Mosteiro Zen Morro da Vargem
O Mosteiro Zen Morro da Vargem é o primeiro mosteiro zen-budista da América Latina, localizado em Ibiraçu, Espírito Santo.[1] Fundado em 1974 pelo monge Ryotan Tokuda e um grupo de convertidos, o mosteiro, localizado a 350 metros de altitude, tem como trabalhos a formação de monges segundo as tradições orientais, a realização de práticas budistas leigas, a fomentação artística-cultural e a educação ambiental. Ele segue a escola secular Soto Zen.[1]
O mosteiro é o maior da América Latina, além do mosteiro, existe uma praça de mesmo nome, e em sua entrada está a estátua do Grande Buda de Ibiraçu.[2] Tem uma área de 150 hectares sendo assim 140 para preservação e o reflorestamento da Mata Atlântica.[1]
História
[editar | editar código-fonte]Ryotan Tokuda popularizou o zen entre brasileiros sem descendência asiática, iniciando seu trabalho no Templo Busshinji em 1968 após ter sido enviado como missionário pela Sōtō Zenshū.[3][4] Na década de 1970, porém, deixou o Busshinji, insatisfeito com o conservadorismo da maioria dos templos, mas continuou no Brasil estabelecendo grupos e ordenando seguidores;[5] em 1974, com um grupo de jovens e assentimento de Ryohan Shingu, fundou como sua primeira instituição independente o Mosteiro Morro da Vargem, com a função de ser um centro de retiro.[3]
Foi o primeiro mosteiro zen-budista do Brasil, e, sob a liderança de Tokuda, foram implementadas regras de treinamento e trabalho.[6] Um dos integrantes do grupo, Cristiano Daiju Bitti, estudou com formação monástica Soto Zen[3] sob Narazaki Rōshi no Templo Zuiō-ji em Shikoku por cinco anos;[5] ele foi o único dos jovens que voltou após completar o treinamento,[6] retornando em 1983 ao Brasil, quando então substituiu Tokuda como abade do mosteiro,[3] cargo que encabeça até hoje.[7] Em japonês, o centro é também chamado Hakuunzan Zenkoji.[8][9]
Praça Torii
[editar | editar código-fonte]O mosteiro comprou e doou à comunidade um parque de 2 hectares às margens da BR-101, que inclui um jardim de pedras japonês, um lago de carpas, uma capela de Nossa Senhora da Penha, o portal torii de entrada e a colina com as estátuas e monumento de Buda.[10] Na Praça Torii, funciona também ao lado da estátua do Buda Gigante a Escola Oficina de Cerâmica Kanzeon. Cerca de 30 mil pessoas visitam por ano o mosteiro.[11]
Funções
[editar | editar código-fonte]Suas atividades se concentram em torno de 3 eixos.[10] O pilar religioso inclui práticas leigas e monásticas,[12] como a realização de retiros (sesshin), formação de monges e eventos cerimoniais.[10] O mosteiro mantém oitenta e cinco retiros anualmente, com 45 participantes a cada sessão.[4] Ele faz parte como início e fim do roteiro de peregrinação "Caminhos da Sabedoria", criado junto com a Arquidiocese de Colatina.[10]
Desde 1985, o mosteiro realiza trabalhos no eixo educacional-ambiental, que inclui planos de manejo de área e programas educacionais a milhares de crianças do estado por ano.[8][10][12] Em 1992, ele foi instituído como um Polo de Educação Ambiental pela SEAMA. Junto à prática budista, em sua área de 150 hectares foram recuperados 120 hectares de área degradada e 140 hectares são destinados à recuperação e preservação da Mata Atlântica.[12] O mosteiro produz seus próprios vegetais orgânicos e mel, e até a década de 90 seguia uma rígida orientação alimentar nos retiros e divulgava dieta natural.[8]
No eixo cultural-social, o mosteiro também mantém desde 1995 um espaço chamado Estação Cultural, que funciona como uma residência artística, ateliê e galeria,[13] e patrocina artistas que querem se devotar às suas obras longe da cidade.[4] Também possui contato integrado com as populações rurais, realizando eventos culturais de festas folclóricas e feiras artesanais.[10]
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b c «Buda gigante em Ibiraçu será inaugurado em 25 de abril do ano que vem». Folha do Litoral. 16 de outubro de 2020. Consultado em 23 de agosto de 2021
- ↑ «Buda gigante em Ibiraçu, ES, atrai visitantes e impressiona por ser o segundo maior do mundo». G1. 13 de outubro de 2020. Consultado em 23 de agosto de 2021
- ↑ a b c d Usarski, Frank; Shoji, Rafael (24 de agosto de 2017). «Perspectiva sociológica sobre a expansão do Budismo e das religiões japonesas no Brasil». REVER - Revista de Estudos da Religião. 17 (2). 99 páginas. ISSN 1677-1222. doi:10.23925/1677-1222.2017vol17i2a6. Consultado em 17 de dezembro de 2021
- ↑ a b c Rocha, Cristina Moreira da (19 de fevereiro de 2015). «Zen Buddhism in Brazil: Japanese or Brazilian?». Journal of Global Buddhism (1): 31–55. ISSN 1527-6457. doi:10.5281/zenodo.1310700. Consultado em 17 de dezembro de 2021
- ↑ a b Rocha, Cristina (1 de maio de 2008). «All Roads Come from Zen: Busshinji as a Reference to Buddhism». Japanese Journal of Religious Studies. 1 (35). ISSN 0304-1042. doi:10.18874/jjrs.35.1.2008.81-94. Consultado em 17 de dezembro de 2021
- ↑ a b Albuquerque, Eduardo Basto de (18 de dezembro de 2011). «Os intelectuais e o budismo japonês no Brasil / Intellectuals and Japanese Buddhism in Brazil» (PDF). PLURA, Revista de Estudos de Religião / PLURA, Journal for the Study of Religion. 2 (2, Jul-Dez): 4–25. ISSN 2179-0019. Consultado em 17 de dezembro de 2021
- ↑ Usarski, Frank; Shoji, Rafael (2018). «Zen in Latin America». In: Gooren, H. (ed.). Encyclopedia of Latin American Religions. Springer, Cham.
- ↑ a b c Rocha, Cristina (31 de dezembro de 2005). Zen in Brazil: The Quest for Cosmopolitan Modernity (em inglês). [S.l.]: University of Hawaii Press
- ↑ Rocha, Cristina (1 de novembro de 2016). «Buddhism in Latin America». In: Jerryson, Michael. The Oxford Handbook of Contemporary Buddhism (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press
- ↑ a b c d e f Harguindeguy, Eduardo Juan Manuel. (2015). Práticas de atenção plena na educação socioambiental: o Programa Zezinho do Mosteiro Zen do Morro da Vargem, ES. Rio de Janeiro: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
- ↑ Redação Desejo (22 de dezembro de 2020). «Ibiraçu é destaque na produção de peças de cerâmica de alta qualidade». Folha do Litoral. Consultado em 17 de dezembro de 2021
- ↑ a b c «GEA - Mosteiro Zen Morro da Vargem». IEMA - Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Consultado em 17 de dezembro de 2021
- ↑ Taveira, Vitor (12 de fevereiro de 2021). «Residência artística apresenta exposição no Mosteiro Zen». Século Diário