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O artigo discute os serviços ecossistêmicos (SEs) na Amazônia, destacando sua importância e as ameaças que enfrentam devido a ações antrópicas. A pesquisa sobre SEs é crucial para a sustentabilidade e conservação da biodiversidade na região, que é rica em recursos naturais, mas vulnerável a degradação. O texto também aborda os desafios enfrentados na implementação de políticas de pagamento por serviços ambientais (PSAs) e a necessidade de uma abordagem integrada para garantir a preservação dos ecossistemas.

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O artigo discute os serviços ecossistêmicos (SEs) na Amazônia, destacando sua importância e as ameaças que enfrentam devido a ações antrópicas. A pesquisa sobre SEs é crucial para a sustentabilidade e conservação da biodiversidade na região, que é rica em recursos naturais, mas vulnerável a degradação. O texto também aborda os desafios enfrentados na implementação de políticas de pagamento por serviços ambientais (PSAs) e a necessidade de uma abordagem integrada para garantir a preservação dos ecossistemas.

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ISSN 2525-4812 (versão online)

Recebido em: 2/4/2019


Revista Terceira
ISSN 2238-7641 (versão impressa)
http://www.revistaterceiramargem.com/
Aprovado em: 20/1/2020 Margem Amazônia
Período de publicação: jan., 2021
index.php/terceiramargem/index (v. 6 • n. especial 16 • Jan. 2021)

Como citar o artigo:


PRADO, R. B. Serviços ecossistêmicos: estado atual e desafios para a pesquisa na Amazônia. Revista Terceira Margem Ama-
zônia. v. 6, n. especial 16, p. 11-22, 2021. DOI: http://dx.doi.org/10.36882/2525-4812.2021v6i16.ed.esp.p11-22

SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS: ESTADO ATUAL E DESAFIOS PARA A


PESQUISA NA AMAZÔNIA

Rachel Bardy Prado1

Resumo: Os serviços ecossistêmicos (SEs) têm sido compreendidos como os benefícios que o ser humano
obtém dos ecossistemas. Portanto, esses serviços recebem influência direta e indireta das ações antrópicas,
que nas últimas décadas têm exercido forte pressão sobre os ecossistemas, colocando-os sob ameaça de
redução ou extinção. Alguns conceitos, avanços e vantagens da abordagem de SE são apresentados nesta
publicação. O bioma Amazônia é muito abundante em biodiversidade e na prestação de diversos SEs com
reflexos em diferentes escalas, mas também muitas são as ameaças que sofrem, sendo aqui de igual forma
elencadas. Por fim é nesse contexto ambiental e socioeconômico complexo, diverso e sempre muito vi-
sível aos espectadores nacionais e internacionais que se apresentam os grandes desafios da pesquisa com
foco na sustentabilidade e provisão dos serviços ecossistêmicos, sendo apresentados e discutidos ao longo
deste texto.

Palavras-chave: ferramentas para suporte à decisão, PSA, biodiversidade.

ECOSYSTEM SERVICES: CONTEMPORARY STATUS AND CHALLENGES


FOR RESEARCH IN THE AMAZON.

Abstract: Ecosystem services (SEs) have been understood as the benefits that human beings derive from
ecosystems. Therefore, SE are directly and indirectly influenced by anthropic actions, which in the last
decades have exerted strong pressure on them, placing them under threat of reduction or extinction. Some
concepts, advances and advantages of the SEs approach are presented in this publication. The Amazon
biome is very abundant in biodiversity and the provision of several SEs with impacts on different scales,
but also many threats are suffered, and are also listed here. Finally, it is in this complex and diverse envi-
ronmental and socioeconomic context, which is always very visible to national and international viewers,
who present the great challenges of the research focused on the sustainability and provision of ecosystem
services, being presented and discussed throughout the text.

Key words: orgtools for decision support, PES, biodiversity.

1
Bióloga, D. Sc. em Ciências da Engenharia Ambiental, pesquisadora da Embrapa Solos, Rio de Janeiro, RJ.
E-mail: rachel.prado@embrapa.br
https://orcid.org/0000-0002-1893-4915
Serviços ecossistêmicos: estado atual e desafios para a pesquisa na Amazônia

Abordagem de serviços ecossistêmicos

Segundo Hermann et al. (2011), o conceito de serviços ecossistêmicos remonta ao final


dos anos 1960 e 1970. Contudo, a abordagem de SEs veio à tona a partir do Projeto Milênio.
Solicitado pelo secretário-geral das Nações Unidas (ONU) Kofi Annan, em 2000, o projeto foi
conduzido de 2001 a 2005, envolvendo mais de 1.300 cientistas e 95 países. Teve por objetivo
avaliar as consequências que as mudanças nos ecossistemas trazem para o bem-estar humano e as
bases científicas para subsidiar ações necessárias para melhorar a preservação e o uso sustentável
desses ecossistemas (MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT, 2005; KUMAR, 2010).

Algumas variações no conceito de SEs têm sido encontradas na literatura, mas um dos
conceitos mais aceitos e utilizados é o do próprio Projeto Milênio, que os define como os benefí-
cios que o ser humano obtém dos ecossistemas (MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT,
2005). Alguns autores, bem como as políticas públicas, adotam o termo serviços ambientais. Este
foi utilizado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em seu
relatório State of Food and Agriculture (FAO, 2007), como um “subconjunto de serviços ecossis-
têmicos que podem ser gerados como externalidades positivas de atividades humanas”. Segundo
o relatório isso ocorre, por exemplo, quando sistemas de produção agropecuária, além de gerar
alimentos, fibras ou energia, contribuem para a manutenção da qualidade da água e do solo, para
a beleza cênica ou a preservação de espécies. Na presente publicação, ambos os termos, serviços
ecossistêmicos e serviços ambientais, serão utilizados como sinônimos.

De acordo com Andrade e Romeiro (2009), os serviços de suporte são aqueles essenciais
para a produção dos outros serviços ecossistêmicos. Por exemplo: produção primária, formação e
retenção de solo, ciclagem de nutrientes, ciclagem da água e provisão de habitat. Os serviços de
provisão incluem os produtos que os ecossistemas oferecem, tais como alimentos e fibras, madei-
ra, produtos medicinais e farmacêuticos, recursos ornamentais e água. Sua sustentabilidade não
deve ser medida apenas em quantidade, e sim em qualidade e estado. Os serviços de regulação
se relacionam às características regulatórias dos processos ecossistêmicos, regulação climática,
controle de erosão, purificação de água, tratamento de resíduos, regulação de doenças humanas,
polinização e proteção contra desastres. Os serviços culturais incluem a diversidade cultural, na
medida em que a própria diversidade dos ecossistemas influencia a multiplicidade das culturas,
valores religiosos e espirituais, geração de conhecimento (formal e tradicional), valores educa-
cionais e estéticos.

A abordagem dos SEs tem algumas vantagens que podem ser destacadas: trabalho em múl-
tiplas escalas, conexão entre a ciência e a política; ela ressalta, além dos aspectos ambientais, os
sociais e econômicos relacionados ao bem-estar humano, visa promover a multifuncionalidade
dos SEs, prevê compensação financeira ou não aos que atuam em prol dos serviços ecossistêmi-
cos, entre outros aspectos. A partir de então o número de publicações relacionadas ao tema SE
aumentou exponencialmente (Figura 1).

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PRADO, R. B.

Figura 1. Número de artigos indexados por ano na área de serviços ambientais/ecossistêmicos, destacando-se os
hídricos.

Fonte: Lima et al. (2015).

Existem diversas iniciativas globais visando promover pesquisas, desenvolvimento e polí-


ticas públicas voltadas à provisão de serviços ecossistêmicos, com destaque para: The Economics
of Ecosystems and Biodiversity (TEEB), The Natural Capital Project, Intergovernmental
Plataform on Biodiversity & Ecosystem Services (IPBES), Ecosystem Services Partnership
(ESP), Knowledge & Learning Mechanism on Biodiversity & Ecosystem Services (EKLIPSE),
Europe Ecosystem Research Network (Alter-Net) e Water Funds.

No Brasil foram e continuam sendo realizados muitos estudos voltados à preservação da


biodiversidade e à conservação ambiental nos diferentes biomas, devido à riqueza de biodiversi-
dade e recursos naturais do País e aos processos de degradação por diferentes pressões antrópi-
cas. Especificamente em relação ao tema SE, o número de publicações e o interesse também são
crescentes. Mas destaca-se a atuação de gestores públicos, organizações não governamentais e
políticas públicas, como tem sido nos pagamentos por serviços ambientais (PSAs).

Segundo Wunder et al. (2008), PSA é uma transação voluntária na qual um serviço ambien-
tal bem definido ou um uso da terra que possa assegurar esse serviço é comprado por pelo menos
um comprador de no mínimo um provedor sob a condição de que o provedor garanta a provisão
desse serviço. Pagiola et al. (2012) apresentam diversas experiências de PSA no Brasil.

Para assegurar a geração e o provimento contínuo dos serviços ecossistêmicos nas áreas
rurais, independentemente da escala, é preciso incluir nos custos de produção agropecuária os
relacionados às práticas ambientais, necessárias à sustentabilidade do sistema de produção desen-
volvido. Mas, principalmente para pequenos produtores rurais, arcar com os custos relacionados
à preservação ambiental na sua propriedade torna-se inviável, visto que o percentual de lucro das
atividades agropecuárias em sistema familiar de produção é ainda muito baixo. Especialmente
nesses casos os PSAs se justificam (PRADO, 2014).

Revista Terceira Margem Amazônia v. 6 • n. especial 16 • Jan. 2021 13


Serviços ecossistêmicos: estado atual e desafios para a pesquisa na Amazônia

Mas para que esse instrumento de compensação, dentre outros, possa ser efetivo na con-
servação ambiental e provisão de SE é preciso empenho maior de todos os setores da sociedade,
com destaque para o governamental. São importantes a aprovação e implantação de uma política
robusta de pagamento por serviços ambientais no País, maiores investimentos em recursos hu-
manos e financeiros, além de apoio de resultados de pesquisa para suprir as lacunas de diversas
naturezas encontradas até o momento. Neste contexto é preciso reconhecer e fortalecer o papel
do produtor rural ou urbano como agente promotor da conservação. Por fim, o PSA é apenas um
dos instrumentos de incentivo à provisão e manutenção dos SEs. Outros instrumentos e políticas
públicas podem ser mais efetivos ou complementares às ações de um PSA, dependendo do con-
texto local.

Serviços ecossistêmicos na Amazônia: abundância e ameaças

Abundância de serviços ecossistêmicos


O bioma Amazônia ocupa uma área de 4.196.943 km², que corresponde a quase 50% do
território nacional e é constituído principalmente por uma floresta tropical. A Amazônia é com-
posta, no Brasil, pelos territórios do Acre, Amapá, Amazonas, Pará e de Roraima, e por parte do
território do Maranhão, Mato Grosso, de Rondônia e Tocantins.

A região possui 27% de seu território protegido por unidades de conservação (UCs), e as
terras indígenas (TI) na Amazônia Brasileira cobrem uma fração significativa da região, abrigan-
do 173 etnias. Além de fundamentais para a reprodução física e sociocultural dos povos indíge-
nas, as TIs, que do total de área demarcada do País 98% é na Amazônia, são áreas importantes
para a conservação da biodiversidade regional e global. Apesar desses evidentes benefícios pres-
tados pelas TIs para o meio ambiente amazônico, o papel delas para a mitigação da mudança do
clima e equilíbrio climático da região ainda é pouco reconhecido, mas destaca-se que as florestas
sob a guarda dos povos indígenas na Amazônia Brasileira representam um imenso armazém de
carbono (aproximadamente 13 bilhões de toneladas) (CRISOSTOMO et al., 2015). A Figura 2
apresenta as UCs apoiadas pelo Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), TIs e demais
áreas protegidas na Amazônia.

A quantidade de serviços ecossistêmicos gerados nesse bioma é uma das maiores do mun-
do. Fearnside (2008) agrupa os serviços ecossistêmicos da Amazônia em: biodiversidade, água e
mitigação do aquecimento global.

Em termos de biodiversidade, alguns grupos de organismos – como aves, peixes de água


doce, borboletas e primatas – são extremamente diversos na Amazônia. Nenhum outro domínio
no mundo apresenta tantas espécies desses grupos. A riqueza biológica da Amazônia é tão grande
que incorpora, total ou parcialmente, elementos de 49 das 200 ecorregiões mundiais. A magnitu-
de da diversidade da Amazônia é imensa, sendo a região constituída por mais de 600 diferentes
tipos de habitats terrestres e de água doce. Com toda essa diversidade de ambientes e extensão, a
Amazônia ainda é uma fronteira do conhecimento, com espécies novas sendo descobertas a cada
ano. Entre 1999 e 2009, por exemplo, mais de 1.200 espécies foram descobertas por cientistas
na região. Entre elas estão 639 plantas, 257 peixes, 216 anfíbios, 55 répteis, 39 mamíferos e 16

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PRADO, R. B.

aves (BRASIL, 2010). Cerca de 10% de toda a diversidade do planeta encontra-se na região, in-
clusive muitas espécies ameaçadas de extinção e também espécies que ocorrem exclusivamente
na Amazônia.

Figura 2. Unidades de conservação apoiadas pelo Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), terras indíge-
nas (TIs) e demais áreas protegidas na Amazônia.

Fonte: Brasil (2012).

Um inventário realizado por Brasil (2012) em 39 das 62 UCs apoiadas pelo Arpa identifi-
cou elevado número de espécies encontradas (Figura 3).

Figura 3. Número de espécies encontradas em 39 unidades de conservação (UCs) da Amazônia.

Fonte: Brasil (2012).

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Serviços ecossistêmicos: estado atual e desafios para a pesquisa na Amazônia

A biodiversidade da Amazônia ainda é muito pouco conhecida pelo homem. Descobrir, es-
tudar e proteger esse patrimônio natural, que pode conter inúmeros benefícios para a sociedade,
é uma missão fundamental e de interesse ambiental, social e econômico. O estado do Amazonas
detém 92,84% de sua cobertura florestal preservada.

Em relação à água, a Bacia Amazônica é a maior bacia hidrográfica do Brasil e do mundo,


abrangendo uma área de 7 milhões de km², compreendendo terras de vários países da América
do Sul (Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana, Bolívia e Brasil). O rio principal da bacia,
o Amazonas, é o maior do mundo, nascendo na Cordilheira dos Andes (Peru), e quando entra no
Brasil é intitulado de Rio Solimões. A confluência do Rio Solimões com o Rio Negro constitui
o Rio Amazonas. Dentro da bacia em questão é identificado um enorme potencial para geração
de energia elétrica, uma vez que muitos afluentes do Rio Amazonas possuem características que
se adéquam às condições básicas para a construção de usinas hidrelétricas. Outra potencialidade
encontrada na Bacia Amazônica é a viabilidade para o transporte fluvial, tendo em vista que a
topografia é plana e a maioria dos rios são caudalosos, sendo o principal meio de deslocamento e
de comunicação da região Norte do Brasil.

Ameaças aos serviços ecossistêmicos


Apesar da imensa biodiversidade do bioma Amazônia, estima-se a perda de ambientes na-
turais entre 15% e 18% (FERREIRA et al., 2012). Somada às perdas na biodiversidade, pode-se
mencionar a degradação das terras e da água como consequência de diversas pressões antrópicas
e mudanças climáticas, com reflexos diretos e indiretos na provisão dos SEs.

O Instituto Socioambiental (ISA) (2015) realizou estudo mapeando e classificando as


principais pressões e ameaças às UCs na Amazônia Brasileira. Dentre elas destacam-se as mi-
neradoras, hidrelétricas, ferrovias/rodovias e os empreendimentos relacionados à exploração
de petróleo e gás. Além do monitoramento do desmatamento da Amazônia pelo Programa de
Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes), o Instituto do Homem e Meio Ambiente da
Amazônia (Imazon) detectou que a perda da floresta dentro de UCs, em relação ao desmate total
da Amazônia Legal, dobrou entre 2012 e 2015, passando de 6% para 12%. Ferreira et al. (2005)
apresentam a importância das áreas protegidas para a conservação da biodiversidade. O desma-
tamento tem ocorrido principalmente pela dinâmica de uso da terra em função da ampliação das
fronteiras agropecuárias, além da exploração madeireira. Barlow et al. (2016) discorrem sobre os
impactos antropogênicos nas florestas tropicais sobre a perda de biodiversidade.

Especificamente no estado do Amazonas, segundo IBGE (2017), a agropecuária cresceu


21% nos últimos anos. Para Carrero et al. (2015), o rebanho bovino nesse estado cresceu 73%
entre 1990 e 2012, índice superior à média nacional, que foi de 24% no mesmo período. Segundo
o Tribunal de Contas da União (TCU) (2015), mais de 90% dos estabelecimentos rurais são
familiares, com sérios problemas de regularização fundiária, e mais de 80% dos alimentos con-
sumidos no Amazonas vêm de outros estados. Também se destaca o Índice de Desenvolvimento
Humano Municipal (IDHM), que na região amazônica, em 2010, predominavam as classes: bai-
xo e muito baixo (Figura 4). Esses dados reforçam a fragilidade dos sistemas socioecológicos da
região amazônica com reflexos negativos nos serviços ecossistêmicos.

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PRADO, R. B.

Figura 4. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) em 2010 da Amazônia.

Fonte: Coordenação-Geral de Estudos Econômicos e Coordenação de Empresas


(Cogec), usando Software IpeaGeo 2.0.0.

As águas da Bacia Amazônica historicamente têm sofrido com os impactos negativos da


construção de grandes usinas hidrelétricas (JUNK; MELLO, 1990), dos esgotos sanitários das
grandes cidades, bem como com a sedimentação dos rios por processos erosivos advindos do
desmatamento e uso inadequado do solo na agropecuária.

Como as mudanças climáticas estão associadas à emissão de gases de efeito estufa (GEE)
e às mudanças de uso e cobertura da terra (Figura 5), o que está bastante presente na Amazônia
por causa do desmatamento e expansão da agropecuária, essa região tem sentido os seus impac-
tos, como, por exemplo, no seu regime hídrico. Sorribas et al. (2016) mencionam que eventos
hidrológicos ocorridos nas últimas décadas, como as enchentes em 2009, 2012 e 2014 e as secas
em 2005 e 2010, impactaram a região, alertando cientistas, governos e o público em geral sobre
os impactos na variabilidade climática.

Figura 5. Emissões brutas de GEE no Brasil de 1990-2016 (tCO2e-GWP AR5).

Fonte: Observatório do Clima (2019).

Revista Terceira Margem Amazônia v. 6 • n. especial 16 • Jan. 2021 17


Serviços ecossistêmicos: estado atual e desafios para a pesquisa na Amazônia

As condições limnológicas e ecológicas em lagos de várzeas e zonas úmidas estão intima-


mente associadas à dinâmica de inundação. Os rios da Amazônia e as áreas alagadas produzem
grandes quantidades de CO2 e metano, que são significativos no ciclo de carbono regional. Além
disso, a dinâmica de inundação influencia a estrutura da vegetação, o transporte de sedimentos,
a distribuição de peixes e o rendimento pesqueiro. Mudanças futuras no clima e na hidrologia
provavelmente alterarão a inundação da planície aluvial e as condições ecológicas desses ecos-
sistemas (SORRIBAS et al., 2016).

Serviços ecossistêmicos: desafios para a pesquisa na Amazônia

Estudo realizado pelo Tribunal de Contas da União (2015) identificou alguns desafios lo-
cais para o desenvolvimento do estado do Amazonas, sendo eles: implementar a concepção de
desenvolvimento sustentável e redução do desmatamento; reduzir as desigualdades sociais, visto
que parcela significativa da população do estado vive em condições insalubres e abaixo da linha
da pobreza; aumentar a contribuição do Amazonas para a formação do Produto Interno Bruto do
Brasil, pois não alcançava 2%; e compatibilizar o desenvolvimento econômico, social e ambien-
tal. Esses desafios são imensos e seguramente são comuns para todos os estados da Amazônia,
com resultados de pesquisa que poderão contribuir muito para sua superação.

Pela própria dimensão da Amazônia já são esperadas maiores dificuldades que em outros
biomas para o desenvolvimento da pesquisa voltada à avaliação, valoração e provisão de SE, pois
as distâncias são muito grandes, as florestas e os rios são abundantes e os povos se encontram
dispersos, implicando também maiores custos de logística. Desta forma, os recursos financeiros e
humanos destinados à pesquisa na Amazônia precisam ser assegurados e ter continuidade. Outros
desafios mais inerentes à pesquisa são listados na sequência.

Muitos dados e informações têm sido gerados na Amazônia ao longo dos últimos tempos,
com atuação de instituições nacionais e internacionais, que têm investido recursos humanos e fi-
nanceiros para o conhecimento e a quantificação dos recursos naturais nela presentes, bem como
para dimensionar as ameaças que ela sofre e suas potencialidades, com destaque para o Instituto
de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Contudo, um desafio é conectar e integrar diferentes grupos de pesquisa, bases de dados e


infraestrutura para que realmente possam servir de suporte à tomada de decisão em prol da sus-
tentabilidade e provisão de SE. Projetos integradores e redes de pesquisa têm muito a contribuir
nesse sentido, gerando ferramentas para a seleção de áreas prioritárias à conservação, organização
e disponibilização de bases de dados sobre a biodiversidade e práticas de manejo adequadas da
terra, bem como sobre o monitoramento dos SEs em ambientes naturais e antropizados. Também
são importantes a geração e validação de tecnologias sociais que permitam melhorar a qualidade
de vida das comunidades que vivem dos produtos da floresta e da agricultura, permitindo a re-
dução das pressões sobre os SEs. Nesse contexto é necessário estabelecer parcerias entre órgãos
do governo, de fomento, bancos, associações de produtores, assistência técnica, universidades,
institutos de pesquisa e iniciativa privada.

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PRADO, R. B.

De modo geral, os equipamentos para coleta e métodos de análise dos dados relacionados
aos SEs possuem custo bastante elevado. Em grandes programas, projetos e iniciativas voltados
à conservação, desenvolvidos em grandes áreas, é preciso avançar com o desenvolvimento e a
utilização de métodos simplificados e de baixo custo, abrangendo inclusive os atores locais e a
população envolvida, para que possam se apropriar e participar de avaliações e monitoramento
dos SEs. Desta forma, aumenta-se a percepção dos envolvidos e afetados sobre a importância do
manejo adequado das terras e da manutenção dos SEs e permite-se continuidade do monitora-
mento, visto que os projetos são de curta duração.

O termo “multifuncionalidade da agropecuária” tem sido utilizado com vários significa-


dos no debate sobre políticas agropecuárias, dependendo do país e do contexto em que surgiu
(ORGANISATION FOR ECONOMIC COOPERATION AND DEVELOPMENT, 2001). No
Brasil, o uso dessa abordagem ainda é limitado, mas tem ganhado força quando se demons-
tra o potencial da agropecuária em prover SE, além da sua função primária de produtora de
alimentos, fibra e energia. Esse conceito se traduz numa abordagem de provisão de SE pelos
agroecossistemas.

Ferreira et al. (2012) destacam que a avaliação e o manejo dos SEs em paisagens rurais
com a presença da agropecuária aparecem no topo das prioridades por diversas razões. Primeiro
que áreas agropecuárias estão entre os ambientes mais extensos da superfície terrestre; segundo
que o aumento da produção de alimentos e fibras tem sido alcançado a custo da degradação de
outros SEs.

A prestação de SE pelos ambientes naturais é fundamental para a produção agropecuária


e está altamente correlacionada à estrutura da paisagem em que a agropecuária esteja embutida.
Paisagens diversificadas, isto é, onde o componente arbóreo esteja presente nas APPs, em reserva
legal e as culturas sejam diversificadas e estejam sob manejo adequado do solo e da água, como,
por exemplo, os sistemas agroecológicos, agroflorestais e de integração lavoura-pecuária-flores-
ta, tendem a apresentar maior multifuncionalidade em relação aos SEs. São, portanto, capazes
de se manter em equilíbrio para a regulação do clima, das enchentes, da erosão, da ciclagem de
nutrientes, da água, permitindo a polinização, a permeabilidade da fauna e a provisão de alimen-
tos mais saudáveis a partir da redução da utilização de insumos. Outro aspecto positivo é que são
capazes de atrair a atenção do turismo e agregar valor aos produtos delas advindos.

Desta forma, é um desafio importante a se considerar o desenvolvimento de pesquisas


capazes de avaliar e valorar os benefícios da multifuncionalidade da paisagem, visando atrair a
atenção de investidores e governos para esse tipo de prática. Quando se pretende compreender o
grau de harmonia e interação entre os SEs de uma região, uma tendência internacional é analisar
os conflitos (trade-offs) e sinergias entre eles. Há diversos métodos disponíveis na literatura, tais
como Power (2010) e Turkelboom et al. (2016).

Outro grande desafio à pesquisa visando à provisão de SE é gerar subsídios à certificação


da produção sustentável e agregação de renda aos sistemas produtivos que fazem uso susten-
tável da biodiversidade. Isso significa gerar indicadores e métodos capazes de medir o impacto
desses sistemas de produção nos SEs e benefícios às comunidades envolvidas. Essas ferramentas
poderão certificar a produção sustentável visando à abertura de novos mercados e possibilitando

Revista Terceira Margem Amazônia v. 6 • n. especial 16 • Jan. 2021 19


Serviços ecossistêmicos: estado atual e desafios para a pesquisa na Amazônia

novas oportunidades às comunidades tradicionais e marginalizadas da Amazônia, promovendo a


sua inclusão no mercado e fazendo a ponte entre o rural e o urbano.

Por fim, é preciso que os pesquisadores gerem material, publicações e outras formas de
disseminar o conhecimento em linguagem acessível, visando ao apoio às políticas públicas. O
conhecimento gerado na academia precisa atingir a sociedade e ser apropriado por ela, gerando
soluções práticas aos grandes problemas agroambientais que afligem a região amazônica.

Considerações Finais

• Os conceitos relacionados à abordagem de serviços ecossistêmicos estão bem defini-


dos, e muitas são as ferramentas e métodos que podem ser utilizados, mas é preciso
internalizá-los e colocá-los em prática.

• Os mecanismos de PSA devem continuar sendo desenvolvidos, ampliados e aperfei-


çoados com o apoio de ferramentas de pesquisa, mas sobretudo por meio de políticas
públicas efetivas.

• Apesar da abundância de biodiversidade, muitas são as ameaças sobre o bioma Amazônia


no que tange aos serviços ecossistêmicos, destacando-se o avanço do desmatamento, a
ocupação de terras e a construção de hidrelétricas com visão conservacionista limitada,
sem contar os impactos das mudanças climáticas.

• Portanto, muitos são os desafios para a pesquisa em prol dos SEs na Amazônia, poden-
do ser resumidos em: integração de diferentes grupos de pesquisa, bases de dados e
infraestrutura; desenvolvimento e utilização de métodos simplificados e de baixo custo;
avaliação e valoração dos benefícios da multifuncionalidade da paisagem; geração de
subsídios à certificação da produção sustentável e agregação de renda aos sistemas
produtivos que fazem uso sustentável da biodiversidade, com maior inclusão dos povos
tradicionais e marginalizados.

Referências

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