigo parecia estar com uma cara estranha, observando um ponto
do carro de forma bem específica – O que foi? Algo errado?
Estava mesmo. Havia um objeto próximo ao pneu que seria trocado que
Poncho simplesmente não sabia o que era, mas definitivamente não fazia
parte do veículo. Ele franziu a testa ao pegar o objeto, que facilmente se
soltou. Mesmo olhando de perto Poncho não sabia o que era... mas havia
alguém que sabia.
Poncho quase arremessou o objeto longe tamanho o ódio que sentiu. Então
era assim. Assim que Tobias sabia onde Anahí estava. Assim ele descobriu
onde Poncho tinha ido com ela entre o Natal e o Ano Novo e conseguia
acompanhar seus passos. O sangue dele esquentou ao se dar conta disso.
Até então acreditava que ele tinha mandado alguém segui-la, mas ao
mesmo tempo se lembrava que, durante a viagem para Vermont, eles eram o
único carro na estrada por uma boa parte do percurso. Poncho se sentia
estúpido por não ter pensado naquilo antes, mas ao mesmo tempo se dava
conta de que precisava tomar uma atitude para que eles voltassem ao
controle da situação.
— Alô?
— Sim, ela está – a voz da morena ficou tensa – Aconteceu alguma coisa?
— Não a deixe alarmada – a voz dele saía em pedaços – Eu não quero que
ela fique apavorada...
Anahí ficou tensa com o pouco que tinha pegado da conversa de seu
namorado com sua melhor amiga. Ouvira o suficiente para presumir que
algo estava acontecendo e que tinha a ver com ela. O táxi no qual as duas
estavam tinha acabado de parar e Maite contava algumas notas na carteira
enquanto ela se perguntava por que diabos a morena não estava dizendo de
uma vez o que aconteceu que fez Poncho lhe telefonar e deixa-la branca
como um papel como estava.
Foi quando ela viu, pelo retrovisor do motorista, um carro parado logo
atrás. Anahí observou bem, estreitando os olhos, e reconheceu os traços de
seu algoz. O rosto que lhe causava arrepios, agora em menor grau, e
despertava o desprezo de cada célula de seu corpo. Ele estava ali para saber
exatamente onde ela estava, para se manter no controle de sua vida mesmo
após não tê-la mais sob seu poder em um porão no Queens. Tobias queria
fazê-la acreditar que estava no comando, mesmo não estando mais. Queria
que ela sentisse novamente o medo que lhe fora comum em todo aquele
tempo que ele a manteve trancada. A submissão.
Mas não era mais assim. Anahí não estava trancada, não era mais estuprada.
Mesmo depois que tinha sido solta, demorou muito tempo para se sentir
livre, porque ainda estava presa dentro de si mesma. E ela estava cansada
disso. Ela era forte. Ela era mais que isso.
E iria mostrar.
Sem que Maite pudesse ter controle de suas atitudes, Anahí abriu a porta do
táxi e simplesmente saiu. Ela ouviu a voz da amiga perguntar onde ela iria,
imaginou que a morena sairia logo em seguida em sua direção, mas decidiu
andar mais rápido para evitar ser alcançada... ao menos antes de atingir seu
objetivo. No fundo, seu objetivo: o carro onde ele estava.
É claro que Maite levou um susto enorme quando viu Anahí saindo dali, e
outro maior ainda quando viu a direção para a qual ela caminhava. O jeito
era ir atrás dela, tentar alcança-la, mas Anahí era rápida e Maite estava
grávida. Não havia jeito.
Tobias saiu do carro e parou no meio da rua olhando para ela decidida,
maravilhado, deliciado. Ele parecia estar mesmo se divertindo com aquilo,
como se de fato divertido fosse.
— Ora ora ora, minha querida Any – ele desdenhou – Eu sei que você deve
estar com saudade, é só que... mais um passo e você viola a sua própria
ordem de restrição.
— Não pense nem por um segundo que eu tenho medo de você – o tom de
Anahí era ameaçador – Não mais.
— Louca? – foi a vez de Anahí zombar – Você bem que queria, não é?
— Não sei porque tanto desdém minha Any – ele suspirou longamente – Eu
sempre quis te dar apenas prazer.
— Pois que pena – Anahí respondeu seu algoz ignorando a amiga – Porque
eu acho que te darei uma prisão perpétua.
xxx
— Será que essa entrevista foi mesmo uma boa ideia...? – Sophia
questionou mordendo os lábios. Ela tinha as suas dúvidas que expor Anahí
daquela forma renderia bons frutos.
— Ela precisa tomar as rédeas da própria história, sem falar que pode ser
um bom investimento caso o objetivo seja alcançado – a mulher ao seu lado
respondeu sorrindo de canto. Estava esperançosa – Sou Marina, a propósito
– ela disse antes de estender a mão para cumprimenta-la.
— Ela já perdeu tanto que não teria mais nada pra perder – Poncho
respondeu Sophia – Ela precisa achar essa criança.
Fora Anahí, ninguém ali estava mais tenso do que Poncho. Ele tentava
manter a calma e o equilíbrio porque notava que a namorada o encarava de
longe o tempo inteiro, procurando nele uma serenidade que não tinha em si.
Sempre que notava o olhar dela Poncho sorria, lhe passando tranquilidade.
Mas não era assim que ele se sentia. As mesmas perguntas que Sophia se
fazia se passavam pela cabeça de Poncho, mas ele não deixava que elas
tomassem volume em sua mente. Tentava ser esperançoso como Marina
estava sendo. Precisava ser, porque precisava apoiar Anahí e fazê-la
acreditar que seu filho seria encontrado quando ela não tivesse mais fé
naquele final feliz.
De frente para aquelas câmeras, Anahí reafirmou sua versão. Ela passava
tranquilidade, mesmo com todos os sentimentos convulsionando por dentro.
Tinha uma mensagem para ser passada e, principalmente, um objetivo para
ser alcançado... objetivo esse que ela não estava disposta a não alcançar.
— Não foi – Anahí negou com a cabeça – Por mais que ele, por trás das
grades, me deixe mais tranquila pra viver... tem algo mais importante disso
tudo. Eu não tenho tentado lembrar o que aconteceu naquele cativeiro
apenas para poder dizer ao júri o que eu vivi, mas porque faz parte da
minha história. É algo que eu preciso saber o que aconteceu. E essas
lembranças tem me levado a lugares que chega a ser difícil acreditar que eu
já passei. Uma dessas lembranças foi o que me trouxe aqui. Foi o que me
deu coragem.
— Não – Anahí mordeu os lábios – Ele a tirou de mim. Eu achava que ela
estava morta porque ele tirou a criança e me fez esquecê-la. Eu não tinha
lembranças de uma criança, apenas de um choro e depois, somente dor.
Demorou até que eu tivesse acesso às lembranças completas pra conseguir
descobrir que eu não lembrava do meu filho porque ele não achou
suficiente tira-lo de mim, mas também me fazer acreditar que eu nunca
tinha engravidado. Me fazer acreditar que esse filho era produto da minha
imaginação e que eu estava louca.
— Eu tenho medo de não encontra-la e deixar que um dia ela não perceba
que deve se olhar no espelho e lembrar de mim.
Anahí não achava que seria fácil, não achava que uma entrevista como
aquela abriria todos os caminhos e traria sua criança de volta. A curto
prazo, a divulgação das recompensas poderia facilitar a chegada de novas
informações. Talvez um médico que tivesse auxiliado seu parto... a longo
prazo, criava-se uma versão dela das coisas. Não era apenas Tobias Menzies
se defendendo, agora Anahí era alguém que as pessoas conheciam. Isso
poderia pesar a favor dela na balança.
Não esperava, sem dúvidas, que no dia seguinte, apenas um dia depois da
entrevista ir ao ar, recebesse uma ligação de Karen dizendo que deveria ir
imediatamente à sua casa e sequer sentir a necessidade de perguntar do que
se tratava por ter uma boa ideia do que era.
Não esperava, sobretudo, não encontrar repórteres na porta do café ou da
casa da mãe, somente um ou outro que buscava pegar imagens clandestinas.
Em seu lugar, viu vários carros que não conhecia e, junto com Christian,
percebeu que definitivamente algo acontecia. Mas nada a preparava para o
que viria lá dentro. Quando bateu na porta da mãe e viu um casal sentado
no sofá com olhos ansiosos e amedrontados. Mal a filha entrou, Karen
começou as apresentações.
Mas não era para eles que Anahí olhava. Ela vislumbrava única e
exclusivamente a criança que estava sentada no sofá com o dedo na boca e
uma boneca nos braços, ao lado de Keith. Uma menina cujo olhar fez Anahí
segurar o portal para conter a tremura que sentiu nas próprias pernas.
Era ela, Anahí sabia. Ela tinha voltado ao lar, exatamente como sua mãe
voltou seis meses antes.
Terceiro: uma Anahí mais forte do que nunca enfrentando o Tobias e não
lembrando em nadaaaaa a Anahí do capítulo 1. Notaram?
Quarto: a entrevista.
E quinto: quem se arrisca a dizer agora quem é a criança?
Já começo com uma: como que essa criança foi parar com esses pais
~maravilhosos~? Quem acertar ganha um spoiler hohoho
Beijos,
Rafa
Capítulo 57 - I can only see you
— Você deve ser Anahí – a mulher, Barbara, falou com ela com um sorriso
amarelo enorme – Esse é Ed, meu marido. Nós conversamos após assistir a
sua entrevista na TV. Não foi fácil vir aqui.
— Quero que você saiba que tudo o que fizemos, fizemos obrigados – o tal
Ed falou ao lado da esposa. Obviamente eles estavam nervosos.
— Nós não fazíamos ideia de onde ela tinha vindo – Barbara continuou –
Se fizéssemos...
— Você trazia a minha filha pro café da minha mãe como se... – o
raciocínio de Anahí foi quebrado com a mão de Christian tocando seu
braço.
— Christian, ela tem os olhos dele – Anahí insistiu – Eu sei que é ela. Eu
conheço aqueles olhos.
...Pai.
Não era o momento para pensar nela e em Keith. O coração de Anahí batia
forte e intenso por dentro ao se aproximar do quarto de Karen, onde ela
estava com aquela criança. Sua criança. Anahí mordia os lábios segurando
a vontade de chorar de emoção ao vê-la com cuidado pela primeira vez, e se
surpreendeu com o fato de Karen lhe lançar o mesmo olhar que Keith
lançara logo antes. Que sintonia era aquela? A mãe provavelmente também
estava receosa dela ir com sede demais ao pote e acabar assustando Missy,
mas Anahí fazia questão de se controlar. Ela não queria botar tudo a perder.
— Anahí...? – ela viu a criança franzir a testa e fazer uma careta – Que
nome engraçado.
— É, minha mãe que escolheu – Anahí disse fazendo uma careta para
Karen – Mas meus amigos me chamam de Any. É mais fácil e mais legal.
E também era como Tobias a chamou um dia... mas isso não importava
mais.
— Mas eu não sou sua amiga – a menina tinha a testa mais franzida ainda –
Eu acabei de te conhecer...!
Karen aos poucos foi saindo de cena para deixar que Anahí se aproximasse.
Ela acabou vendo a filha se perder no mundo da criança que estava ao seu
lado. Missy se sentou ao lado de Anahí, viu a nova amiga pegar folhas em
branco e lápis de cor para que elas pintassem juntas e ficaram conversando
por longos e incontáveis minutos, como se não houvesse mais nada no
mundo. Era interessante já que Anahí sempre quisera ser mãe, aquele
sempre foi um sonho dela. E agora se realizava da forma mais diferente que
poderiam imaginar.
— A Lucca acha que nós devemos fazer um DNA por via das dúvidas –
Keith continuou, se referindo à própria advogada – Por segurança. Pra
garantir que é realmente ela a nossa neta.
— Tudo bem – Karen assentiu – Eu vou conversar com a Any. Mas e a
Barbara e o Ed? Nós pagamos a recompensa? Eles vão deixa-la aqui?
Porque Keith... ela não sabe de nada.
— Eu não sei o que é melhor, realmente não sei – Keith suspirou – A única
coisa que eu tenho certeza é que, agora que a Any encontrou a filha... vai
ser impossível tirar a Missy dela de novo.
Poncho não achava que a filha de Anahí seria encontrada tão rápido. Ele
ficou completamente surpreso com a ligação de Christian dizendo que os
pais adotivos da menina haviam aparecido e levado-a para a casa de Karen.
Poncho temia que aquilo se tratasse de um golpe, já que Keith tinha
oferecido uma recompensa para quem tivesse informações de seu neto.
Seria demais para Anahí nutrir aquela esperança e, no fim das contas, ser
tudo em vão. Então ele estava ali para colocar os pés dela no chão e evitar
que a queda fosse brusca demais.
Era como ver Anahí brincando com a sua versão em miniatura. Poncho não
poderia estar mais encantado. Provavelmente era esse o sentimento que ela
tivera quando o viu com Daniel pela primeira vez. Ele enxergava cada traço
de Anahí naquela criança e tinha certeza, tal como ela provavelmente teve
logo antes, de que aquela criança realmente era a filha que ela tanto
procurou.
Então como ele colocaria Anahí com os pés no chão quando estava voando
tanto quanto ela?
— Eu percebi – o sorriso dele foi franco. Poncho não sabia dizer o que
estava sentindo, o mix de emoções em seu peito era forte.
— Essa é a Missy – e o olhar de Anahí, por sua vez, tentava dizer mais do
que suas palavras. E conseguia – Ela é minha f... minha amiguinha.
— Ela é idêntica a você – ele admitiu. Era a vez dos seus olhos brilharem.
— Olhe pra ela nos detalhes – Poncho disse segurando os ombros dela e
girando-a de forma a deixar Anahí de frente para onde Missy brincava no
chão – Esqueça ele. Ela é sua e sempre vai ser. Temos que olhar o copo
meio cheio e cuidar dela, é o que importa.
E era.
Quando Anahí voltou para a sala viu algumas cenas que não esperava:
enquanto Keith estava no telefone tratando do necessário para fazer o
exame de DNA naquele dia mesmo, o casal que tinha criado Missy estava
pronto para sair dali.
— Eu estava dizendo para a Karen que talvez seja melhor que ela fique
aqui, com você – Barbara deu de ombros – Quer dizer, ela é sua filha
mesmo...
— Não ta te doendo nem um pouco, não é? – Anahí, por sua vez, parecia
ressentida... quase revoltada – Deixa-la aqui. Você fala como se falasse de
um vaso.
— Entenda querida, essa garota foi um peso nas minhas costas por tempo
demais – Barbara dispensou. Poncho segurou Anahí pelo braço antes que
ela tentasse avançar naquela mulher.
Mas não foi isso que Anahí fez. Pelo contrário: ao invés de seguir na
direção de Barbara Mitchel, ela se afastou do círculo e foi até Keith. Ele
acabara de desligar a ligação e rapidamente pousou os olhos sobre a filha,
evidentemente surpreso de Anahí ir até ele.
— É claro que estou – ela balançou a cabeça – Mas aqueles dois... eles a
tratam como se não fosse nada. E eles a criaram. Isso... vai magoa-la. E eu
não quero que...
Quando Anahí tinha a boca aberta pronta pra dizer que Missy jamais ficaria
sozinha novamente, alguém foi mais rápido.
— Espere um pouquinho ok? – Keith falou – Eu vou buscar algo para você.
Os olhos castanhos de Missy ficaram buscando por Keith nos minutos que
se seguiam. Anahí se perguntava o que seu pai estava planejando, não fazia
a menor ideia do que estava por vir. Nem mesmo Karen, que tinha
condições de ter uma ideia do Keith planejou, se lembrava do pequeno
detalhe que ele não tinha esquecido. Mas Keith jamais deixava qualquer
coisa que fosse passar em branco.
— É claro que não – Keith entregou o urso para ela e se agachou para ficar
à sua altura – Eu guardei pra você.
— Muito obrigada tio – Missy respondeu dando um abraço sincero e
carinhoso em agradecimento – Eu não to mais com medo.
Aquele tio provavelmente era uma palavra carinhosa, a primeira que veio à
mente de Missy, como uma forma de agradecer por seu gesto
definitivamente carinhoso. Mas ao receber aquele abraço que veio no
combo, ele percebeu que queria muito mais. Queria ser chamado de outra
forma, não apenas pela criança, mas também por sua mãe. Anahí também
notou isso. Ao ver o olhar de Keith para ela, algo acendeu em seu peito na
forma de uma certa palavra.
xxx
Mesmo exausta, Lexie não iria direto para seu apartamento após sair do
JFK Airport, onde pousou de seu voo vindo de Boston. Ela tinha retornado
a Nova York sozinha, já que Jackson ficou para resolver as questões
relativas ao testamento do falecido avô. Lexie fora direto da recepção
posterior ao funeral para o aeroporto, ainda usava o vestido e o casaco
bordô que vestia no cemitério, mas ela não tinha tempo a perder. Tinha algo
a ser resolvido e sua cabeça doeria ainda mais se adiasse um minuto sequer.
Talvez não fosse a dor de cabeça que incomodasse e sim a dor na alma. Só
de pensar no que estava prestes a fazer, seus olhos se enchiam de lágrimas.
Lexie passara os últimos dois dias confrontando a realidade e procurando
alguma alternativa, sem qualquer sucesso. Agora ela se via frente àquela
porta que lhe despertava tantas outras lembranças melhores, que agora
apenas lhe davam ainda mais vontade de chorar.
Mark percebeu o pesar nos olhos da mulher que amava assim que abriu a
porta. Lexie tinha uma pequena mala ao seu lado, mas estava tão abatida
que mais parecia tê-la carregado nas costas. No instante que ele a encarou
se deu conta do que ela fora fazer ali e rapidamente entendeu por que Lexie
parecia morta por dentro.
Lexie caminhou para dentro do apartamento. Tudo ali lembrava ele, eles.
Por que ela tinha escolhido justo aquele lugar para dizer tudo...? Parecia
ainda mais difícil.
Mas logo ela se deu conta que em qualquer lugar seria assim. Bastava que
fossem ela e Mark para Lexie ter toda a dificuldade do mundo de dizer
adeus.
— Eu acho que você sabe o que eu vim fazer aqui – a voz dela carregava
todo o pesar do mundo.
— Eu sei – ele disse num suspiro – Eu não estou com raiva, eu te garanto.
Eu imaginei que, com essa situação, com a morte do avô dele... fosse ficar...
— Eu não sei – Mark deu de ombros – Talvez porque agora nós saibamos
que não importa se queremos coisas diferentes ou se estamos em momentos
totalmente diversos... no fim a gente sempre se nota olhando um pro outro e
querendo isso.
As palavras de Mark doeram em Lexie até mais do que já doía até então. As
lágrimas que ela se esforçava em prender começaram a cair e Mark a viu
abaixando o rosto provavelmente pela vergonha misturada com a dor. Ele
entendia, se sentia da mesma forma. Da mesmíssima forma, exatamente
igual.
— Não fique assim – ele se aproximou e segurou o rosto de Lexie. Ela
passou a encara-lo – Eu entendo de verdade. Você não poderia fazer isso
com ele, não seria você.
— Tudo bem – Mark a trouxe para seu abraço, colocando o rosto dela
abaixo de seu queixo – Eu vou esperar você Lex.
— Eu não posso fazer isso com você – Lexie negou – Eu não posso deixar
que você deixe de viver a sua vida por minha causa.
— Mark...
— Eu tenho um bom trabalho, uma carreira que me faz feliz – ele disse
interrompendo-a –Tenho bons amigos, um bom apartamento, tenho uma
filha. Eu não consigo ver uma mulher encaixando nisso tudo. Ninguém que
não seja você.
— Então deixe pra fazer amanhã – Mark beijou o ombro dela – Shhhhh...
amanhã...
— Uma última vez...? – ela perguntou, sendo certa a que ele se referia.
Lexie queria saber se Mark lhe dava licença para que eles se amassem por
uma última noite.
Eles deviam isso para si mesmos. Mark devia para si a chance de provar a
Lexie que suas palavras eram reais: ele esperaria por ela. o tempo que fosse.
Por isso beijou seu ombro com paixão enquanto puxava as alças do vestido
dela para baixo. Sentiu que Lexie correspondia tudo o que ele sentia quando
ouviu seu gemido sôfrego no ouvido. E ele tinha acabado de começar.
Ainda tinha que tirar aquele vestido dela por inteiro, a meia-calça, puxar a
calcinha para baixo e senti-la despindo-o peça por peça, até não sobrar
nada. Até serem somente eles sem nada no meio.
Perfeito seria se, tal como era na cama, não houvesse nada no meio. Mas
sempre houve. Houve a idade, os projetos de vida, o desejo da paternidade
de Mark que atrapalhava Lexie. Houve os homens com quem ela se
relacionou, as mulheres com quem ele se envolveu em tentativas pífias de
esquecê-la. E agora que não havia mais nada, restou Jackson. Realmente
mais nada, porque até o medo de Lexie tinha partido.
Então, quando, já sem roupa alguma, ele se afundou no corpo dela em sua
cama, sentindo o cheiro de sua pele, a textura de seu corpo e as unhas dela
fincadas em suas costas, Mark apenas desejou que, ainda que parecesse,
aquela não fosse a última vez.
Enfim, Missy!
Eu achei que com os nomes da Barbara e do Ed aparecendo no capítulo
anterior, todo mundo fosse matar a charada na velocidade da luz, mas fiquei
bemmmm surpresa ao me dar conta de que a maioria de vocês não juntou as
peças! Juro que por isso eu não esperava, já que no capítulo anterior tava
todo mundo indo no cap 8 pra falar que só podia ser a Missy a filha da
Anahí hahahaha.
Eu nunca esperei que isso da Missy fosse ser um grande mistério, quando
escrevi isso do 8º capítulo pensei "ah, elas vão juntar as peças rapidamente"
e realmente muitas de vocês fizeram isso (nem todas, felizmente hahahaha).
Mas quero deixar claro mais uma vez que o objetivo da web são os
COMOs, e não os QUEMs. Agora sabemos que é a Missy, mas também
sabemos que vem muito chão pela frente. A web ainda não ta nem perto de
acabar!
Beijos,
Rafa
Capítulo 58 - It will not be easy
Por isso naquela noite, antes de sair de casa, Sophia puxou todos os
assuntos possíveis com Jesse. Na verdade o que ela pretendia era testar o
tom de voz dele, seu olhar, a forma como iria se dirigir a ela. Jesse não
estava exatamente feliz de saber que sua noiva iria encontrar o amigo que
sempre se colocou contra o relacionamento deles, mas fazia um esforço
enorme. Não era seco, mas também não conseguia fingir que estava tinindo
de felicidade pela decisão dela. No fundo ele esperava que Sophia
percebesse que Chad nunca tinha sido seu amigo, mas não tinha acontecido.
Então ele se agarrava à maturidade adquirida naquele tempo para disfarçar
seu terrível mau humor.
Só que é claro que não era suficiente. Sophia já estava saindo dali
cabisbaixa, certa de que, no fundo, ele estava bravo com ela. Jesse percebeu
isso e notou que precisaria fazer um esforço maior.
— Ei – ele a chamou, segurando seu rosto – Eu não estou bravo com você.
— Agora eu vou.
Aquele voto de confiança era o que Sophia precisava para tirar aquele peso
das costas, da consciência. Com Jesse demonstrando que estava tudo bem
entre eles, ela seguiu tranquila para o local onde tinha marcado com Chad.
Não era a tranquilidade oriunda apenas de Jesse estar bem com aquela saída
dela e de, no fim da noite, voltar para a cama dos dois e encontra-lo
esperando por ela. Era a serenidade advinda de tudo finalmente estar dando
certo e encontrando o seu lugar. Os amigos voltavam aos poucos a ser um
grupo, Samantha dava nítidos sinais de melhora, ela e Jesse finalmente
estavam bem... parecia que tudo enfim tinha encontrado a paz...
...ou não.
xxx
— Certo, se você continuar andando de um lado pro outro vai furar esse
chão – Christian constatou com uma careta.
— Por que ele tem que demorar tanto...? – a voz dela saía desesperada.
— Talvez o universo esteja tentando te compensar pelos sete anos que você
passou longe dela – Poncho disse abraçando Anahí e beijando a testa dela –
Fique tranquila. Talvez realmente não seja fácil, mas nós vamos estar do seu
lado, de mãos dadas com você, te apoiando em absolutamente tudo. Maite,
Christian, eu... todos nós.
Keith não demorou muito mais. Anahí até chegou a ficar mais calma, mas
tão logo o pai apareceu, ela deu um pulo do sofá e logo todo o progresso foi
jogado por terra. Ninguém mais, a partir dali, poderia sequer tentar acalma-
la, pois seria totalmente em vão. E o próprio Keith tinha certeza de que não
tinha qualquer chance de fazer algum suspense com aquele resultado.
— Você trouxe não é? – Anahí perguntava a ele meio que como pergunta,
meio que como cobrança.
— Não sei se fico feliz com isso ou não – ela falou sentindo o quanto suas
mãos estavam suadas – Se você já tivesse aberto e lido, poderia dizer de
uma vez e eu não estaria nervosa como estou.
— Não posso fazer isso por você – Keith encarou a filha lhe estendendo o
envelope lacrado – É algo seu.
Keith tinha razão, realmente era dela. Tinha sido exclusivamente de Anahí
desde o início, a única coisa realmente marcante e boa que ela viveu do
início ao fim sozinha, já que todo o resto que aquele cativeiro lhe reservou
era sinônimo de dor e lembranças ruins. Todo o resto tinha a ver
diretamente com Tobias. Não que Missy não tivesse, mas aquele era o saldo
positivo. Era a parte da história que ela conseguia olhar e lembrar de si, não
dele. Era a parte irônica que era como se ele tivesse lhe dado de volta
depois de tanto ter lhe tirado. Anahí não sentia como se olhasse para a
criança fruto de um estupro, de uma violência. Ela sentia que Missy era a
lembrança viva de algo muito ruim, mas ao mesmo tempo, um alento para
seguir em frente.
— Vamos... abra – Maite incentivou – Você foi muito longe... vamos até o
final agora.
E se...?
Mas Anahí não pensava no se, ela não pensava. Os olhos dela apenas
buscavam pela resposta e não queriam encontrar qualquer outra coisa que
fosse.
E quando seus olhos caíram naquele tão esperado resultado, ela leu:
"Concluímos que há 99,9999% de possibilidade de Missy Mitchel ser filha
de Anahí Portilla".
Ele poderia ter ficado vinte e três anos longe dela, mas de certa forma,
sentia que valia a pena quando poderia lhe devolver a alegria ao lhe
proporcionar aquele resultado, aquela felicidade.
Poncho, Maite e Christian ficaram atônitos com a cena, mas Keith... ele
ficou mais ainda. Viu o genro e os amigos da filha o encararem surpresos
com a atitude de Anahí, mas os três enxergaram a perplexidade da reação de
Keith ao ser abraçado naquele instante, ao ser escolhido como a pessoa que
consolaria Anahí no momento pretensamente mais emocionante de sua
vida. Era definitivamente uma grata surpresa, tão grata que ele não demorou
nada a deixar o choque de lado para se colocar irremediavelmente feliz por
ela estar ali, deixando que ele fosse seu pai pela primeira vez.
Para, em seguida, pedir à Missy que pudesse deixa-la ser sua mãe dali para
a frente.
xxx
Missy estava na casa da avó brincando com o ursinho que lhe fora
devolvido, sem fazer ideia que sua verdadeira mãe estava a caminho para
lhe dar a notícia que mudaria sua vida. Ela estava distraída depois de um dia
cuja manhã ela passara perguntando à Karen e Keith quando seus pais
voltariam para busca-la, sem notar o olhar do casal que não queria dizer
que, se Ed e Barbara voltassem, seria provavelmente para se despedir.
Missy não voltaria para os pais porque eles não eram seus pais. Mas
naquele momento era uma suspeita. Agora Anahí estava indo para lá para
torna-la uma certeza.
Keith disse à esposa que eles iriam até lá para falar com Missy e aquele
anúncio bastou para Karen juntar as peças sobre o que tinha sido o
resultado. Quando a filha entrou pela porta ao lado do pai e de Poncho, nos
olhos dela nadavam uma emoção tão grande que dizia por si que não era
preciso que nada fosse dito. Karen abraçou a filha de lado e os olhos dela
também marejaram. Logo ela disse onde Missy estava brincando,
observando de longe Anahí se aproximar dela aos poucos, Poncho ficar por
perto... mas Keith a segurou pelos ombros com a voz embargada e cheia de
emoção para fazer sua própria revelação.
— Quando ela abriu o exame e descobriu... ela me abraçou – Keith
anunciou num sussurro para a esposa – Eu... eu fiquei tão...
E realmente estava.
Missy deu um salto de onde estava quando viu Anahí e correu para abraça-
la. Foi um baque para sua mãe, que sentiu forte a emoção daquele gesto de
carinho, mas ao mesmo tempo se preparou para o fato de que a menina não
continuaria tão carinhosa depois que ela dissesse o que queria dizer. Era o
primeiro abraço efetivamente como mãe e filha e Anahí segurou a menina
torcendo para que não fosse o último. Ela até poderia lidar com a rejeição
do início, mas não saberia levar se Missy a detestasse eternamente.
— Eu achei que você não fosse vir me ver mais – Missy disse para Anahí
ainda abraçada nela. Nem parecia que as duas tinham acabado de se
conhecer.
— Não, eu vim aqui só pra ver você – Anahí disse beijando o topo da
cabeça da menina.
— Sim, eu tinha perdido, ele devia estar com saudade de mim – a menina
revelou – Mas o seu papai guardou pra mim.
— Missy, eu... eu queria conversar com você exatamente sobre isso – Anahí
continuou.
Anahí naquele momento sentiu que nascia nela a mãe que Missy precisava.
Talvez a menina fosse ficar com raiva quando ela contasse a verdade, a
rejeição era praticamente certa. Mas não importava, ela faria o melhor para
a menina afastando-a de Ed e Barbara Mitchel. A longo prazo, daria um lar
de verdade para a sua filha. E ela e Missy aprenderiam a colher os cacos
uma da outra. Elas iriam se reconstruir, iriam sobreviver, seriam felizes e se
amariam. Daria certo. Anahí faria dar certo.
— Você não é uma monstrinha – Anahí disse com toda a convicção do
mundo – Tem um motivo pra eles não terem sido bons com você esse tempo
todo. Hoje eu vim aqui pra te contar isso, te contar a verdade... porque eu
não quero mais que você seja tratada assim.
Não havia um jeito fácil ou certo de dizer aquilo. Não havia palavras certas
para serem ditas naquele momento. Anahí poderia enrolar eternamente e ir
à lua dando voltas e voltas para falar o que deveria, ou poderia ir direto ao
ponto, falando de uma vez a verdade para a menina. De toda forma ela
magoaria Missy, cedo ou tarde, ao dizer que sua vida era uma verdadeira
mentira. De qualquer maneira ela seria a vilã por ser a pessoa que lhe daria
a notícia, enquanto Ed e Barbara, os supostos pais que poderiam
perfeitamente tê-la criado com algum cuidado e carinho, ainda seriam os
preferidos.
Se não havia jeito certo, quem sabe fosse melhor falar de uma vez.
— Meus papais não vão voltar, não é? É porque eu não fui uma boa
menina? – Missy constatou. Mas não era apenas isso.
— Eles não são seus pais Missy – Anahí por fim disse – Por isso eles
sempre disseram que você era uma... uma monstrinha. E por isso eles nunca
te deram carinho e cuidaram de você como você merecia ser cuidada.
— Não, eles são meus papais sim – Missy franziu a testa, confusa com a
informação – Eu sempre morei com eles, e... eles sempre me levaram pra
escola, e iam pras reuniões, e...
— Por que você ta me contando isso? – Missy seguiu resistindo – Por que
eu to aqui...?
Anahí sentiu que naquele momento Missy já sabia o que ela diria, apenas
não admitia. Como se a ficha não caísse. Ela suspirou antes de dar a
resposta.
Nenhuma criança de apenas sete anos de idade merecia receber aquele tipo
de notícia. Não estava sendo bom para Missy como não era bom para
nenhuma outra... como não tinha sido para Samantha ouvir do pai que sua
mãe morrera sem que ela tivesse a chance para se decidir, ou para Daniel
quando os pais revelaram que iriam se separar e eles continuariam sendo
uma família, mas não da mesma maneira. É claro que a situação era
diferente, já que no início a situação de Missy parecia difícil, mas no fim,
depois que ela aceitasse, as coisas melhorariam e ela teria o que nunca teve:
uma família de verdade. Mas ainda estava no início. Ainda estava longe
desse momento em que tudo ficaria bem.
— Eu não estou – Anahí mordeu os lábios. Ela queria chorar, mas não
podia – Eu juro, eu não... eu apenas quero ser a sua mãe, Missy. Eu prometo
que nunca vou te tratar mal, eu... eu só quero cuidar de você...
— Eu odeio você...!
Anahí acabou sendo deixava de lado naquela conversa, ajoelhada naquele
chão vendo a filha correr para dentro de um quarto, a frase dela ecoando por
sua cabeça e fazendo lágrimas caírem soltas por seus olhos, sem fazer
qualquer esforço para contê-las. Ela tinha se preparado para aquilo, sabia
que não seria fácil, que a chance de Missy rejeita-la era imensa, para não
dizer total. Mas de toda forma era difícil e doloroso vê-la olhando daquela
forma e preferir as pessoas que a maltrataram uma vida inteira. Agora ela
tinha outra vida pela frente para convencer Missy que ela também não tinha
culpa e que só queria o seu bem, queria apenas lhe dar o amor como nunca
teve chance. Mas para isso precisava vencer a barreira que estava entre elas,
destruir o muro que Missy certamente criaria ao seu redor. E
definitivamente não seria fácil.
— Eu sabia que não seria fácil, eu sabia que ela não iria aceitar de cara,
mas...
— Keith vai falar com ela – Karen disse ao se aproximar – Tenha paciência,
butterfly. Não perca a fé justo agora que você foi tão longe.
Anahí esperou por uma hora até Keith sair do quarto onde Missy estava, o
quarto dele e de Karen. Ele não parecia exatamente animado, estava escrito
em sua cara. Anahí logo percebeu que o progresso provavelmente não tinha
sido tanto. Naquela última hora ela tinha olhado para a porta do quarto mil
vezes, pensando e repensando os fatos, se perguntando se tinha dito alguma
coisa errada para a filha e se alcançaria outro resultado caso tivesse usado
outras palavras, chegando sempre à irremediável conclusão que tudo daria
errado de toda forma. Quando viu o pai saindo dali, ao menos teve a
esperança que ele dissesse que Missy apenas não a odiava tanto assim. Já
seria o suficiente.
— A culpa disso não é sua meu amor – Poncho foi quem falou dessa vez –
A culpa de nada disso é sua.
Foi a deixa para Poncho e para Karen. Keith olhava para a filha surpreso,
não esperava por aquele tipo de frase, por mais isso. Anahí parecia abrir um
espaço para diálogo com ele que nunca tinha aberto antes. Era a chance real
que Keith tinha de avançar o mínimo que fosse.
Mas eles não ficaram, é claro que não ficariam. Assim como a conversa que
Anahí teve com Missy pertencia somente as duas, naquela Poncho e Karen
sobravam. Keith estava tao nervoso quanto nunca esteve na vida, se vendo
sozinho com a filha efetivamente numa conversa parental pela primeira vez.
A Anahí que estava ali à sua frente não estava armada para ataca-lo como
de costume, mas parecia aberta ao diálogo e vulnerável com relação a ele
pela primeira vez. Não era uma chance que deveria ser desperdiçada.
— Você não é obrigada a fazer nada por mim apenas porque a Missy não
está te aceitando – Keith ressaltou de cara – Na verdade, eu até preferia que
não fosse assim.
— Sim – ele confirmou – Há oito anos eu sonho em ter alguma relação com
você. Queria que fosse real, algo que nós construíssemos, e não fruto de um
peso na consciência.
— Anahí...
— É carinho o que você tem por mim – Anahí disse cortando-o – Você não
faz nada por obrigação. Você me ajudou a achar minha filha, a trouxe pra
cá, foi gentil com ela e acabou se tornando o único que ela deixou se
aproximar hoje. E não precisava ter feito nada disso.
Keith sentiu seu coração se esquentar daquela forma pela primeira vez. E
ainda havia mais.
— E eu não queria ter perdido tanto dela – ela respondeu aceitando, de bom
grado, o abraço – Mas ainda dá pra recomeçar, pra construir. Você e eu... ela
e eu... todos nós. Como uma família.
Talvez fosse preciso que algo ruim acontecesse, que uma peça se quebrasse,
para que outra fosse consertada. Anahí tinha naquele dia deixado de ser
apenas filha e passado a ser mãe. Mas, ao mesmo tempo, ela voltava a ser
filha naquele momento. A filha de alguém que há alguns meses tinha
passado a ser pai... e a quem ela finalmente lhe dava legitimamente aquele
papel.
Keith e Anahí
Vcs não devem saber, mas a ideia da SVE começou exatamente assim: uma
mulher que sofria rejeição da filha e a partir disso começava a rever a
relação com o pai. É uma das minhas histórias favoritas da fic e eu tava mt
ansiosa pra coloca-la!
Sobre a Missy, é natural que ela rejeite a Anahí num primeiro momento. Por
piores pais que o Ed e a Barbara fossem, eram os pais dela. E ela os amava
e eles sequer se despediram. Vamos ver a água da Anahí batendo firme pra
conquistar o amor dessa menina!
Beijos,
Rafa
Capítulo 59 - Something happened
A cabeça de Sophia doía quando ela abriu os olhos. A princípio ela não
reconheceu o ambiente onde estava, mas demorou apenas cinco segundos
para notar que não era seu quarto. O que significava que não era sua cama.
Foi quando Sophia olhou para o lado e viu Chad. Ela estava na casa dele.
No quarto dele. Na cama dele.
Mas por que Sophia fez aquilo? Em sã consciência ela jamais trairia Jesse,
ela jamais trairia ninguém. Foi quando Sophia se deu conta. Seu corpo doía,
sua cabeça doía, mas não era apenas ali. No meio de suas pernas, uma dor
aguda e insistente. Forçando a cabeça, não vinha nenhuma lembrança de
como tinha ido parar ali. A última registrada era dela ainda no bar com
Chad.
Havia um vácuo entre o momento que ela estava no bar sentada com Chad e
como tinha ido parar na cama dele, sem roupa alguma e com toda a dor na
consciência do mundo. E por mais que se esforçasse, Sophia não conseguia,
de forma alguma, se lembrar do que tinha acontecido. E sobretudo, não
conseguia acreditar que tinha sido capaz de fazer aquilo, de estragar seu
relacionamento maravilhoso com Jesse, de trair... a ideia parecia
insuportável e pior, era real.
— Bom dia delícia – a voz de Chad fazia a dor aguda na cabeça dela quase
berrar. Mas pior era a dor na alma.
— Eu preciso ir embora – Sophia disse se levantando o mais rápido que
pôde.
O único problema era que sair dali significava voltar para a sua casa e a sua
casa significava Jesse. E Sophia não sabia se estava pronta para encarar o
noivo tão cedo depois de destruir o relacionamento deles.
— Eu tenho que ir – ela disse se vestindo o mais rápido que podia para sair
dali o quanto antes.
— Você vai voltar para ele – a constatação de Chad saía amarga e um tanto
debochada – Mesmo depois de tudo o que nós vivemos essa noite...
Sophia não aguentou ouvir mais uma palavra. Ela nunca tinha se vestido
antes tão rápido. Sequer estava com os próprios sapatos nos pés quando
fugiu para o corredor. Chad não se moveu para tentar alcança-la, para se
fazer ser ouvido. Ele tinha conseguido o suficiente para uma única noite.
Não havia necessidade de um avanço sequer a mais.
O coração de Sophia já doía, mas as lágrimas reais só foram cair quando ela
entrou no táxi. Quando se sentou e pegou o próprio celular, vendo as
dezenas de ligações perdidas de Jesse, o choro caiu solto, junto com a ficha
de que tinha estragado tudo. Ela não conseguia acreditar que tinha sido
capaz de fazer aquilo com Jesse, ainda mais depois de tudo o que eles
tinham vivido, do quanto ele tinha mudado. Jesse havia errado com ela no
passado, mas nem se comparava: aquilo era traição. Justo quando ele
passou a confiar nela. Justo quando ele não levantou um dedo sequer para
se opor ao seu encontro com Chad.
Logo ela se deu conta de que não poderia ir para casa sem mais nem menos
sem dizer a verdade. E o que dizer senão o que realmente tinha acontecido?
Ela não conseguia se imaginar parando na frente do noivo e lhe contando o
que tinha sido capaz de fazer. Jesse jamais a perdoaria. A mera ideia lhe
rasgava o peito. Então, por mais que não fosse o certo, por mais que ela não
pudesse fugir para sempre, naquele momento ela tinha que escapar. Ao
menos para conseguir raciocinar e buscar as palavras certas para destruir o
coração do homem que amava, de uma maneira ainda pior que ele a havia
destruído uma vez.
Foi aí que Sophia pensou em Anahí. Ela sabia que a amiga não a
recriminaria, não quando o que ela mais precisava era um abraço. Sophia
naquele momento não pensou: ela apenas pediu ao motorista para mudar o
destino e fechou os olhos, sentindo as lágrimas quentes ainda encharcarem
seu rosto, tentando não pensar, apenas focar que Anahí a ajudaria a dar um
jeito e que tudo tinha que ficar bem.
O contraste entre elas não podia ser maior. Maite estava radiante com a
gravidez, mais parecia que sua pele brilhava. Seu rosto estava leve, a
silhueta tinha o leve arredondamento de suas dezesseis semanas de
gestação, ela estava ótima, provavelmente em seu melhor momento.
Totalmente diverso de uma Sophia que parecia um caco, com a mesma
roupa da noite anterior, a maquiagem borrada pelo choro e a expressão
simplesmente péssima.
— Maite, eu... – Sophia fungou para evitar o choro. Não era a melhor hora
para um confronto – Eu preciso da Any... ela está aí? Eu preciso...
— Ela não está – Maite negou, vendo Sophia quase desabar – A Any
dormiu na Karen por causa da Missy...
Ela estava prestes a negar. Afinal, Maite não poderia ajudar. Maite passara
os últimos seis anos atacando toda e qualquer escolha ruim de Sophia. Ela
tinha certeza que a morena não deixaria barato aquele erro. Qualquer outra
pessoa crucificaria Sophia, em especial porque todos haviam dito que Chad
não era confiável, não apenas Jesse, mas ela não acreditou. Maite
simplesmente a execraria. E Sophia não estava num momento para aquilo.
Ela precisava de apoio. Era pedir demais...?
Só que algo a interrompeu. Antes que Sophia pudesse pensar em sair dali o
mais rápido, seu celular tocou. E para o seu desespero, era Jesse.
xxx
Anahí estava longe de onde Sophia precisava dela. Ela estava na casa da
mãe, à espera de qualquer momento que pudesse se aproximar de Missy. A
menina não estava dando muito espaço para sua mãe biológica sequer
chegar perto dela, e Anahí achava que voltar para casa naquele momento
significaria retroceder um passo. Não era algo que ela estava disposta a
fazer.
Naquela manhã não tinha sido diferente. Missy murchou ao ver que Anahí
ainda estava ali e desanimou logo na mesa do café. Keith, o único que a
menina deixava se aproximar ao menos um pouco, bem que tentou reverter
a situação, mas rapidamente viu que a neta parecia irredutível. Arthur e
Ellie estavam ali, tentavam amenizar a dor de Anahí a todo custo, mas
parecia uma ferida pouco disposta a cicatrizar.
E eis que, quando Anahí já não sabia mais qual passo dar, já que nenhum
parecia realmente eficaz, uma ajuda inesperada apareceu.
Harry e Anahí eram tão distantes quanto o norte e o sul. Eram polos
opostos, ainda que, oficialmente agora fossem filhos dos mesmos pais. O
processo de adoção do rapaz estava praticamente finalizado e a influência
de Keith sobre ele era realmente positiva. Todos podiam ver que Keith de
fato tinha sido um anjo na vida do garoto, já que ele estava firme na
reabilitação e limpo do vício de drogas desde que chegou na casa de Karen.
Mas, muito embora ele já estivesse adaptado ao novo lar e se desse bem
com aquela nova família, com Anahí ele continuava não tendo intimidade
alguma.
— Ela cresceu com pais negligentes que não davam a mínima pra ela e
agora não sabe aceitar o carinho de pessoas que se importam – Harry deu de
ombros – Eu passei por isso. E exatamente por ter passado, sei o que dizer
para alcança-la.
— E por que você faria isso por mim? – ela perguntou mais uma vez – Até
onde eu me lembro, você não gostava de mim e nada poderia ser feito sobre
isso. Não é?
— De fato – Harry suspirou – Mas você deixou de ser uma completa
escrota com o Keith. Ele não merecia isso. Então... eu acho que você deixou
de merecer o meu desprezo também.
Aparentemente, era verdadeira aquela frase de que, quando você joga algo
bom para o universo, ele sabe como corresponder trazendo todas aquelas
coisas boas de volta.
Anahí ficou ansiosa com a conversa de Harry com Missy. Ela não
acompanhou e, verdade seja dita, até mesmo Karen e Keith ficaram
surpresos com a atitude do garoto. Não era algo esperado de um adolescente
de dezessete anos, mas logo eles se deram conta de que Harry não era um
garoto como outro qualquer... exatamente como Missy também não parecia
ser uma criança como outras de sua idade.
A conversa durou quase uma hora. Apenas depois de todo esse tempo Harry
saiu do quarto deixando Missy para trás. Anahí deu um pulo do sofá, os
olhos ansiosos por uma resposta. O que acabou descobrindo era que o que
viria ali não era exatamente o que ela esperava.
— Bem... – Poncho franziu a testa surpreso – Não era algo que poderíamos
esperar.
— Definitivamente não – Jesse pareceu ainda irritado – É que onde ela saiu
com aquele cara e... não adianta, eu não confio nele.
— Por mais estranho que possa parecer... se ela está com a Maite, está bem
– Poncho deu de ombros – Podemos ir?
— Sim – Jesse confirmou – A tia Any não sabia que tinha uma filha, elas
acabaram de se conhecer. Ela não a criou. É... uma história complicada,
com o tempo vocês entenderão melhor.
E com as crianças ocupadas, Poncho no fim das contas teve uma ideia para
evitar que o corpo de Anahí estivesse naquela sala, mas sua cabeça não
saísse de dentro do quarto.
— Any, sua mãe está aqui – Poncho deu um ar de riso um tanto irônico –
Jesse vai ficar aqui. Eles não estão sozinhos. Vai ficar tudo bem, confie
nisso. Missy precise que você dê um espaço pra ela. E eu adoraria que você
aproveitasse isso pra ficar bem perto de mim.
Embora um pouco receosa, Anahí sabia que Poncho tinha razão. Sorrindo,
ela pegou a própria bolsa e disse à mãe que iria "dar uma volta", vendo um
sorriso de aprovação nascer no canto da boca de Karen. Ela não se
preocupou para onde eles iriam, nem o que iriam fazer. Poncho só estava
preocupado de deixar Anahí bem e fazer com que sua mente ficasse bem
longe dali, para, ao menos por alguns minutos, relaxar de tudo aquilo.
— Não, não é – Poncho mordeu os lábios – Isso é ser pai. Quer dizer... eu
amei o Dani desde que soube da existência dele, quando ele ainda era um
amontoado de células e um coração batendo numa ultrassonografia. Numa
época que não tinha exame em 3D e que dava pra ter uma ideia de como
seria o rosto. Eu o amei com a notícia, amei com a primeira ultra, amei em
cada uma delas, amei quando soube o sexo e fiquei completamente de
quatro quando ouvi o primeiro choro dele, pela primeira vez... e você não
teve tudo isso. Ele te tirou tudo. Mas os momentos, os primeiros momentos
que você tem agora, eles substituem tudo isso. Não deixe que ele te tire
ainda mais, amor. Não olhe pra ela e lembre-se dele.
— Você disse que ela nasceu no mesmo dia que eu – Poncho continuou –
Talvez você descubra que, ao menos no jeito, ela se parece comigo.
A ideia fez Anahí sorrir. Era impressionante como Poncho sempre tinha as
palavras certas para fazê-la se sentir melhor. Era inevitável. Ele dizia e lá
estava ela, sorrindo como uma boba, sentindo o rosto esquentar. Poncho
sempre fora assim, mágico com as palavras. Naquele momento ela colocou
o copo de café de lado e o beijou com paixão, com saudade. Mesmo que
tivesse demorado um pouco mais que o previsto, no fim ele conseguiu tirar
os pensamentos dela da filha. Anahí agora tinha os olhos fixos nele, olhos
esses cheios de desejo.
— É pra isso que você botou insulfilm – Anahí disse já indo para o banco
traseiro e é claro, puxando-o.
Não tinha sido para isso... mas até que viria a calhar.
Puxar Poncho para o banco traseiro do carro porque o desejo estava forte
demais para aguentar era algo que ele esperava da velha Anahí. Agora se
dava conta que a nova era repleta de flashes, em alguns momentos
lembrando a mulher que um dia o havia deixado no passado e em outros
mostrando que ela ainda estava ali, mas amadurecida. Por vezes,
endurecida.
Mas era definitivamente bom ter aquela velha Anahí em seus braços. Ele
podia sentir o quanto ela estava excitada por seu toque, por sentir sua pele
quente e sobretudo o quanto ela ficava dengosa quando ele a tocava. Anahí
estava com uma calca jeans e um casaco de lã grosso que, logo ele
percebeu, era a única coisa que ela usava, já que quando sua mão deslizou
por dentro da roupa, se deparou com seu seio livre.
— Sorte sua que eu tenho camisinha aqui – Poncho riu, passando a mão no
bolso para procurar a carteira.
E realmente era.
Ali não teria tempo para que eles fizessem grandes coisas, muito menos
espaço. Poncho sabia que sua casa não era uma opção por respeito ao
espaço onde vivia com o filho e sempre morou com Diana, mas Anahí tinha
um apartamento. Sobretudo, havia vários hotéis no Brooklyn com camas
confortáveis e até banheiras. Por que o banco traseiro do carro dele?
Talvez fosse porque o lugar não importava tanto. A questão ali era a
necessidade que eles sentiam um pelo outro. A vontade que, onde batia,
seria. Poncho sabia que seu desejo por Anahí não diminuía uma grama por
eles estarem num lugar pouco confortável e nada apropriado. Pelo
contrário, apenas aumentava. Ele sentia a pele de Anahí quente como
sempre e fez questão de tirar seu casaco. Sentia a mão dela procurando o
fecho de sua calça, passando deliberadamente por sua cueca, sentindo sua
ereção e sorrindo travessa. E se dando conta que ela não era mais a garota
traumatizada que tinha até um certo medo do sexo. Eles tinham passado por
aquilo, ela tinha superado. Agora eles poderiam ter o que quisessem.
Enquanto Anahí falava ela também tirava a própria calça. Quando Poncho
fez o que ela pediu, sentindo para recebê-la, notou sua calcinha de renda
que invadia os quadris. O sorriso não programado nasceu em seus lábios,
abobado. Era incrível como ele conseguia ser apaixonado pela mesma
mulher que desejava desesperadamente.
— Esse sorrisinho te faz ser encantadora – ele falou – Mas essa calcinha de
renda... te faz gostosa pra caralho.
Poncho também fazia o seu melhor. Segurando-a pelo quadril nu, suas
estocadas eram firmes e certeiras. Era definitivamente delicioso estar dentro
dela, mesmo com proteção conseguia sentir o quanto Anahí era quente e
lisinha por dentro. Como antes, ela não demorava a chegar nos orgasmos,
mas como não podia gemer pelo prazer que sentia, estava mordendo o
ombro nu dele como podia. Poncho sentia que ela quase o esfolava, mas
não importava. Estava ocupado demais deslizando com força para dentro da
boceta escorregadia dela. O resto era o resto.
— Nem precisa falar nada amor – ele riu – Quando você vai gozar, eu sinto.
Parece que vai me tragar.
— Espero que isso seja bom – ela disse como podia – Porque pra mim...
— Shhhhh... só aproveita...
Não tinha como não aproveitar. O orgasmo para Anahí era como o mar
puxa-la e trazê-la de volta. Era violento, intenso e desbravador. E desde que
ela retornou, desde que eles voltaram a transar, estava diferente. Não
melhor, não pior, apenas... diferente. Mais intenso. De uma maneira que ela
não sabia descrever em palavras.
Até porque, quando ele via que ela estava pronta para ele, voltava a penetrar
com força. Ela gemia novamente, totalmente sensível do orgasmo recém-
alcançado, apenas se segurava nele um tanto fraca, sentindo-o chegar ao
ápice em segundos, tão necessitado quanto ela. Anahí via em Poncho,
minutos depois, o que tinha sido com ela.
Ela conseguia concretizar naquela visão o que não notava em si: a pele
arrepiada, as palavras desconexas, os corpos se apertando, suados e
satisfeitos. Via que Poncho sentia o mesmo que ela, que ela lhe
proporcionava o mesmo tipo de prazer. E isso explicava por que não dava
para esperar. Por que tinha que ser no banco de um traseiro de carro, como
se não houvesse mais qualquer outro lugar no mundo.
xxx
Maite preparou um café forte para uma Sophia cujas lágrimas tinham
voltado a cair quando se sentou no sofá dela. Algo estava errado ali. Não
era Sophia a pessoa no grupo deles que fazia alguma besteira, mentia para o
noivo e parecia estranha no dia seguinte. Em tantos anos de amizade Sophia
nunca procurou nenhum amigo daquele jeito. Ela não conseguia entender...
e exatamente por isso, sobretudo por ter mentido poucos minutos antes para
Jesse, Maite a obrigaria a contar.
— Eu não sei se tenho coragem – Sophia não a encarava. Tinha o olhar fixo
na caneca de café – Eu cometi um erro terrível.
— Eu menti por você, eu mereço saber, quer você goste, quer não – Maite
disparou com a sinceridade de sempre – Diga de uma vez.
— Eu traí o Jesse – Sophia, por fim, soltou – Eu transei com o Chad essa
noite.
— Eu não sei! – Sophia disparou aos gritos – Eu não sei por que! Eu... eu
não me lembro! Eu não consigo me lembrar! Eu lembro de nós dois
bebendo e então... hoje de manhã... eu estava na cama dele.
— Porque eu sentia tanta dor na minha boceta que é impossível eu não ter
transado – Sophia confidenciou – Provavelmente transei até mais do que
deveria. Ao menos ele deu a entender que não foi uma vez só.
— Antes – Sophia franziu a testa e viu Maite fechar os olhos sem acreditar
– Eu pedi, fui ao banheiro, quando voltei o drink estava na mesa. Maite, o
que...
~
Enfim, de volta! E com um cap babadeiro!
Sei que vai doer muito em vcs o que aconteceu com a Sophia e eu entendo -
entendo de verdade! Claro que tem um fundo bem educativo e elucidativo
que será mostrado mais pra frente, e por isso eu peço que aguardem,
confiem em mim e esperem a resolução da história (de preferência sem me
atacar, com um governo de merda desses eu me recuso a ser maltratada por
ser feminista!).
Beijos,
Rafa
Capítulo 60 - Innocence of childhood
Maite sequer tinha pensado antes de externalizar sua teoria. Era algo que ela
costumava fazer: falar primeiro, pensar depois. Tinha sido assim desde
sempre e ali não era diferente. Foi a primeira, para não dizer a única ideia
que lhe tinha vindo à cabeça após Sophia descrever em maiores detalhes
sua noite anterior. E embora a própria não concordasse, Maite não
conseguia não pensar daquela forma. Quanto mais pensava, na verdade,
mais fazia sentido.
— Soph, eu não sei por que você continua confiando nesse cara – ela
suspirou – Você é a única. Nós todos somos muito diferentes, mas a única
coisa na qual todos concordamos é que o Chad não presta.
— Eu sei que vocês não gostam dele, mas daí a achar que ele poderia ter
me... – ela sequer conseguia completar a frase – Não...!
— Fazer você sair com ele com a melhor das intenções, agir como se você
tivesse consentido quando você não consegue se lembrar e garantir nisso
tudo que você ainda o defenderia – Maite enumerou logo em seguida
batendo palmas de deboche – Eu tenho que dizer, é um plano perfeito...!
— Eu sei que é difícil pra você – Maite falou de forma suave pela primeira
vez. Não era algo muito comum para ela – Você achava que ele era seu
amigo, confiava nele. Mas será que a ideia do estupro pode ser tão pior do
que a ideia de trair o Jesse...? Nesse caso... a culpa não é sua Soph.
— Se ele foi capaz de fazer isso... se ele realmente fez... todos vocês me
disseram... e eu não ouvi...
— Sophia, olhe pra mim – Maite quase ordenou – Olhe bem pra mim... a
culpa não é sua. A culpa não é da vítima. Nunca. Em hipótese alguma.
— Mas...
xxx
Mas mesmo assim, Samantha era Samantha e isso quebraria o gelo de uma
situação como aquela.
— Oi, meu nome é Samantha mas você pode me chamar de Sam, porque é
assim que os meus amigos me chamam e eu sei que seremos grandes
amigas – a menina disse já estendendo a mão com seu sorriso banguela –
Seu nome é Missy né? O tio Poncho me disse tudo, ele me contou tudo
sobre você.
— Mas ele... ele não sabe tudo sobre mim – Missy murmurou confusa.
— Ah, a Sam sempre diz isso – Daniel deu de ombros – Eu sou o Dani.
— Na verdade o nome dele é Daniel, mas ele se apresenta como Dani pros
íntimos – Samantha completou cheia de si – Viu? Você é íntima! Não é
legal?
— Hm... é – Missy murmurou. Daniel fazia uma careta pelas falas
expansivas de Samantha.
— Você é filha da tia Any, não é? – Dani perguntou – Meu papai me disse.
— Ela diz que é minha mãe, mas eu... eu só a conheci agora – Missy
explicou – Meus papais me deixaram aqui e eu... eu não to entendendo
nada.
— Meu papai e a tia Soso não me explicaram muito sobre você – Samantha
entregou – Só que você era filha da tia Any e que vocês se conheceram
agora e que era pra nós sermos legais com você.
— Ela disse que era minha mãe, mas só apareceu agora, então... – Missy
começou a falar antes de fazer uma pausa e suspirar – Então meus pais
foram embora com o meu irmão. Acho que eles não gostam mais de mim e
não querem mais ser meus pais. Aí ela me disse que me tiraram dela
quando eu ainda era um bebê, por isso não lembro de nada.
— Tudo bem – Missy negou com a cabeça – Por que você ta triste...?
— Meus papais não moram mais juntos – Daniel contou – Nós morávamos
todos na mesma casa, e então... antes do Natal, a mamãe me disse que o
meu avô estava doente e que iria pra casa dele em Boston. Eu fui pra lá
passar o Natal, mas o papai não foi comigo, ele ficou aqui e me prometeu
que iria depois. Então... quando ele chegou... eu achei que tudo fosse voltar
a ser como era antes, sabe? Mas não foi. Eles vieram conversar comigo e
disseram que iriam se separar. Que ainda se gostavam, mas... não iriam
mais ficar casados. Então papai e eu voltamos pra casa e a minha mamãe
ficou. Eu não sei quando ela vai voltar.
Era a primeira vez que Daniel abria o jogo com alguém e demonstrava seus
sentimentos sobre a separação dos pais. Samantha, que não estava
acostumada a um relato triste, parecia atônita – ela definitivamente não
esperava por aquilo. Missy, por outro lado, parecia entender bem melhor.
— Você acha que meu papai e minha mamãe podem voltar a namorar...? – e
em Daniel se acendeu um lampejo de esperança.
— Ele não vai – Dani disse com firmeza – E mesmo que arrume... ele vai
voltar pra minha mamãe. Igual o tio Jesse e a tia Sophia.
Então Anahí era a bruxa má como a tal Lindsey? Ou quem sabe Daniel
apenas queria acreditar nisso? A dúvida na cabeça da menina foi plantada e
não sairia dali tão fácil.
xxx
Maite estava realmente nervosa. Era pra ela estar concentrada em seu filho,
em seu namoro e no momento feliz que estava vivendo. Afinal, quando a
morena iria pensar que estaria feliz ao lado de um homem que
definitivamente a amava, com um bebê à caminho? Se alguém lhe dissesse
isso um ano antes, ela provavelmente riria. Mas ali estava ela, avoada e
angustiada pelo problema que Sophia se revelou, naquela manhã, na sua
vida. Sophia e seu estupro. Sophia e sua negativa de contar a verdade para
Jesse, se esquivando mais ainda de denunciar Chad. Se alguém dissesse um
ano antes que Maite sairia da bolha de seus problemas para se preocupar
com os problemas de Sophia, ela não riria e sim gargalharia.
Mas Mane não sabia pelo que Sophia estava passando, ele não sabia sequer
que a amiga tinha aparecido naquela manhã no apartamento de sua
namorada obrigando-a a mentir. Mane naquela manhã tinha ido para o
treino de seu time mais cedo para conseguir estar ali, naquela tarde, na
consulta do sexo de seu bebê com Maite. Como ele não fazia ideia dos
fantasmas que habitavam a mente de sua namorada, só poderia imaginar
que era algo relacionado ao que eles estavam para fazer... descobrir o sexo
da criança.
— Minha mãe não para de mandar mensagens – ele disse após sentir o
celular vibrando novamente – Jade. Ansiosa para saber se já descobrimos o
sexo.
— Verdade...? – ela olhou para ele rindo – Pensei que ela só quisesse saber
do sexo.
— É – Mane riu – Bem, ela disse que como deve nascer em junho deve ser
de gêmeos, então está mais preocupada com o ascendente porque o signo já
não é dos melhores.
— Sua mãe sendo sua mãe – Maite revirou os olhos rindo – E você...?
— Eu o quê?
— Mane, é sério!
— Eu to falando sério – ele sorriu – Eu amo você. E você sabe disso.
Quando Maite abriu a boca para responder, uma voz irrompeu no corredor.
— Maite Perroni!
E Mane ficaria sem resposta. O abre-alas para uma nova paranoia: o que ela
responderia se não tivesse sido interrompida?
E aquela em especial tinha requintes extras por ser a ultra do sexo. A Dra.
DeLucca primeiro conferiu a saúde do bebê vendo que ambos os pais
estavam nervosos e com os olhos fixos na tela. Mas nem que Maite quisesse
ela superaria Mane, afinal agora era a mão dele que estava gelada.
— Ele? – Mane franziu a testa. Será que tinha perdido alguma coisa? –
Então é um...
— Modo de dizer – Maite fez uma careta – Eu não sei, não sou médica.
— Ora ora – a médica falou – Parece que os papais estão ansiosos para
saber o sexo.
— Nervoso, papai? – a Dra. DeLucca riu – Não precisa ficar. Hoje vocês só
saem daqui sem saber se quiserem.
— Nós queremos saber... – Mane murmurou com convicção, logo antes de
olhar Maite de rabo de olho – Não é amor? Nós não aguentamos a
surpresa...
— Eu até aguento, mas não quero deixar o meu bebê sem pai – Maite riu
encarando a obstetra – Dá pra ver então?
Definitivamente.
— Viu amor? – Maite ria – Uma menina. Avise sua mãe que ela vai ter uma
geminianazinha.
Maite riu fechando os olhos e negando com a cabeça. Por essa ela não
esperava, embora devesse esperar. Era o apelido que ele usava desde que
descobriram a gravidez, quando sequer imaginavam o sexo. E a julgar pelo
sorriso de alegria de Mane, não era algo que ela queria tirar dele.
xxx
— Não é por nós dois Poncho – Anahí ressaltou – Quer dizer, não só por
nós dois. Não é justo com ele.
— Eu sei.
Por isso, assim que Anahí entrou na casa da mãe sua mão se viu soltando a
de Poncho e eles entraram separados. Jesse estava no sofá da casa de Karen
digitando uma mensagem e apenas fez um sinal com a cabeça apontando
para a cozinha. Anahí ao entrar lá se deparou com uma cena que
definitivamente não esperava: sua mãe cozinhando cookies com as três
crianças e, para a sua surpresa, Missy rindo como ela não lembrava mais de
ter visto.
É claro que aquela reação da menina foi interrompida com a chegada de sua
mãe. Missy rapidamente ficou muda e acanhada de novo e então as crianças
e a avó levantaram o rosto e viram Anahí e Poncho entrando. Enquanto
Daniel corria para abraçar o pai, Anahí sentia a decepção de ser a única
pessoa que fazia a própria filha deixar de sorrir.
Biscoitos prontos e servidos, crianças alimentadas... Jesse anunciou que era
a hora de eles irem embora, não sem reclamações de Samantha que queria
ficar ali eternamente. As duas crianças se despediram de Missy e Poncho se
limitou a se despedir de Anahí com um olhar, ele não queria levantar
bandeiras. Ao abraçarem Anahí, Samantha e Daniel, é claro,
confidenciaram como tinha sido aquela tarde durante a ausência dela.
— Não fica triste tia – o menino disse sorrindo carinhoso – Ela vai gostar
de você.
— Eu tenho certeza que sim Sam – Anahí sorriu grata – E tenho certeza que
a minha filha não pode ter melhores amigos no mundo que vocês.
Depois que todos tinham ido embora, Anahí percebeu que ela também era
uma peça deslocada ali. A casa era de Karen, não sua, embora doesse ir e
deixar a filha para trás ainda rejeitando-a. De toda forma, não havia jeito.
Anahí se despediu de Karen cabisbaixa como sempre mas tentando, a todo
custo, disfarçar a própria frustração – embora não fosse tão eficaz assim
quanto à sua mãe. Quando estava quase saindo, foi surpreendida com um
pedido.
— Espera.
Emocionada, ela virou de volta e se deu conta que a filha realmente falava
com ela.
— O que foi? – ela perguntou intrigada.
— Uhum – Missy confirmou – Mas o Dani não sabe, né? Por quê?
Era a primeira vez que Missy e ela tinham uma conversa de verdade. Anahí
logo notou que tinha que ser de igual para igual. Por isso, se abaixou até
ficar na altura da filha e sorriu da maneira mais carinhosa e aconchegante
que foi capaz. Agora sim, estava melhor.
— Eu sei que ficou – Anahí respondeu – Eu não posso pedir desculpas por
eles, Missy. Mas eu não vou magoar você. Eu não vou mentir pra você. De
verdade.
A menina ponderou em silêncio, sem dar qualquer resposta. Ela parecia que
não iria ceder fácil, mas Anahí não estava disposta a desistir.
— E eu não vou abandonar você – Anahí continuou – Eu não sabia que
você existia. Não lembrava que tinha uma filha.
— Olhe bem – Anahí segurou-a pelo queixo – Você acha que alguém que te
conhece consegue esquecer você...?
— Não era você quem dizia há alguns minutos que a mentira magoa? –
Anahí questionou procurando o olhar dela – Anda, vai... me conta a
verdade.
É claro que Missy hesitou. Mas Anahí tinha dado um passo logo antes.
Aquilo foi decisivo.
— O que ele fez? – a raiva dentro do corpo de Anahí fazia a leoa dentro
dela simplesmente rugir.
— Isso não vai se repetir, ok? – ela prometeu abraçando Missy forte – Eu
vou proteger você e não vou deixar que te machuquem de novo.
No fundo Anahí sabia que não poderia prometer aquilo. Ela sabia que, por
mais que Karen a amasse, ela não tinha sido capaz de proteger do mal que
Tobias se revelou ser. E sabia que era igualmente incapaz de impedir que o
mesmo acontecesse com Missy. Mas ainda assim, a promessa era feita.
Talvez porque a questão não era o que ela era capaz de fazer, mas sim o
quanto tentaria alcançar. Ela iria cuidar de Missy até o limite de suas forças.
E se algo acontecesse, era a prova de que ela não era invencível... mas
ninguém era, afinal.
Missy queria sair daquele abraço. Ela não estava acostumada a tanta
demonstração de carinho. Mas quando conseguiu, viu que Anahí chorava.
Aquilo freou seu desespero de fugir dali, ao se deparar com um coração
provavelmente tão ferido quanto o dela. Mesmo machucada, Anahí queria
consertar as coisas para ela. Em horas como essa a vontade de retribuir se
faz presente.
Semana que vem teremos um cap muuuuuito agitado e com fortes emoções!
Ansiosas?
Beijos,
Rafa
Capítulo 61 - Total eclipse of the heart
— Olha! – Missy apontou falando alto – O Dani ta ali! Posso brincar com
ele?
Daniel estar ali significava que Alfonso também estava. Anahí levantou a
cabeça, balbuciando para a filha que sim, ela poderia ir brincar com Dani.
Rapidamente viu Missy correndo animada para longe dali, se
surpreendendo com a familiaridade com a qual ela reagiu ao encontrar
aquele que era o filho do homem que ela amava. As duas crianças pareciam
se conhecer há tempos, pela forma como reagiam uma com a outra. Era
algo bom, algo para se comemorar.
— Ruim...? – ele franziu a testa – Eu achei que você e ela estivessem indo
bem.
— Quer dizer, ter como eu até tive – ela riu – Maite escapou afinal de
contas. Mas... a Lex não merece isso, sabe? Ela é minha amiga. Está
cometendo uma grande burrada, mas é minha amiga.
— Eu não sei – ela respondeu – Quer dizer... eu não viria. Se fosse... seu
casamento com a Diana... definitivamente não viria.
— Fique tranquilo – Anahí sorriu para ele – Meu único marido será você.
O ímpeto natural de Anahí era beija-lo, mas, embora Daniel e Missy
estivessem distraídos, eles estavam ali. Seria contar com a sorte demais.
Quem sabe no futuro... quem sabe quando chegasse o tarde que Poncho
mencionasse e Daniel não ficasse magoado, entendesse que o pai merecia,
precisava ser feliz ao lado da mulher que amava. Nesse momento eles
poderiam se beijar o quanto quisessem. A hora iria chegar.
Afinal, ir era a única coisa que a faria esquecer tudo e não estar nos braços
dele ali mesmo.
Estava muito claro ali que a grande missão de Meredith naquele casamento
era oferecer possibilidades para Lexie jogar tudo para os ares.
— Eu quero me casar com ele – Lexie resmungou com tão pouca confiança
que não era capaz de convencer ninguém.
— Você está uma noiva linda – Anahí murmurou olhando para a amiga com
aquela expressão que misturava dor e orgulho. Se é que era possível.
— Mas mesmo estando feliz e dizendo que está fazendo tudo isso porque
quer... eu só vejo sombra nesse seu olhar onde deveria estar a noiva mais
feliz e animada do mundo.
— Eu não posso fazer isso com ele Any – a derrotada Lexie murmurou –
Ele já sofreu demais.
Pesado.
Na parte externa da biblioteca, o mesmo local por onde Anahí tinha subido
logo antes, Derek Shepherd ainda não havia sido encontrado pela esposa.
Ele estava nervoso porque a filha dos dois, Zola – que seria a daminha do
casamento – estava brincando de correr com Sofia, filha de Callie, e com o
irmão mais novo, Bailey. Derek sabia que Meredith ralharia com ele se
visse Zola bagunçada sob sua responsabilidade e estava justamente
repreendendo a filha quando viu um táxi parar bem na frente daquelas
escadas e descerem dele sua irmã, Amelia, junto com Arizona Robbins e...
Mark.
— Não é possível que você veio – Derek resmungou assim que seu melhor
amigo parou à sua frente – Ou você é um completo masoquista, ou... Mark,
eu não vou deixar você estragar o casamento dela...!
— Porque não era pra você se meter...! – ele negava com a cabeça – Vejam
bem, eu também não acho a melhor situação do mundo, mas a Lexie é
adulta e ela escolheu isso. Nós não temos o direito de nos meter.
— Como eu disse, fique tranquilo – a voz de Mark saiu pesada – Eu não
vou fazer nada.
— Então por que você veio...? – foi Amelia quem questionou – Porque se
eu te trouxe até aqui, foi pra você entrar naquele casamento e dizer que ela
não pode se casar com ele...!
— Eu não posso fazer isso Amelia – Mark insistiu – Ela escolheu assim, e
eu... eu entendo.
Era quase óbvio: Mark esperava por um milagre. Que, aos quarenta e cinco
do segundo tempo, tudo mudasse e a sorte virasse para ele. Para eles.
Como o universo não fazia nada por acaso, Jackson estava dentro do espaço
destinado ao noivo acompanhado por seu padrinho, Alex Karev. Ele e Alex
eram amigos desde praticamente que tinham se conhecido, tirando o
período inicial onde houveram algumas, bem, diferenças. Bem diverso do
que tinha sido entre ele e Mark, que se deram bem desde o início e agora...
agora Alex era o padrinho, não Mark. O convite tinha sido feito
inicialmente a Mark, mas ele prontamente recusou dizendo em claras letras
o que Jackson se forçava a ignorar. E era justamente aquele o assunto que
Karev resolveu puxar.
Jo estava ali, procurando o noivo, apenas para resmungar que não sabia por
que tinha aceitado aquele convite de ser dama de honra de Lexie se
visivelmente não tinha nenhuma proximidade nem com a noiva, nem com
suas outras damas. Ela apenas queria desabafar, resmungar um pouco e
depois aparafusar o sorriso e voltar ao posto, quando o assunto entre as
quatro amigas talvez já tivesse acabado. Alex, conforme dito, estava
trancado dentro daquela salinha ao lado de Jackson, ao menos foi o que
Meredith disse à Jo quando as duas saíram do quarto onde Lexie estava à
espera do casamento. Na verdade a expressão não era exatamente trancado.
A porta estava entreaberta.
— Não – Alex retrucou – Não foi porque, não sei, você percebeu que
queria casar com ela...?
— Minha mãe percebeu por mim – e Jackson enfim confessou – Ela viu
Sloan abraçando a Lexie de uma forma muito... íntima. Foi na época que
aquela amiga dela estava internada no hospital. Ele estava se aproveitando
que ela estava frágil pra se aproximar. Minha mãe me disse deixando claro
que eu precisava fazer algo, e eu fiz... pra demonstrar que ela era minha. E
bem... ela concordou.
A resposta de Alex, ela não chegou a ouvir. Não sabia sequer como suas
pernas trêmulas tinham conseguido mantê-la em pé ali. Ela não queria saber
o que seu noivo tinha dito para o amigo, se lhe daria uma bronca, se apenas
riria... não queria ouvir mais nada, mas ao mesmo tempo estava empacada
no mesmo lugar. A cabeça de Jo rodava por aquela revelação. A única razão
pela qual Jackson pedira Lexie em casamento fora o fato de não querer que
Mark se aproximasse dela. Não era por eles. Era pra afasta-la de outro
homem, um homem que provavelmente a amava de uma forma que ele
nunca a amou.
Quando Jo acordou do transe, ela se deu conta que havia mais. Por mais
surpreendente que pudesse parecer.
— Mas nem o pedido de casamento fez com que ele se afastasse dela, Sloan
continuou rondando a Lexie mesmo depois de recusar o meu convite de
padrinho – Jackson resmungava sem parar – Até que a morte do meu avô
veio a calhar no final. Porque se ela pensava em desistir... quando entrou no
voo pra Boston comigo, eu me dei conta que isso jamais iria acontecer.
Bastou.
Jo não sabia que tipo de força a tinha levado da porta daquela salinha até o
quarto de onde tinha saído e sabia que Lexie ainda estava, mas
provavelmente era o quão possuída estava de raiva pelo que tinha acabado
de ouvir. Ela sabia que estava caminhando para o inevitável e quem sabe até
errado, já que não tinha qualquer direito de fazer o que estava prestes a
fazer. Sabia que provavelmente teria problemas depois, já que Jackson era
um dos melhores amigos de Alex. Mas Jo não se importava. Ela não
pensava no depois, na verdade não num depois que não fosse Lexie casada
com aquele homem e certamente infeliz.
No fundo era tudo um capricho. Jackson queria Lexie para que ela não
ficasse com Mark. Ele apenas não queria perder. Era coisa de um garoto
mimado influenciado por uma mãe narcisista. Mas por mais que Catherine
estivesse enfiada até o pescoço naquela história, Jo tinha certeza que o
grande erro era dele. Jackson sequer cogitava se seria feliz com Lexie,
parecia não ser algo com o qual ele não se importava.
Mas não era justo Lexie se casar sem saber. Definitivamente não era justo.
Assim como não era por acaso que Jo tinha ouvido aquilo.
Poderia ter sido qualquer outra pessoa a ouvir, o próprio Alex. Mas ele era
homem, a fidelidade dele era ao outro homem com quem compartilhava o
espaço, de quem ouvia a confidência. Jo era mulher. Ela tinha que fazer a
diferença. Ela tinha que pensar que não era justo condenar uma mulher à
uma vida daquelas. E ela jamais faria isso. Exatamente por isso arriscava
seu relacionamento com Alex caminhando para contar a verdade para a
noiva do amigo dele. Se Lexie decidisse mesmo assim se casar, seria
problema dela... Jo teria feito a sua parte e ficaria com a consciência
tranquila.
— Mas é claro que estava – Lexie grunhiu – Onde você estava Jo? Isso são
horas de...
— Você não pode se casar com ele Lexie – Jo disparou – Não pode.
Lexie não ficou nem um pouco surpresa ao ouvir aquilo. Era de se esperar:
parecia ser moda em seu casamento as damas de honra tentarem dissuadi-la
a desistir. De Meredith, Maite e até Anahí ela poderia esperar, quem sabe
até Sophia... mas Jo? Que diabos tinha acontecido?
De toda forma, não importava. Lexie tinha ido até ali, ela estava vestida de
noiva. Ela lembrava da agonia de Jackson perdendo pelo avô. Lexie iria até
o final.
Mas Jo apenas visualizava Lexie. Ela estava balançada, podia sentir. Então
Jo iria continuar. Ela iria até o fim.
— Ele não está triste pela morte do avô – Jo enumerou, repetindo à risca
tudo o que ouvira – Jackson sequer era próximo do avô...! Era tudo
fingimento para comover a Lexie. E deu certo. Mas... pode não continuar
dando.
Agora todos os olhares, discretos ou não, estavam pairando sobre Lexie.
Era dela a decisão final, era dela a decisão se diria que aquilo iria continuar
ou se teria o tão esperado fim. Não dava para negar que sua irmã e as
amigas estavam sedentas por Lexie jogar tudo para os ares motivada por
aquela recém-descoberta. Meredith pessoalmente quase cruzava os dedos
naquela expectativa. O único ali que não queria aquilo era Thatcher,
temendo o escândalo no qual Lexie se meteria. Não importava. A decisão
era dela.
E foi.
Meredith achou que iria explodir, mas então foi a voz de Sophia que berrou
mais alto.
— Soph... desista – Anahí disse suspirando – Ela quer isso. Vamos deixa-la
fazer.
Maite não acompanhou a situação. Ela saiu pouco antes e foi sentar-se ao
lado de Mane, já que não seria mais dama de honra do casamento da amiga.
Quando chegou ali, vendo o namorado sorrir para ela, acabou ouvindo por
acidente uma conversa na fileira de trás. Uma conversa no mínimo
interessante.
— É claro que ele não entraria no casamento, ele é apaixonado por ela – a
mulher cochichava no ouvido da outra. Maite as reconheceu: elas eram
colegas de trabalho de Lexie e, por consequência, de Mark. Tinham sido
cirurgiãs de Anahí, por isso a morena lembrava.
— Ele disse que vai esperar por ela – a primeira mulher voltou a falar –
Nem que seja pelo divórcio... mas...
Quando ela finalmente chegou até ele deu o sorriso discreto exatamente
como Jackson esperava que seria. Lexie não era muito expressiva quando se
tratava dele. Por isso ele apenas beijou uma das mãos dela e cumprimentou
o sogro que, diferentemente da filha, estava efusivo. A animação que
faltava em um, definitivamente sobrava no outro.
E isso ficou mais do que claro no que veio à seguir. Após o padre terminar
um sermão típico de cerimônias como aquela, ele começou a parte mais
importante: aquela na qual os noivos reafirmavam o próprio compromisso e
diziam que queriam estar um com o outro. Diziam o famoso sim que, no
particular, já havia sido dado antes, mas agora na frente de todos, perante a
lei e perante Deus. Um sim considerado irrevogável, porque, uma vez dado,
não dava para voltar atrás.
Você deve estar pensando que havia o divórcio. Mark também pensou. Mas
pense bem... se analisar, se dará conta que nada realmente volta a ser como
antes, nem com muito esforço.
— Jackson, você aceita Lexie como sua esposa e lhe promete ser fiel na
alegria e na pobreza, na saúde e na doença, ama-la e respeita-la em todos os
dias de sua vida?
— Sim...
— Lexie... você aceita Jackson como sua marido e lhe promete ser fiel na
alegria e na pobreza, na saúde e na doença, ama-lo e respeita-lo em todos os
dias de sua vida?
— Não.
Once upon a time I was falling in love
Now I'm only falling apart
There's nothing I can do
A total eclipse of the heart
— Você não achou que fosse me manipular o tempo inteiro, não é? – Lexie
disse calma e friamente – Um pedido de casamento ordenado pela mamãe e
feito a uma noiva embriagada... um falso luto por um avô bêbado... Deus,
como você é baixo!
— E você se acha muito à altura para fazer uma coisa dessas – Jackson
acusou – Você não pode fazer isso! Você não pode...
É claro que a maioria das pessoas não tinha entendido o que estava
acontecendo ali. Tal como com Jackson, as fichas não caíam. Só que Lexie
tinha consigo um gesto que deixaria tudo claro: ela se virou deixando o
próprio buquê com uma Meredith para lá de orgulhosa da atitude da irmã e
saiu do altar, caminhando de volta pelo tapete no qual deveria sair
acompanhada de seu marido. Não mais. Não havia marido, não havia
amarras, Lexie tinha sido corajosa mesmo que apenas no final. Com um
certo requinte de crueldade que ela acreditava que ele tinha merecido.
Jackson levaria aquilo como lição e não brincaria mais com os sentimentos
de ninguém.
Mas enquanto andava para fora do salão nobre da New York Public Library,
vendo os olhares de perplexidade seguirem com ela, Lexie viu na beira de
uma fileira um em especial que tinha algo que ela queria. Uma informação.
Callie estava com dois dedos sobre a boca totalmente surpresa com os
acontecimentos que tinha acabado de presenciar, mas não ficou tão surpresa
assim quando Lexie parou bem em frente a ela e fez a pergunta que
realmente precisava fazer.
Mas não foi Callie quem respondeu e sim Arizona. Eram ela e Amelia que
sabiam, a informação que Lexie tanto queria. E que iria aliviar seu coração.
— Num bar a duas quadras daqui – Arizona disse – O único que você vai
encontrar aberto a essa hora. Não o deixe escapar mais.
— Nunca mais.
A prova viva de que, quando algo é seu, nada é capaz de tira-lo de você.
Sei que ela demorou a fazer isso e que correu um sério risco de perder o
Mark, massssss no fim a gente perdoa né? Procuro aqui fazer os
personagens o mais parecido possíveis com os da série e certeza que a
Lexie de Shondinha também só se decidiria nos quarenta e cinco do
segundo tempo.
Em tempo: sei que estou ausente. Sei que estou MUITO ausente nos
comentários e vocês não fazem IDEIA do quanto isso parte o meu coração.
Mas simplesmente não consigo. Pensei em parar a web porque ta
impossível mesmo, eu literalmente invento tempo pra escrever porque to
numa rotina louca de estudos-trabalho-academia, e tenho dado o meu
melhor com o máximo que posso fazer! :( Por isso não deixem de
comentar mesmo eu não podendo responder, porque são os comentários que
me deixam um mínimo motivada pra seguir aqui e terminar a fic!
Beijos,
Rafa
Capítulo 62 - Together
— Nem se eu tivesse previsto isso não teria sido tão bom! – Christian disse
aos berros descendo as escadas da New York Public Library e recebendo
olhares arregalados de todos que estavam a sua volta, tanto amigos quanto
pessoas que ele nem conhecia.
— O que se pode fazer? – Christian deu de ombros. Deixando claro que era
impossível contê-lo àquela altura – Que ele mereceu, mereceu! Digo
mesmo...! Inclusive vamos fazer um bolão? Quem acha que a Lex foi atrás
do Mark Sloan levante a mão...!
— Alguém contenha essa bicha porque eu não sei mais o que fazer – Maite
fez uma careta.
Impossível.
— Não fale assim com ela – Derek apareceu num raio afrontando Catherine
tanto quanto ela fazia quanto sua esposa.
— Veremos.
Pouco depois Jackson acabou sendo arrastado para fora dali pela mãe e por
Alex Karev. Estava no mínimo humilhante continuar parado sem acreditar
no que tinha acontecido. Não dava para voltar atrás: Lexie deixou claro que
descobrira tudo na última hora e o humilhou publicamente. Era melhor não
piorar as coisas, por isso ele decidiu se levantar e sair, não tornando a
derrota ainda maior.
Mas, dentre os que ainda estavam no local onde a cerimônia seria realizada
até o final – se a noiva não tivesse abandonado tudo – e estava mais
contente que todos, se é que era possível parecer mais feliz que Meredith,
era Jo. Ela se sentia boba por ter duvidado da capacidade de Lexie, mais
ainda por ter se perguntado se a outra tinha feito o certo. Não importava se
Jackson merecera ou não, estava feito. Lexie saíra dali para lutar pela
própria felicidade e era justo. Bastava.
Mas acabou que Mark a achou antes de Lexie fazê-lo. Ele estranhou o
silêncio momentâneo e virou as costas, procurando o que tinha acontecido
para fazer um bar inteiro se calar. E viu aquela mulher de pele clara e
cabelos escuros, arrumada impecavelmente para o dia que muitos achariam
que seria o melhor e mais importante de sua vida, buscar pelo que
realmente lhe importava. O coração de Mark chegou a errar a batida ao vê-
la ali, porque ele sabia que uma mulher que deveria estar se casando só
estaria naquele bar por um único motivo: ela não se casaria porque ele não
era o noivo.
E aplausos. Muitos aplausos. Tanto que eles até se soltariam para rir... mas
acabaram não fazendo. Continuaram se beijando e se beijando, até se
tornarem sem graça demais e as pessoas, aos poucos, pararem de prestar
atenção. Era melhor voltar a bebida porque tudo tinha acabado... mas para
Lexie e Mark, apenas começara.
— Eu percebi que não poderia dizer sim pra qualquer um se não fosse você
– ela admitiu.
Havia mais, é claro. Aos poucos ela diria tudo. Não importavam os motivos
pelos quais Lexie saiu daquele casamento e deixou Jackson e todo o resto
para trás, no altar, e sim a primeira coisa que ela foi fazer quando se viu
livre. A primeira pessoa que resolveu buscar.
xxx
— Eu posso ficar com eles – Karen ofereceu – Com as crianças. Para vocês
saírem juntos. Sei que vocês querem.
Missy estava segurada na mão da mãe como se sua vida dependesse daquilo
quando ouviu a avó fazer aquela sugestão à Anahí. Ela não gostou. A
menina estava começando a se adaptar à ideia de ser filha de Anahí e,
conforme se acostumava com sua nova realidade, se apegava à figura da
mãe. Como tinha sido abandonada por Ed e Barbara, Missy não se sentia
exatamente agradada quando tinha à sua frente a ideia de que poderia ser
separada de Anahí. Ela estava levemente traumatizada e era pequena
demais para entender que a situação obviamente não se repetiria.
Anahí também não gostou muito. Ela olhou disfarçadamente para a filha
após sentir a mão de Missy apertando a sua. Já tinha a boca aberta para
agradecer a mãe e gentilmente recusar quando Poncho foi mais rápido que
ela.
— Amor, é pra eles ficarem com a sua mãe, não tem ninguém mais
confiável – ele beijou a bochecha dela discretamente – Ande, nós
merecemos.
— Se você quiser eu não vou e fico com você – ela propôs – Mas caso
queira ficar, eu tenho certeza que vai se divertir com a sua avó. Ela sempre
me fez me divertir muito quando tinha a sua idade.
— Por que eu sinto que você não ta feliz? – Anahí perguntou encarando os
olhos da menina. Por mais difícil que fosse ver os olhos de Tobias nela,
ainda assim o fazia.
Então era aquilo? Era por isso que Missy parecia agoniada daquele jeito?
— É claro que eu vou – Anahí disse abraçando-a – Você acha realmente que
eu deixaria você...?
Logo Poncho acordou do transe e, ao notar que Missy tinha aceitado deixar
Anahí ir e que ela fora convencida pela oferta da mãe, resolveu propor o
mesmo aos outros dois envolvidos.
A única coisa que os adultos tiveram que fazer foi providenciar roupas para
as crianças passarem a noite lá. Os três já faziam planos animados sobre os
programas de TV que virariam a noite assistindo. Harry botou pilha de
todos jogarem videogame e logo Anahí viu a filha empolgada de animação,
rapidamente esquecendo que até logo antes estava totalmente insegura de
ficar para trás. Nada como um bom plano de Karen para resolver tudo.
— Cara, ela não diria pra mim se é algo que não quer que você saiba –
Poncho deu de ombros.
— Se soubesse, jamais me diria – ele suspirou – O que você acha que pode
ter acontecido?
— Eu não sei, minha cabeça anda viajando – Jesse bufou – Foi ao mesmo
tempo, ela saiu com ele, não voltou pra casa, dormiu na Maite e está
afastada desde então. Nós não transamos mais, ela mal me deixa chegar
perto. Eu acho que, não sei, ele possa ter dito algo que a tenha feito querer
se afastar. Feito a cabeça dela, sabe?
— Mas algo está acontecendo – Jesse constatou – E o que quer que seja, ela
não quer me dizer. O que quer que seja... eu não consigo imaginar.
— O que quer que seja, Jesse, você deve agir como um homem e conversar
com ela, pedir que ela te conte e ser honesto – Poncho recomendou – É a
única maneira de não perder a Soph como aconteceu da última vez.
E nem tinha como Jesse imaginar. Ele estava longe, bem longe de supor o
que realmente tinha acontecido.
— Sophia, você pode sim – Maite suspirou – É claro que você pode. Não
só pode como deve. O Jesse é seu noivo, é o homem que você ama, você
precisa ser honesta e contar a verdade pra ele. Ele não pode ficar no escuro
sem saber o que está acontecendo...
— Eu... eu não consigo mais deixar que ele encoste em mim – os lábios de
Sophia tremiam conforme ela relatava – Eu fico lembrando de quando... de
quando acordei na cama do Chad e... se ele me tocar eu vou me sentir mais
suja, sabe? E ele obviamente não está entendendo nada...
— Olhe, nem tem como entender mesmo com você não dizendo nada –
Maite suspirou – Que tal irmos à delegacia e prestarmos a queixa? Aos
poucos, depois que você disser isso em voz alta, vai ser mais fácil contar
pra ele. Você leva o resultado do corpo de delito e tudo fica mais f...
Sophia não precisava ver em Maite mais um algoz, mais uma pedra. Ela já
tacava suficientes em si própria. Sophia precisava de apoio, de um porto
seguro. Era isso que Maite seria para ela.
— Está tudo bem, fica calma – ela abraçou a amiga – Eu estou do seu lado.
Nós vamos dar um jeito nisso.
xxx
Jesse e Poncho seguiram juntos para o bar onde Christian tinha marcado.
Como o amigo alegre que era, ele tinha se nomeado o organizador da noite
brilhante e escura de Nova York, propondo aos amigos que fossem para um
lugar animado e barulhento para comemorar a liberdade da única amiga do
grupo que estava bem longe dali.
Ele não foi o único. Poncho fez o mesmo caminho, só que um pouco
distante. Anahí estava conversando alguma coisa com Maite, uma próxima
ao ouvido da outra e elas riam. Poncho não estava preocupado em saber o
assunto, ele apenas entrou por trás de Anahí e a abraçou pela cintura. Anahí
sentiu cada pedaço dos dedos dele tocando sua barriga e sorriu. Maite
terminou por sorrir ao ver a felicidade estampada no rosto de sua melhor
amiga.
— Longe de mim estragar o vale night seu e da sua namorada – Maite disse
dispensando e saindo dali, indo até Mane.
Era um vale night porque Karen tinha não apenas ficado com Missy
naquela noite, mas também com Daniel, deixando seus pais livres. Poncho
sentia falta de dormir com Anahí, desde o Ano Novo em Vermont eles não
dividiam a cama, o sexo era sempre à luz do dia porque quando anoitecia
ele tinha que voltar para sua casa, seu filho que não fazia ideia do
relacionamento deles. Parecia que ainda faltava uma eternidade para que
eles fossem um casal normal, para que pudessem estar ali, como Maite e
Mane, como Sophia e como Jesse e pasme-se, até como Lexie e Mark...
— Não temos não – Anahí rebateu, mas sabia que era totalmente em vão.
— Têm certeza de que ele não bebeu muito...? – Mane perguntou rindo.
— Não que ele não possa começar uma geração – Mane zombou – Não é
porque ele é gay que...
Ela não respondeu. Estava trêmula da cabeça aos pés com a proposta.
Sophia amava Jesse, Sophia sempre quis ter um filho com ele, sempre quis
ser mãe. E agora a simples ideia da vida deles lhe causava arrepios. Ela
tinha estragado tudo, definitivamente.
É claro que ajudaram. Maite distraiu Christian para que ele não notasse
nada e, quando ele se deu conta, não havia mais sombra de Anahí ou
Poncho ali. Primeiro eles estavam em um táxi cujo destino era o
apartamento dela, bocas grudadas e mãos para todos os lados. Tinham
demorado tanto tempo para começarem aquilo que, quando saltaram do
carro, era difícil ter que parar. Mais difícil ainda chegarem ao apartamento
totalmente vestidos, mas os dois aceitavam o desafio. Sabiam que os outros
donos da casa não estariam por ali, então se sentiram livres para já
começarem a despir um ao outro ainda na sala. Não era apenas as amizades
que tinham mudado em um ano: aquele lado mulher reacendido em Anahí
era algo do qual ela estava definitivamente grata. Se quando tinha voltado a
ideia de Poncho beija-la pelo pescoço lhe causava arrepios, agora era algo
que não lhe dava nada além de prazer.
É claro, tudo era temperado pelo fato de Poncho saber exatamente como dar
prazer a ela. A ereção dele estava visível e Anahí já rebolava sobre sua
calça, iniciando uma fricção definitivamente deliciosa. Era das coisas que
ela mais gostava de fazer no passado, justamente o que a excitava. Era
interessante para Poncho como Anahí aos poucos voltava ao que era antes,
se redescobria. Dessa vez ele deixou que ela ficasse no comando, esperando
pelo modo como Anahí escolheria ter o próprio prazer, chegar até o
orgasmo. Ele viu que ela seguiu um caminho não muito diferente do que
esperava: não soltou da boca dele, uniu seu quadril ao dele enquanto
Poncho tentava tirar a calça para aumentar a sensibilidade dela e,
consequentemente, o prazer que sentia... embora Anahí não entendesse
assim e não estivesse gostando muito.
Paciência não era o forte dela, mas Anahí permitiu. Ficou segurando os
ombros de Poncho com a respiração falha enquanto o via se despir em sua
frente. Depois foi sentindo o prazer se escalando enquanto ele fazia o
mesmo com ela, até deixa-la somente com a calcinha de antes e o sutiã de
renda. Ela se surpreendeu: não era para que eles ficassem sem nada?
Poncho leu a dúvida no olhar dela e respondeu antes que Anahí pudesse
questionar qualquer coisa.
— Você me excita mais assim – ele comentou sem tirar os olhos dos seios
dela cobertos por aquele sutiã – De renda branca... não sabe o quanto mexe
comigo.
E era assim que ele conseguia. Poncho não se importava deles não irem
direto para a penetração: o que excitasse Anahí estava bom para ele. E ela
ficava terrivelmente excitada pressionando o clitóris sobre o pênis dele. Já
era possível sentir pelo modo como ela se comprimia contra seu corpo. O
orgasmo vinha em minutos e ela explodia. Em seguida seu corpo ficava
mole e ela, pronta por inteiro para o que viesse. Para explodir novamente
pouco depois. Para lembrar que poderia ter o prazer que quisesse, que nada
era proibido.
Poncho gostava que Anahí gozava e dizia tudo o que ele não entendia.
Eram sons demais e ele nunca conseguia identificar o que ela estava
falando. Mas não importava, porque seu corpo dizia tudo. Anahí se
arrepiava por inteiro, não era apenas a boceta dela que respondia, era todo o
resto. A pele, a barriga, os dedos que o apertavam, o rosto que se jogava
para trás... ela se entregava. E Poncho a pegava para si, possuindo-a em
seguida. Dando a ela tudo o que ela merecia. Tudo o que lhe foi negado por
tempo demais.
— Não meu amor – Poncho sorriu – Você é quem consegue. Esse mérito é
seu, eu apenas participo.
— Ok, mas digamos que a sua participação seja louvável – ela riu
largamente. Poncho sorriu, era sempre bom ver o quão satisfeita e relaxada
ela ficava após gozar – Vem pra cá, vem. Eu quero participar da sua
plenitude também.
Mas até para ter prazer Poncho a colocava em primeiro lugar. Anahí ainda
estava com aquele sutiã e a calcinha que tanto o excitavam, mas era hora de
despi-la por inteiro. Ele tirava a calcinha beijando as coxas dela com
delicadeza, roçava os lábios em sua pele que já estava sensível, o mesmo
era feito em seus seios com o sutiã. Quando finalmente estava pronto para
penetra-la, pegando o próprio pau e levando até sua entrada, Anahí estava
no limite da sensibilidade. Ele a levava tão longe que nem seus fantasmas
conseguiam alcança-la. Poncho deixava Tobias ficava de fora do sexo deles:
eram apenas Anahí e ele.
— Como eu sempre respondo, eu não quero – Anahí sorriu – Vem pra mim,
meu amor.
Desde aquele recomeço cada vez era como se fosse a primeira, mas ao
mesmo tempo, Poncho sentia a diferença da postura dela. Agora ele não
começava mais devagar, as estocadas eram mais firmes, mais fortes e ela
não reclamava. Pelo contrário, Anahí pedia.
— Você sabe o quanto eu amo que você me coma com força – ela delirou
com os olhos fechados – Como se não houvesse mais nada nesse mundo...
— Não tem mais nada nesse mundo – Poncho disse enquanto estocava com
ainda mais intensidade – Ao menos não tem nada que importe...
Só quero saber uma coisa: vcs estão sentindo falta de algo na fic? Estão
sentindo que algo ta faltando ou sobrando? Me contemmmm!
Beijos,
Rafa
Capítulo 63 - This is real
Se Anahí não estava acostumada com Missy sendo carinhosa com ela, o que
poderia se falar de Poncho? A menina estava no jardim da casa de Karen
quando o carro do namorado da mãe estacionou bem na porta e os dois
começaram a andar de mãos dadas. Ela levantou a cabeça ao ouvir o
barulho da porta se batendo, levantou entusiasmada e, para a surpresa dos
dois, saiu correndo na direção deles.
Era simples: antes Daniel tinha Poncho somente para si e para a mãe. Agora
Diana estava longe, tudo tinha mudado e o pai parecia carinhoso com outra
criança. É claro que ele não iria gostar.
— Você vai me levar pra casa, tio Poncho? – Samantha perguntou com o
interesse de sempre – A tia Soso sabe disso?
— É claro que sabe, foi ela mesma quem pediu que eu te levasse – Poncho
riu – Se despeçam de todos, agradeçam à Karen.
Eles fizeram, Samantha mais empolgada que Daniel, que ainda estava
cabisbaixo.
— Deve ser saudade, ele às vezes fica assim quando nós estamos longe –
Poncho deu de ombros – Mas fique tranquila, vai passar. Isso não muda
nada.
— Você não vai embora...? – Missy parecia curiosa e tinha a testa franzida.
— Você quer que eu vá? – Anahí respondeu com uma pergunta, rezando
para que a resposta dela fosse um não.
— É que todo mundo foi – ela franziu ainda mais a testa – E você ficou.
— Todo mundo mora com as suas mamães e você não mora com a sua –
Missy completou.
— Uhum.
Mas não era receio. Era uma criança que, pouco a pouco, se abria para a
família que tinha. Para a mãe que descobrira.
xxx
— Mas você acha que ela vai ficar chateada? – a voz de Maite perguntou
num sussurro.
— É claro que não – Christian ponderou – Mais parece que você não
conhece sua melhor amiga.
— É que eu não sei se é o melhor momento pra eu deixa-la sozinha...
— Por Deus, você não está deixando-a sozinha – Christian cortou – A Any
tem a mim e tem o Poncho. Você não está abandonando-a nem nada, está
vivendo a sua vida, algo que esqueceu de fazer nos últimos oito...
O que nenhum dos dois poderia imaginar é que Anahí chegava com Missy.
Anahí rapidamente fez uma breve tour pelo apartamento. A cozinha era
conjugada com a sala, ela foi ao banheiro e depois passaram pelos quartos.
O de Christian primeiro, depois o de Maite e por fim, o de Anahí.
Obviamente Missy estava impressionada com o tamanho do espaço, mas
com uma coisa em particular que eles não teriam como adivinhar.
— Vocês têm um quarto pra cada um? Sem dividir? – a menina perguntou
esbugalhada.
— Ah pequena Missy, as coisas que eu faço naquela cama não podem ser
vistas por ninguém – Christian alfinetou. Anahí arregalou os olhos.
Toda vez que a antiga vida de Missy era colocada em pauta a menina ficava
um tanto sombria. Era um assunto que Anahí tinha um certo receio em
tocar, já que não sabia como a filha estava lidando com a ausência de
Barbara e Ed. Só que aquela era a primeira vez que Maite conversava com
Missy e Anahí não tinha preparado nenhum dos dois amigos para o
momento, eles não tinham conhecimento de seus receios. Já era.
— Não era quarto de vocês dois, não é? – Christian perguntou com toda a
delicadeza do mundo – E sim dele...
— Você quer ter um quarto Missy? – ela perguntou, vendo a menina hesitar
ao mesmo tempo que seus olhos inevitavelmente brilhavam.
— Eu sei que não, mas o meu quarto vai ficar – Maite sorriu, olhando para
Anahí em seguida – Eu quero me mudar pro apartamento do Mane. Ele não
diz nada, mas é óbvio que ele quer me convidar e não o fez porque ta com
medo. E bem, como é o que eu quero...
— Você não ta fazendo isso por nossa causa, não é? – Anahí perguntou
receosa.
— Não, não está – Christian foi quem negou – Nós falávamos disso quando
vocês chegaram. Maite quer ir morar com o love dela, até porque a Luninha
nasce daqui uns meses, mas estava com medo de você se sentir sozinha ou
abandonada.
Anahí queria que alguém pudesse perceber a emoção que ela sentiu naquele
momento. Tal como tinha acontecido com Poncho quando chegaram à casa
da mãe dela, um bolo se formou em sua garganta, mas não era uma
sensação ruim, pelo contrário... era definitivamente maravilhoso. Era uma
aproximação, uma relação que começava a se construir e era realmente boa.
— Bom, se tudo tivesse dado certo desde o início... eles seriam seus
padrinhos – Anahí olhou da filha para os dois que discutiam compenetrados
– Eles são os meus melhores amigos.
— Então eles ainda podem ser meus padrinhos? – Missy perguntou feliz.
E eram mesmo.
xxx
Não demorou até que ela pensasse na pessoa perfeita para resolver aquilo.
— Ela está com Mark? – Lexie ouviu a voz de Derek ao fundo – Vamos
Meredith, me conte isso agora!
Falou e disse.
— Isso é mesmo real? – a voz dele saiu fraca – Você aqui, nos meus
braços?
— Cem por cento real – Lexie sussurrou, sentindo suas mãos pesadas
puxarem-na para cima dele – Mark... nós não podemos...
— Fizemos isso quando realmente não podíamos, agora nada vai nos
impedir.
— Pode esperar – ele disse tomando a boca dela, sentindo Lexie se entregar
e empurrar a boxer dele para baixo.
É, realmente podia.
xxx
Depois que chegaram em casa e almoçaram ele bem que cogitou adiar a
conversa sobre Anahí, até se dar conta que, se fizesse isso, nunca iria contar
a verdade para o filho. Ele estava sempre adiando, sempre ficava para
depois, sempre tinha algo importante acontecendo. E Anahí não merecia ser
escondida daquela forma, da mesma maneira que Daniel não merecia ter o
pai mentindo daquele jeito. Era hora de ser corajoso.
Daniel não deu uma palavra sequer. Apenas andou até o pai e se sentou na
frente dele com o olhar perdido. Foi Poncho quem, mais uma vez, tomou a
iniciativa.
— É que a mamãe foi pra Boston e não voltou mais, e agora você só anda
com a tia Any e com a Missy – o menino disse sombrio. Ele tinha notado
tudo, talvez não tivesse juntado as peças completamente, mas ali estava o
raciocínio.
— Sua mãe é especial pra mim Dani, e nós sempre vamos ser a sua família
– ele explicou – Quando seu avô estiver realmente bem ela vai voltar pra
casa...
— Mas nós não vamos mais morar na mesma casa, não é? – Dani
perguntou.
— Não, não iremos – Poncho respondeu – Eu sempre disse a verdade pra
você e dessa vez não vai ser diferente.
— Você ta trocando a gente por elas – Dani acusou – Minha mãe e eu... por
ela e pela Missy...!
— Eu nunca disse isso – ele voltou a negar – É que duas pessoas, quando
não se amam mais do jeito que se amavam no início, não devem continuar
juntas. E sua mãe e eu somos assim. Eu não quero magoa-la porque ainda a
amo muito, mas como minha amiga. Ela e eu sempre seremos seus pais e
você sempre vai ser a coisa mais importante do mundo pra gente.
— Mas se você era amigo da tia Any e virou namorado dela, não pode ser
assim com a minha mãe? – Dani perguntou meio soluçante.
Não havia jeito. Ele era uma criança inteligente e fazia ótimos raciocínios.
Chegava a ser difícil para Poncho driblar tudo aquilo sem magoa-lo.
— Não pode ser assim porque nós só podemos gostar de uma pessoa dessa
maneira, e eu já gosto assim da tia Any – Poncho respondeu calmamente
olhando para o filho com firmeza – Mas isso não significa que eu não ame
você. Sua mãe também sempre vai amar você.
— Mas e a Missy? – Dani perguntou. Era tudo junto, afinal: o ciúme do pai
com Anahí e o ciúme dele com a filha dela.
— Mas... se você namora a tia Any... – Daniel voltou a especular – Você vai
querer ser pai dela também...?
xxx
"Eu conversei com o Dani sobre nós dois. Contei tudo. Ele está meio
cabreiro, meio ciumento, mas acho que vai dar uma chance pra você. Vai
dar tudo certo, eu sempre soube disso. Eu te amo".
E nos dias que se seguiriam, teria mais. Missy tinha concordado, animada,
em se mudar para o apartamento da mãe, para o quarto que já começava a
ficar vago pela mudança de Maite. Anahí tinha planejado sair com ela para
comprar os móveis, escolher a tinta, os brinquedos e até roupas novas.
Missy parecia animada com aquela nova etapa e mal sabia que deixava a
mãe completamente aliviada. Não era um passo que Anahí esperava dar,
mas ela estava feliz com o avanço feito e certa de que nada as faria voltar
atrás.
E em seguida, Anahí viu também a filha por quem ela lutou chamando
aquela mulher que sempre a maltratou da forma como ela queria ser
chamada. Viu a menina não hesitar em soltar da mão dela para correr para a
mulher que a rejeitou. Anahí sentiu raiva naquele momento. Não de Missy,
mas de Barbara... de Ed... e de Tobias, é claro. Os três causaram aquilo.
Tobias tirou sua filha dela e a deixou com pessoas que não amaram Missy
como ela merecia, sequer cuidaram dela. E agora, mesmo depois de tanta
negligência, mesmo depois de Anahí ter dado à filha uma alternativa, ela
ainda parecia preferir aquelas pessoas.
Mas não importava. Não importava se o avanço seria deixado para trás.
Nada importava. Anahí decidiu para si que, mesmo que custasse a relação
que ela tinha construído com Missy, ela iria lutar pela filha. Ela não deixaria
os Mitchel levarem-na novamente. Nunca mais.
E esse final hein? Será que o avanço de mãe e filha vai pro ralo?
Aguardemos!
Beijos,
Rafa
Capítulo 64 - It's not you
O olhar de Barbara Mitchel para Missy não parecia nem um pouco com o
que ela recebia da menina. Enquanto a menina tinha os olhos brilhando ao
se deparar com a mãe adotiva, a mesma não reagia nem de longe da mesma
forma – Barbara apenas abriu um sorriso amarelo que deixava claro que não
estava nem de longe feliz em ver a criança que criou durante quase oito
anos.
Anahí, por outro lado, estava a princípio machucada com a cena. Depois de
todo o esforço feito para conquistar Missy, era difícil vê-la agindo com a
mãe adotiva como se nada tivesse acontecido. Mas aquela tristeza
rapidamente deu lugar a uma fúria descontrolada, exatamente quando
Barbara colocou a mão à frente da menina para impedi-la de abraça-la.
Anahí tinha jurado para si que não deixaria ninguém mais ferir os
sentimentos de Missy. Ela iria cumprir.
Já estava cumprindo.
— Que outra coisa...? – Karen arregalou os olhos, sem fazer ideia a que
Barbara se referia.
Anahí quase explodiu ao ouvir aquilo. Não era de se admirar aquela atitude
vinda de duas pessoas que foram incapazes de dar amor para uma criança
encantadora como Missy, mas arrancar lágrimas da menina depois de tudo?
Aquilo ela não iria tolerar.
— Você não veio me buscar mamãe? – Missy tinha os lábios trêmulos. Era
como se todas as esperanças dela fossem destruídas.
— Olha aqui – ela disse ameaçadora – Você nunca mais vai falar com a
minha filha desse jeito, entendeu? A não ser que queira que eu vire a minha
mão na sua cara...
— Me solta Christian! – Anahí ordenou – Não venha me dizer que ela não
merece! A Missy é só uma criança! Uma criança que quer ser amada pelos
monstros que a criaram...!
— Você não foi uma péssima mãe por falta de responsabilidade, foi uma
péssima mãe porque era incapaz de amar uma criança que criou por anos –
Anahí devolveu, se virando para Missy – Vem meu amor, essas pessoas não
merecem você.
Estava claro: eles não fizeram nada por Missy, muito menos por Anahí.
Apenas estavam pensando no dinheiro desde o início. Trazer as coisas da
menina para a casa de Karen era apenas um pretexto para cobrar a
recompensa a qual Ed e Barbara achavam que faziam jus. Missy, ao ver os
pais adotivos, achou que eles tinham ido busca-la. Agora a menina estava
em choque, com as máscaras caídas e a firme constatação de que nada
significava para eles. E a chance de os dois colaborarem com qualquer coisa
naquela investigação ia para o ralo com a saída deles.
Mas por sorte alguém ali pensou nisso antes que fosse tarde demais.
— Vocês não vão a lugar algum – Keith anunciou – Não até falarem com a
polícia.
Anahí levou Missy para o quarto da mãe e fechou a porta. Mesmo assim
dava para ouvir os gritos do lado de fora, Barbara exaltada tentando fugir
dali a todo custo. Não importava: ela só estava preocupada com a própria
filha, seus pais adotivos que se danassem.
— Eles não merecem você – Anahí explicou calmamente – E não são boas
pessoas. Pessoas más não dão valor ao que têm. Não é culpa sua.
— Não, não são – Anahí voltou a encara-la – Eles apenas te criaram, mas
sua mãe sou eu. Eu apenas não sabia. Mas eu te disse uma vez e repito: não
vou esquecer você de novo. E nunca, nunca mesmo, vou te abandonar. Não
precisa se preocupar, você fica comigo e eu te dou todo o amor do mundo.
Aos poucos Missy iria esquecer, Anahí pensou com firmeza quando
abraçou a filha e ser abraçada por ela. Depois de um tempo ela não iria
sequer se lembrar daquelas duas pessoas que a rejeitaram. Agora havia um
vazio em seu coração que rapidamente seria preenchido por uma pessoa
que, por mais que a conhecesse há pouco tempo, tinha todo o amor do
mundo para lhe dar. E não apenas tinha, mas queria dar. Daria. Já estava
dando.
xxx
No dia seguinte os notícias sobre a prisão de comparsas de Tobias Menzies,
possivelmente envolvidos no sequestro de Anahí Portilla, ganharam os
jornais e programas investigativos. Keith e seus advogados negociaram
com a promotoria e com a imprensa que os detalhes da participação de Ed e
Barbara Mitchel não fossem divulgados, eis que Anahí tinha como
prioridade proteger Missy. Ela não queria que a mídia ficasse sabendo que
sua filha tinha sido encontrada. Missy já estava vivendo mudanças demais
em sua vida para ser assediada por fotógrafos e jornalistas à espera de um
furo de reportagem sobre sua nova vida com a mãe biológica.
Logo de manhã Keith voltou para casa com notícias que animaram
consideravelmente a filha.
Anahí sabia que Keith estava investindo muito tempo e dinheiro naquela
investigação. Sabia que ele apostava todas as fichas para ver o algoz dela
condenado. Tudo isso vindo de uma pessoa que nunca teve a chance de
fazer nada por ela. Keith provavelmente tentava compensar os anos de
ausência e Anahí era grata por aquilo. Estava na hora de compensa-lo, de
mostrar a ele que reconhecia o quanto eles estavam juntos naquilo. Por isso
Anahí sorriu da maneira delicada que tinha aprendido a se dirigir para ele e
o abraçou em seguida, com todo o carinho possível.
— Eu faria qualquer coisa pelo seu sorriso, filha – Keith disse acariciando o
rosto dela, sorrindo bobo – Nós vamos vencer, eu prometo a você.
Ela acreditou.
xxx
A manhã não nascia tão boa assim para todos. Jesse estava definitivamente
encucado com o afastamento súbito de Sophia. Nada do que qualquer um
dissesse a ele o faria deixar de pensar que tinha algo muito errado ali.
Sophia mudara da água para o vinho, sem mais nem menos. Não tinha
acontecido nada que justificasse aquela frieza toda com a qual ela passara a
trata-lo. Tinha algo acontecendo e Jesse queria saber o que era de uma vez
por todas.
O problema era se aproximar dela. Naquela manhã Jesse tinha deixado
Samantha na escola e, quando voltou para o apartamento, Sophia não estava
mais lá: já tinha ido embora, ido para a confeitaria. Ele não perdeu tempo,
saindo de novo o mais rápido que pôde e indo trabalhar. Mas a pressa não
tinha nada a ver com questões profissionais. Jesse só queria confrontar
Sophia e acabar com aquela agonia de estar no escuro de uma vez.
Só que, ao chegar lá, acabou que foi Jesse o confrontado. Não por Sophia, é
claro.
— Qual foi a merda que você fez dessa vez? – Lívia questionou furiosa.
Mas o que realmente o surpreendia é que, dessa vez, ele não tinha feito
nada errado. Era provavelmente a primeira vez, por isso gerava aquele tipo
de reação.
— Porque a Sophia está com uma cara horrível, você e ela estão a
quilômetros de distância e toda vez que isso acontece é sinal de que você
aprontou alguma coisa! – Lívia disparou. Estava tão irritada que parecia que
bateria nele.
— Dessa vez eu realmente não fiz nada, acredite se quiser – Jesse devolveu
– Ela está estranha, ela está afastada e eu sei tanto quanto você.
— Se quer saber nem eu – ele bufou – Você segura as coisas no caixa? Fica
de olho em tudo? Eu vou atrás dela pra ver se consigo descobrir algo.
— Jesse, por mais que não seja culpa sua dessa vez... conserte isso – Lívia
aconselhou.
Se ao menos ele soubesse como...
De toda forma, havia uma maneira de começar: indo até Sophia. Ela estava
na cozinha, como sempre, só que bem mais cabisbaixa do que costumava
ficar. A cozinha da confeitaria era o refúgio de Sophia, o lugar que ela
provavelmente mais gostava no mundo. Dessa vez as coisas estavam tão
sérias e graves que nem estar ali a animada. A violência sofrida tinha
marcado Sophia e ela lutava para não chorar, para não terminar desabando.
Estava difícil.
E o pior é que ela não tinha com quem falar. O normal nesses casos era se
abrir justamente com Jesse, mas aquela opção estava fora de cogitação.
Maite era a única que sabia o que tinha acontecido e Sophia achava que já a
havia soterrado com tanta informação. Para os outros amigos ela não tinha
coragem de contar, a vergonha era grande demais. Nessas horas Sophia
concluía que só tinha se aberto com Maite porque não houve a opção de não
fazê-lo. Se houvesse, definitivamente ela morreria com aquela dor.
— Muito trabalho por aqui – ela respondeu ainda olhando para baixo.
— Soph... – Jesse a chamou com a voz suave. Sophia achou que fosse
morrer – O que está acontecendo?
Como ela queria dizer. Como ela queria...! Mas não podia. Ele teria
vergonha dela. A condenaria. Ele saberia. Jesse jamais a perdoaria, não
entenderia. Afinal, como entender, como perdoar, quando ela não era capaz
de fazer quanto a si mesma? Impossível. Era melhor guardar em segredo.
— Eu não sei mais se quero me casar com você Jesse – Sophia disparou
dessa vez olhando para ele.
— Eu não sei Sophia – Jesse devolveu seco – Tem horas que parece que eu
não conheço mais você.
Talvez não conhecesse mesmo. Afinal, só assim ele acreditaria que aquilo
era verdade.
xxx
Lexie Grey tinha decidido evitar o New York General Hospital por ora. Ela
sabia que estava se criando uma grande expectativa para o seu retorno e
tinha medo de como seria tudo quando ela estivesse frente a frente com
Jackson no meio daquele burburinho do hospital. Talvez fosse melhor
esperar a poeira baixar.
Mas Lexie não estava cedendo aos curiosos. Mark, por sua vez, continuava
trabalhando normalmente. No primeiro dia ele chegou no hospital receoso
do que o esperava, mas no fim nada aconteceu. No segundo idem. No
terceiro Mark se forçou a pensar que tudo não passava de uma paranoia na
sua cabeça e, enfim, foi tranquilo.
— Eu falo sério – ela insistiu – Tem a ver com uma certa residente-chefe
que, a essa hora, ainda deve estar dormindo sem roupa na sua cama. Eu iria
lá se fosse você.
— Se querem saber, está dando pra ouvir o que vocês falam do outro lado
do corredor – Mark anunciou, mas não parecia nenhuma surpresa.
— Não iremos mesmo, até porque eu já disse a que vinha – Amelia retrucou
– Catherine, com todo respeito aos seus milhões investidos nesse hospital, a
chefe de Neurocirurgia sou eu. Eu decido se a Dra. Grey vai ser contratada
por esse hospital ou não.
— Um hospital financiado pela fundação não vai manter essa garota que
humilhou o nosso nome – Catherine anunciou – Ou a Dra. Grey é demitida,
ou a fundação sai. Você decide Bailey.
— Ela não vai sair – Mark rosnou – Bailey, se a Lexie for demitida desse
hospital eu me demito junto.
Bailey tinha os olhos arregalados. O objetivo dela não era perder metade do
seu corpo cirúrgico.
— Acho que não preciso dizer nada sobre Meredith e eu – Derek deu de
ombros – Preciso Bailey?
Catherine não parecia nada satisfeita. Ela certamente tentaria dar um jeito...
mas, ao menos naquele momento, o não de Bailey era a palavra final.
xxx
Poncho passou a semana inteira pisando em ovos com Daniel. Ele sabia que
o menino não tinha exatamente amado a notícia de que o pai estava
namorando com Anahí, mas Poncho esperava que ele amolecesse com o
tempo. Ele só não sabia quanto tempo seria esse, o quanto deveria esperar.
E o que fazer enquanto ele não se adaptasse àquela realidade.
No fim, foi Jesse quem deu uma ideia a Poncho: que ele saísse a três com
Dani e Missy. Era como resolver dois problemas de uma só vez, deixando
que seu filho e a filha da namorada se acostumassem um com o outro.
Quem sabe a aproximação ficasse mais fácil se fosse através de Missy.
Afinal, Dani criou um laço com a menina antes de descobrir que seu pai
estava se relacionando com a mãe dela. Não era um laço que Poncho
acreditava que se romperia apenas pela recepção ruim que Daniel estava
tendo da separação dos pais e do novo namoro de Poncho.
Anahí adorou a ideia. Naquele dia em especial ela não poderia sair com a
filha porque estaria na terapia e Missy estava cabisbaixa, ansiosa para se
mudar de vez para o apartamento da mãe, algo que ainda não tinha
acontecido porque Maite ainda estava desocupando o quarto que seria dela.
Quando a mãe lhe disse que Poncho a buscaria para que saíssem apenas eles
dois e Dani, a menina ficou muitíssimo animada. Parecia ser um grande
acerto aquela ideia.
— Qualquer coisa você me liga ok? – Anahí disse vendo Missy franzir a
testa para ela em seguida – Quer dizer, você pede ao Poncho pra me ligar e
eu vou até você. Onde for, a hora que for.
— Ok, ok, não está mais aqui quem falou – ele deu de ombros – Ande
menina, venha dar um beijo no vovô.
— Eu disse a ela que qualquer coisa, qualquer coisa vocês podem me ligar
– Anahí disse insegura vendo a filha entrar no carro e deixa-la para trás com
toda a tranquilidade do mundo.
— Eu sei que você sabe, mas eu ainda sou nova nisso, to me acostumando –
ela respirou pesadamente.
— Pois então se acostume com a ideia de que eu sempre vou cuidar bem da
Missy – Poncho garantiu – É uma promessa.
— Não fica triste com eles – Missy pediu – Ela gosta dele. Eles estão
felizes.
Esse era o problema... Daniel não estava pronto para ver o pai sendo feliz
com outra pessoa.
Depois de se despedir de Anahí – sem beijo – Poncho entrou no carro e
dirigiu até o Brooklyn Bridge Park. Seguiu para o primeiro lugar onde
conseguiu estacionar e depois disso ele estava com uma criança em cada
mão, a essa altura com o filho já tendo esquecido a birra com a madrasta e
se entregando à empolgação do momento. O parque estava com a grama
verde e o dia estava ensolarado, mas longe de estar quente, porque afinal,
ainda era o fim do inverno em Nova York. Tudo indicava que eles iriam se
divertir muito.
— Eu sei dizer que não pra você...? – ele sorriu para o filho, que o abraçou
na cintura.
— Sim, é claro que sim – Poncho disse se levantando – Vocês ficam aqui e
eu compro, ok? Não saiam.
Realmente eles não saíram. Poncho já tinha levado Daniel para o parque
algumas vezes e feito isso, não havia qualquer motivo para se sentir
inseguro, o que poderia dar errado?
Era simples: nas vezes anteriores Missy não estava com eles.
— Você não veio com a sua mãe hoje...? – ele perguntou interessado. Um
olho estava nas crianças e o outro, em Poncho ainda longe dali e alheio ao
que acontecia.
— Ela nunca falou de mim...? – Tobias sorriu malicioso – Ora ora ora...
Bastou um grito.
Com uma mão Poncho puxou Tobias pela camisa e o afastou de Missy.
Com a outra, lhe deu um soco que o levou ao chão. O lugar onde ele jogou
Anahí tantas vezes. O lugar que era seu agora... que ele realmente merecia.
~
Sem fôlego com o fim do capítulo: sim ou claro? Hahahahahahahaha
Muito do que vocês pediram está nesse capítulo: Anahí enfim chamando o
Keith de pai, Missy enfim caindo na real sobre as pessoas que o criaram -
com o extra da Barbara e do Ed serem presos - e é claro, o tão esperado
acerto de contas entre o Poncho e o Tobias.
Sei que ainda ta faltando a Sophia contar pro Jesse sobre o estupro, mas se
acalmem! As coisas têm seu tempo pra acontecer, vcs precisam confiar em
mim!
De toda forma, peço desculpas pela falta de post de ontem, mas sem luz
numa casa e sem internet na outra fica impossível né? Felizmente hoje tudo
voltou e eu consegui estar aqui. Mas semana que vem voltamos à
programação normal e eu estarei aqui na quinta se não acontecer nenhuma
catástrofe.
Beijos em todxs,
Rafa
Capítulo 65 - Only you and me
— Você não ouse se aproximar dela – Poncho disse apontando o dedo para
um Tobias que ainda estava no chão, com o nariz ensanguentado pelo soco
que levara – Nunca mais.
— Nunca – Poncho disse puxando-o pela camisa, com sangue nos olhos e
ódio nas veias – Se você chegar a cem metros que seja dela, se você tocar
num fio de cabelo de qualquer uma das duas eu acabo com você. Não vai
sobrar nem um pedacinho.
— Pois eu ficaria satisfeito – Tobias ironizou mais uma vez – Pois assim
você seria preso e ela teria que ficar sozinha. Antes eu morto do que ela
com você, seu fraco.
Naquele momento Poncho descobriu que havia espaço para mais ódio. Foi
o que fez dar outro soco em Tobias e joga-lo de vez no chão.
O racional dizia que era errado, que era melhor que realmente o parassem,
mas Poncho não era razão naquela hora, ele era emoção pura e puro ódio.
Ele queria estraçalhar Tobias sem pensar nas consequências, mesmo
deixando Anahí sozinha, pelo menos ela estaria livre daquele homem,
poderia criar Missy sem fantasmas. Mas quando o afastaram o suficiente,
quando Poncho começou a ouvir as sirenes de um carro de polícia que
parecia perto, ele viu o rosto de Daniel o encarando com o mais absoluto
assombro.
Então ele percebeu que não era mais apenas ele e Anahí. Eles tinham duas
crianças que dependiam deles. Poncho tinha um filho que não pedira para
nascer e não tinha absolutamente nada a ver com a raiva que o pai nutria
por Tobias Menzies. Um filho que não conhecia a história completa e não
entendia as versões e as nuances... mas que agora via o pai possuído e
violento.
Nada bom.
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Se enganou.
— Por que parece cada vez mais difícil, mais distante...? – ela questionou
desesperançosa.
Mas tudo tinha ficado ainda mais complexo com aquele novo elemento.
Quando Anahí entrou na delegacia ela foi capaz de enxergar Erendira ao
fundo sentada com Daniel e Missy, um de cada lado seu. Pelo simples olhar
da filha Anahí foi capaz de apostar que a menina estava insegura por estar
com alguém que não conhecia. Tanto era verdade que, tão logo ela viu a
mãe entrando, já deu um pulo da cadeira e correu na direção de Anahí,
agarrando suas pernas e parecendo aliviada por estar num terreno seguro
novamente.
— Fica com o seu avô, eu irei resolver tudo, te prometo – Anahí disse
apontando para Keith e Missy, sem pestanejar, foi até Keith.
Mas não era o olhar que Erendira lhe lançava que chamava a atenção de
Anahí. O que ela via era Daniel. O menino a encarava com rancor, com os
olhos cerrados e os braços cruzados, a boca trincada. Não era preciso pensar
demais para entender o que tinha acontecido, as peças estavam ali para
serem juntadas e Anahí rapidamente ligou os pontos.
— É culpa sua – Daniel acusou se levantando e olhando para ela com raiva
– É por sua causa que o meu papai ta preso...!
— Eu odeio você...!
Daniel falou aquilo logo antes de sair dali correndo e com raiva. Erendira se
desculpou com Anahí pelo sobrinho, disse que Poncho já estava para ser
liberado e foi atrás do menino, deixando-a ali, com o rosto queimando de
vergonha, de raiva, por tudo. Lágrimas queriam sair de qualquer forma e ela
lutava para tentar impedir, porque Poncho já estava prestes a ser libertado,
Missy estava ali e ela não queria se mostrar vulnerável justo naquele
momento.
Mas era impossível. Anahí ali sentada lutava contra a dor e sua força
parecia ganhar, mas não ter nenhum tipo de abalo... isso era querer demais.
Ela mordia os lábios, respirava fundo, rapidamente lançando um olhar para
Keith implorando para que ele saísse dali com Missy e a filha não tivesse
que ver a mãe naquele estado. Funcionou, mas não por muito tempo, porque
mesmo a menina estando afastada, a outra pessoa de quem ela queria
esconder a própria fragilidade apareceu bem ali.
— O Dani, ele... ele viu o que aconteceu e disse que a culpa era minha –
Anahí mordeu os lábios – Realmente é, mas...
— Eu não quero que você suja as mãos por ele – Anahí disse saindo do
abraço e encarando-o – Eu não quero que ele te torne um assassino Poncho,
não seria justo.
— Eu sei – Poncho concordou – Eu não pensei. Não estou certo, não vou
me justificar, é que na hora... ele tava tentando se aproximar da Missy, e
isso eu não poderia permitir.
— Sim, foram apenas algumas horas e a advogada do Keith disse que vai
cuidar de tudo – ele respondeu – Talvez você precise conversar com a
Missy. Eu não sei o quanto ela ouviu...
— O desgraçado disse que era pai dela – Poncho respondeu – Eu não sei
se... na hora eu esqueci que eles estavam juntos, me deu tanto ódio...
— Merda – Anahí praguejou – Ok. Você também tem que conversar com o
Dani. Ele precisa de você. Nesse momento... os nossos filhos precisam mais
de nós do que nós precisamos um do outro. Temos que cuidar deles, fazer
tudo ficar bem de novo.
— Tem horas que eu esqueço que não somos somente você e eu como era
antes – Poncho disse abraçando-a novamente – Fique bem ok? E não pense
nem por um segundo que algo é culpa sua. A culpa é dele, só dele e nós
iremos provar isso no Tribunal.
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Anahí sabia que a conversa entre Poncho e Daniel não seria fácil. A mera
lembrança da forma como o enteado tinha falado com ela, o olhar dele
cheio de raiva, ainda eram coisas que a deixavam profundamente magoada
e faziam seu coração doer. Mas ela via que não era o momento ideal para se
concentrar em si, já que o olhar que Missy exibia parecia vago e cheio de
dúvidas. Por aquele olhar Anahí percebeu que Poncho tinha razão, Missy
tinha ouvido demais. Era melhor que ela exorcizasse aqueles fantasmas de
uma vez, já bastava que uma delas fosse assombrada.
— Por que você não disse que ele era meu pai? – Missy continuou
perguntando – Você prometeu que não mentiria pra mim.
— Significa que ele me trancou dentro da casa dele e não me deixou sair –
Anahí respondeu – Eu nunca mais vi a minha mãe, os meus avós, nem meus
amigos e nem o Poncho. Ele não queria que eu saísse porque achava que eu
deveria ser só dele. E eu fiquei lá por oito anos.
— Sim – Anahí deu um sorriso amargo – Ele me obrigava a fazer sexo com
ele. Sexo é como os bebês são feitos. É algo bom quando nós fazemos com
carinho, com a pessoa com quem gostamos, só que eu não gostava dele, ele
me obrigava e me machucava, me tratava mal. Mas mesmo não gostando,
eu tinha que fazer, porque se não ele me batia. E assim você nasceu.
— E ele me levou embora depois – Missy completou – E me levou pros...
Ela se calou. Já não conseguia chamar as pessoas que a criaram de pais, não
desde a última vez que os vira.
— Então... ele realmente é meu pai? – a constatação não parecia algo que
fazia Missy feliz. E Anahí entendia por que.
— Depende – Anahí explicou – Porque eu acho que pai é quem nos ama.
Pai é quem cuidada gente, não quem nos faz. Você nasceu dele, mas ele
nunca cuidou de você. Ele te afastou de mim e te deixou com pessoas más,
que não cuidavam bem de você. Então sim, ele é seu pai, mas ao mesmo
tempo... não, ele não é.
— Eu sei que é difícil demais pra sua cabecinha entender tudo isso – Anahí
prosseguiu – Mas ele não é uma boa pessoa e por isso o Poncho bateu nele.
Eu sei que não é o certo, mas ele fez isso pra te proteger. E quando
protegemos as pessoas que amamos, nem sempre fazemos isso da maneira
mais correta.
Tobias nunca fora pai de Missy, aquela era a grande verdade. Era uma
contribuição biológica e, ainda assim, forçada. Ele não era para a menina o
que Jesse era para Samantha, o que Poncho era para Daniel e
principalmente, o que Keith vinha sendo para Anahí. Missy poderia ter
dificuldades de entender isso, mas era algo com o qual ela se acostumaria
conforme vivesse aquela verdade.
Mas Anahí acabou descobrindo que ela tinha entendido muito antes...
E Anahí naquele momento descobriu que a coisa que mais queria em seu
íntimo era que aquele desejo da filha se tornasse real.
— Tudo bem – Missy deu de ombros – Tomara que passe, porque eu gosto
dele. Não quero que ele deixe de ser meu amigo.
Era nítido que ali Anahí tinha a chance de virar a filha contra o filho de
Poncho. Não era confortável ser rejeitada pelo enteado quando ela não tinha
culpa de tudo o que aconteceu. Em uma vida perfeita Daniel e Missy seriam
filhos deles e ela nunca teria sido sequestrada. Quem sabe até eles poderiam
ter mais um irmão. Mas ela nunca faria isso. Ela entendia Daniel sentir a
vida se quebrando porque ela teve uma vida quebrada mesmo antes de ser
sequestrada. Ela apenas torcia para que, um dia, o menino entendesse a
aceitasse. Que eles pudessem ser uma família, embora não fosse nem de
longe o que era planejado, o que era ideal.
Aquela vida definitivamente não era nem um pouco perfeita.
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Maite Perroni não era o tipo de pessoa conhecida pela própria paciência.
Ela acordou na manhã seguinte na cama de Mane e viu uma coisa em seu
celular que a fez se dar conta que, mesmo que fugisse de ser a pessoa que se
metia no que não era de sua conta, aquilo acabava voltando para ela e
obrigando-a a seguir o fluxo da própria natureza. Maite não tinha planejado,
mas quando dera por si já estava a caminho de seu destino: a confeitaria de
Sophia, pronta para obrigar a amiga a dar um basta definitivo naquela
catástrofe na qual sua vida se transformou.
Lívia estava servindo uma mesa e anotando pedidos quando viu o furacão
que a amiga de seus chefes costumava representar invadindo a cafeteria.
Boa coisa não haveria de ser. Por mais que passassem por um momento de
trégua naquele momento ela sabia que a relação entre Jesse e Sophia com
Maite nunca foi das melhores. Lívia não sabia o que esperar.
Ela até rezou para que a morena seguisse direto para o balcão e apenas
estivesse ali para comer algo. Mas é claro que não era isso. É claro que
Maite foi até ela. E antes mesmo dela abrir a boca, Lívia se adiantou.
— Sophia ou Jesse? – ela perguntou, sem deixar de olhar para o bloco onde
anotava os pedidos.
Imediatamente Maite ergueu as sobrancelhas, mas não fez rodeios. Ela não
estava ali para se prolongar; pelo contrário, queria ser breve. Precisava ser.
— Na cozinha – Livia prosseguiu – Que bom que é com ela, porque o Jesse
não está. Reunião de pais na escola da Sam.
Excelente. Maite não queria que Jesse ouvisse a conversa, não queria que
ele aparecesse até o momento certo. Não convinha. A conversa era entre ela
e Sophia. Por sorte a morena não precisava de convite ou ainda ser
anunciada para entrar na cozinha da cafeteria, por isso seguiu direto para lá
a passos largos e abriu a porta. Sophia tinha funcionários suficientes para
não estranhar alguém entrando daquele jeito, por isso só levantou a cabeça
quando ouviu a voz da amiga.
É claro que Sophia não esperava pela presença dela, mas não precisava ser
inteligente demais para saber o que Maite fazia ali. Definitivamente não era
realizar um desejo de grávida. Maite ultimamente só procurava Sophia para
falar do estupro e a simples ideia de retomar aquele assunto pela milésima
vez deixava Sophia com a boca seca. Mas não tinha jeito. Ela não conhecia
ninguém que alcançava a façanha de fugir do assunto com aquela mulher.
— Ele me pressionou e eu... – Sophia fez uma pausa. Maite rezou para que
ela dissesse que tinha contado a verdade ao noivo, mas não foi o que veio –
Disse a ele que não sabia se ainda queria me casar com ele.
— Não, ele não contou nada – Maite negou – Mas eu sou uma exímia
observadora e vi uma curtida no Instagram dele que deixou bem claro que
tinha algo muito, muito errado.
— Vocês se amam – Maite voltou a falar – Vocês têm uma família com a
Samantha. Eu não vou deixar que o seu medo acabe com isso.
— Não Sophia, você é quem não entende – Maite disparou – Eu sei que o
medo, a vergonha e as lembranças daquela noite te sufocam, mas enquanto
você não disser ao Jesse isso não vai passar; pelo contrário, vai apenas
piorar. Eu vi isso e senti nesse texto o quanto o Jesse está sofrendo. Eu não
vou deixar que aquele canalha destrua o que vocês têm. Então é o
seguinte... ou você conta, ou eu conto.
Por essa Sophia não esperava.
— Você não pode fazer isso comigo – ela murmurou com os lábios
tremendo de agonia. Mas não iria adiantar de nada aquele apelo.
Maite tinha uma confiança – para não dizer esperança – de que aquilo não
fosse necessário. Ela tinha blefado, já que não tinha a menor intenção de
dizer a verdade a Jesse. Era Sophia quem deveria falar. Maite apenas fez
aquela ameaça no sentido de despertar a amiga para o óbvio. Ela iria
destruir a melhor coisa que tinha na vida – a família que tinha construído
com Jesse e Samantha – por uma violência que não era culpa sua. Era
injusto demais e Maite iria impedir aquilo de qualquer maneira, mas
esperava não precisar. Ela esperava mesmo que Sophia desse o passo
seguinte.
A ameaça soou mal para Sophia. Se ela já estava agoniada, a partir dali
ficou prestes a explodir. Não conseguiu mais trabalhar e acabou saindo
horas antes que o de costume. Quando Jesse chegou na confeitaria com
Samantha ela obviamente não estava ali, o que reforçou a ideia dele de que
Sophia o evitava a todo custo.
Se até entrar no quarto Jesse tinha dúvidas quanto a perguntar ou não o que
estava vendo. Ele sabia que não aguentaria ouvir de novo a rejeição da boca
dela. Mas ao vê-la ali Jesse sentiu que havia mais. Como ele suspeitava no
início, alguma coisa que ela não tinha contado por ele, qualquer que fosse a
razão daquilo. Ele bem que tentou ser orgulhoso, mas não conseguiu. Ver
Sophia chorando daquele jeito o deixava em pedaços... por isso ele se
ajoelhou de frente para ela e enxugou uma de suas lágrimas.
Sophia sabia que precisava dizer logo. Muito tempo depois ela perderia a
coragem. Já Jesse sentia um feche de luz no coração. Quem sabe a luz no
fim do túnel indicando que ela acabaria de uma vez com aquele mistério e
diria a verdade para ele, fosse qual fosse.
— Eu não consegui te odiar nem com o que você me disse antes – Jesse
revelou com ar de riso – O que quer que seja...
— Sim... quer dizer... não... – Sophia não sabia o que dizer. Jesse tinha a
testa franzida e o coração disparado – Eu não lembrava de nada na manhã
seguinte... quando eu acordei... eu estava lá... deve ter sido algo na minha
bebida, e eu não deveria ter bebido... mas ele botou algo, só pode ter sido
isso, porque eu fiquei zonza e...
A primeira reação de Jesse foi acabar com toda a distância entre ele e
Sophia. Eles já tinham se afastado o suficiente, bastava. Por isso ele se
levantou, sentou-se na cama e a puxou para seus braços, afagando-a tanto
quanto era possível. Ele sentiu Sophia se aninhar nele, abraçando-o com
força e chorando mais ainda. Quem sabe de desespero, de alívio, de tudo
junto. Mas enfim livre, sem sombra de dúvidas.
— Me perdoa – ela disse entre as lágrimas – Por favor Jesse, por fav...
— A culpa não é sua – Jesse respondeu calmamente – Nunca vai ser sua
ok? Eu não tenho o que te perdoar meu amor, você não é a culpada. O
culpado é ele.
Começo dizendo que esse foi um cap bem difícil de escrever por conta
dessa cena bem densa entre a Anahí e a Missy. A cada palavra eu era
massacrada pela minha insegurança de não ser bem interpretada quanto à
cena. Talvez seja um choque pra vcs lerem uma mulher falar com uma
menina de sete anos sobre sexo e estupro. Pode ser que algumas pensem
que jamais falariam sobre isso com uma criança.
A questão é que a Missy não é uma criança como outra qualquer. Ela
enfrentou notícias e descobertas que as crianças da sua idade não
enfrentaram e a Anahí percebeu - pela convivência com ela, pelas
circunstâncias e pela própria experiência com a mãe - que a melhor arma é
sempre a verdade. Cada palavra ali foi mt bem escolhida por mim pela
delicadeza do tema, porque não se pode falar de qualquer jeito. Mas
também acho que numa situação dessas a Anahí não poderia se omitir. A
melhor maneira de proteger uma criança é fazê-la conhecer os perigos do
mundo, e não há conhecimento sem verdade.
Sei que vcs querem essa trama se resolvendo. Sejam um pouco mais
pacientes!
Beijos,
Rafa
Capítulo 66 - Say something
Não importava. Poncho poderia não ser mais seu marido, mas Daniel
sempre seria seu filho. E era por ele que ela ignoraria que suas cicatrizes
ainda não estavam secas. Ela engoliria em seco e assumiria a situação.
Daniel estava realmente em uma verdadeira guerra fria com o pai. Poncho
sentia isso e sofria. Ele estava sendo assediado pela imprensa por conta da
situação com Tobias, estava momentaneamente afastado de Anahí que
também lidava com os próprios cacos causados pela atitude dele, mas o que
realmente o machucava era a rejeição do filho. Daniel estava magoado com
o pai ao vê-lo agredir outro homem. Nenhuma explicação seria
suficientemente plausível. Ao contrário de Anahí, que conseguiu usar
aquela situação para contar à Missy sua história – que na verdade era delas
– Poncho hesitava em dizer a verdade ao filho. O considerava pequeno e
dócil demais para ouvir aquilo, sem falar que Daniel jamais aceitaria que
Poncho se tornasse um agressor pela mulher que ele não queria que o pai
namorasse.
Sim, obviamente ele sabia o que a tinha levado ali. Só não tinha juntado as
peças sobre como ela tinha descoberto.
— Sua irmã – Diana deu de ombros, entrando pelo espaço que ele tinha
deixado – Alguém tinha que me contar, não é?
— Você acha que, se conversar com ele... – ele começou a propor. Surgiu
uma esperança em seu peito: quem sabe Diana poderia resolver tudo...
— Eu vou tentar, mas não prometo nada – ela mordeu os lábios – Você
precisa dar um tempo pra ele. São muitas coisas novas. Eu saí de casa, nós
nos separamos, ele ficou um mês longe de mim, depois semanas longe de
você em outra cidade, depois outro mês longe de mim com a ideia de que
nós não vamos mais morar juntos... e ainda tem a Anahí. É coisa demais,
ele só tem seis anos. Você não pode sufoca-lo, Poncho.
Destruía Poncho tudo o que Diana falava, e ele sabia que não era por mal.
Diana nitidamente não estava ali para acusa-lo, apenas para amenizar a
situação. Ela falava verdades, talvez por isso machucasse tanto. Poncho
queria naquele momento gritar e dizer que não estava sufocando Daniel,
que apenas não sabia lidar com o filho se afastando dele pela primeira vez
na vida. Eles sempre haviam sido completamente ligados e agora o filho
mal o olhava. Racionalmente Poncho entendia que Daniel estava tão ferido
quanto ele, mas emocionalmente ele estava agoniado por ver a mãe que
precisou se afastar ser bem recebida enquanto ele era cada vez mais
afastado.
— Tudo bem – Poncho mordeu os lábios – Eu acho que vou ficar com a
Eren por uns dias.
— Ela tem uma situação própria pra resolver – Poncho disse se referindo à
Missy. Não era o momento de contar.
Poncho caminhou até a escada levando as malas dela até o quarto que era
dos dois, já pronto para entrar ali e separar as próprias coisas – ao menos o
essencial – para passar os próximos dias na casa da irmã. Quando os dois
chegaram ao segundo andar ele ouviu Diana chamar pelo filho e Daniel sair
correndo animado ao encontro dela. Poncho quase não lembrava da
felicidade do filho, parecia que uma eternidade tinha se passado desde a
última vez que ele vira Daniel assim. E não era por ele.
Mais parecia que nunca mais seria por ele.
E ele sabia que precisava fazer algo para matar de vez aquela dor que quase
o sufocava, mesmo que fosse algo que ele nunca tinha cogitado fazer.
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— Vocês zombam com a minha cara e ainda bebem vinho quando eu não
posso beber. É muito desaforo! – a careta dela era imensa.
Era óbvio que os três imediatamente pensaram que tudo tinha voltado ao
normal entre Maite e Sophia. É claro que eles pensaram que aquela frase
era fruto de mais um dos momentos nos quais Maite estava sendo ácida
sobre a "amiga". Não faziam ideia – e nem tinha como saberem – o quanto
a morena estava envolvida no drama que Sophia vivia. E não sabiam que
Maite era a única ali que tinha a confirmação que a outra estaria ali naquela
noite.
Mas nem tudo precisava ser dito. Na verdade, ser dito por ela.
Não demorou muito tempo depois da zombaria para Sophia chegar. Foi
Anahí quem abriu a porta para a amiga e viu que ela parecia quieta e
acanhada demais para o que todos ali se acostumaram a ver. Anahí abraçou
Sophia e estava pronta para perguntar o que estava havendo. Ela já estava
bebendo e isso soltava seu lado falador, é claro que ela não ficaria na
dúvida.
Só que no fim não foi preciso. Enquanto Anahí abria a boca, Sophia
caminhava até Maite e fazia uma revelação que a morena esperou semanas
para ouvir.
Maite mal piscou. Ela apenas se levantou, após conseguir reagir àquela
notícia, e abraçou Sophia com força, envolvendo-a naquele abraço de
consolo, de alívio e de redenção. Os outros não entenderam, mas não era
exatamente o objetivo das duas se explicarem: bastava o fato de que uma
soubesse a razão de ser do sorriso em meio às lágrimas da outra. Sophia
sorria por ter finalmente deixado que a verdade saísse. Maite sorria de
alívio porque a verdade dela enfim estava liberta.
— Graças a Deus – Maite murmurou aliviada, indo às lágrimas – Eu estou
orgulhosa de você.
Dessa vez Maite não falou nada, apenas encarou Sophia. Ela tinha feito o
mais importante – contado para Jesse – então não cabia mais à amiga
interferir. E Maite tinha a intuição de que, depois do primeiro passo, todos
os seguintes seriam mais fáceis.
— Porque tem algo que vocês não sabem – ela disse com a cabeça baixa,
mas voltando o olhar para os três amigos logo em seguida – Eu fui
estuprada.
Sophia ergueu a cabeça surpresa. Ela não esperava que alguém juntasse as
peças tão rapidamente, mas era óbvio que, se alguém o faria, seria Anahí. A
amiga era a única que não a encarava com pena ou dor, era justamente
aquela que a enxergava com compreensão. Era óbvio: de maneiras
diferentes, elas viveram o mesmo.
— Na sua vida, ele é o seu cara que não aceita um não – Anahí mordeu os
lábios – O cara que vai ter você, da forma como tiver que ser, custe o que
custar. Acredite, eu entendo isso.
— Eu sei que entende – ela mordeu os lábios – Eu me sinto meio estúpida
de não ter dito nada antes, mas a verdade é que eu não sabia como. Eu não
tinha coragem. Achei que todos fossem dizer que a culpa era minha, porque
todo mundo tinha dito que eu deveria me afastar dele e eu nunca ouvi.
— A culpa nunca vai ser sua – foi Lexie quem disse – Em hipótese alguma.
— Eu sei disso – Sophia sorriu mas não para a neurocirurgiã, e sim para a
outra amiga que seguia com os olhos marejados ao seu lado. A amiga a
quem ela se referiu – Maite me disse duzentas vezes. Eu vou contar tudo.
— Você vai denunciar, não é? – Anahí perguntou – Você precisa fazer isso
Soph.
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Não poderia deixar qualquer furo, era a única coisa que ele tinha em mente.
Jesse já não tratava mais aquilo como uma ideia, tinha se tornado uma
obsessão. Ele tinha que fazer, tinha que resolver, mas não sabia como.
O grande problema era deixar rastros. Jesse não queria que Sophia
soubesse, ela certamente se sentiria mais culpada e só pioraria as coisas.
Além de tudo, não queria tanta gente envolvida naquilo, porque falar sobre
seus planos significaria fazer mais gente descobrir a violência que sua noiva
tinha sofrido e não era um direito que Jesse tinha. Era Sophia quem deveria
decidir quando, como e a quem contar sobre sua própria história.
Mas não bastava Sophia não saber. Jesse não queria chamar a atenção, não
queria que as coisas terminassem como terminaram para Poncho. O amigo
acabou deixando como lição o ensinamento de que fazer tudo guiado pela
emoção poderia trazer prejuízos imensos. Não era nem de longe o que Jesse
pretendia. Ele planejou minuciosamente para não depender de ninguém,
para não obrigar ninguém a mentir ou se envolver, assim não precisaria
contar o que faria, tampouco revelar seus motivos. Jesse, assim, arrumou o
mais perfeito dos álibis.
Naquela tarde ele chegou ao café e Sophia não estava lá. Jesse sabia que ela
tinha saído no fim do dia para encontrar os amigos numa comemoração pela
mudança de Maite. Era perfeito. Jesse deixou Samantha com a babá sob o
argumento de que estava lotado de trabalho, cumprimentou Lívia e os
outros funcionários e entrou dentro do próprio escritório, onde permaneceu
o resto da noite, até o estabelecimento fechar.
Ao menos era o que todos os clientes e todos que trabalhavam ali pensaram.
Jesse estrategicamente fugiu pela janela do escritório, num momento em
que teve certeza que não seria visto. A mesma dava para um beco
totalmente vazio, livre de qualquer testemunha. Antes de sair de vez ele se
certificou que a janela parecesse fechada, as cortinas idem e a luz acesa,
dando a entender que tinha alguém trabalhando com concentração. Jesse
aproveitou do clima ainda frio da segunda metade do inverno e colocou
uma touca e um óculos. Ele não queria ser reconhecido.
Cada passo para a casa de Chad aumentou sua raiva e sua determinação.
Jesse observou cada detalhe da rotina do rival, cada poste próximo ao
prédio onde ele morava. Não se aproximou demais, ele não queria se expor.
Ficou distante, a postos, num beco suficientemente longe, esperando Chad
voltar para casa. Uma hora ele voltaria.
— Foi isso que ela te disse? – ele desdenhou – É claro que é o que você
gostaria de acreditar, jamais poderia cogitar que ela transou comigo porque
quis.
— Veremos.
Jesse obviamente não tinha mais tempo a perder, foi então que ele começou.
Tinha que ser limpo e discreto e ele tinha raiva suficiente para duplicar sua
força. Por isso ele colocou as mãos na boca de Chad e começou a chuta-lo
contra a parede, até fazê-lo perder completamente as forças. Ele
rapidamente viu o corpo do outro definhar até cair no chão. Jesse então
continuou a chuta-lo, várias e várias vezes, até fazê-lo cuspir sangue, até vê-
lo não conseguir mais gemer de dor, muito menos gritar. Ele
propositalmente não diferia nenhum soco em Chad, não queria deixar
marcas em suas mãos que poderiam acusa-lo mais tarde. Tinha que ser
limpo para ele, limpo e bem planejado. Seus sapatos poderiam ser
descartados por outros que não condiziriam com as marcas deixadas
naquele homem. Tudo fora milimetricamente pensado para dar certo e não o
colocar na mira de suspeitos daquela agressão que Jesse fazia questão de
cometer.
Mas o que Jesse realmente queria era cumprir a própria promessa. Não
bastava doer, tinha que ser simbólico. Exatamente por aquela razão tinha
que haver um requinte de crueldade, algo que ficasse marcado na cabeça
daquele homem para que ele se lembrasse antes de tentar repetir com
qualquer mulher o que fizera com Sophia. Por isso Jesse estendeu as mãos
dele e nelas pisou. Várias e várias vezes. Houve por parte de Chad um
murmúrio agoniado de dor. Jesse provavelmente estava quebrando cada um
dos dedos dele... exatamente para que, conforme a promessa que ele lhe
fizera, não ousasse tocar um dedo sequer em Sophia novamente. Nem nela,
nem em qualquer mulher.
Depois disso não havia mais nada para ser feito. Jesse fez questão de ligar
de um aparelho público para o 911 abafando a voz para não ser
reconhecido, fingindo ser uma testemunha que acabara de ver um homem
sendo assaltado em um beco e agredido. Tratou de sair dali o mais rápido
possível, novamente sem ser notado. Fez aquilo apenas porque não queria
que Chad morresse, não queria sujar suas mãos daquela forma.
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— É melhor que você não tente hoje – ela disparou numa tarde quando
Poncho tentou novamente ver o filho. Quando viu a expressão de
incredulidade dele, Diana não se surpreendeu e já começou a se defender,
antes mesmo de ser acusada – Poncho, eu te disse desde o início que você
deveria dar um tempo a ele.
— Tem horas que você parece não conhecer o filho que nós temos – Diana
suspirou – Ele ama você. Poncho, o Dani nunca iria te esquecer. Nós não
podemos deixar que ele pense que esta mandando no jogo. Faça o que eu
estou dizendo, deixe-o por uns dias. Eu estarei aqui pra caso ele precise de
algo. Quando a poeira baixar, ele vai chamar por você, eu tenho certeza.
— Ei, eu não esperava te ver aqui – Anahí disse ao abrir a porta e viu
Poncho avançar para abraça-la. Franziu a testa estranhando – Ta tudo
bem...?
— Eu precisava ver você – ele respondeu fungando o nariz dela – Eu fui ver
o Dani e... bem... ele não quer me ver. Eu não sei mais o que fazer.
Anahí sabia o que precisava ser feito. Poncho tinha dito muito bem: não
eram mais somente ela e ele naquela história toda. Era assim há quase nove
anos, mesmo quando estava prestes a deixar de ser já que ela estava
grávida. De toda forma seria um filho dos dois. Uma criança que os uniria.
O fato de cada um ter o próprio filho, com outras pessoas, fazia com que
eles tivessem naquelas crianças as próprias prioridades. Daniel era algo que
Poncho tinha que pensar acima de Anahí e o mesmo valia para ela com
relação a Missy. A diferença era que Anahí sabia aonde aquilo os levaria;
Poncho, por sua vez, não.
— Diana quer que eu me afaste dele por uns dias – Poncho contou
mordendo os lábios – Ela acha que, se eu sumir, o Dani vai sentir a minha
falta e vai ser mais fácil dele entender as coisas.
— A teoria é linda, mas ficar todos os dias sem ver o meu filho...? – Poncho
questionou – E se ele realmente sentir a minha falta, mas no fim não aceitar
você? O que nós teremos que fazer, terminarmos?
— Anahí... não...!
— Poncho... – ela pausou antes de continuar – Não estamos falando de algo
que eu quero. É só que... talvez seja o melhor.
— É claro que não foi, não foi uma escolha nossa, mas mesmo assim você
descobriu uma maneira de seguir em frente – Anahí ponderou – Mesmo
tendo aí no teu peito a dor de não saber o que tinha acontecido comigo e,
depois de um tempo, ter perdido a esperança de me ver de novo algum dia...
mesmo assim você reaprendeu a ser feliz, encontrou um caminho. Dessa
vez seria diferente. Nós continuaríamos nos vendo, um sabendo que o outro
ta bem, ta feliz, criando os nossos filhos. Seria diferente. Nós daríamos um
jeito.
— Eu não quero dar um jeito que não seja com você – Poncho insistiu –
Anahí, eu amo você! Eu não quero ter que viver de novo a minha vida sem
você!
— Nem eu quero – Anahí devolveu – Nunca foi o plano, mas foi como
você disse aquele dia... não somos mais somente você e eu. Temos o Dani
agora, temos a Missy, nós temos outras coisas que vêm primeiro. Eu sei que
você não acha o certo, mas é o que nós temos que fazer.
— Eu nunca vou entender como estar afastado da mulher que eu amo possa
ser melhor pra mim – Poncho respondeu irônico – Eu... eu não consigo
acreditar que a vida quer nos separar de novo. Não consigo acreditar que
nós dois não vamos terminar juntos no final.
Quando eles deram por si, estavam abraçados. O coração de Poncho doía.
Não era uma dor fictícia, era real. Ele abraçava Anahí tentando gravar em
sua mente o cheiro dela, sua textura, aquela sensação que não teria mais.
Sentia-se perdendo todos os planos que fizera mentalmente entre eles, a
família que eles teriam, os filhos que teriam juntos, a comemoração do
lançamento de seu novo livro que seria com ela, de um emprego futuro que
Anahí certamente conseguiria, tudo ia para o ralo.
Poncho sabia que ela estava sendo nobre abrindo mão dele para que ele
voltasse a ter uma relação saudável com o filho, mas nem por isso a dor
dava uma trégua. Por mais que ela tivesse razão era completamente difícil
decidir de toda forma. Poncho concordava com ela que, ao menos, eles
seguiriam em frente vendo um ao outro bem e feliz. Mas não sabia se era
certa aquela ideia de que seria mais fácil. Ele não conseguia se imaginar
vendo Anahí longe e não poder tê-la mais. Até acreditava que poderia ficar
bem separado dela, mas feliz era praticamente impossível.
Say something
Manas, EU SEI que vcs queriam AyA juntos até o final da fic, mas
lembrem-se que eles estão juntos há 20 caps!!! Durou bastante,
convenhamos
Brincadeiras à parte era algo que iria cedo ou tarde acontecer. Conforme o
tempo passar vcs vão sentir a necessidade, pois o Daniel não tava disposto a
aceitar e o Poncho se sentia cada vez mais culpado por tudo.
Então seria pedir demais pra vcs me encherem de estrelinha e quem quiser
ainda comentar mesmo querendo me matar por ter separado o casal
endgame de vcs? Hahahaha 😍😍😍
Rafa
Capítulo 67 - Safe haven
Quando Anahí desapareceu, quase nove anos atrás, o impacto que aquilo
teve sobre a vida de Poncho foi simplesmente devastador. A vida dele parou
sem ela, não era um exagero. Poncho tinha ido embora da Califórnia após
se formar em Stanford pronto para recomeçar em Nova York e construir
uma vida inteira com ela. Eles mal tinham começado quando Tobias a
levou. A vida que não tinha começado teve seu fim.
O quarto livro de Poncho estava engavetado até Anahí voltar. Ele estava
numa fase de total falta de inspiração, algo que não causava estranheza em
sua editora e até então esposa, Diana. Ela sabia que era uma fase, só não
sabia que o fim daquela fase se daria justamente com o retorno à vida da
musa inspiradora dele. Passado o terremoto que foi a descoberta de que
Anahí estava viva, Poncho estava vivo novamente na escrita. O livro
começou a ser escrito de maneira parecida e ao mesmo tempo diferente de
como fora o primeiro: ele precisava dar um fim àquela história. A história
dela, a história deles.
Se na vida eles pareciam não ter chance, naquelas páginas teriam. Poncho
estava determinado a mostrar que, por mais que não fosse apenas ele e ela,
como Anahí dissera, ainda havia uma chance.
Ainda não era o momento de falar da obra com Diana, mas ele precisava de
alguém que lesse e avaliasse os primeiros capítulos para lhe dar um norte, e
ele sabia exatamente quem. Erika Vianna era o braço-direito da ex dele na
Planet e sempre revisou os livros de Poncho antes da edição final. Ele sabia
que aquela moça procurava ardentemente pela oportunidade de sucesso e
que ela tinha potencial para ser a nova Diana. Naquele mesmo dia ele lhe
mandou uma mensagem convidando-a para aquela empreitada que, por
enquanto, deveria ficar entre eles. Erika respondeu empolgada com várias
figurinhas deixando claro o quanto sentira falta da escrita dele. Poncho
sorriu com o feedback, era o começo de uma nova história e o final que ele
tinha a chance de escrever como queria para a história dele.
Do outro lado da história, a coisa toda não era tão diferente assim.
— Você tem que desfazer isso – Maite resmungou. Anahí apenas respirou
fundo, ela sabia que não seria fácil dar aquela notícia para a melhor amiga –
Isso não é justo...!
— Não dá pra dar um passo pra trás Any – a morena prosseguiu – Vocês
passaram anosesperando pra ficarem juntos de novo, anos... e agora vão se
separar por nada?
— Não é por nada – ela se defendeu – É pelo filho dele. Eu sou mãe
também, eu entendo agora.
— Eu sei, mas... – mas Maite seguia inconformada, mesmo que já não
tivesse tantos argumentos.
— Não se brinca com isso – ela resmungou porque sabia que o argumento
de Anahí era definitivamente bom – Malditos hormônios!
Também não era fácil para ela se acostumar com a ideia de que Poncho e
ela não ficariam juntos. Parecia que uma peça estava faltando em sua vida,
era definitivamente estranho. Depois de oito anos Anahí tinha, por dois
meses, se acostumado com a ideia de que eles teriam outra chance, que
nada os separaria. E eis a resposta do destino... no fim foi ela própria,
Anahí, quem os separou.
É claro que ela tinha motivos, ela os repetia a cada cinco minutos para
convencer seu lado emocional que estava fazendo o certo. Não era fácil
abrir mão de Poncho e ainda assumir aquela postura de forte quando ela
estava estraçalhada por dentro. Anahí chorou na noite anterior tanto quanto
pôde até Missy conseguir perceber sua tristeza. Ela não queria que a filha
compartilhasse daquela dor que sentia no peito, mas ao olhar para ela sentia
a convicção de sua decisão. Da mesma maneira que ela amava ter sua filha
ao seu lado, sabia que Poncho se sentia da mesma forma com Daniel. Ele
merecia ter aquilo também. E quando ele olhasse o menino como ela olhava
para Missy, por mais difícil que fosse, iria entender e aceitar que algumas
coisas simplesmente não eram para ser.
— Você não precisa bancar a forte comigo, eu nunca banquei a forte com
você – Maite agora falava mais séria e segurava as mãos dela – Você pode
ter os seus motivos e acha-los os mais justos possível, ok. Mas que você ta
machucada com isso tudo, eu sei que ta. Você o ama e se fosse comigo e
com o Mane eu estaria na merda, e eu não o amo como você ama o
Poncho...
— Sente sua afilhada se mexer – Maite sorriu para ela, vendo os olhos de
Anahí brilharem – Ela ta dizendo "oi madrinha, você pode chorar com a
mamãe, nós duas sabemos que você ama o tio Poncho e tem muita lágrima
pra sair"...
— Meu Deus, duas difíceis! – Anahí abriu uma careta – É claro que eu
estou triste. É claro que eu chorei e senti a falta dele, é só que... não consigo
chorar pra sempre. Eu vou ficar bem, vou encontrar uma maneira de ficar
bem. Só não me peça isso agora e nem me peça pra desabar, porque já ta
complicado o suficiente.
— Eu sei, você nunca saiu daqui – Anahí sorriu com a resposta dela.
A conversa que veio a seguir foi recheada do que Anahí queria saber: os
detalhes sobre a nova vida quase conjugal que Maite estava tendo com
Mane. Além dela se sentir feliz de ver a amiga apaixonada e realizada
daquele jeito, fazia bem à Anahí ouvir uma história que rumava para um
final feliz. De certa forma aquilo a fazia esquecer um pouco da própria dor.
Pensar em Mane e Maite felizes e à espera da filha era melhor do que
pensar em tudo o que ela e Poncho jamais teriam.
Maite recheou Anahí de relatos e a fez rir, de verdade, daquelas risadas boas
que fazem a barriga doer e os olhos lacrimejarem. A morena dava relatos da
conversa com a sogra, Jade, que a mimava tanto quanto estava sedenta pelo
nascimento da neta e seu mapa astral. Maite contava feliz sobre o último
almoço em família, onde os pais dela e as mães e a irmã de Mane se
encontraram como uma única família pela primeira vez e Anahí só sabia rir
vendo Maite resmungar contando do pai que estava ansioso por os dois
anunciando o casamento, Mane nutrindo esperanças de Javier acabar
empolgando a filha e ambos frustrados quando Maite negou aquela ideia
com veemência.
Christian acabou por ouvir as risadas das duas e parou no corredor, rindo.
Ele já sabia dos desabafos de Anahí sobre o fim com Poncho e das histórias
divertidas de Maite quase se tornando uma De La Parra, por isso não
estava incomodado por aquele ser um momento apenas delas. Pelo
contrário, Christian gostava das risadas delas quando estavam juntas, ele
não era o tipo de amigo que sentia ciúmes – quando colocava dessa forma
era sempre brincando – pelo contrário, ele temeu que aqueles sons felizes
acabassem com a mudança de Maite. Estava enganado, felizmente.
— Eu... sonhei que a minha mamãe tinha ido embora e me deixado – Missy
confidenciou levemente assustada – Cadê ela...?
— Ela... ta ali na sala com a tia Maite – ele murmurou – Você quer ir lá?
— Uhum...
— O qu... – Anahí franziu a testa sem entender, mas viu o amigo sorrindo
de uma forma que fez seu coração acelerar.
Como ele queria que Anahí tivesse ouvido aquilo. Já conseguia sentir a
emoção por ver a reação dela, mesmo que em sua imaginação. Com o
coração um tanto quente, Christian fitou as duas, certo de que, mesmo que
não acontecesse naquele momento, teria a sua hora certa e Anahí seria a
mulher mais feliz do mundo naquele momento.
A verdade era que Anahí não estava entendendo porque Christian frisava
tanto aquela palavra para Missy. De repente ela trocou um olhar com Maite
e reparou que a morena parecia tão confusa quanto ela. Mas se as duas bem
conheciam Christian, ele faria mistério e nada falaria, então nem adiantava
perguntar.
No fim não houve pergunta porque, na mesma viagem que Christian fez
para ir para a cozinha preparar o chocolate quente de Missy, eles ouviram
uma batida na porta. Ele acabou desfazendo o caminho e indo até lá abrir.
Do outro lado estavam Sophia e Jesse. Ela abalada, e ele... parecia
procurando um consolo.
— Christian! – Maite grunhiu, mas ela tinha que admitir: foi aquilo que fez
Sophia rir.
— Ei Any? – ele chamou, vendo a amiga levantar o rosto – Hm, tudo bem
com você?
Não era preciso ser nenhum gênio da lâmpada para entender exatamente a
razão de ser daquela pergunta: Jesse certamente já sabia por Poncho de seu
término com Anahí. Não havia qualquer outra razão.
— Sim Jesse – Anahí o olhou tão debochada como ele encarou Christian
logo antes – Perfeitamente bem.
— Depois eu que sou a bicha fofoqueira – Christian alfinetou, fazendo
Sophia rir de novo.
— Todo mundo pode ser fofoqueiro, mas bicha só você mesmo viado –
Maite respondeu com uma careta.
— Ok, estou indo – Jesse disse indo para a porta – Soph amor, você sabe,
qualquer coisa...
— Um lugar aonde vamos para dizer as coisas erradas que as pessoas fazem
– Anahí explicou. Não era nenhuma mentira – Vá lá pra dentro ok?
Conversa de gente grande.
— Ta – Missy fez um bico, mas não rebateu a ordem da mãe, indo logo em
seguida.
— Precisa mesmo, ela só tem sete anos – Anahí resmungou – Então Soph?
Você denunciou o Chad?
— O policial não quis registrar a ocorrência – Sophia suspirou mordendo os
lábios, os olhos se enchendo de lágrimas – Circunstancial demais. Sem
corpo de delito, sem testemunhas, sem nada... eu poderia estar inventando
isso, então nada feito. Claro que eu estou inventando, não é? Bem que eu
gostaria.
— Ah, eu não contei – ela mordeu os lábios – Jesse nao queria se expor
indo comigo porque ontem ele deu um depoimento na delegacia depois de
ser interrogado por suspeita de ter surrado o Chad. Algo que ele realmente
fez.
— Isso não resolve nada – Anahí opinou, sentindo o corpo balançar com a
lembrança do dia em que Poncho bateu em Tobias.
— Cara, isso é tão excitante, eu preciso dizer – Christian disse emocionado
com a mão no peito – Se eu usasse calcinha ela estaria molhada nesse
momento!
Mas a Anahí que estava ali ainda era a Anahí de nove, dez anos atrás.
Aquela Anahí pensava mais do que na punição, ela ia além. Anahí
enxergava a vítima, a Sophia que demoraria a se recuperar, que tinha feridas
fortes que nenhuma condenação resolveria. Chad na cadeia não mudaria o
fato de que Sophia demorou a contar a verdade para Jesse, que ainda não
tinha voltado a se sentir confortável consigo mesma ou no sexo, que quase
destruiu seu relacionamento. A sujeira que ela sentia na própria pele, a
culpa, a dúvida sobre se tinha ou não causado aquilo eram coisas que
demorariam a sair. Anahí atribuía tudo à uma cultura do estupro que estava
enraizada na sociedade. Aquilo que Sophia vivia lembrava os casos que a
indignaram a vida inteira, e ao mesmo tempo a inspiraram. Então Anahí
agiu por insisto.
— Tem um lugar que eu quero te levar – ela disse, se esticando para segurar
a mão da amiga e a apertar.
Um porto seguro.
xxx
— Você não precisa falar se não quiser – Marina disse num sussurro para
Sophia enquanto elas entravam na reunião – Muitas mulheres não falam na
primeira, nem na quinta reunião. Pode ser que você nunca queira falar,
apenas ouvir, mas é importante de todo jeito estar aqui. O que importa é se
sentir acolhida.
Aquele lugar não era apenas onde ela ia para compartilhar a dor do trauma
do estupro e de tudo o que tinha vivido. Já tinha um significado antes de seu
sequestro e do que lhe trouxe, Anahí se lembrava bem... ela trabalharia ali.
Faria parte do setor jurídico, defenderia aquelas mulheres como um pro
bono, já que muitas delas tinham baixa renda e pouca escolaridade e não
teriam meios de pagar um bom advogado. No fim ela foi sequestrada, a vida
foi interrompida e ela chegou até aquele lugar de uma maneira diferente da
que esperava. Mas de toda forma estava ali.
— Olá garotas – Marina disse abrindo a roda – Quem quer ser a primeira a
falar hoje?
Agora ela estava ali não apenas como ouvinte. Não mais como falante.
Anahí não era mais a vítima. Ela tinha ultrapassado a barreira. naquele dia
ela era a mão que levou Sophia até ali. Ela era a pessoa que compartilharia
a própria dor e seria ouvida, mas também funcionou como um caminho para
uma amiga encontrar um conforto que ela já conhecia. E por isso,
exatamente por isso, a voz dela saiu para responder à pergunta de Marina.
Anahí ouvia Sophia chorando. O rosto dela estava baixo e doía, as lágrimas
lavavam seu rosto. Ela chorava pensando em si, em Anahí e em todas as
mulheres sem rosto, sem história que viviam coisas como ela vivia, como
elas. Histórias melhores, piores. Tantas que morriam, não sobreviviam,
algumas viviam para não viver. E tantas outras que não sabiam o que era
aquela dor, mas, de alguma maneira, estendiam a mão...
Era para isso que Anahí estava ali. Mas ela não descobriu sozinha: foi
Marina quem lhe disse.
Anahí engoliu em seco. Foi a primeira vez que ela sentia vontade realmente
de chorar. Um sentimento definitivamente bom.
E agora Anahí tinha naquela frase o incentivo perfeito para lembrar do que
faltava para condenar Tobias no tribunal e conseguir de verdade começar a
reconstruir sua vida.
Eu tinha dito pra vcs que eu tinha razões bem firmes pra decidir pelo
estupro da Sophia, porque tinha algumas coisas que precisavam encontrar o
seu lugar. A primeira delas é a relação dela com a Maite, pois a Sophia
jamais esperaria que a amiga que se afastou dela e a condenou por anos
fosse a primeira pessoa a lhe estender a mão sem julgamento e coloca-la de
volta nos eixos. A segunda vemos aqui: a Sophia se torna a primeira mulher
que a Anahí conseguiu realmente ajudar - e isso é algo que sempre foi o
projeto da Anahí, o que ela queria pra vida dela, a carreira almejada antes
do sequestro. A terceira virá em breve, daqui alguns caps, aguardem um
pouquinho!
Sei e sempre soube que não iriam amar ver o casal de vcs se separando,
tenho plena ciência disso e entendo até a revolta com o motivo da
separação. Quero deixar claro que algumas coisas na vida da Anahí vão
andar nesse momento que ela tiver longe do Poncho e o mesmo vale pra ele,
tanto que o Poncho já voltou a escrever ferrenhamente inspirado pelo fato
de estar longe dela. Claramente temos um protagonista que precisa estar
com dor de corno pra se inspirar kkkkkkkkk
Sobre a Anahí, claro que a bff traumadix ficou nervosinha pela separação
né? Não só ela, Jesse também aparece marcando territorio já sabendo que
ela ta tão mal quanto sabe que o melhor amigo dele ta. Claro que vai ser
difícil pra AyA passarem esse tempo separados (tanto quanto será pra vcs
rs) mas vcs podem confiar na tia Rafa que ela sabe exatamente onde vai
chegar.
Beijos,
Rafa
Capítulo 68 - Family
Anahí acordou positiva naquele dia. Ela tinha ido dormir mal, mais uma vez
com o coração apertado pelo término com Poncho, mas não foi de suas
piores noites. Naquela manhã em especial ela acordou e viu Missy
dormindo com a boca aberta, ao seu lado, babando no travesseiro. Não dava
para não sorrir com uma cena gratificante daquelas.
Aquela era uma manhã que ela tinha planos, mas não era o tipo da coisa que
queria dividir com a filha. Por isso Anahí falou que precisava ir a uma
consulta médica e Christian, que não trabalharia naquele dia, ao ver o bico
de Missy após constatar que seria deixada para trás, teve uma ideia que
certamente consolaria a menina.
— Que tal pintarmos seu quarto novo, você e eu? – Christian propôs vendo
os olhos da menina brilharem. Mas logo em seguida ela encarou a mãe.
— Eu... posso? – ela perguntou receosa. Não era de hoje que Anahí
reparava que Missy sempre ficava nervosa cada vez que lhe era oferecido
algo pelo qual se interessava. Provavelmente era reflexo da vida anterior
que ela levava.
— Claro que pode – Anahí riu do gritinho de animação que a filha deu em
seguida – Você fica bem com o tio Christian até eu voltar?
Como era bom ver aquela criança que tinha sido submetida a tantas
privações ser feliz novamente...
Deixar Missy com Christian era a garantia para Anahí que ela poderia
seguir seu caminho tranquila. Era uma manhã de terapia, uma sessão de
regressão para a qual ela estava determinada. Faltava apenas semanas para
o julgamento de Tobias e seu testemunho tinha que se basear na lembrança
do que tinha acontecido no início daquilo tudo. A primeira lembrança era
fundamental: dizer com precisão como ela tinha ido parar naquele porão.
Dizer que não se lembrava era dar força ao caso da defesa de Tobias, que
firmava a tese de que aquela suposta amnésia seria, na verdade, a
confirmação de que ela estava inventando tudo.
Anahí só não ria daquela ideia absurda porque era absurda demais. Não
tinha graça.
— Olá Anahí – a Dra Balfe abriu a porta para ela – Você parece... animada.
Eu achei que estaria pior.
De repente Anahí parou de falar. Logo em seguida ela voltou, mais agitada,
mais nervosa, quase sufocada.
— Me solta! Me solta!
— Sim, você lembrou – Cait sorriu orgulhosa – Me conte tudo. Nós duas
precisamos saber dos detalhes.
Mordendo os lábios ansiosa, Anahí se pôs a falar tudo. Tinha muito a ser
dito, sem dúvidas, e ela contaria cada detalhe para Cait. Os detalhes das
lembranças que até então estavam apagadas, mais uma parte de sua vida
que Tobias tinha lhe tirado. Mas agora tinha sido devolvido... e era o que a
ajudaria a coloca-lo na cadeia para nunca mais sair.
xxx
Um fato: Christian Chavez era ótimo com crianças. Fato este desconhecido
por ele próprio.
Então ele poderia aproveitar aquele cenário favorável para falar com Missy
algo que queria muito e já planejava há dias, apenas não tinha encontrado o
momento ideal.
O momento chegou.
— Ei Missy? – Christian a chamou – Posso fazer uma pergunta?
Missy não esperava por aquela pergunta. Aquilo ficou evidente pela forma
como ela franziu a testa, provavelmente estranhando. A reação só fez
Christian ficar ainda mais curioso pela resposta.
— E ela fica triste por isso? – a voz de Missy agora saía pesarosa.
— Porque ela te ama mais que tudo nesse mundo – ele terminou de falar
beijando a menina na cabeça – Não duvide disso, sua mãe não vai te
abandonar.
xxx
Anahí voltava para casa feliz como há muito tempo não estava. Ela sequer
reclamou de Keith ter que ir busca-la porque ela ainda não poderia andar
sozinha, afinal Tobias ainda estava solto e isso lhe inspirava cuidados dos
quais ela não gostava. Naquele dia nada importaria. Ela tinha um sorriso
inegável no rosto quando o pai parou o carro na frente do hospital e
imediatamente notou aquela alegria que não era tão comum assim.
— Por que o seu sorriso ta maior e mais bonito que a média? – Keith
perguntou vendo-a afivelar o cinto de segurança – Não que eu me
incomode, é claro.
— Obrigada – ela mordeu os lábios – Mas você também tem algo bom pra
me contar?
— Sim, eu sei – Keith riu – Incrível, não? E tudo de uma vez. Temos que
comemorar.
Realmente perfeito e realmente digno de toda a comemoração do mundo. O
único problema é que a pessoa com quem Anahí queria realmente dividir
aquele momento não estava ao seu lado... e ela sequer poderia se queixar, já
que foi ela própria quem o afastou.
xxx
Poncho seguia ávido pela escrita. Naquela tarde ele estava na Starbucks
com o laptop ligado à sua frente e as palavras fluindo em sua mente. Sem
Anahí, sem Daniel e com Erendira quase expulsando-o do apartamento por
não aguentar mais sua expressão de morto-vivo de quem estava destruído
por seu fim com Anahí, ele concentrava cada grama de sua energia nas
próprias palavras. E estava dando resultados, já que aquelas páginas de
word cresciam num ritmo muito mais rápido do que ele tinha se
acostumado.
Ah...
— Que susto – Poncho respondeu ofegante – Ela está bem, não é? Anahí...?
A Missy e ela estão bem Arthur?
— Sim, as duas estão bem, quer dizer... a Any deve estar em frangalhos –
Arthur reclamou novamente – Eu pensei que vocês fossem até o final dessa
vez! Imagine como eu fiquei quando a Ellie me disse que...
— Me deixe falar Arthur – Poncho ouviu a esposa de Arthur, avó de Anahí,
tomar o telefone dele – Poncho querido, não ligue pro que o Arthur diz, ele
está velho.
— Ah, claro que sim – Ellie certamente sorria – Você sempre vai ser
alguém importante pra Any, meu querido. Para toda a família. É claro que
ela não se incomodaria se você viesse.
— Bobagem! – Arthur grunhiu novamente – Ele tem que vir! Eles têm que
se acertar...!
Como Ellie havia dito, seus pais iriam. Poncho já sabia o que poderia
esperar.
E pelo que poderia esperar, ele teve a certeza de que a crise em sua vida
pessoal certamente seria notada pela mãe há quilômetros de distância.
Evelyn sabia como ninguém perceber quando os filhos estavam com
problemas. Imagine como seria quando ela pisasse em Nova York e
descobrisse que não apenas Poncho tinha se separado de Diana, como
também começou e terminou um relacionamento com Anahí sem que os
pais tivessem conhecimento. Para botar a cereja no bolo, Daniel estava
definitivamente afastado do pai.
— Meus pais estão vindo pra cidade – Poncho rapidamente explicou e viu a
ex parecer surpresa – Pro aniversário de casamento dos avós da Anahí.
Como se isso não fosse complicado o suficiente, com tudo isso do Dani...
enfim, eu só queria tentar conversar com ele. Se ele não quiser eu não vou
forçar, prometo.
Diana pareceu considerar. Por mais que ela entendesse que o filho ainda não
estava pronto para se reaproximar do pai, percebia que a situação ficava
cada vez mais complicada para Poncho. Mordendo os lábios ao ponderar,
no fim ela acabou abrindo espaço e deixando-o passar. Poncho sorriu em
agradecimento, era bom saber que ele não tinha em Diana uma inimiga, que
ela jamais usaria Daniel para se vingar de uma possível mágoa pelo término
deles, por ele ter escolhido Anahí.
— Eu achei que você tivesse com a Missy – Daniel revelou, deixando claro
o próprio ciúme e é claro, o evidente medo de acabar perdendo o amor do
pai.
— Eu achei que... que você quisesse ser pai da Missy também – Daniel
disse com a cabeça baixa, evidentemente com vergonha da própria
revelação – E se você fosse... você poderia gostar mais dela do que de
mim...
Não que fosse necessário fazer aquela promessa para que as palavras
fossem reais... apenas era necessário que Daniel acreditasse nelas. Então, se
era preciso prometer, Poncho prometeria. Já tinha prometido, na verdade.
Se reconciliar com o filho fez Poncho respirar aliviado pela primeira vez
em dias, era como tirar um peso enorme de suas costas. A única coisa que
continuava apertada – embora não tanto quanto antes – era seu peito. O
coração ainda estava machucado, porque, embora ele tivesse Daniel de
volta, ainda estava longe de Anahí. E aquela dor não passaria tão cedo.
Mas para amenizar aquela agonia, tinha duas presenças ilustres com as
quais ele precisava lidar. Naquela tarde amena, com sol limpo e ar um
pouco gelado, Poncho dirigia para o caminho que já sabia de cor: a casa dos
avós de Anahí. A comemoração das bodas de ouro de Arthur e Ellie seria
um churrasco no jardim da casa dos dois para todos os amigos e familiares.
Como Daniel não iria, Poncho tinha a seu lado Erendira que, é claro, não
poderia faltar num evento daqueles, tanto porque a família de Anahí não a
perdoaria, quanto porque seus pais não lhe deram qualquer chance de fazer
aquilo.
— Não é possível que não tenha acontecido nada na vida de vocês nesses
meses todos – Evelyn resmungou cruzando os braços, certa de que os filhos
estavam escondendo todos os detalhes possíveis e estando mais certa do que
nunca.
— Ele está voando neste momento – Erendira deu de ombros. Evelyn já não
se interessava tanto assim pela vida da filha. Tinha outras coisas que ela
queria saber.
— Alfonso querido, eu ainda não entendi porque Diana não veio com você
– a voz dela saía sugestiva.
Evelyn arregalou os olhos ao ver aquela menina tão carinhosa com Poncho,
imediatamente se perguntando quem ela era. Logo ela olhou para Robert e
se deu conta que o marido tinha a mesma surpresa na expressão. Os dois
depois olharam para Erendira e viram que ela estava com o rosto torto e um
sorriso de ternura nos lábios, evidentemente encantada pela cena que
presenciava. Isso deixava claro que ela sabia muito mais do que eles, e que
Poncho tinha muito o que explicar aos pais.
Duas surpresas duelavam para que fosse decidido qual era a maior: Missy
demonstrar sentir tanta falta dele assim ou ela se referir à Anahí como sua
mamãe. Na verdade, naquela disputa havia uma clara vencedora e era a
segunda afirmativa. Ouvir a menina chamar Anahí daquela forma carinhosa
derretia o coração de Poncho em vários e vários níveis diferentes.
— Mas eu não queria que você fosse meu amigo – Missy o corrigiu – Eu
queria que você fosse meu pai.
Poncho ficou completamente desconcertado com aquela confissão da
menina. Ele estava agachado apoiado nas próprias pernas e as mesmas
tremeram, tanto que ele teve que se encostar-se à grama com uma das mãos.
Ele não esperava. Seu coração batia tão rápido quanto batia por Anahí.
Estava claro que as Portillas tinham um efeito muito forte sobre ele.
— Mas pra isso você precisava casar com a mamãe – Missy fez uma careta.
— Você agora a chama assim? – Poncho disse sorrindo mais do que nunca.
Melhor do que Missy querer que ele fosse seu pai, era ouvi-la chamando
Anahí de mãe.
Ela não tinha chamado Anahí de mãe nenhuma vez, mas não era
proposital... tanto que sequer sabia. Pelo contrário, aquele apelido
começava para Missy de forma natural, ela chamava Anahí às vezes assim,
às vezes pelo nome, até que se acostumasse seria dessa forma, quando, sem
perceber, ela começaria a se referir a ela daquela maneira carinhosa em
todos os momentos.
— E mesmo com essa proximidade dos dois vocês são incapazes de supor
quem é a mãe da criança – Erendira alfinetou.
Poncho quase sentiu o corpo afundar naquele momento. Aquela ideia era
perigosa. Ele sabia exatamente onde daria e via que a coisa toda não estava
indo bem.
Ele sabia. Erendira, ao lado do irmão, prendia a risada. Era uma cena
inevitável, mas quem poderia culpar a adorável e encantadora filha de
Anahí por se apegar à primeira figura paterna que via à sua frente, ainda
mais quando Poncho parecia se encaixar tão bem naquele papel?
— Não tem problema você chama-los de avós mesmo não sendo, é uma
forma carinhosa – Poncho disse beijando a testa da menina, antes que Missy
pudesse ter ideias demais.
Do outro lado do jardim Anahí cogitava se era uma boa ideia intervir
naquilo e se aproximar no momento em que a família de seu ex-namorado
conhecia sua filha. Ela analisava a cena com cuidado, via os quatro
Herreras abrirem sorrisos derretidos demonstrando que estavam todos de
quatro por Missy, o que não era nenhuma surpresa. É claro que lhe agradava
ver a filha sendo amada depois de tantos anos de maus tratos e negligência,
mas o que preenchia Anahí de amor por todo o corpo era ver a forma como
Poncho olhava Missy. Aquilo a quebrava em milhões de pedaços.
Se até então Anahí estava convicta de que tinha tomado a melhor escolha
para ele, quem sabe para os dois, naquele momento as primeiras dúvidas
surgiam. Ela via sua filha interagindo com seu ex, clamando por ele
preencher o vácuo do papel de pai que ela agora sentia. Será que era justo
com Missy priva-la do contato com Poncho? Será que ela fizera o certo ao
renunciar a Poncho pensando exclusivamente na relação dele com o filho?
Ela não estava sendo egoísta com relação à própria filha, impedindo que ela
e Poncho seguissem o caminho natural de se afeiçoarem um ao outro e se
considerarem algo que o sangue os separava? Anahí já não tinha mais tantas
certezas assim...
Ir ou não ir até lá falar com aqueles que um dia ela chamou de sogros?
Vontade não faltava, mas ao mesmo tempo parecia uma péssima ideia.
Como ela responderia Evelyn quando a mãe de Poncho notasse seus
evidentes olhares com seu filho? Como negaria o clima? Ou pior... como
diria para a filha que Poncho jamais poderia ser seu pai, mesmo sabendo
que era o que Missy mais queria?
O problema não era Missy querer ser filha de Poncho... era ele querer ser o
pai dela... como negar?
— Está tudo bem – ela mordeu os lábios, ainda não estava acostumada a ser
a irmã mais velha de Harry.
— Mas que seja, quando você irá nos apresentar? Pode ser agora?
— Ai Harry – Anahí revirou os olhos – Ela tem vinte e nove, você tem
dezessete...
— Tudo bem, me dê apenas um minuto – ela pediu – Oi. Que bom que
vocês vieram.
Foi com a apresentação que Poncho notou que Harry estava ali por
Erendira, ele parecia um pavão na frente dela e Poncho prendia a risada, era
apenas um menino impressionado com uma mulher bonita. Poncho não se
sentia no direito de culpa-lo, mesmo sem diferença de idade ele certamente
fazia o mesmo papel com Anahí. E quando Evelyn e Robert aproveitaram
para conhecer Harry melhor e ele usava a situação para aparecer para a irmã
de Poncho, Anahí usou a mesma para sair dali. Ela lançou o olhar para
Poncho que, divertido, via tudo de fora. Ele queria falar com ela, afinal.
Aquela era a primeira vez que eles se falavam depois do término. Poncho a
encarava com naturalidade e Anahí, ao mesmo tempo que estava nervosa,
se esforçava para deixar tudo bem entre eles.
— Por quê? – ela franziu a testa sem entender. A resposta estava na ponta
da língua dele, mas não seria dita: um Portilla nunca resistia a um Herrera.
— Nada – ele negou com a cabeça, Anahí não pareceu satisfeita em ter que
ficar curiosa – Tenho que te dizer algo... meus pais se apresentaram à Missy
como seus avós. Espero que não tenha problema...
— Bom, ninguém até hoje aprendeu a conter os seus pais – Anahí deu de
ombros – Mais tarde eu converso com ela pras coisas não ficarem confusas.
— Eu imaginei – Poncho mordeu os lábios – E ela não para de se referir à
você como sua mamãe e eu tenho que dizer, é lindo de se ver.
— É...? – a confissão pegou Anahí de surpresa. Ela não tinha ouvido Missy
falar com ela assim e não entendia o porquê daquilo.
— Uhum – Poncho confirmou – Ah, não fique chateada por isso. Ela vai te
chamar assim, tenha essa certeza.
— Não estou chateada, só... não esperava – ela franziu a testa – Isso é bom,
não é?
Com Anahí em seus braços, dentro de seu abraço daquela forma tão fácil e
rápida a cabeça de Poncho ficou completamente confusa, seus pensamentos
nublados. Ele dizia o tempo inteiro que a relação dela e de Missy ficaria
mais fácil e mais parecia profetizar, já que era exatamente assim que tudo
ocorria. Mas em contramão com aquilo, tudo entre ele e Anahí se
complicava cada vez mais, tanto que Poncho tinha que se valer de um
momento de amizade para tê-la em seus braços. Para sentir seu cheiro,
lembrar de seu calor... ele sabia que momentos como aquele ficariam cada
vez mais escassos e que a tendência era que os dois se distanciassem a tal
ponto que as lembranças se tornassem cada vez mais vagas.
Me contem tudooooo!
Beijos,
Rafa
Capítulo 69 - Magic Words
— Eu acho que não princesa – Jesse respondeu com uma careta – O Dani
não gosta muito da tia Any...
Samantha não perdeu tempo, já saiu correndo em direção à Missy tão logo
viu a menina no jardim dos bisavós, deixando o pai junto com Sophia para
trás. Jesse tinha uma careta nos lábios enquanto tirava as coisas da menina
de dentro do carro, já pronto para resmungar quando se deu conta que
Samantha levou uma série de pertences os quais definitivamente não usaria.
— Como eu disse que seria, o Senhor Cabeça de Batata vai ficar no carro
porque ela já esqueceu dele – ele disse jogando o brinquedo novamente
— Eu não sei, mas se ela chegou certamente a Karen sabe... – Jesse falou.
Jesse tentava de todas as maneiras aliviar aquele desespero todo pelo qual
Sophia passava. Ele sabia que tinha sido completamente emotivo e
irracional quando resolveu agir com a própria justiça batendo em Chad –
que seguia internado em um hospital. Cada vez que a polícia aparecia para
interrogar Jesse tentando encontrar algum furo no depoimento anterior,
Sophia ficava completamente tensa porque sabia que o álibi dele era uma
farsa, mas ao mesmo tempo que era mentira, era impecável, já que ninguém
conseguiu derruba-lo. Jesse conseguiu não apenas mantê-lo como fazer
todos os clientes e funcionários da confeitaria confirmarem que ele estava
ali, trabalhando, e o caso de Chad estava prestes a mudar de rumo, sendo
considerado uma tentativa de assalto que terminou em agressão.
Mas nem por isso Sophia respirava aliviada. Não quando tinha surgido
aquele novo fantasma para atormenta-la. Exatamente por isso ela procurava
pela mãe. Maite provavelmente estava exausta de ouvi-la e aquele não era
um assunto que ela queria tratar com Marina. Por isso Sophia procurava por
Olivia já que, no meio daquele furacão e com todos distraídos na festa de
Ellie e Arthur, ninguém a perceberia.
Só que Olivia ainda não tinha chegado. Isso fez com que Sophia acabasse
entrando dentro da casa e parasse num canto, encostada na parede, sentindo
as lágrimas virem quentes pela agonia que sentia. Lágrimas que ela
derrubaria solitária, incapaz de procurar alguém para dividir aquele fardo
todo. E assim seria se ela não fosse surpreendida por uma presença
inesperada.
É claro que não estava. Mas a mãe de Anahí era sempre cuidadosa e
delicada, ela sentia que algo estava acontecendo de grave. Um choro
poderia significar muitas coisas: uma briga com o namorado, um problema
no trabalho, um dia ruim. Mas a intuitiva Karen tinha certeza de que havia
mais ali. Só que, é claro, ela só insistiria em saber se visse abertura de
Sophia para contar.
Como Karen conhecia Sophia desde que ela era uma menina, não achava
que ela fosse se abrir. Afinal, ela tinha Lexie, Anahí e até Maite para isso.
Mas não foi essa a resposta que veio.
— Se não quiser dizer nada tudo bem, mas se quiser... – Karen ofereceu,
achando que Sophia se manteria calada, mas novamente se surpreendeu.
Aquela constatação foi uma surpresa para Karen. Imediatamente ela pensou
no que qualquer outra pessoa pensaria: que Sophia tinha traído Jesse. Não
era algo que ela poderia esperar, já que os dois pareciam estar bem e
apaixonados, já que eles formavam uma linda família com Samantha. Mas
aqueles dias no My sister's place fizeram Sophia ao menos conseguir
formular a frase que a assombrava. Ao menos aquilo...
— Eu fui estuprada Karen – ela admitiu – Pelo meu melhor amigo. Achei
que a Any tinha te contado.
— Bom, você não sabe quem é o pai – Karen lembrou segurando as mãos
dela num nítido gesto de apoio – E mesmo que a pior hipótese esteja certa,
eu não consigo imaginar o Jesse virando as costas pra você como se não se
importasse, de verdade.
— Não acho que seja uma questão de virar as costas, é só criar uma criança
que não é sua – Sophia completou – Uma criança que vai te lembrar alguém
que você odeia.
— Ou quem sabe uma criança que também vai lembrar alguém a quem
você ama – Karen devolveu – Você disse que não dorme com o Jesse há
semanas...
— O quê?
O problema é que aquilo era uma dúvida, um achismo, estava longe de ser
uma certeza. E enquanto não fosse, Sophia seguiria assombrada.
Mas quem sabe essa era mais uma razão para que ela enfrentasse a situação
e descobrisse a verdade de uma vez.
xxx
— Resolvi sentar ao lado do meu novo amigo Mark Sloan – ele disse
comentando. Mark achou graça, enquanto Lexie sentiu os olhos
esbugalharem.
— Christian!
— E sabe, nós como amigos sempre andamos sem camisa uns na frente do
outros, fique à vontade para acompanhar a tradição... – Christian quase
cantarolava.
— Definitivamente não – Mane riu, vendo que Maite olhava para trás,
parecendo procurar alguém – Algo errado amor?
Logo Mane percebeu que todos já estavam ali completando a fileira, a única
que faltava era Maite. Ele se virou para trás para procurar a namorada com
os olhos, verificar se ela tinha conseguido achar a mãe, mas a visão que
teve foi algo que definitivamente não esperava.
Maite procurava por Victoria com uma das mãos na barriga e uma careta
nos lábios, conforme a gravidez avançava Luna chutava um pouco mais
forte e aquilo não era nada confortável. Ela estava evidentemente grávida,
ninguém que a olhasse era capaz de não notar que dali a poucos meses ela
teria um bebê. Por isso, a pessoa com quem acabou esbarrando
imediatamente percebeu a novidade.
Ela conhecia aquela voz. Se relacionou por anos com seu dono e o fim não
foi dos melhores. Koko.
— Sim, eu estou – ela suspirou concordando – Nunca pensei que fosse estar
tanto assim, mas... parece que a maré virou pra mim.
— Como não lembrar? – Koko riu – Ele não conseguia tirar os olhos de
você enquanto nós éramos casados...
A palavra era aquela: satisfação. Meses depois da última vez que eles se
viram, quando Maite foi ao apartamento de Koko para uma espécie de
acerto de contas, logo depois que descobriu os sentimentos de Mane, ela
jamais poderia imaginar que um dia seria tão indiferente ao ex-marido.
Tanto que precisava se encontrar com ele para se lembrar de sua existência.
Maite naquele momento, enquanto o ouvia falar da própria vida e da
carreira que ela tanto admirou, se deu conta que desde que ela e Mane
ficaram juntos, não procurava nada sobre o ex. Não fazia ideia de como
andavam suas redes sociais, quem eram as mulheres que passavam por sua
vida. Ela enfim tinha encontrado a felicidade e se deixado levar por ela, se
afastando daquele sentimento tóxico que a impedia de seguir em frente.
Por isso aquele encontro com Koko, diferentemente de outros que vieram
antes, a fez se sentir bem consigo mesma, ficando nítido o quanto estava
feliz com Mane e que não trocaria aquilo por nada. Nem por um pedido do
ex-marido para reatarem, numa hipótese remota de Koko propor aquilo.
— Se ciúme matasse você estaria durinho no chão – ele ouviu uma voz
provocando-o e virou as costas, encontrando Kamilla, sua irmã, rindo.
— Aham, amou – Kamilla observou – Agora ela ama você. Tanto que ela ta
grávida da sua filha geminianazinha.
— Vocês estão juntos há, não sei, quase sete meses, ela está grávida há
cinco, não acha que ta indo rápido demais? – Kamilla cruzou os braços
rindo – Vá com calma maninho, dê um tempo pra Maite, são muitas
mudanças na vida dela, há um ano ela sofria pelo ex e agora ela ta
formando uma família com você. Nem todo mundo é seguro dos próprios
sentimentos como você é.
— Nem todo mundo ama a mesma pessoa desde que era adolescente –
Mane constatou.
— Ela pode não te amar desde sempre, mas ama agora e isso ta nítido nos
olhos dela – Kamilla finalizou – Agora tira essa tromba do rosto. Se a
mamãe ver essa sua cara mordida vai correr pra ler o horóscopo pra tentar
resolver sua crisezinha.
A resposta da irmã caçula acabou fazendo Mane rir. Ele tentava se sentir
um pouco seguro, por isso fez um esforço e logo voltou para o próprio
lugar. Não demorou muito e Maite se afastou de Koko, encontrando a mãe
e, em seguida, voltando ao próprio lugar. Ao contrário do que ele esperava,
ela não comentou nada a respeito e parecia tão tranquila quanto Mane não
estava acostumado. Ele não sabia se aquela reação era positiva ou negativa,
se aquilo significava que ela estava mexida ou indiferente quanto ao ex.
Apenas esperava que não fosse ruim, que não significasse que fosse um
sinal dela querer o passado de volta. Mas talvez fosse o caso de mostrar a
Maite o quanto um futuro deles poderia ser melhor do que qualquer outra
coisa que Koko poderia lhe oferecer.
xxx
Poncho teve que esperar um bom tempo para conseguir ficar sozinho com a
própria mãe e colocar todos os acontecimentos daquela manhã em pratos
limpos. Não que Evelyn estivesse fugindo do filho; pelo contrário, o que ela
mais queria era conversar com ele para se inteirar sobre o que acontecia em
sua vida, apenas não via oportunidade. Na ausência de Daniel, em boa parte
da tarde Poncho teve sua atenção sugada por Missy que, na companhia de
Samantha, acabou brincando com ele o tempo inteiro. Apenas quando
Anahí chamou a menina para entrar com ela como parte da surpresa que
Arthur tinha preparado para Ellie e o ex-casal trocou um olhar significativo,
a matriarca Herrera se aproximou do filho porque outro momento não
surgiria.
— Nós estávamos juntos – ele admitiu – Mas quando o Dani descobriu não
reagiu bem. Algumas coisas aconteceram e... ela terminou comigo.
— Oh – Evelyn murmurou – Por isso eu não esperava. Por que você não
disse antes meu filho? Por que tanto mistério...?
— Você e ela são como pai e filha – Evelyn abriu um singelo sorriso – Não
a toa o Dani ficou com ciúmes.
— Eu acho que ele entenderia com o tempo – Poncho franziu a testa – Ele e
a Missy se deram bem no início, era só ciúmes mesmo... medo de eu
abandona-lo, deixar de ser pai dele como deixei de ser marido da Diana. É
que... a Any estava grávida quando foi sequestrada, eu não sabia. Ela
perdeu o bebê lá, e a Missy...
— Ela não tem um pai, aquele cara jamais poderia ser considerado pai dela
– Poncho respirou pesadamente – Eu quero estar ali pra ela. Eu já queria
quando a Any e eu estávamos juntos, mas... desde que nos separamos não
consigo encontrar uma maneira de dizer isso a ela sem parecer que eu estou
forçando a barra entre nós dois.
— Você quer ser pai dessa menina mesmo não estando com a mãe dela? –
ela tinha as sobrancelhas erguidas – Quer dizer... eu esperava que isso
acontecesse conforme você se envolvesse com ela, mas...
— Eu não quero ser pai dela, eu sou pai dela – Poncho esclareceu – É como
se a Any tivesse virado pra mim e dito que estava grávida, não teria
diferença alguma. Eu sinto por ela desde o início o que senti na gravidez da
Diana.
— E eu achava que você nunca mais iria querer ter filhos – Evelyn riu
negando com a cabeça.
— Oh, eu não acredito que aquele meu velho preparou uma coisa dessas... –
Ellie divagou.
— Pode acreditar mamãe, o papai sabe ser bem romântico quando quer –
Karen riu se sentando na cama – Venha se calçar.
— Se me dissessem há alguns anos que eu estaria aqui, comemorando
minhas bodas de ouro com as três moças mais lindas do mundo que vieram
todas de mim, ah... – ela comentou se sentando na cama e logo Anahí
reparou que não era apenas ela que estava totalmente emocionada, Karen
estava na mesma.
— Quem sabe um dia eles repitam tudo também pra que eu possa ver –
Anahí apertou a mão da mãe sorrindo – Vou sugerir isso ao papai, quem
sabe quando vocês fizerem dez anos...?
— Borboleta – Karen explicou – Sua mãe sempre foi como uma. No início
uma lagarta e, de repente, tinha asas grande demais pra não voar pra longe e
encantar a todos...
— Uma borboleta não serve para ficar presa – Ellie mencionou – O casulo é
temporário e necessário, mas depois... ela está sempre voando. Não serve
para borboletários nem para uma gaiola.
— Agora ela está livre – Karen sorriu. Anahí mordia os lábios, era
emocionante demais ouvir tudo aquilo das duas mulheres mais importantes
de sua vida.
— Mas um dia seremos nós arrumamos você, tal como vocês me arrumam
agora e eu arrumei um dia a sua mãe – Ellie se dirigia à neta – Um dia nós
estaremos ajeitando o seu véu, te entregando o seu buquê e te olhando com
aquela certeza de que você vai ser feliz pra sempre. Ah, vai ser muito bom
esse dia.
A emoção de Anahí deu lugar a uma pequena tristeza. Ela não disse, não
quis admitir, apenas balançou a cabeça positivamente e desconversou,
deixando a pequena profecia de Ellie cair no esquecimento. Logo a avó
calçou os sapatos e pegou o buquê das mãos da neta, se levantando. Karen a
acompanhou e Missy foi atrás, encantada pela bisavó estar arrumada
daquele jeito. Anahí acabou ficando sentada na cama, fingindo que ajeitava
a própria sandália para deixa-las ir na frente. Não queria que ninguém
notasse quando o que sentia saísse de seu corpo e se exteriorizasse.
Ela poderia ser livre, então suas lágrimas também seriam. Os sinais de sua
tristeza. Ela ouvira os sonhos da avó, Ellie divagando sobre o quanto queria
assistir o casamento da neta e vendo-a caminhar para uma felicidade e vida
plena tal como ela tinha há muito com Arthur, como há nem tanto tempo
assim Karen começou a construir com Keith. O problema é que as palavras
de Ellie somente tomavam forma em sua cabeça com Poncho esperando-a
no altar. Era para ele que ela entraria naquele vestido branco, colocaria
aquele véu longo, pegaria aquele buquê e caminharia pelo tapete vermelho.
Apenas por Poncho Anahí queria estar presa por vontade e não ser mais tão
livre assim. Ela nunca quis estar amarrada de nenhuma forma por ninguém,
nunca foi seu sonho, até ele aparecer. Agora havia o sonho e, ao mesmo
tempo, o vazio. Não serviria para sonhar se fosse com qualquer outro
homem.
E enquanto as lágrimas lavavam seu rosto, uma companhia retornou.
Enfimmm Anahi e Missy como mamãe e filhinha! Sei que vcs esperaram
mt por esse momento e preciso dizer, eu também! Amo a relação delas e
agora que atingimos esse ponto, vamos seguir pra novos degraus.
Beijos,
Rafa
Capítulo 70 - Relief
Não é que Anahí não tivesse entendido o que Missy dissera. Ela apenas
queria ouvir novamente aquela voz de criança angelical dizendo aquelas
palavras doces mais uma vez.
— Eu amo você mamãe – Missy repetiu palavra por palavra, dessa vez de
forma mais abafada e abraçando Anahí mais forte.
Anahí riu, soltando um pouco Missy, vendo a menina fazer uma careta e em
seguida rir também. Ela não sabia a conversa que Christian teve com sua
filha dias antes, quando ele a incentivou de chama-la por aquele apelido.
Mãe era a forma como Missy chamava Barbara, um papel que aquela
mulher não exercia nem de longe com perfeição, mas ainda assim era quem
o preenchia. Agora estava vazio e sendo aos poucos substituído por alguém
que se importava com ela, que lhe dava o carinho e atenção que ela não
sabia que eram normais na relação entre mãe e filha.
Agora Missy tinha uma mãe de verdade. Antes ela tinha apenas um casal
que a criava e a mantinha, simples assim.
Dessa forma, Christian não precisaria ter dito nada. Ele apenas adiantou
algo que iria acontecer de um jeito ou de outro. Cedo ou tarde Missy olharia
para o lado e veria em Anahí o que ela nunca teve. A saudade por Barbara e
Ed diminuía a cada dia, aqueles que a criaram caíam no esquecimento à
medida que a menina reconhecia em sua verdadeira mãe aquele papel. Mais
uma coisa que Tobias tinha desviado do caminho, mas aos poucos,
encontrava seu lugar novamente.
xxx
No dia seguinte.
— Você tem certeza que sou eu a pessoa que você gostaria que estivesse
com você...? – Olivia Bush perguntou à filha, ambas sentadas no corredor
de espera do hospital.
— Você é a única pessoa que poderia estar aqui comigo – Sophia mordeu
os lábios apreensiva. Ela simplesmente não conseguia não ficar
completamente tensa – Quem mais seria?
Olivia tinha um forte palpite de quem era a pessoa certa para estar ao lado
de Sophia ali. Ela tinha o nome em sua ponta da língua, nome de quem
deveria estar de mãos dadas com sua filha como ela estava. Nem de longe
Olivia reclamava por ter sido chamada a apoiar Sophia naquele momento,
mas ela tinha certeza de que outra pessoa cumpriria aquele papel muito
melhor. E, se aquela pessoa estivesse ali, sua filha não estaria nem de longe
tão apreensiva quanto estava, já que parte daquela tensão tinha a ver com a
aceitação do homem que ela amava àquela nova situação.
Sophia achava que Jesse jamais aceitaria sua gravidez caso não fosse o pai.
Ela sabia que o noivo a amava, mas criar o filho de outro homem seria
demais, em especial um homem que a estuprou. Um homem que só a
estuprou porque ela não tinha ouvido Jesse, porque tinha fechado a mente e
acreditado em Chad e em ninguém mais, mesmo tendo sido advertida por
tantas vezes por todos de que não deveria fazê-lo. Tarde demais para se
arrepender.
— Vai ser possível pra você criar uma criança que te lembre o que
aconteceu? – Olivia questionou, virando a ótima do jogo – Querida, você
pode fazer um aborto se quiser.
— Você não é obrigada a criar uma criança que é fruto de uma violência – a
mãe continuou, mas a filha não lhe dava ouvidos.
— Anahí não virou as costas para a Missy quando a descobriu, mesmo ela
sendo filha de um homem que a manteve presa por oito anos – Sophia
devolveu. Era óbvio: ela se comparava com a amiga que viveu uma situação
parecida, ao mesmo tempo que diferente.
— Anahí é Anahí – Olivia opinou – Não existe certo ou errado nisso, ela
fez o que aguentou fazer, e você deve fazer o que acha que é capaz de
suportar. Se você descobrir que essa criança é do Chad e decidir tê-la, eu
darei todo o amor do mundo para o meu primeiro neto, mas você tem que
pensar se um dia vai olhar para ele e se arrepender de tê-lo tido. Isso não vai
ter volta querida.
— Sophia Bush.
Com um suspiro de agonia de quem agora se dava conta de que não havia
mais tempo para fugir da verdade, Sophia se levantou e, acompanhada pela
mãe, caminhou para dentro do consultório da obstetra. A médica era italiana
e falava sem parar, perguntando quando ela tinha descoberto a gravidez,
quais eram os sintomas e dando uma série de dados, informações e
prognósticos que eram importantes, é claro, mas que não pareciam
relevantes naquele momento porque não era o que ela realmente queria – e
precisava – saber.
No fim, ela acabou ficando em silêncio, sentindo o rosto queimar mais uma
vez pela vergonha do estupro. Era um passo de cada vez: ela já conseguia
não se culpar, mas mesmo assim aquele era um estigma que ela ainda
carregaria. A médica já a esperava sentada numa cadeira ao lado do
aparelho de ultrassom e do outro lado da maca estava Olivia, com o olhar
ansioso para a filha, já que ela sim sabia o que aquele exame significaria.
O gel foi colocado em sua barriga enquanto ela mordia os lábios e depois, o
sensor deslizou por ali. Sophia encarava o teto, prendendo o choro, evitando
olhar para a tela e ver a imagem, pois sabia que tudo iria ruir caso ela se
apegasse àquele momento. Talvez Olivia estivesse certa, talvez fosse
demais criar uma criança fruto de um estupro. Ela poderia ao final daquela
consulta confidenciar a verdade à Dra. DeLucca e optar por um aborto
legal. Era algo razoável e coerente, ela teria o amparo da lei, tudo ficaria
bem. Assim ela pensava.
— Ora ora, temos um coração bem forte por aqui – a obstetra falou rindo.
Sophia não conseguia pensar direito. Ela sentia a mão da mãe envolvendo a
sua e encarou Olivia, os olhos dela também estavam marejados. Foi quando
ela desistiu e se virou para a tela, vendo aquela imagem estranha e
embaçada, cheia de riscos, que nada poderia significar... mas que, de
alguma forma, era o contrário. Significava tudo.
Foi aí que a ficha caiu. O estupro fora cinco semanas antes. Ela ouvia o
coração de seu filho. Para ouvir, ele tinha mais do que isso. Era possível
ouvir com seis semanas. Mais tempo do que a violência que ela sofreu. E
ele media dez centímetros. Ela tinha dez ou onze semanas de gravidez.
Alívio.
E junto com o alívio, lágrimas. Copiosas, desesperadas... reais. Um choro
intenso, afagado por Olivia, que agora também tinha o coração mais leve.
Ela se dava conta que, embora parecesse distante, a realidade de Sophia
estava próxima de seus sonhos. Ali claramente se via um se tornando
concreto, por mais difícil que aquilo pudesse parecer.
Ou quem sabe, junto com aquela nova criança, ajudado a recolocar tudo no
lugar.
xxx
Foi exatamente nessa hora que Anahí entrou. Ela havia sido convocada ali
para treinar o próprio depoimento. Ela estava acompanhada pela advogada
do pai, Lucca Quinn, que acompanharia a situação de perto. Anahí seria
treinada pela própria Emily Byrne, que era a procuradora responsável pelo
caso dela. O objetivo era exatamente fazer com que Anahí soubesse quais
perguntas seriam feitas no grande dia, a fim de que seu depoimento fosse
considerado perfeito, sem falhas. Afinal, o testemunho dela era o mais
importante, considerado crucial para a condenação de Tobias.
Lucca Quinn havia confidenciado à Anahí que Emily Byrne estava à frente
de seu caso por motivos meramente políticos. Era sabido nos corredores da
Procuradoria que Emily tinha planos para concorrer como procuradora e
substituir seu mentor e atual procurador, Adam Radford, nas próximas
eleições. O caso de Anahí e de Tobias estava sendo muito comentado e a
mídia fazia uma imensa cobertura para aquele julgamento, e naturalmente
exigia que alguém experiente e seguro ficasse à frente. Alguém que
dependia daquela vitória para ter outra vitória futura praticamente
garantida.
— Não basta ser verdade, é necessário que acreditem em você para que... –
Nick começou a falar novamente.
Por essa ele não esperava. Lucca Quinn, por outro lado, sorriu no canto da
boca.
— Eu posso treinar a Anahí sozinha, muito obrigada – ela disse sem encarar
o marido, fixando toda a própria atenção nas duas mulheres à sua frente –
Srta. Quinn, a senhorita se importa de nos dar cinco minutos? Eu gostaria
de falar com ela à sós.
Enfim sós.
— Nós somos – Emily riu – Mas não pense que isso afeta o trabalho.
Negócios são negócios Anahí, e eu levo essa Procuradoria muito a sério.
— Eu sei que sim – Anahí engoliu em seco – Eu soube que você irá se
candidatar à Procuradora na próxima eleição.
— Você... – Emily franziu a testa – Você não acha que eu estou no seu caso
pra me promover, não é?
— Você não sabe sobre mim, está tudo bem – Emily deu de ombros – Quem
me conheceu naquela época jamais poderia imaginar que eu chegaria aqui.
E quem me conhece hoje simplesmente se surpreende por não imaginar
qual é o meu passado. É algo que será vasculhado por conta das eleições,
mas... eu não me importo. Nada disso me define. Assim como o seu
sequestro não define quem você é e quem será daqui pra frente.
— Por isso eu vou te treinar pra esse depoimento – Emily completou – Não
porque eu sou a promotora à frente do caso... mas porque eu já fui você e
sei exatamente o tipo de armadilha que você pode cair.
Traçar os paralelos entre as histórias das duas, até naquilo, era totalmente
inevitável.
— Ah – Emily riu – Bem, ele realmente estava casado. Mas o que podemos
dizer? Não deu certo entre eles. Se tem uma coisa que eu aprendi com isso,
é que quando uma coisa é pra ser, ela acontece. Não importa como.
A mensagem que aquilo deixava para a própria vida de Anahí não poderia
ser mais nítida.
xxx
Poncho sentia cada músculo de seu corpo tenso desde que acordou naquele
que era o primeiro dia do julgamento de Tobias Menzies. Ele mal sabia
como tinha pregado os olhos à noite, mas tinha certeza de que o
acontecimento do dia era a razão de sua noite mal dormida e cheia de
pesadelos. Por isso, assim que acordou Poncho não perdeu tempo, seguindo
para tomar um banho gelado e beber um café forte, antes de vestir seu
melhor terno para ir ao tribunal.
Não tinha nenhum outro lugar no qual ele devesse estar além daquele
julgamento. Não importava sua situação com Anahí, Poncho sentia que era
seu dever estar do lado dela. Aquele era seu lugar. Ele iria todos os dias e a
apoiaria. O que aconteceria após, ficaria para depois.
Só que no fim houve uma parada antes do Tribunal. Foi quando Poncho se
deu conta que no apartamento de Erendira, onde ele estava hospedado
desde que saíra de casa, não havia nenhuma gravata decente para ser usada
naquele dia. Logo Poncho se viu parado na porta de sua antiga casa para
resolver o problema, sendo recepcionado por uma Diana que não esperava
vê-lo ali.
— Não era pra você estar no Tribunal...? – ela perguntou tão logo abriu a
porta para ele, com a testa franzida.
O caminhar foi breve. Ele subiu as escadas, caminhou para o antigo quarto
dos dois e entrou no closet, pegando uma gravata azul marinho e ajeitando-
a na frente do espelho. Ele estava nervoso, o nó teimava em não ficar bom.
Foi quando Diana apareceu atrás dele.
— Você está tenso – Diana constatou – Não precisa estar, é óbvio que ele
vai ser condenado. Não se preocupe.
— Você sabe que eu e ela não estamos mais juntos – ele respondeu
mordendo os lábios. Aquela frase doía só de ser falada – Eu apenas irei,
mas não significa que ela e eu...
— Significa sim – Diana cortou – Vocês podem não estar juntos, mas o
sentimento continua o mesmo, ou não? Você não é leviano, não terminaria
tudo entre a gente se não fosse algo grande. E grandes amores não acabam
de um dia pro outro.
Poncho queria agradecer Diana. Queria abraça-la por, mesmo depois de tê-
la feito sofrer, ela continuar se importando com ele e sabendo separar as
coisas. Ele o faria, se não estivesse uma pilha de nervos com aquele
julgamento, por isso acabou desistindo. Eles teriam tempo para terem
aquela conversa, aquela realmente não era a hora certa.
— Depois de oito anos trancada com ele, eu não tenho tanta certeza – Anahí
comentou suspirando. Dirigindo o carro, Keith olhou a filha pelo retrovisor,
mas foi Lucca quem lhe respondeu.
— Pois eu tenho.
Mas aquilo não era o importante naquele momento. Não quando o júri
entrou e se sentou em seu lugar. Não quando Tobias, acompanhado de sua
advogada, Nancy Crozier, entrou olhando diretamente para ela. Menos
ainda quando Emily Byrne caminhou para o próprio lugar, confiante e
decidida, pronta para devorar o que viesse pela frente.
Um cap lindo desses no qual vcs veem Anahi e Missy sendo lindas e
Sophia descobrindo que o filho dela é do Jesse e mesmo assim eu tenho
CERTEZA que vão me xingar porque parei no começo do julgamento
kkkkkk se eu sou má vcs são mt exigentes!!!!
Todos os comentários que li do tipo "Rafa vc não seria tão má" sobre a
gravidez da Sophia abria em mim um feixe de luz pensando que
alguémmmmm enxergaria que eu não faria o raio cair no mesmo lugar duas
vezes! Afinal ja basta a Anahi né mores? Soso não precisa carregar essa
cruz.
Mas de qualquer maneira esse plot tem sua importância e vcs verão...
depois do julgamento!
Beijos,
Rafa
Capítulo 71 - The People vs. Tobias Menzies - part I
Anahí não estava pronta. Em teoria, ela estava, é claro. Emily Birne a havia
treinado por horas e horas, incansavelmente, fazendo todas as perguntas
possíveis e indicando cada erro em suas eventuais respostas. Ela sabia o que
poderia falar e o que não poderia, mas não deixava de estar nervosa. Ela
não estava pronta no sentido emocional, porque uma coisa era se preparar,
outra era estar na frente de todas aquelas pessoas para falar de algo que era
tão íntimo, delicado e doloroso.
Mas a história de Anahí tinha deixado de ser dela, e aquilo não se referia
apenas à especulação midiática e jurídica de seu caso. Também tinha a ver
com o fato de que todas as mulheres que viveram situações iguais ou
minimamente parecidas, em maior ou menor grau, falariam com ela. Todas
elas condenariam Tobias juntos, porque Tobias era cada homem que batia
numa mulher, era cada homem que estuprava, que tratava alguma mulher
como um objeto, um pedaço de carne, se julgando dono de seu destino e de
sua história.
Por isso, mesmo não estando pronta, Anahí teria que falar. A condenação de
Tobias tinha que começar de algum lugar.
— Você notava algum tipo de interesse do Sr. Menzies sobre você àquela
altura? – ela voltou a perguntar.
— Quem é Poncho?
— Poncho era o meu namorado desde que eu tinha dezesseis anos – Anahí
disse olhando para o público que assistia e vendo Poncho a encarar
carinhoso – Alfonso Herrera. Nós éramos amigos de infância, estudamos
juntos desde crianças e começamos a namorar quando eu fiz dezesseis. Aos
dezoito passamos para a faculdade e acertamos que, quando nos
formássemos, voltaríamos pra Nova York juntos.
— Negado – a juíza determinou. Nancy Crozier fez uma careta, era seu
segundo protesto negado – A vítima pode responder a pergunta da
promotora.
— Protesto Excelência – Nancy Crozier insistiu. Ela sabia que Emily Byrne
se irritava com o excesso de interrupções – A testemunha está imputando
fatos aos quais não foram a ela perguntados.
Era uma estratégia clara para ganhar tempo. Quanto mais tempo o júri visse
Anahí chorando, melhor seria para a acusação, porque aquela imagem
ficaria gravada na mente de cada jurado. E Nancy se via de mãos atadas.
Cortar a cena seria um retrato de insensibilidade. Era melhor esperar.
— Você vai ficar vendo essa cena de cinema e não fará nada? – Tobias
sussurrou no ouvido da advogada, claramente aborrecido – É isso mesmo...
?
Quando Anahí parou, por fim, de chorar, Emily viu que era a hora de
continuar, desta vez sob outro viés.
— E era consensual? – Emily voltou a perguntar. Nancy, por trás dela, fazia
uma careta, já que a promotora tinha conseguido refazer a pergunta sem
parecer que estava induzindo Anahí a responder o que ela queria ouvir.
Anahí, por sua vez, voltou a olhar para Tobias bem firme antes de dar sua
resposta.
— Não.
— Você pode descrever o teor do que acontecia? Pode descrever a primeira
vez que o Sr. Menzies te forçou a alguma coisa...?
— Foi depois que eu perdi o meu bebê – Anahí falou calmamente, sentindo
o nó se formar em sua garganta. Mesmo depois de tantos meses daquela
descoberta, a lembrança da perda da criança permanecia vívida em sua
mente e seguia doendo. Provavelmente sempre doeria – Ele teve medo de
ser precipitado demais e acabar me causando alguma hemorragia. E eu... eu
sabia que iria acontecer em algum momento. Mas demorou, demorou bem
mais do que eu imaginava. Ele instalou uma luz no porão porque era tudo
muito escuro e eu vivia caindo, tropeçando nas coisas. E ele estava me
alimentando bem. Eu não estava entendendo, porque... ele tinha me
trancado ali, por que estava me tratando bem? E então... logo fez sentido.
Um dia ele chegou dizendo que iria acabar com a minha ansiedade. Que
certamente eu estava esperando por aquilo como ele também estava.
— Você consegue dizer o que ele fez? – Emily perguntou suave. Parecia
mais do que claro que ela tentava explorar a delicadeza do momento e a
fragilidade de Anahí em favor delas, para que o júri se sensibilizasse.
— Ele me batia e me chutava cada vez que eu não fingia que queria transar
com ele – Anahí disse dura – Ele me bateu na segunda vez que me estuprou
porque achou que eu fosse apenas chorar como na primeira, mas eu tentei
impedi-lo e ele quis mostrar que era mais forte do que eu, que era ele quem
mandava e ponto. Não foi nem uma, nem duas, nem dez vezes. Foram
tantas que eu nem saberia dizer. Várias vezes durante oito anos.
Toda interrupção abria espaço para a juíza Nery exigir silêncio, batendo
com veemência o próprio martelo. Aos poucos a calmaria voltava, mas os
jurados definitivamente sentiam o peso de cada uma daquelas palavras dela.
As acusações de Anahí se concretizavam, e aquele parecia ser um bom
início de julgamento para a acusação.
— Como você pode saber que a criança era filho dele e não do seu então
namorado, Alfonso Herrera? – Emily voltou a questionar. Era nítido o
quanto ela queria prever as falas da defesa e aniquila-las antes que Nancy
Crozier tivesse a chance de argumentar o que quer que fosse.
— Não tive nenhuma relação sexual com ele que não fosse um estupro,
então sim, minha filha foi fruto de um estupro.
— Como foi a reação do Sr. Menzies quando descobriu que você estava
grávida?
— Ele fingiu o tempo inteiro que não estava acontecendo nada – Anahí
respondeu de certa forma orgulhosa de ter conseguido preencher todas
aquelas lacunas. Nada ali era inventado, as memórias pareciam frescas em
sua mente, como se tivessem sido vividas um ano antes. Felizmente, não era
o caso – Eu fiquei até o final perguntando o que aconteceria quando o bebê
estivesse para nascer. Se ele deixaria que ele vivesse comigo, se me levaria
para um hospital...
— E ele te levou?
— Não – Anahí suspirou mordendo os lábios – Eu tive o bebê num colchão
velho dentro do porão. Quem fez o meu parto foi um médico que eu nunca
tinha visto antes.
— Ele ouviu o choro e tirou a minha filha dali – Anahí respondeu voltando
a encara-lo seca – Eles ignoraram a minha dor, me deixaram ali no chão,
expelindo a placenta... e tiraram a minha filha dali. Não me deixaram ver o
rosto dela. Não me deixaram saber o sexo... me trataram como um pedaço
de carne. E eu fiquei ali chorando, com medo, chamando por ele... até
desmaiar de dor.
— Eu acordei horas depois zonza – Anahí relatou – Ele estava ali e tinha
trazido comida. Eu estava fraca e ainda sentia dor. Eu lembrava do choro do
meu bebê e perguntava onde ele estava. Achei que ele fosse me bater ou
qualquer coisa do tipo, mas... não foi nada disso. Ele não gritou, apenas
disse que eu estava louca, que não havia bebê algum. Como se fosse tudo
fruto da minha imaginação. Eu repeti a pergunta naquele dia várias vezes
porque obviamente não acreditava nele, e fiz isso nos dias e nas semanas
que se seguiram, e a resposta era sempre a mesma: que eu nunca tinha tido
um filho, que tinha delirado com aquilo. Ele me fez esquecer o meu próprio
filho.
— Você começou a achar que realmente estava ficando louca?
— Como você pode ter certeza de que ela é filha do Sr. Menzies e não de
Alfonso Herrera, seu ex-namorado?
— Bem que eu gostaria que ela fosse filha do Alfonso – Anahí sorriu. Na
plateia, Poncho sentiu as bochechas esquentarem. Ele não tirava os olhos
dela um minuto sequer – Mas não. Como eu disse, eu sofri um aborto muito
pouco tempo depois de chegar ao cativeiro. Além disso, ela tem os olhos
dele. Quando você é amordaçada por um homem num lugar escuro, e ele te
segura pelos pulsos pra te imobilizar, e a única coisa que você é capaz de
enxergar são os olhos... você não esquece esses olhos. Infelizmente essa é a
herança maldita que a minha Missy vai carregar.
— Evidência um.
— Anahí, eu preciso fazer uma última pergunta... você confirma que o Sr.
Menzies te sequestrou, te manteve em cativeiro por oito anos, te estuprou e
te agrediu diversas vezes e, após te engravidar, separou você da sua filha e a
levou para dois estranhos criarem-na, fazendo com que você acreditasse que
ela nunca tinha nascido?
A resposta de Anahí não poderia ter sido mais incisiva. Com os olhos de
volta a Tobias e o nojo impresso neles, ela confirmou.
— Sim.
Não era por acaso que Tobias tinha escolhido aquela advogada. Nancy
gostava de se fazer de inocente perante os jurados. Como uma boa
advogada de defesa, ela fazia uso de técnicas de dramatização, a fim de
comover a todos, o juiz inclusive. Fernanda Nery não era uma juíza que se
deixava intimidar, tampouco impressionar, mas não se poderia dizer nada
sobre os jurados, ao menos não àquela altura do campeonato. E de toda
forma, eram os jurados que condenariam ou absolveriam Tobias, não a
juíza...
— Eu... o quê?
— Sim – Anahí admitiu a contragosto – Mas tudo iria melhorar depois que
eu...
— Evidência dois.
— Foi o dia que eu descobri que ele havia colocado rastreadores no carro
dos meus amigos – Anahí acusou – Ele estava me...
— Ou seja, a senhorita diz ter medo dele, entra com uma liminar para que
ele se mantenha afastado, mas basta que ele se aproxime que a senhorita
corre na direção do Sr. Menzies, é no mínimo interessante – Nancy
alfinetou. Anahí estava vermelha pelo ultraje.
— Srta. Portilla, a senhorita disse que não se lembrava do seu parto e que as
lembranças vieram por uma terapia de regressão – Nancy lembrou – Como
podemos acreditar que são de fato lembranças e não coisas que a sua mente
criou e nunca aconteceram?
— Eu lembro delas.
— Poderiam ser como sonhos – Nancy suspirou – Não são reais. Nem todas
as lembranças são reais.
— Mas...
Finalmente uma pergunta para a qual ela não precisava de nenhum tipo de
dúvida ao responder.
Havia muita explicação, mas agora nem para Anahí fazia tanto sentido
assim. Ela estava com os olhos lotados de lágrimas, a cabeça ainda baixa, se
perguntando se Nancy e seu raciocínio afinal tinham razão. Depois de tudo
o que ela tinha vivido, depois de ter toda a sua história interrompida, Anahí
não estava com o homem que amava. E fora uma escolha dela. A vida a
estapeava e ela sequer poderia reclamar, porque aquela era a verdade. E
agora os jurados poderiam pensar como bem queriam.
— Cabeça erguida – Emily disse à Anahí, que logo a encarou – Foi apenas
a primeira manhã. Todos os julgamentos são assim, não significa que
estamos perdendo.
— Bem, significa que não estamos ganhando – ela constatou num suspiro.
Tudo o que ela queria era sair dali, para estar em um lugar em especial.
Anahí seguiu para fora da sala do Tribunal já mais controlada e sem chorar,
acompanhada por Lucca Quinn. Ela olhava os presentes e percebia que
Karen evidentemente estava à sua espera. Ela entendia a agonia da mãe,
mas não era com ela que Anahí deveria falar naquele momento. Por isso
Anahí caminhou direto para Poncho e, sem que ele tivesse tempo de reagir,
ela o abraçou. E foi nos braços dele, agarrada ao pescoço dele, que as
lágrimas dela voltaram a cair.
— Any, por favor... – Poncho disse ainda abraçado nela – Eu conheço você,
eu conheço nós dois...
— Não era aquilo que eu queria dizer – ela falava sem parar – Não foi por
isso, você sabe...
Nós somos mais do que isso, Poncho pensou mas não disse. Ele descobria
naquele momento que havia um nós que não dependia dele e de Anahí
estarem juntos. O nós que fazia com que ela se importasse com o que ele
pensava, que fazia com que ele estivesse ali para apoia-la e fosse fazer o
mesmo em todos os dias de julgamento. Poncho então se lembrou das
palavras de Diana e se deu conta que o que ele e Anahí tinham era
realmente muito grande, porque fazia com que os dois não se importassem
se estavam ou não juntos, tampouco se todos os outros os olhavam
abraçados e nada entendiam. Era grande demais para ter fronteiras, quem
sabe para ter um fim.
PUXADO NÉ NÃO?
O depoimento da Anahi acabou tomando todo um cap que era pra ser
dividido entre o dela e o do Tobias. Me perdoemmmmm! Quando eu vi já
tava assim, imenso!
No próximo teremos vários outros, onde o duelo entre Emily Byrne pelo
Estado e Nancy Crozier pela defesa se acirra ainda mais. De que lado vocês
estão? ~perguntas idiotas~
No aguardo sedentaaaa!!!
Beijos,
Rafa
Capítulo 72 - The People vs. Tobias Menzies - part II
— Sr. Menzies, o senhor foi preso por suspeita de tráfico de drogas após ter
sido apreendida uma grande quantidade de cocaína no seu jardim, correto?
– Emily perguntou. De início, ela iria com calma.
— Correto.
Provavelmente isso advinha do fato de que ela era a única que realmente
conhecia Tobias no meio daquele mar de gente.
— Não houve necessidade – ele observou. Era a primeira vez que Tobias
parecia não tão seguro assim – A gravidez dela estava indo bem, não
achamos que seria preciso...
— Isso significa que a vítima passou a gestação inteira sem uma vitamina
de pré-natal, uma ultrassonografia? – Emily cruzou os braços debochada –
O senhor possui diploma médico para ser capaz de avaliar a saúde de uma
gravidez normal?
— Eu não...
— Protesto Excelência – Nancy interrompeu. Ela sabia que não seria aceito,
mas precisava quebrar a linha de raciocínio de Emily, já que Tobias tinha
claramente perdido a compostura – Eu preciso de um minuto com o meu
cliente.
— Protesto Excelência!
— No porão – ele rapidamente disse – Ela não aguentou ir para outro lugar.
— Protesto Excelência! – Nancy levantou com fúria. Dessa vez era mais
garantido.
— Aceito – a juíza Nery abriu uma careta. Claramente ela não queria
aceitar – O Estado não pode testemunhar no lugar do réu, Sra. Byrne.
— Ela não queria criar a criança – ele ponderou – Eu sugeri que ela fosse
para a casa, poderíamos ser uma família... mas ela tinha medo da família
descobrir tudo. Por isso eu a levei para um casal de primos da minha
confiança.
— O senhor tem algum laudo médico que indique que a Srta. Portilla tenha
sofrido de algum tipo de doença decorrente de uma gravidez e parto
traumáticos?
Não restou outra alternativa à Tobias senão dizer...
— Não.
— Any era a forma como o Sr. Tobias Menzies a chamava. Antes era o
modo como os avós a chamavam, ele provavelmente se utilizou dessa
forma carinhosa que conhecia para reverter o apelido dela para algo que
fosse deles, tirando uma referência de vida dela.
— Negado.
— Sim.
— E a doutora acredita que esse sofrimento tenha impactado a amnésia que
a paciente sofreu?
— Então a doutora acredita que o fato de o Sr. Menzies ter separado mãe e
filha foi o que agravou o quadro clínico da Srta. Portilla?
— Acredito.
— Aceito.
— Aceito.
— Sim, mas...
— A senhora pode provar que todos os relatos dela no seu consultório são
reais? – Nancy questionou.
— Não.
É, pelo visto a defesa tinha marcado o seu ponto. Discreto, mas ali estava.
— Ela tinha marcas nos pulsos e nos tornozelos que indicavam que passava
muito tempo amordaçada, provavelmente presa – Callie observou – É algo
comum em pacientes torturados.
— Sem dúvidas.
— Se a Srta. Portilla fosse uma vítima padrão, pode ser que ela teria sido
tratada no momento correto, a doutora concorda?
— Sofia tem quatro – Callie explicou, mesmo sem entender a razão de ser
daquela pergunta.
— Negado – a juíza decretou. Emily não gostou, pois sabia exatamente que
aquela não era uma boa linha para ela – A testemunha pode responder a
pergunta.
— Com quem o Dr. Mark Sloan, seu ex-namorado e pai de sua filha Sofia
de quatro anos, está namorando atualmente, Dra. Torres?
Na plateia Lexie apertava a mão de Mark. Ela jamais poderia imaginar que
sua relação com ele atrapalharia o julgamento do sequestrador de Anahí.
— E a Dra. Lexie Grey tem algum tipo de relação com a vítima, Anahí
Portilla?
— O que faz com que ela tenha total interesse no resultado desse caso e
consequentemente, a senhora também – Nancy insinuou.
— As coisas não são assim! – Callie grunhiu – Eles não estavam juntos
quando...
— Sem mais perguntas Excelência.
Aquele dia foi ainda fechado com o testemunho de Nick Durant. Acabou
sendo uma repetição dos momentos anteriores. Enquanto Emily se
preocupou em mostrar os laudos da apreensão na casa de Tobias no dia do
resgate e arrancar de Nick o máximo de detalhes sobre o estado de Anahí ao
ser resgatada, Nancy se valeu do fato de ambos serem casados para
diminuir a veracidade de suas alegações e insinuou ainda que Nick tinha
total interesse na vitória do caso já que aquilo poderia fazer com que sua
esposa vencesse a eleição para a Procuradoria de Nova York.
Depois de ter sido a vitoriosa do terceiro dia de julgamento, algo que estava
mais fresco na mente dos jurados do que o depoimento de Anahí, Nancy
Crozier chegou ao Tribunal confiante. Não apenas ela: Tobias não deixou
de sorrir debochado e de encarar Anahí descaradamente quando cruzou pelo
espaço que ela estava sentada. Com Maite de um lado seu e Karen do outro,
Anahí procurou ignorar como pôde, mas não poderia negar que estava
nervosa: conforme o julgamento caminhava para o final, ela temia cada vez
mais que Tobias conseguisse escapar daquilo ileso, sem ser punido.
Até Tobias, que nunca esboçava qualquer reação, virou a cabeça surpreso.
Nem ele nem Nancy sabiam disso, e imediatamente a mesma se aproximou
irritada da juíza Nery tentando impedir que aquela testemunha depusesse
naquele momento. Seria péssimo para a defesa, evidentemente. Por isso
mesmo Emily Byrne também se aproximou e argumentou ferozmente em
favor da testemunha e de sua relevância para o caso. E naquele momento, a
acusação saiu vencendo.
— Sra. Mitchel, sem delongas – Emily anunciou. Ela tinha sangue nos
olhos – Qual a sua relação com o réu?
— Sou prima dele – Barbara disse vendo Tobias furioso ao fundo – Sempre
fomos próximos.
— Negado.
A juíza Nery demonstrava uma nítida impaciência com Nancy Crozier.
Nada bom para a defesa.
— A senhora sabia que Missy era filha de Tobias Menzies? A senhora sabia
que ele mantinha uma mulher em cativeiro.
— Protesto Excelência!
Ignorada.
— Sra. Byrne...
— Quando isso aconteceu, a senhora já sabia que ela poderia ser filha de
Tobias Menzies?
— E por que a senhora acha que justamente vocês foram escolhidos para
criar essa criança?
— Porque ele nos comprou junto com aquela hipoteca – Barbara admitiu –
E sabia que, se nós disséssemos alguma coisa... ele nos colocaria na rua.
— Sra. Mitchel, a senhora possuía uma boa relação com Tobias Menzies?
— Não – Barbara voltou a admitir – Exatamente por isso não entendi por
que ele deixou a criança comigo.
— Então como podemos acreditar que o seu testemunho não passa de uma
vingança?
Xeque mate. Por essa nem Emily Byrne, muito menos Anahí poderiam
imaginar. Nancy balbuciou, tentando sair daquela armadilha, mas logo se
viu incapaz de responder. Ela tinha acabado de cair na própria arapuca. Em
gaguejos, disse que não tinha mais nenhuma pergunta.
SURPRESAAAAAAAAAAA!!!
Eu aposto como vcs não estavam esperando isso, acertei? Será que com um
cap extra o índice de "eu te odeio" e "vou te matar" diminui ao menos hoje?
Fiz questão de postar esse extra por dois motivos: primeiro, porque recebi
140 votos e váriosssss comentários e tweets empolgados com o último cap,
o que me fez me inspirar; segundo, por conta dessa inspiração, consegui
escrever dois caps no fds (geralmente sai um!) e achei justo recompensa-las
postando esse extra.
Sobre o último cap, senti de longe a tensão e o ódio de vcs pelo Tobias e
sinto que isso vai se repetir aqui. O ódio pela Nancy Crozier também esteve
bemmm presente, mas deixo claro que tudo o que aconteceu lá foi bem
verossímil com o que acontece em julgamentos nos EUA, um oferecimento
The Good Wife + Suits + American Crime Story! Ou seja, advogado fazer
de tudo para construir uma narrativa absurda no julgamento e mudar seu
rumo, infelizmente temos.
Aguardemos então.
Beijos,
Rafa
Capítulo 73 - The Juri
É claro que Emily Byrne estava nervosa. Era o julgamento de sua carreira, o
caso de sua vida. Ela tinha se preparado por longos oito meses para aquele
momento e nem tudo poderia ser previsto. Muitas artimanhas de Nancy
Crozier e a narrativa que ela tentava construir e convencer os jurados era
boa, definitivamente boa.
Mas Nancy era apenas uma advogada. Emily tinha sido policial. Ela era da
procuradoria. Ela era uma mulher sequestrada. Ela tinha sido a vítima e
agora estava à frente do caso de outra. Ela sabia que o caso de Anahí não
seria o último, sabia que viriam outros, talvez alguns nos quais ela não
estivesse à frente, mas ainda assim... aquela condenação precisava
acontecer. Por isso Emily Byrne precisava ser mais do que boa.
Por isso caminhou para o púlpito, para onde os jurados poderiam vê-la e
ouvi-la. Para dizer, em definitivo, por que eles não poderiam deixar de
condenar Tobias Menzies.
Mas agora era a vez de Nancy Crozier tentar – mais uma vez – desconstruir
toda a história e emplacar sua própria versão.
Apenas.
Mas apesar de tudo, embora a raiva fosse grande, Anahí não nutria um
imenso desprezo por Nancy Crozier. Ela sabia que ela era apenas mais uma
advogada que poderia defender do mais bonito ao mais feio, dependendo do
lado que tivesse. Era grotesco, era antiético, era uma mulher defendendo
um estuprador. Mas só havia mulheres defendendo estupradores porque
existiam estupradores. O verdadeiro culpado era ele.
Mas como Emily Byrne muito bem dissera, era preciso começar por algum
lugar. Que fosse a condenação então.
xxx
— Depende do nível de bom senso que tivermos – agora era Beatriz Lisboa
quem falava – Porque pra mim parece óbvio que ele é culpado.
— Por que o que mais teve naquele julgamento foram provas – Beatriz
rebateu.
— Nós não devemos... – Jessica tentou falar, mas outro jurado tomou a voz.
— Você considera uma mulher que não lembra do que aconteceu e que
precisou ser hipnotizada pra supostamente conseguir lembrar como uma
prova? – Dean Mitchel, um dos jurados homens, questionou.
— Ah, você leva a sério o que Emily Byrne fala? – Brian Walker, outro
jurado, debochou – Essa mulher quer apenas se eleger.
— Vocês não cogitam nem por um minuto que ela possa ter ido porque
queria? – Brian Walker voltou a falar.
— Quem garante que ela não teve a chance? – Johnny Walker voltou a
insinuar – Talvez ela gostasse.
— Vamos votar? – Jessica propôs – Pelo visto já sabemos aqui quem vai
opinar como. Temos que votar.
— Tem que ser unânime – Maria lembrou – Mas como iremos chegar à
unanimidade desse jeito...?
— E pra você por que ele seria culpado? – Bennie Simpson questionou.
— Ok, ela não lembrava – Beatriz ponderou – Ok. Pode ser tudo coisa da
cabeça dela? Pode. Pode ser tudo invenção? Pode. Ela não está mais com o
namorado de antes? Ok. Até faz algum sentido? Se você for sádico pode até
fazer... mas aí você tem que dizer que a polícia que a encontrou está errada,
tem que dizer que os exames das profissionais médicas, de três cirurgiãs
diferentes estão errados, tem que dizer que uma psiquiatra renomada está
mentindo, e eu não consigo colocar no mínimo cinco pessoas de três
carreiras diferentes na berlinda pra absolver um homem que no mínimo
parece assustador. Não mesmo.
xxx
É claro, ela estava sensível. Era a história dela contada pela promotoria e
desconstruída pela defesa. Era horrível pensar que narrativas estavam sendo
criadas sobre o sofrimento dela, que as pessoas falavam de sua vida como
se fosse sua propriedade. Não era sobre aquilo. E era inevitável não se
afetar.
— Se ela dissesse mais uma vez que era de Michigan eu voaria naquele
pescoço magricela – Lexie resmungou. Mark ao seu lado a olhava
arregalado.
— Posso deixar você aqui e ir ao hospital ver se está tudo bem ou você vai
voar no pescoço magro de alguma advogada? – ele perguntou com ar de
riso, vendo a namorada negar com a cabeça.
— Você pode ir tranquilo – ela disse antes de beija-lo. Mark não demorou a
sair, deixando a namorada com os amigos e certo de que ela ficaria bem.
— Ah, ela foi pro quarto descansar – Maite explicou – Dias difíceis, ela não
tem dormido direito...
— Fui só eu que reparei que o Poncho também não está aqui? – Mane disse
num sussurro olhando ao redor.
Ele deu uma pequena batida na porta e ouviu a voz dela indicando que ele
deveria entrar. Poncho, em pequenos passos, adentrou o espaço dela. Viu
que Anahí estava um pouco diferente da forma como chegou no
apartamento pouco antes. Ela prendera o cabelo num coque, tirou o sapato
de saltos e agora estava sentada na beira da cama, dobrando roupas de
criança e colocando-as na poltrona que ficava logo ali.
— Ossos do ofício – Poncho riu de volta – Onde eu vou tem coisas do Dani.
Dentro do meu carro tem brinquedo, na minha cama, na banheira, até no
meu computador tem desenhos dele.
Poncho conhecia Anahí desde que eles eram duas crianças. Era tempo
demais para não conhecê-la com a palma de sua mão. Anahí era
provavelmente a pessoa que melhor o conhecia e a recíproca era verdadeira,
de forma que ele sabia ler cada uma de suas reações. E naquele momento
tinha certeza do que a fazia estar cabisbaixa daquela forma.
— Você não é a culpada – Poncho disse se abaixando e encarando os olhos
dela – Não é culpada de nada.
— Você não conhece o Dani, ele é uma criança boa, tem um coração
maravilhoso – Poncho rapidamente explicou – Só que a Diana e eu erramos
em algo com ele, lhe passamos a impressão que ficaríamos juntos pra
sempre e ele se decepcionou quando isso não aconteceu. Ele nunca reagia
bem quando suspeitava que nós brigávamos, então eu meio que esperava
que isso fosse acontecer quando o meu casamento com ela acabou. Mas eu
sempre soube que seria uma questão de tempo. O Dani gosta de você e
gosta da Missy também, ele só precisa de um tempo pra se acostumar com a
nova realidade, pra ver que o fato de eu amar vocês não fará com que eu
deixe de ama-lo.
— Mas você foi feliz com a Diana nesse tempo todo – Anahí murmurou
insegura.
— Porque eu achava que você estava morta – ele devolveu – Desde que eu
descobri que você estava viva, nunca mais fui o mesmo. Meu casamento
acabou ali, eu apenas não me dei conta, mas nada foi mais o mesmo. Eu
não conseguia ser dela porque era completamente seu.
— Mas você não está entre nós – Poncho segurou o rosto dela numa concha
– O Dani aos poucos vai aceitar a ideia e vai ver em você uma segunda mãe
maravilhosa, vai ver na Missy uma irmã mais velha que ele vai amar, além
de uma amiga como a que ele tem na Samantha. Nós vamos ser uma
família, e eu não vou deixar de ser uma família com ele e com a mãe dele
porque Diana e eu vamos fazer isso funcionar, já estamos fazendo. Talvez
ela siga em frente e tenha outros filhos também, forme a própria família, e
ele vai ser recheado de amor para todos os lados. Me diga como isso pode
ser ruim pro meu filho? Como isso pode significar que você está entre ele e
eu...?
— Você não pensa, não sonha em ter outro filho...? – quando Poncho
perguntou os olhos dela se abriram e a conexão entre eles se formou – Você
não pensa em engravidar, ficar enorme e chorar ouvindo um choro pela
primeira vez?
Anahí se atraía a Poncho como um ímã. Quando ela deu por si sua boca
estava grudada na dele e não importava nada. Era a única coisa que a fazia
parar de pensar naquele maldito veredito. Nos braços de Poncho, Anahí só
pensava nele, neles. Enquanto os dois se beijavam sentiam a sensação de
que não deveriam se soltar nunca mais, porque mais parecia que fazia uma
eternidade desde a última vez que estiveram tão juntos, tão íntimos.
Dessa forma, era melhor fazer mesmo aquele momento durar o quanto fosse
possível.
xxx
— Mas é claro, eu não vou votar em uma versão emplacada por uma
mulher que quer ganhar uma eleição – Bennie Simpson sustentou.
— Eu disse sexista – ela repetiu – Seu único incômodo é ela ser uma
mulher. Se fosse um homem querendo esse cargo, um homem tentando essa
eleição, não iria te incomodar nem um pouco. Como Nancy Crozier
defender um estuprador não te faz mover um músculo do rosto.
E Brian Walker, em nome dos outros três jurados homens que votaram
preliminarmente a favor da absolvição de Tobias Menzies, pareceu aceitar.
E estava selado.
xxx
— Lucca?
Finalmente.
E teve AyA né? Sério, em alguma coisa vcs precisam me amar!!!! Nisso
precisam admitir digam aí 😌
Beijos,
Rafa
Corações acelerados.
Não era o destino de Tobias. Ele não se importava com o seu futuro, fora
ele quem decidira arriscar tudo ao cometer todos aqueles crimes. O futuro
que importava era o de Anahí: quem não optou por ter a vida interrompida.
Quem teria medo de sair na rua se seu algoz ficasse livre. Era por isso que a
respiração dela estava pesada, porque ela pensava como seria andar na rua
com ele podendo segui-la. Porque o mundo já não tão seguro parecia ainda
mais assustador com Tobias à solta. Porque ela não imaginava criar Missy
com ele podendo aparecer a qualquer momento.
Alguns dos dela estavam confiantes, mas nem todos. Maite, no quinto mês
de gravidez, estava alterada. Mane, preocupado com ela. Lexie estava
decididamente nervosa, comendo o próprio esmalte. Karen estava insegura.
Sophia mal conseguia encarar o que estava acontecendo, já que obviamente
lembrava da própria situação. Jesse, Christian e Mark, por mais que
esperassem pelo que fosse acontecer, estavam estressados com aquela
tensão toda. O único que não parecia nervoso era Keith. Pelo contrário, ele
apenas esperava pela confirmação de uma certeza que viria.
Tobias, assim como Nancy Crozier, ficou ao seu lado. Anahí, em seu lugar,
abaixou a cabeça, apenas aguardando, de olhos fechados, pelo que viria.
Um respiro...
— Culpado.
Lágrimas. Alívio...
O falatório foi inevitável. Foi a primeira vez em três dias que Tobias
demonstrou uma reação. Era algo parecido com frustração. Ele não
esperava por aquilo. Afinal, todo homem que comete um crime contra a
mulher o faz na esperança, provável certeza da impunidade.
Não mais.
Anahí, por sua vez, não economizava na própria emoção. O que sobrava de
frieza nele, faltava nela. Naquele momento ela chorava com Karen abraçada
nela, a mãe com o rosto também lavado em lágrimas. O inferno tinha
acabado. Era hora de celebrar.
As reações na Corte não foram muito diferentes. E Anahí e Karen não eram
as únicas que choravam. Sophia sentia como se um peso imenso tivesse
saído de suas costas. Lexie e Christian, por sua vez, estavam mais próximos
de uma comemoração do que qualquer outra coisa. Maite apenas sorria,
focalizando a melhor amiga a alguns assentos de distância, pensando que a
reação de Anahí facilmente poderia, ser confundida. Se Tobias tivesse sido
absolvido, ela provavelmente teria o mesmo tipo de reação para quem via
de fora. Mas dentro de seu coração o alívio de Anahí era único, que não
poderia ser substituído em nenhuma hipótese.
Tempo de comemorar...
Afinal, Anahí sabia que aquela condenação não substituiria os anos que ela
perdeu, tudo o que deixou de viver. Sem dúvidas não apagaria as dores que
ela sofreu, as lembranças do sofrimento, dos estupros, de tudo o que voltou
à tona por conta do julgamento, de sua história sendo remexida. Tinha sido
um caminho longo: oito anos presa, oito meses lutando por justiça, tentando
recuperar as memórias, sofrendo a cada momento que cada uma delas
voltava. Ao menos vê-lo pagando por tudo compensava um pouco. Ela
poderia repetir aquela cena em sua cabeça, revivendo-a, para substituí-la
por cada mísero momento de sofrimento que ele a fizera passar... com a
certeza de que Tobias os teria de volta tendo a liberdade privada.
Quando Tobias finalmente viu que Anahí o encarava, ele não tinha nos
lábios o sorriso debochado de sempre, que a assombrou por oito anos num
porão e oito meses fora dele. Nem mesmo Anahí o esboçava, porque eles
eram tão diferentes que ela jamais copiaria qualquer de seus gestos
perturbadores. O que Anahí tinha no rosto naquele momento era algo que
Tobias jamais teria: a satisfação de vencer no final. E isso era algo que ele
não conseguiria tirar dela.
Marina.
Tarde demais.
A vingança poderia ser um prato que se comia frio, mas aquele comido por
Anahí era quente. Porque nesse caso estava longe de ser vingança. Era
justiça. Que tardou oito anos, mas não falhou.
E aquela era a última vez que ela o veria. Quem sabe com o tempo Anahí
esqueceria seu rosto. Esqueceria até o que era ter medo dele.
— Ele precisava saber – Marina disse num sussurro para ela assim que
Tobias sumiu de sua visa, apertando seu braço com um sorriso satisfeito nos
lábios – Vamos embora daqui. Você precisa sair como alguém realmente
livre.
Ela sairia.
Mas antes de sair, precisava agradecer a alguém que tinha sido peça
fundamental naquilo tudo.
— Obrigada – Anahí disse segurando a mão dela – Por não ter desistido em
momento algum. Eu... jamais teria como agradecer o suficiente.
— Boa sorte – Emily desejou. Aquela era a provável última vez que elas se
veriam – Será um longo recomeço.
xxx
— Nada de bar, eu quero ir pra casa – Anahí disse de pronto – Eu quero paz
nesse momento Christian.
— Christian shiu – Maite reclamou – É óbvio que ela quer ficar com a
Missy agora.
— Seus amigos têm razão filha, vocês têm que celebrar – Keith concordou
– Vá, amanhã de manhã você vê a Missy, sua mãe e eu cuidamos dela.
— Vocês têm certeza? – ela perguntou mordendo os lábios. Logo se viu que
ela queria estar com a filha, mas parecia muito dividida.
— É claro que sim – Karen confirmou – Você enfim pode aproveitar a sua
tão sonhada liberdade. Não deixe para amanhã, comece hoje.
Anahí sorriu. Os pais estavam certos: ela não tinha mais o que temer.
Era difícil, porque ela passou tempo demais se privando, tendo medo.
Demoraria a se acostumar com a ideia de que era livre, que não tinha mais o
que temer. O mundo não era o lugar mais seguro do mundo, mas ao menos
Tobias estava por trás das grades. A perspectiva tiha melhorado e muito.
— Eu não tenho dúvidas disso – Karen respondeu, mas dessa vez ela não
olhava para Christian. Ela encarava Poncho.
Porque era nele em quem ela realmente confiava sua pequena borboleta.
Christian, Maite, Mane, Lexie, Mark, Marina, Sophia, Jesse e é claro, Anahí
e Poncho seguiram para o Tonic Bar, na Times Square. O lugar estava
cheio, era barulhento e discreto, perfeito para uma noite na qual ninguém
deveria nota-los. Com alguma dificuldade e um tempo na fila eles
arrumaram uma mesa na qual só cabiam cinco deles e evidentemente ficou
claro que a maioria ficaria em pé. Não que eles se importassem.
Quem ocupou um dos lugares à mesa foi Maite dada sua evidente gravidez.
Mane se sentou ao lado dela, Christian em outra das cadeiras e terminou
com Mark e Lexie sentando nas outras. Os demais não se importaram de
ficar em pé, Anahí tinha uma conversa com Marina sentada próxima dali e
Christian anotava mentalmente as bebidas de todos.
— Uma bebida forte pra um homem mais ainda... ops – Christian mordeu
os lábios provocativo vendo Lexie estreitar os olhos para ele – Poncho?
— Luna beberia o Sex on the beach se pudesse beber, mas não é o caso,
então providenciarei algo não alcoólico – Christian disse olhando para
Maite com pena – Cielo...?
— Pra você é Mane – ele fez uma careta – Um mojito.
Era simples: ela não poderia sentar ali e beber como se tudo estivesse
normal, como se as coisas fossem como antes. E considerando que a única
pessoa além dela que estava ali e não beberia – Maite – estava grávida –
rapidamente todos juntariam as peças do caso dela. E ninguém poderia
juntar peça alguma antes dela falar com Jesse.
É claro que Jesse não pensou no que quer que Sophia quisesse lhe falar. Ele
apenas deixou que a noiva o segurasse pela mão e o levasse para a área
menos habitada e barulhenta do bar. Não era nem de longe a intenção de
Sophia dizer aquilo ali. Nem em seus melhores sonhos ela daria uma notícia
daquelas num bar abafado e barulhento... mas era o que deveria ser feito.
Em seus planos do passado aquilo seria feito no apartamento deles, no
conforto e privacidade de sua cama, com ela entregando-lhe um par de
sapatinho de bebê... e agora tudo aquilo estava há quilômetros de realidade.
— Esse julgamento mexeu demais com você né? – Jesse perguntou assim
que os dois se viram sozinhos – Eu posso imagin...
— Me desculpe por dizer isso assim, sem mais nem menos, mas eu não
posso mais segurar – Sophia mordeu os lábios antes de disparar a verdade –
Eu to grávida Jesse.
Jesse não esperava por aquilo, mas ele não era burro, rapidamente juntou as
peças. E como ele não sabia tudo o que sofria vinha enfrentando e sentindo,
imediatamente juntou as peças errado. Ele franziu a testa, vendo-a chorar e
abraça-lo, e pensou no pior. O pior que ela tinha pensado antes.
Sophia não respondeu. Ela continuou chorando, pronta para dizer a verdade,
mas para isso precisava se controlar, controlar aquelas malditas lágrimas,
respirar fundo e dizer que não. Que a criança era dele, deles dois. Que
felizmente o destino não tinha sido tão cruel com ela quanto fora com
Anahí, e que no estupro ela já estava esperando o bebê deles. O filho que os
dois tinham sonhado um dia, que rapidamente pareceu um pesadelo mas
que agora nem mais sonho era... era real.
Mas Jesse pensava rápido demais, e antes que Sophia pudesse voltar a si
para esclarecer as coisas ele já tinha muito a dizer para ela. Coisas que
precisavam ser ditas antes que ela abrisse a boca ou fizesse qualquer coisa,
já que ele interpretava de uma maneira bem diferente da real aquele choro
todo.
— Jesse...
— Não diga nada ok? – Jesse a abraçou mais forte – Por favor, não diga
nada. Eu não quero que você se sinta mal, se sinta culpada. É seu filho
Soph, como eu poderia não amar o seu filho...? Você é mãe da Sam e eu
serei pai dele, nós seremos uma família, e o sangue... ele não importa.
Nunca importou pra nós dois.
— Jesse...
— Não importa ok? – ele enfim segurou o rosto dela. Mas para Sophia tinha
sido o suficiente. Jesse não precisava de tanto, ele já tinha provado o que
ela precisava saber, mesmo quando Sophia sequer estava testando-o. Era o
bastante, sem sombra de dúvidas.
Depois daquela maré de emoções Jesse não conseguia falar mais nada. Ele
não era o homem que choraria, mas abraçado a Sophia um alívio infinito
nadava livre por seu corpo. Ele amaria aquela criança de toda forma, como
tinha dito era filho dela e era impossível não amar. Ele seria para o filho
dela o que Sophia sempre foi para a filha dele, sem qualquer distinção. Mas
felizmente não seria preciso. Felizmente eles não precisariam olhar para
aquela criança e ver qualquer traço de uma lembrança ruim, de uma
violência. Eles olhariam para aquela criança e só veriam eles. Só veriam
amor.
— O que foi?
— To pensando que a sua filha quis tanto um irmão que conseguiu – Jesse
balançou a cabeça negando – Ela vai ficar radiante quando contarmos pra
ela.
— Seu pedido é uma ordem meu amor – Jesse deu um selinho nela – Mas
você vai ter que dar um jeito de driblar o Christian pra que ele não perceba
e não anuncie que você está bebendo um drink não alcoólico.
Não foi tão difícil quanto pareceu. Christian estava distraído demais
servindo as bebidas já pedidas e Sophia foi direto para o balcão, pedindo
um drink diferente do de Maite, mas igualmente sem álcool. Quando voltou
para a mesa estavam todos distraídos, conversando sobre a vida,
nitidamente comemorando. A principal envolvida, é claro, fazia planos.
— Qual o primeiro passo pra amanhã? – Marina perguntava para ela. Maite,
Lexie e agora Sophia tinham os olhos fixos nela.
— Eu não sei, são tantos – ela sorriu negando com a cabeça – Primeiro eu
tenho que buscar a Missy na casa da minha mãe. Ela precisa começar a
estudar, quem sabe começar a fazer uma terapia pra ter uma infância
minimamente normal. E depois... eu vou procurar um emprego. Pra dar um
rumo na minha vida, sabe?
— Por que você não procura um apartamento só pra vocês duas? –
Christian, que elas nem sabiam que prestava atenção na conversa, propôs –
Eu amo ter vocês duas comigo Any, você sabe disso, mas... convenhamos,
vocês são uma família e precisam de espaço.
— Ah – Anahí sorriu – Nós temos que dar tempo ao tempo. Tem muita
coisa acontecendo, acho que as coisas vão encontrar o seu lugar.
Nenhum deles que ouvia ousou discordar. Até porque, em silêncio, eles
sabiam exatamente qual era o lugar de Anahí. Qual lugar ela acabaria
encontrando... por que não dizer, reencontrando...?
— O que você está esperando para leva-la para casa...? – Jesse perguntou.
— Por isso mesmo – ele a arrastou de vez, colocando uma nota na máquina
e pegando o microfone, entregando na mão dela – Escolha uma música.
Se Anahí estivesse sóbria ela jamais iria à frente com aquilo. Mas a Anahí
bêbada lembrava que um de seus desejos de sua antiga lista era cantar num
karaokê. E agora, pelo álcool no sangue, ela tinha coragem de sangue. Por
isso escolheu uma música e esperou que ela começasse. Fechou os olhos,
esperando a melodia entoar e rezou para não se arrepender de se deixar
levar daquela forma.
— Every night in my dreams, I see you, I feel you... That is how I know you
go on... Far across the distance and spaces between us... You have come to
show you go on...
Titanic era o filme favorito de Anahí e ela tinha ido ver com ele no cinema.
Era para ser os dois, Maite e Christian, mas os dois acabaram não indo.
Anahí, na primeira exibição, em seus quinze anos, terminou o filme
chorando no ombro de Poncho e molhando sua camiseta. Ela ainda veria o
filme outras três vezes no cinema e compraria o VHS para repetir outras
inúmeras vezes. Ela gostava daquele filme que fora o primeiro a comprar
quando saiu em DVD, que inclusive a acompanhou na faculdade anos
depois.
— Near, far, wherever you are... I believe that the heart does go on... Once
more you open the door and you're here in my heart and my heart will go
on and on...
Mas nenhuma vez era como a primeira vez. A Anahí em seus adoráveis
quinze anos, como ele disse uma vez, chorando no ombro dele e segurando
sua mão inconsolável quando Jack deixou Rose subir naquele pedaço de
madeira, renunciando à vida por ela, fez com que ele percebesse que
facilmente seria Jack para ela. naquela tarde Poncho se deu conta que era
apaixonado por ela. Anahí cantar aquela música apenas trazia tudo à tona.
— Love can touch us one time and last for a lifetime and never let go till
we're gone... Love was when I loved you... One true time I hold to In my life
we'll always go on.
Não importava se ela lembrava ou não disso. Importava que ele olhava para
ela cantando lembrando de Anahí aos quinze chorando por Titanic, aos
dezesseis depois do primeiro beijo deles, aos dezessete sendo dele pela
primeira vez, aos dezoito prometendo que não o esqueceria enquanto os
dois estariam em polos diferentes do país. E agora, aos trinta, tantos anos
depois, ao corresponder ao seu olhar intenso, deixando claro que nada tinha
mudado. Ela não o havia esquecido. Nem por um segundo.
— Near, far, wherever you are, I believe that the heart does go on... Once
more you open the door and you're here in my heart and my heart will go
on and on... You're here, there's nothing I fear and I know that my heart will
go on... We'll stay forever this way, you are safe in my heart and my heart
will go on and on...
Poncho só acreditou que ela estava ali quando Anahí já o envolvia em seus
braços e o beijava. Já era para ele ter se acostumado que a Anahí que voltou
daquele cativeiro tomava a iniciativa, mas ainda não tinha acontecido.
Quem sabe agora, com ela voltando a ser dele aos poucos, as coisas fossem
acontecer. Passado o choque inicial, ele a envolveu na cintura, tomando
seus lábios com fúria. Anahí bêbada era intensa, ainda mais que o normal.
E ele estava com sede dela, estava com saudade, tudo junto.
Enfim, CONDENADO
E logo no dia que a fic chega a 10K votos!!!! Presentão de vcs pra mim e de
mim pra vcs! Hahahahahahahahaha
Gosto da ansiedade de vcs que mais pareciam que não sabiam que isso iria
acontecer. Moressss isso aqui não é 13 reasons why não! Aqui estuprador
vai pra CADEIA!!!
De qualquer forma, quero que me contem tudoooo, tim tim por tim tim do
que acharam desse cap e do julgamento.
Rafa
Capítulo 75 - Ain't no sunshine when she's gone
Billy Withers
Não que eles estivessem brigados. A trégua em questão era para aquela
separação que, agora eles viam, não havia qualquer motivo de existir. Se
aquele julgamento tinha servido para alguma coisa, fora para mostrar que
eles tinham um lugar que era um ao lado do outro.
— Não vamos nos separar mais – Poncho pediu ao puxar o quadril dela
para o seu. Anahí imediatamente sentiu a ereção dele e seus olhos se
fecharam com a sensação – Por favor Any, não me deixa mais...
— Não pensa nisso agora – Anahí tocou dois dedos nos lábios dele. Ela
sentia tesão demais para se permitir raciocinar – Eu quero ser sua Poncho.
Me faz sua.
— Você sempre foi minha – ele respondeu certo e erguendo-a pela cintura,
sentindo as pernas dela envolverem seu abdômen.
Era engraçado que um homem tinha sido condenado naquele dia porque
nunca tinha conseguido ser Poncho, mesmo tentando. Tobias sempre sentiu
uma enorme raiva e despeito pelo rival, sempre furioso por não conseguir
representar na vida de Anahí o que sabia que Poncho conseguia representar.
Isso lhe despertava uma fúria primitiva que o fazia viola-la de todas as
maneiras possíveis. A resposta de Poncho àquela violência toda não poderia
ser mais diferente. Anahí para ele era sublime, quase preciosa. Em seus
braços ela não teria qualquer outra coisa que não fosse o maior prazer
possível.
E ela tinha. Por baixo daquele vestido preto sério, daquele cabelo
comportado de quem passara os últimos dias no Tribunal, estava uma
mulher que precisava desesperadamente ser lembrada como era ser amada.
Anahí viveu naqueles dias na lembrança de oito anos que ela lembrou
mesmo querendo apagar. Agora a missão estava completa e ela tinha
conseguido colocar Tobias na cadeia, poderia enfim começar a viver sua
vida. Mas curiosamente ela queria construir seu futuro com alguém que
representou seu passado... embora fosse um passado bem diferente do que
ela se acostumou a viver.
Poncho já conhecia aquela cama, aqueles lençóis. Mas aquela Anahí era
diferente da que ele teve nos braços há mais de oito anos. Ela estava
marcada, era vulnerável e provavelmente mais intensa, mas ele amava tê-la
de toda forma. Sentia que precisava dar todo o amor do mundo, todo o
prazer possível. Por isso ele a deitou na própria cama e tirou sua calcinha
antes mesmo de tirar-lhe o vestido. Anahí estava deitada quando soube que
aquela peça de renda saía de seu corpo para que Poncho a levasse para um
lugar conhecido e bem parecido com as nuvens.
A língua dele na boceta dela sempre fora algo que Anahí apreciava e muito.
Segundos depois dele começar a chupa-la, Anahí já apertava o lençol e
soltava seus gemidos primitivos. Ele parecia ter seu manual, saber
exatamente cada ponto erógeno de seu corpo e como explora-los.
Provavelmente é porque ele a conhecia e valorizava seu prazer. Para
Poncho era um deleite ouvi-la gemendo daquele jeito, saber que era ele
quem a tinha levado àquele delírio. Por isso ele chupava mais, para que ela
se lembrasse de como era ser amada, valorizada e desejada daquele jeito.
Para que tivesse a certeza que, se continuasse nos braços dele, seria assim
para sempre.
De menina ela não tinha em nada. Anahí era uma mulher que tinha
reencontrado um lado de si há muito tempo perdido e sabia exatamente o
que queria, o que buscava. Aquele lado felino sedento de prazer dela
deixava Poncho simplesmente em chamas. Ele amava como ela se
movimentava assim que ele estava no fundo dela, buscando o próprio
orgasmo novamente. Se deleitava em colocar as mãos no quadril dela e vê-
la se movimentando naturalmente em cima dele. E para completar havia o
calor que ela emanava no meio das pernas. Quente como o inferno,
completamente lisa por dentro e o deixando maluco como sempre.
Como sempre o prazer dela viria primeiro. O orgasmo dela era sempre a
prioridade dele. Era assim antes e nada tinha mudado, ao menos quase
nada. Mas Anahí não se sentia tão incomodada assim, ela sabia que era algo
dele, deles na verdade. E sorria, segurando Poncho pelos ombros, se
comprimindo contra ele conforme se aproximava do ápice. Ele gostava
daquilo – obviamente, reconhecia.
— Isso foi... – ela disse segundos depois, sem conseguir completar a frase.
— Você não tinha o corpo assim da nossa última vez, lá atrás – ela
comentou e Poncho entendeu que ela se referia ao passado dele – Nem tinha
pelos no peito. Ta tão mais... homem agora.
A decisão ficaria para o dia seguinte. O que seria dali para frente, como as
coisas terminariam. Por ora eles apenas se aconchegariam nos braços um do
outro e tudo ficaria bem, sendo somente ela e ele por algumas horas.
xxx
— Segurem o elevador!
— Você pode participar da vida dela vindo morar comigo – Mark propôs.
— Não precisa dizer nada agora – Mark sorriu sedutor – Pense com calma e
me diga quando souber.
...baby.
O problema é que para ele ouvir Mark convidando Lexie para dar um
próximo passo no relacionamento era um pouco demais para ficar calado.
— Tentando fugir de mim...? – ela ouviu a voz dele questionar – Você não
acha que já fugiu demais?
— Acho que você não pensou nisso quando me deixou naquele altar pra
procurar o seu ex, quando me disse não com todas as letras – Jackson a
encarava duro, mas Lexie não se esquivava, pelo contrário – Falando
nisso... que bonito o casal, não é? Uma pena que sabemos exatamente como
essa linda história vai acabar.
— Não se faça de desentendida – Jackson riu – Você sabe tão bem quanto
eu que isso não vai durar nada Lexie. Ou você se esqueceu que você e o
Sloan seguem não querendo as mesmas coisas? Quanto tempo vai demorar
até que ele volte a querer um casamento e um filho que você não quer dar?
A pergunta fez Lexie engolir em seco. Ela havia se esquecido que, em seu
segundo término com Mark, foi com Jackson que ela desabafou. Foi assim
que eles começaram a se relacionar, para começo de conversa. É claro que,
em sua cabeça, era outro momento, outro contexto. Mas de toda forma, ele
sabia algo que era capaz de atingi-la. E como quem estava mordido por ter
sido rejeitado, ainda mais pela forma como havia sido... Jackson usaria o
que tinha em mãos.
— O fato é que você terminou com ele duas vezes porque não quer ser a
mãe dos filhos dele – Jackson devolveu venenoso – Resta apenas que
aguardemos a terceira.
xxx
Desde que tinha terminado com Poncho, Anahí não estava mais acostumada
a ter um corpo masculino dividindo a cama com ela. Neste caso não era
apenas o corpo, já que os braços de Poncho a seguravam como se ele
acreditasse que ela fosse fugir assim que abrisse os olhos. Anahí não queria
fugir, queria apenas fazer algo do qual tinha lembrado assim que acordou.
Por isso, com alguma dificuldade, ela conseguiu sair de onde as mãos de
Poncho ainda a agarravam para alcançar sua mesa de cabeceira, abrindo a
gaveta e tirando um caderno de dentro dela.
Tão logo abriu o caderno, Anahí viu sua amassada e velha lista de desejos.
Ela sorriu ao ver que o item de cantar em um karaokê estava riscado, mas
acabou dando um ok com uma caneta que agora tinha em mãos. Se quando
ela encontrou aquele papel meses antes, quando se mudava da casa de sua
mãe, aquilo despertou uma imensa nostalgia e tristeza, agora ela se sentia
feliz por ter sido uma garota boba de quinze anos que imaginava que sua
vida seria mais fácil do que tinha se mostrado realmente ser.
Por isso uma nova folha naquele caderno foi inaugurada. Não era uma lista
de desejos, era uma lista de metas. Ela não tinha mais quinze, não era uma
menina. Agora Anahí tinha meios de conseguir o que precisava e era isso
que ela iria fazer.
Procurar um emprego.
Ao lado dela, de repente o Poncho que até então estava adormecido acordou
aos poucos e percebeu que não estava mais abraçado a Anahí como antes, o
que lhe causou um enorme susto. Por isso Anahí o viu se remexendo,
abrindo os olhos de repente e dando um pulo, para logo em seguida se
acalmar ao se dar conta que ela não tinha fugido. Anahí estava ali o tempo
todo, apenas não estava mais deitada nos braços dele como antes.
— Achou que eu não estava mais aqui – Anahí observou. Ele riu
concordando – Estamos na minha cama bonitão, não na sua. Eu não teria
por que fugir.
— Não.
Poncho sorriu, ele não conseguiu não sorrir. Tinha amanhecido, eles não
estavam mais sob o efeito da bebida, muito menos pela emoção de ver o
algoz dela finalmente ser condenado e deixar de ser um obstáculo. Agora
eram somente eles... e mais uma vez, os problemas que eles criavam e
colocavam entre si.
No silêncio dela Poncho percebeu que, mais uma vez, teria que tomar a
iniciativa da situação. Logo ele lembrou que isso era óbvio, Anahí achava
que estava invadindo um espaço que não era seu, que não lhe cabia. Era o
filho dele, era ele quem deveria resolver tudo. Era ele quem deveria destruir
aquele obstáculo e mostrar a Anahí que não havia nada grande o suficiente
para separa-los... não quando ele estava separado, ela estava livre, o
sequestrador dela estava preso e seu trauma, superado.
Mas havia outra coisa que Poncho queria falar com ela antes de ir embora.
Ele viu Anahí se levantar com um ar feliz e leve, se vestindo provavelmente
para ir para a casa da mãe buscar Missy. O que o lembrava do que queria
trata com ela. Algo que Poncho vinha pensando há muito tempo e que ele
não queria mais adiar.
— Mas ela não é – Anahí lembrou. Ela resistia àquela ideia por medo de
dar tudo errado e de Missy acabar se machucando naquele processo. A filha
já tinha sofrido demais.
— Eu sinto por ela um amor inexplicável – ela o viu negando com a cabeça
ficando sem palavras. E rapidamente começou a reconhecer os sentimentos
– Desde aquele primeiro sorriso, naquele dia que a conheci, que disse que
você deveria ir com calma, mas logo me dei conta que jamais poderia te
pedir isso porque ela é simplesmente encantadora. Eu quero ser o pai dela,
oficialmente falando, porque... em todos os outros sentidos eu já me sinto.
— Eu preciso que você pense isso com calma, não é algo que você possa se
arrepender... – Anahí murmurou, ela estava tonta com aquele assunto,
Poncho conseguira mexer com o que havia de mais profundo dentro dela.
E de repente Anahí se dava conta de uma verdade que parecia, cada vez
mais, totalmente imutável: aquele homem sempre sabia exatamente como
fazê-la se sentir virada pelo avesso...
xxx
Poncho estava certo, era Anahí quem precisava se acostumar com aquela
ideia. Naquele dia ele a deixou na porta da casa de seus pais, não sem antes
lhe dar um beijo na boca deixando claro que sabia onde queria estar, com
quem queria estar. A confusa era ela. mais uma vez, o passado se repetia:
desde muito antes de eles estarem juntos Poncho já tinha forte e nítido para
si seus sentimentos, suas certezas. Mas Anahí precisava de tempo. Ela
precisou de tempo no passado para conhecer o que sentia por ele e
novamente precisava de tempo ali, quando tinha muita coisa ainda fora do
lugar.
— Cala a boca Harry – ela fez uma careta e os dois riram. Oficialmente
irmãos se implicando.
Terminado o café ela anunciou alegre que iria com Missy procurar uma
escola para ela e a menina se animou. Keith bem que se ofereceu para levar
a filha, a família ainda estava insegura de deixa-la sozinha, mas Anahí
queria sentir a própria liberdade finalmente. Acabaram indo só as duas. Elas
peregrinaram por todo o Brooklyn observando as opções de escola e ela e
Missy acabaram optando pela que Maite trabalhava. Era pública, próxima
ao café e à casa de Karen e Missy parecia realmente ter gostado do lugar.
Aquele foi o primeiro passo, mas era necessário ir além. Anahí introduziu
naquele mesmo dia a ideia de levar Missy a um terapeuta e a menina, apesar
de desconfiada, aceitou ir com a condição de que a mãe a acompanhasse.
Anahí conseguiu marcar uma avaliação para o dia seguinte e ficou feliz
com a prontidão daquela solução. Missy, por outro lado, ficou introspectiva
conforme foram chegando ao hospital. Ao caminharem pelo andar da
psiquiatria, a menina estava agarrada na mão da mãe, o que só fez Anahí
perceber que tinha sido a melhor ideia elas irem até ali.
Missy foi chamada pouco depois. Anahí andou com ela até a porta do
consultório onde haviam outras crianças, todas brincando e desenhando.
Seria realmente uma avaliação. Ela não estava feliz em seguir sem a mãe,
mas Anahí a incentivou e ela acabou indo. Seria de meia hora aquela
primeira sessão, então ela se sentaria numa das cadeiras do corredor e
esperaria.
— Anahí?
— Sua filha também faz terapia aqui? – Diana perguntou franzindo a testa,
surpresa com a coincidência.
— Sua vida com ela está começando agora, vocês vão fazer isso dar certo –
Diana garantiu.
Foi quando Anahí desistiu de fingir que era esperado, quem sabe normal
ela estar ali, no meio do corredor, conversando com a ex-mulher de Poncho
e resolveu colocar as cartas na mesa.
— O que? – Diana perguntou – Você achou que nós duas cairíamos no chão
brigando pelo Poncho...?
— Relações entre pais e filhos é algo difícil pra mim, não era... mas se
tornou – Anahí suspirou – Eu apareci aos trinta anos e descobri que o meu
pai que eu achava que me abandonou apenas não sabia de mim, e demorou
meses pra que eu conseguisse dar uma chance a ele. E também levei algum
tempo pra conseguir conquistar a Missy... eu nunca soube dela, e quando a
descobri ela estava num contexto extremamente vulnerável e mesmo assim
preferia os pais de criação a mim. Aquilo me machucou bastante, doeu
sabe? Quando eu finalmente consegui entrar na bolha dela, eu não quis
perder aquilo. O Poncho e o Dani tem uma relação bonita, especial. Eu não
quero que eles percam isso.
— Você precisa entender que eles não vão perder – Diana garantiu – Eles se
amam e o amor prevalece. Veja bem, o seu amor pelo Poncho não sumiu em
oito anos, nem o dele por você. E me desculpe dizer, mas nem o meu amor
por ele vai sumir de repente. Isso não te ofende, não é?
— Não – Anahí negou de cara – Claro que não. Eu até hoje sinto que entrei
de intrusa na sua história e roubei o homem que você amava.
— Por isso nada vai impedir que as coisas aconteçam entre vocês – Diana
garantiu – E cedo ou tarde o meu filho vai entender isso.
Inesperado, no mínimo.
Um capítulo bem zen, com sabor de fruta mordida pra vcs que passaram
semanas tensas com aquele julgamento infinito
Com esse capítulo entramos na reta final da fic porque eu não tenho mt
mais o que trazer de enredo hahahaha. Os grandes problemas já foram
praticamente resolvidos, faltando apenas alguns detalhes. Mas não precisam
se desesperar porque ainda teremos doses de emoções por aqui e uns
probleminhas bem intensos.
Amanhã devo postar uma palhinha sobre esse fim da fic no meu twitter
amanhã. Fiquem de olho!
Beijos,
Rafa
Capítulo 76 - Young and free
Se Anahí estava surpresa, ficou mais ainda. Diana estava ali, incentivando o
filho a falar com ela, iniciando um diálogo entre os dois. A maturidade
daquela mulher era de um nível estratosférico. Anahí torcia para ser, algum
dia, um pouco da mulher que tinha a sua frente.
— Oi – Dani disse mal olhando Anahí. Ela não sabia dizer se ele estava
incomodado ou envergonhado ao vê-la.
— Oi Dani – Anahí disse com o tom de voz mais amável que conseguiu –
Tudo bem com você?
— Claro que sim – Anahí sorriu sincera – Nós nos vemos por aí.
Elas não eram amigas, mas definitivamente se davam bem. E em um mundo
onde a rivalidade feminina não precisa de motivo para acontecer, era como
se fosse a maior amizade do mundo.
Diana decidiu não tocar no assunto com Daniel, estava esperando que o
filho perguntasse algo ou o que fosse. Era melhor assim. Ele permaneceu
em silêncio, processando as informações, até os dois entrarem no carro.
Diana colocou o menino em sua cadeirinha, sentou-se no banco do
motorista e deu partida. Elles saíram da frente do hospital e fizeram todo o
caminho em silêncio. Somente quando entraram em casa, quando Diana
achou que a oportunidade estaria perdida, Daniel começou a falar.
— Amiga não – ela respondeu honesta – Mas nós nos damos bem. Você
acha isso ruim?
— É que... – ele hesitou em falar, mas acabou soltando – Ela tirou o papai
da gente...
— Ele terminou com você porque gostava dela – Daniel lembrou, mas
Diana voltou a negar com a cabeça.
— Eu queria que ele fosse feliz com você – Daniel a abraçou, afagando o
rosto no colo da mãe – Que nós fôssemos uma família pra sempre.
— Mas nós somos – Diana acariciou a cabeça dele – Nós sempre seremos a
sua família.
— Mas agora ele tem a tia Any... e a Missy...
— Então você passa a ter duas famílias – ela observou – Uma com elas... e
uma comigo. Por que isso parece ruim?
— Seu pai não está nos trocando Dani – Diana disse fazendo carinho nele.
Sua voz saía afável – Ele não vai deixar de te amar caso se torne pai da
Missy também. Ela não tem pai. Você não acha isso triste...?
— Mas ela tem a tia Sophia, que é como se fosse – Diana explicou – A
Missy não tem ninguém pra cuidar dela como o seu pai cuida de você, e
isso é triste. Ele gosta dela, e se ele virar pai dela, você vai ter uma irmã.
Isso não é legal? Ter alguém com quem brincar, pra assistir os filmes e
jogar videogame...
— Mas você não fica triste do papai não te namorar mais...? – ele fez
questão de perguntar.
— Como eu disse, no início eu fiquei – Diana entregou completamente
honesta – Mas depois eu entendi. Se o seu pai ficasse comigo, ele não
ficaria porque quer, então acabaria sendo infeliz. E eu seria infeliz também.
E acho que você não iria gostar de ver nós dois tristes, né?
O interessante, para Daniel, é que ele visualizava que a pessoa que a mãe
possivelmente namoraria num futuro possível seria com ele como Anahí já
era. Naquele momento o menino lembrava de como a madrasta tinha sido
uma pessoa legal com ele quando os dois foram apresentads por seu pai, de
como ele gostava de Anahí e também de Missy. É claro que seria difícil
para Daniel se acostumar cem por cento com a ideia, mas ele não a rejeitava
mais como antes. Era o primeiro passo.
xxx
Jesse estava realmente animado com aquela gravidez de Sophia. Ele sabia
que, em outros tempos, aquela gravidez seria muito melhor e mais
comemorada – já que em outro cenário Sophia não teria sido violentada –
mas não importava, ele estava feliz de toda forma. Feliz por ser pai
novamente, por ela ser a mãe. Era como deveria ter sido desde o início, se
ele não tivesse sido um idiota a princípio. Jesse tinha em sua frente uma
segunda chance e ele não queria desperdiçar. Queria fazer tudo certo dessa
vez, desde o início.
E o início não poderia ser dele gritando para o mundo a alegria daquela
paternidade recém-descoberta. Afinal, por mais que Jesse quisesse contar a
novidade para toda e qualquer pessoa que lhe perguntava a razão de ser
daquele sorriso em sua boca, ele se continha porque havia alguém na vida
deles que merecia saber antes de qualquer outro. E enfim chegara a hora de
lhe contar.
— Pronta? – Jesse perguntou encontrando Sophia dentro do quarto deles.
— Nervosa – ela disse sentindo as mãos suarem – Será que ela vai reagir
bem...?
— Eu acho que sim, por que não reagiria? – ele riu – A Sam pediu tanto um
irmão...
— É verdade – Sophia sorriu enquanto ele a abraçava – É, ela vai ficar feliz
sim.
Não havia um cenário na cabeça de Jesse no qual sua filha não saltitasse de
felicidade com a descoberta do tão sonhado irmão mais novo. Confiante
naquela ideia, ele e Sophia foram juntos para a sala, onde a menina já tinha
jantado e assistia a um filme infantil na TV. Desconfiada como só,
imediatamente Samantha notou os dois se aproximando dela como quem
queria falar alguma coisa. Como não fazia ideia do que poderia ser, como
uma boa criança travessa aos quase seis anos, ela pensou imediatamente no
pior.
O silêncio que veio em seguida não era algo que Jesse esperava, Sophia
muito menos. Ela, como estava mais sensível do que a média, sentiu o
coração apertar quando a reação esperada da enteada simplesmente não
veio. Samantha olhava do pai para Sophia e depois de volta para Jesse, não
dando os pulos e os gritos de alegria que eles imaginavam que ela daria.
Pelo contrário, quando Jesse estava prestes a perguntar à filha se ela não
tinha gostado, Samantha se jogou em seus braços começando um choro
forte, intenso e copioso.
— Mas você quem quis bebê – ela disse fazendo carinho nas costas da
menina – Você pediu no Natal...
— É que... – ela murmurou – Se vocês tiverem um bebê... ele vai ser filho
da tia Soso.
E dito isso, ela voltou a chorar com força agarrada ao pescoço de Jesse. Se
antes a reação de Samantha era algo que fizera Sophia sofrer, agora já não
se poderia dizer o mesmo. Ela de certa forma sorria, entendendo o que
abalava aquela pequena criança. Exatamente por isso fez um sinal para
Jesse e ele entendeu, soltando a filha e deixando que Sophia a pegasse em
seu colo. Samantha rapidamente se aninhou nos braços da madrasta e seu
choro diminuiu, mas Sophia esperou até que ela parasse de chorar para
fazer uma segunda revelação.
— Quando eu fui ao hospital pra fazer o exame que dá pra ver o bebê, a
médica perguntou se era o meu primeiro filho – ela explicou calmamente,
vendo os olhos castanhos grandes de Samantha grudados nela – Eu disse
que não. Era a primeira vez que eu tinha um bebê na minha barriga, mas
não é meu primeiro filho... porque você já é minha filha.
— Você pode me chamar como quiser, de tia ou de mãe, não vai mudar em
nada o amor que eu tenho por você – Sophia respondeu beijando o topo da
cabeça dela – E se eu vou ter um bebê agora, eu sei que vou fazer as coisas
certo com ele porque você me ensinou tudo antes. Você, meu bebê mais
velho.
— Agora eu tenho uma mamãe de novo – ela disse abraçando Sophia com
força – E... também um irmão.
De repente Jesse percebeu que tinha sido a melhor ideia do mundo esperar
para divulgar a notícia e contar à Samantha antes. Afinal, antes ele diria
apenas que teria um filho com Sophia. Agora, com toda a surpresa, poderia
contar que a família iria aumentar. Se Jesse já sabia antes que eles
formavam uma família, agora tinha certeza. E era maravilhoso se sentir
assim, entre elas, ele pensou enquanto dava um selinho na noiva por cima
da cabeça da filha deles.
— Uns sete meses – Jesse explicou – Ele crescer na barriga da mamãe pra
ficar forte quando chegar aqui fora.
— Hum... – ela franziu a testa ponderando – Ele não vai ser lerdinho que
nem o Dani não né? Porque dois eu não aguento.
Sophia não respondeu. Ela gargalhou. Dessa vez não deu para segurar.
Jesse, por outro lado, ralhou com a filha.
Quando ele já estava com a filha nos braços, ouviu a voz dela em uma
pergunta.
Dito isso, não havia mais qualquer peso dentro do coração de Sophia. Ela
enfim estava tranquila.
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Anahí não aguentava mais as amigas questionando sem parar sobre seu
futuro com Poncho. Ela não tinha uma resposta exata para dar: ele lhe
pedira um tempo para acertar as coisas com Daniel e ela não sabia se
levaria dias, semanas ou meses. Só sabia que esperaria.
— Se você não quiser morar com Mark Sloan eu quero – Christian disse
entrando na sala com uma caixa de donuts – Na verdade, o que Mark quiser
fazer comigo, eu faço.
— É só não jogar tudo pelos ares como das últimas vezes – Anahí ponderou
sorrindo para a amiga, que ainda não se sentia convencida.
— Sabe Lex, você realmente cometeu alguns erros com Mark no passado,
mas é passado – Sophia ponderou – Vocês não podem mudar o que já foi,
mas podem agir diferente daqui pra frente e não cometerem os mesmos
erros.
— O que falta a vocês é diálogo – Maite completou – Falta que você
converse com ele, e não conosco sobre o que está sentindo. E
principalmente... não com Jackson...
— Exatamente, não com o cara que só te disse todas essas coisas porque
está mordido por você tê-lo deixado plantado no altar – Christian alfinetou.
Ele definitivamente era Team Mark.
— Eu tenho medo de acabarmos deixando tudo ir pro ralo como das outras
vezes – Lexie admitiu abaixando a cabeça, e Anahí se sentou ao lado dela
consolando-a.
Aquela lição servia não apenas para Lexie. Era de todas para todas.
— Mamãe? – ela a chamou, criando um imenso silêncio ali – Você não vai
contar a novidade?
— Você está doida pra contar, não é? – ela perguntou e viu a menina sorrir e
assentir travessa – Então por que você não conta pra mim?
— Eu posso...?
— Claro que sim – Sophia a puxou para seu colo, vendo Samantha abrir um
sorriso travesso e satisfeito.
— Em quinze segundos ela te chamou de mãe e disse que você está grávida
– Christian piscava devagar.
— Isso é bom ok? – ela respondeu totalmente serena – Significa que nós
vamos ser mãe juntas. Não é incrível?
Maite assentiu em resposta pelo choque daquilo tudo, é claro que ela tinha
pensado no pior, que aquela criança poderia ser de Chad. Foi a primeira
coisa que Sophia e que Jesse tinham pensado, era natural que todos fossem
por aquele lado. Mas quando Sophia mencionou que as duas estariam
grávidas ao mesmo tempo, a forma carinhosa como ela encarou e abraçou
Maite, como a consolou, acabou levando todos os outros às lágrimas. Anahí
mordeu os lábios ao ver suas amigas voltando efetivamente à amizade que
ela se lembrava na adolescência, e não foi muito diferente com Christian e
Lexie, que tinham testemunhado o afastamento de Sophia e Maite e mal
podiam imaginar, um ano antes, que elas estariam próximas novamente e
unidas daquela forma. Unidas até mesmo por laços que nem sabiam que
existiriam, jamais poderiam imaginar.
— Eu não casei nem engravidei – Anahí comentou logo vendo uma série de
olhares irônicos serem lançados em sua direção – O que foi...? É alguma
mentira?
Anahí esperava sair da ONG e ir direto para a casa da mãe buscar Missy
quando Marina insistiu em leva-la para tomar alguns drinks – e acabou
vencendo-a pelo cansaço. Se antes Anahí pisava em ovos porque não sabia
qual seria a reação de Missy com a mãe deixando-a na casa da avó, ela
terminou se tranquilizando quando ouviu a filha dizer que ela não precisava
se preocupar e que queria dormir na casa da avó, utilizando a situação para
ficar acordada até tarde jogando X Box com Harry. O coração dela perdeu
aquele aperto e ela percebeu que, afinal, tinha o direito de se divertir.
— O filho dele não aceita tão bem – Anahí respondeu mas a verdade é que
aquilo importava cada vez menos. Talvez Diana estivesse certa: Daniel cedo
ou tarde iria entender e ceder – Será que podemos transar escondido...?
— Mas seria uma amizade colorida exatamente com esse cara – Anahí
constatou antes de bufar – Ai, eu preciso de outra bebida. Ei! – ela chamou
o barman – Outra margarita de morango, por favor.
— Não sinta – Anahí negou com a cabeça, mas logo em seguida viu que o
barman colocou a bebida em sua frente – Eu vou... terminar esse drink,
pagar e ir embora também. Mas acho que vou ter que ir direto pra casa,
Missy não pode me ver assim.
Se Anahí não tivesse pedido aquela bebida logo antes, ela teria saído junto
com Marina, dividido um táxi – já que as duas não moravam tão distantes
assim – e logo estaria em sua casa, em sua cama, já separando um
analgésico para a provável, quem sabe certa, ressaca que viria no dia
seguinte. Mas se ela não tivesse ficado sozinha naquele bar não teria sentido
um olhar que vinha de sua direita. Dava apenas para ver por seu campo de
visão que alguém a observava, para não dizer secava, sem fazer qualquer
questão de disfarçar.
Seu trauma passado fazia Anahí, naquelas horas, ficar nervosa. Ser
encarada por um homem não era algo que a fazia se sentir exatamente
segura. Por isso ela respirou fundo, pensando que não havia motivo para
pânico, aquela era uma situação como outra qualquer. Um homem qualquer
encarando-a não era sinal de que algo estava errado. Não era um iminente
sequestrador.
Mas quando Anahí finalmente teve coragem de olhar naquela direção para
conhecer o rosto de seu admirador, ela percebeu que não era qualquer
homem. Pelo contrário: era um que sabia exatamente quem era. De quem
ela não precisava sentir medo.
Era Milo.
Sei que vocês vão me xingar hahahahahahahahah dessa vez eu acho que
mereço!
Mas peço que vcs confiem em mim. Nem sempre eu dou a coisa do jeito
que vcs querem, mas eu sempre dou de maneira melhor do que imaginam!
E é isto!
Beijos,
Rafa
Capítulo 77 - Misunderstood
— Dois a zero pra você stalker – Anahí disse rindo quando esteve mais
próxima.
— Não era minha intenção te assustar, sinto muito se o fiz – Milo disse se
levantando e beijando-a na bochecha – Você está de saída ou pode se sentar
um pouco comigo...?
— Entendi – Milo riu, ela estava definitivamente mais solta do que era
quando eles estavam juntos.
— Você não assusta nem uma mosca Milo – ela riu em tom meio
debochado e ele se deu conta que tinha esquecido o quanto a língua dela era
mais solta quando bebia.
— Me desculpe então – ele deu de ombros divertido – Como você está? Eu
soube da condenação.
— Ah, não era esse sentido de livre – ela o corrigiu – É em todos os outros.
Nós estamos... ah, eu não sei. Somos complicados.
— Isso é porque ele não é meu dono – ela disparou fazendo Milo arregalar
os olhos – Embora, de certa forma, eu me sinta um pouco dele. Como ele
também deve se sentir um pouco meu.
— Deu tempo de você engravidar nesse meio tempo? – ele brincou rindo –
Relaxe, eu soube. A sua entrevista e depois o julgamento... tudo repercutiu
bastante. Eu acompanhei.
— Eu tenho uma vida aqui Anahí – Milo ressaltou – E ela tem a vida dela
lá. Nem todo mundo foi feito para ficar junto.
Dito isso Milo começou a divagar sobre amores que simplesmente não
davam certo. Ele falava sobre o quanto seu relacionamento com Mandy
tinha sido bom e importante para ele, o quanto ela o marcou, mas ao mesmo
tempo deixava claro que eles tinham seguido caminhos diferentes e que,
embora pensasse muito nisso, Milo preferia deixar que o navio corresse,
que a vida seguisse seu curso. Anahí o ouvia falando aquilo mas dentro de
sua cabeça estava errado, definitivamente errado. Afinal, ela vivia tudo o
contrário do que Milo pregava. Em uma situação eternamente mais difícil.
— Realmente, nem todo mundo nasceu pra ficar junto, mas minha mãe me
ensinou que eu não sou todo mundo – Anahí disse erguendo o próprio copo
– A sua não?
— Admita que você não quer ir atrás dela por ser covarde e acomodado –
ela disparou.
— Eu falo tudo o que não teria coragem de dizer sóbria – ela deu de
ombros.
— Bem, você parece estar realmente certa do que quer – Milo apontou com
os olhos fixos nela.
Não houve uma resposta imediata da parte de Milo. Ele apenas ficou
encarando Anahí, exatamente como fazia quando ela o notou naquele bar.
Naquele momento ela percebeu qual era a intenção dele e não gostou. Milo
parecia deixar nítido que ainda tinha algum interesse nela e que estava
disposto a avançar, caso fosse recíproco. Anahí queria se afastar justamente
porque não era.
— Então você não deve ama-la tanto quanto eu amo o Poncho – Anahí
devolveu – Ou ao menos não o suficiente para insistir. Seria covarde da
minha parte simplesmente largar o que nós temos e ficar com você quando
eu sinto que sou completamente dele. Então se você não quer insistir nela, é
direito seu... mas eu estou totalmente indisponível pra você ou pra qualquer
outra pessoa, porque só quero estar livre para uma. Talvez seja perda de
tempo, talvez eu espere por algo que nunca venha, mas pelo menos eu terei
dentro de mim a consciência tranquila de que esperei, entende? Eu não
suportaria ficar me perguntando o que poderia ter sido se eu não tivesse
tomado decisões erradas, por isso eu não irei toma-las.
— Eu espero que dê tudo certo entre vocês dois – Milo se esticou para
beijar a testa dela – A verdade é que eu odiaria ser a pessoa que estragaria
essa última chance que vocês têm de ser felizes.
Última chance. Anahí ficou pensando naquilo. Será que realmente era a
última? Será que, caso tudo desse errado de novo, nada mais estava
reservado para eles dois? Aquela ideia, ao mesmo tempo que dava a ela um
aperto no coração, também deixava uma conclusão clara: se era a última
chance, deveria ser aproveitada.
— Vamos, eu levo você pra casa – Milo ofereceu, chamando o garçom para
pedir a conta.
— Não é necessário...
— É claro que é – ele riu – Você não vai conseguir andar reto daqui até a
porta do bar do jeito que está.
Anahí riu, constatando rapidamente que, apesar de tudo, naquilo Milo tinha
certa razão. Ao menos naquilo.
Certo.
— Você está ensopado – ela disse rindo enquanto pegava a chave na bolsa e
abria a porta – Posso te emprestar uma roupa do Christian.
— Vamos, venha botar uma roupa seca – Christian disse apoiando-a pelo
braço, mas ela se afastou.
— Me dê um minuto.
Naquele momento Anahí queria se despedir de Milo. Por isso ela não
seguiu para o quarto com Christian, permanecendo na sala e abraçando o
ex-namorado com um sorriso no canto dos lábios. Milo tinha sido muito
mais útil do que ela jamais poderia prever, mais até do que ele sabia. Ele a
havia ajudado a chegar no ponto que tanto precisava estar. Não fazia ideia
daquilo, mas Anahí sabia ser grata. Ela jamais teria conseguido se ele não
tivesse deixado claro o quanto estava desperdiçando as chances com
Poncho.
— Por essa noite – ela mordeu os lábios, se afastando dele. Queria encara-
lo antes do que diria a seguir – Vá atrás da Mandy.
— Anahí...
Quem sabe se soasse como uma pequena maldição não teria mais efeito...?
Milo já estava pronto para sair quando Christian – que levava Anahí para
dentro do quarto – o chamou, pedindo-o para que esperasse. Ele obviamente
não fazia ideia do motivo pelo qual o melhor amigo de sua ex-namorada o
impedia de sair, mas Christian voltou em seguida, dessa vez sem ela e com
uma convicção no rosto.
— Eu não sei se é uma boa ideia – Milo recusou com uma careta.
— Não aconteceu nada entre nós – ele rapidamente esclareceu – Não pense
bobagens.
— Vou pegar uma roupa seca e uma coberta pra você – ele disse entrando
novamente pelo corredor – Embora eu não vá reclamar caso você prefira
dormir sem nada...!
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Poncho tinha pedido um tempo para Anahí e ele gostava de ser objetivo.
Não havia espaço para subjetividades, eles passaram tempo demais
separados e era hora de dar um fim naquele maldito hiatus. Exatamente por
isso, naquela noite, quando ele tinha levado Daniel para o apartamento de
Erendira para que os dois jogassem videogame juntos, Poncho decidiu que
era o momento propício para ter a conversa com o filho.
Mas ele não esperava que alguém tivesse passado a frente com relação a
Daniel.
— Ela não vai – Poncho agora tinha toda a atenção do mundo voltada ao
filho – Ela adora você, filho.
— Eu sempre vou amar você filho – Poncho sorriu para ele com toda a
ternura possível – Você sempre vai ser o meu número um*. Isso ninguém
nunca vai tirar de nós.
— Ninguém nunca será capaz de fazer com que eu deixe de amar você –
Poncho disse abraçando-o e beijando o topo de sua cabeça – Mesmo que eu
case com a Any, mesmo que eu adote a Missy, você sempre vai ter um
quarto pra você na nossa casa. Sempre vai poder ir pra lá quando quiser e
elas vão adorar te ter conosco como eu adoro.
— Você tem certeza? – Daniel questionou – Promete que vai ser assim?
A única diferença é que a segunda seria completa como ele sempre quis.
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O pai não estava muito diferente. Poncho estava tranquilo e tenso ao mesmo
tempo; tranquilo porque finalmente conseguira convencer o filho à dar uma
chance à sua felicidade, tenso porque ainda não era concreto e não seria
enquanto ele não dissesse a Anahí. Ele se sentia próximo ao final do arco-
íris, quase alcançando o tão sonhado pote de ouro. Era o primeiro momento
que ele se sentia realmente feliz em tempos. Ele a tinha de volta, seria o pai
de seu filho e da filha deles, com sorte até de mais outra criança no futuro.
Anahí estava livre e eles estavam bem, ela estava segura, Tobias tinha sido
condenado. Não dava para prever que nada daria errado.
O problema é que a rotina de Anahí na noite anterior não tinha sido como
em todas as outras.
Milo acordou antes dela, é claro que acordaria. Anahí voltou há algum
tempo a beber depois de oito anos sem ingerir nem uma gota de álcool, ela
estava se acostumando ainda e sua ressaca era realmente forte. Obviamente
ela não estava nem um pouco desperta quando Milo acordou, não fazia
ideia do que acontecia do lado de fora de seu quarto. Christian, por outro
lado, estava de pé quando viu o ex da amiga se levantar. Ele tinha um
ensaio fotográfico naquela manhã e por isso acordou bem cedo, passando
um café quente para ele e Milo, com quem teve uma conversa trivial sem
tanta importância.
Naquela noite mal dormida no sofá de Anahí Milo teve tempo para pensar
no conselho dela. E pensar que ele tinha encontrado com ela no bar
acreditando que, se algo tinha dado errado entre ela e Poncho, ele poderia
ter alguma chance. Mal poderia imaginar que a terminaria deitado daquela
forma, ouvindo a chuva caindo lá fora e pensando em Mandy. E no que
Anahí lhe disse antes de se recolher: que ele deveria ir para Ohio. Ir atrás da
mulher que ele amava.
Milo nunca tinha cogitado largar tudo e ir atrás dela, mas agora se
perguntava, por que não? Anahí estava bem, estava feliz, não era nem de
longe a mulher machucada e em pedaços que ele conheceu. É claro que
havia outros méritos, mas ele tinha certeza que boa parte daquela culpa –
totalmente positiva – era de Poncho. Ela estava bem porque enfim vivia sua
vida e estava prestes a ficar com o homem que amava. Milo se lembrava da
forma como aquele homem a olhava. Se ele se visse no espelho encarando
Mandy poderia apostar que ficava com a mesma expressão boba. Sentindo
o rosto esquentar com a constatação, ele teve a certeza que faltava de que
precisava seguir aquele conselho. Precisava ir atrás dela e encontrar seu
lugar. O resto se acomodaria depois.
E por isso, logo cedo, ele se levantou, dobrando a coberta e o lençol que
Christian lhe emprestou, prestes a ir para casa e pegar uma mochila com
poucos pertences e comprar uma passagem de avião. Logo Milo garantiu a
Christian que faria aquela roupa emprestada voltar ao seu dono, antes de se
despedir daquela que sabia que era provável de ser a última vez que o veria.
Ele só lamentou não poder fazer o mesmo com Anahí, agradecendo no
quanto a ex-namorada tinha sido importante naquela decisão que ele
acabara de tomar.
Como estava focado em seu objetivo, Milo sequer olhou para o lado. Não
viu um carro estacionar no meio-fio da calcada do prédio de Anahí quase
que ao mesmo tempo que ele saía pelo portão. Não viu que o motorista era
Alfonso Herrera, o homem que sua ex realmente amava como ele amava
sua Mandy. Não viu a expressão de incredulidade de Alfonso ao vê-lo
saindo do prédio de Anahí antes das oito da manhã e entender tudo errado.
Quando Poncho viu Milo sair dali com o cabelo bagunçado, a camisa
amassada e àquela hora, ele obviamente juntou as peças. Aquilo só poderia
significar uma coisa. Era óbvio que ele dormira ali e não era preciso pensar
demais para chegar a uma conclusão. Poncho estava estático somente
porque, em sua cabeça, ele e Anahí estavam juntos. Eles não tinham
terminado, ele apenas pediu um tempo para resolver as coisas com o filho.
Será que ela não poderia ao menos esperar aquele tempo antes de estragar
tudo se envolvendo com outro...?
Não havia arco-íris, nem pote de ouro. Não havia final feliz para eles. Com
raiva, Poncho socou o volante e saiu com o carro dali. Curiosamente o
timing foi terrível mais uma vez: ele não viu Christian saindo do prédio em
seguida... justamente o único que sabia o que realmente tinha acontecido
ali.
Com raiva, com a mágoa à flor da pele, Poncho sequer conseguiu chegar
em casa. Ele tinha duas opções: beber ou encarar os fatos. Ele estava ferido
demais e ainda estava muito cedo para entornar uma garrafa de bebida
garganta abaixo. O sempre metódico e calculado Poncho acabou dando
lugar a um homem impulsivo ali. Quando ele deu por si, já tinha dado meia
volta com o carro novamente e, em poucos minutos, estacionava na calçada
dela, no mesmo ponto que antes. Só que dessa vez ele subiria.
— O que houve...? – ela perguntou tanto pela cara dele, quanto pela nítida
insistência ao bater na porta, acreditando que só poderia ter acontecido algo
– Eu estou com uma ressaca horrível...
— Por que você está falando assim comigo? – Anahí franziu a testa sem
entender a forma áspera com a qual ele falava com ela.
— Contar o quê?
— Eu não acredito que você vai ficar nessa... – Poncho ria de nervoso – Eu
não acredito que você fez isso com a gente...!
— Poncho, você pode ter visto o Papai Noel saindo daqui hoje, mas não
muda o fato de que eu não dormi com ninguém – Anahí bufou longamente
– Se você não acredita em mim...
— Você sequer está admitindo que ele passou a noite com você!
— Você sabe o que eu vim fazer aqui hoje? – Poncho mencionou antes de
morder os lábios – Vim te contar que conversei com o Dani. Que eu
consegui convencê-lo a te dar uma chance, a nos dar uma chance. Eu estava
nervoso, ansioso, eu mal dormi essa noite. Pra no fim acordar, vir correndo
pra cá louco pra te beijar e ver o seu ex-namorado saindo do seu prédio com
os cabelos bagunçados e a cara de quem passou a noite inteira com você...!
Tinha alguma coisa muito errada ali. Anahí se lembrava de Milo deixando-a
ali, se lembrava de Christian colocando-a na cama... que diabos tinha
acontecido naquele meio de caminho que ela não sabia?
O que quer que fosse, Poncho não estava exatamente disposto a ouvir.
— Eu realmente achei que você nos levava tão a sério quanto eu levava –
Poncho disse caminhando para a porta – Eu não achei que fosse terminar
assim.
— Poncho...
Mas nenhuma palavra foi capaz de impedi-lo de sair dali. Anahí até
choraria, mas ela estava estática, sem entender nada. Nada fazia sentido... a
não ser pelo fato de que ele tinha chegado a algumas conclusões e não tinha
sequer lhe dado a chance de se explicar. E isso parecia tão ruim quanto todo
o resto.
Vcs acharam que tudo seria flores pra AyA nessa reta final? Hahahahaha
tem que ter aquele sustinho antes do grande momento né?
Segundo, sei que muitas de vcs queriam que Milo ficasse com a Diana, mas
eu já fiz isso na IC ne mores? Não vou repetir. Gostaria de lembrar que o
Milo já ama outra pessoa e nesse cap isso fica bem nítido: ele até tenta
seguir em frente, mas o coração dele é da Mandy e isso não muda Diana
já tem um final pronto e não será com ele, na verdade o fim dela foi o
primeiro no qual eu pensei.
Na verdade a grande finalidade nessa volta do Milo foi fazê-lo ser decisivo
pra AyA, assim como a Diana foi ao incentivar o Dani a aceitar o namoro
do pai. Milo diz pra Anahi, ainda que sem querer, tudo o que ela precisa pra
saber que é com o Poncho que ela deve estar. E ela acaba retribuindo
dizendo a ele o que ele precisa pra ir atrás da mulher que ele ama.
Quis deixar assim porque eu acho que é isso que se deve fazer quando se
gosta de uma pessoa: deixa-la livre!
Claro que o Poncho fez uma cagada básica no fim, mas temos que empatar
já que da primeira vez foi a Anahi que cagou tudo kkkkk uma qualidade
minha é que quando eu quebro algo, ja sei exatamente o que farei para
consertar!
Beijos,
Rafa
Capítulo 78 - It will always be you
Depois que Poncho saiu, Anahí se sentou no sofá tentando juntar as peças
do que poderia ter acontecido. Ela não estava com raiva, não estava
magoada, apenas confusa. Sua cabeça doía pela ressaca, o que não a
ajudava a raciocinar. Ela se esforçava a lembrar o que tinha acontecido na
noite anterior, certa de que provavelmente tinha esquecido de algum
pedaço, mas logo se deu conta do óbvio: ela não esquecera nada. Se não
lembrava de algo mais, é porque nada mais tinha acontecido e ponto.
Tudo o que Anahí se lembrava era de ter encontrado Milo naquele bar e de
já ter bebido um tanto antes de se deparar com seu ex-namorado. Marina
estava com ela, Anahí se lembrava da amiga dizendo que sua filha estava
passando mal e que ela precisava ir embora. Foi quando ela percebeu um
olhar masculino em sua direção, decidindo encarar o dono do olhar antes de
sair correndo dali. Quando reconheceu Milo, o medo deu lugar à
incredulidade. A Anahí altinha pela bebida saiu do balcão do bar e foi para
a mesa dele.
Naquela mesa uma conversa interessante teve lugar. Eles falaram deles, de
Mandy, de Poncho. Ela deixou clara sua fidelidade aos próprios
sentimentos, enfatizou que amava Poncho e que não colocaria tudo a perder.
Milo decidiu leva-la para casa porque ela estava bêbada. A última
lembrança de Anahí era de chegar no próprio apartamento e encontrar um
Christian que mal acreditou que ela estava com o ex. Logo Christian a tirou
de perto de Milo e a levou para o quarto, algo que só aconteceu depois que
Anahí desvencilhou do amigo e voltou até o ex para dizer algo que, com
algum esforço, ela se lembrou.
Era isso. Após o conselho ser dado, ela abraçou Milo e, em seguida, foi
levada por Christian para seu quarto, onde o amigo tirou sua roupa molhada
e a colocou na cama. Ali estava a última lembrança dela: ser deitada com a
roupa que estava e fechar os olhos.
Dessa forma, era impossível que ela tivesse feito algo mais. Anahí tinha
certeza que, o que quer que Poncho tivesse visto, não era culpa dela.
Enquanto acordada, Anahí foi firme em seu propósito de se manter fiel a
ele, aos sentimentos que ela nutria. Não era dormindo que tudo seria
diferente.
Mas ao mesmo tempo, era óbvio que Poncho não reagira do nada. Da
mesma maneira que ela não os jogaria ralo abaixo, ele também não faria.
Poncho tinha visto Milo sair dali. Anahí só precisava entender o que tinha
acontecido depois que ela pegou no sono, e sabia que apenas uma pessoa
poderia tirar aquela dúvida.
Por isso, logo depois de tomar uma aspirina para acabar com aquela maldita
dor de cabeça causada pela ressaca, ela pegou o próprio celular e enviou
uma mensagem a Christian perguntando o que tinha acontecido depois que
ela dormiu. Felizmente ele não demorou nada para responder.
Mas, sobretudo, ali estava ela, percebendo que Poncho sequer tinha tentado
um diálogo sobre o ocorrido. Ele apenas juntou as peças à sua maneira, sem
dar a Anahí a chance de se explicar. E isso poderia magoa-la da mesma
forma como ele achava que ela o tinha magoado.
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— Você o viu saindo do prédio dela – Erendira observou – Não viu os dois
se beijando, nem transando.
A verdade é que Erendira não queria aceitar a ideia de que Anahí tinha
traído seu irmão. Ela sabia que aquilo simplesmente não condizia com o
caráter da cunhada, as peças simplesmente não fechavam. O problema é que
a reação de Anahí fez Poncho acreditar ainda mais em suas suposições e
parecia difícil demovê-las dele agora. E sua irmã, por outro lado, acreditava
em Anahí apenas por sua intuição... mas não tinha nenhuma hipótese do que
poderia ter acontecido que fosse na defesa dela.
— Eu já conversei com ela – Poncho rebateu – Ela não soube me dar uma
explicação sequer...!
— Talvez ele estivesse lá, mas os dois não tenham dormido juntos – ela
supôs – Talvez...
— Vocês são muito Ross e Rachel mesmo, Deus do céu – ela negou com a
cabeça rindo.
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Lexie tinha em mente os conselhos dos amigos de que conversar com Mark
era a melhor opção para evitar que seu relacionamento com ele tivesse o
mesmo fim que teve nas vezes anteriores. Ela apenas não encontrava o
momento, quem sabe as palavras certas, para começar a falar daquilo.
Por outro lado, Mark também não sabia qual era a melhor maneira de
perguntar à Lexie se ela já havia se decidido. Ele também sentia que dessa
vez os dois deveriam fazer diferente, mas tinha medo de terminar
pressionando-a com a própria ansiedade. Mark sabia o que queria, mas a
verdade é que já sabia há tempos e que essa certeza os colocou a perder. Ele
não queria arriscar.
Foi numa noite quando Lexie, mais uma vez, iria dormir com Mark, por
mais que a situação entre eles estivesse longe de se tornar oficial. Só que
Sofia acabou ficando até tarde no apartamento do pai para, na hora de
dormir, resmungar que queria ficar com as mães. Por sorte Callie e Arizona
viviam no apartamento da frente e Lexie pegou a enteada nos braços para
leva-la para lá. Ela tocou a campainha e Arizona pegou a menina, com uma
risada no rosto que rapidamente foi explicada.
— Agora que vocês estão morando juntos essa cena tende a se repetir – ela
disse rindo antes de fechar a porta – Sofia nunca sabe se quer ficar aqui ou
lá...
Lexie ficou sem graça, sentindo o rosto formar um rubor. Ela se apressou
em desfazer aquele pequeno mal entendido.
— Nós não estamos morando juntos – ela corrigiu rapidamente.
Pensou no óbvio, é claro. Lexie disse que não havia problemas, se despediu
das duas e voltou para o apartamento de Mark pensando numa única coisa:
um rótulo.
— Você quer que eu venha morar com você – Lexie entregou sem rodeios.
Ela estava cansada de andar em círculos, talvez fosse melhor ser franca de
uma vez e encerrar aquilo – E se eu vier? O que nos garante que tudo não
vai dar errado como deu das últimas vezes...?
Mark fez um breve silêncio observando-a, pensando sobre aquilo que ela
dizia. Nervosa com a ausência de resposta imediata dele, Lexie continuou.
— Eu não sei se estou pronta para casar com você Mark – Lexie mordeu os
lábios – Eu definitivamente não estou no momento para ter filhos.
— Tudo bem – ele disse sem mexer um músculo, o que gerou uma reação
de surpresa absurda nela.
— Tudo bem...? – Lexie ergueu as sobrancelhas. Era isso? Ele não diria
mais nada? – Mas você não...
— É lógico que isso não vai dar certo – Lexie disse tentando se
desvencilhar, mas Mark tocou seu braço, impedindo-a de sair dali.
— Exatamente por isso que vai dar certo – ele insistiu – Eu acho que é
apenas uma questão de momento, você não quer agora. Você disse uma
vez... era cedo demais apenas. Você quer terminar sua residência, escolher
um hospital pra trabalhar, quem sabe se dedicar a uma pesquisa... fazer tudo
o que eu tive a chance de fazer. Eu vou esperar por você.
— É claro que não – ele franziu a testa atestando o óbvio – Eu sou pai, eu
tenho uma carreira consolidada, eu estou com a mulher que eu amo,
finalmente... como eu poderia ficar infeliz...?
— Não sei, quem sabe não tendo tudo o que você quer...
— Lex, se tem algo que eu aprendi tendo que abrir mão de você, foi que
nós nunca teremos tudo o que queremos – Mark disse convicto e, dessa vez,
segurando as mãos dela – Sempre faltava alguma coisa. Um amor, uma
família, filhos. Agora eu tenho uma filha, que não é sua, mas ok. Faltava
você. E agora eu te tenho de volta, e não vou desperdiçar. Então se você não
quiser mais, eu vou me contentar. Se você um dia quiser... é sinal de que eu
realmente sou um filho da puta incrivelmente sortudo.
Com aquelas palavras, aquela serenidade que ele falava e o sorriso que
Mark tinha nos lábios, Lexie enfim se permitiu relaxar, entrando no abraço
dele wnquanto aquele peso todo saía de seus ombros, pensando somente no
quanto os amigos tinham razão quando diziam que o que faltava a ela e
Mark era uma conversa boa e honesta. Era o que tinha feito a diferença para
pior da vez anterior e o que se mostrava decisivo dessa vez.
xxx
Juntando as informações que ela deu de sua briga com Poncho com o que
aconteceu depois que Anahí dormiu, ela e Christian juntaram as peças do
mal entendido. Mas ao invés daquilo alivia-la, só deixou Anahí mais
irritada.
— Isso dói em mim muito mais que em você – ela mordeu os lábios – Mas
ele não confia em mim Christian. O que eu posso fazer quanto a isso?
Realmente, Anahí não tinha nada a fazer. Christian se irritava por ver o
sofrimento e, ao mesmo tempo, a impotência da amiga frente àquela
situação, já que parecia óbvio que Poncho tinha errado, Poncho deveria
consertar tudo. Se da vez anterior fora Anahí quem estragou as coisas entre
eles, dessa vez mais parecia que Poncho estava decidido a empatar o jogo.
Só que Christian era amigo dos dois e Deus era testemunha da quantidade
de vezes que ele cobrou de Anahí que resolvesse as coisas. Era a vez de
cobrar de Poncho.
Poncho não demorou a atender... o que era bom, porque Christian não
estava tão disposto a esperar.
— Alô?
— Anahí não dormiu com o Milo – ele disparou, sem dar tempo do amigo
sequer racionalizar.
— Christian?
— Você não vai vir aqui agora – Christian impôs – Você vai esperar até
amanhã. Ela vai deixar a Missy na escola bem cedo e você vai espera-la lá,
quando ela estiver sozinha, e vai pedir desculpas. Se eu bem conheço a
Anahí ela não vai te perdoar, mas não interessa, você estará lá assim mesmo
e vai esperar até que ela te perdoe. Não importa se leve dias, meses ou anos,
você vai esperar por ela e vai ser tão fiel a ela quanto ela sempre foi a você.
Não é uma opção Poncho, se você não fizer isso eu honestamente viro as
costas pra você. Minha amiga não merece sofrer mais do que já sofreu, eu
não vou deixar que você a deixe em frangalhos. Ela merece ser feliz de
verdade, merece que você seja o homem que deve ser. Então seja.
Poncho a observava à distância desde que tinha chegado. Ele viu toda a
cena, bem como viu Maite falando rapidamente com a melhor amiga e
consolando-a, logo antes de entrar novamente na escola e deixa-la para trás.
Quando Anahí voltava, secando os olhos, pronta para pegar um táxi, ela se
deparou com a presença dele, que não era algo exatamente esperado.
Era óbvio que ele estava tentando iniciar uma conversa, mas igualmente
óbvio que Anahí não facilitaria.
— Você não deveria ter duvidado de mim, pra começo de conversa – ela
devolveu com a clara mágoa de quem sentia por ter sido julgada daquela
forma.
— Anahí...
— Porque a verdade é que você não viu nada Poncho, você apenas deduziu!
– ela voltou a disparar – Você chegou lá, viu o Milo saindo do meu prédio e
saiu me atacando quando eu sequer sabia o que estava acontecendo...!
— Você está certa – ele tinha a cabeça baixa, tomado pela vergonha da
certeza do próprio erro – Eu não deveria ter duvidado de você. Eu... eu sei
que eu estou errado.
— Eu te perdoo por ter errado, mas não to pronta pra simplesmente seguir
como se nada tivesse acontecido – Anahí respondeu prendendo as lágrimas.
Poncho a conhecia bem demais para saber como ela se sentia, como reagia
– E por favor, sem essa de "não faça isso com a gente". Foi você quem fez.
— Não, não sabe – ela respirou fundo – Você vai ter que esperar, Poncho.
Esperar até que eu esteja pronta pra passar por isso. Quem sabe aprender a
confiar em mim, a confiar em nós. Esperar até que eu veja que isso
aconteceu.
Ele sabia que não seria fácil, que não seria diferente. Exatamente por
conhecer bem aquela Anahí que estava na frente dele, por saber que a
Anahí que ele amou no passado faria exatamente o mesmo, que era de se
esperar. Mas Poncho tinha em mente o que Christian lhe dissera naquela
ligação: ele esperaria, fosse por dias, meses ou anos. Ele estaria lá quando
ela estivesse pronta e, naquele tempo, ficaria pronto para ela. Porque Anahí
merecia isso... merecia ter o melhor homem ao seu lado, o homem que a
faria incondicionalmente feliz e nunca mais duvidaria dela. Poncho
aprenderia a confiar e a se entregar sem reservas. Ele se tornaria aquele
homem por ela.
Oi gente linda! Será que hoje, ao menos hoje, vocês não estão querendo me
matar? Hahahahahaha só a título de curiosidade!
Nesse meio tempo a vida dos personagens vai andar! Teremos uma pequena
passagem de tempo no próximo capítulo e algumas coisas bemmmm
interessantes vão acontecer. Mas podem relaxar, só coisa boa, a primavera
ta chegando na SVE
Beijos,
Rafa
Capítulo 79 - In our dreams
O tempo não parava. O tic tac do relógio definitivamente não queria parar.
Quando eles deram por si já era primavera. Nova York ficava especialmente
bonita naquela época, toda florida, e Anahí ficava realmente feliz ao ver as
flores e as cores nítidas e livres à sua frente. Chegou abril, depois chegou
maio e com isso veio o aniversário dela, o primeiro comemorado fora do
cativeiro. O primeiro com todos os amigos ao seu redor fazendo uma festa
surpresa no café, no qual ela via as palmas batendo cantando seu parabéns
com as pessoas que amava em um único ambiente, sem qualquer sombra de
medo. A primeira vez onde havia novos rostos que agora eram tão
importantes para Anahí... o rosto de Keith, de Harry, de Missy, junto com
todos aqueles outros que há muito habitavam seu coração. Poncho
inclusive.
Ele não se manteve distante, claro que não. Os dois ainda eram amigos,
afinal de contas, pertenciam ao mesmo grupo e de forma alguma Anahí
queria usar o distanciamento amoroso que impôs entre os dois como uma
forma de afasta-lo dos outros. Afinal, Poncho seria o padrinho de Luna, que
estava cada vez mais próxima de nascer. Ele continuava sendo o melhor
amigo de Jesse e de Mane e ela, a pessoa mais próxima de Maite e de
Christian. Dessa forma, o contato entre os dois continuou constante, mas ao
mesmo tempo que estavam próximos, pareciam mais distantes do que
nunca.
No início de junho, Sophia veio com uma – ou melhor, duas – notícias que
eram definitivamente boas.
— Achei que o baby Soffer não fosse querer nunca mostrar o próprio sexo –
Maite disse acariciando a barriga da amiga, nem parecendo que, há um ano
atrás, as duas mal se falavam.
— Ah Logan, você vai ser muito amado – Maite disse ainda com as mãos
na barriga da amiga – Você e a Luna vão aprontar muito aqui fora e sua mãe
e eu ficaremos com cabelos brancos.
É claro que Maite, uma mulher que estava a duas semanas de ter a própria
filha, ficou com os olhos inundados de lágrimas.
— Você não brinque com isso garota – Maite disse mordendo os lábios,
claramente emocionada mas tentando disfarçar.
Realmente era.
— Tem outra coisa – ela anunciou – Nós vamos nos casar no mês que vem.
— Não tem como não ser maravilhoso um casamento seu e do Jesse, Soph
– Anahí disse sorrindo e segurando a mão dela – Você sempre sonhou tanto
com isso, desde que nós éramos garotas.
É claro que a vida dela não era um conto de fadas. É claro que tudo estava
longe de estar perfeito, mas Sophia estava sendo resiliente, aceitando dar
um passo de cada vez. Há cerca de um mês ela tinha dito a Anahí que não
sabia ao certo como ela e Jesse voltariam a ter um contato mais íntimo.
Afinal, cada vez que ela tentava as lembranças do estupro vinham à sua
mente. Obviamente ela foi conversar sobre o assunto com a única amiga
que era capaz de entendê-la. Anahí abraçou Sophia e lhe garantiu, quase
prometeu, que aquilo acabaria. E não apenas aquilo: deu ainda dicas
preciosas a ela sobre como se livrar pouco a pouco daquele trauma. E
acabou por acompanhar como a amiga conseguiu realmente dar os
primeiros passos para longe daquilo, como ela conseguiu deixar Jesse se
aproximar e voltar a transar com ele, voltar a se sentir uma pessoa normal
como tinha se sentido meses antes com Poncho.
Então não houve nenhuma surpresa quando Anahí foi escolhida para ser a
dama de honra do casamento dos dois... bem como era totalmente esperado
que Poncho fosse o padrinho de Jesse. O que significava que eles sairiam
do altar juntos. Que dançariam juntos.
Era algo planejado por Sophia em seus sonhos, desde os seus vinte e dois. E
como ela dissera, estava na hora de realiza-los. Anahí não ousou negar
aquele pedido, mesmo sentindo desde já os arrepios pelos momentos que
viriam ao lado de Poncho.
Mas Sophia não era a única que tinha desejos. O parto de Maite se
aproximava e ela já decidira como tudo seria: a morena optara por um parto
humanizado em uma clínica especializada, apoiada por doulas, enfermeiras
e uma parteira. Mane, grande fã da Medicina tradicional, estava arrancando
os cabelos com a decisão da namorada, em especial quando ela decidiu
vetar a participação das três mães deles e decidiu que, além dele, a única
pessoa que queria ao seu lado no momento que Luna viesse ao mundo seria
a própria Anahí.
— O que você faria no meu lugar? – Lexie perguntou nervosa – Quer dizer,
você é mãe, você pode me ajudar.
— Sim, mas Mark tem – ela ponderou – E eu sei que pra ele importa ficar
em Nova York com a Sofia. A Dra. Shepherd me ofereceu um cargo no
General Hospital, mas ao mesmo tempo... trabalhar no John Hopkins seria
incrível... só que eu penso no Mark e na Sofia e...
— Mark vai dar um jeito, nem que ele tenha que voar todos os fins de
semana para visitar a filha, ele vai dar um jeito – Anahí garantiu – Ele
sempre escolheu outra coisa, você nunca foi a prioridade e agora é. Mas
está na hora de se colocar como prioridade também Lexie. Então pense em
você. Se quer ficar em Nova York, fique, mas se ir pra Califórnia,
Minnesota ou Baltimore forem te fazer mais feliz... então siga a sua
felicidade. No resto vocês darão um jeito juntos, porque foi assim que vocês
escolheram fazer dessa vez.
Anahí não sabia o que Lexie decidiria, sabia que tinha dito algo
completamente decisivo para a amiga, mas somente com o tempo Lexie
lançaria seu destino. De certa forma ela estava um pouco cansada de ver a
vida de todos andando para frente e a dela, simplesmente estacionada.
Tobias tinha sido condenado e estava preso, então nada a impedia. Então,
por que as coisas não simplesmente aconteciam?
Para Lexie, apenas mais um apartamento. Mas para Anahí... ela reconheceu
o prédio assim que eles chegaram, quando subiram as escadas, mas não
poderia ser o mesmo, seria coincidência demais. Eis a sua surpresa quando
a corretora abriu a porta e ela se deparou com aquela mesma sala, com as
mesmas paredes, a janela com aquela vista que ela nem sabia que ainda se
lembrava. De alguma maneira veio à mente dela a primeira vez que esteve
naquele lugar. Naquela primeira vez, seus olhos estavam vendados em
razão de uma surpresa. Ela mal sabia para onde ia e o quanto aquelas
quatro paredes iriam significar.
"— Poncho, tira essa venda dos meus olhos...! – Anahí resmungava
tateando as paredes tentando não cair, ignorando completamente que o
namorado guiava sua cintura andando atrás dela.
— Me diz que você me trouxe nesse apartamento incrível e vai dizer que
nós vamos morar aqui – Anahí pediu, quase implorou, chegando a unir as
duas mãos e armar na boca um bico gigantesco. Ele só soube rir em
resposta.
Não dava para esperar qualquer reação de Anahí diferente da que ela de
fato teve. Poncho até achava que ela simplesmente sorriria e comemoraria,
mas foi muito maior: ela deu um salto no ar tamanha animação com a
novidade, e o salto acabou nos braços dele. Era difícil não sentir uma
empolgação imensa pelo simples reagir dela. Poncho a pegou nos braços e
imediatamente a beijou, já que Anahí tinha conseguido anima-lo com
aquela alegria toda."
— Sim, totalmente disponível pra compra – a moça sorriu – Pode ser seu, se
você quiser.
— Antes fossem só as lembranças, mas ele está à venda, não para locação, e
o preço é absurdo demais... – ela respondeu desanimada – Não se pode ter
tudo, não é?
Karen conhecia bem demais o olhar de seu marido para perceber que havia
um interesse em Keith, tanto pelo seu olhar quanto pela quantidade de
informações que ele pediu à filha. Anahí respondia desanimada, quase
desinteressada, porque ela não via qualquer chance de aquele apartamento
ser seu. Não tinha motivos para disfarçar a própria frustração na frente dos
pais, então ela o fazia, certa de que, se houvesse uma garrafa de vinho ali,
certamente já teria enumerado os relatos das transas que teve com Poncho
entre aquelas quatro paredes.
Essa parte Keith dispensava. Mas ele quis saber onde o apartamento era,
como era o prédio, a rua e o nome da corretora. Logo em seguida ele se
despediu da filha e da esposa, em seguida da neta, pois tinha uma palestra
em San Diego. Anahí sorriu ao ver Missy correr para o avô e abraça-lo com
todo o carinho do mundo. Ela amava ver a filha crescendo cercada do afeto
de sua família e, sobretudo, que Keith podia ser um avô presente quando
não pôde fazê-lo como pai.
Mas exatamente por Keith não ter tido a oportunidade de fazer tanto pela
filha por longos vinte e três anos, ele seguia sentindo que devia algo a ela,
ficando eternamente na busca de oportunidades de agrada-la. Agora, mais
uma vez, ele tinha uma em sua frente. Anahí mal poderia esperar...
xxx
O único ganho pela distância dele e de Anahí era o fato de Poncho estar
escrevendo como nunca. Naquela tarde em especial ele estava no último
capítulo do livro, que demorava tanto tempo quanto todo o resto. O grande
problema é que aquela era a parte realmente inédita da história, a parte nem
um pouco inspirada em fatos reais. Era o ponto em que Poncho realmente
começava a criar. O ponto no qual a ficção deixava de se inspirar na
realidade. Quem sabe, aquele no qual a realidade começaria, enfim, a se
inspirar na ficção...
— A que devo a honra? – ele perguntou franzindo a testa – Quer dizer, você
deveria estar trabalhando.
— Eu sei que é, lembro dos outros finais – ela se referiu aos dois livros que
ele escreveu enquanto os dois eram casados – Ainda mais esse, que é
especial. Que você quer que seja real.
— Eu conheci alguém – e ela enfim disse aquilo que Poncho nunca esperou
ouvir.
— Você não precisa passar a ficha técnica dele – Poncho negou com a
cabeça rindo, vendo-a abrir uma careta – O que importa é se ele ta te
fazendo feliz.
— Eu ainda nem saí com ele – ela confessou – Ele me convidou hoje de
manhã quando eu deixei o Dani, mas eu estou tão insegura que quase saí
correndo. Tem sete anos que eu não vivo isso.
— É que foi tão difícil pro Dani aceitar você e a Anahí juntos que eu morro
de medo de acontecer o mesmo comigo – Diana admitiu – Eu tenho medo
de me entregar finalmente a um sentimento, a alguém, e ele simplesmente
não aceitar.
Curioso era que, no fim, Poncho dava a Diana o mesmo conselho que ela
tinha lhe dado tempos antes. Exatamente porque queria, acima de tudo, que
a ex fosse feliz de verdade. Como ele sabia que seria quando finalmente
tivesse Anahí de volta, quando a merecesse o suficiente para tê-la ao seu
lado.
E curiosamente foi depois que sua ex foi embora, da sensação boa que
Poncho sentiu no peito depois de dizer aquelas palavras à Diana, de desejar
realmente que ela tivesse o melhor destino possível, ele encontrou as
palavras certas para conseguir voltar à própria inspiração. Os dedos batiam
agitados no teclado do notebook. Talvez ele terminasse naquele dia mesmo,
naquela noite.
Beijos,
Rafa
Capítulo 80 - Father
Mas aquela tão esperada resposta só veio dias depois. Como estava desde o
término do livro sem escrever, Poncho ocupava os próprios dias ociosos no
apartamento de Erendira, à espera do próximo passo. Foi num desses dias
que a campainha tocou e, para a surpresa dele, era exatamente a resposta
que ele esperava do outro lado da porta.
Poncho sorriu com a resposta, ainda atordoado por não estar esperando uma
resposta ao vivo. Logo ele viu Erika adentrar pelo apartamento de sua irmã,
se sentar no sofá e, pela primeira vez desde que Poncho a conhecera, ainda
à época que Diana aceitou publicar seu primeiro livro, deu todas as suas
impressões sobre a escrita dele pessoalmente. Poncho não esperava por isso
porque seu contato com Erika sempre foi muito mais virtual do que pessoal,
ela sempre passou suas opiniões ao longo da leitura, por mensagens de texto
cobertas de reações emocionadas e apaixonadas. Era a primeira vez que ele
a ouvia falando sobre tudo o que achava e Poncho estava maravilhado.
Mas a julgar pela reação que Poncho teve, abaixando a cabeça e bufando
desanimado, nem tudo era tão bonito assim.
— Se um dia acontecer, pode ter certeza que você não terá que esperar pelo
convite – ele riu, dessa vez verdadeiro.
— Se...?
— Não quero te dar toda a certeza do mundo, mas esse "se" é mais pra caso
um dia ela aceite estar comigo pro resto da vida – Poncho suspirou –
Porque, no que depender de mim... eu sou totalmente dela.
Ele poderia contar toda a história. Aquela parte não estava no livro,
portanto era desconhecida para Erika, mas ele resolveu poupar. Sentia
vergonha dos próprios atos, de como fora covarde e mesquinho naquilo
tudo. Talvez fosse melhor se limitar a admitir o próprio erro.
— Eu a magoei – Poncho a encarou – Fui um idiota. E agora tenho que
esperar que ela me perdoe.
— Não será – Poncho garantiu – Eu vou esperar até que ela esteja pronto de
novo, não importa quanto tempo leve... meses, dias ou anos... eu espero. Eu
devo isso a ela, devo isso a nós dois.
xxx
Quando Keith voltou de San Diego a primeira coisa que ele fez foi cuidar
de uma certa surpresa para a filha. De volta a Nova York ele teve de Karen
a notícia de que Anahí continuava numa busca cada vez mais desanimada
por um apartamento. Era óbvio: não tinha como se empolgar quando você
procura algo que já encontrou, mas não tem meios de alcançar.
Então foi com alguma facilidade que Keith resolveu tudo, quase que um
estalar de dedos. Ele tinha dinheiro suficiente guardado para isso, pelas
vendas de seus livros, pelas palestras que fazia, dinheiro esse que acabava
guardado já que ele levava uma vida modesta com Karen. Keith tinha todo
o prazer do mundo em investir em Anahí. Durante toda a transação ele
pensava apenas nos sorrisos animados que teria em resposta na hora certa: o
dela quando ficasse surpresa, os de Missy e Karen pela felicidade dela.
Seria fantástico.
Só que, como uma boa surpresa, Anahí só ficou sabendo quando tudo
estava resolvido. Ela estava em casa quando recebeu uma mensagem da
mãe dizendo que eles a buscariam para ir a um lugar e que ela e Missy
deveriam se arrumar. Anahí estava desconfiada, como sempre ficava, mas a
filha se animou demais e ela acabou se deixando levar. Curiosas como só,
as duas perguntaram à Karen e Keith o tempo inteiro qual era o destino, e
Anahí se surpreendeu quando o pai estacionou na frente daquele prédio.
Mais ainda quando subiram as escadas e pararam na porta daquele
apartamento.
Só havia uma resposta para eles estarem com as chaves. E, após a porta se
abrir, Anahí se deparou com o mesmo apartamento de quase quinze
dias antes. As mesmas paredes, o mesmo piso e, se ela esticasse bem o
pescoço, o mesmo chuveiro no qual ela e Poncho tinham se amado anos
antes. Missy estava entusiasmada com o apartamento, com seus pequenos
olhos arregalados observando minuciosamente cada detalhe. Mas quando
ela parou ao lado da mãe, foi quando o avô resolveu anunciar a novidade.
— Eu ouvi quando você disse para sua mãe sobre esse apartamento – Keith
sorriu contido – Vocês merecem ter um lar.
— Pai, isso é demais – ela respondeu se referindo ao fato de que devia ter
sido caro demais. Mas Missy completou de outra forma.
Na verdade tinha: ficar completamente feliz e entender que a vida, por fim,
estava lhe devolvendo tudo, mesmo que com um enorme atraso.
Missy ficou tão empolgada com a casa nova que imediatamente contou
para todas as pessoas que paravam a sua frente. Naquele mesmo ela eles
terminaram no café de Karen e a menina, enquanto servia as mesas com a
avó, dizia para todos que sua mãe e ela se mudariam para o apartamento
dos sonhos, como ouvira Keith se referir em relação à sua mãe. Apenas
arrancava risadas de Anahí com aquela forma de pensar. Não demorou até
que Maite, Christian, Sophia e todo o resto do mundo, incluindo a
professora dela, ficarem sabendo. Anahí tentava ver aquilo da maneira mais
positiva do mundo, afinal Missy finalmente estava tendo uma infância
normal e saudável, com uma família que lhe dava todo o carinho e o suporte
possíveis. Era apenas o desenvolvimento do curso da vida delas, agora sem
qualquer motivo para ter medo.
Mas aquela não era nem de longe a última surpresa que a vida reservava
para Anahí.
— Tem uma moça esperando por você na minha sala – Marina disse já
caminhando com Anahí para aquele espaço – Ela é uma advogada e disse
que se chama Bethany. Você faz ideia de quem seja?
— Não – Anahí franziu a testa. Afinal, a advogada de sua família era Lucca
Quinn, quem a acompanhou em todo o processo da condenação de Tobias e
defendia Poncho no Tribunal. Seria a tal Bethany uma sócia do escritório?
— Bom, eu também não a conheço, mas ela insistiu em falar com você –
Marina explicou – É claro que, se você não quiser...
— Eu sei disso – Joy sorriu – Todo mundo sabe disso. A América inteira
acompanhou o julgamento de Tobias Menzies, Anahí. Todos conhecem a
sua história. Mas eu não sei o que você quer daqui para frente. E sim, eu
entendi que você quer estar aqui pra trabalhar com mulheres, mas e se eu te
disser que há uma maneira de você conseguir isso advogando?
Dessa vez não houve resposta imediata para a pergunta. Joy sorriu quando
percebeu que Anahí não a rebateu. Era a chance que ela tinha de ser
persuasiva.
— Anahí, pense nas soluções, não nos problemas – Joy disse se levantando
– A oferta está feita. Nós podemos começar na sala da minha casa, eu tenho
certeza que meu marido não iria se incomodar. O que eu quero mesmo é
começar e quero que seja com você. O resto se ajeita com o tempo.
Não era algo que ela esperava. Anahí se sentia esbofeteada com a oferta de
Joy, já que aquilo estava totalmente fora de seus planos. Ela nunca cogitou
não trabalhar no My sister's place, aquele sempre foi seu grande sonho, um
de seus maiores projetos. Nunca tinha ficado nos planos exercer a
advocacia para a qual se formou, ainda que durante quatro anos em
Georgetown ela tenha sido preparada para isso. Por mais firme que Anahí
fosse, era impossível não se sentir sacolejada por aquela possibilidade
tentadora. O que a lembrava que havia alguém ali cuja opinião era
valiosíssima para ela.
— O que você acha? – ela perguntou à Marina, que tinha um discreto
sorriso no canto dos lábios.
— Acho que você deve pensar no que te faria feliz – ela respondeu
levantando. Marina sempre parecia ter um ar definitivamente enigmático.
— Eu sempre quis trabalhar aqui – Anahí apontou – Sempre foi tudo o que
eu quis.
— As portas sempre estarão abertas pra você, da maneira que tiver que ser
– Marina concluiu – Tenha seu tempo, pense com calma. É o seu futuro,
afinal.
Realmente era.
xxx
Nos dias que se seguiram Anahí pensou e pensou, ávida por tomar uma
decisão, sem grande sucesso. Ela sabia que não se sentiria em paz enquanto
não desse uma resposta à Joy. O cartão da mulher queimava em sua bolsa,
sem que ela soubesse. De alguma maneira numa manhã daquelas, em meio
ao próprio dilema, ela terminou com Missy na confeitaria de Sophia vendo
a amiga sentada comer um doce enquanto sentia Logan se mexer em sua
barriga e Lexie ao lado delas mostrando fotos da sobrinha recém-nascida.
— Sim e enfim ela acha que já está na hora de parar, finalmente – Lexie
comentou – Quer dizer, três filhos, não é? Uma tremenda loucura. Eu já
acho loucura suficiente ter um...
— Eu estou indo pro segundo – Sophia levou a mão à barriga, babona como
sempre – Devo parar nele também, mesmo a Sam já tendo dito que queria
uma irmã.
— Um dia – Lexie divagou – Eu realmente achava que não era pra mim,
mas... quando Derek colocou Ellis nos meus braços... – a cirurgiã suspirou –
Quando eu a vi nos braços do Mark, o tamanho do sorriso dele... não
consegui não pensar em nós dois.
Anahí sorriu. Ela sabia exatamente como a amiga se sentia, quem sabe por
também já ter se sentindo assim.
— Você tem que falar direitinho com ela – Samantha grunhia para Daniel
com os olhos estreitos – Você me prometeu.
— Vai ter um jogo, todos os pais vão – ela confidenciou – Você quer ir?
A mensagem estava nas entrelinhas. Se todos os pais iriam e ela queria que
ele fosse, Missy deixava claro que, para ela, Poncho era seu pai. Não havia
qualquer chance de recusar aquele convite.
Não mesmo.
Missy andou de mãos dadas com Poncho até a mesa onde sua mãe estava
sentada. Ele tinha ido até ali deixar Samantha, que tinha dormido com
Daniel na noite anterior, na casa de Diana. Os três tomaram café juntos e
agora Poncho a entregava para Sophia. Anahí, é claro, não fazia ideia
daquilo até chegar à confeitaria e agora tinha os olhos fixos na cena do ex
com sua filha, todas as atenções voltadas para os dois juntos, o coração
balançado. Agora ela os via caminhando de mãos dadas e se preocupava
com a reação de Daniel quando visse seu pai próximo da filha da ex-
namorada dele, fruto de tanto ciúme de outrora. Mas se surpreendeu quando
viu que o menino pouco se importou com a cena, continuando a brincar
com Samantha como se nada tivesse acontecido.
O clima obviamente mudou quando chegou a vez dele falar com Anahí. Ela
sentiu as amigas pousarem os olhos sobre os dois quando Poncho se
aproximou dela e beijou sua bochecha. Era diferente da forma como ele
falara com Lexie e Sophia, era mais carinhoso, mais íntimo. E é claro que
seria. Mordendo os lábios para não corar, Anahí rapidamente notou as duas
amigas imediatamente saíram dali inventando desculpas para deixa-los
sozinhos. Lexie disse que iria ao banheiro, Sophia foi para a cozinha da
confeitaria alegando ter que trabalhar... ela sabia que era, na verdade, um
verdadeiro complô dos amigos para que eles ficassem juntos de novo. Tinha
sido assim no passado e voltava a ser no presente. Eles esperavam apenas
que tudo não tivesse que se repetir no futuro.
Poncho aproveitou o momento para se sentar e falar com ela. Tinha algo
que precisava ser dito, afinal.
— Ela disse que queria que você fosse – Anahí abaixou os olhos, mas em
seguida olhou para ele – É natural, você é pai dela.
— Eu preciso conversar com ela antes, mas ela te ama Poncho, eu não
posso demover isso da minha filha – Anahí suspirou.
Beijos,
Rafa
Capítulo 81 - New family
— Mamãe, calma – Missy falou assim que as duas entraram no táxi e Anahí
indicou ao motorista o destino – Dá tempo de nós chegarmos.
— É claro que vai – ela deu um beijo na testa da filha – E você vai arrasar
nesse jogo.
Rapidamente Anahí ficou se sentindo culpada por aquela reação. Ela estava
daquela forma por Poncho, porque ele estava indo assistir ao jogo da filha
dela, por ter que encontra-lo. Anahí não estava mais tão magoada com ele
pela situação envolvendo Milo, mas ao mesmo tempo se sentia insegura de
se entregar mais uma vez. Ela queria que Poncho lutasse por ela, que ele
provasse que tinha mudado e a desse motivos para se sentir segura.
Talvez o medo de vê-lo era por reflexo de outro medo: o de se dar conta que
aquilo não iria acontecer.
— Por que você não dirige? – Missy perguntou mudando o assunto. Anahí
ficou aliviada por aquilo – Todos os outros pais dirigem.
— Eu fiquei muitos anos sem dirigir – Anahí respondeu franca – Acho que
desaprendi.
— Mas não é mais fácil do que ficar pagando táxi toda hora? – ela voltou a
questionar, fazendo Anahí se perguntar sobre aquilo. Mas antes que tivesse
a chance de pensar demais, a filha a surpreendeu mais uma vez – Por que
você não pede pro papai te ensinar a dirigir de novo?
— Papai?
— É que eu o convidei pro jogo que os pais vão, e ele quis ir, então ele
meio que é meu pai né? – ela disse juntando os pontos.
— Você gostaria que ele fosse seu pai? – ela perguntou. Estava começando
aquela conversa justamente porque Poncho já verbalizara o desejo de adotar
Missy e a única coisa que havia ficado pendente era Anahí conversar com a
filha.
— Bom mesmo seria se ele fosse meu pai e seu namorado, né? – Missy
observou fazendo o rosto da mãe pegar fogo de vez.
Anahí jamais admitiria que a filha não era a única a pensar daquela forma.
Na escola, Poncho chegou antes delas. Ele não queria correr o risco de
perder o início do jogo, por isso saiu com toda a antecedência da qual Anahí
não era capaz. É lógico que foi ligeiramente frustrante para ele chegar até lá
e se deparar com o fato de que nenhuma das duas estava ali. A única pessoa
conhecida que Poncho identificou naquele mar de gente foi Maite, que não
perdeu a oportunidade de alfineta-lo por ter se adiantado para ver as
mulheres de sua vida. Ele riu, afinal não poderia discordar. A morena não
dizia nenhuma mentira.
Missy colidindo com ele mal deu tempo dos sentimentos de Poncho se
ordenarem. Ele sentiu um sacolejo enorme no peito que não acontecia desde
que Daniel aprendera a falar as primeiras palavras e o chamou assim pela
primeira vez. Ele aos poucos viu a voz do filho mudar, conforme ele
crescia. Com Missy isso não aconteceu, ela chegou na vida dele aos sete e o
chamando de diversas formas: primeiro pelo nome, depois de tio e por fim,
daquela forma, pai. A forma como ele vinha se comportando, que
sintetizava o amor que tinha por ela.
— Eu sei, mas você e a mamãe estão tão esquisitos que nunca se sabe né? –
ela disse coçando a cabeça deixando claro que parecia definitivamente
confusa com o status eternamente indefinido dos dois.
— Vou te contar um segredo ok? Eu sempre vou amar sua mãe Missy – ele
confidenciou.
— Ela ama você, você a ama, vocês não estão juntos por quê...? – a
pergunta dela veio acompanhada de um revirar de olhos.
Por Missy ela própria resolveria as coisas entre Anahí e Poncho, mas o que
mais havia para ser feito? De qualquer forma ela tinha um jogo a ser
jogado. Suspirando, acabou seguindo as colegas e o técnico que a
chamavam. O que ela não sabia é que deixar seus pais sozinhos era o
melhor que poderia fazer para mantê-los juntos.
Anahí via Missy seguir com as crianças sem prestar atenção em Poncho,
diferentemente dele que, após se despedir temporariamente da filha,
mantinha o olhar fixo nela. Poncho debatia em sua mente se deveria se
aproximar ou se manter distante, pensando unicamente no status que tinha
ficado entre eles, até se dar conta que ele não estava ali como ex de Anahí e
nem mesmo como seu "amigo", os dois estavam ali como os pais de Missy.
Então, o que realmente importava era a menina olhar para a arquibancada e
ver os pais juntos.
Como ele sabia que o que era bom para a filha acaba se tornando
igualmente bom para a mãe, Poncho soube que era o certo a se fazer.
— Ainda tem lugar pra dois na arquibancada – ele disse ao chegar na frente
dela, apontando para trás – Você...
Mas ela não ficou sozinha, afinal sua filha estudava na mesma escola que
sua melhor amiga trabalhava e é claro que Maite não perderia a
oportunidade de encontra-la ali.
— Luna dá sorte pro time – Maite deu de ombros – Não faça drama, é em
Newark, vai ficar tudo bem. Nós iremos e voltaremos de carro e depois eu
ficarei com os pés para o alto e então você, minha mãe e minhas duas
sogras poderão respirar aliviadas.
Anahí conhecia exatamente o tipo de efeito que Poncho era capaz de causar
nas mulheres. Naquele momento lhe veio à mente o tanto de vezes que
cenas parecidas com aquela já tinham acontecido, cenas das quais ela foi
testemunha... antes mesmo de os dois ficarem juntos Poncho já fazia
sucesso entre as garotas do colégio, mesmo já, àquela época, só ter olhos
para ela. A situação se repetiu quando ele foi para Stanford, Anahí se
lembrava de ir para a Califórnia visita-lo e se surpreender com a quantidade
de garotas que facilmente se jogariam aos pés dele se quisessem.
Mesmo eles não estando juntos. Mesmo tendo sido ela a criar a distância
que agora se impunha entre ambos.
— Eu não acredito que você está com ciúme – a voz de Maite saiu
acordando-a para a realidade.
— Ei filha, por que você não vai trocar de roupa pra tomarmos um sorvete
de comemoração? – Poncho propôs.
A expectativa, naturalmente, era que ela negasse. Anahí não era boa de
administrar os próprios sentimentos, muito menos admiti-los. Por mais
ciumenta que fosse, ela negava até a morte. Dessa forma, Poncho não
esperava pelo que estava para vir.
Ela sabia que não poderia, não era um direito seu já que eles não tinham
mais nada e por decisão dela inclusive. Mas mesmo que os dois tivessem
todo o afastamento do mundo, eles ainda assim eram ligados. E se era dessa
forma antes, se foi dessa forma durante os oito anos que, para o mundo, ela
estava morta, o que havia de ser dito daquele momento, onde apenas uma
desavença os separava?
— É claro que pode – ele sorriu no canto dos lábios – Inclusive, se quer
saber, eu adoro te ver assim, toda corada.
— Ah, claro, você ta adorando mesmo isso – ela ironizou – Ter duas
mulheres interessadas em você, te disputando...
Anahí piscou várias vezes, tentando formular uma resposta enquanto sentia
aquele olhar dele firme encarando-a e seu rosto queimando mais do que
nunca. Estava difícil, realmente difícil se manter indiferente à forma como
ele a olhava, com todo o desejo do mundo, certo do que queria.
— O que você quiser meu amor – Poncho disse sorrindo, mais ainda
quando viu que a menina deu uma das mãos para ele e a outra para Anahí,
criando, de certa forma, um elo entre os dois.
Porque agora era o que ela era: um elo entre eles. E em breve, por estar no
meio deles, seria a única coisa que os impediria de seguirem de mãos dadas
por toda uma vida.
xxx
Mesmo contra a opinião do próprio Mane, de seus pais e das mães dele,
Maite decidiu viajar para Newark naquele fim de semana. Desde que eles
foram morar juntos o frisson do início do relacionamento passou de vez e
ela pôde voltar a frequentar os jogos de basquete do time dele sem fazer
com que Mane se atrapalhasse totalmente e colocasse tudo a perder. E,
conforme a gravidez dela avançava, os jogadores começaram a fazer de
Luna o mascote deles, criando um ritual de tocar a barriga de Maite antes
dos jogos para dar sorte.
Por esse motivo ou por outro, deu certo. Naquele fim de semana eles
estavam indo para a final do campeonato estadual de basquete. Tinham
chegado longe, mais longe do que qualquer time que Mane tinha treinado
desde que começou a trabalhar com aquilo. E obviamente todo o time
creditou aquele sucesso no ritual deles, Maite inclusive. Ela jamais
quebraria com aquilo, mesmo estando literalmente no final da gravidez e
com menos preocupação com a possibilidade do parto fora do planejado do
que deveria.
Não foi nenhuma surpresa quando o jogo acabou e eles venceram com uma
larga distância. Kamilla teve que segurar a cunhada para evitar que Maite
saísse correndo pelas arquibancadas afora para abraçar o namorado e
comemorar como deveria, afinal Maite estava com trinta e oito semanas de
gravidez. Mas isso não tirou a agitação dela, muito menos de Mane, que
naquele momento esqueceu que sua filha estava para nascer e apenas curtiu
o momento abraçado a ela assim que sua família a deixou descer, se
sentindo, naquela noite, o homem mais feliz da face da Terra.
— Aposto como ela vai ser a torcedora número um do seu time – ela
comentou tocando a barriga e sentindo Luna chutar animadíssima, com
Mane tocando-a também com um sorriso terno nos lábios – Mal vai
aprender a andar e já fará uns lances livres.
— Vou ensina-la a fazer cesta de três antes mesmo de aprender a ler – ele
riu – Ela ta agitada. Será que foi uma boa ideia você ter vindo...?
Quando Maite deitou em sua cama, achando que iria descansar e relaxar,
acabou se dando conta que aquela agitação estava um pouco fora do
normal. Ela ia e voltava em tempo espaçado, a cada cinco minutos. A
princípio a morena não quis acreditar, mas logo não deu para negar. Eram
contrações.
— Hm?
— Minha bolsa estourou – Maite disse assim que saiu do box. Ao ver a
vermelhidão tomar o rosto dele, teve certeza que Mane piraria.
— Meu Deus do céu – ele ofegou – Olhe, é melhor nós irmos para um
hospital.
— Não, nós vamos seguir o meu plano de parto, vamos pra clínica, liga pra
Lois – ela se referia à própria doula que acompanhou sua gravidez.
— Mane, quem vai parir sou eu – Maite anunciou, vendo-o ficar mais
indócil do que nunca.
Tinha sido opção dela como as coisas seguiriam a partir dali. Assim que
entraram num táxi – já que Mane não tinha nenhuma condição de dirigir –
ele não parou de falar um minuto sequer que ela não deveria ter ido para
Newark, que tudo tinha sido um erro, que as mães deles bem que avisaram
que aquilo aconteceria. Mane estava tomado pelo pânico, enquanto Maite
controlava sozinha a própria respiração, sentia as contrações aumentarem
de força e intensidade, notando a diminuição do espaçamento entre elas, se
sentindo nervosa não apenas pelo que estava por vir, o que a assustava,
como também pelo fato de que seu namorado estava totalmente apavorado e
incapaz de ajuda-la.
Por isso ela mandou uma mensagem para a pessoa que sabia, desde o início,
que teria equilíbrio para ajuda-la naquele momento.
"Sua afilhada está vindo ao mundo. Por favor, vá para a clínica, eu preciso
de você... Mane está pirando".
Anahí recebeu a mensagem rindo. Como ela ainda não tinha se mudado,
pediu a Christian que ficasse com Missy, que ainda dormia, se trocou e
seguiu para encontro de sua melhor amiga. Ao chegar na clínica que Maite
tinha escolhido para o nascimento da filha, o cenário não estava nada
diferente do que a morena descreveu. Mane tinha perdido totalmente o
controle e criara uma imensa paranoia acreditando que a filha e a namorada
corriam perigo e que eles deveriam ir para um hospital. Anahí rapidamente
notou que ele estava mais estressado que a própria Maite, que era quem
estava em trabalho de parto, e que as chances daquilo dar errado eram
gigantescas.
— Obrigada, eu sei que você faria isso, sempre soube – ela mordeu os
lábios nervosa – Mas eu queria muito poder quebrar a mão dele também.
— Olhe, eu posso entrar com ela naquela banheira, posso dar todo o apoio
do mundo porque eu sei que consigo, mas não sou eu que ela quer que faça
isso com ela, não é a minha mão que ela quer segurar – Anahí disse
encarando-o, vendo a expressão de tortura no rosto de Mane – É você. E eu
acho que você não vai se perdoar se não fizer isso com ela e perder isso.
— Eu tenho medo – ele admitiu – Eu não gostei dessa ideia de ter o bebê
aqui desde o início. E se algo acontecer...?
— Tem profissionais aqui prontas pra resolver qualquer coisa caso algo
aconteça – Anahí lembrou – O que ela precisa nesse momento é de
segurança. A segurança que só você pode dar.
Logo Anahí viu Mane abaixar a cabeça e respirar fundo três vezes. Quando
ele a levantou, sua expressão parecia mais contida, e foi dessa forma que ele
caminhou para dentro do quarto, tirando os sapatos, dobrando as mangas da
camisa e entrando na banheira, se ajeitando por trás dela e deixando o peso
de Maite cair sobre o seu. Foi com um imenso alívio que Maite reagiu,
sorrindo por tê-lo ali, ao lado dela, como ela queria desde o início.
— Desculpe a demora – ele beijou a testa dela – Vamos fazer isso juntos.
Beijos,
Rafa
Capítulo 82 - Don't you forget about me
— Se fosse grande não iria caber dentro da barriga da tia Mai – Missy
explicou sabichona.
— Vou pedir pro papai comprar um pra você – Daniel disse já saindo dali –
Ei papai...! Missy e eu podemos ganhar sabres de luz?
— Claro que ele iria pedir pra ganhar um também – Samantha revirou os
olhos.
Naquela tarde em que Luna já tinha três semanas de idade, Poncho e Sophia
foram juntos levar os filhos para conhecer o bebê. Sophia estava
propiciando uma aproximação de Samantha com a ideia de que teria o
irmão por perto em poucos meses, para que ela começasse a se acostumar
com aquilo. E dentro do conceito de filhos, para Poncho, agora Missy se
encaixava. Ele já tinha começado os trâmites para adotar a menina, agora
faltava apenas a parte burocrática, mas ela já o chamava abertamente de pai
e, por mais surpreendente que pudesse parecer, Daniel estava levando
aquilo com uma tranquilidade que nenhum deles era capaz de esperar.
Sophia e Poncho não eram os únicos que estavam ali, Christian também
tinha ido e agora os cinco amigos – eles três, somados a Mane e Maite –
conversavam sentados na sala enquanto as crianças brincavam e
confabulavam em frente ao berço de Luna.
— O interessante é que eu tenho duas mães, mas quando Maite fala minha
sogra num contexto astrológico, todos sabem exatamente quem é – Mane
comentou rindo.
— Ninguém pode culpar a dona Jade, Deus sabe o quanto ela esperou pro
vocês dois juntos e além de tudo tendo filhos – Christian ponderou, e
ninguém foi capaz de retrucar.
— Sim, porque aí eu serei Luke e ela a Leia – Daniel explicou – Eles são
irmãos.
— Mas Leia não é Jedi – Mane observou olhando para o menino, que
revirou os olhos em resposta, enfezado.
— Vim buscar minha cria e aproveitar pra dar uma mordida na bochecha da
afilhada mais linda do mundo – Anahí rapidamente explicou justificando a
própria presença. Ela não queria que os amigos pensassem que estava ali
para aproveitar uma mera desculpa para encontrar Poncho, embora aquilo
sempre parecesse uma grata surpresa.
No fim Anahí não foi a única que a seguiu, Sophia foi com elas. As crianças
foram para a sala para que Maite tivesse tranquilidade para amamentar
Luna – e tranquilidade não era a palavra exata de como o ambiente ficava
quando Samantha, Daniel e Missy se juntavam. A morena então pegou o
bebê do berço e a levou para o seu quarto, sentando-se numa poltrona de
amamentação. As amigas estavam ao seu redor.
— Eu não sei Soph, vai depender de uma das avós poderem ficar com a
Luna e eu estar no clima no dia, cada dia é um dia quando se tem um bebê
recém-nascido – Maite fez uma careta.
— Ei, não seja tão dura consigo mesma – Sophia respondeu – A sua vida ta
seguindo caminhos maravilhosos, você teve uma segunda chance.
— Olhe, façamos assim, vamos todas pra essa festa – Maite decidiu – Eu
dou o meu jeito, quer dizer... eu tenho uma mãe, duas sogras e uma
cunhada, alguém tem que estar livre pra ficar com a Luna. Eu vou e fico por
duas horas que seja e fuzilo quem ousar olhar torto pra minha melhor
amiga.
No fim, Anahí não teve como negar aquele pedido das amigas. Elas
estavam realmente empolgadas com aquela festa. Ela acabou se dando
conta que talvez estivesse certa e todas as pessoas a olhariam de maneira
estranha, mas ao mesmo tempo, quem sabe Anahí sequer perceberia isso.
Afinal, ela teria todos os amigos à sua volta. Havia grandes chances de ela
sequer perceber o resto do mundo.
— Eu sei disso – ela ressaltou – Mas isso não muda nada Any. A morte da
Torrey foi uma fatalidade, mas... o Chad... ainda dói.
— Sempre vai doer – Anahí segurou a mão dela. Ela entendia – Por melhor
que você esteja, uma hora ou outra você vai lembrar e vai doer. Isso marca a
gente.
— Me sinto até estúpida por sofrer tanto assim por algo que eu nem me
lembro quando você viveu muito mais e por muito mais tempo – Sophia
abaixou a cabeça, mas logo Anahí negou, reprovando suas palavras.
— Cada dor é uma dor, você viveu uma violência tal como a minha, de
maneira alguma eu vou deixar que você diminua isso – Anahí suspirou.
— Queria poder fazer mais por você Soph – Maite mordeu os lábios.
Logo Maite se deu conta que Luna terminara de mamar e entregou a menina
para Anahí coloca-la para arrotar. Anahí ficou em pé com a afilhada
encostada em sua roupa, sorrindo para ela, mas seus pensamentos estavam
longe. Maite e Sophia sussurravam como ela ficava bem com um bebê nos
braços, divagando sobre quando Anahí seria mãe novamente, mas a própria
sequer as ouvia. Ela estava novamente se perguntando se não havia alguma
maneira que ela não tinha pensado de Chad ser incriminado. O único
problema é que ela não conseguia pensar em nada.
A forma natural como Anahí raciocinava era comparando o seu caso com o
de Sophia. O problema é que Tobias havia sido preso em flagrante quando
ela foi encontrada, sobravam provas dos estupros e das agressões que ele
havia perpetrado contra Anahí. Com Sophia era totalmente diferente, já que
ela não ter feito um exame de corpo de delito na manhã seguinte fez com
que tudo naufragasse. Como a polícia apontou exatamente aquela falha,
duvidando da veracidade das acusações dela, as opções ficavam escassas.
Nem mesmo Marina tinha conseguido pensar numa alternativa, e se Marina
não tinha tido nenhuma ideia, quem poderia ter...?
Aquela mulher era advogada, era experiente e queria militar naquela causa.
Ela poderia pensar em algo. Talvez não, mas... talvez sim. A esperança
estava acesa e Anahí não estava disposta a desistir.
Por isso, assim que colocou Luna de volta ao berço, Anahí pegou o cartão
de Joy que ainda estava em sua bolsa e digitou uma mensagem para ela.
"Aqui é Anahí. Estou mandando essa mensagem porque tenho uma amiga
que sofreu um estupro mas não tem meios de provar. Ela está
completamente desesperançosa porque a polícia não quis sequer registrar
a ocorrência. Ela não fez o corpo de delito. Eu sei que é difícil, mas eu
gostaria de ajuda-la. E se você puder me ajudar com isso, eu te ajudo com
o que você quiser".
A mensagem parecia mais do que clara: se Joy encontrasse uma solução, ela
iria querer trabalhar com aquela mulher. Porque, se ela fizesse a diferença
na vida de Sophia, Anahí teria todo o prazer do mundo em querer aprender
com ela a fazer a diferença também na vida de muitas outras mulheres.
— Pode deixar, eu estou indo também – Anahí sorriu de volta quase que
automaticamente. Vê-lo olhando-a daquela forma a fazia querer sorrir.
— Não precisa...
— Isso me lembra que ela me perguntou porque eu não dirigia, disse que
todos os pais dirigem menos eu – Anahí lembrou – Eu acho que, se parasse
na frente do volante, sequer saberia tirar o carro do lugar...
— Você sabe que, a hora que quiser voltar a dirigir, tem um professor
totalmente à sua disposição – ele deu de ombros, deixando um tanto claro
de quem falava.
— Sim, eu sei.
— É claro que sim – Poncho disse óbvio – Ela é minha filha, vai andar
comigo sempre, e precisa estar segura.
Anahí perdeu completamente a fala. Era realmente óbvio, mas isso não a
deixava menos perplexa.
— Criança tem que andar na cadeirinha tia, o papai sempre diz – o menino
comentou com o pai pegando-o nos braços para coloca-lo na própria cadeira
– Você não sabia?
— Mamãe não dirige – Missy explicou – Por isso ela não sabe.
— Eu não dirijo mas eu sabia disso – Anahí fez uma careta imensa.
xxx
Era para ser mais uma manhã rotineira se Diana não tivesse lhe enviado
uma mensagem para ele pedindo que fosse até a Planet logo cedo. Poncho
não sabia do que se tratava, mas considerando que tinha entregue a versão
impressa de Somente você e eu para Diana após Erika terminar a revisão,
provavelmente era algo relacionado ao lançamento. Poncho estava ansioso
com aquele livro em especial, até porque a primeira leitura tradicionalmente
ocorria em Nova York e ele sabia que a imprensa estaria presente e que
haveria perguntas, quem sabe sobre Anahí também, dos leitores inclusive.
Ele precisava se preparar.
Por isso, assim que Poncho deixou Daniel na escola, seguiu direto para a
editora. Sabia que Diana começava a trabalhar cedo e lá estava ela, na
própria sala, com uma pilha de manuscritos sobre a mesa que ela enrolava
pra ler. Poncho entrou sem pedir licença como costumava fazer, quando se
deu conta que ela estava no telefone em meio a uma conversa um pouco
particular.
— Sim, recebi as flores, adorei – a voz dela saía suave. Diana estava de
costas para a porta, sem perceber que Poncho já estava ali. Ele, por sua vez,
via o bonito buquê de rosas vermelhas sobre a mesa dela – É claro que
podemos repetir, é só marcarmos.
— Ele vai reagir bem, ainda mais quando ver esse sorriso no seu rosto –
Poncho constatou feliz, vendo-a se soltar depois do comentário.
— A capa do livro – Diana disse entregando uma pasta que, tão logo
Poncho abriu, viu a arte impressa pronta – Basta que você aprove.
— Ótimo, gosto que você não cria muito caso, porque o Ron Mitchel... –
Diana revirou os olhos se referindo a outro escritor que ela agenciava.
— Continua um porre?
— Que bom, porque ela ficou tão animada com a possibilidade que eu
detestaria decepciona-la.
Poncho saiu minutos antes de Erika entrar animada. Pela simples expressão
de êxtase de sua funcionária, Diana já sabia o que ela pensava.
— Pode deixar boss! – a moça disse, mas antes dela sair, Diana queria pedir
algo mais.
Não era preciso pensar muito para saber quem era essa leitora.
xxx
Logo ela pensou que Missy poderia ser a desculpa perfeita para não ir,
embora se sentisse levemente culpada por usar a filha daquela forma. Mas
se decepcionou ao se dar conta que Karen já tinha sido avisada por Maite
daquele evento e que as avós iriam se reunir para ficarem juntas naquela
noite – Olivia, Victoria, Jade, Priscila e ela tinham marcado juntas e as
crianças ficariam sobre sua responsabilidade, Daniel inclusive.
Por isso Anahí se viu de frente para o espelho, com um bonito vestido azul
marinho, pensando no quanto gostaria de escapar daquela situação mas sem
conseguir ver qualquer alternativa. Missy, por sua vez, também estava
arrumada e Karen esperava ambas na sala. A menina entrou no quarto da
mãe empolgada e os olhinhos brilharam ao ver Anahí pronta.
— Você ta tão bonita – Missy disse abraçando-a pela cintura – O papai vai
babar quando te ver.
— Ele gosta de você – Missy insistiu. Ela claramente torcia para que os
dois se acertassem – E você gosta dele. Por que vocês não voltam a
namorar...?
— Como eu não posso fugir... – Anahí deu de ombros, vendo uma careta
imensa se formar nos rostos de sua mãe e sua filha.
De seu grupo de amigos, Anahí foi das últimas a chegarem. Além dela,
faltavam apenas Mane e Maite – cuja rotina um pouco mais complicada que
a dos demais, o que justificava o atraso – e Poncho. Lexie já estava ali, com
uma taça de champagne, conversando com Christian, Sophia e Jesse quando
ela entrou. Anahí observou a decoração do local, o evento era realizado no
ginásio do colégio com a decoração típica de um baile escolar e uma
enorme faixa escrito "bem vinda classe de 2005". Tudo aquilo dava uma
enorme sensação de dèja vu.
— Dá pra acreditar que se passaram treze anos desde que Maite foi coroada
rainha do baile nesse mesmo ginásio...? – Christian comentou negando com
a cabeça estendendo uma taça para Anahí que tinha acabado de chegar.
— Parece que foi outra vida – Anahí respondeu sorrindo pegando a taça e
bebendo. Ela precisaria beber muito para enfrentar aquela noite um tanto
nostálgica.
— Que está aqui com uma cara de caminhoneiro e não para de olhar pra
você – Lexie comentou – O tempo foi muito cruel com ele.
— Ele não para de olhar para ela...? – Jesse ergueu a sobrancelha ciumento.
— Ai Jesse pelo amor de Deus, você não ouviu a Lexie falando que o cara
ta tosco e barrigudo...? – Christian fez uma careta de deboche – Não tem
por que ter crise de ciuminho.
— É inacreditável, aquele garoto era gostoso aos dezessete anos – Lexie
comentou em indignada.
— Bom, tem alguns outros que continuam tão gostosos quanto eram aos
dezessete... – Lexie disse olhando para um homem que andava na direção
deles.
Ryan Gosling havia sido a primeira paixão de Anahí. Foi com ele que, aos
quinze anos, ela dera o primeiro beijo. Ryan não tinha perdido o charme e a
sedução, ela percebeu quando se virou. Diferentemente do ex-namorado de
Sophia, Matt Willians, Ryan tinha envelhecido bem e estava tão bonito
quanto antes, só que de uma forma madura. Ele vestia um terno bem
alinhado e seus olhos claros pareciam tão fixos nela quanto tinham sido
dezesseis anos antes.
— Ryan Gosling – Anahí disse abrindo um sorriso surpreso. Por trás dela os
quatro amigos se entreolharam – Que surpresa.
— Surpreso estou eu de ver você aqui, eu não tinha visto o seu nome na
lista de confirmações – ele disse se aproximando e dando um carinhoso
beijo na bochecha dela.
— Acho que temos quinze anos de assunto pra colocar em dia – Ryan
comentou com o olhar fixo nela – Você aceita uma bebida? Quer dizer...
outra bebida?
Mas agora ela e Poncho não estavam mais juntos. Ryan Gosling, que fora
um dos organizadores daquele evento, provavelmente sabia disso. E na
ausência de Poncho, ele estava tentando a todo custo marcar pontos e
ganhar terreno.
— Pare com isso, Ryan não tem a menor chance com ela – Sophia negou
com a cabeça.
— Isso não vai fazer com que Poncho deixe de sentir ciúme quando chegar
– Jesse comentou.
— Ah, realmente, porque se você está com ciúmes do Matt Willians com
aquela barriga de cerveja tosca, o que diremos do Poncho quando ver o
crush da adolescência da Anahí todo gostoso e conservado desse jeito...?
~
Ahhhhh quando o Poncho chegar nessa festa... hahahahahahaha.
Beijos,
Rafa
Capítulo 83 - Shallow
Maite e Mane chegaram não tanto tempo assim depois de Anahí, de forma
que Poncho seria o último do grupo. A morena esperava que os últimos
fossem eles, já que colocar Luna para dormir, tirar leite e, por fim, se
arrumar foram tarefas que exigiram muito tempo. Mas mesmo assim, não
foram – Poncho ainda não estava lá quando os dois entraram. Maite
obviamente já adentrou no ginásio olhando para os lados procurando os
amigos, mas a primeira visão que teve não foi algo que lhe agradou.
Por sua vez, a morena nunca gostou de Ryan. Ele era o contrário de Poncho,
o garoto popular com estilo bad boy, e Maite tinha certeza de que ele
acabaria magoando Anahí. Ela, que nunca tinha sido o tipo de garota que
sonhava com o príncipe encantado, contrariou as próprias convicções para
se envolver com aquele garoto. No final, deu tão errado quanto Maite
previu que daria, já que, diferentemente dela, Ryan não parecia disposto a
mudar seu próprio jeito para fazer funcionar entre eles.
Poncho, por outro lado, esperou pacientemente pela própria chance. Foi ele
quem secou cada lágrima daquela decepção amorosa de Anahí, ele que foi o
ombro amigo que a consolou naquilo tudo. Anahí não demorou a superar e,
meses depois, era a mesma garota que dizia que não sonhava com contos de
fadas. Tarde demais, porque ela não poderia imaginar que, com o amigo que
antes não enxergava daquela forma, começaria a viver um.
Quando Ryan se deu conta que suas pretensões estavam totalmente erradas,
ele não admitiu em voz alta, mas ficou se perguntando mentalmente até
entrar na faculdade o famoso e se: o que teria sido se ele não estragasse
tudo. É claro, os anos se passaram, ele se formou e começou uma carreira,
agora estava estável. Mas faltava algo. E talvez aquele algo estivesse numa
oportunidade perdida dezesseis anos antes. Quando ele viu Anahí sozinha,
sem Poncho, percebeu que havia uma chance. Dessa vez ele não estava
disposto a desperdiçar.
Mas Maite, que não gostava de Ryan aos quinze anos e definitivamente não
passaria a gostar aos trinta e um, não ficou nem um pouco feliz com aquela
cena. Antes que Mane pudesse processar o que sua namorada tinha visto
que a deixou furiosa, ela caminhou a passos largos e pesados na direção do
grupo de amigos.
— Bem que eu tentei coloca-la numa gaiola, mas Anahí era meio
grandinha, não iria caber – Christian disse em deboche, fazendo a morena
estreitar os olhos.
— Eu não acredito nisso, realmente não acredito!
— O que você acha que vai acontecer Mai? – Lexie perguntou calmamente,
sem se afetar – Eles são adultos, Ryan não é mais o garoto idiota que se
deixa levar...
— Espere o Poncho chegar e tudo vai se resolver – Jesse disse com toda a
segurança do mundo.
— Maite miga, pelo amor de Deus, confia nos sentimentos da sua melhor
amiga pelo mozão dela – Christian disse quase segurando a morena pelos
ombros – Jesse tem razão: quando o Poncho chegar, tudo vai se resolver.
Confia no universo.
Maite não era exatamente boa em confiar. Por isso ela ficou ali,
incomodada, com Mane abraçando-a por trás e sussurrando que ela deveria
relaxar, que nem parecia a mesma pessoa de um ano antes que jurava que
nunca mais olharia para a cara de Poncho. Pior que a morena nem poderia
se valer de uma taça de vinho para a noite ficar mais agradável, já que,
quando chegasse em casa, sua adorável filha de três semanas estaria
esperando-a para que a mãe a amamentasse...
Mas no fim, só haviam duas pessoas certas naquela roda e nenhuma delas
era Maite.
Ele estava atrasado porque Daniel estava com ele até Diana finalmente
chegar da editora. O menino, que inicialmente ficaria com Karen e o grupo
de avós, acabou mudando de ideia e insistindo em passar a noite com a
mãe, deixando o pai sem alternativa senão ficar com ele à espera de Diana.
Poncho só se arrumou quando a ex buscou o filho e, por isso, foi o último
dos amigos a chegar.
Ele obviamente não tinha grandes pretensões para aquela noite, apenas
pretendia se divertir com os amigos e ponto. Não esperava, ao entrar
naquele ginásio onde tinha acompanhado Anahí no baile de formatura treze
anos antes, pelo que estava prestes a acontecer.
Como uma bússola que encontra o seu norte, Anahí levantou a cabeça
quando Poncho entrou ali. Ele estava bonito, com um paletó azul marinho e
camisa branca com os primeiros botões abertos, atraente o bastante para
fazê-la deixar de ouvir o que Ryan dizia ao seu lado. De repente Anahí
percebeu que o momento vinha totalmente a calhar, tendo uma ideia que, ao
mesmo tempo que era genial, era perigosa. Mas ela não pensou em nada
naquele momento senão em coloca-la em prática, deletando as possíveis
consequências de sua cabeça antes que a consciência começasse a pesar.
— Então todos me disseram: você é o cara perfeito pra esse trab... – Ryan
falava quando foi prontamente interrompido por ela.
— Ir aonde?
— Logo ali – ela se virou para onde Poncho estava, mas a voz parecia firme
o suficiente para que fosse ouvida – Meu acompanhante chegou.
Afinal, se ela estava criando a farsa, não poderia culpa-lo por marcar
terreno daquela forma.
— Ryan, acho que você se lembra do meu namorado Alfonso – ela disse
sentindo a mão possessiva de Poncho toca-la com ainda mais tato, lutando
para não fechar os olhos com a pegada dele.
— Achou errado – ele retrucou – Se nos der licença, nós vamos encontrar
os nossos amigos.
— Me expliquem isso agora porque eu não entendi – Lexie pediu rindo mas
viu os dois amigos dando de ombros, cada um por seu motivo, se
esquivando de qualquer explicação.
— Não tem nada pra ser explicado – Anahí desconversou, embora soubesse
que não seria tão fácil assim se livrar.
— Como assim não tem nada...? – Maite exclamou na mesma hora – Numa
hora você foge dele e na outra o beija no meio do ginásio pra todo mundo
ver?
— Deixem eles – Jesse ralhou com uma careta negando com a cabeça.
O único que entendeu a estratégia de Jesse foi Christian. Ele viu que Anahí
estava sem graça e que Poncho não tinha o que explicar, já que ele tinha
sido tão surpreendido com a atitude dela quanto todos os outros. Fazer
perguntas demais atrapalharia as coisas, forçaria Anahí a dizer que usara
Poncho para se livrar de Ryan e isso poderia magoa-lo. Quem sabe deixar
que tudo fluísse, que eles continuassem fingindo, fosse a melhor coisa para
aproxima-los.
— Lexie meu amor, já que o seu cirurgião plástico não está aqui hoje, você
me concede a honra dessa dança...? – ele disse estendendo a mão para a
amiga que era a única desacompanhada na roda.
— É claro que sim, eu amo essa música – Lexie segurou a mão dele, se
deixando levar para o centro sem pestanejar.
Restaram seis.
— Apenas porque você está pedindo – Maite fez uma careta indo para a
pista com ele.
— Depois daquele beijo, eu acho que você me deve essa dança – Poncho
disse estendendo a mão para ela, vendo Anahí sorrir, abaixar o olhar e, por
fim, segurar a mão dele, aceitando.
A decisão certa.
Ouça "Shalow" –
— Desculpe por ter te usado – Anahí disse sem encara-lo. Como não o via,
só notou a reação de Poncho ao ouvir a risada dele em seu ouvido.
— Inclusive acho que posso roubar um beijo também já que você começou
me usando.
I'm falling
In all the good times
I find myself longing for change
And in the bad times I fear myself
Antes que Anahí pudesse processar a frase dele, Poncho já a segurava pela
nuca e a beijava. Ela poderia reclamar, poderia dizer que ele não tinha
aquele direito. Poderia também apenas fingir para manter a farsa que ela
própria criou. Mas Anahí não fez nenhum dos dois. Ela apenas
correspondeu o beijo, não por teatro, mas porque queria beija-lo. Porque
gostava de ser beijada por ele.
Em volta dos dois, os amigos notaram o passo que tinha sido dado.
— Eles estão se beijando – Maite sussurrou no ouvido de Mane com um
imenso sorriso nos lábios.
— Viu? – ele respondeu – Luna, você não precisa fazer nada pra deixar
Anahí e Poncho juntos. Eles sempre encontram o caminho de volta
sozinhos.
— Deixe com eles dessa vez – Mane recomendou – Dessa vez vai ser
diferente, confie.
— Faz quase treze anos que nós dançamos juntos nesse ginásio, naquele
último baile do colegial, eu não sei se você lembra... – Poncho disse com a
testa encostada na dela vendo, por sua expressão, que Anahí se lembrava
sim. Se lembrava muito bem – Eu estava morrendo de medo porque iríamos
pra faculdade e eu achava que você poderia conhecer outro cara, se dar
conta que nós não éramos tanto assim, ou da distância acabar sendo
demais...
I'm falling
In all the good times
I find myself longing for change
And in the bad times I fear myself
— Faz nove anos desde a última vez que nós dois tivemos tudo tão
favorável a nós dois – Poncho continuou – As coisas mudaram muito de lá
pra cá. Naquela época nós éramos totalmente livres, éramos somente você e
eu, sem traumas, sem filhos, sem o peso dessa história toda que aconteceria.
Você ainda ta machucada, embora esteja se reerguendo, e hoje nós temos
duas crianças que dependem totalmente de nós dois.
— Mas eu não gosto de me comparar com o pior e você sabe disso – ele
completou – Então prefiro pensar em como estávamos há alguns meses
atrás, quando você terminou comigo. Tobias ainda não havia sido
condenado e nós não sabíamos se ele seria. O Dani não nos aceitava de jeito
algum. A Missy tinha acabado de reaparecer, tudo estava uma verdadeira
bagunça.
I'm off the deep end, watch as I dive in
I'll never meet the ground
Crash through the surface
Where they can't hurt us
We're far from the shallow now
— Mas como eu posso ter certeza que você mudou? – ela questionou –
Como eu posso me entregar sem acreditar que você vai me machucar de
novo?
— Você não tem como saber meu amor – Poncho segurou o rosto dela com
delicadeza enquanto os dois ainda se balançavam com aquela música –
Nem eu tenho como saber. A nossa única chance é arriscar. É confiar. Com
a certeza de que, se você quiser pular nisso comigo, eu vou passar cada dia
da minha vida tentando te provar que valeu a pena.
Forte.
— To nervosa pensando que ela deve estar chorando com fome, mesmo
sabendo que tirei leite antes de sair – ela deu de ombros.
— Eu acho que vou também – Anahí disse se levantando, mas viu a amiga
negar para ela.
— Você tem que ir com ele – Maite apontou para Poncho, que franziu a
testa – Nem venham com essas caras, vocês criaram teatrinho pro Ryan
Gosling e ele ainda está olhando, têm que ir até o final agora.
— Vamos fingir que você não está aproveitando essa história toda pra estar
próximo dela – Jesse comentou num sussurro.
— Eu sempre achei isso meio machista sabe – ela resmungou fazendo uma
careta – Te disse isso há mais de uma década.
— Pare de reclamar.
— Eu quero que você pense sobre nós dois até lá e tente se decidir –
Poncho propôs – Quero que você vá se tiver uma resposta positiva pra mim.
Se você me quiser, eu quero você lá comigo, naquela tarde de autógrafos.
Eu quero que esse livro se torne um best seller contigo do meu lado,
abrindo um champagne para comemorar.
Poncho sabia que ela poderia não chegar à conclusão alguma, como
também poderia simplesmente não aparecer. Mas ele precisava de uma
resposta, de uma definitiva. E iria esperar.
Acho que não preciso dizer que estamos realmente na cara do gol, né? Esse
cap foi todo pra deixar os nossos protagonistas bemmmm juntinhos e o
Poncho dando esse ultimato no final e deixando na mão da nossa mocinha
essa decisão final. Boooora Anahi que a hora é essa!!!
Beijos,
Rafa
Capítulo 84 - Pages of a book
A menina estava mais animada do que ela. Anahí estava nostálgica. Ir para
aquele novo lugar a fazia se sentir ainda mais balançada sobre a proposta de
Poncho, porque aquelas quatro paredes a lembravam mais do que deveriam
de seu ex-namorado. Aquele apartamento trazia as lembranças do
relacionamento deles, dos dois meses que os dois viveram juntos antes da
vida dela ser interrompida. Pelo visto, aquele era o recomeço.
Dois dias antes da mudança efetiva, Christian e Keith tinham pintado todo o
apartamento. O quarto de Missy era verde-claro e tinha a maior variedade
possível de brinquedos, que iam de princesas a carrinhos, passando, é claro,
por pelúcias de jedis. O de Anahí era mais sóbrio, a decoração tinha o estilo
dela em toda a casa. Era um apartamento médio, confortável e terrivelmente
agradável. Mas é claro que faltava algo. Faltava alguém.
O problema não era saber o que queria, isso Anahí sabia perfeitamente bem.
O problema estava em decidir se valia a pena arriscar.
E uma pequena voz dentro da cabeça dela já tinha essa resposta. Ela apenas
não estava convencida.
— Claro que não, é um idiota do colegial com quem sua filha trocou uns
beijos – a careta de Christian aumentou.
— Ah, é claro que sim – Karen disse se lembrando – Nossa, eu nunca mais
ouvi falar desse garoto.
— Sorry – Christian disse com cara de falsa culpa quando a menina saiu.
— Ela é só uma criança – Anahí disse entre os dentes – Não tem que ficar
criando expectativas de coisas que não sabemos se vão acontecer.
Antes que Anahí pudesse dar uma resposta malcriada típica de irmã mais
velha, Keith interviu.
— Se eu que conheço pouco torço por ele, imagine vocês – Harry palpitou.
Anahí estava escarlate àquela altura.
No final do dia ela estava cansada, por isso apenas tomou um banho e
apagou na própria cama, com Missy ao seu lado. Ela sabia que seria assim
no início, que, até a filha se acostumar com o novo ambiente, certamente
ficaria colada nela. Não que Anahí se incomodasse, é claro.
No dia seguinte ela acordou com o celular vibrando na mesa de cabeceira
pelo despertador. Já tinha amanhecido, mais cedo do que Anahí poderia
esperar. Por isso ela começou a acordar Missy, se sentou na cama bocejando
e pegando o aparelho para desativar aquela barulheira, quando viu que uma
série de mensagens haviam chegado durante a noite. Como Anahí estava
cansada e dormira cedo, só as via agora.
"Já sei como podemos ajudar a sua amiga. É relativamente simples, pouco
convencional e arriscado. Almoçamos juntas? Leve-a também, assim eu
convenço as duas de uma vez. J"
O coração de Anahí estava acelerado. Ela mal podia acreditar que Joy tinha
pensado numa solução para o problema de Sophia.
E estava marcado.
xxx
Sophia não sabia aonde Anahí a levaria. Anahí sabia que, se dissesse de
cara, havia grandes chances da amiga tentar fugir. Afinal, aquele assunto
também causaria arrepios a Anahí. Mas elas não poderiam desperdiçar
aquela chance. Afinal, Sophia precisava do gás que a perspectiva de Chad
ser punido poderia causar.
Por isso, Anahí deixou a amiga acreditar que elas iriam se encontrar apenas
para um almoço convencional. Quando Sophia desceu do táxi e percebeu
que elas estavam indo para um restaurante italiano, sorriu em resposta. Mais
parecia que Anahí tinha adivinhado seus pensamentos.
— Eu devo isso a você – Anahí segurou a mão dela e a apertou – Não acho
justo que eu seja a única a colocar um estuprador na cadeia. Marina fez tudo
aquilo por mim, agora Joy e eu faremos por você.
Anahí sabia que aquela frase tinha o seu impacto e valia muito. Sophia
estava insegura, mas não fugiu. Joy já estava à espera delas, em uma mesa
olhando o cardápio e bebericando uma taça de vinho tinto. Como era Anahí
quem a conhecia, ela quem conduziu a amiga até a mesa onde a advogada
as esperava.
— Olá Anahí – Joy disse cumprimentando a nova amiga, mas suas atenções
se focavam mesmo na mulher que a acompanhava, e desde já estendeu a
mão para cumprimenta-la – Você deve ser Sophia. Bethany Joy Lenz. Mas
me chame de Joy.
— Se sentem, por favor – ela disse abrindo espaço para as duas – Ei,
garçom, mais dois cardápios, por favor.
Joy estava animada, Anahí já tinha percebido por aí que ela realmente
pensou em uma alternativa, do contrário não sentiria aquela empolgação
toda. Obviamente Anahí não fazia ideia de qual tinha sido aquela ideia
mágica, mas via que Joy parecia apenas esperar que elas fizessem os
pedidos para desatar a falar. Por isso não fez grandes rodeios, escolhendo
rapidamente uma massa e vendo Sophia pedir pelo canelone que tanto
ansiava. Assim que o garçom recolheu os cardápios após anotar os pedidos
e colocou uma segunda taça para servir Anahí do mesmo vinho que Joy já
bebia, ela começou a falar.
— Sim, ela disse – Sophia respondeu com o olhar baixo, lhe queimava de
vergonha pensar que mais uma pessoa havia se inteirado da violência que
ela vivera – Eu quero que você saiba que eu tenho plena ciência do quanto
errei nessa história. Eu nunca deveria ter deixado...
— Querida, e eu quero deixar claro que não vou deixar nem por um
segundo que você se culpe por nada, de forma alguma – Joy sorriu capciosa
– Não quando você é a potencial primeira cliente do nosso escritório de
advocacia.
Ela havia dito a Joy que se juntaria a ela naquela empreitada caso o
problema de Sophia fosse resolvido. Não era um acordo, era sua vontade.
Mas Joy ainda não tinha dito como fariam, como solucionariam. Pelo visto,
ela era realmente confiante em si própria para já dizer, de antemão, que a
convenceria.
— Exato – Joy confirmou – Por conta disso não temos vias jurídicas,
porque simplesmente entrar com uma ação contra ele me parece inviável. A
promotoria, por mais feminista que a vertente da Emily Byrne seja, não
teria um terreno seguro o suficiente para sustentar uma tese. A defesa faria
frangalhos até mesmo da Byrne.
— Por outro lado, é sua única chance – Joy prosseguiu – A única chance
dele pagar.
— Você vai fazer uma postagem numa rede social contando a sua história.
Contando o seu estupro – Joy revelou – E dizendo que Chad te dopou, te
estuprou e te manipulou.
Obviamente Sophia mal respirou. A própria Anahí, que era uma pessoa
completamente linear, parecia ligeiramente congelada. Era interessante que,
de formas diferentes, ambas pareciam expressar um não quase tatuado no
rosto. Aquela ideia parecia completamente absurda, incabível, impensável.
Anahí apertava a ponte do nariz, nervosa com a situação, enquanto via
Sophia parecer torturada com aquela hipótese, obviamente enumerando na
cabeça a quantidade de problemas que aquela escolha lhe acarretaria, as
consequências, uma repercussão negativa... tudo.
Porém...
Joy, mais uma vez, não tinha se movido um centímetro. Acabara de propor
algo que poderia ser considerado o maior dos absurdos e não parecia se
afetar nem um pouco.
— Minha querida, você acha que uma acusação formal de estupro não iria
te expor? Não iria expor a sua filha, a sua família...? – Joy novamente
parecia muito segura – Você acha que, cedo ou tarde, não vai ter que se
sentar com os seus filhos e conversar com eles a respeito?
— Mas dessa forma qualquer pessoa pode olhar pra cara da Samantha e
dizer sobre o que eu andei escrevendo – Sophia retrucou claramente
nervosa.
— Nós estamos falando de construir um mundo mais seguro pra ela, pras
outras meninas, pra você também – Joy observou – É a única forma dele ser
punido, e nós não podemos deixar essa violência passar impune.
— Exatamente por isso você precisa fazer essa postagem – Joy foi incisiva
daquela vez – Você precisa jogar com as armas que têm, que são poucas.
Precisa evitar que a história recomece, que ele faça tudo de novo. Pense em
outra mulher passando pelo que você passou, em outra mulher acordando
após ser violentada, se culpando, se questionando e se explicando. Está nas
suas mãos interromper esse ciclo.
— E como você pode ter tanta certeza de que isso vai dar certo...? – Sophia
questionou pela milésima vez, mas Joy não parecia cansada de rebater todas
aquelas dúvidas. Ela provavelmente já estava acostumada a situações como
aquela, nas quais tinha que convencer alguém a fazer o que ela acreditava
que era o melhor.
— Porque você não seria a primeira numa situação dessas – ela garantiu –
Sophia, se a primeira mulher não tivesse tido coragem, Harvey Weinstein
jamais teria sido preso. Não havia prova alguma, o cara assediou e estuprou
várias mulheres durante trinta anos e um dia elas se uniram e viraram o
jogo. As coisas são assim, se as mulheres não se unirem, nada irá mudar.
Você precisa ter voz para interromper esse ciclo e evitar que outras como
você sejam estupradas por ele ou por tantos outros.
— Essa parte você deixa comigo – Joy respondeu – Você faz a postagem,
com uma foto apropriada que iremos tirar com todo o cuidado, e do resto eu
cuido.
De certa forma, com Joy falando tudo aquilo e ainda por cima daquela
forma, Anahí percebeu o quanto ela era persuasiva e sabia convencer
alguém a fazer o que ela queria que fosse feito. Joy tinha razão: aquela era a
única chance de Sophia e, por mais arriscado que pudesse parecer, era a
forma certa de seguir com aquela história. Mas não apenas naquilo: Joy
acertara também ao dizer que Anahí teria muito o que aprender com ela
naquele novo escritório.
Embora ela não dissesse, ainda não estivesse pronta para admitir, ela não
precisava mais que Sophia concordasse com aquilo para aceitar a proposta.
Mas, após o canelone da amiga ser servido e ela refletir sobre os riscos, a
oferta e o próprio medo, pesando-os com o medo de quem seria próxima –
sobretudo a possibilidade de, um dia, Samantha vir a ser a próxima – ela
tomou uma decisão.
Nunca mais.
xxx
Anahí voltou para casa totalmente energizada, de uma forma que apenas as
reuniões no My sister's place conseguiam deixa-la. Ela não parava de
pensar em todos os pontos da conversa, até deixou seu celular com Missy
para que a menina jogasse o jogo que gostava e ela conseguisse ficar com a
mente tão avoada quanto sabia que seria. Por sorte sua filha era uma criança
quieta e não falava o tempo inteiro, de forma que Missy se distraiu e ela
também, não parando de pensar no quanto tinha sido incrível ouvi-la
convencer Sophia de seu ponto, que no início parecia completamente
absurdo, mas ao final, nem tanto.
A verdade é que, no fim, Anahí nem se lembrava mais que aquela não
parecia ser uma boa ideia. Pelo contrário, ela só conseguia pensar que Joy
tinha chegado à única forma de solucionar o problema de Sophia, e se
sentia feliz pela amiga ter decidido aceitar seguir com aquele plano.
Será que era um final feliz? Ao menos naquelas páginas eles mereciam
isso... mas a questão era: somente nas páginas?
— Eu leio antes pra saber se pode – Anahí respondeu, lutando para não
ficar avermelhada ao imaginar a quantidade de cenas de sexo reais entre ela
e Poncho que foram para aquelas páginas – É livro de adulto.
E de fato, foi. Ela deixou o livro em cima de sua mesa de cabeceira e foi
cozinhar, preparando o jantar enquanto Missy tomava banho e, depois,
assistia um filme da Disney na TV. As duas jantaram juntas na pequena
mesa que havia ali e depois Anahí voltou para a sala, vendo a menina
assistir o filme e fingindo prestar atenção, embora seus pensamentos
estivessem novamente longe dali, dessa vez não em Joy, em Sophia e em
seu futuro profissional, mas nas páginas que a esperavam, escritas pelas
palavras do homem que a amava.
Naquele livro eles não eram Anahí e Alfonso, por óbvio, e sim Jacob e
Emma. Ele, um aspirante a escritor; ela, uma mulher que queria mudar o
mundo e deixar nele sua marca. Emma havia sido tirada de Jacob
exatamente como Anahí fora tirada de Poncho e, oito anos depois, a vida
tratou de recoloca-los no mesmo caminho. A vida dele tinha mudado, ele
agora tinha um filho, uma família e, sobretudo, um sentimento de culpa. A
culpa por não ter esperado por ela, por ter passado junto com o tempo.
Culpa pela dor que ela viveu enquanto ele sorria, mesmo que, naquela
história toda, também houvessem mais lágrimas do que deveria em uma
história de amor.
O livro começava com a volta dela, mas, após o reencontro, surgia como
um flashback para mostrar a vida de Jacob durante aqueles oito anos. A
descoberta que ela tinha sumido. As noites em claro, sob lágrimas. O
primeiro Natal, o primeiro Ano Novo, as datas que ela tanto gostava.
Quando ele encontrou na escrita um refúgio. Quando conheceu Deb, que
era a versão fictícia de Diana. Novamente, culpa por acabar seguindo em
frente, culpa por estar feliz com a chegada de um filho que não era dela.
Culpa por achar que estava traindo Emma com Deb e Deb com Emma.
E os anos se passando, dois, três, cinco, oito anos. Na noite anterior à volta
dela, um jantar com um casal de amigos, uma conversa que o fazia se
lembrar dela. Exatamente uma noite... e o sentimento ainda era o mesmo,
atônito. Aí começava a parte da história que Anahí conhecia: o reencontro,
o beijo no hospital, quando ela soube que ele agora era casado, a lembrança
dela de que eles tinham perdido um filho, a decisão de tentarem ser amigos,
ela seguindo em frente com Milo – que ali era Victor – tudo dando errado, a
separação dele, a volta dos dois, o sexo em Vermont, o filho dele que surgiu
no caminho, a descoberta sobre Missy, a nova separação, o julgamento,
Milo novamente... e ali estavam.
Mas não era aquela parte que Anahí queria saber, era o final. Porque o
presente ela conhecia, mas queria saber do futuro do pretérito: o desejo, a
torcida, o final feliz que ele projetou para os dois. Por isso ela comeu as
páginas na leitura, atenta e afoita para chegar na parte que não conhecia.
E aos poucos ela foi encontrando páginas que não eram reais, e a cada
página eles seguiam não estando juntos. Viviam como amigos, bons
amigos, mesmo sendo daqueles que trocavam olhares furtivos. Amigos que
agora eram pais da mesma filha, filha essa que crescia, sempre na espera
dos pais interromperem a distância e darem fim nela, ficando juntos
novamente. Só que não acontecia. Eram páginas que se tornavam mais
páginas. E nelas, eram dias que viravam semanas, que viravam meses, que
viravam anos.
Dez anos.
Emma responde.
EU SEI que vcs acharam que o lançamento do livro seria nesse capítulo.
Inicialmente de fato seria, só que acabou ficando grande demais e aí
adivinhem? Eu achei melhor colocar logo tudo no 85 de uma vez, assim não
vai ter o famoso "parar na melhor parte".
E queria agradecer - como já fiz no twitter - pelas 100K views e 12K votos.
Meninas realizadas!!!
Beijos,
Rafa
Capítulo 85 - Fire to the rain
Alfonso Herrera sequer parecia o homem que estava para lançar um livro
que era cotado para ser seu mais novo best seller. Somente você e eu já tinha
a pré-venda esgotada e os exemplares físicos que tinham chegado à livraria
provavelmente esgotariam naquele mesmo dia, a julgar pela fila lá fora.
Mas não era a primeira tarde de autógrafos daquela nova obra que o deixava
nervoso.
— Algo me diz que não é por aquela fila lá fora que você ta nervoso desse
jeito – Diana cruzou os braços com ar de riso encarando o ex-marido.
Mas Diana sabia que não eram meras esperanças. Ela tinha feito, no dia
anterior, o livro chegar diretamente às mãos de Anahí. Só saíra da porta do
prédio dela – o endereço que Karen lhe dera – após o porteiro lhe garantir
que entregaria o pacote pessoalmente. Anahí era apaixonada demais por
Poncho para não se afetar por aquelas palavras, aquele livro. Afinal, Diana
tinha se afetado, ainda que de forma – e por motivos – totalmente
diferentes.
— Quer dizer que finalmente vou conhecer seu namorado? – Poncho sorriu
imensamente.
Quem era VIP ali tinha passagem direta, sem precisar enfrentar a fila. Mas
nenhum conhecido de Anahí estava controlando a entrada na Strand na hora
que ela chegou. Na verdade, quem estava na porta na hora que ela chegou
era um homem com aparência ranzinza que, a julgar pelo uniforme e
crachá, era funcionário da livraria. Ele não parecia muito feliz,
provavelmente não gostava de dias como aquele que o movimento era
maior que a média. Anahí percebeu que era justo com ele que ela teria que
falar.
O homem a olhou com todo o desdém que havia no corpo. Nada bom.
— Não exatamente, mas eu tenho certeza que as coisas vão se ajeitar assim
que ele e eu nos encontrarm...
— Pro final da fila moça – ele ordenou na mesma hora, fazendo Anahí
quase explicar.
Por que ela não havia pedido o número do celular de Diana ou de Erika?
Eram muitos porquês, nenhuma resposta e Anahí estava definitivamente
mal humorada. Demorou cerca de meia hora para a fila começar a andar e
tranquilamente havia mais de cem pessoas na frente dela. Bem que ela
pensou em começar a falar para todas aquelas pessoas quem ela era. "Sabe
aquela A da dedicatória? O nome dela continua com um 'nahí' e ela sou eu,
querem ver a minha identidade?", era provavelmente o que ela diria.
Do lado de dentro, Poncho estava desolado. É claro que, se fosse para ela
aparecer, na iminência do início dos autógrafos, já teria acontecido. Ele
realmente nutrira esperanças de que Anahí fosse, mas, pelo visto, não iria
acontecer. Frustração era pouco para o que ele sentia, Poncho se sentia em
cacos. Pelo visto aquela noite, aqueles beijos e o olhar, a dança, o clima que
se formou não tinham tido nela o mesmo efeito que nele. Ele não conseguia
entender como aquilo era possível, mas não havia como pensar diferente.
E o pior de tudo é que ele teria que autografar centenas daqueles livros
dedicados a ela. teria que responder a perguntas sobre o amor de Jacob por
Emma sem conseguir desvencilhar da grande verdade: que ele era Jacob,
mas sua Emma não havia ido ali.
Diana, por sua vez, estava desapontada. Ela tinha cuidado pessoalmente
para que Anahí recebesse um exemplar de Somente você e eu antes da
estreia. O suficiente para que ela fosse até ali, para que aquela história
finalmente tivesse o final feliz mais prorrogado de todos os tempos. Mas
agora não havia o que pensar, aquela sessão de autógrafos tinha que
começar.
Diana ria de uma leitora que, após pedir foto com Poncho, ficou parada ali
por vários minutos dizendo o quanto o livro dele a inspirava, percebendo
que na verdade ela queria dizer excitada. Viu o ex-marido parecer
desconcertado por aquele assédio todo e apenas abrir um sorriso amarelo e
entregar o exemplar, chamando o próximo da fila. Foi quando ela avistou
quando Anahí finalmente chegou à porta da Strand. Diana sorriu orgulhosa
de sua própria intuição, mesmo demorando ela sabia que Anahí iria e que
sua intuição estava realmente certa. Apenas se perguntou por que ela tinha
enfrentado toda aquela fila quando era a mais VIP de todas as pessoas
possíveis ali.
E de repente ela percebeu que não era a única pessoa que tinha notado a
presença de Anahí.
— O que você está fazendo? – perguntou quando viu Erika tirar o celular do
próprio bolso e estender, pronta para fotografar algo.
Diana bem que pensou em tirar Anahí daquela fila, chegou a fazer menção
a isso, mas Anahí, entendendo sua intenção, negou com a cabeça. Ela
continuou andando como se fosse uma pessoa qualquer, totalmente comum,
tal como os leitores dele. Notava que Poncho parecia distraído, mal olhava
para o rosto das pessoas – afinal, eram centenas – e provavelmente sequer
repararia que era ela. Mas pensando bem, aquilo viria a calhar. Afinal, as
melhores coisas da vida são aquelas inesperadas.
— Nome?
Era para ser mais um. Um John, uma Louise, uma Julie ou o Matthew
qualquer. Tanto que ele tinha o rosto abaixado, a caneta encostada no
exemplar, pronto para ouvir o nome e rapidamente escrevê-lo, assinar e
sorrir cordialmente como já fizera em todas as vezes anteriores. Mecânico.
Só que não foi.
Ele queria dizer tanto, queria dizer tudo. Sobretudo, perguntar... se estava
certo, se a presença dela ali realmente significava o que ele esperava. Que
era mais do que uma chance para os dois, se de fato era um sim. Mas não
havia tempo. Outras centenas de pessoas esperavam por trás dela e ele tinha
que atender uma a uma. Depois, haveria a leitura de trechos selecionados,
perguntas... muito pela frente. Mas pelo visto, embora não houvesse tempo
ali, haveria depois... todo o tempo do mundo, quem sabe.
Por isso Poncho percebeu que aqueles minutos deveriam ser simbólicos.
Por isso ele abriu o livro mas não autografou na página inicial que continha
o título, como vinha fazendo com todos os outros. Na verdade, Poncho
folheou até chegar na página da dedicatória, escrevendo uma mensagem
clara e concisa, que passava exatamente o que ele queria dizer. "Cada
palavra desse livro, a começar por essas, são absolutamente a verdade
sobre nós dois", ele colocou antes de autografar.
— Você tira uma foto comigo...? – ela perguntou com um ar de riso quase
zombeteiro como alguém que não o conhecia pessoalmente – É o primeiro
lançamento de livro seu que eu venho, meu primeiro livro autografado... eu
queria, não sei, registrar.
Na verdade, pena para o resto do mundo. Anahí não era todo mundo.
— Tudo registrado? – Diana sussurrou para Erika, que parecia orgulhosa.
— Ótimo – ela respondeu – Porque eu aposto como ele vai querer isso
depois.
Logo após Anahí sair dali e a fila continuar, seguindo para tentar encontrar
uma das concorridas cadeiras da leitura que viria a seguir, Diana se afastou
de Poncho e seguiu para onde ela ia. Anahí tinha um sorriso torto e olhos
brilhantes ao encarar as palavras escritas por ele em sua dedicatória. Seus
passos pareciam bambos, quem sabe as pernas dela estavam trêmulas por
tudo aquilo.
— Talvez porque seja – Diana ainda sorria – Você vai ficar para a leitura,
não é? Não precisa correr para pegar uma cadeira, porque se tem alguém
aqui que ele fará questão que esteja confortável, esse alguém é você.
Anahí conhecia Poncho o suficiente para ter certeza que sim. E pelo visto,
Diana também.
Poncho não veria, mas ali, naquela legenda, estava a resposta para as suas
perguntas.
Foram lidos outros dois trechos, não tão marcantes quanto o primeiro, que
fez Anahí voltar ao foco, voltar a si. Ela agora, tal como todos os outros
presentes, o encarava, observando cada mínimo detalhe seu, sem se
importar tanto com o teor do que ele lia. Em seguida, começaram as
perguntas. A maioria versava sobre partes meio ambíguas da história, sobre
o que Poncho quisera dizer com cada uma delas. Mas como o livro tinha
acabado de ser lançado, a maioria das pessoas ali não conhecia a história
ainda, não tiveram a oportunidade de ler. Por isso, é claro que haveriam
perguntas sobre pontos um tanto fora da curva. Foi exatamente o caso
daquela, em especial.
O sorriso dele se formar de forma enorme, mais uma vez, foi inevitável.
Poncho tinha várias respostas para aquela pergunta e se corroeu, naquele
momento, para não sucumbir à vontade de olhar Anahí antes de respondê-
la. Ele sabia que acabaria se denunciando se o fizesse, embora a vontade o
torturasse. Mas tudo bem. Talvez aquilo viesse a calhar.
Por mais que Anahí achasse que já tinha esperado o suficiente, ela ainda
teve que aguardar, após a leitura, várias e várias outras pessoas
cumprimentarem Poncho incessantemente. Diana, naquele momento,
tentava blinda-lo daquilo tudo, mas haviam jornalistas presentes e ela
simplesmente não conseguia. Anahí o viu conceder pequenas entrevistas,
comentar o livro, tentando o tempo inteiro, a todo custo, se desvencilhar
daquilo sem deixar de ser profissional. Àquela altura ele já a havia avistado
ao fundo e parecia louco para escapar dali e ficar com ela, mas parecia que
aquele momento nunca iria chegar.
— Obrigado por ter esperado – ele sorriu colocando ambas as mãos nos
bolsos – É essa confusão toda vez, mas eu havia me esquecido.
— Valeu cada minuto de espera – Anahí sorriu de volta – Você ta livre
agora ou tem mais algum compromisso?
— Cem por cento livre – Poncho respondeu olhando para trás – Eu só... só
preciso...
Ele só precisava se despedir de Diana e deixar claro que, o que quer que
acontecesse nas próximas doze horas, ela precisava resolver sem ele. Era
nítido que Poncho estaria totalmente indisponível.
Mas sua ex-esposa não parecia tão diferente assim. Ela falava com um
homem com cabelos loiro-escuros e barba rala que a segurava pela cintura.
Anahí, ao encara-los, ficou surpresa, franzindo a testa, já que ela não fazia a
menor ideia que agora Diana tinha alguém. Mas Poncho apenas sorriu,
visualizando pela primeira vez a mãe de seu filho com seu pretenso novo
namorado, vendo que Diana poderia não estar tão radiante quanto ele ficava
quando tinha Anahí ao seu lado, mas definitivamente caminhava para ter
novamente um relacionamento com alguém que a faria feliz.
Quando Diana viu que era observada, ela segurou Bradley pela mão e o
levou até seu ex-marido. Uma apresentação devida era mais do que
necessária.
Poncho não fazia a mínima ideia de qual seria o destino deles, mas aceitou
o desafio. Anahí escorregou pelo banco traseiro do táxi e ele veio logo em
seguida. Quando se pôs a perguntar para onde eles iriam, ela rapidamente se
negou a responder, dizendo que era uma surpresa. Poncho franziu o cenho,
logo Anahí que detestava surpresas fazendo uma? Ele estava curioso e ao
mesmo tempo desapontado, tinha feito uma reserva num lugar charmoso
demais e agora tudo havia ido para os ares. Poncho apenas levou o celular
ao ouvido, ligando para o restaurante e cancelando a reserva, sem saber o
que esperar.
Anahí não disse mais nada. Apenas colocou a mão na própria bolsa, tirou
dali uma venda e colocou nos olhos dele. Poncho nada entendeu,
percebendo que ela queria literalmente deixa-lo no escuro. Se antes não
entendia muito, agora não entendia nada.
— Any, o que...
Uma verdade.
Tudo o que ele percebeu é que eles entraram num elevador, isso ele
reconheceu pelo barulho. Era um prédio, ok, mas Nova York tinha milhares
de prédios, o que significava? Após, Anahí andou com ele até pedir que
parasse. Ele identificou um barulho de chave e, em seguida, a mão dela o
conduziu novamente. Uma porta se fechou. Onde diabos estariam...?
— Certo – Anahí disse e ele sentiu as mãos dela chegarem na venda, sua
voz doce na nuca dele, sinal de que a cegueira tinha chegado ao fim – Eu
espero que você goste...
Enfim.
Nada prepararia Poncho para aquele lugar. Ele reconheceria aquelas quatro
paredes eternamente, não importava quantas vezes elas seriam pintadas,
quantas trocas de mobília haveria ali... sempre seria o mesmo lugar. O lugar
deles. O apartamento deles, no Harlem. Poncho não conseguia acreditar.
— A nossa história deveria ter começado aqui há nove anos – Anahí disse
num suspiro, com a sombra de um sorriso pairando por seu rosto – Ela foi
interrompida, mas agora recomeçou. Achamos que era um ponto final, mas
não era... eram apenas reticências. Desde que eu voltei nós tivemos muitas
vírgulas, mas tentamos de novo após cada uma delas. Na última vez eu
achei que tinha dado um ponto, que não ficaríamos mais juntos... mas não,
Poncho. Com você... entre você e eu... não existe nunca mais.*
— Eu vou dar a chance pra nós dois – ela disse concordando, envolvendo o
pescoço dele com os braços.
— Posso te levar pra cama? – ele convidou sugestivo. Mas ela tinha uma
ideia melhor.
Aquele chuveiro tinha uma história marcante entre eles. A primeira transa,
no dia que o apartamento virou deles, tinha sido ali. Sequer haviam toalhas.
Agora não só Anahí as colocara penduradas, como também tinha muitas
outras coisas: os filhos que eles tiveram, as cicatrizes que adquiriram em
meio a tantas interrupções, a maturidade que agora carregavam... e
sobretudo a certeza de que, em meio a tantos poréns, ambos tinham
escolhido estar ali. Juntos.
Quando eles entraram no banheiro a Anahí doce que fizera uma agradável
surpresa idêntica à do passado foi deixada de lado e trocada por uma versão
dela própria, mais visceral e faminta. Anahí entrou ali arrancando a roupa
de Poncho e puxando a boca dele para um beijo lascivo. Não demorou a
senti-lo respondendo, puxando-a pelo quadril enquanto tomava sua boca,
rapidamente fazendo-a sentir sua ereção. Não por muito tempo, já que
Anahí se apressou em desabotoar sua calça, puxando-a para baixo junto
com a cueca. Parecia claro que ela queria senti-lo e o mais rápido possível.
Poncho, ao toca-la por baixo do vestido, próximo à calcinha, entendeu o
motivo.
— Então o que você está esperando...? – ela disse sentindo Poncho tirar a
mão da calcinha e puxar o vestido dela para cima, junto com o sutiã.
A ereção de Poncho foi ao limite com a boca suja dela, quase doía. Ele
assaltou a boca de Anahí com volúpia, imediatamente seguindo cada passo
das ordens dela: ligou o chuveiro quente, sentindo a água cair por ambos e
molhando seu beijo. Foi logo antes de erguê-la pelos braços e encosta-la
contra o azulejo do banheiro, ajeitando seu pênis na entrada dela e
forçando-a. Ele viu Anahí dar um gemido em reação ao senti-lo invadi-la,
mas nem precisou perguntar se ela estava bem, já que em seguida sentiu-a
fincar as unhas nas costas dele, o que apenas serviu de estímulo para
pressiona-la ainda mais, inebriando ambos do mais absoluto prazer.
Era a primeira vez que ele a fodia desde então. Todas as vezes eles faziam
amor, Poncho era delicado, continha a própria paixão, todo o tesão era
trancado em seu corpo. Não era o caso naquele momento. As palavras dela
o deram coragem para se libertar e agora ele a imprensava contra a parede,
investindo com força. Sua visão estava nublada pelo prazer, ele não via
nada, apenas ouvia seus gemidos e enxergava o corpo de Anahí vacilante,
seus seios molhados e a sentia cada vez mais próxima do próprio orgasmo.
ENFIM, AYA! Dessa vez 200% definitivo, até porque a fic ta oficialmente
acabando!
Como eu disse pra vocês era extremamente necessário que esse lançamento
fosse todo de uma vez, porque agora eu tenho CERTEZA que ninguém tem
nenhum motivo pra me ameaçar de morte.
Quero muitas estrelinhas e comentários pra saber tudo o que todo mundo
achou, porque esse cap merece né gente?
Beijos,
Rafa
Capítulo 86 - I'm a girl like you
Anahí não sabia como suas pernas trêmulas tinham conseguido leva-la em
segurança para o seu quarto. Diferentemente da mesma transa de nove anos
antes, dessa vez ela estava com um roupão confortável, os cabelos
molhados pingando por onde ela passava, mas ela não se importava com
aquilo. Poncho, que não tinha um roupão – aquele detalhe não pôde ser
providenciado a tempo – estava com uma toalha enrolada na cintura que o
deixava mais sexy do que qualquer outra visão no mundo, visão essa que
provavelmente excitaria Anahí se ela não tivesse acabado de se saciar nos
braços dele.
— Missy está com a sua mãe? – ele perguntou assim que os dois entraram
no quarto, se dando conta da ausência da filha.
— Noite de videogame com Harry – Anahí sorriu – Ele entrou pra valer no
espírito de tio.
— Daqui a pouco ela vai ser assim com a Eren também – Poncho divagou –
Digamos que ela adore ficar de babá dos sobrinhos e dar um vale night.
— Nós temos que contar pra ela – ele beijou o pescoço dela – Podemos
contar amanhã, quando formos busca-la na Karen?
— Poncho, nós não sabemos se isso vai dar certo... eu não quero que ela se
frustre...
Mais parecia que a insegurança tinha vindo após o calor do momento, que
fez Anahí leva-lo até ali, tinha batido com força. Mas Poncho sabia
exatamente como derruba-la.
— Olhe pra mim – ele segurou o rosto dela pelo queixo – Nós perdemos um
ao outro algumas vezes desde que você voltou, cada uma por um motivo
diferente. Problemas sempre vão acontecer, nós não temos como evitar. Mas
eu posso garantir a você que não vou deixar que mais nada nos separe.
Anahí dormiu nos braços de Poncho. Ela estava cansada, os dois não
transaram novamente, mas não havia problema. Ela estava em paz, virada
para o próprio lado da cama, sentindo a mão de Poncho repousar sobre sua
barriga, tão próxima dele que era capaz de sentir seu cheiro.
Poncho não estava muito diferente. Eles estavam colados a tal ponto que ele
suspeitava que deixava a nuca de Anahí quente com sua respiração, mas ela
não parecia estar incomodada. Pelo contrário, logo Poncho se deu conta que
ela já tinha pegado no sono, de tão relaxada que estava. Era impossível para
ele não ficar diferente da forma como ela já estava. Afinal, ele estava no
lugar que sempre quis. E sentindo o sono vir aos poucos com o cheiro do
cabelo dela tão próximo, Poncho teve ali a certeza de que não a perderia
nunca mais.
xxx
— Você esqueceu mesmo – ele riu negando com a cabeça – Missy dormiu
na sua mãe. Ela a levou pra escola e você apenas iria busca-la. Ao menos
foi o que você me disse.
— Tempo este que eu espero que você passe na cama comigo – Poncho
sorriu malicioso, puxando-a para perto dele. Anahí riu.
— Mudou de ideia?
— Eu acho justo que ela saiba – Anahí suspirou – E você tem razão. Se nós
fingirmos que não está acontecendo nada, vamos acabar fazendo com que
não aconteça. Nunca vai ser real desse jeito.
— Amanhã eu estou indo pra Nova Jersey e em seguida pra Boston. Mas
volto pra cidade no dia seguinte até o 4 de julho. E é exatamente sobre isso
que eu queria falar com você.
Antes Poncho acreditava que ela negaria porque, afinal, os dois estavam
distantes, ele ainda aguardava sua resposta sobre os dois. Agora as coisas
estavam mais claras: Anahí tinha ido até ele, deixando claro que queria dar
uma chance aos dois. Mais do que nunca, valia a pena arriscar.
— Que não tem porque eu dizer que não – ela deu um selinho nele,
revelando seu sorriso – Eu quero ir com vocês. Eu vou.
— Eu acho que gosto dessa sua ideia – ele devolveu jogando-a na cama e
subindo por cima dela.
Eles queriam ter todo o tempo do mundo, mas não era exatamente assim.
Cerca de uma hora após aquela nova transa, na qual Poncho terminou se
perguntando onde a traumatizada Anahí que voltara para a vida dele quase
um ano atrás tinha ido parar ao dar lugar àquela mulher voraz e sedenta de
prazer, eles se despediram com ela vestida num hobby sexy e lhe dando um
selinho carinhoso de despedida, pois sabia que só o veria novamente em
uma semana, no próprio 4 de Julho, quando ele buscasse as duas para irem
novamente a Vermont.
Não parecia, mas já tinha se passado seis meses desde a viagem anterior.
Anahí se deu conta disso lembrando de quando, logo após o Natal, os dois
partiram para aquela viagem fria e solitária, na qual o rumo da vida sexual
dela mudou drasticamente, mais uma vez. Ela riu ao lembrar de como era
acanhada e temerosa, com medo de decepcionar Poncho, mais medo ainda
de se dar conta de que jamais voltaria a ser ela mesma. De alguma maneira
naquela viagem ele conseguiu caminhar para dentro da escuridão dela e
guia-la para fora. Anahí foi capaz de se entregar, aprendendo a começar a
deixar seus traumas de lado. Fora apenas o primeiro passo, mas agora ela já
considerava aquela missão como cumprida.
Dessa vez eles iriam para Vermont do jeito que ela gostava: quase no verão
e em família. Na vez anterior ela não imaginava a existência de Missy, não
tinha ideia que descobriria uma filha e que Poncho faria daquela menina
sua. Ela se questionava se Daniel aceitaria o fim da relação dos pais e a
descoberta de que seu pai amava outra mulher. Tudo o que ela pensou se
concretizou, pensando agora tudo tinha dado errado. Mas precisara dar
errado para dar certo. Agora Anahí vivia o momento tranquilo, no qual seus
pensamentos não eram mais pessimistas. Ela iria arrumar sua mala e a de
Missy planejando mentalmente ensinar a menina a nadar naquele lago... na
verdade, Poncho ensina-la, pois Anahí também não sabia.
Mas tudo bem. Ele estava lá para isso, assim como estivera no passado
quando a ajudou a boiar. Era apenas a primeira coisa que ensinaria à filha
deles, exatamente como aquela seria a primeira viagem que eles fariam
como uma família de verdade.
Anahí começou a arrumar as malas, mas logo desistiu e foi para o café. No
caminho de táxi, ao sentir a ficha caindo sobre todas as mudanças que sua
vida tinha enfrentado, tomou uma nova decisão: ela voltaria a dirigir. Nada
mais a impediria de voltar a ser a Anahí de antes, quem sabe, na verdade,
supera-la e ir além da mulher que já tinha sido. Naquele momento seus
pensamentos acabaram sendo interrompidos ao pegar o celular e ver que
tinha recebido várias e várias mensagens desde a tarde anterior, além de seu
Instagram estar lotado de respostas à foto que tinha postado com Poncho.
Mas, para a sua surpresa, não era o público dele que a assediava. Eram seus
amigos.
Mensagem de Maite.
Mensagem de Christian.
Mensagem de Sophia.
O que Anahí fez foi criar um grupo de whatsapp com as três amigas e com
Christian, é claro – que jamais poderia ficar de fora – e enviar uma única
mensagem em resposta, de forma clara e sucinta. De maneira que não
restasse qualquer dúvida.
Ela foi direto para o café. Karen merecia receber aquela notícia antes de
qualquer pessoa. Sua mãe estava, como de costume, atrás do balcão,
servindo café e rindo com uma cliente. O sorriso se manteve quando ela
notou a presença da filha. Ao entrar no café Anahí se deu conta que aquele
era mais um indiscutível avanço: agora o café não lhe dava mais arrepios.
Aquele lugar tinha deixado de ser o negócio construído pelo esforço de sua
mãe para se tornar aquele no qual ela conhecera Tobias, onde tudo havia
começado antes mesmo de começar.
Karen quase pulou quando ouviu da filha a boa notícia. Anahí bem que
tentou fazer a mãe se calar, mas tinha certeza de que ela não conteria a
euforia e que logo o resto da família saberia da novidade. O que lhe restava
era esperar pela ligação de seu avô, já que, por conhecer bem os Portilla-
Scott, ela sabia que Arthur era quem ficaria realmente radiante; Ellie, Keith
e Harry, por sua vez, deixariam para demonstrar a satisfação pessoalmente,
de forma discreta, algo que não se poderia esperar do patriarca da família.
— Aí a Srta. Stan vai nos levar no Museu de História Nacional pra ver os
dinossauros de verdade, não é o máximo? – os pequenos olhinhos de Missy
brilhavam – A autorização ta na minha mochila, você vai assinar né?
— É claro que sim – Anahí riu – Eu não sabia que você se interessava sobre
isso... Paleontologia...
— Paleontoquê?
— Que bom que você pensou – Missy a abraçou pela cintura – Só falta
agora pensar que é uma ótima ideia voltar a ser a namorada dele.
— Não agora – Anahí observou – Mas ele nos convidou pra viajar no
feriado com ele e com o Dani. É um lugar legal, uma cabana perto da
natureza, vocês vão gostar.
— Eba! Eu quero! Nós vamos! Falta muito? Posso levar meus brinquedos?
Missy reagia exatamente como Anahí esperava dela: sem toda a euforia do
mundo mas deixando estampado, em sua voz e em sua expressão, a alegria
imensa que sentia por seus pais estarem juntos novamente. Era mais do que
ela poderia querer. Foi a hora que Anahí se deu conta que não tinha sido
apenas a sua vida que tinha mudado, mas a de sua filha também. Missy nem
parecia mais aquela criança que vivia num lar abusivo e negligente. Ela
agora era saudável, feliz e amada, com uma mãe que fazia tudo por seu
sorriso e um pai que facilmente iria pelo mesmo caminho. A prova de que é
fácil se acostumar às coisas boas da vida. Difícil era viver sem elas.
xxx
— Tem algo que eu quero te contar – Poncho disse receoso, vendo o filho
olhar para ele e, depois, para o sorvete novamente.
— O quê? – ele perguntou sem muito interesse. Estava muito mais animado
com a sobremesa à sua frente.
— Você já tinha dito que gostava dela papai – Daniel lembrou antes de
colocar a colher na boca, falando logo em seguida – Está tudo bem.
— Sam vai ficar com os pais dela – Poncho disse prendendo o riso – Nós
podemos leva-la na próxima vez, quando formos de novo. Dessa vez eu
queria que fôssemos nós quatro... como uma família.
É claro que entenderia. Poncho sorriu, ficando mais feliz sobretudo pelo
fato de Daniel entender. Era o que realmente importava.
Parecia que um peso enorme saía dele, a última barreira era derrubada.
Agora mais parecia que ele tinha entrado dentro de uma imensa banheira
quente após a guerra. A última batalha havia terminado e ele voltava para
casa. Ele se sentia em casa.
— Eu não divido o amor que tenho entre vocês – Poncho respondeu mais
convicto do que nunca – Ele se multiplica.
— Deu pra reparar – Poncho riu – Ela vai conosco para Vermont. Vamos os
quatro.
— Vai ser bom pra vocês – Diana comentou – Eu sabia que seria uma boa
ideia te dar uma folga de alguns dias no 4 de Julho. Você vai recarregar as
energias pra essa turnê.
"Deixe-a ser feliz, ela pode levar o que quiser. Diga que o que não couber
dessa vez, pode ir na mala da próxima viagem. Serão muitas, tenha essa
certeza".
xxx
— Tenho – ela suspirou – Não é fácil, não vai ser... mas sim, eu tenho.
— Eu estarei do seu lado, você sabe disso – ele garantiu se ajoelhando ao
lado dela e a encarando – Mas eu tenho medo do que pode vir. Você está
grávida, eu não quero que isso prejudique vocês dois...
— Eu sei disso e eu vou me cuidar, vai ficar tudo bem – foi a vez dela
garantir.
Mas aquilo não era uma promessa que Sophia poderia fazer. Não havia nem
um por cento de chance daquilo ser real. Era apenas um desejo, uma
torcida, sem qualquer garantia além da expectativa dela. Jesse estava
inseguro, é lógico... as coisas demoraram a ficar bem, agora ela estava
estável novamente e a gravidez, embora tivesse passado da fase inicial,
aspirava os cuidados de sempre. Mas Sophia estava irredutível com aquela
ideia. Ela queria punir Chad e não poderia esperar.
Por isso o texto escrito ali tinha que deixar de ser um rascunho para se
tornar uma publicação. Do conhecimento geral, submetendo-a à todo tipo
de julgamento, empatia e atenção que poderia gerar. Mas não era algo do
qual ela poderia voltar atrás.
Era uma noite de janeiro quando ele me levou num restaurante numa
suposta saída de amigos. quando eu voltei para a mesa a minha bebida
estava me esperando. Alguns goles e eu não lembro de mais nada. A
primeira lembrança estava naquela bebida na minha boca. A seguinte
estava em eu acordando confusa na cama dele, com ele me dizendo o
quanto tínhamos "feito amor" e que "tinha sido maravilhoso".
Veio tudo ao mesmo tempo, todas aquelas dores. A culpa era pior de todas.
Porque as dores físicas passaram depois... mas o sentimento de que eu
causara aquilo era maior e era duradouro, permanente. Não quis passar.
Às vezes teima.
Porque afinal de contas, eu fui beber com ele. Eu não ouvi meus amigos
falarem que ele queria mais que a minha amizade. Eu ignorei os conselhos,
os sentidos e dei a chance. Eu me coloquei naquela situação, bebendo a
bebida no copo, acordando na cama dele.
Mas foi ele quem colocou aquele "Boa noite Cinderela" no copo, não eu.
Foi ele quem me levou daquele bar para a sua casa. Ele disse que no dia
seguinte tinha sido consensual quando não foi. ELE ME ESTUPROU.
E sobre esse final com a Sophia postando o texto... sei que vcs continuam
não levando fé nisso... mas eeeeeu seeeeei o que to fazendo! Agora que ta
chegando no final da fic vcs confiam em mim né? Hahahahahaha
Beijos,
Rafa
Capítulo 87 - Everything in its right place
É claro que, por trás daquilo tudo, havia Joy. Assim que Anahí lhe disse que
o texto estava no ar, ela tratou de impulsiona-lo em grupos feministas e
pessoas que tinham um bom alcance. Logo os compartilhamentos
começaram a surgir. Os comentários, as curtidas, o alcance se tornou cada
vez maior. Num piscar de olhos a notícia tomou uma proporção enorme,
muito embora ela não tivesse nenhum grande diferencial. Era uma mulher
como tantas, estuprada como muitas, sem ter qualquer prova daquilo.
Apenas suas palavras.
Mas havia alguém que era capaz de furar o bloqueio. Alguém que tinha
meios de alcança-la de formas diferentes que um aplicativo.
— Quem você pensa que é pra publicar aquelas merdas a meu respeito...?
Sabia que eu posso te processar? Posso e vou! Se você não apagar aquilo
agora mesmo, eu acabo com você!
— Ligue pra ela mais uma vez e eu termino de acabar com você – Jesse
disparou, sem dar a chance de Chad sequer responder.
— Shhh, eu estou aqui pra você, pra proteger vocês – ele a envolveu,
abraçando-a e acariciando sua barriga – Você foi forte por nós, agora eu
serei por você.
— Eu também sou forte por todo mundo – Samantha disse entrando no
abraço deles – Ninguém mexe com a minha mamãe.
Demorou até que Sophia se acalmasse, até que sua respiração voltasse ao
normal. Jesse se afastou um pouco, dando espaço a ela, o que Samantha
acabou fazendo também. Logo ela percebeu que aquilo era uma estratégia
para que a filha se distraísse e saísse de perto. Por isso, assim que Sophia se
levantou, indo até a cozinha para abrir a geladeira e pegar uma garrafa de
água, Jesse a abraçou por trás.
— Eu poderia ficar bravo pelo que aquela postagem está causando na sua
vida – ele sussurrou próximo ao ouvido dela, o mais baixo possível para
que a filha não ouvisse – Você está ilhada e aquele desgraçado ainda te liga.
— Soph, eu disse que poderia estar, mas não estou – ele virou Sophia de
forma que ela a encarasse – Eu entendo os seus motivos. E eu te admiro.
Você é corajosa, é brava e eu estou orgulhoso.
— Sim – Jesse suspirou – Embora eu tenha medo. Mas eu estou com você
Soph. Você é forte mas ao mesmo tempo é frágil. Me deixe proteger você,
me deixe estar por perto.
— Eu estou quase indo lá e dizendo umas verdades pra loira – ela revirou
os olhos, fazendo Karen rir.
— É normal que hajam essas reações – ela apontou para a filha – Por mais
que hajam milhões de provas apontando um estupro, sempre há aqueles que
insistem em colocar a culpa na vítima e isentar o estuprador.
— Retire esse plural, Dani não é meu filho – Anahí observou, embora
gostasse do menino como se ele assim fosse, não queria tomar o espaço de
Diana.
— Você não pode viver eternamente com medo – Karen devolveu – Você
tinha medo de voltar a transar, tinha medo de nunca mais voltar a ser você
mesma, tinha medo dele não ser condenado. Tudo isso passou, tudo foi
voltando para o lugar. Chega de deixar de viver, butterfly. Apenas se
entregue à sua felicidade, você merece isso.
Anahí até ficaria imersa naquelas reflexões se Poncho não tivesse chegado
para buscar as duas. Daniel entrou animado no café, ele e Missy se
encontraram, falaram algo um com o outro, era o primeiro contato que eles
tinham desde a notícia de que seus pais estavam juntos, dessa vez para
valer. Poncho veio em seguida, mirando a namorada no fundo, sendo
interceptado por Missy que o abraçou pela cintura, mas no fim acabou
caminhando até Anahí com um sorriso nos lábios de quem morria de
saudade após quase uma semana longe dela e não perdendo tempo antes de
lhe dar um beijo na boca para encerrar aquela maldita distância.
Ela não esperava, é claro que não. No fim Anahí o abraçou de volta,
sentindo seu calor, seu cheiro e abrindo um sorriso em seguida, tocando o
rosto dele sobre a barba, mas acabando por ver as crianças ao fundo com
caretas enormes no rosto. Não por rejeitarem o contato, o relacionamento
deles... apenas por parecerem achar nojento o beijo apaixonado que eles
tinham acabado de trocar.
Ou seja, o mundo ainda era um local seguro para que ela e Poncho
vivessem aquele amor interrompido.
— Fiz aquele café que você gosta genrinho – Karen riu estendendo um
copo para ele. O sorriso de Poncho cresceu.
— Não tem TV, wi-fi, videogame...? – Daniel fez uma careta imensa.
— É que eu não sei nadar – a menina confessou num sussurro para a mãe –
Só eu vou ficar do lado de fora.
— Ei, é claro que não – Anahí se abaixou ficando na altura dela – Eu fico
com você. Eu também não sabia nadar, seu pai que me ensinou.
— Missy! Pula! A água ta gostosa! – Dani gritou. Rapidamente ele viu que
a irmã estava enroscada nas pernas da mãe e parecia envergonhada com
algo. Não foi o único a notar.
— Você não precisa ter vergonha de não saber, ninguém nasce sabendo –
Anahí explicou tentando naturalizar a situação.
— Vá com o seu pai – Anahí incentivou – Ele não vai te deixar cair, eu
prometo.
— Você não vai deixar que eu me afogue né? – ela perguntou para Poncho
deixando clara sua insegurança.
— É claro que não – Poncho chegou na frente dela, mais confiante do que
nunca – Eu estou aqui pra te proteger. Jamais te colocaria em perigo.
Logo Anahí viu a filha finalmente confiar e ir, assentindo e permitindo que
o pai a segurasse pelos braços e a levasse para a água. Ela sorriu ao ver
aquilo, em ver como Poncho aos poucos conquistava a confiança de Missy
e não atropelava as etapas, sem força-la, demonstrando que poderia
acreditar. Era a repetição da mesma cena que aconteceu seis meses antes
com ela. Ele tinha agido da mesma forma com mãe e filha. Só que agora
Anahí não tinha mais medo algum. Quem sabe, dali algum tempo Missy
estaria da mesma forma.
— Eu vou te ensinar a nadar... vou segurar suas mãos e você vai bater os
pezinhos como um cachorrinho... – Poncho explicou calmamente, vendo a
filha abrir uma expressão curiosa.
— Por isso que a mamãe não sabia – Missy completou – Porque ela
conheceu o vovô quando já era adulta, ele não pôde ensinar.
— Mas o papai pode ensinar sua mãe a nadar também – Daniel ofereceu.
Do lado de fora, sentada no deck, Anahí sorriu pela forma carinhosa como o
enteado se referia a ela.
Seis meses antes tudo o que Anahí quis foi o verão para que ela pudesse
pular no lago sem temer o gelo da água. Mesmo o frio não a impediu de
fazê-lo naquele momento. Agora o momento finalmente havia chegado... e
surpreendentemente era infinitamente melhor do que ela poderia imaginar.
xxx
O resultado foi Anahí e Poncho os levando para o quarto onde duas camas
infantis os esperavam, Anahí levando a filha nos braços e Poncho com o
menino. Ele saiu por último, deixando o abajur aceso com uma meia-luz
para iluminar o ambiente que não era comum para as crianças e evitar que
qualquer um dos dois se assustasse caso acordasse de noite. Quando ele saiu
encontrou Anahí na sala abrindo uma garrafa de vinho com duas taças sobre
a mesa. Foi inevitável não sorrir.
— Você fez ser – ela constatou – Essa viagem, as crianças... tudo está sendo
incrível.
— Você costumava gostar desse feriado, dos fogos – ele mencionou – Essa
data me deixou triste por muito tempo. A amargura foi diminuindo com o
tempo, o Dani me distraía, mas... sempre rolava aquela pontada de tristeza.
— Agora nem pontada existe mais – Anahí riu, desistindo de vez de olhar
os fogos e se apoiando no próprio braço para encara-lo – O pesadelo acabou
amor. Nós estamos livres de novo e Deus queira que eu não esteja errada,
mas não acho que tudo vá acabar mal dessa vez.
— Eu quero crer que não – Poncho tirou uma mecha do olho dela – Não há
o que temer, nós não podemos viver esperando que tudo dê errado de novo.
Se fizermos isso vamos esquecer de viver, e isso seria um crime. Nós temos
filhos lindos, uma família maravilhosa e a sua vida ta se reconstruindo aos
poucos.
Não havia mais clima para os fogos. Eles continuavam queimando no céu,
mas nenhum dos dois se importava mais. Logo Anahí, em seu primeiro 4 de
Julho fora do cativeiro, não olhava a beleza do céu a partir dali. Ela estava
mergulhada nos olhos verdes de Poncho. Sem perceber, acabou deitando
novamente no deck e sentindo o corpo dele subir sobre o seu, pesando sobre
ela. Sua mente imediatamente trabalhou e comparou com outro 4 de Julho
anos antes, onde ela ouvia os fogos lá fora enquanto sentia as próprias
lágrimas caírem ao ser novamente violada. Totalmente diferente dali, onde
havia respeito, havia amor, havia consentimento. As diferenças não
poderiam ser maiores.
Logo Anahí percebeu que, do jeito que Poncho subia sobre ela e rebolava
sobre seu corpo, fazendo-a sentir sua ereção, enquanto tomava sua boca
com aquela paixão que eles conheciam, que os dois acabariam transando ali
mesmo, naquele deck. Mas curiosamente as coisas acabaram saindo
diferentes do que ela pensava que seriam... mas não de um jeito ruim.
— Nós não vamos pro quarto amor – Poncho disse negando com a cabeça
rindo, como se gozasse da conclusão dela. Logo a testa dela franziu.
— É uma lista incrível – ele finalizou antes de estender a mão para ela e
encara-la com seu olhar mais sedutor e convincente – Vem comigo riscar
mais um item.
Anahí estava insegura, estava com medo. Em sua mente, qualquer um dos
filhos dele acordaria a qualquer momento. Ela pensava que tinha que ser
discreta, o mais silenciosa possível, mas não sabia como. Os dois
caminharam de mãos dadas até o carro dele, que ficava nos fundos da casa.
A cada passo ela pensava na distância que as crianças teriam que percorrer
caso acordassem, se daria tempo deles perceberem que estavam
acompanhados e parar antes de serem flagrados. No fim, não houve conta
que a convencesse... mas ao mesmo tempo, nada que a impedisse.
Quando finalmente chegaram no carro, Poncho tirou a camisa e a jogou
sobre o capô, em seguida pegando-a nos braços e colocando-a sobre aquilo.
Anahí bem que tentou ponderar algo mais mas ele foi mais rápido,
surpreendendo-a – terminou por beija-la antes que Anahí conseguisse
raciocinar. E conseguiu. Ela finalmente parou de pensar, de hesitar... e se
entregou.
Como ela tinha conseguido senti-lo entrando e não gritar era algo que
Anahí nunca conseguiria explicar. Ela mordeu os próprios lábios, depois
mordeu o ombro dele, e naquele meio tempo os dois estavam totalmente
encaixados e, como ela estava molhada, Poncho deslizava nos movimentos.
Era uma transa como outra qualquer deles, sem preliminares ele chegava a
se surpreender com o tanto que ela estava excitada. Talvez fosse uma
combinação dos diversos fatores: o lugar onde eles estavam, o 4 de Julho, a
chance de serem pegos – que era um medo que se tornava excitação, o fato
de estarem finalmente livres, e o capô do carro, que sempre foi o fetiche
sexual dela – mesmo que se tratasse de um fetiche adolescente.
— Nem ta arrependida mais né? – Poncho sussurrou no ouvido dela
enquanto a segurava pelo quadril e estocava para dentro dela – To te
sentindo toda excitadinha e molhadinha...
— Cala a boca e me fode logo – Anahí resmungou, ele riu. Era sinal de que
ela estava perto: Anahí sempre ficava impaciente.
— Você ta se comprimindo contra mim, isso é uma delícia – ele soltou uma
das mãos do quadril e pegou pelo cabelo dela, apertando-o, fazendo-a
gemer em resposta. Poncho pressionava tanto o corpo dela contra o carro
que provavelmente a deixava roxa.
— Eu... eu vou...
— Sua vez – Anahí sussurrou no ouvido dele, lhe dando o aval que Poncho
esperava.
Simplesmente inacreditável.
Eles só se encontraram no quarto, depois que ela tinha tomado banho e ele,
recolhido toda a bagunça. Anahí estava na cama, se deitando com um
pijama confortável e nada sexy, fazendo-o sorrir. Eles eram tudo no mundo,
menos convencionais. Iam para o 4 de Julho numa cabana no meio do nada,
bebiam vinho no deck, deixavam os fogos para transarem no capô do carro,
e agora ela dormia nada sedutora. Mas não importava, porque no fim do dia
eles se encontravam na cama e terminavam enroscados na mesma cama.
Era o que valia.
O sorriso de Poncho tomou seu rosto. E com ele estampado, ele seguiu para
o banheiro, quase flutuando de felicidade. Anahí, por outro lado, sozinha no
quarto, correu para a mala e pegou um pequeno caderno em branco e uma
caneta... o caderno que sempre a acompanhava. Não por ter algo para
escrever em si, mas sim porque havia uma velha lista que estava ali dentro.
Ela desdobrou o papel e o encarou, dando um "ok" no item sobre transar no
capô. Mas havia outro ali que não tinha sido checado antes. "Morar num
apartamento dos sonhos". O "ok" daquele item foi duplo... porque ela não
iria apenas para o apartamento dos sonhos. Ela iria com o homem dos
sonhos também.
Porque agora não eram mais sonhos... tudo parecia se tornar cada vez mais
real.
Espero que vcs estejam curtindo essa boa maré entre AyA como eu curto
quando to escrevendo, depois de tanta tempestade, tanta incerteza... a era do
amor veio pra ficar!
E nesse cap temos o tão sonhado sexo no capô enfim riscado da lista, fora o
momento família dos quatro que o casalzinho do pop tanto sonhou em
viver! Muito amor simmmm.
Temos também mais um passinho da trama da Sophia que ainda parece
nebulosa. Mas já começa a clarear na próxima quinta!
Beijos,
Rafa
Capítulo 88 - My heart come alive
Primeiro eles deixaram Daniel em casa, depois ele deixou Missy e ela. Se
despediu da filha, que estava manhosa naquela manhã, e depois da
namorada, com quem ficou sozinho na porta trocando um beijo que já
tentava amenizar a saudade que ele começou a sentir dela por antecipação.
— Seria abusar demais pedir pra você passar algum tempo com o Dani
enquanto eu estou fora...? – Poncho perguntou receoso – Assim ele passa
algum tempo com a Missy e vai se acostumando com você...
— É claro que não seria – Anahí riu – Vai ser um prazer. Eu espero que ele
comece a gostar de mim tanto quanto eu já gosto dele.
— Eu sei que vai – ele lhe deu um selinho – Deus, eu ainda nem fui e já to
louco de saudade.
— É claro que sim, faça como quiser – Poncho sorriu – Ainda tem coisas
minhas na Diana, mas ela não vai criar problemas.
— Claro que não vai – Anahí sorriu de volta – Vamos aproveitar e beber
vinho enquanto queimamos suas meias horrorosas.
— Anahí...!
— Brincadeira...
Criança travessa em sua plenitude.
Aquele mês foi preenchido de formas que Anahí não esperava a princípio.
Ela começou a fazer a mudança de Poncho logo na primeira semana –
primeiro alocou as coisas que estavam no apartamento da cunhada, com a
ajuda da própria e depois as duas seguiram para a casa de Diana, que
terminou ajudando-as também. Era uma equipe que Anahí não imaginou
que iria compor, numa missão mais improvável ainda, mas elas terminaram
se divertindo e falando de Poncho e dos pais dele no final de um dia
cansativo, bebendo vinho como Anahí brincou que seria. Aquela cena foi
justamente no fim de semana que Poncho estava em Chicago e tinha
encontrado os pais, já que Evelyn e Robert, por óbvio, tinham feito questão
de ir ao lançamento do novo livro do filho. E com aquilo, Erendira tinha
novidades.
— Que horror, meu divórcio com ele acabou de sair – Diana negou rindo.
— Sem ofensas – Erendira levantou as mãos, mas Diana negou mais ainda,
indicando não estar incomodada. Pelo contrário.
— Não demos pra sua mãe o casamento dos sonhos que ela tanto quis
planejar, Anahí pode suprir essa falta – ela disparou. Anahí arregalou os
olhos.
— Pois comece a pensar, porque se ela não fizer com você, vai querer fazer
comigo e aí eu estarei totalmente ferrada – Erendira apontou rindo.
Nas semanas que se seguiram Anahí acabou assumindo para si o papel que
Poncho tinha na vida de Daniel. Como Diana trabalhava e estava sozinha
cuidando do filho, visivelmente sobrecarregada com a Planet já que Erika
fora com Poncho para a turnê, era Anahí quem levava e buscava o menino
na escola. Durante os dias que eles passaram em Vermont Poncho a
relembrou como era dirigir, algo como andar de bicicleta, que nunca se
esquece totalmente. E durante aquele tempo, Anahí iniciou a burocracia
para renovar sua carteira. A vida caminhava exatamente para onde deveria
ser.
Dessa forma, a cada dois dias sua casa ficava uma confusão com as duas
crianças, em especial porque por vezes Samantha também estava lá. Anahí
também dedicou um bom tempo, após a mudança de Poncho estar
completa, ao My sister's place. Nos dias que sua casa não estava tomada de
crianças, ela deixava Missy com os pais ou os avós e passava horas dando
aconselhamentos jurídicos e pessoais para aquelas mulheres. Mas conforme
os dias e as semanas se passavam, ela sentia que faltava algo. Que queria
mais.
— Amor, você nunca quis advogar aos vinte e três – Poncho lembrou –
Hoje você tem trinta e um. O tempo passou, a vida mudou, você mudou
junto.
— Eu sei – ela respondeu. Sentia tanta falta dele que chegava a doer. Anahí
sempre fora indecisa e era mais difícil ainda se definir sem Poncho por
perto.
— Pense com calma, não decida nada sem ter certeza – ele aconselhou – As
coisas sempre são assim com você... você ta indecisa, ta sem rumo, e de
repente um sinal aparece e você se decide. Espere pelo sinal.
— Eu espero que não – Poncho admitiu – Não vejo a hora de voltar pra
casa, voltar pra você... pra nossa casa.
Desde que saíra do escritório onde só havia sócios homens, Joy advogada
num escritório montado em seu enorme apartamento no Upper East Side.
Seu marido, James, por vezes achava graça do intenso movimento que
surgia no espaço que servia como casa deles. Aquela manhã era um bom
exemplo. Por sorte James estava vestido e pronto para ir trabalhar, quando
chegou à sala e viu Joy totalmente arrumada e maquiada, como se estivesse
seguindo para o Tribunal, cercado por diversas mulheres que ele nunca
tinha visto antes. Uma delas era Sophia Bush, que ele não conhecia – ainda
não.
Anahí foi a última a chegar. Ela estava saindo do elevador quando viu
James e Joy se despedindo. Curiosamente Joy apresentou o marido a ela, se
referindo à Anahí como sua futura sócia. James apenas riu, acostumado
com o jeito dela, cumprimentando-a com um aperto de mão e saindo em
seguida. Não houve sequer tempo para Anahí protestar, já que Joy a puxou
pela mão e a arrastou para a sala de casa, onde ela viu várias mulheres mas
apenas reconheceu Sophia. Que, pela expressão, parecia entender o que
ocorria ali tanto quanto ela, ou seja, nada.
— Eu não sabia que era estupro até você escrever aquele texto – Paris
completou – A história era parecida demais, seria coincidência demais.
Quando eu li o que você colocou... tudo fez todo o sentido do mundo. Eu
cheguei a me sentir estúpida por não ter juntado as peças antes.
— Eu sabia que era estupro desde o início – uma moça morena ao lado de
Paris interrompeu falando – Mas eu tinha vergonha de dizer. Eu nunca disse
para ninguém... mas o seu texto me deu coragem e naquela noite eu liguei
pra minha mãe e pra minha melhor amiga chorando. Meu nome é Leah. Eu
nunca tinha conseguido ter a coragem de montar a frase, mas naquele dia...
eu peguei o telefone e disse "mãe, você se lembra do Chad? Ele me
estuprou".
— Nós fizemos faculdade juntas – Paris completou – Há outras duas
garotas que podem ter vivido a mesma coisa, elas também se envolveram
com ele. Estou tentando contato com elas.
— Ele era meu vizinho, os pais dele sempre moraram ao lado dos meus
pais... eu não achava que alguém iria acreditar em mim – Leah suspirou
longamente – Mas minha mãe... ela acreditou em mim. Ela não virou as
costas, me apoiou e disse que me ajudaria a denunciar. E isso foi graças a
você, Sophia.
— Alguém que tenha visto você sair com ele naquela noite? Que tenha
estranhado seu comportamento em seguida?
— Minhas amigas da época nos viram saindo juntos, minha mãe percebeu,
mas... é tudo tão circunstancial, isso não prova nada, não é?
— Antes não tínhamos, agora temos três mulheres que contam versões
parecidas, temos possíveis testemunhas do que aconteceu naquela época na
vida de cada uma e provavelmente surgirão outras – Joy rebateu – Sophia,
antes não tínhamos nada. Agora nós temos muito, acredite.
— E vocês acham que isso pode dar em algo? – Leah perguntou – Vocês
acham que... que ele pode ser condenado?
— Sim – Joy sorriu mais do que nunca – Nós podemos fazer isso.
Tanto Anahí quanto Joy trocaram contatos com as duas moças, que fizeram
questão de conversar pessoalmente com Sophia, com mais privacidade e
cuidado, logo após aquela "reunião" terminar. Anahí, inclusive, fez questão
de convidar ambas a frequentarem o My sister's place. Por mais que
tivessem se passado anos da violência que elas sofreram, as cicatrizes
estavam ali e precisavam ser curadas.
— Acho que não preciso perguntar se posso contar com você nessa – Joy
encarou Anahí com os braços cruzados e ar de riso no rosto.
Anahí se sentia uma bagunça no meio daquela história. Estava cedo, ela
tinha dormido mal e estava de ressaca, estava uma porcaria. Logo foi até
Sophia, as duas conversaram um pouco, ela sentiu o quanto a amiga parecia
frágil no meio daquilo tudo. Sabia como ela se sentia e, para piorar, Sophia
ainda estava grávida. Ela provavelmente estava no meio de um furacao e,
cada vez que começava a se recuperar e se acostumar com a rotina, uma
novidade surgia. E estava longe de acabar. Ainda viria um longo processo
criminal, a vida dela seria novamente vasculhada e ainda havia aquele
medo, aquele pavor de tudo aquilo acontecer e Chad terminasse livre, como
tantos outros que saíam impunes...
Mas ela torcia para que a história de Sophia fosse diferente, ao menos em
seu final, como a dela tinha sido. Que Chad fosse condenado como Tobias
fora. E isso motivava Anahí a participar daquilo, a se envolver. O gás que
ela procurava há tempos. O sinal pelo qual ela esperou.
Foi Anahí quem deu uma carona para Sophia para casa. Ela resolveu se
recolher na própria casa o resto do dia, já que não tinha disposição para
fazer mais nada. Naquele dia ficou apenas com Missy, dizendo para a filha
que não se sentia bem e por isso elas iriam pedir comida. A menina não
reclamou nem um pouco. Terminaram o dia apenas as duas, com Anahí
deitada no sofá mesmo depois de uma aspirina, assistindo um filme
qualquer na TV. Foi a filha quem cutucou a mãe para dizer que ela tinha
dormido e que deveria ir para a própria cama.
Não havia problema. Certamente no dia seguinte Anahí acordaria se
sentindo melhor e tudo ficaria bem.
Se é que era possível, Anahí estava pior... e daquela vez não havia ressaca.
Ela não sabia o que era exatamente, a única certeza é que algo estava
errado. Talvez estivesse doente. Ela se arrastou da cama, levou Missy para a
escola e depois foi para o café da mãe. Não tinha disposição para ir para o
My sister's place ou em qualquer outro lugar, por isso pensou em ir para o
Karen's Café exatamente por saber que ali teria o que precisava: uma boa
xícara de café, um croissant e o carinho de sua mãe.
— O que você botou nesse café hoje? – Anahí fez uma careta imensa,
sentindo o estômago embrulhar – Nossa, esse cheiro... ta me enjoando...
— Ta do mesmo jeito que você bebe e ama sempre – Karen disse franzindo
a testa sem entender – Eu vou servir a mesa seis, mas posso te fazer um
capuccino se quiser.
— Não pode ser real isso... – ela disse sentindo o mix de emoções, sem
conseguir distinguir se estava feliz, chocada ou perplexa.
— Anahí? – Karen a chamou do lado de fora – Ta tudo bem?
— Sim – ela respondeu disfarçando – Eu só... não foi nada, já estou saindo.
Ela não poderia dar uma notícia daquelas sem ter certeza suficiente de que
era real. Por isso Anahí levantou do banheiro, lavou o rosto e molhou a
nuca, respirando fundo, para sair dali com a expressão mais normal
possível. Ela não queria dar pistas do que estava acontecendo, ou melhor,
do que poderia estar. Ao mesmo tempo, após lavar a boca, se deu conta que
precisava comer algo, já que estava mais do que nunca com o estômago
vazio... algo que não era bom caso aquela suspeita se confirmasse.
— Você está branca como uma folha de papel – Ellie observou olhando a
neta sair do banheiro com a pior cara possível – Se alimentou hoje?
— Não – Anahí admitiu, disfarçando – Deve ser pressão baixa. Mas vou
dispensar o café.
— Farei um suco de laranja para você – ela disse sorrindo para a neta – E
você vai comer, viu mocinha? Trinta e um anos, já é mãe, não preciso te
ensinar a cuidar de si própria, não é?
Não... ainda mais quando poderia ter mais alguém com ela, justo naquele
momento.
Com todas aquelas cenas mentais, Anahí se deu conta que, se não estivesse
grávida, ela acabaria planejando um filho para o mais rápido possível,
porque tudo aquilo era bom demais para não ser vivido.
Mas ela chegou em casa, sentou-se no vaso do banheiro, fez xixi sobre
aquele palitinho e, menos de trinta segundos depois, haviam dois risquinhos
bem nítidos ali...
— Oh Deus...
Tudo estava misturado, ela se deu conta quando as lágrimas caíam em seu
rosto. Era a terceira vez que ela descobria uma gestação, sem dúvida bem
diferente das duas anteriores. Imediatamente Anahí se lembrou da primeira,
quando ela primeiro sentiu medo e depois foi tomada pela euforia e
tranquilidade, ao mesmo tempo, por se dar conta que, fora do eixo e dos
planos, Poncho e ela seriam pais. A segunda foi tomada totalmente pelo
pânico, por não saber o que aconteceria, por não ser nem de longe a
gravidez que ela queria com a pessoa com quem ela queria, mas que oito
anos depois, mesmo esquecido, se converteu na melhor parte da vida dela.
E ali estava ela, nove anos depois, na terceira vez. Com a mão no ventre,
incrédula... tão diferente e tão parecido...
O problema era a pergunta que não queria calar em sua mente: e se desse
tudo errado mais uma vez? E se ela não tivesse a chance de contar? E se...?
Mas ao invés de se deixar levar por aquele pânico infundado, Anahí decidiu
fazer algo: ela foi para o quarto trocar de roupa e sair novamente. Ela tinha
que dividir aquela notícia com alguém. E sabia exatamente com quem.
Mas quando ela tirou a blusa e se encarou no espelho pela primeira vez
desde a mais nova descoberta que definiria o resto de sua vida, foi
inevitável não sorrir. Mesmo não havendo nem um mísero sinal físico de
que havia um bebê ali, ela se virou no espelho, encarando o reflexo. E como
num ato reflexo, colocou a mão na barriga, num primeiro ato carinhoso.
— Não sei se você sabe Anahí, mas isso não se faz – Maite disparou
enquanto uma calada Anahí entrava no apartamento sem demonstrar
qualquer reação – Eu sou uma lactante de resguardo, o que significa sem
sexo, sem bebida e comendo verduras...!
— Nem preciso dizer nada porque a Maite fala por mim – Christian
acrescentou – Que diabos aconteceu Anahí? Nós ficamos nervosos...
Mas mesmo diante daquela chuva de reclamações Anahí não disse nada.
Ela estava nervosa, só que menos se comparado com a forma que estava ao
ver o resultado do teste. Por isso, apenas se sentou e esperou pelos dois
finalmente se acalmarem para, enfim, dizer algo. E as duas expressões de
curiosidade, como se perguntassem com os olhos por que ela não estava
contando o que quer que fosse, eram maiores do que nunca.
— Anahí, você não se separou do Poncho pela milhonésima vez não né? –
Maite revirou os olhos – Porque se tiv...
— Eu estou grávida.
— Isso é sério? – uma Maite atônita se limitou a perguntar. Ela piscava sem
parar.
— Ela não estaria chorando se não fosse sério – Christian murmurou – Any,
você está feliz não é? Me diga que você enxerga isso como a coisa
maravilhosa que é...!
— Claro que enxergo – Anahí riu negando com a cabeça. Maite e Christian
eram as únicas pessoas da face da Terra que a fariam rir num momento
daqueles – É que eu to... em choque, feliz e desesperada, tudo ao mesmo
tempo. Ah, e com saudade do Poncho.
E de repente, vendo aquela cena de seus dois melhores amigos firmes, lhe
apoiando, no momento mais especial e inesperado de sua vida, ela
conseguiu sentir a paz que tanto procurava. Sentir que aquilo era real,
embora não totalmente. Porque só seria completo quando contasse a
Poncho. Quando pudesse finalmente compartilhar a grande notícia de sua
vida com a única pessoa com quem queria dividi-la.
Se alguém duvidou que estamos na fase do amor, esse cap veio pra
convencer de vez! Temos aqui o casalzinho do pop cheios de saudade, o
começo do fim do Chad (tão vendo o fim do túnel agora?) e por fim uma
ANAHÍ GRAVIDINHAAAAA!
Claro que os primeiros a saberem tinham que ser os bffs né? Da mesma
maneira que a Maite fez questão de contar pra Anahi que tava grávida da
Luna, agora a amiga faz o mesmo e inclui o Christian, que é tão especial
quanto.
Rafa
Capítulo 89 - Someone wants to talk to you
Como nada na vida era por acaso, Anahí se deparou, na semana do retorno
de Poncho à Nova York, que ele voltaria para casa justamente quando
estava prestes a fazer aniversário.
Só que aquele seria o primeiro aniversário de Poncho que a data não seria
celebrada exclusivamente por ele. Afinal de contas, ele não era mais a única
pessoa que tinha nascido naquele dia.
— Sim, com uma festa no jardim dos seus avós – Karen propôs – Já falei
com os dois e bem, seu avô ficaria ofendido se não fizéssemos lá.
— Eu acho que eu seria um voto totalmente vencido caso não aceitasse né?
– ela fez uma careta com ar de riso – Tenho certeza que pai e filha vão
achar isso o máximo.
É claro que curtir ainda não estava nos planos de Anahí. Ela se sentia
estranha já que ainda não tinha anunciado aquela novidade para todos ao
seu redor. Naquela semana em especial ela esteve com várias pessoas que
considerava realmente especiais e totalmente confiáveis – Sophia, Lexie,
Marina, seus pais e seus avós, além de Missy, é claro – e mesmo assim
sentia que deveria guardar aquilo por algum tempo. Ao menos até Poncho
voltar e a notícia finalmente ser dividida com quem ela realmente queria.
Seria incrível.
Aquela perspectiva fez Anahí se animar e dar o aval para a festa. Ela sequer
teve tempo de se envolver, às voltas com o caso de Sophia, com o My
sister's place e os cuidados da filha e do enteado que lhe sugavam um tanto
de tempo. Para completar, a própria Sophia estava a semanas de se casar
com Jesse e isso fazia com que Anahí acabasse, enquanto dama de honra,
dedicando tempo demais aos detalhes daquela outra festa. Mas não havia
problema, porque Evelyn e Karen estavam, com a ajuda de Ellie, cuidando
de tudo. Nem que Anahí quisesse ela conseguiria cuidar de algum detalhe.
Duas noites antes da festa, ela estava às voltas em sua casa fazendo pipoca e
bolo de chocolate para três crianças afoitas que faziam ali uma festa do
pijama. Daniel tinha pedido à madrasta para dormir ali e acabou levando
Samantha à tiracolo, Anahí foi incapaz de dizer que não. No fim os três
estavam jogando videogame juntos na sala aos gritos e ela, sozinha na
cozinha, mal soube como conseguiu ouvir o celular apitando pelas
mensagens que chegavam. Estava tirando o bolo que fazia para os três do
forno quando ouviu o aparelho vibrar. Na mesma hora ela olhou, como se
soubesse, quem sabe sentisse, quem estava falando com ela. A surpresa não
poderia ser melhor.
Era impossível não sorrir vendo uma mensagem daquelas, não é mesmo?
Anahí na mesma hora se recostou na parede sentindo parte do corpo
desmanchar. Não, ele não precisava dizer o quanto sentia a falta dela... era
provavelmente no mesmo nível que ela sentia dele, era recíproco. Dando
uma espiada na sala e se certificando que as crianças não a olhavam, Anahí
levou a mão à barriga quase que instintivamente.
Horas depois as três crianças estavam deitadas na cama king size do quarto
dela. Dormiriam os quatro ali, surpreendentemente havia aquele espaço
todo. Samantha, é claro, tinha sido a primeira a pegar no sono. Daniel
estava bambeando ainda; Missy, por sua vez, parecia mais acordada do que
nunca, o que acabou sendo propício.
— Melhor ainda – ela sorriu com doçura. Era bom demais propiciar aquelas
pequenas alegrias e experiências mágicas para a filha que, tal como ela,
tinha sido privada de tantas...
— Claro que sim – Anahí sorriu – A festa é dupla, pra eles dois.
— E além disso – Anahí divagou – Acho que ele vai ganhar um presente
incrível esse ano.
Erika, ao lado de Poncho, tagarelava sem parar, mas ele já não dava tanta
atenção. Ela não o culpou, assim que se deu conta do que o tragava dali. Ela
viu Anahí do outro lado da faixa, olhando para ele da forma como logo ela
se deu conta que ele também a olhava, ambos ansiosos demais para aquele
reencontro. Erika tinha convivido com Poncho ativamente naquelas três
semanas e era testemunha da falta que aquela mulher fazia na vida dele. Ela
não conseguia imaginar como os dois tinham passado oito anos separados,
já que agora três semanas pareciam o verdadeiro inferno.
Tudo o que Erika viu foi Poncho sequer falar algo mais com ela, apenas
dando a volta naquela faixa que separava os passageiros do voo deles do
resto do mundo que os esperava, com a determinação de um garoto
apaixonado de dezessete anos que um dia ele foi, na direção da mulher que
amava, para beija-la e acabar com aquela maldita saudade.
Anahí não reclamou de ser beijada daquela forma, ela ansiava, na verdade.
Por isso se pendurou no pescoço dele e eliminou qualquer resquício de
desespero, de insegurança ou medo. Agora ela estava bem, nos braços de
Poncho, com a vida voltando aos trilhos e a certeza de que o pesadelo não
iria recomeçar. Eles ficariam bem, como uma família.
— Diga isso pra minha inspiração – Poncho a tocou pela cintura – Se bem
que, talvez com você do meu lado, eu não sinta tanta necessidade de
escrever.
— Vamos pra casa então – ele respondeu – To com saudade de você, das
crianças...
— Ela ta bem aqui – Anahí retrucou com uma careta – Obrigada Erika.
— E eu entendo você não querer soltar dele, mas eu adoraria acompanha-lo
em outras turnês – ela piscou rindo.
É claro que adoraria... mas o futuro a Deus pertencia e tudo o que Poncho
queria naquele momento era viver o presente.
Anahí não tinha feito planos sobre a forma como ela contaria a Poncho de
sua gravidez. Algo que sua longa experiência havia lhe ensinado é que
planos só serviam para serem frustrados. Por isso ela decidiu ser
espontânea. Nada de caixa com sapatinhos brancos, nada de embrulho com
o resultado do teste de farmácia feito na semana anterior, muito menos o
Beta HCG dentro de um bonito envelope. Seria espontâneo e de coração,
mas algo que ela contaria para os netos futuramente.
— Era uma das coisas que eu queria te contar – Anahí respondeu mordendo
os lábios – Oficialmente licenciada de novo.
— Isso é incrível amor – ele respondeu caminhando com ela até o carro,
abrindo a mala e colocando suas coisas – Espera, o que mais você tem pra
me contar? Você disse que era uma das coisas...
— Fico feliz por isso – Poncho respondeu ainda com a testa franzida,
colocando o cinto. Ele sentia que tinha algo faltando ali, algo não dito –
Any, o que houve?
— Não coloca o cinto agora – ela pediu, e ele soltou – Só senta aí, tem
alguém que quer falar com você.
— Eu não sei ainda se é ele ou ela – Anahí disse sentindo a voz embargar,
mordendo os lábios após uma breve pausa para recuperar o fôlego – E o que
quer que seja, ainda não sabe falar. Mas nem tudo é dito em palavras, sabe?
Eu pessoalmente ainda não consegui formular a frase pra te dizer isso... eu
sei que normalmente as pessoas escolhem gestos mais românticos ou
especiais pra esse tipo de momento, mas eu acho que um "eu estou grávida"
é mais a nossa cara. Quem sabe um "nós amamos você, papai"... mas acho
que tem outras duas crianças que diriam junto com ele ou ela e com todas as
letras...
— Any... – o fio de voz dele soltou e Anahí olhou para cima, se deparando
com um definitivo e imenso sorriso em seus lábios. O sorriso de quem mal
conseguia acreditar.
Agora ela tinha mais certeza: haviam imagens que valiam muito mais do
que palavras...
Poncho lembrava. Ruby era o nome que eles usavam, desde a adolescência,
para se referirem ao primeiro filho que teriam. Filha, na verdade. Ele sabia
exatamente a que Anahí se referia: o bebê que eles perderam, a chance que,
de certa forma, nunca tiveram.
— Deu tudo tão errado que... você não estava aqui e eu tive medo de que
tudo acabasse antes – os olhos de Anahí de repente ficaram cheios de
lágrimas – Mas agora você ta aqui e... eu me dei conta que a minha vontade
de te encontrar era maior do que qualquer disposição pra preparar uma
surpresa. E eu sei que é uma verdadeira loucura, que nós acabamos de ficar
juntos de novo, você sequer adotou a Missy formalmente, o Dani acabou de
se acostumar comigo, mas é que...
Simples assim. Como quem faz por rotina. De alguma maneira, com aquele
gesto, calando a tormenta interior que deixava Anahí agitada e a trazendo
para os mares calmos da felicidade dele.
— Intensa demais você, meu amor, sempre foi e sempre vai ser – Poncho
respondeu rindo – Desde os oito anos de idade, na primeira vez que eu te vi
na classe da Srta. Clarke, lendo aquele poema com as trancinhas loiras com
laços. Eu lembro cada detalhe. Você falava rápido demais e a Srta. Clarke
dizia que tinha que respirar antes de ler. Mais de vinte anos depois você
não mudou nada, fala antes e respirar e de pensar. Ta aqui desesperada
falando tudo de uma vez enquanto eu to deixando a ficha cair, a felicidade
vir aos poucos.
— Eu sei, eu sou agitada, eu sei que deveria ter te dado um tempo pra se
acostumar... – ela mordeu os lábios, desviando o olhar, quando o dedo dele
tocou seu queixo e fez seus olhos encararem-no novamente.
— Não, era algo que você tinha que saber primeiro, eu quero contar pra eles
junto com você – Anahí suspirou muito mais calma – Daqui a pouco vou ter
uma crise de choro e você vai saber que a minha ficha finalmente caiu.
Deus, eu vou ser mãe.
A ficha de Poncho caiu realmente minutos depois. Ele ficou eufórico com a
ideia, Anahí começou a notar quando os dois já estavam na altura do
Brooklyn. Agora que ele já sabia da novidade, sua ansiedade não era mais
apenas por rever os filhos, de quem sentia muita saudade, mas também de
imaginar a forma como os dois reagiriam quando soubessem da notícia.
Anahí até cogitou que os dois fossem almoçar e depois buscassem Missy e
Daniel, mas obviamente Poncho não quis. Então, ela mal estacionou em
frente à confeitaria de Sophia e já viu o namorado sair do carro com pressa,
demorando poucos minutos para ver os filhos deles agarrados ao pai e
eufóricos com o seu retorno, demonstrando estarem com tanta saudade
quanto a que sabia que ele sentia.
— Seu pai e eu queremos contar algo pra vocês – Anahí revelou encarando
os dois rostinhos deles cheia de expectativas. Ela mal poderia esperar pelas
reações.
— Eu estou grávida – Anahí por fim falou apertando a mão de Poncho por
baixo da mesa – Vocês vão ganhar um irmãozinho.
A reação esfuziante dos dois não veio. Tanto Missy quanto Dani apenas
continuaram encarando os dois, piscando... Dani ainda sugando o
milkshake. Rapidamente Anahí ficou nervosa... aquilo significava que eles
não tinha gostado da novidade?
— É um bebê? – Missy finalmente perguntou quebrando o gelo – Igual a
Luninha?
— Sim – Anahí sorriu num incentivo, mas a verdade é que ela tinha ficado
subitamente nervosa – Vai nascer em uns oito meses.
— Eu acho – Missy respondeu – Mas ele vai dormir onde? Não tem outro
quarto.
— Se fossem dois teria que ser dois quartos a mais – Missy explicou para
Dani sabichona e ambos terminaram o diálogo pensativos.
— Se for menino pode dormir com o Dani e se for menina, com a Missy –
Poncho propôs – Mas não é isso o mais importante... e sim se vocês
gostaram. A Any e eu estamos felizes, muito felizes... mas queremos saber
se vocês também estão assim.
— Uhum – Missy confirmou – Afinal irmãos mais velhos são pra isso, né?
— Sim, são – Anahí sorriu orgulhosa – E eu tenho certeza que vocês vão
ser os melhores do mundo nisso.
— Mas tia, podemos comprar um videogame pro papai assim mesmo sabe –
Dani respondeu persuasivo – Quer dizer, aí podemos ir aprendendo a jogar
enquanto o bebê não nasce pra depois podermos ensinar...
O debate dali em diante seguiu para aquele rumo em que as duas crianças
faziam pequenos planos sobre como seria a vida com aquele novo
integrante da família. Tudo era um pouco irreal, mas não importava:
Poncho e Anahí estavam felizes com tudo aquilo. Satisfeitos com as reações
dos filhos, tranquilos e realizados por estarem vivendo aquele novo
momento. Eles sabiam que seria uma loucura, que Poncho estava recém
lançando um livro e Anahí começando uma carreira... não era a melhor hora
para uma criança. Mas era a hora que iria acontecer com eles, e os dois, ou
melhor, os quatro, fariam de tudo para que aquela se tornasse a melhor.
~
Ai, como eu amo esse capítulo!
Chega a ser repetitivo perguntar se vcs estão gostando né? Com todo esse
mel é impossivel não gostar!
Votem e comentem!
Beijos,
Rafa
Capítulo 90 - I'll be there for you
— Grávida? – Lexie exclamou com o tom mais agudo de quem não estava
gritando – Você está de sacanagem comigo...!
Anahí riu com aquela frase da amiga. Depois da maneira como Maite havia
reagido e como Sophia estava com os olhos marejados agora, era
interessante ver alguém agir de forma diversa, o que nitidamente acontecia
com Lexie.
— Lex, essa não é a maneira mais legal de parabenizar a sua amiga – Maite
cruzou os braços com ar de riso.
— Um dia – Lexie observou – Não agora. Não tão cedo. Mas um dia...
— Eu sei que está – Anahí a abraçou de volta – E sei que a sua reação tem a
ver com o fato de que, com nós três sendo mães, todos vão perguntar
aquelas coisas estúpidas como "então Lexie, quando vai encomendar o
seu?".
— Eu vou ficar em Nova York – Lexie sorriu decidida – Eu quero ver todas
essas crianças crescerem, quero ficar perto da minha família, dos meus
amigos. E o General Hospital me fez uma oferta de emprego, uma possível
pesquisa com Amelia Shepherd... dá pra ser tudo o que eu quero aqui.
Pra começar, assim que eles chegaram à casa de Arthur e Ellie, Missy
perguntou à mãe, na frente da avó, quando eles poderiam falar da novidade.
Por sorte, Anahí rapidamente constatou, Karen não as ouviu, estava
distraída. Depois, Daniel quase mencionou ao lado de Erendira que Anahí
não poderia beber refrigerante – um diálogo que ouviu entre o pai e a
madrasta no dia anterior – mas Poncho conseguiu interceptar o assunto
antes que a irmã recebesse um spoiler da notícia.
— É que nós queríamos reunir todos vocês pra dar uma notícia... – Anahí
começou a falar, mas foi interrompida pela sogra.
Ela já tinha dito aquela frase algumas vezes: para Maite e Christian, para
Poncho, depois para os filhos e, por fim, para as amigas. Àquela altura, sua
terapeuta e Marina também já haviam sido interadas. Mas dizer à família,
toda a família – já que os pais e a irmã de Poncho também faziam parte
dela – era diferente. Somente deles ela recebia aqueles olhares cheios de
ternura, por perceber que não era apenas a sua família que estava se
construindo, mas ela num todo estava crescendo. Todos ao mesmo tempo se
levantaram para cumprimenta-los, mas o primeiro olhar que Anahí recebeu,
o primeiro abraço que a envolveu, foi de Karen.
E ela então imaginou como teria sido nove anos antes contar à mãe aquela
mesma novidade. Ela pensou em como Karen a ajudaria a lidar com a
gestação de Missy, com a tristeza que aquilo certamente significaria. O
olhar que a mãe lhe lançava dizia tudo isso sem pronunciar uma palavra
sequer. Por isso Anahí a abraçou, com os olhos lotados de lágrimas, que se
soltaram quando as duas se abraçaram. Quando ela se soltou, Keith também
estava ali e deu o abraço mais carinhoso que ela poderia encontrar, ficando
Anahí totalmente certa de que o pai não poderia receber notícia mais feliz.
A reação de Ellie não foi muito diferente da que a filha tivera logo antes, e
Anahí rapidamente se deu conta que teria que segurar a emoção se não
quisesse sair daquela sala com a cara totalmente borrada pela maquiagem.
— Certamente ninguém pediu mais por essa criança do que ele – Harry
caçoou, vendo o avô fazer uma pequena careta.
— Ora, convenhamos, já era hora – Arthur reclamou – Amo ter a Missy e o
Dani por perto, mas eu bem queria um bebezinho nessa casa.
— E se Anahí está grávida isso quer dizer que esses dois vão finalmente
interromper esse ciclo infinito de terminarem sem parar – Robert
resmungou vendo os filhos arregalarem os olhos com seu comentário.
— Quando não é minha mãe, é meu pai, valha-me Deus – Erendira fechou
os olhos negando, chegando até o irmão e a cunhada e os abraçando.
— Vou fingir que não ouvi Erendira – Evelyn fez uma careta.
Mas logo veio a pergunta que eles não queriam responder: qual sexo
preferiam. Imediatamente as apostas começaram: Evelyn, Karen e Erendira
apostavam num menino; Arthur, Harry e Robert achavam que nasceria uma
menina e Keith era o único que se limitava ao clichê de que importava que
viesse com saúde. Anahí e Poncho eram sinceros em dizer que o sexo não
lhes importava, que, como já tinham um casal, o que viesse lhes faria
igualmente felizes, qualquer que fosse a hipótese. O problema foi quando
Anahí cogitou deixar para descobrir o sexo quando o filho nascesse. Foi a
hora que ela quase foi expulsa da sala e que viu que a expectativa de toda
uma família tinha se formado.
— Você está dizendo que aceita ser minha sócia e acha realmente que eu
vou me recusar por conta de uma gravidez, é sinal de que não me conhece o
suficiente – Joy disse falsamente indignada – Eu saí de um escritório cheio
de cuecas, o que poderia esperar...? Que nunca fosse lidar com o seu
momento fraldas...?
— Se você quiser ser minha sócia Anahí, eu não te ensino apenas a ser uma
advogada de sucesso, te ensino também a montar um berço pra sua futura
sala – Joy respondeu decidida – Agora temos muito trabalho a fazer.
Elas tinham mesmo. Após Paris e Leah, outras duas mulheres surgiram
afirmando que também haviam sido estupradas por Chad, com provas ainda
mais contundentes contra ele. Anahí e Joy tiveram trabalho, procuraram
pelas testemunhas indiretas, reuniram todos os detalhes, os relatos, todo o
trabalho levou semanas... mas por fim, elas tinham tudo pronto em mãos.
Elas tinham o suficiente para um caso contra Chad. E elas levaram tudo
aquilo à polícia, para que o próximo passo finalmente fosse dado. Para que
aquelas mulheres finalmente tivessem justiça.
— Isso é sério? – Jesse perguntou ainda um pouco cético – Cem por cento
de certeza...?
— Eu não brincaria com uma coisa dessas – Anahí sorriu – Valeu a pena
denunciar, Soph. Está vendo? Nós não podemos nos calar.
— Você tem razão – ela enxugou o olho pela lágrima que teimava em
querer cair – Não podemos mesmo nos calar. Agora... nós vamos lutar pra
que nenhuma mulher se cale mais.
Mas como não se mudava nada de cima para baixo, ela dava sua pequena
contribuição lutando por aquilo. Anahí também.
— Oh meu Deus olha que coisa mais gostosa da vovó...! – Jade disse já
estendendo as mãos para a neta que abriu um sorriso gostoso ao vê-la.
— E lá vem a pessoa que tenta concorrer comigo pela minha filha – Mane
revirou os olhos fazendo uma careta, sem conseguir impedir que sua mãe
tirasse Luna de seu colo.
— Não preciso competir porque eu certamente ganho – Jade respondia ao
filho mas com as atenções voltadas para a neta – Afinal de contas eu sou a
avó favorita, não sou meu bebê...?
Filhos e nora geralmente não gostavam de discutir com Jade. Priscila, por
sua vez, fazia o que sempre achava melhor em momentos como aqueles:
desviar o assunto.
— Maite querida, você ficou linda como dama de honra – Priscila encarou a
nora sorridente, sem imaginar o rumo que o novo assunto tomaria...
— Eu espero que quando seja a sua vez no altar você não resolva fugir
também – Jade comentou, fazendo Maite ficar escarlate e Mane arregalar os
olhos.
— O quê? – Jade ergueu a sobrancelha – Você ouviu sua mãe... se ela fica
bonita como dama de honra, já imaginou como noiva...?
Mas Jade não parecia satisfeita. Nem um pouco, para falar a verdade.
— Ande, vamos, vocês moram juntos, estão apaixonados, têm uma filha,
por que não? – Jade insistiu. Ela já tinha um par de olhos desconcertados
encarando-a, os da nora, e três outros furiosos tentando cala-la. Os de Mane
principalmente.
— Nós estamos bem assim – Maite desconversou com uma careta, mas
terrivelmente envergonhada – Se melhorar estraga.
— Estraga nada – Jade negou rindo – Querida, logo se vê que você não é
taurina. Aprende com a sua sogra: quanto mais doce melhor.
— É, talvez ela esteja – Maite sabia que não estava, mas por que não
escapar dali naquela oportunidade perfeita quando era seu namorado que
lhe dava?
Melhor impossível.
Logo eles viram Maite escapulindo dali o mais rápido que pôde, dando
passos suficientemente decisivos para não ser alcançada. E um Mane ficou
para trás pronto para ralhar eternamente com a mãe por conta da cena que
tinha acabado de estrelar.
— Mãe, você sabe que ela é traumatizada com casamento – Mane disse
com os dentes cerrados para Jade, que agora fazia uma careta – Precisava
disso...?
É, parecia que Lexie não era a única a ser cobrada nesse sentido.
No fim Sophia realmente precisava de Maite. Ela estava pronta. Logo Jesse
estava no altar improvisado cercado de flores com um púlpito e Poncho ao
seu lado, ambos com sorrisos enormes, exatamente como sempre deveria
ter sido. Logo começou uma música que parecia romântica, mas não era
bem assim. Foi quando Samantha entrou jogando as pétalas no caminho. Os
convidados começaram um ar de riso assim que reconheceram a melodia no
ar.
Sophia entrou no próprio casamento de braços dados com a mãe. Ela não
tinha um pai desde que se entendia por gente, não havia uma figura
masculina para entrar com ela. Poncho até havia se oferecido para suprir
aquele papel, mas ela não aceitou. Não importava se era um homem que
estava de braços dados com ela, mas sim a pessoa que foi a sua referência a
vida inteira. À sua frente, ela via Samantha caminhando na direção da
pessoa que era a referência dela. Sophia só torcia para ser para os filhos o
que Olivia tinha sido para ela, já era suficiente.
Quando Sophia chegou no altar, ela teve à sua frente algumas das cenas que
sempre sonhou. Do lado de Jesse estavam Christian, Mane e Poncho; do
dela, Maite, Lexie e Anahí, a quem ela entregou seu buquê. Jesse lhe deu
um beijo na testa e outro na barriga antes de lhe dar o braço e ambos se
virarem para a celebrante, prontos para selar o compromisso que levariam
para a vida.
Mas de nada valeria tudo aquilo se não fosse o viver. Se ele não tivesse
enxergado nela, um dia, mais do que uma amiga, mas alguém com quem
poderia dividir a vida. Se não tivesse aprendido com os erros que o fizeram
perder Sophia certa vez. Se Sophia não tivesse reconhecido aquela mudança
e perdoado, dando uma nova chance a Jesse. Uma nova chance a eles.
E não demorou nada para que ele percebesse exatamente o tipo de cena que
a menina fantasiava.
Missy e Dani estavam ocupados brincando com Samantha e com Eric, filho
de Bradley, o namorado de Diana. Anahí apenas deu um beijo na filha no
início da festa, mas não se preocupou em fiscaliza-la, só via Missy correndo
de um lado para o outro com as crianças. Ela de início se divertiu com as
amigas, por vezes trocando olhares de longe com Poncho cada vez que um
procurava pelo outro. Quando ela deu por si estava num círculo ao redor da
pista de dança, que os noivos inaugurariam como mandava a tradição.
Sem dúvidas que seria. Ele não interromperia a visão dela no casamento do
melhor amigo dele a toa. Por isso Anahí assentiu, segurando a mão dele e
saindo. Os dois não foram notados porque o foco de todas as atenções eram
Jesse e Sophia, então eles tiveram uma certa tranquilidade em sair dali e se
afastarem, indo para alguns metros dali, onde ninguém os veria.
— Poncho, eu...
— Eu quis isso aos dezoito quando você se mudou pra Washington pra
fazer faculdade... quis aos vinte e dois quando fomos morar juntos... e
finalmente estou fazendo agora – Poncho segurou o rosto dela
carinhosamente e encarou seus olhos azuis – Casa comigo Anahí.
— Pelo quê...?
— Por sempre dar um jeito de mostrar que não estamos felizes o suficiente
– os dedos dela afundaram no cabelo dele antes de suas bocas se
encontraram para um beijo mais profundo.
Agora, com uma pequena contagem regressiva para aquele que seria o
beijo. Depois de eles darem o sim que esperaram uma vida inteira para falar.
AHHHHHHH O AMOR!!!
Será que ta ficando enjoativo falar isso no final de todo cap? Espero que vcs
estejam aproveitando já que estamos tãoooo pertinho do fim!!!
Será que se melhorar estraga? Testaremos essa teoria semana que vem!
Votem + comentem
Beijos,
Rafa
Capítulo 91 - #MeToo
— As apostas estão crescendo agora que seus amigos entraram – Karen riu
– Até Joy e Marina resolveram apostar.
— Eu não duvido – Anahí suspirou – Mas tem algo que eu preciso dizer
que talvez não agrade vocês.
— Poncho e eu decidimos não saber o sexo – ela sorriu, vendo três pares de
olhos se arregalarem bem à sua frente – Nós queremos que seja surpresa.
— Não tanta surpresa assim – ele disse passando a mão nas costas dela
remediando a situação – Duas pessoas irão saber, mas apenas elas.
— É claro que não – ele respondeu negando com a cabeça – Daniel e Missy,
eu apostaria.
— Acertou em cheio pai – Anahí sorriu – Eles são nossos filhos e bem... se
comprometeram em guardar segredo. Mais ninguém saberá.
— Embora eu não tenha muita certeza que esse segredo inclua a Samantha,
conheço o filho que tenho – Poncho deu de ombros.
— Ah meu Deus, mas por que isso...? – Ellie revirava os olhos – Eu vivi
isso à força na época que esperava sua mãe Anahí, você não precisa.
— Com cores e enfeites neutros, que servem para ambos os sexos – Anahí
explicou sorridente – Poncho e eu não queremos dar uma criação sexista
pro nosso bebê. Sem isso de azul é cor de menino ou rosa é cor de menina,
queremos que ele ou ela seja livre pra ser o que quiser, como quiser.
Keith parecia ser o único dos três a, no mínimo, entender. Mas Karen e
Ellie, por outro lado, não estavam exatamente convencidas daqueles
argumentos. Não que elas fossem contra, é claro que compreendiam que
cabia a Poncho e a Anahí as decisões relativas àquela gravidez e ao filho, a
gestação tão sonhada e esperada por eles, tinha que ser do jeito deles... o
problema era esperar por mais cinco meses, somente para o nascimento da
criança, para saber se seria um menino ou uma menina. Tortura demais.
As duas não foram as únicas na revolta, poucos foram os amigos e
familiares que apoiaram aquele ponto. As crianças eram das poucas que não
entraram na polêmica, mas basicamente Evelyn e Arthur tiveram reações
três vezes piores que as de Ellie e Karen. A mãe de Poncho se doía por não
estar por perto. Por motivos um pouco opostos Christian e Maite também
quase subiram pelas paredes com a novidade, na verdade Sophia e Mane
foram dos poucos que não se incomodaram, afinal eles eram da vertente que
aquela gravidez deveria ter a cara dos pais e que cada detalhe deveria ser
como Poncho e Anahí sonhavam que seria. Coisas demais haviam sido
roubadas deles, o que sobrou deveria ser respeitado e até celebrado.
Por isso Anahí cuidava dos detalhes do enxoval com cores e decorações
neutras. Poncho e ela tinham comprado um berço e ficou decidido que ele
seria montado no fim da gravidez na sala e somente após o nascimento
alguém iria até ali e levaria para o quarto de Dani ou de Missy. Anahí
comprava roupas rosa e azuis para o bebê, na verdade de todas as cores.
Com os brinquedos não era muito diferente, havia carrinhos de pelúcia,
bonecas de pano, itens de crochê, um móbile de nuvem e lua com estrelas
pequenas penduradas – que Maite amou e quis um igual para sua Luna – e,
como não poderia faltar, uma princesa Leia de pelúcia, um oferecimento de
Missy para o futuro irmão ou irmã.
O dia que o bebê mexeu pela primeira vez provavelmente foi o mais
celebrado de todos, Anahí estava somente com Poncho e cantava para a
própria barriga quando aconteceu. Em seguida ela teve que cantar o
repertório inteiro de Beyoncé para que os filhos conseguissem sentir o
irmão também. Poncho estava eufórico, filmou aquele momento e mandou
para absolutamente todas as pessoas. O que aconteceu em seguida foi
Samantha botando música pop no Spotify cada vez que ia na casa dos
amiguinhos para acostumar o irmão deles com um bom gosto musical.
Afinal de contas...
— Ela disse antes de casar com o papai que quando ele tivesse outro bebê,
ela que ensinaria o meu irmão a ouvir Ed Sheeran e Beyoncé – Samantha
explicou como se fosse uma adulta – Mas acho importante incluir Bruno
Mars e Adele também. Eu até fiz uma playlist pra mamãe ouvir. Só por via
das dúvidas, sabe?
E pelo tanto que Anahí conhecia Samantha e suas insistências, ela tinha
certeza que os ouvidos de Sophia – quem sabe os de Logan também – já
tinham quase explodido de tanto ouvirem as mesmas músicas.
Dessa forma, o único futuro pai mais nervoso do que Poncho era Jesse, sem
sombra de dúvidas. Mais um laço que unia aqueles dois melhores amigos.
Mas como tinha acontecido nos dias anteriores, com todas as outras
mulheres, a promotora Katrina Bennett começou o testemunho de Sophia de
forma emblemática.
— Sophia Bush.
A acusação deu tempo para Sophia dar toda a sua versão para o júri, mas
ela sabia que aquela seria a parte fácil. Era Katrina quem se desgastava com
os inúmeros protestos de Patty Hyholm, interrupções intensas... não Sophia.
Ela apenas seguia a linha que Joy a orientou, tentando respirar e se conter.
Dessa vez não era a juíza Nery quem comandava tudo, e sim um juiz idoso
e negro, mais calmo e até condescendente. Mas ele deixou Sophia falar. O
júri teve sua atenção. Só que não era a hora da acusação que definia tudo.
Era a hora da defesa.
— Sophia Bush, conhecida como "também foi estuprada por Chad Michael
Murray" – Patty disse encarando-a com os olhos quase fechados – Como
você conheceu o acusado?
— Nós nos tornamos amigos após ele começar a frequentar a minha
confeitaria – Sophia explicou calmamente.
O depoimento de Sophia teve seu peso. Jesse bem que queria que ela saísse
dali assim que terminasse de depor, mas ela insistiu em ficar até o fim.
Após ela veio Maite. Junto com seu testemunho, imagens das câmeras de
seu prédio mostrando uma abalada Sophia chegando ali, no dia seguinte ao
estupro, corroborando com tudo o que a morena disse. Foi difícil para Patty
Hyholm conseguir desconstruir aquela ideia, ainda mais porque a gravação
batia com tudo o que Maite afirmava. E o pior: não haveria nenhum outro
depoimento de testemunha para enfatizar qualquer tese que fosse após o
dela.
— Ficarei melhor quando ouvir que ele foi condenado – Sophia respondeu.
Obviamente ela estava apreensiva. Demorou mais de três horas até o júri
chegar a uma conclusão e Joy telefonar para eles indicando que deveriam
retornar à Corte. Anahí ao ver o júri entrando reviveu todo o seu momento,
sentindo uma espectadora da repetição de sua própria história. Ela via
Sophia respirando devagar, com a mão apertando a de Jesse, o olhar fixo no
que viria. Quase podia sentir o coração da amiga batendo forte, rezando em
silêncio para que as histórias delas tivessem o mesmo final.
Enquanto no julgamento dela Anahí ouviu cada palavra da juíza Nery e da
primeira jurada, ao pronunciar o anúncio do veredicto, no de Sophia era
como se ela ficasse surda. Provavelmente a amiga se sentia da mesma
forma que ela se sentiu antes, mas para Anahí, só realmente importou uma
palavra.
"Culpado".
— Agora você vai andar até lá e olhar pra ele, algo precisa ser dito – Anahí
disse segurando a mão dela – Não de você pra ele, mas de você pra você
mesma. Você vai olhar pra aquela cara de maldito dele e pensar consigo
própria que é isto que nós damos aos nossos estupradores: a coragem da
denúncia e a definitividade de uma condenação.
— Está sentindo esse sabor na sua boca? Da vitória – Joy disse saboreando
– Acostume-se com ele.
xxx
— Tudo bem, mas não da forma que você está pensando – Sophia riu,
virando-se para o motorista – Meu marido errou o endereço. Nós vamos pro
New York General Hospital. o endereço é 462 1st Avenue, New York.
— Eu queria esperar o veredicto, não queria que esse bebê nascesse sem ter
a certeza de que estava cem por cento livre.
— Eu estou bem, é só uma cólica forte demais, mas eu sei distinguir que
são os começos das contrações – Sophia apertou a mão dele – Ligue pra
alguém buscar as nossas coisas, minhas e dele, em casa. Nós vamos ficar
bem Jesse.
Lexie estava de plantão e não fora para o julgamento, por isso os encontrou
lá. Ela chegou exatamente quando a obstetra, a Dra. DeLucca, fazia um
exame de toque e deixava claro que eles não estavam longe. Foi Lexie
quem avisou os amigos que Logan chegaria naquele dia, ficando no
corredor na hora do parto pronta para anunciar o nascimento dele assim que
acontecesse.
Nesse momento Lexie ficou mais uma vez do lado de fora, era um
momento deles. Samantha estava levemente ansiosa, Jesse conhecia aquele
sentimento. Quando eles entraram no quarto Sophia estava penteada, com
uma camisola confortável e o filho bem acordado, os olhos de um fixos no
outro. O esboço do sorriso nascia no canto da boca, mas ela só se sentiu
completa quando a porta se abriu e Jesse entrou com Samantha nos braços.
Agora assim estava toda a família finalmente reunida, Sophia se deu conta
quando viu a menina animada para conhecer o irmão mais novo. Ela
também teve ali uma certeza dentro do peito: mesmo que estivesse
começando do zero pela primeira vez, tinha uma ligeira intuição de que
tudo daria certo. Afinal, ela já era mãe daquela outra criança há muito
tempo...
— Ei princesa, esse é seu irmão – Jesse disse com ela nos braços enquanto
a menina encarava o bebê no colo da mãe. Para Sophia era difícil segurar as
lágrimas – Diga oi pra ele.
xxx
— Não se gabe – Anahí fez uma careta – Talvez ele puxe a mamãe.
— Eu também não irei reclamar – ele voltou a rir – Inclusive prefiro que
puxe a mamãe dele.
Foi a hora que ela notou que Poncho tinha a testa franzida, como se
pensasse algo que não quisesse dizer. E era exatamente assim, já que, ao ser
questionado por ela, ele desconversou. E Anahí ficou algum tempo
insistindo que ele falasse, percebendo que Poncho pisava em ovos com
relação ao assunto. Mas no fim, acabou sendo vencido pelo cansaço.
— É que eu achava que... você iria querer chama-la de Ruby... caso fosse
uma menina, é claro.
— Ah – Anahí murmurou.
— Eu sei que vão – Poncho deu um selinho nela – Eles são duas pessoas
incríveis que eu sempre admirei muito e sempre gostei como se fossem
meus avós. Quando sua mãe ficou grávida na Carolina do Norte, naquela
cidade pequena, eles não viraram as costas pra ela... vieram pra Nova York,
venderam tudo e a ajudaram a criar você... sem falar que a criaram para ser
uma mulher magnífica e isso fez com que ela te criasse pra ser a mulher que
eu amo. Eu tenho toda a gratidão do mundo à Ellie e Arthur por essa
decisão. Indiretamente, tantos anos antes, eles trouxeram você pra minha
vida. Eles merecem essa homenagem.
— Poncho...!
Mais parecia que tudo havia sido feito de caso pensado. Mesmo assim,
Anahí não poderia reclamar... aquela parecia a ideia perfeita. E fosse
menino ou menina, aquela criança carregaria o nome de uma pessoa
incrível e levaria consigo todo o orgulho do mundo.
Mais uma vez, uma dose de amor e um poço de feminismo e união feminina
nesse cap Sei que a condenação do Chad não era tão esperada quanto a
do Tobias, mas por outro lado era tão necessária quanto. Lugar de
estuprador é na cadeia e nenhum direito nosso a menos!
Vamos descobrir!
Beijos,
Rafa
Capítulo 92 - The right time
Ela não precisou pensar tanto para supor o que poderia ser: mal abriu os
olhos e se perguntou o que estava acontecendo, ouviu uma pequena batida
na porta, seguida pelas vozes de sussurros das crianças do lado de fora.
Primeiro ela fingiu que não ouviu para ver se os dois desistiam, mas logo se
deu conta que não iria funcionar. Por isso cutucou Poncho – que levantou
num pulo, meio assustado – e se levantou para vestir um short.
Anahí normalmente não gostava de acordar cedo e tudo ficara pior com
aquela gravidez. Se ela sempre foi manhosa pela manhã e um tanto
preguiçosa, agora mais parecia que tinha dentro de si todo o sono do
mundo. Não que Poncho fosse muito diferente, ele apenas não se sentia no
direito de reclamar... afinal, sentia que ela arrancaria um olho seu caso
ousasse.
No fim, ele estava vestido e abrindo a porta. E do outro lado dela estavam
os dois filhos dele, Daniel sussurrando algo no ouvido de Missy, os dois se
assustando e dando um pulo quando viram o pai do outro lado. Por mais
sonolento que Poncho estivesse, ou quem sabe irritado pela forma como
Anahí o acordara, ele não conseguia não derreter quando via aquelas duas
crianças com ar travesso à sua frente. Os filhos eram claramente o seu
ponto fraco... e pensar que dali viria mais um...
— Bom dia – Poncho abriu um sorriso irônico. Missy deu uma risadinha.
— O que tem o bebê? – ela perguntou com olhar cético, certa de que nada
considerado preocupante poderia vir daquelas crianças no que dizia respeito
ao seu filho. Até onde lhe constava, ele ou ela estava bem e seguro, em sua
barriga.
— Nós pensamos num nome e queríamos sugerir – Daniel disse abrindo um
imenso sorriso banguela. Poncho lutou com todas as forças para não
gargalhar... e Anahí acabou dando voz aos seus pensamentos, mesmo que
tomada por um mal humor.
— Em que nomes vocês pensaram? – Poncho perguntou para evitar que sua
noiva comesse os filhos vivos.
— Então só pode ser um desses nomes se tiver cara de mestre jedi né? –
Missy perguntou e a mãe assentiu, prendendo mais do que nunca a vontade
desesperadora de rir.
Logo, aquele grupo que tinha apenas duas crianças num primeiro momento
já caminhava para a sexta. Christian seguia sendo o único do grupo que não
pretendia ter filhos, ao passo que babava em todos os bebês das amigas. O
único, já que isso estava nos planos futuros de Lexie. Embora o futuro pai
daquela criança não tivesse muita certeza disso.
Aconteceu numa tarde como outra qualquer quando Sofia, a filha de Mark,
brincava no canto da sala do apartamento que seu pai agora dividia com
Lexie, enquanto a cirurgiã, entusiasmada, contava para o namorado sobre os
avanços inesperados que sua carreira começara a fazer.
— Sim, é incrível – Mark sorriu orgulhoso – Mais incrível ainda é ver você
feliz desse jeito com esse avanço.
— Até porque fora do trabalho o meu casamento perfeito seria com outra
pessoa...
Ela não esperava por aquilo, Mark muito menos. Ao pegar Sofia nos braços
e ajusta-la em seu colo, sob o olhar observador do namorado, Lexie se
lembrou do dia do elevador, onde ela encontrou Jackson semanas após
deixa-lo no altar. Naquele dia ela dissera a Mark que queria participar da
vida da filha dele, ser uma referência para Sofia. Sem que pudesse se dar
conta, estava acontecendo. O olhar de Mark para as duas não poderia ser
mais carinhoso. Lexie sentia que estava no lugar certo.
É claro que provavelmente Mark achava que ela estava plena com aquela
nova pesquisa, com o posto de atendente do hospital, se especializando em
neurocirurgia. Sim e não. Lexie estava feliz com o avanço, feliz em estar
trilhando o caminho certo. Mas ao sentir o olhar dele, ao sentir Sofia
adormecendo em seus braços, ela sentia que também queria aquilo. É claro
que um casamento precipitado e filhos antes do tempo a frustrariam e
poderiam deixa-la infeliz, mas naquele momento mais do que nunca ela
soube que seria feliz quando chegasse a hora certa. E era justo que Mark
soubesse também.
E quando Sofia por fim adormeceu e ele se levantou, tirando a menina dela
para leva-la até a sua cama, ela soube que era o momento ideal para dizer.
— Eu não esperava por isso – ele respondeu surpreso, ainda olhando-a, com
Sofia envolvendo seu pescoço com seus pequenos braços – Eu achei que...
— Por todo o tempo do mundo, meu amor – Mark sorriu – A hora que você
quiser vai ser a hora certa pra mim.
xxx
Maite, por outro lado, parecia alheia àquelas preocupações. Afinal, ela era
avoada demais para perceber que algo estava errado. Lotada de trabalho e
dos cuidados com Luna, atordoada pelo fato de o primeiro dente da filha ter
nascido antes que ela estivesse preparada e com a ideia de que o tempo
estava passando rápido demais, ela apenas aproveitava aquela maré de sorte
que a vida lhe dera: agora ela estava bem com todos os amigos, estava feliz
no trabalho e no amor, cercada de felicidade por todos os lados... o que
haveria de reclamar?
Mane, por outro lado, seguia inquieto com aquele dilema praticamente
secreto. E como uma bexiga muito assoprada, uma hora ele estava tão cheio
que mais parecia prestes a explodir. Naquele momento Maite percebeu...
depois de colocar a filha para dormir naquela tarde e, ao chegar na sala, se
deparar com o namorado rodopiando de um lado para outro visivelmente
nervoso, sem motivo aparente. Ao menos sem motivo que ela soubesse...
— Aconteceu alguma coisa pra você furar o chão de tanto andar...? – Maite
perguntou franzindo a testa enquanto aproveitava para catar todos os
pertences de Luna espalhados pela sala.
— Estou tomando coragem pra falar – Mane respondeu ainda sem encara-la
e andando sem parar.
— Fala de uma vez – Maite pediu, mas viu que ele não pararia de andar
sem que ela rodasse sem parar. Por isso Maite se levantou, o segurou pelo
braço e simplesmente o trouxe para o sofá, obrigando Mane a se sentar e
encara-la de uma vez – Você ta me assustando.
— Desde...?
— É por isso, não é? Por isso que você não quer casar comigo?
— Eu... – ela bem que tentou falar, mas Mane simplesmente não deixou.
— Você ainda ta traumatizada? Ainda ta apaixonada por ele? Você não ta
feliz comigo Maite?
— Eu não sei – ele abaixou a cabeça – Você foi muito apaixonada pelo
Koko.
— Fui – e ela usou o próprio dedo para erguer o queixo dele, fazendo Mane
encarar seu sorriso – E agora sou muito apaixonada por você.
— É sério? – Mane perguntou e ela negou rindo, como se fosse óbvio – Não
faça essa cara, você nunca disse...
— Desde que você não termine comigo caso eu acabe dizendo alguns
não's... ok...
xxx
No Natal Anahí estava com trinta semanas de gravidez, mas nada a fazia
estar menos animada com a data. Estava nevando e a data seria
comemorada com toda a família na casa de seus avós. Poncho havia
convidado Bradley e Diana para se juntarem a eles, como uma forma de
permitir que Daniel passasse o Natal com ambos os pais. Sophia e Jesse
também se juntariam a eles, assim como a família de Poncho, e logo aquela
comemoração que, no ano anterior, celebrou o primeiro Natal deles juntos,
mesmo que de forma simples, agora tomava níveis estratosféricos.
— Eu usei esse suéter desde os quinze anos enquanto passei o Natal aqui –
ela ponderou, fazendo a óbvia menção ao fato de oito Natais terem sido
perdidos no porão escuro de um cativeiro – Esse é o primeiro que eu não
uso, não me peça pra ficar feliz.
— Você tem um motivo muito digno pra não estar usando – Poncho rebateu
com as mãos na barriga dela, mas logo tirou o próprio suéter, que sabia que
ela gostava, e lhe estendeu – Ande, use o meu.
— Eu quero perguntar algo – Anahí olhou para ele com um sorriso capcioso
de quem claramente queria alguma coisa – Quem são os padrinhos do
Dani?
— Ela não liga pra batizado, eu que fiz questão – Poncho ergueu as
sobrancelhas, já suspeitando onde ela queria chegar.
— Ótimo, isso quer dizer que os seus melhores amigos já são padrinhos de
um filho seu, não é? Torna mais fácil o que eu queria falar... a não ser que
você tenha pensado na Erendira...
— É sério? – Anahí abriu um sorriso genuíno. Ela não pensou que seria tão
fácil.
Perfeito mesmo.
Logo Missy voltou para o quarto com o suéter que o pai pedira, Anahí
terminou aceitando o suéter de Poncho e ficou satisfeita ao constatar que o
dele ficava perfeito com a barriga acentuada dela. Ao se olhar no espelho
ela teve na mente o que costumava acontecer nos últimos tempos: um flash
de uma memória da gravidez anterior, a gravidez de Missy.
A terapia com a Dra. Balfe ensinou Anahí que ela nunca relembraria de
tudo o que vivera no cativeiro, já que, mesmo em situações normais da
vida, o esquecimento é algo que faz parte. Mas agora ela se via, por vezes,
relembrando de alguma cena, algum momento de quando esperava a filha,
presa no porão de Tobias. A Anahí grávida de oito anos atrás tinha medo,
não sabia o que viria, mal poderia imaginar qual seria o destino de sua filha.
Não poderia haver um contraste maior para a de agora, que estava amada,
segura e cuja maior frustração era o fato de um suéter velho de Natal não
caber em seu corpo.
Quando ela saiu do quarto, notou que os convidados já estavam todos ali.
Logo foi paparicada pela mãe, a avó e a sogra, já que Evelyn estava ainda
mais carinhosa e afetuosa que o normal já que seria avó de novo. Ela viu
Missy insistir com Keith e Robert – chamando ambos de avós – para abrir
os presentes que lhe aguardavam embaixo da enorme árvore que Karen
comprara naquele ano. Em seguida, ela pegou Logan dos braços da mãe
para dar um alívio à Sophia e foi apresentada à Luke, o namorado piloto de
Erendira, se segurando para não rir da cara de ciúme que Harry fazia ao
fundo ao ver seu amor platônico sendo frustrado.
Não demorou para que a ceia fosse servida. Anahí se sentou próxima à
Sophia e as amigas não paravam de falar sobre maternidade e sobre a
loucura que a segunda estava vivendo e logo a primeira passaria também.
Embora Anahí já fosse mãe, tudo seria como se fosse a primeira vez, já que
ela não teve a oportunidade de criar Missy. Para Sophia não era muito
diferente, embora por motivos diversos ela vivia o mesmo: Samantha tinha
sido criada por Torrey e Jesse, ela apenas acompanhou, então Logan, na
prática, era sua primeira aventura como mãe de um recém-nascido. Mas
estava tudo bem, porque Maite já vivera as primeiras experiências e passava
os ensinamentos para Sophia e ela faria o mesmo com Anahí. Quem sabe
em cinco ou dez anos elas viveriam o mesmo com Lexie; afinal, não
custava sonhar...
Após a ceia Anahí se sentou cansada no sofá e Poncho logo veio para o lado
dela, se aproveitando que Missy e Daniel estavam brincando com Samantha
e Eric, o enteado de Diana. Ele estava nervoso pela forma como Anahí
parecia agitada e inquieta, mas ao mesmo tempo tinha certeza que era
impossível para-la. Como tinha acontecido de surpresa, ele aproveitou,
sentando-se ao lado dela, tocando sua barriga e falando com o bebê, como
costumava acontecer às noites. Foi quando os avós dela se aproximaram
com um bonito embrulho nas mãos e olhares cúmplices.
— Não vou reclamar porque adoro presentes, mas Missy não pode me ver
abrindo, se não vai querer abrir os dela também – Anahí falou animada e
com as mãos cocando.
— Ela não vai ver, está brincando com as crianças – Arthur riu – Vamos,
abra.
Anahí não demorou nada para abrir. Não era bem um presente novo, mas o
significado era enorme, ela pôde perceber. Não precisava ter uma
lembrança exata para saber do que se tratava. Em perfeito estado, mesmo
trinta anos depois, dentro daquela caixa bonita havia uma manta tricotada à
mão... as mãos de sua avó. Aquela manta era dela, tinha sido na verdade,
quando ainda era um bebê. Anahí se lembrava de encontrar aquilo nas
coisas de Ellie quando ainda era adolescente e da avó dizer que estava
guardando para o futuro bebê dela. Ainda estava bonito como ela se
lembrava, como certamente era quando a avó o fez. E inevitavelmente os
olhos dela se encheram de lágrimas.
— Missy não teve a chance de usar, mas o bebê terá – Arthur mencionou –
Sua avó fez questão.
— Vovô? Você está bem? – Anahí perguntou franzindo a testa, sem saber ao
certo se deveria se preocupar.
— Ah, é claro que está querida, você não sabe como o seu avô é? – Ellie
zombou, mas sua voz estava embargada pela emoção – Um velho emotivo e
bobo...!
— O nome de vocês precisa ser um legado pra passar pra frente – Anahí
sorriu – Já que todo o resto nós também passaremos.
Uma semana depois o Ano Novo foi mais parecido com a ida deles para
Vermont no ano anterior do que poderiam planejar. Diana levou Daniel para
viajar com ela, Bradley e Eric; Missy, por sua vez, foi ficar com os avós,
deixando a mãe passar a virada do ano sentada no sofá com um pijama
confortável comendo pipoca e bebendo milk shake com Poncho, enquanto
os dois assistiam um filme velho na TV. Era a forma perfeita de passar
aquela data, já que Anahí estava inchada e cansada e estava mais frio do
que gostariam. De toda forma, ela gostava mais de virar o ano ao lado de
Poncho com ele despindo-a, fazendo-lhe massagem nos pés e transando
com ela do que numa Times Square lotada cheia de fogos de artifício
bonitos.
O plano para quando o bebê nascesse era Anahí entrar em contato com
Poncho caso ele não estivesse por perto, mas exatamente por isso ele
evitava sair e deixa-la em casa sozinha conforme a data do nascimento foi
se aproximando. Só que justamente naquele dia, naquele dois de março, ela
tinha insistido e insistido que ele fosse até a confeitaria de Sophia para
pegar uma caixa de donuts para ela. Poncho não queria, recusou, se
preocupou, mas Anahí era teimosa e insistiu até o fim, vencendo-o pelo
cansaço. Ao chegar lá e já ver a caixa que Sophia havia separado para a
amiga, pensou que talvez estivesse sendo um pouco paranoico. Afinal, ele
tinha chegado e em quinze minutos estaria em casa novamente. Anahí
estava bem e continuaria assim. E mesmo que houvesse algo, ele estaria lá
em minutos. Era hora de não se preocupar tanto.
Justamente naquele dia, naquela hora, enquanto seu noivo batia um papo
com Jesse segurando um Logan animado e risonho nos braços, Anahí foi ao
banheiro de casa e, ao abaixar a calcinha para fazer xixi, viu um enorme
círculo de sangue. Imediatamente ela ficou tonta com a visão, sabendo
exatamente o que aquilo significava. Ao levantar e olhar o vaso sanitário a
água ali estava avermelhada, como se ela estivesse em seu ciclo menstrual.
As lágrimas correram por seu rosto pelo medo de estar sofrendo um aborto.
Ela não poderia perder aquela criança. Não mais uma.
Por isso, antes mesmo de ligar para Poncho, antes de fazer qualquer coisa,
ela pegou o celular e digitou um número, levando o aparelho para o ouvido.
— Meu... meu nome é Anahí Portilla – ela sentiu as lágrimas caírem mais
fortes – Eu to grávida de trinta e oito semanas e estou sangrando. Preciso de
uma ambulância. Eu acho que to perdendo o meu bebê.
Depois de um longo período de paz, ainda que bem próximo ao fim da fic,
voltamos à normalidade do dedo no cu e gritaria kkkkkkkkk só pra vcs
lembrarem que ainda podem (e vão) me xingar um pouco e reclamar que eu
paro na melhor parte rs
Por sinal, provavelmente teremos apenas mais três caps até o fim! Se não
estão preparadas, podem começar!
Beijos,
Rafa
Capítulo 93 - Plan B
Poncho estava com um Logan nos braços que fazia caretas e bolinhas de
cuspe com a boca, tão babão quanto poderia ser. Enquanto brincava com o
filho de seus dois melhores amigos, ao mesmo tempo que Sophia embalava
o kit de doces que ele levaria para Anahí, pensava que estava bem próximo
de reviver aquilo. E por mais que a experiência de pai lhe dissesse que o
que estava por vir não seria nada fácil – noites em claro, choro sem parar,
cólicas e uma Anahí certamente insegura e cansada, já que seria sua
primeira vez nisso – ele mal podia esperar.
— Oi Lex – Poncho disse com a voz tranquila. Ele jamais poderia imaginar
o que viria a seguir.
— O que ela tem? – a voz de Poncho se alterou – Lex, ela está bem? O
bebê...
— Eu não tenho muitas informações, mas vou ficar por perto – Lexie
apontou – Venha para cá.
— Você não pode dirigir assim – Sophia disse já olhando para Jesse, que
tomou uma iniciativa.
— Eu levo você.
— Não precisa – Poncho dispensou, mas estava nítido o quanto ele parecia
perdido.
— Não vai acontecer nada – Jesse decretou, pegando as chaves de seu carro
e já andando em direção à porta – Ande, vamos.
— Avise Karen, Maite e Christian, por favor – Poncho pediu à Sophia antes
de sair em disparata logo atrás de Jesse.
Sophia assentiu, aninhando Logan em seus braços logo antes de pegar o
celular e fazer o que Poncho pediu. Com a mão na cabeça do filho, que
sequer fazia ideia do que acontecia ali e do medo que tomava o corpo de
sua mãe, ela apenas tentou afastar o mais rápido possível as lembranças
quando, mais de um ano antes, Jesse recebeu uma ligação como aquela
sobre Torrey. Ela apenas desejou estar certa e que aquilo não acontecesse de
novo. Apenas desejou que fosse somente um sangramento, como disse ao
amigo. Afinal, Poncho tinha razão... ele não suportaria perdê-la de novo.
Anahí sequer conseguiu pensar em ligar para o noivo. Desde a hora que ela
ligou para o 911, tudo o que fez foi caminhar vagarosamente para a sala do
próprio apartamento e esperar, deitada no chão em posição fetal, com a mão
na barriga e as pernas fechadas, quase como se pudesse impedir o bebê de
se esvair dali. As lágrimas caíam por seu rosto, molhavam o tapete. 15
minutos foi o tempo da hora que ela ligou até a maca que a levava invadir o
New York General Hospital. Bem que os socorristas quiseram leva-la para
outro hospital mais próximo, mas Anahí fora incisiva: tinha que ser no
General Hospital.
— Shhh, tudo bem, eu falei com ele – Lexie segurou a mão dela
carinhosamente – Ele está sabendo e está vindo pra cá.
— Lex, eu sei que o que eu vou te pedir não é fácil... mas estou pedindo pra
você, porque se eu pedir pro Poncho ele não vai me atender...
— Any, não... – Lexie negou porque já suspeitava do que viria pela frente.
— Por que esse papo? Nós não estamos falando de um parto de risco –
Arizona riu – Eu vou salvar os dois, você e o bebê, não se preocupe. Grey...
— Eu quero ir com ela – Lexie olhou para Arizona quase implorando, mas
já via a amiga negar com a cabeça.
— Eu vou – a voz grave saiu e Lexie virou-se para trás, encarando Mark.
Ele provavelmente ficou sabendo e apareceu para ajudar no que fosse.
E já estava ajudando...
— Fique aqui e espere o Poncho, ele vai precisar de você – Mark disse para
a namorada, beijando a testa dela e se virando para Anahí – E você
mocinha, saiba que está em excelentes mãos mais uma vez. Eu dei sorte em
todas as suas cirurgias, nessa não vai ser diferente.
— Vai ficar tudo bem Any – Lexie disse confiante segurando a mão dela –
Nós nos vemos quando você for mãe pela segunda vez.
Não houve resposta. A enfermeira, Mark e Arizona saíram dali com a maca
com uma Anahí que sentia medo. Não importava, qualquer médico poderia
dizer que havia cem por cento de chances de dar tudo certo e ainda assim,
ela sentiria medo. Eram anos e anos de tudo dando errado, para, após, no
último tudo dar certo. Ela não conseguia ter grandes esperanças e, dessa
vez, apenas rezava para que nada mais fosse lhe tirado.
Só que havia uma pessoa que havia perdido muita coisa também. Poncho
teve Anahí arrancada de sua vida por um longo tempo. Ela voltou depois
que ele sequer tinha esperanças e causou nele a sensação de como era voltar
a respirar depois de muito tempo sem conseguir. Depois de tudo o que os
dois estavam vivendo, a paz que se acostumaram a ter na vida que estavam
construindo, ele não esperava por aquele tipo de reviravolta. Por isso e por
estar acostumado a perder, Poncho teve dentro de si a certeza de que só se
acalmaria depois que a visse bem na frente dele, segura e com o bebê dos
dois nos braços.
— Não dá mais, ela já está lá, a essa altura já deve ter começado – Lexie
segurou as mãos dele mas rapidamente viu que Poncho parecia um animal
enjaulado querendo fugir – Poncho, ela vai ficar bem.
— Você sabe perfeitamente bem que eu não consigo acreditar que tudo vá
simplesmente ficar bem – ele mordeu os lábios nervoso – Depois de tudo o
que nós vivemos... depois dela ser tirada de mim daquele jeito...
— Era pra eu estar do lado dela – Poncho grunhiu agoniado – Não era pra
ser assim, não era esse o plano...
— Mas Poncho, nada está seguindo o plano – Jesse disse passando a mão
pelo ombro do amigo – Eu não planejava ter perdido a Torrey e ter que criar
a Samantha sozinho, e nem quando tudo parecia estar bem, aquele filho da
puta do Chad ter feito o que fez com a Soph. Nunca imaginei que tivesse
que passar uns trinta segundos achando que o meu filho era de outro, era de
um estupro. Como você também achou que iria para aquele apartamento
com a Any uma única vez e que vocês já fossem ter três ou quatro filhos,
que nunca iriam se separar... a única coisa certa dos planos é que eles vão
ser estragados pelas nossas expectativas, e com isso a realidade pode ser
melhor ou pior. A única coisa que eu sei é que não importa o que acontece,
nós sempre damos um jeito de guiar as nossas vidas de volta pro caminho
que queremos. Nós sempre encontramos o caminho de volta... e a Any vai
encontrar o caminho de volta pra você, não importa o que aconteça.
— Agora vamos lá para cima pra esperar o seu filho ou filha nascer – Lexie
disse sorrindo mais do que nunca – Afinal, eu tenho certeza que ele vai
querer que o pai dele esteja na porta do berçário à sua espera.
Restava esperar.
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Deja vu.
— Luna está bem, está na creche – Mane suspirou, pronto para não fazer
rodeios. Ele sabia o quanto Maite odiava que enrolassem para dizer algo –
Vim aqui porque precisava te dizer algo.
— É tudo o que eu sei amor – Mane a abraçou – Você acha que se tivesse
acontecido algo pior, eu não te diria?
— É claro que diria – Maite suspirou longamente – Droga... não era esse o
plano de parto que a Any queria.
— Não tem mais nada nesse mundo mais nobre que o seu coração, eu
confio nele – Mane beijou a testa dela – Você quer ir pro hospital?
E tudo o que Mane torcia naquele momento era para o nobre coração de
Maite estar certo mais uma vez. Só mais uma vez...
xxx
Foi exatamente quando ele estava naquele pensamento que viu Mark saindo
da sala de cirurgia e se levantou. Lexie tinha os olhos fixos no namorado,
procurando ler algo na expressão dele que indicasse o que quer que fosse,
que desse um sinal do que acontecia dentro daquela sala de cirurgia, mas
não conseguia enxergar nada. Mark era fechado demais naquele momento,
ele nunca dava pistas. Apenas quando ele parou na frente de Poncho a
mensagem veio.
Mas Lexie não queria que Poncho ficasse preocupado como ela já estava.
Por isso ela passou as mãos pelos ombros do amigo, repetindo
incessantemente que ficaria tudo bem, que Arizona Robbins era a melhor e
que ela cuidaria bem de Anahí, que complicações como aquela aconteciam
e poderiam ser facilmente contornadas, embora soubesse que não era
simples assim. Afinal, por melhor que ela de fato fosse, por menos raro que
aquela situação demonstrasse ser, ainda assim era Anahí. A que ficou oito
anos dada como morta. A que correu o risco de não poder ter filhos.
Uma hora a mais de cirurgia até Arizona Robbins sair da sala de cirurgia e
se encaminhar até onde ele esperava. Àquela altura Karen, Keith, Maite e
Mane também estavam ali. Assim que Poncho viu a cirurgiã de Anahí se
aproximando levantou de pronto, tentando observar ao máximo a expressão
daquela mulher, extraindo dali a resposta que ele queria ter. Mesmo sabendo
que, o que tivesse que acontecer, já tinha acontecido, ele fez uma figa com a
mão. E mais uma vez, rezou em silêncio.
— Meu filho... – Poncho murmurou. Uma vez passada a agonia, ele estava
pronto para ver o baby Arthur.
— Ele está no berçário, vocês podem olhar do lado de fora – Arizona sorriu
– Quando a mamãe acordar, nós iremos leva-lo pra conhecê-la. Eu tenho
certeza que ela estará ansiosa.
Precisavam mesmo.
Os dedos de Poncho formigavam por aquele momento. Até então ele sentia
como se tivesse sido arrancado de seu próprio corpo e, depois, colocado de
volta. As emoções ainda estavam à flor da pele, mas caminhando para o
quarto do hospital onde Anahí estava, foi o primeiro momento em que ele
parou para pensar na forma como ela estaria. E, ao abrir a porta, a cena que
imaginou foi exatamente a que acabou se concretizando: ela estava deitada
na cama hospitalar às lágrimas.
— Ei... – Poncho disse se aproximando, franzindo a testa, embora tivesse
uma boa suspeita do que acontecia ali – O que houve...?
Os olhos azuis dela estavam fixos nele. Anahí ansiava por aquela resposta
como pela própria vida. E Poncho, dando um beijo na testa dela e
segurando suas mãos, não demorou a tranquiliza-la.
— Ele está ótimo – a voz dele saiu cheia de ternura, deixando óbvio o
quanto estava abobado por aquele filho que acabara de nascer – Ele é
perfeito.
— Eu também não achava que seria assim – ele ressaltou – Mas posso dizer
algo que você vai tentar não ficar brava comigo...? – a pergunta fez Anahí
franzir a testa, mas assentir concordando – Eu prefiro entrar aqui e ver você
chorando de frustração a simplesmente não te ver chorando mais. Eu vivi
oito anos assim e, quando me disseram que as coisas não estavam indo bem
na cirurgia, entrei em pânico com a possibilidade de viver isso tudo de
novo. Então os planos podem dar errado, podem não sair da forma que nós
queríamos, mas desde que você continue do meu lado... eu não me importo
de ter que refazer tudo.
A expectativa era Anahí ralhar com aquela primeira frase, mas terminou
com ela sorrindo. Uma prova de que, mesmo das piores coisas, poderiam
surgir surpresas inesperadas.
Mas antes que Poncho pudesse dar detalhes da agonia que viveu naquelas
últimas horas, a porta do quarto se abriu com a enfermeira da obstetrícia
trazendo um pequeno bercinho móvel onde um bebê já anunciava sua
chegada. O sorriso de Anahí se foi, dando lugar às lágrimas de volta. Mas
dessa vez eram por outro motivo.
Dessa vez, não havia uma cena ruim para traçar como paralelo: aquilo era
totalmente novo. Poncho, por sua vez, se sentia diferente da vez anterior
que viveu aquele momento. Daniel era seu primeiro filho, tudo era
terrivelmente novo e assustador. Agora, sobretudo pelos últimos
acontecimentos, ele se sentia mais forte e mais preparado para o que viria. E
definitivamente mais completo, embora fosse tão feliz quanto.
À Poncho faltavam palavras. Ele estava apenas ali, por perto. O baby
Arthur estava inquieto, visivelmente parecia ter fome e não se acalmaria até
que a mãe lhe desse o seio. Poncho sabia que aquela não seria das melhores
experiências, que a primeira amamentação costumava ser dolorida para a
mãe, tinha algo que ele queria fazer antes. Por isso pediu à enfermeira que
os deixasse brevemente a sós. A moça estranhou mas concordou, dizendo
que estaria no corredor para quando fosse necessário. Anahí ainda tinha os
olhos fixos no filho, sem conseguir deixar de observa-lo. Não tinha
percebido o que o noivo estava preparando.
— Ele parece com você – Anahí analisou – Tem o meu cabelo, mas no tom
do seu. E a sua boca. Será que tem os seus olhos ou os... o que você ta
fazendo?
— Maternidade real amor – ele disse sorrindo para a câmera, mas não
clicando na foto até vê-la sorrir também.
A foto era meio bagunçada. Arthur chorava nos braços da mãe, Anahí não
tinha nem de longe a melhor das aparências, Poncho ainda via os traços do
choro de horas antes em seu rosto. Mas era real. Era imperfeita, espontânea,
nada planejada. Era eles, sem tirar nem por... e brilhava demais.
— Vamos olhar pra essa foto num futuro álbum de bebê e lembrar o nosso
filho que ele é a síntese do que nós somos: o plano B – Poncho disse
beijando a bochecha dela – O plano original não dá certo pra gente, sempre
nos obriga a refazer as ideias, a improvisar. Mas não tem problema, porque
diferentemente da maioria das pessoas, você e eu não desistimos. Nem um
do outro, nem da nossa família, nem da nossa felicidade. E essa foto... é a
prova viva disso.
Anahí não respondeu. Ela apenas ficou sorrindo para Poncho, ainda
segurando o filho, com aquele sorriso meio lágrima, meio alívio. E o choro
de Arthur, por sua vez, tomava o ambiente... como provavelmente seria dali
para frente.
— Vou chamar a enfermeira agora porque você vai precisar de ajuda para
amamentar – Poncho disse levantando da cadeira.
Dali em diante ele sabia como era: nada seria fácil. Tudo mudaria. Mas eles
estariam juntos. Ele estaria por perto, ao lado dela, atrás dela, na frente dela,
sempre ao seu alcance. Enquanto seria assim, no improviso ou de imediato,
eles dariam um jeito de fazer dar certo.
~
Não, ainda não voltei de vez. Sei que prometi que voltaria quando
terminasse de escrever os três capítulos finais, mas já se passaram mais de
duas semanas e eu imagino que vcs estejam numa seca muito grande. Por
isso vou postar os outros conforme escrever, peço a paciência e a
compreensão de sempre, to fazendo o que eu posso e vcs sabem que a
história vai ter um fim (e que vai ser lindo!), apenas não darei datas ou
prazos pra não criar expectativas em ninguém e não me pressionar.
Agora estão mais tranquilas depois desse desfecho? AyA bem lindos em
família com o baby Arthur, um bálsamo depois de toda a agonia que eles
passaram ao longo de toda a fic.
Podem ficar tranquilas que nos próximos dois capítulos não teremos
nenhum tipo de susto, irei apenas finalizar a fic com o que falta pra fechar,
só com mel bem enjoativo do jeito que sei que vcs gostam e na mesma linha
das fics anteriores, o jeito que eu gosto de finalizar.
Espero que gostem do cap e vcs sabem, quanto mais retorno eu recebo,
mais me inspira a conseguir escrever!
Beijos,
Rafa
Capítulo 94 - Dreams
Bastou. Ele por perto não apenas afastava aqueles pensamentos ruins, como
também a fazia constatar algo óbvio: Missy puxara o pai... já que pai era
quem criava, quem amava. A menina tinha a personalidade idêntica a de
Poncho e muitos traços da mãe. Era o que importava, o resto era o resto.
— Tem certeza que posso te deixar aqui? – Poncho perguntou a ela num
sussurro – Você vai ficar bem?
— Claro que vou – ela sorriu dando um selinho nele – Vem de tarde, traz as
crianças.
E aquelas não eram nem de longe as últimas visitas. Anahí sabia que os
amigos cedo ou tarde apareceriam para visitar Arthur e ela, a cunhada idem
e, naquela manhã, Poncho dissera que seus pais também estavam vindo de
Chicago para conhecerem o neto caçula. Por mais que ela estivesse feliz ao
ver todas as pessoas que amava ao seu redor, babando em seu filho, tudo o
que Anahí queria era dormir. Mas ela tinha plena ciência de que agora esse
era um verbo raro em sua vida.
Tanto era um verbo raro que Anahí estava dormindo quando um momento
dos mais esperados finalmente aconteceu. Do lado de fora do hospital Maite
descia de um táxi com Missy em seu encalço, definitivamente ansiosa para
conhecer o irmão caçula. Ela esperava encontrar Erendira, que teria trazido
Daniel para que ele, junto com a irmã mais velha, fosse finalmente
apresentado ao baby Arthur... mas não era ela quem tinha levado o menino
até ali. Assim que a morena entrou no New York General Hospital, ela se
deparou com Diana ali.
Não que Diana e Maite ainda fossem inimigas... na verdade elas nunca
haviam sido. Só que nem mesmo a animosidade existente antes ainda havia,
era uma fase totalmente superada. Logo Maite via a ex-mulher de seu
amigo parada ali, com o filho, vendo Daniel quase pular de ansiedade junto
com Missy, percebendo que algo deveria ser dito.
— Não sei se Poncho está podendo ficar com ele esses dias, tudo deve estar
uma loucura – Diana comentou para Maite lhe entregando a mochila do
filho – Então eu posso busca-lo mais tarde. Ou, se você preferir, pode
deixa-lo na minha casa. Deixar os dois, se quiser, eu não me incomodo de
cuidar da Missy caso a Anahí precise, porque o Eric está lá em casa de
qualquer forma...
— Ah sim... mas não se preocupe. Eu verei com o Poncho como ele quer
fazer e te aviso.
Diana já estava prestes a sair dali, quando Maite segurou-lhe pelo braço
para falar o que deveria ter dito há muito tempo.
— Eu sinto muito se algum dia fui desagradável com você – Maite disse
honesta – Você definitivamente não mereceu e hoje eu percebo isso. Eu
provavelmente fui muito injusta, porque eu jamais lidaria com tudo com a
maturidade que você lidou e ainda lida, mas eu apenas...
— Você estava defendendo a sua amiga – Diana sorriu sincera – Está tudo
bem, não há o que ser perdoado. Eu estou bem com tudo isso do Poncho ter
seguido em frente, eu também estou seguindo. E meu filho está feliz, é o
que importa.
— Sim, vocês têm que ter cuidado – Poncho recomendou – Não podem
beijar o rostinho dele, têm que lavar as mãos antes de tocar... tudo bem?
Posso contar com vocês?
— Claro que sim – Poncho abriu um sorriso enorme, aliviado por poder
dizer aquilo – Ela está ótima e ansiosa pra ver vocês.
Foi a vez de Daniel sorrir. Anahí não era mãe dele, mas mesmo assim ela
ansiava por vê-lo, pela cena onde ele conheceria o irmão. Os laços daquela
família eram diferentes do esperado, do tradicional, mas definitivamente
especiais.
— Na verdade ela está um pouco mau humorada – Poncho disse entre os
dentes para Maite após se levantar, enquanto as crianças entravam no quarto
com toda a calma do mundo – Não dormiu direito, Arthur acordou para
mamar quarenta minutos depois da última mamada...
— Ele é pequeno – Daniel comentou franzindo a testa – Acho que ele não
vai saber segurar o controle do videogame.
— É, vai demorar pra aprender – Poncho respondeu prendendo a risada.
— Ele só mama e dorme? – dessa vez foi Missy quem perguntou – Não faz
mais nada?
— Quando eles nascem são muito pequenos ainda, aos poucos aprendem as
coisas – Anahí foi quem respondeu.
— Você tem que ensina-lo a fazer xixi em pé porque ele é menino igual a
você – Missy observou – Eu posso ensinar a andar e falar...
E o brilho nos olhos dele ao falar aquilo, os pequenos sorrisos no rosto dos
filhos dos dois ao ouvir aquele pequeno e singelo elogio, eram das coisas
mais bonitas que Anahí tinha vivido. Das coisas que ela jamais conseguiria
esquecer.
xxx
A primeira semana de vida de Arthur foi um evidente furacão para sua mãe.
Com a mãe e a sogra por perto o tempo inteiro, Anahí não sabia se estava
sufocada ou aliviada. Karen e Evelyn faziam questão de ensina-la tudo, já
que o fato de ser mãe de Missy não a eximia de não saber as coisas – ela
não tinha criado a filha desde o início, afinal. Poncho tentava ao máximo se
desvencilhar das duas avós de seu filho, deixando claro que ele sim tinha
experiência com os primeiros dias e meses de um bebê e saberia lidar com
tudo, ensinando Anahí. Mas por vezes ele acabava apenas aproveitando a
ajuda extra e deitando na cama ao lado da noiva, vendo-a aconchegar o
filho sobre sua barriga, admirando a cena em silêncio. Era sublime eles
terem a chance de viverem aquilo depois de todas as tempestades que
tinham enfrentado.
Com isso vieram as semanas e, aos poucos, tudo encontrou o seu lugar.
Anahí foi adquirindo mais confiança nos banhos, nas trocas de fralda, nos
ciclos de mamadas eternas conforme Evelyn voltou para Chicago e Karen
foi retomando o comando do próprio café. O espaço deixado pelas avós foi
tomado pelas tias, eis que aquele se tornou um novo degrau na amizade de
Anahí com Maite e Sophia: a maternidade que as três tinham em comum.
Eram os conselhos das duas que mais importavam para ela, eis que todas
viviam aquilo pela primeira vez, ali e agora. As dificuldades de Anahí com
amamentação eram supridas pelos conhecimentos que Sophia tinha, já que
ela enfrentara todos os problemas do mundo com Logan. Já Maite era uma
verdadeira expert em cólicas, considerando que aquele era o principal
problema de Luna. Os amigos que não tinham filhos – Christian e Lexie –
era os que socorriam as novas mamães, por vezes aparecendo com caixas de
donuts e dando um tempo para que elas escovassem os dentes e lavassem os
cabelos, agora artigos de luxo em seus dias complicados.
Quando Arthur estava com quatro meses, exatamente no dia que finalmente
conseguiu alcançar o próprio pé e leva-lo à boca, uma Anahí que tentava
fotografar a façanha do filho recebeu uma ligação com uma boa notícia.
Nem parecia que, agora quase dois anos atrás, Harry havia chegado até a
casa dos Portilla totalmente maltrapilho num Thanksgiving que fez uma
ainda antipática Anahí acreditar que ele poderia ser um filho perdido de
Keith. No início ele estava em meio a um processo de desintoxicação de
drogas e viu nos novos pais adotivos uma rede de apoio para superar aquele
vício. Anahí e Harry haviam se estranhado de cara, um não fora com a cara
do outro, e ali, dois anos depois, com a notícia de que ele iria para a tão
sonhada faculdade de Medicina e com um enorme cartaz feito por Missy
escrito "parabéns, tio Harry" com a letra infantil que indicava o quanto ele
tinha se tornado um tio babão, indicava também o quanto aquela família
tinha mudado desde que Anahí a conhecia.
No início eram apenas quatro: Karen, seus avós e ela. Anahí sempre se
sentiu feliz por aquele seio familiar, mas agora o viu se multiplicar e esticar
para abraçar os mais diversos vínculos. Hoje ela via Harry como um irmão,
o via considerar os filhos dela como seus sobrinhos. Poncho era como um
filho para Keith e Karen e via seu filho, que não tinha parentesco algum
com eles, ser tratado como um neto também. Ninguém olhava para Missy e
via sua origem biológica, era como se o sangue de Tobias não corresse pelas
veias da menina. E a própria Anahí foi capaz de superar os vinte e três anos
da ausência de Keith em sua vida, e agora, com tanta naturalidade quanto o
irmão caçula, chamava tanto ele quanto Karen de pai e mãe. Como sempre
deveria ser.
— Vocês não vão ficar tristes porque ficarão sozinhos de novo, não é...? –
Harry perguntou aos pais abraçado a ambos, no meio deles, vendo-os rir.
— Quem disse que eles vão ficar sozinhos? – Anahí ralhou – Eles têm
tantos netos para cuidar que eu duvido que vão perceber que você foi
embora.
— Essa garota vai sentir tanto a minha falta – Harry resmungou irônico, em
meio às risadas dos outros, se soltando dos pais para abraçar Anahí – Vou
sentir sua falta big sister.
— Anahí acha que eu não vou conseguir – Poncho disse encarando a noiva
com ar de riso.
— Ah, é claro que ele vai – Karen sorriu para o genro, abrindo uma careta
no rosto da flha.
— Meu Deus, pare de babar o ovo dele! – Anahí resmungou.
— Essa foi a vida que eu escolhi pra mim – Poncho suspirou com certo
deboche, mas no fundo adorando.
— Por que você está com essa cara? – ela ouviu a sócia lhe perguntando
enquanto estava com os olhos azuis fixos no celular, digitando uma
mensagem para Poncho para conferir, pela centésima vez, se estava tudo
bem.
— Ah – Joy sorriu – Anahí, isso é normal. Talvez você não perceba porque,
na prática, é seu primeiro filho. É a primeira vez que você faz isso. Mas vai
ficar tudo bem, você vai se acostumar.
— Por que eu acho que você está apenas dizendo isso da boca pra fora e
que eu vou continuar preocupada e com a cabeça em dois lugares...?
Ela amava os filhos. Amava ser mãe, sempre sonhou com aquilo... mas ao
mesmo tempo, também sempre sonhou com o que vivia naquelas quatro
paredes e no My sister's place: trabalhar mudando a vida de mulheres.
Aquela era sua chance.
O exemplo seria perfeito. Anahí ensinaria à filha que ela poderia escolher o
que quisesse. Melhor: que poderia escolher tudo, afinal.
No início foi realmente difícil mas, de alguma maneira, como quem joga
uma partida de Lego, Anahí aprendeu a encaixar todas as etapas da vida,
peça a peça. Como Poncho não estava escrevendo, ele se dedicava
integralmente aos cuidados dos filhos, fossem eles dois, quando Dani estava
com a mãe; três, quando era a semana do menino estar com eles ou mesmo
quatro, quando Samantha fazia companhia aos amigos. enquanto o pai
cuidava da casa e das crias, Anahí aprendia pouco a pouco a se tornar uma
leoa nos Tribunais, além de ajudar Joy com a parte administrativa do
escritório das duas que começava pequeno. Eram apenas elas e mais uma
advogada recém-formada. Tinha tudo para dar certo.
Era.
— Eu sabia que isso de vocês três serem mães quase ao mesmo tempo não
daria certo – Lexie alfinetou, fazendo com que a própria Maite, Anahí e
Sophia fizessem caretas ao mesmo tempo.
— Exatamente isso, o dia com o qual nós sempre a vimos sonhar... – Sophia
suspirou longamente – Casar com o amor da sua vida...
— Agora quem vai chorar sou eu – Anahí mordeu os lábios, vendo Sophia
rapidamente intervir.
— Não chore, você é nosso cristalzinho precioso, queremos que tudo seja
não menos que maravilhoso – Christian enfatizou. Lexie, ao seu lado,
franziu a testa.
— Cristalzinho precioso...?
O que apenas Poncho sabia é que não importava se ele tivesse visto Anahí
pela última vez antes do casamento na noite anterior, naquela manhã ou há
cinco minutos: ele sempre estaria ansioso. Casar com Anahí era algo com o
qual ele tinha sonhado a vida inteira, idealizado ao extremo, escrito sobre
aquilo. Nada se comparava à realidade, no entanto. Quando ele vivia aquela
cena, percebia que seus sonhos eram situações totalmente imateriais. Ali e
agora Poncho sentia o frio na barriga como se ele ainda fosse o adolescente
de quinze anos que se descobriu apaixonado pela amiga. O típico frio na
barriga que sentiria a vida inteira, a cada situação especial que envolvesse
os dois.
Por certo era pro casamento vir nesse cap também, mas eis que ficou
enorme e eu ainda tinha outras cenas pra escrever, por isso achei melhor
dividir e com isso, vcs ganharam de bônus um cap a mais!
Beijos,
Rafa
Capítulo 95 - The vows
— Você está linda meu amor – Keith elogiou com a voz embargada.
Karen, por sua vez, não disse nada. Apenas sorriu emocionada em resposta,
encarando a filha, que reagiu da mesma forma. Palavras não eram
necessárias naquele momento: elas se entendiam com olhares.
O carro que levaria Anahí levou-a com os pais. Missy já estava no local.
Quando eles chegaram no Central Park, ela foi caminhando com a mãe
ajudando-a com o vestido e o buquê e Keith se preparando, desde já, para
caminhar com ela até o altar e entrega-la a Poncho. E assim que estavam
próximos, Karen a fez parar, querendo ajeita-la, deixa-la perfeita nos
mínimos detalhes. Naquele momento Ellie surgiu junto com as madrinhas e
começou a arrumar a cauda do vestido da neta, o véu. Ambas queriam que
tudo estivesse intocável naquele dia, Anahí merecia. Qualquer mulher
mereceria a perfeição no dia do próprio casamento, mas Anahí... dela havia
sido tomado demais. Era justo devolver com juros.
— Eu... estou feliz demais por você – Karen acariciou o rosto dela – Vá
voar, minha butterfly.
Foi quando Anahí percebeu que algo precisava ser feito, por uma questão
de justiça. Ela olhou para o pai sorrindo, pronta para lhe fazer uma pergunta
sincera que, eventualmente, poderia gerar uma resposta difícil.
Foi Karen que ficou sem reação. Keith, que poderia até mesmo se ofender,
não teve essa reação. Pelo contrário, ele abriu um sorriso de quem
reconhecia a verdade na fala da filha e assentiu em resposta.
— Você tem toda razão meu amor – ele disse beijando a mão da filha,
virando-se para a esposa em seguida – Karen, esse lugar é seu.
— Como eu disse, eu faria qualquer coisa pelo seu sorriso – Keith beijou a
testa dela daquela vez.
— Ah querida, você arranjou um pai maravilhoso pra sua filha – Ellie disse
com os olhos marejados.
— Desculpem atrapalhar o momento em família, mas eu estou vendo o meu
melhor amigo no altar suando de ansiedade pela mulher que ele ama –
Sophia observou interrompendo e sorrindo.
Nada mais precisava ser dito: era a hora de Anahí caminhar... não apenas
até Poncho – até a vida que ela sempre quis. A vida pela qual lutou.
I came along
I wrote a song for you
And all the things you do
And it was called Yellow
Quando Anahí finalmente chegou até ele, a vontade de Poncho era dar um
beijo nela, em seus lábios, para lembra-la do quanto a amava, mas não era o
momento. Ele se limitou a beijar suas mãos, as duas, sem deixar de encarar
os lábios dela. Isso aconteceu depois de receber um abraço de confiança de
Keith primeiro e após, de Karen. Não houve um pedido que ele fizesse sua
filha feliz, que cuidasse bem dela, pois eles sabiam que Anahí estava em
boas mãos. Que era recíproco: ambos já faziam um ao outro feliz, já
cuidavam um do outro. Ali era apenas a oficialização.
Mas o mais importante daquela tarde era o que eles haviam escrito um para
o outro. Ou não necessariamente somente para os dois.
— Eu era um garoto bobo nos meus quinze anos. Mas não bobo na
personalidade, porque minha mãe dizia que eu era maduro pela minha
idade. Eu era bobo quando parava na sua frente. Aos quinze anos, Anahí,
você me fez aprender o significado de sentir as pernas fraquejarem. E
também me fez fazer uma lista que eu tentaria seguir nos quinze anos
seguintes da minha vida... mas ela não seria completa se eu não cumprisse o
item mais importante, que também era o último: casar com a garota dos
meus sonhos... que eu sabia exatamente quem era. Você sempre foi a garota
dos meus sonhos... antes mesmo que eu soubesse o que era amar, o que era
sonhar dividir a vida com alguém. Nunca poderia ser completo se não fosse
com você. Obrigado por ter sido a minha inspiração e por nunca ter me
deixado de nenhuma maneira, porque com isso você possibilitou que eu
realizasse outros sonhos. Obrigado por me fazer pai novamente, da última
maneira que eu iria imaginar. Obrigado por ter dito sim pra mim. Eu sempre
vou amar você e vou te fazer a mulher mais feliz possível. Mas esses votos
não são apenas pra você, são pra uma versão pequena sua que me ensinou
que eu poderia te amar mil vezes, de formas diferentes... – agora Poncho
fitava Missy, que se surpreendeu ao ver que o pai agora falava dela –
Filha... você nunca precisou pedir licença pra entrar no meu coração. Eu
amo você como se você tivesse nos meus braços desde que era um
bebezinho. Tudo o que eu quero na minha vida é ser o mais próximo de um
super herói pra você. Quero que você confie em mim, que você me leve
pros seus jogos de futebol e sempre esteja por perto pra segurar a mão da
sua mãe e dos seus irmãos quando as coisas estiverem difíceis. Porque
você... você é a nossa princesa, mesmo preferindo ser uma mestre jedi – ele
falou e Missy riu logo em seguida – Obrigado por me escolher pra ser seu
pai. Obrigado Any, por me escolher por ser seu marido, pai dos seus filhos.
Nós vamos ter uma vida maravilhosa juntos, eu tenho certeza.
— Já temos – Anahí disse num sussurro, e Poncho notou que os olhos dela
estavam marejados. Era sua vez de falar.
Your skin
Oh, yeah, your skin and bones
Turn into something beautiful
Do you know
You know I love you so?
You know I love you so?
I swam across
I jumped across for you
Oh, what a thing to do
'Cos you were all yellow
— Depois disso, não posso dizer que eu os declaro casados, porque a vida
já declarou – o celebrante disse – Vocês mesmos já declararam. Mas agora,
sob a lei dos homens, vocês são. Agora é oficial. Agora é para sempre.
Sorrisos esses que antecederam um olhar trocado que já era comum entre
Anahí e Poncho, mas que ainda assim, era o olhar anterior ao primeiro beijo
que eles trocavam como casados. Não foi um daqueles ensaiados, todo
perfeito e ideal para fotos. Anahí beijou Poncho lhe tocando as bochechas,
como um alívio pela saudade do tempo que passaram separados, sentindo o
sorriso dele se abrir enquanto o beijava. E pensar que eles tinham passado
oito anos um distante do outro... era difícil acreditar.
I drew a line
I drew a line for you
Oh, what a thing to do
And it was all yellow
— Eu pensei que você já fosse – a menina riu. Anahí não conseguiu não
sentir um frio na barriga com aquela frase, não conseguindo não concordar.
— Papai, eu não quero casar – Daniel observou para Poncho com a testa
franzida – Imagina olhar pra meeeesma pessoa todos os dias...
— Mas você não disse que iria casar com a Sam? – Missy perguntou para o
irmão com a testa franzida, vendo Daniel abrir uma ligeira expressão de
pânico.
— O que é hesitar? – Missy perguntou, mas antes que o pai pudesse abrir a
boca para responder, Daniel também disparou uma pergunta.
— Como que uma pessoa transborda?
Quando Poncho olhou para Anahí, viu que ela segurava os lábios
prendendo o riso. E obviamente, esperava por aquela troca de olhar com
ele, de quem se entendia. E ali estava. Ao se encararem, os dois não
resistiram e começaram a rir. As crianças não pareciam muito felizes... em
especial quando a resposta de Poncho não foi exatamente para as suas
perguntas.
It's true
Look how they shine for you
Look how they shine for you
Look how they shine for
— Poncho sabe que eu não sou a melhor pessoa com as palavras – Jesse
disse com o microfone em uma mão e uma taça de champagne bem segura
na outra – Mesmo assim ele decidiu se casar duas vezes e me obrigar a fazer
dois discursos... – todos riram, Jesse fez uma breve pausa e então continuou
– A sorte dele é que eu não irei me casar novamente, porque encontrei a
pessoa perfeita pra mim, decidi que ela seria a única que eu levaria pro altar
e isso fez com que ele só precisasse fazer um discurso, no meu único
casamento – ele lançou um olhar para Sophia, que sorria com Logan nos
braços, e depois desviou de volta para o seu melhor amigo – Então,
exatamente por ter essa mulher na minha vida eu sei como ele se sente
agora. Diferentemente de mim, Poncho sempre soube exatamente o que
quis. Quem quis. Enquanto eu ainda era um garoto querendo aproveitar a
idade, ele já planejava mentalmente o dia de hoje. Pode negar, mas nós
sabemos que era assim. Eu não o culpo. Eu ainda não havia encontrado essa
pessoa pra mim... mas Poncho sempre teve a Anahí nos sonhos dele. Então
hoje, senhoras e senhores, nós vemos um sonho se tornar realidade.
Deixamos o nosso lado piegas falar mais alto para sabermos que existem
pessoas que simplesmente devem ficar juntas. Cedo ou tarde, oito anos
antes ou oito anos depois. E eu percebo que não preciso ter as palavras
certas... porque o que vocês sentem um pelo outro não pode ser descrito em
palavras. Felicidades, meus amigos.
Jesse estendeu a taça, e Poncho estendeu de volta. Parecia que, vinte anos
depois daquela amizade começar, eles finalmente estavam no mesmo
patamar. E não era sobre casamento, família ou filhos... era sobre felicidade.
Sobre plenitude.
Agora era a vez dos votos da dama de honra de Anahí. Não havia outra
pessoa para sintetiza-los se não Maite, é claro.
— Jesse tem razão quando diz que hoje vemos a realização de um sonho –
Maite começou a falar – O que é engraçado, porque a Anahí que eu me
lembro na adolescência não sonhava nem um pouco com dias como hoje.
Na verdade, casar desse jeito, de vestido branco, é muito mais parecido com
o que eu sonhava do que com ela. Mas sonhos mudam. Eu vi essa Anahí
que era uma menina doce, mas que nem de longe queria viver um conto de
fadas, mudar aos poucos. Não porque entrou um príncipe encantado na vida
dela, mas porque todos nós mudamos quando encontramos o amor
verdadeiro. Com ela o Poncho mudou também, e ganhou o maior dos
presentes... porque você, cara... – Maite apontou levemente para o amigo
que lhe sorriu – Você levou o coração da minha melhor amiga. E você sabe
o quanto eu olhei torto pra você nos últimos anos, porque a minha
fidelidade é à ela e você sabe disso. Any, eu nunca deixei de acreditar que
você iria voltar. E por muito tempo, eu fiz todo o possível pra te defender.
Só que você voltou e você sobreviveu. Você mostrou que continua sendo a
mulher forte, guerreira e fantástica que sempre foi, e apenas nos
surpreendeu mais. Você cuida do mundo enquanto eu tento cuidar de você.
Mas agora eu não preciso mais cuidar sozinha... – foi quando Maite voltou
a encarar Poncho – Em outros tempos Poncho, eu diria que você tem que
cuidar dela, que você tem que fazê-la feliz. Mas hoje... hoje eu não preciso.
Eu sei que nós dois crescemos com tudo isso que vivemos nos últimos dez
anos e sei que hoje você seria a pessoa que se jogaria na frente de um carro
pra salvar a minha melhor amiga. Hoje eu não preciso pedir nada, nem
mesmo pra que ela tenha a pessoa perfeita, porque você é essa pessoa sem
que ninguém precise pedir. Hoje vocês são essa pessoa um pro outro. E
vocês não merecem menos. Não vou desejar felicidades como o Jesse
porque vocês já são felizes. Então... eu desejo que seja infinito enquanto
dure. E que dure para sempre.
Não havia reação possível àquele discurso de Maite por parte de Anahí
senão um abraço forte cercado de lágrimas de ambas as partes. Nada mais
precisava ser dito além das palavras que a morena já proferira. Mas Anahí
acabou não sendo a única emocionada com aquilo tudo. Mane, que estava
sentado na mesa que dividia com a namorada, com uma Luna adormecida
em seus braços, sorria encantado, vendo-a se aproximar travessa e sentar ao
lado dele, usando a mão livre para envolver seus ombros. Ele queria
perguntar algo a ela e a vontade se tornou irresistível... muito embora já
soubesse, no fundo, a resposta.
— Você quer casar comigo? – ele perguntou num sussurro no ouvido dela.
Imediatamente as sobrancelhas de Maite se ergueram.
Claro que ela sabia que aquela resposta aberta traria uma série de pedidos
anuais de casamento. Mas desde que Mane continuasse ao lado dela a cada
resposta negativa, confirmando que o que os dois tinham juntos era mais
resistente que a aversão à casamento dela, estaria tudo bem.
xxx
Arthur dormia nos braços da avó, Evelyn, quando a mãe lhe deu um beijo
na testa se despedindo. Missy e Daniel, assim como ele, ficariam sob os
cuidados dos avós paternos naquela noite e no resto da semana, no
apartamento deles. Os pais iriam para uma romântica noite de núpcias
seguida de uma lua de mel em Santorini, na Grégia. É claro que tanto
Poncho quanto Anahí compartilhavam de um pequeno aperto no coração de
deixar os três filhos para trás e seguirem para uma viagem de sete dias
sozinhos... mas ambos sabiam que era necessário. Eles mereciam aquele
descanso.
— Sim – ele confirmou – Pra apenas por sete dias, sermos somente você e
eu. Mesmo que no fundo, não sejamos.
O hotel onde eles passariam a noite, o Whyndhan New Yorker Hotel, tinha
vista para toda a Manhattan, que estava deslumbrante acesa à noite. Ao
chegarem na suíte onde passariam a noite – uma cortesia, é claro, de Karen
e de Keith – Anahí caminhou diretamente para a enorme janela, vendo a
cidade aos seus pés. Era impossível não sorrir com aquela vista
deslumbrante. Mas logo os olhos dela se fecharam, sentindo o que
realmente fazia seus lábios se abrirem. Poncho, atrás dela, respirava forte
em sua nuca e tinha os dedos firmes em abrir cada botão de seu vestido de
noiva.
Aquilo era erótico. Ela estava vestida de branco, embora a pureza passasse
longe. A gravata dele há muito se fora, e agora a camisa social estava com
os primeiros botões abertos. Seus cabelos, bagunçados. Anahí, ao olhar para
frente, ao mesmo tempo que via a cidade iluminada, percebia o reflexo
fraco do olhar de paixão misturado ao tesão dele ao desabotoar botão por
botão. Realizando um sonho, definitivamente. Por isso ela esperou
pacientemente Poncho terminar aquilo e colocar as mãos no vestido,
empurrando-o para frente para tira-lo, deixando-a somente com o sutiã
branco meia-taça. Foi quando ela se virou para beija-lo, porque afinal de
contas, ele também ficava muito mais bonito sem roupa alguma.
— Eu também tenho uma fantasia, se você quer saber – ela sugeriu. Pelo
olhar dele, sabia que havia instigado sua curiosidade.
— Qual?
— Não combina com a sua – Anahí o olhou travessa – Quer mesmo saber?
— É claro que eu quero – ele parou de tentar tirar o vestido dela para
encara-la.
— Você deixa que eu tire o vestido sozinha e senta nessa cama enquanto eu
termino de me despir... – a voz dela num sussurro fez Poncho sentir o
próprio pau apertar contra a cueca – Encara minha lingerie como se nunca
tivesse me visto nua... pensa que vai fazer amor comigo, mas antes de ser
capaz de fantasiar mais, eu já montei em cima de você... sento até encaixar
o seu pau na minha entrada e cavalgo enquanto ouço você gemer o meu
nome...
— Está certo, eu prefiro a sua – ele disse assaltando sua boca e finalizando
o assunto.
É claro que eles se amavam... mas tinham feito amor demais. Ainda
haveriam dias que Poncho subiria sobre ela, tiraria sua calcinha e eles
transariam com tranquilidade, controlando os próprios gemidos para não
serem ouvidos, aproveitando pequenas sensações... mas aquele não era um
daqueles dias.
Após falar aquilo Anahí o empurrou até ver Poncho cair sobre a cama e
seguiu passo a passo do próprio fetiche: tirou o vestido e, aos poucos, a
pouca lingerie que ainda cobria seu corpo. Fez questão de pegar a garrafa
de champagne que jazia ali perto, beber nela própria, sem taça, deixando
um pouco da bebida cair por seu queixo e sobre os seios, escorrendo. Os
olhos de Poncho brilhavam a cada movimento, vendo como ela se
transformava com a bebida, rindo demais, ficando mais corajosa.
Mas aquela não era a Anahí ex-vítima, que inspirava cuidados da parte dele.
Aquela era a Anahí que, nua, puxava a cueca dele para fora. Que lhe tocava
o pau, apertando-o, fazendo com que seu marido revirasse os olhos de
tesão. A Anahí que envolvia suas pernas na cintura dele e aproveitava o
quão molhada estava para encaixar seus corpos como sabia fazer desde os
dezessete anos. Sem chance para uma lembrança ruim, apenas tentando
repetir uma boa foda de quem sabe anos antes, sentindo Poncho agarrar
seus cabelos e gemendo por ele estar até o fundo.
E ele estocava dentro dela, embora Anahí, por cima, controlasse o ritmo, os
movimentos. Ainda assim, ele a fodia, agarrando-a pelos cabelos e
gemendo. Ele a tocava pela cintura, lhe mordia o queixo, o ombro, a enchia
de marcas que, dias depois, seriam um problema na ensolarada Santorini. E
aos poucos, sentiu Anahí se contrair contra ele, tentando reprimir o orgasmo
que já vinha para ser ainda melhor. Por isso ele soltou seu cabelo, a agarrou
pela cintura enquanto o corpo dela se comprimia e sua boceta o tragava,
para instantes depois senti-la explodir naquele orgasmo desbravador,
apertando sua nuca com as unhas e lhe dando um beijo cheio de mordidas
que ele sentiria no dia seguinte. Mas não importava.
Assim que Anahí se recuperou ele voltou a estocar. Após o orgasmo, ela
ficou ainda mais molhada – Poncho deslizava para dentro dela. Agarrado ao
corpo dela, ele apenas investia sentindo aos poucos a visão turvar. Gritava o
nome dela sem parar ao sentir aquele orgasmo vir, sentindo, por estarem
com os rostos colados, a boca dela se abrir num sorriso. O sorriso de quem
tinha um fetiche realizado.
— Não é sua e nunca vai ser – McNair disse debochado, tomando o jornal
dele.
Anahí não era dele e nunca seria. Enquanto ele amargaria o resto da vida
naquela prisão, em algum lugar, ela vivia a vida da qual ele a havia tirado
uma vez. Agora, longe demais para tentar de novo. O tabuleiro estava
fechado para ele, seu caminho estava praticamente encerrado. O de Anahí,
por outro lado, acabara de recomeçar.
Oficialmente falando temos aqui o último cap da fic, porque agora veremos
apenas o epílogo e o final de todos os personagens da história. Esse cap em
especial ta no meu coração, tanto que saiu com o dobro do tamanho que eu
esperava. Mas provavelmente não teremos um casamento AyA em fic
alguma minha que eu ame mais, ou com votos mais especiais que esse. Vcs
concordam?
Mereço muitas estrelas depois desse cap delícia com casamento, filhos, hot
e Tobias se fodendo né? Haahhahahahaha mereço sim!
Rafa
Epílogo - Watch me
Feliz aniversário pra lá de atrasado, Duda!
"Não dá para saber qual dia será o mais importante da sua vida. Os dias
que você pensa serem importantes nunca atingem a proporção imaginada.
São os dias normais, os que começam normalmente, que acabam se
tornando os mais importantes."
Grey's Anatomy
O bipe tocava sem parar, o que fazia Lexie não entender considerando que
a enfermeira-chefe da Emergência já havia lhe ligado e dito do grande
trauma da Emergência que estava a caminho. Difícil mesmo era o fato de
ela conseguir se equilibrar naquele salto, com sua bolsa e aquele peso extra
que carregava nos braços, sem falar que sua outra mão também estava
ocupada. Lexie naquele momento sequer estava com o próprio jaleco, e de
alguma maneira ela tinha que estar na Emergência em cinco minutos.
— A creche não vai nos aceitar tia – Zola começou a falar assim que a porta
do andar se abriu – Sofia e eu já somos grandes.
— É – Sofia concordou com a amiguinha num suspiro – Nós temos treze já,
somos adolescentes.
— Eu sei, mas é algo que nós precisamos resolver – Lexie disse nervosa, e
uma terceira voz de criança interrompeu o silêncio.
— A creche é pra bebês Elisa – Sofia explicou à irmã que fez uma careta.
— É, você não é bebê, porque bebês fazem xixi na fralda, mamam no peito
e dormem no berço, e você não faz nada disso – Lexie parou na porta da
creche – Ei, eu tenho uma pequena emergência, será que posso deixar essas
duas mocinhas aqui apenas hoje? Apenas por umas poucas horas...?
— Regras são regras Dra. Sloan – a moça deu de ombros. E Lexie não
soube o que a irritou mais.
— Papai!
Elisa foi quem deu aquele grito ao ver Mark aparecendo ali. Sofia teria feito
o mesmo dez anos antes, quando tinha a idade da irmã caçula, mas naquele
momento ela e Zola apenas se entreolharam e riram. Adolescentes. Lexie
suspirou aliviada, dando as costas para a enfermeira e caminhando até o
marido. Àquela altura ele já tomava conta de tudo, com a caçula nos braços
e dando um beijo na testa da outra filha e outro em sua sobrinha.
— Estou tentando – Lexie bufou – Estava em casa e tive que trazer as três
comigo, preciso descer pra Emergência e ainda pegar o meu jaleco, você
pode distrai-las por mim...?
— Eu disse pra tia Lex que poderíamos ficar em casa sozinhas, mas você
sabe como ela é – Sofia disse fazendo uma careta para o pai e Mark apenas
riu.
E naquele momento Lexie mandou tudo para os ares. Apenas entrou num
abraço que, até então, não sabia que existia com o marido e a filha. E logo
Sofia deixou de lado aquela pose de adolescente que acha tudo careta e os
abraçou também... Zola, lógico, não ficou de fora. Lexie demorou apenas
alguns segundos naquela ternura, mas bastou apenas que seu bipe tocasse
novamente. Grande trauma. Ela precisava ir.
— Quando você for chefe de cirurgia e eu, sua chefe de Cirurgia Geral,
ordene isso – Jo sugeriu exatamente quando a porta do elevador se abriu.
Mal isso aconteceu e as duas marcharam para fora. Lexie já aproveitou para
pegar um avental cirúrgico amarelo, próprio para casos de trauma, entrando
na sala de trauma onde sabia que o paciente estava à sua espera. O grande
trauma tão anunciado... foi aí que o deja vu começou, exatamente como ela
se lembrava há mais de dez anos. Dessa vez não havia os Shepherd
brigando, Mark não estava ali, mas o resto estava tudo igual. A começar
pelo fato de que não era o paciente... era a paciente.
Deitada na maca, com sinais de tortura, marcas nos tornozelos, nos pulsos...
ossos quebrados... sinais de abuso sexual... não, de novo não...
Enquanto isso, Owen Hunt falava com Callie Torres exatamente sobre
aquele caso.
— Já sei que você vai querer um raio-X pra verificar a extensão dos danos
ósseos... certamente ela tem muitas fraturas mal calcificadas...
— Não – o sorriso de Lexie cresceu – Meu Deus, eu não acredito que ela
tem dezoito anos e está indo para a faculdade.
— Agora está – Lexie respondeu com confiança – E o que não está... nós
vamos fazer com que esteja.
E naquele dia em especial, Anahí tinha uma missão e tanto pela frente.
— Não era a intenção – Emily Byrne sorriu para ela, tranquila como sempre
– É que não é todo dia que a gente encontra uma mulher como você nesses
corredores.
— Ainda é cedo para dizer isso – Emily negou com a cabeça rindo.
Era realmente bom ver Emily Byrne. Ela inspirava Anahí, lhe dava ares de
esperança. Especialmente quando ela caminhava para fazer jus à uma
mulher injustiçada no Tribunal, exatamente como dez anos antes Emily
fizera com ela.
xxx
E exatamente por isso, sem colocar os olhos na tela do iPhone da filha, ele
sorrateiramente se aproximou do ouvido de Missy para dar uma alfinetada.
— O quê? – Poncho riu divertido – Você acha que eu não sei conhecer um
rosto de uma garota bonita apaixonada?
— Eu sei que sabe – Missy mordeu os lábios num suspiro. Pelo visto ela era
transparente demais.
— Você é igualzinha a sua mãe – Poncho negou com a cabeça – Ela fazia
essa mesma cara quando estava devendo algo, quando estava suspirando
demais... você sabe, sua mãe e eu éramos amigos muito antes de termos
algo, de desnaturarmos tudo...
— Deixe-me adivinhar: você percebeu pelo rosto envergonhado que ela
estava apaixonada por você? – Missy alfinetou. Mal sabia que estava um
tanto errada.
Missy ergueu a sobrancelha totalmente surpresa. Por essa ela não esperava.
— Ela tinha quinze, quase dezesseis, nós éramos apenas amigos – Poncho
começou a explicar – Ela se dizia uma adolescente boba, mas era totalmente
encantadora. Mas era apaixonada pelo cara mais imbecil que já tinha
pisado naquele colégio. E tudo o que eu me perguntava era que diabos ela
via nele...
— E porque não via o que quer que fosse em você – Missy completou,
vendo-o dar de ombros.
— Ele não a merecia – ele observou – Não era bom o suficiente pra ela.
porque sua mãe... ela era incrível. Era maravilhosa... pense nela agora, só
que aos quinze anos, totalmente doce, encantadora e com aquela vontade
imensa de mudar o mundo. Ela merecia tudo. Alguém que desse tudo por
ela.
— Eu fiz o possível pra ser suficiente pra ela – Poncho continuou – Eu faço
até hoje. Mas às vezes, tenho que admitir... olho pra ela dormindo do meu
lado na cama e penso no quanto sou um puta sortudo por ela me amar de
volta.
— O nome dele era Ryan Gosling e ele era um babaca, como eu bem disse
– Poncho enumerou – Tinha todo aquele currículo, capitão de time do
colégio, o carinha mais popular da escola, um tipo daqueles enjoativos que
fazem vocês suspirarem...
— Ah, eu conheço bem esse tipo... – Missy riu – Mas no fim ela não quis
um Gosling, quis um Herrera. E eu acho que ela escolheu perfeitamente
bem.
— Nenhum dos dois – Missy suspirou longamente, pronta para o que viria a
seguir – Eu escolhi um Cooper.
— No início foi estranho, porque eu achava que ele era quase meu irmão
por ser meio-irmão do Dani, mas... aconteceu – Missy apenas sorriu, se
permitindo reagir daquela forma. E Poncho notou, naquele momento, o
quanto a filha estava feliz – Agora estamos tentando decidir o que vai
acontecer, porque ele irá para a Brown e eu certamente virei para Yale,
então...
— Isso não foi um impeditivo para a sua mãe e eu... ela foi pra Washington,
em Georgetown, e eu para Stanford, na Califórnia... deu certo – Poncho
observou – Falando nela, ela sabe disso? De Eric e você...?
— Sua mãe sempre nos achou parecidos – Poncho confidenciou – Ela disse
isso dias depois de nós nos conhecermos. E eu achava você idêntica a ela...
até ela me dizer que nós dois nascemos no mesmo dia.
— Somos meio que almas gêmeas – Missy piscou para ele – Você e ela,
você e eu... ligados de uma maneira inexplicável.
Sem saber, Poncho havia resolvido um problema interno que havia dentro
da própria filha.
Mas agora o mesmo homem que a criou e a amou colocava tudo em outro
prisma. Poncho anos antes, ao conhecer Missy, não a olhou como uma
lembrança viva da violência sofrida pela mulher que amava, mas sim como
sinal exato daquela sobrevivência que Anahí tanto viria a falar nos anos
seguintes. Ela era um renascimento, uma nova chance, um arco-íris após a
tempestade. E era assim que ela deveria se definir. Era assim que ela
deveria se colocar.
— Boa sorte meu amor – Poncho lhe sorriu acolhedor como sempre.
Exatamente como na primeira vez – Seja qual for o resultado, eu estou
orgulhoso de você.
Decidida, ela caminhou para dentro da sala, onde uma banca de três pessoas
a esperava para aquela admissão. Ela estava nervosa, quem não estaria? –
mas isso não a impedia de se sentar confiante e pronta para dar o melhor.
— Então... Missy – a senhora à sua frente repousou os olhos sobre o
arquivo dela, numa pasta – Conte-nos... quem é você?
xxx
A entrevista de Missy fora à tarde. Assim que terminou, ela entrou de volta
no carro do pai em silêncio, evitando responder às inquietudes de Poncho
sobre como havia sido. Missy não gostava de traçar possibilidades, ela
simplesmente aguardava, sem grandes expectativas, pelo resultado. E neste
caso, ainda demoraria algumas semanas para que ele chegasse via correios.
Naquela tarde Anahí saiu mais cedo do escritório. Sem Poncho em casa,
seria ela a cuidar do jantar. Naquela noite em especial a família estaria
completa, pois Daniel estaria com eles. Com Missy finalmente fazendo a
entrevista em Yale, eles tinham motivos para celebrar. Anahí tinha certeza
que a filha seria aprovada, sua pequena estrela sempre dera os sinais de que
iria longe. Por isso ela estava repleta de ansiedade, cortando os legumes e
olhando o celular a cada dez, quize minutos, para ver se o marido ou a filha
haviam mandado uma mensagem. Não havia nada desde que Poncho
dissera, quase duas horas antes, que eles estavam saindo de Connecticut em
direção à Nova York. Esperar era simplesmente a morte para Anahí. Estava
quase tudo pronto, ela bebericava um vinho e nada deles.
— Não adianta olhar o celular sem parar – Daniel disse entrando na cozinha
e abrindo a geladeira para pegar uma garrafa de água – Papai não envia
mensagens dirigindo e a Missy não dirá uma palavra sequer, certeza.
Daniel nem parecia mais o menino com traços suaves e delicados, idênticos
ao pai, que Anahí conheceu tantos anos atrás. Ele havia crescido e
continuava parecido demais com Poncho, e mais ainda com Diana. Cabelos
escuros e lisos, expressões agora fortes e personalidade, mais ainda. Ele
estava alto, tinha os olhos verdes e, como sempre, entrara suado na cozinha
da madrasta após o treino de basquete com seu treinador pessoal – Mane, é
claro. Enquanto Missy se preparava para as pesquisas laboratoriais, seu
meio-irmão visava uma bolsa universitária para virar um jogador
profissional. Isto a curto prazo, é claro. A longo... ele queria a NBA.
— Não sei pra que estão ansiosos – Daniel cruzou os braços com ar
zombeteiro – Missy não vai dizer uma palavra sequer sobre como foi
quando chegar.
— Dani, você é tão desagradável – Arthur rolou os olhos para o irmão mais
velho, saindo da cozinha em seguida, enquanto o outro bebia a água ainda
rindo.
— Esse garoto fala umas coisas tão elaboradas pra quem tem nove anos –
ele disse franzindo a testa.
— A quem será que ele puxou senão ao seu pai? – Anahí disse rindo e
dando de ombros.
Dos três filhos de Poncho, Arthur era o que menos parecia com ele. Na
verdade, não fisicamente falando. O menino herdara os olhos da mãe e em
todo o resto ele era Poncho, da cabeça aos pés. Mas sua personalidade não
parecia em nada com o pai: tal como Anahí, Arthur era determinado,
intenso e falante. Ele era familiar. Era como vê-la novamente criança, numa
versão masculina. E o completo contrário de Missy, cuja aparência era de
Anahí e jeito de Poncho. Já Daniel era uma mistura completa da aparência
dos pais e o caráter formado pelas quatro pessoas que o criaram.
— Eu... não sei – a garota deu de ombros – Vamos esperar pra ver.
Os cinco jantaram juntos, na sala, como uma família. Poncho ajudou Anahí
a pôr a mesa, os filhos se encarregaram de retira-la e lavarem a louça
juntos. Sentada no sofá Anahí ouvia os três brincarem, aos risos, claramente
se implicando enquanto o faziam. Cena típica de irmãos, algo que ela foi
privada de viver a vida inteira, já que Harry chegou quando ela já era
adulta. Mas a fazia se sentir bem se dar conta que tinha conseguido dar uma
família completa para sua filha. Missy crescia diferente dela: tinha um pai
que a amava com fortes laços, tinha irmãos para dividir os problemas e as
lembranças, e tinha na mãe o mesmo que Anahí teve em Karen. Nela e em
Keith, o mesmo que sua mãe tivera com Ellie e Arthur. Era perfeito.
— Você também não contou aos seus pais quando nós dois começamos a
namorar, que eu lembre só a Erendira sabia – Anahí lembrou – Você só
disse depois que já estava quase transando comigo.
— Digamos que você não tem mais uma menininha – ela deu um selinho
nele – Ela vai te contar as coisas, no tempo dela. Esteja por perto, vai
acontecer.
— Ela vai pra faculdade Anahí – Poncho sorriu irônico – Me diga como
fazer isso e eu farei.
Mas não houve resposta. Anahí apenas levantou sorrindo para o marido,
deixando-o divagar nos pensamentos. Ao ouvir as risadas animadas dos
filhos, pensando que Missy iria de fato para a faculdade e que, no ano
seguinte, seria a vez de Daniel, a verdade o estapeou: eles estavam
crescendo. O tempo estava passando...
xxx
E as semanas se passavam...
— Por que você anda me ligando tanto ultimamente? – Anahí disse na linha
telefônica para Lexie, assim que viu a foto da amiga no visor no celular
naquela manhã.
— Relaxe – Lexie sorria do outro lado da linha – Missy vai passar, nós
sabemos disso desde sempre.
No New York General Hospital, Mark abraçava Lexie por trás. Ele sentia
pelo final da conversa da esposa com sua amiga o tom dela, e sabia, pela
porta do quarto da paciente que Lexie estava parada, a razão de ser daquela
tensão toda.
— E está – Mark beijou a testa dela – No final algo maravilhoso vai sair
disso tudo.
Mark estava mais certo do que se poderia imaginar... mas isso é assunto
apenas para o fim.
xxx
— Merda, era pra ela estar nos contando isso... não nós dois descobrindo
como se fossemos dois investigadores do FBI... – Anahí falou enquanto saía
do abraço e enxugava os olhos.
Você acreditou...?
Naquele mesmo dia, horas depois, Anahí se viu não resistindo à exigência
que ela própria fez ao marido e mandando uma mensagem para Maite e
Christian contando as boas novas. Ao menos para os seus dois melhores
amigos ela tinha que dar aquela notícia antecipada, não deu para segurar.
Com Poncho, na verdade, também não foi muito diferente: ele acabou indo
comprar um bolo na confeitaria de Sophia para que a família comemorasse
mais tarde e, quanto se viu em frente a ela e a Jesse, a novidade
simplesmente escapuliu.
Ops.
A própria Missy, por sua vez, chegou em casa despretensiosa, sem sequer
imaginar o que a esperava. Só quando ela entrou no quarto viu o envelope
em cima de sua mesa de cabeceira a ficha caiu. Algo dentro de Missy lhe
disse que ali dentro havia a resposta que ela sempre havia sonhado. Mas a
verdade é que ela apenas acreditaria quando visse.
Missy havia puxado a inteligência dos pais, de forma que deduziu a mesma
informação que eles: se o envelope era grosso, significava uma admissão. A
diferença é que ela poderia abri-lo para verificar se sua conclusão era real.
O fato de acreditar naquele resultado positivo não diminuía sua ansiedade,
muito pelo contrário. O coração da garota batia rápido, mas quando ela
abriu em definitivo a carta e viu que a primeira frase começava, após a
saudação de "prezada senhorita Missy Portilla-Herrera" com um "temos o
prazer de informa-la que...", ela finalmente se permitiu abrir o maior
sorriso do mundo. E em seguida, deixar seu rosto ser lavado pelas lágrimas
da euforia, do alívio.
Mas não, não são essas pessoas que você está pensando. Ainda não.
— Seu irmão como sempre nos dando chá de cadeira – Samantha dizia
batendo os dedos ansiosa na mesa mais afastada da confeitaria dos pais,
claramente irritada – Ele vai encontrar uma das namoradinhas e nós que
esperemos a boa vontade de aparecer...!
— Que outro motivo ele teria pra demorar tanto? – a garota revirou os
olhos, sem conseguir disfarçar a vermelhidão evidente em seu rosto. Missy
sabia o nome a dar para aquela reação de sua melhor amiga.
— Ele treina – ela frisou – Quando ele entrar por aquela porta, vai aparecer
suado como sempre, com os cabelos bagunçados e aquela bola que não sai
debaixo do braço. Se Dani tem um date hoje, é com o tio Mane, tenha essa
certeza.
— Lá vem você com isso de novo – ela revirou os olhos, tentando disfarçar
o indisfarçável.
Há muito tempo Anahí dizia que Samantha, Daniel e Missy juntos eram o
trio como Christian, Maite e ela eram. A única diferença é que Christian,
com sua notória homossexualidade, jamais pensaria em se envolver com
suas duas melhores amigas. Então era quase a mesma coisa – as
semelhanças ficavam na cumplicidade, no fato de que seu irmão e a melhor
amiga de infância dele eram as pessoas com quem Missy mais se sentia à
vontade no mundo, até mais do que com os próprios pais. A diferença
ficava no fato de que a Herrera mais velha simplesmente sobrava ao lado
deles, que no meio de tantas alfinetadas e provocações, eram incapazes de
perceber os sentimentos que ficavam nitidamente no ar.
— Estava treinando, já deu pra ver por você não ter se dignado a tomar um
banho sequer antes de nos encontrar Dani – Samantha revirou os olhos.
Uma pena.
— Fica quieta que não é seu momento, é momento dela – Dani cortou,
ainda abraçando as duas.
Se os três amigos eram o presente e seus pais, o passado, sem dúvida havia
um futuro crescendo bem ali. Ele se materializou com a imagem de Logan
entrando na confeitaria com a mãe, que falava no telefone e era
constantemente interrompido por ele. Jesse parou de prestar atenção nos
três adolescentes e voltou os olhos para a criança que mais parecia com ele
do que com Sophia, mas cuja insistência não parecia ser herança de nenhum
dos dois... nisso ele era igual à Samantha.
— Any, será que você pode passar pro Arthur? – Sophia disse revirando os
olhos – Eu te ligo daqui a pouco quando as nossas crianças conseguirem se
falar.
— Estão – Jesse ergueu a sobrancelha – Mas Soph, você sabe que não
podemos...
— Não, não esqueci e sei que você não vai falar nada, mas eu te conheço
Soph, você não sabe disfarçar...
Ela apenas saltitou dali até a mesa onde os três estavam sentados com um
bolo bem confeitado e aparentemente delicioso em mãos, com Jesse
olhando enquanto mordia os lábios, sem precisar torcer contra para saber
que aquilo daria errado. Na mesa eles já estavam de volta às velhas
posições: Daniel estava jogado na própria cadeira, Samantha recostada no
ombro dele e Missy de frente para os dois, os três debatendo o futuro dela
na universidade. O assunto rapidamente foi cortado quando eles notaram a
proximidade de Sophia. Imediatamente Samantha levantou a cabeça
endireitando a postura, embora se pudesse dizer que nenhum deles
conseguiu relaxar ao perceber que um adulto havia chegado.
— Crianças, vocês estão comemorando não é? – Sophia disse animada –
Trouxe um bolo pra isso.
No balcão, Jesse tampou o rosto com a certeza de que tudo fora por água
abaixo.
— Não foi sua mãe, foi meu pai – Daniel corrigiu, certo de que, se alguém
havia deixado escapar algo para os pais de Samantha, esse alguém era
Poncho.
— Tudo bem mãe, não precisa disfarçar mais – ela abriu um sorriso amarelo
– Você pode ir.
— Obrigado pelo bolo tia Soph – Daniel disse pegando o bolo das mãos
dela e colocando sobre a mesa – Certeza que está maravilhoso como
sempre.
É claro que Sophia voltou com os lábios mordidos, o rosto vermelho como
um pimentão – para variar – e com Jesse a encarando com os braços
cruzados e a expressão de quem havia avisado.
— Eu nem preciso dizer nada – ele puxou a cintura dela, beijando-a nos
lábios – Você é teimosa desde que eu me lembro, sabe?
— E você ama isso há tempo demais para voltar atrás – ela observou, se
deixando levar pelo abraço dele e tocando-lhe no rosto.
Filhos...
E por falar em sangue não mentir, Missy estava um pouco desapontada com
o seu. Ela esperava descobrir a aprovação na universidade e anunciar aos
pais, e não que Anahí e Poncho perceberiam antes e contariam para os
amigos antes mesmo que ela tivesse a chance de anunciar. A realidade, ao
fim, se mostrou muito diferente da expectativa. E exatamente por isso ela
decidiu que era hora de ir até lá e dizer a eles o que já sabiam e colocar tudo
em pratos limpos de uma vez.
— Eu acho que irei pra casa encontrar as feras – Missy disse se levantando
– Dani, você vem ou...
— Não mate seus pais, você sabe que eles não fazem por mal e que nós
faríamos o mesmo no lugar deles – Samantha aconselhou a amiga, que riu.
— Vou tentar lembrar disso – ela falou – Dani, eu vou pedindo um Uber. Te
espero lá fora.
xxx
Obviamente seus pais notaram aquilo e foram até Daniel perguntar o que
tinha acontecido. O filho do meio estava sentado na sala ao lado de Arthur,
que jogava videogame com os olhinhos azuis fixados na tela – um hábito
passado do irmão mais velho para o mais novo, é claro. Quando Dani viu o
pai se aproximar com a expressão de preocupação que já conhecia bem,
sequer esperou a pergunta vir.
— Mas eu não contei pra Soph – Anahí disse encarando o Poncho – Você...
— Me diga que você não contou pro Christian e pra Maite – ele cruzou os
braços exigindo, vendo a esposa balbuciar em resposta.
— Eu... eu...
É claro que Anahí, agora sabendo que a filha estava magoada com ela, ficou
inquieta. Anahí não sabia lidar com nenhum dos três filhos – pois é lógico
que Daniel entrava na conta – demonstrando qualquer tipo de sentimento
ruim em relação a ela. Quem sabe isso vinha de sua boa relação com a
família, onde tudo costumava ser prontamente resolvido. Ou ainda do fato
de que ela demorou meses para aprender a amar Keith e olha-lo como pai,
não passando um dia sequer após isso zangada com ele. Exatamente por
isso lhe doía tanto simplesmente deixar Missy aborrecida no quarto e não
fazer nada.
— Any, dá um tempo pra ela – Poncho propôs, embora soubesse que não
seria ouvido. Ele conhecia a esposa que tinha, afinal.
— Mamãe, a Missy não gosta que falem com ela quando ela ta chateada –
dessa vez foi Arthur quem aconselhou, com os olhinhos idênticos aos da
mãe virados para ela com toda a doçura possível – Tenta amanhã.
— Eu sinto muito – Anahí mordeu os lábios – Seu pai também, mas ele vai
se desculpar pessoalmente. Eu deveria ter esperado você contar, mesmo
tendo certeza de qual seria aquele resultado. E definitivamente não deveria
ter contado para os seus padrinhos antes que você mesma viesse me contar.
Mas é que... é inevitável pra mim. Da mesma maneira que você correu pra
contar pro Dani e pra Sam, que você precisa dividir tudo o que te importa
com eles... eu sou assim com Christian e a Mai. Nós somos como irmãos.
— Você acha realmente que nós ficaríamos surpresos com isso? Você é a
nossa little star, Missy. Sua avó me chamou a vida inteira de borboleta
porque ela dizia que eu tinha asas muito grandes pra ficar dentro de um
casulo... e quando eu comecei a te chamar assim, é porque eu sabia que
você era muito brilhante pra ficar só pra mim. Você pertence a um céu
inteiro.
O sorriso de Missy de admiração não poderia ser maior. Ela sentiu que
aquela era a hora de dizer algo que já deveria ter falado à mãe há tempos.
— Eu falei sobre você – Missy revelou – Na entrevista pra Yale. Sobre nós
duas, na verdade. A sua história... e o impacto dela sobre mim. A minha
origem, a forma como você sobreviveu, me encontrou e me criou. Foi por
isso que eu entrei. Não apenas as notas e o histórico... foi porque eu contei
sobre nós, mãe.
— Sério? – Anahí piscou os olhos. Dessa vez ela estava realmente surpresa.
— Sim – Missy sorriu orgulhosa – Eu não sabia o que falar, mas as palavras
fluíram na hora. Você... quase não fala sobre...
Missy não falou nada, apenas ficou refletindo sobre aquilo. Sobre todas as
vezes que leu sobre estupro, sobre violência doméstica e os traumas e
cicatrizes que aquilo poderiam causar. Sobre como a literatura os utilizava
como recursos para engrandecer mulheres. Ela observava isso e em seguida
encarava a mãe, notando o quanto Anahí não precisava desse tipo de coisa.
Por si só, ela já era gigante.
— E eu fiz o certo com você, te criei para ser feminista – Anahí apertou a
mão dela – Assim você não fica esperando que nenhum homem venha te
salvar.
Nada mais precisava ser dito. Aquele assunto não precisava mais ser
tocado. Missy conhecia sua história, a história consequente da interrupção
da vida de sua mãe... mas aos poucos percebia que a verdadeira história de
sua vida tinha sido a partir de seus sete anos. Quando encontrou aquela
mulher de olhos azuis cujo abraço se tornou sua casa, com a promessa de
que nunca mentiria, que a protegeria. Quando essa mulher lhe apresentou
aquele que realmente seria seu pai. E de alguma maneira, com cada peça
encontrando o seu lugar, eles se tornaram uma família.
xxx
Ainda faltavam dois meses para Missy finalmente ir para Yale, mas ela
estava dando adeus ao colegial. Com um sorriso nos lábios ela vestiu aquela
beca e levou o capelo em mãos, colocando-o na cabeça em seguida. Quando
seu nome foi chamado para buscar o diploma, viu que sua realidade era
muito diferente daquelas outras pessoas que tinham três, no máxino cinco
pessoas lhe prestigiando na plateia. Somente a sua família ocupava quase
três fileiras. Era gente demais.
Afinal, estamos falando de uma adolescente, quase adulta, que tinha quatro
avós, dois bisavós, dois tios – ambos casados – dois pais e dois irmãos. A
família de Missy era maior do que a de qualquer outra pessoa ali, e como se
não bastasse a presença de todos os Portilla e dos Herrera em peso, ela
ainda resolveu convidar uma outra pessoa, cuja importância em sua vida
não precisava mais ser escondida.
Após o casamento de seu pai, Bradley, com Diana, Eric tinha praticamente
crescido com Daniel, de forma que estava completamente habituado à
família dele – tanto a natural, quanto a extensa. Isso gerou alguns feriados e
datas comemorativas ao lado de Missy, muito embora o interesse amoroso
entre ambos só tenha surgido depois de anos, quando já eram adolescentes
– diferentemente do meio-irmão que tinham em comum e de Samantha. O
único receio da garota era a forma como a família lidaria com aquilo, mas
agora que seus pais sabiam, por que temer?
— O que foi? – Poncho perguntou à filha, tentando não reparar demais nos
dedos dela entrelaçados com os de Eric – Você não está feliz?
— Estou – Missy deu um suspiro – É só que... Sam não está aqui. Nem o tio
Christian, tia Maite... é tanta gente...
É claro que Missy não esperava o que encontraria no café. As luzes estavam
apagadas quando ela chegou, mas assim que Karen as acendeu, após abrir a
porta, as faixas, balões coloridos e principalmente, as pessoas se levantaram
num grito de surpresa que definitivamente a chocou. Não era seu
aniversário, ela não tinha como adivinhar o que a esperava, mas mesmo
assim... ali estava. Todo o Café da Karen estava decorado com as cores e o
emblema de Yale e dentro do lugar, todas as pessoas que ela amava. Agora
sim, sua família completa.
— Não precisa agradecer, você é a nossa estrela, como diz sua mãe –
Christian segurou as mãos dela com os olhos repletos de orgulho – A
primeira da sua geração, dona dos nossos corações...
— Ela contou pro Poncho no dia que fez a entrevista em Yale – Anahí
explicou rapidamente – Ele está tentando conter os ciúmes desde então...
obviamente Harry e Erendira estão infernizando-o desde que descobriram.
— Eu sempre pensei que Jesse seria o pai ciumento, não o Poncho – Lexie
observou.
— Isso quer dizer que eles só vão ficar juntos quando fizerem trinta? –
Anahí ergueu as sobrancelhas – Missy não aguentará ser cupido até lá.
— Olha Maitita, não foi por falta de tentativa – Christian cantarolou – Mas
o que importa é que você no fim se entregou ao seu crush e viveu feliz para
sempre com ele. Na verdade todas vocês... Anahí parou de dar murro em
faca com o Milo e voltou pro Poncho, Lexie largou o embuste do Jackson
no altar, casou com Mark Sloan e procriou com ele... só falta você parar de
enrolar o Mane e dizer sim de uma vez!
— Que obsessão vocês têm com isso – Maite fez uma careta negando com a
cabeça.
— Nossa, o Milo... – Lexie franziu a testa – Any, você nunca mais soube
dele, né?
— O medo que toda mãe tem – Anahí deu de ombros – Que a minha mãe
provavelmente tinha.
Esse era o saldo positivo de Anahí naqueles mais de dez anos: aprender a
viver.
— Elisa vai ter uma vida maravilhosa com Mark e você – Anahí segurou as
mãos dela – Como Missy tem comigo e com Poncho, Luna com Mane e
Maite, Samantha com a Soph e o Jesse. Nós criamos mulheres
maravilhosas, sementes para esse novo mundo. Elas vão florescer. É o que
podemos fazer.
Esse era o legado de Anahí para o mundo. Ela poderia não muda-lo, mas
poderia começar, fazendo a sua parte. Quem dera que todos fizessem a sua.
xxx
Nos últimos nove anos, desde que Anahí e Poncho tinham se casado, uma
vez ao ano, em datas totalmente aleatórias, Mane pedia Maite em
casamento. A resposta era sempre a mesma: não. Após cada negativa da
namorada, Mane se apegava ao fato de que Maite era traumatizada com
casamento e que aquilo seria apenas uma formalidade. Afinal, na prática,
era como se eles já fossem casados. Desde a gravidez dela os dois já
moravam juntos e dividiam a rotina, a cama, as contas e a criação de Luna.
Não houveram crises, apenas as brigas bobas e os desentendimentos
comuns que qualquer casal tinha.
Com o passar dos anos Mane acabou se dando conta que seu grande medo
não era Maite dizer que não, e sim o que mudaria caso ela não dissesse.
Mas ele acabou percebendo que o mais importante não era se ela tinha o
sobrenome dele, se carregava uma aliança no dedo anelar esquerdo ou se os
dois tinham uma certidão que selava aquele compromisso. O que importava
era que eles acordavam juntos todos os dias. Maite enfim havia percebido
que, durante todos os furacões que ela enfrentou – do desaparecimento de
Anahí até seu retorno, a briga com os amigos e o divórcio que tanto a
machucou – Mane fora a sua constante. E quando ela conseguiu finalmente
relaxar e se permitir viver aquele sentimento, não mais abriu mão.
Mas mesmo o casamento não tendo qualquer relevância para Maite, ele
tinha para Mane. Por isso, anualmente, ele tentava e fazia um novo pedido.
Geralmente o pedido era feito em uma data que relembrava a Mane o
quanto a família, a amizade e é claro, o amor eram essenciais na sua vida.
Naquele ano, a festinha improvisada no Café da Karen para prestigiar
Missy parecia o momento ideal. Os últimos pedidos definitivamente não
haviam amolecido o coração de pedra da morena: Maite sempre dizia que
não, ele ficava buscando os sinais de que ainda estava tudo bem e logo em
seguida ela o abraçava, o beijava e eles dormiam abraçados naquela noite.
Quando Mane pensou nisso ele via Maite chamar Luna para prender o
cabelo da filha antes que ela se soltasse dali e voltasse a correr com Arthur
e Logan. Ela estava com o olhar vago observando a filha e apenas sorriu
quando o sentiu abraçando sua cintura. Em sua mente Mane estava mais
certo do que nunca, mas ao beijar o ombro dela com os rostos dos dois
encostados, ele sentiu o sorriso de Maite se abrir. Mane sabia que era a
certeza na vida de Maite, a constância. Por isso percebeu, finalmente, que
era o suficiente. Ele era feliz com ela, com o sim ou o não. Então aquele
seria o último pedido. Se Maite dissesse que não, ele não pediria novamente
e eles seriam felizes com o que tinham... como já eram.
— Será que, depois de tantos anos, tantas noites em claro com a Luna
acordada quando era bebê ou doente... tantas partidas de basquete dos meus
times que você assistiu... será que agora você aceitaria casar comigo?
— Sim.
E para quem esperou por tanto tempo, será que dava pra acreditar?
— Não te culpo por não levar a sério – ela sorriu acariciando o rosto dele –
Sim Mane. Eu quero casar com você. Não faz a mínima diferença para
mim, mas... se te deixa feliz, eu vou ser feliz assim também.
Era o pedido mais autêntico possível, mas não havia problema. Nada mais
Maite e Mane do que aquilo.
E eles saíram, voltando uma hora depois num mel que surpreendeu os
amigos. metade dos convidados já haviam ido embora e os casais de amigos
estavam sentados com Christian reclamando sem parar que estava de vela.
Eles estavam num sofá que ficava no canto do café, com apenas Mark
sentado numa poltrona e Lexie recostada no braço dela, pendurada sobre o
marido. Quando Maite chegou no café foi direto para lá, vislumbrando
Christian reclamar que era mais um casal para humilhar sua solteirice, mas
parando ao ver a morena erguer o dedo anelar direito.
— Christian, eu espero que tenha uma finalidade esse seu discurso – Jesse
ironizou cruzando os braços e o amigo riu.
— Sim, tem – Christian observou rindo – É que a vida da Lexie era reflexo
do fato de que ela colocava o mundo inteiro no lugar do próprio coração e
cá está ela, uma neurocirurgiã renomada, casada com o amor da vida. E
você, Maite... a Any voltou pra cuidar de si e você finalmente pode cuidar
de você mesma. Foi um alívio ver você e a Soph voltarem a ser amigas, ver
tudo o que você fez por ela quando ela mais precisou... – após ele dizer
aquilo, Maite sorriu na direção de Sophia e as duas deram as mãos – E você
arregando pela Any e o Poncho juntos novamente? Eu quase vomitei arco-
íris...!
— Eu não pensava que nós ainda teríamos chance como amigos – Poncho
sorriu para a morena, que sorriu de volta.
— Nem eu pensava – Christian disse – E Jesse, não fique bravo, mas você
era meio imbecil há dez anos. Nesse mesmo café a Maite teve que te puxar
pelos cabelos uma vez pra te lembrar o que era importante, acho que você
lembra. Mas a vida te ensinou bem, e você não recusou nenhuma daquelas
lições. Foi maravilhoso ver os pais incríveis que vocês se tornaram pra
Samantha. E por que não dizer o mesmo da Any e do Poncho que se
tornaram os melhores do mundo, sem ofensas aos demais, pra Missy?
— Ela realmente foi um raio de luz nas nossas vidas – Poncho completou as
palavras do amigo, fazendo a esposa derreter logo ao seu lado.
— E agora estamos aqui por causa dela – Christian ressaltou – Mas ano que
vem tem a formatura do Dani, depois da Sam e aí teremos uma pausa para
depois recomeçarmos com a geração mais nova. Eu estou me sentindo
velho.
— Não é estranho isso? – Mane franziu a testa – Mais parece que está
acabando.
Aos poucos, a festa foi acabando, até mesmo os adultos indo embora.
Apenas quatro pessoas ficaram ali e agora estavam acomodados no mesmo
sofá que seus pais antes estavam. Missy estava com Eric na mesma posição
que Lexie estava com Mark horas antes, enquanto Samantha e Daniel... lado
a lado, naquele sofá, agindo como se não quisessem estar da mesma forma.
— Eu ainda não havia falado pra vocês – Eric se dirigiu à Sam e Dani,
Missy naquele momento fazia uma cara de que já sabia o que seria dito –
Desisti da Brown. Eu também irei pra Yale.
Naquele momento Daniel teve uma crise de riso que chamou a atenção de
todos.
— Desculpem, eu rio quando to nervoso – ele disse voltando ao normal –
Meu pai vai ter uma crise quando souber disso.
— Ele dava como certo que nós iríamos nos separar quando eu fosse pra
faculdade – Missy apontou rindo – Basicamente os planos não deram certo.
— Papai acha que seria melhor que vocês fossem pra faculdades diferentes
pra ver se realmente daria certo como foi com ele e a tia Any – Daniel
completou.
— Eu já disse a ele que nós não vamos repetir a história dos dois – Missy
ergueu as sobrancelhas – Até porque não somos nós o casal que se ama
desde que era criança e que não sabe como vai ser, já que querem destinos
diferentes...
— Sim e faria mais sentido que eu fosse com vocês – Daniel observou, já
que ele e Eric iriam para o mesmo lugar. Porém...
— Não, alguém precisa dar uma carona pra Sam – Eric disse levantando
com as mãos entrelaçadas nas de Missy, ambos com um sorriso travesso nos
lábios.
Pra lá de combinado...
— Você quer ir pra Duke – ela cortou, finalmente soltando as palavras que
estavam presas na garganta há tempos – E eu quero dançar ballet. Você
passa o tempo inteiro treinando pra algum olheiro reparar em você, e eu
fico ensaiando dia e noite. Dani... não daria certo.
— Meu pai e minha madrasta são a prova viva de que você está errada – ele
disse finalmente encarando-a – Seus pais também. Por quanto tempo eles se
amaram e deixaram tudo em suspenso?
— Talvez seja melhor fazer como eles e esperar a vida se estabilizar pra ver
no que vai dar – Samantha apontou decisiva – Dani, eu não posso abrir mão
dos meus sonhos por você.
— Eu sei disso desde os dez anos – o nariz dele roçou no dela – E você?
Desde quando...?
xxx
— Vocês não facilitam mesmo – ela cruzou os braços quando viu Arthur e
Ellie entrando pela porta, um mais choroso que o outro.
— O que foi? – Arthur brincou – Você acha que eu não viria me despedir da
minha menininha?
— Vai fazer falta de toda forma – Karen suspirou – Você está levando
casacos, não é?
— Tem certeza que não quer que nós te levemos? – Poncho voltou a insistir.
Ele ainda não havia superado o recente ciúme pelo namoro da filha, e Eric
leva-la para Yale havia sido um golpe e tanto...
— Eu vou sentir a sua falta – Arthur disse abraçando a irmã pela cintura –
Não vai ser a mesma coisa sem você.
E aquela frase acabava por sintetizar todo o sentimento que imperava ali.
Tempo, vá devagar...
— Claro – Ellie disse já andando junto com os outros – O tempo que for...
— Eu senti isso quando saí da casa da minha mãe e fui morar com o
Christian – Anahí observou – Mais do que quando fui pra faculdade...
Missy tentava encontrar as palavras certas para aquela despedida, mas
parecia difícil. A garganta estava presa e ela não sabia dizer. Queria
agradecer à Anahí por nunca tê-la olhado como o fruto de um trauma, por
ter lutado por ela. À Poncho, por tê-la dado o amor de um pai presente, ter
cumprido a promessa do casamento deles e sido o mais perto de um super
herói possível. Aos dois, pela família que construíram e que lhe era tão
importante. Mas nada saía. No fim, acabou que, em meio àquele silêncio, o
que quebrou foi o abraço que Anahí deu na filha. E foi ela quem terminou
sintetizando tudo numa frase.
E com aquilo nada mais precisava ser dito. As duas se abraçaram e Poncho,
por fim, foi o último a chorar, envolvendo as duas. O ponto final já tinha
sido colocado na frase. Agora era a hora dos créditos.
— Ligue quando chegar – o vovô Arthur pediu – Não irei dormir enquanto
você não ligar...
— Ele fala isso, mas vai pegar no sono assim que chegarmos em casa –
Ellie zombou.
— Que final...?
— Felizmente mesmo. Se não fosse assim, não teríamos tido aquela transa
maravilhosa da semana passada.
— Eu não sei – Poncho franziu a testa – Agora que você perguntou, não sei
mais como distinguir.
— Se você nunca tivesse sumido, nós estaríamos a uns vinte anos casados,
tem noção disso? – ele sorriu – Acho que teríamos uns três ou quatro
filhos...
— Três filhos nós já temos – Anahí lembrou – Tudo saiu dos planos
Poncho. O que importa é que, cada vez que deu errado, a gente fez dar certo
logo em seguida.
— Eu acho uma ótima ideia, meu amor... não poderia sugerir melhor.
Nunca mais seriam somente ele e ela. Agora sempre haveria mais: mais
filhos, um dia netos, uma vida inteira pela frente. A vida que eles
escolheram viver, e que agora estava ali, dia após dia.
Say it in mine
"Para a minha M. Que bom que não fomos somente sua mãe e eu. A vida
não teria a mesma graça sem você e seus irmãos. Papai te ama."
E daqueles olhos que ela não tinha puxado de nenhum dos dois rolaram as
primeiras lágrimas...
I am still falling
Aos quinze anos, eu fiz uma lista de desejos. Estou escrevendo essa carta
para que você faça a sua. Eu disse para o seu pai, há alguns anos, que era
uma lista boba de uma garota de quinze anos que certamente não sabia o
que lhe aconteceria dali alguns anos. Eu não estava de todo errada, mas
definitivamente não estava cem por cento certa.
Hoje, mais uma vez, você faz com que uma vida minha seja deixada para
trás. É justamente quando você recomeça a sua, iniciando um novo
capítulo, livre como você sempre foi. E justamente nesse recomeço eu digo
que você deve fazer a sua própria lista, com os seus sonhos. Acredito que
um raio não caia duas vezes no meu lugar e que você não passe pelas
coisas que eu passei, venho lutando há anos para que o mundo seja um
lugar melhor também por você. Mas certamente capítulos ruins existirão, e
você precisará enfrenta-los. Essa lista vai servir para que você se lembre de
viver os seus sonhos, se lembre que as adversidades são apenas pedras no
seu caminho que você irá ultrapassar.
Quando você fez a entrevista para Yale, disse que era um fruto de uma
sobrevivência. De fato, eu sobrevivi. Mas você não, meu amor. Você vai
apenas viver.
É difícil te deixar ir embora. Mas eu sei que ainda vou ouvir falar de você
em todos os lugares que for. Sei que as pessoas às vezes deixarão de falar
comigo como a pessoa que sou e passarão a se referir como sua mãe. Essa
é a melhor parte de mim. Foi o último desejo e o melhor realizado. E eu
sempre me orgulharei disso.
Espero que a sua vida seja tão intensa, louca e desbravadora quanto você
sonha que seja. Que você encontre um amor tão intenso quanto o que eu
encontreie, se já tiver encontrado, que ele te ajude a riscar cada item da
sua lista e você faça o mesmo com ele.
E sempre que quiser voltar pra cá, volte. Um pássaro sempre pode voar de
volta para casa no inverno. O meu abraço sempre estará aberto para você.
Eu prometi quando você ainda cabia no meu colo e sempre irei cumprir: eu
sempre irei te proteger, mesmo que você não seja mais aquela dócil
menininha... porque agora você cresceu e se tornou uma mulher incrível. A
mulher que eu fiz crescer.
Eu amo você com toda a força do meu coração e me orgulho da pessoa que
você se tornou.
De sua mãe,
Anahí."
Mais e mais lágrimas. Ah, é sempre bom assistir a cena final após os
créditos, não é mesmo...?
Ela não sabia qual seria o primeiro, o quinto ou o nono item de sua lista,
mas o último ela tinha certeza: Missy queria ser uma mulher tão forte,
independente e inspiradora quanto sua mãe.
Mas até lá, muita coisa aconteceria. Até lá... Missy iria viver.
"A vida é cheia de cor. E cada um de nós chega e acrescenta a sua própria
cor no quadro. E embora o quadro não seja muito grande, você tem que
perceber que ele continua para sempre, em todas as direções"
This is Us
Fim.
Agradecimentos
Mais um fim... esse, o mais longo de todos. Mais parecia, pra mim, que a
SVE não acabaria nunca, mas aqui estamos, treze anos depois da primeira
fanfic. No fim daquela que eu pensei que seria a última, antes da minha
mente dizer "haha" (com a genuína torcida de todas vocês – sabemos!).
A SVE foi um desafio pra mim e eu tenho um carinho imenso por essa
história. Primeiro, foi a primeira fanfic que eu escrevi trabalhando, sem
todo aquele tempo e inspiração pra me dedicar à história e aos comentários
de vocês. Segundo e mais importante, a história dela era completamente
desafiadora e diferente de tudo o que eu já havia escrito antes, e isso me
deixou completamente inquieta porque eu sabia que seria um divisor de
águas pra mim.
Sei que foi muito difícil pra vocês ler tudo o que ela sofreu, descobrir junto
com ela as coisas que ela tinha perdido: os amigos que se afastaram, o pai
que surgiu na sua ausência, o Poncho ter se casado, o filho que ela perdeu e
depois, a filha que foi separada dela. Mais difícil ainda quando, de uma
maneira diferente, a Sophia também vive a mesma coisa. A forma como
vocês se sentiram impotentes e raivosas diante disso tudo é a maneira como
eu me sinto todos os dias quando leio notícias de violência doméstica, de
feminicídio, quando vemos o quanto nós mulheres somos diminuídas,
forçadas e violadas de várias maneiras. Por isso a minha mensagem com
essa fanfic é: se a mudança não começar individualmente com cada uma de
nós, ela não existirá.
Por isso esse epílogo começa com uma cena que só se encaixa quase no
fim: a Lexie vê a paciente na maca e pensa de maneira desanimada que
aquilo sempre vai acontecer, mas a Anahí dá a mensagem deixando claro
que talvez aconteça, mas ela estará lá para lutar para que seja diferente. E eu
to aqui, fazendo a mesma coisa, conscientizando vocês da importância de
liderarmos um mundo diferente, menos patriarcal, com mais sororidade.
Depende única e exclusivamente de nós.
Depois de um ano e seis meses, posso dizer que estou muito satisfeita com
esse resultado final. Eu acho que consegui alcançar a mensagem exata que
queria passar e isso ficou evidente em cada comentário que eu recebi, em
cada mensagem que uma leitora dizia o quanto a história a havia tocado.
Cada comentariozinho desses – que em 70% das vezes eu infelizmente não
tive como responder – ta guardado no fundo do meu coração. Eu sou
profundamente grata a todas as vezes que vocês se deixaram abrir pra que a
mensagem que eu queria passar pudesse entrar. Obrigada mesmo!
Obrigada a quem deu uma chance pra Diana, que era uma personagem que
eu sempre soube que seria muito detestada pelo simples fato de ser a
terceira nisso que vocês conhecem como "triângulo amoroso", mas que teve
uma aceitação muito maior e mais expressiva que eu pensei. Obrigada
também a quem confiou em mim quando eu disse pra não odiar a Maite,
porque embora vocês amem a da trilogia ENE e a da IC, pra mim essa
Maite é a melhor de todas. E obrigada a quem se entregou a todas as minhas
personagens femininas, porque aqui, além delas duas e da Anahí, tivemos
uma Sophia guerreira, uma Lexie inspiradora (deixando o Jackson no altar
como ele me-re-ceu! Você quer Shonda?), além da Erendira, da Karen, da
Ellie, da Evelyn (a melhor sogra rs) – além das fantásticas Caitriona,
Marina e Joy, tão importantes na reconstrução da Anahí... e das minhas
bebês Missy e Sam, nossos xodozinhos.
Terceiro, às leitoras que tive a oportunidade de conhecer nessa fic: Jess, que
ama escrever textões, Amanda, Julia, Mayara, Bia, Maria, Duda Souza, Jú
Moreira, Bia Cunha, Marianinha, PBia, Thais, Sarah e Rebecca, eu amei
tê-las aqui comigo e espero que vê-las novamente na próxima.
Desde já informo: teremos uma fanfic futura. Mas a Amor para recomeçar
só vai ser postada quando estiver escrita. Até lá, vamos viver! Vou sentir
saudades, mas eu volto.
Em tempo, não me peçam especial dessa fanfic! Se tiver que acontecer,
acontecerá; minha mente tem vontade própria (nem eu mando nela).
Rafaela Santos