LC eBook Capitulo Gratis
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Prefácio ix
1 Introdução 1
1.1 Ideias e procedimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Como usar esse livro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Pré-requisitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
3 Limites 43
3.1 Intuição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.1.1 Por que criar uma nova operação? . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.1.2 Estimando limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.2 Limites laterais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.3 Limites infinitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.3.1 Quando a função tende a infinito . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.3.2 Quando x tende a infinito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3.4 Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
3.4.1 Teorema de Bolzano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
3.4.2 Teorema do Valor Intermediário . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
v
Sumário
vi
Sumário
6 Integrais 193
6.1 Ideia Básica do Cálculo Integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194
6.2 Teorema Fundamental do Cálculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205
6.3 Integrais Indefinidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219
6.4 Ferramentas Básicas para Cálculo de Integrais . . . . . . . . . . . . . . 221
6.4.1 Integrais Elementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221
6.4.2 Propriedades Básicas da Integração . . . . . . . . . . . . . . . . 223
6.5 Modelagem de Integrais – Uma Introdução . . . . . . . . . . . . . . . 229
6.5.1 Notação de Leibniz na Integração . . . . . . . . . . . . . . . . . 230
6.6 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237
6.7 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 238
6.8 Resoluções dos Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 240
vii
Sumário
viii
Prefácio
Ensinar Matemática é uma arte (não ao acaso que Aritmética e Geometria se en-
quadravam dentre as Sete Artes Liberais da Antiguidade Clássica). Ao longo de minha
carreira, percebi que existem inúmeros “professores” de Matemática, mas pouquíssi-
mos são os que realmente a ensinam, isto é, fazem com que seus alunos aprendam
o conteúdo. Dentre esse ínfimo número de bons professores, encontram-se os auto-
res deste livro, posso dizer. Há mais de um ano trabalhando com eles no Universo
Narrado, auxiliando os alunos com suas dúvidas e questionamentos, pude me deparar
com situações praticamente nunca vistas por mim antes. Com efeito, percebi deze-
nas de alunos que iniciaram o curso Lições de Matemática sem terem entendido o
conteúdo visto em seus colégios, porém, ao terminar o referido curso, eles conseguem
demonstrar teoremas com uma certa maestria. (Ouso, inclusive, dizer que você que
lê estas páginas pode ter sido um desses alunos que mencionei!)
Dito isso, foi com muita honra que aceitei o convite de revisar o presente texto.
Para mim, o Cálculo sempre foi uma das disciplinas mais fascinantes da Matemática;
e espero que, também, o seja para você, caro leitor! Ainda me lembro bem do meu
primeiro dia na faculdade de Matemática. Cheguei pensando: “Eu já devo ter visto
todo (ou quase todo) o conteúdo de Matemática. Não deve ter muito a mais do que
aprender, certo?” Eu não poderia estar mais enganado. . . Na minha primeira aula
(Cálculo Diferencial e Integral I, como é chamado este curso na UFMG), percebi que
havia um abismo enorme — beirando o infinito — entre o que eu sabia de Mate-
mática e o que eu ainda precisaria aprender. Por isso, guardo um carinho especial
por esta disciplina: ela é, ao mesmo tempo, intrigante e fascinante. Por uma incrível
coincidência, acabei lecionando disciplinas de Cálculo durante meu mestrado e meu
doutorado.
O trabalho do Felipe Guisoli e do Engenheiro que você, nobre aluno, tem em
mãos, servirá de guia durante sua jornada no curso Lições de Cálculo. Com ele, você
ix
Prefácio
x
Capítulo 1
Introdução
1
Capítulo 1. Introdução
2
Capítulo 2
7
Capítulo 2. Como surgiram as ideias?
alguém conhece diferentes formas de, digamos, calcular a área de um triângulo, passa
a ser possível calcular a área de praticamente qualquer figura plana.
Isso porque praticamente qualquer objeto plano pode ser dividido e totalmente
recoberto por triângulos, de tal forma que todo conhecimento de áreas de figuras pla-
nas pode, caso se queira, ser reduzido ao cálculo de áreas de triângulos. Até mesmo
figuras curvas, como uma circunferência, podem ser varridas por uma infinidade de
triângulos bem estreitos — algo não tão diferente do que ocorre quando você fatia uma
pizza —, exceto pelo fato de que, nesse caso, a base do nosso “triângulo” parece ser
curva, mas, se os pedaços fossem extremamente finos e a quantidade de fatias, conse-
quentemente, mais numerosa, seria possível dividir a pizza em uma certa quantidade
de pedaços exatamente triangulares, como mostra a última imagem da Figura 2.2.
Pode parecer algo meio estranho, mas os gregos faziam isso lá pelo século V a.C.,
de onde remontam as origens do Cálculo Integral. A ideia toma forma com o astrô-
nomo Eudoxo de Cnido, que calculava áreas de figuras inscrevendo e circunscrevendo-
as em polígonos regulares, de cada vez mais lados, a fim de que sua aproximação fosse
cada vez melhor.
A área da figura, digamos um círculo, como mostra a Figura 2.3, seria algo entre o
polígono inscrito e o circunscrito, uma vez que a figura se situa entre eles. Essa forma
de se calcular — ou pelo menos estimar — áreas de figuras ficou conhecida como
Método da Exaustão, que, como o próprio nome indica, devia ser bem exaustivo.
O método consistia essencialmente em pegar a figura cuja área se deseja calcular e
inscrevê-la em um polígono de muitos lados ao mesmo tempo que ela circunscrevia
um outro polígono de muitos lados. A área da figura em questão ficaria sanduichada
entre os dois polígonos, de modo que seu valor seria sempre algo entre a área do
polígono externo e a do interno.
Quanto maior a quantidade de lados dos polígonos — daí o nome do método
8
2.1. O cálculo de áreas: Cálculo Integral
—, mais eficiente era a aproximação, de modo que alguém poderia, escolhendo arbi-
trariamente um número muito grande de lados, encontrar uma aproximação tão boa
quanto se queira para a área da figura.
ab sin (θ)
AT = .
2
Logo, no nosso triângulo, temos a = b = R, de tal modo que a área fica sendo
9
2.6. Resoluções dos Problemas
33
Capítulo 2. Como surgiram as ideias?
34
Capítulo 3. Limites
Este caso é chamado de limite no infinito. Note que, a rigor, tal notação é um
abuso de linguagem se olharmos atentamente para a Definição 3.2, uma vez que o valor
de f (x) está se aproximando de L, porém, sem que o valor de x esteja se aproximando
de um número específico: ele está ficando arbitrariamente grande, assumindo valores
cada vez maiores. Mais uma vez, veja que é conveniente usar a notação descrita na
Equação (3.3) no sentido de que ela informa qual é o comportamento da função f (x)
quando x assume valores arbitrariamente grandes, ainda que, a rigor, tal expressão
não faça sentido dentro da definição de limite. Com isso, aproveitaremos de tal
conveniência e será comum usarmos tal notação. Em tais casos, diremos que a reta
y = L é assíntota horizontal da função f (x).
O leitor pode notar, na própria Figura 3.5, que as duas primeiras funções de
tal imagem possuem, além das assíntotas verticais anteriormente descritas, assíntotas
horizontais, dadas por y = 0 em ambos os casos. A Figura 3.6 representa e destaca
certas funções e suas assíntotas horizontais.
Exemplo 3.9
56
3.4. Continuidade
tende a 31 , isto é:
5
3x2 + 5 3+ x2 3
lim = lim 2 = = 3.
x→±∞ x2 − 2 x→±∞ 1 − 1
x2
3.4 Continuidade
Vamos agora à definição de função contínua, que só é possível ser feita de forma
precisa por meio dos limites. De modo intuitivo, pode-se pensar que uma função f (x)
é contínua se você pode desenhar o seu gráfico sem tirar a caneta do papel. Isso quer
dizer que a função não dá saltos, transitando de modo suave entre um valor e outro.
Dito isso, apenas com essa intuição e pelo conhecimento do gráfico de algumas
funções clássicas, podemos destacar algumas delas conhecidas pelo leitor que são
contínuas:
57
Capítulo 3. Limites
1. Trigonométricas
2. Exponencial/Logaritmos
Também são contínuas em todo o seu domínio — tente desenhar os seu gráficos
e você verá que consegue fazê-lo sem tirar o lápis do papel.
3. Polinomiais
A Figura 3.7 mostra exemplos de funções que não são contínuas. Perceba que
nesses casos sempre existe ao menos um ponto que exigiria que o leitor tirasse a caneta
do papel para continuar desenhando o gráfico — isso ocorre justamente na hora que
a função dá o salto.
Note que, nesses pontos de descontinuidade, onde a função salta, ocorre uma
divergência entre o comportamento da função em torno de um ponto e o valor da
função em si. Ou seja, se aproximando pela esquerda, a função tende a um certo
valor, mas o valor real da função naquele ponto é outro, e é isso que exige que tiremos
a caneta do papel: uma descontinuidade, uma divergência entre o valor da função
naquele ponto e o valor para o qual a função tende, ou seja, o limite.
Posto isso, podemos usar a noção de limite para definir a continuidade de uma
função. Uma função é contínua quando ela não dá saltos, ou seja, quando o seu
comportamento em torno de um ponto coincide com o valor da função ali.
58
3.4. Continuidade
Note que, pela definição, podem haver alguns motivos que geram descontinuidade
na função:
1. Os limites laterais podem não existir.
Nesse caso, a situação mais comum é quando há uma assíntota vertical, ou seja,
os valores de f (x) tendem a infinito quando x se aproxima de um certo valor.
Dizemos que há uma descontinuidade infinita nessa situação.
2. Os limites laterais podem existir e não coincidir.
Nessa situação, veremos que isso ocasionará saltos na função, por isso é comum
chamarmos essa situação de descontinuidade de salto ou pulo de descontinui-
dade.
3. Os limites laterais podem existir, coincidir, porém a função pode não
estar definida naquele ponto, ou assumir um valor diferente daquele
assumido pelo limite.
Nesse caso, o aspecto será como se tivéssemos apenas removido um ponto do
gráfico padrão da função, por isso dizemos que trata-se de uma descontinuidade
removível.
59
Capítulo 3. Limites
lim f (x) = L.
x→x0
Sendo f (x) uma função definida em algum intervalo que contenha o número x0 ,
exceto possivelmente no próprio x0 , dizemos que
lim f (x) = L
x→x0
Exemplo 3.25
82
3.6. Definição Formal de Limite
Queremos mostrar que existe δ > 0 tal que, se x distar no máximo de δ do número
4 então f (x) distará no máximo de ε do número 13, ou seja:
|2x − 8| < ε
2|x − 4| < ε
ε
|x − 4| < .
2
Escolhendo δ = ε/2, vemos que, para qualquer δ que escolhermos — por menor
que ele seja — o fato de que |x − 4| < δ implica em |f (x) − 13| < ε, como
queríamos demonstrar.
Essa é a forma rigorosa de provar que f (x) pode estar tão próximo quanto quiser-
mos de 13, bastando, para isso, fazer com que x esteja suficientemente próximo
de 4. Esse suficientemente próximo, de forma rigorosa, significa dizer que, para
f (x) distar no máximo de ε de 13, então x deve distar no máximo de δ = ε/2 de
4.
Ou seja, fixando um valor de ε — escolhendo o quão próximo se quer que f (x)
fique de 13 — temos de imediato o valor de δ = ε/2 que nos diz o quão próximo
x deve estar de 4 para que isso aconteça.
É também por meio de tal definição formal de limites que podemos demonstrar
todas as propriedades de limites que listamos na Seção 3.5, como veremos no exemplo
a seguir.
Exemplo 3.26
Mostre que
lim [f (x) + g(x)] = lim f (x) + lim g(x).
x→a x→a x→a
83
Capítulo 3. Limites
isto é, queremos mostrar que, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que
84
3.6. Definição Formal de Limite
Sendo f (x) uma função definida em algum intervalo que contenha o número x0 ,
exceto possivelmente no próprio x0 , dizemos que
lim f (x) = L
x→x+
0
O limite lateral à esquerda pode ser definido de modo análogo. Com essas defi-
nições mais rigorosas a respeito dos limites, é possível fazer diversas demonstrações
de propriedades e teoremas sobre limites.
Exemplo 3.27
Ora, da definição formal de limite para a função f tem-se que, dado ε1 , existe δ1
tal que
0 < |x − c| < δ1 =⇒ |f (x) − L| < ε1 ,
isto é,
L − ε1 < f (x) < L + ε1 se x distar no máximo δ1 de c. (3.16)
O mesmo vale para a função g, isto é, dado ε2 , existe δ2 tal que
0 < |x − c| < δ2 =⇒ |g(x) − L| < ε2 ,
isto é,
L − ε2 < g(x) < L + ε2 se x distar no máximo δ2 de c. (3.17)
Logo, pelas Equações (3.16) e (3.17) e considerando que h(x) está aprisionada
entre f e g, tem-se:
L − ε1 < g(x) ≤ h(x) ≤ f (x) < L + ε2 .
85
4.8. Resoluções dos Problemas
Problema 4.7
Queremos provar que, dadas funções diferenciáveis f, g : [a, b] → R, tem-se:
d d
d f (x) dx (f (x)) · g(x) − f (x) · dx (g(x))
= ,
dx g(x) g(x)2
desde que g(x) ̸= 0.
Para começar, vamos relembrar as equações das derivadas de f e g:
f (x + h) − f (x)
d
(f (x)) = lim
,
dx h→0 h
d (g(x)) = lim g(x + h) − g(x) .
dx h→0 h
Assim, se multiplicarmos a primeira equação por g(x) e a segunda por f (x), e sub-
trairmos os resultados, obteremos:
d d
(f (x)) · g(x) − f (x) · (g(x)) =
dx dx
h (f (x + h) − f (x))g(x) f (x)(g(x + h) − g(x)) i
= lim −
h→0 h h
(f (x + h) − f (x))g(x) − f (x)(g(x + h) − g(x))
= lim
h→0 h
f (x + h)g(x) − − f (x)g(x + h) +
f (x)g(x)
f (x)g(x)
= lim
h→0 h
f (x + h)g(x) − f (x)g(x + h)
= lim
h→0 h
f (x + h)g(x) − f (x)g(x + h)
= lim ,
h→0 h
g(x)
e, como limh→0 g(x+h) = 1,
g(x)2
f (x + h)g(x) − f (x)g(x + h)
= lim · lim
h→0 h h→0 g(x)g(x + h)
f (x+h)g(x)−f (x)g(x+h)
g(x)g(x+h)
= g(x)2 · lim
h→0 h
f (x+h) f (x)
g(x+h) − g(x)
= g(x)2 · lim
h→0 h
2 d f (x)
= g(x) · .
dx g(x)
Portanto, concluímos que:
d d
d f (x) dx (f (x)) · g(x) − f (x) · dx (g(x))
= ,
dx g(x) g(x)2
como queríamos. ■
131
Capítulo 5. Derivadas: Aplicações
Função Logarítmica
Como ln(x) não está definido em x = 0, façamos a expansão em série de Taylor
da função f (x) = ln(x + 1), em torno de x = 0. Os primeiros valores nesse ponto são:
∞
x2 x3 x4 x5 X (−1)n+1 n
ln(x + 1) = x − + − + − ··· = x . (5.7)
2 3 4 5 n=1
n
Funções Trigonométricas
As funções seno e cosseno são razoavelmente simples de serem expandidas em
séries de Taylor, visto que suas derivadas se alternam entre seno e cosseno. Para a
função f (x) = sin(x) temos f ′ (x) = cos(x), f ′′ (x) = − sin(x), f ′′′ (x) = − cos(x) e as
derivadas superiores tornam a se alternar entre esses quatro valores.
168
5.4. Aproximações e Séries de Taylor
∞
x3 x5 x7 x9 x11 X (−1)n 2n+1
sin(x) = x − + − + − + ··· = x . (5.8)
3! 5! 7! 9! 11! n=0
(2n + 1)!
A Equação (5.8) deixa claro a clássica aproximação para ângulos pequenos que
costumamos fazer para o seno, em que sin(x) ≈ x. O que estamos fazendo de fato é
pegar o primeiro termo da série de Taylor da função seno, que é a primeira aproxi-
mação para tal função e pode ser suficientemente boa desde que x ≪ 1, de modo que
os termos de ordem superior sejam muito desprezíveis.
De modo análogo, podemos escrever a série de Taylor para a função f (x) = cos(x)
em torno de x = 0. Neste caso, são os termos de ordem ímpar que se anulam, de
modo que a série é
∞
x2 x4 x6 x8 x10 X (−1)n 2n
cos(x) = 1 − + − + − + ··· = x . (5.9)
2! 4! 6! 8! 10! n=0
(2n)!
A Equação (5.9) também mostra a aproximação que já usamos para o cosseno,
para ângulos pequenos, e que se escreve cos(x) ≈ 1 − x2/2 . Tal aproximação pega o
primeiro termo dependente de x na série de Taylor do cosseno, desprezando os demais,
que de fato vão a zero muito rapidamente quando x ≪ 1.
Um exercício simples mas interessante que ajuda a mostrar como tudo se encaixa
é derivar a Equação (5.8) para obter diretamente a série de Taylor para o cosseno,
expressa na Equação (5.9).
Exemplo 5.11
x2 x3
ex = 1 + x + + + ··· .
2! 3!
Vemos que, quanto mais próximo de zero está x, mais desprezíveis vão se tornando
os termos de maior potência da série. Pegando os três primeiros termos, teríamos
0,12
e0,1 ≈ 1 + 0,1 + = 1,10500.
2!
169
Capítulo 6. Integrais
Observe que o único ponto ainda obscuro no enunciado desse teorema é o fato
de a função f (x) precisar ser contínua no intervalo. Isso não só é intencional, como
também ficará claro nos exemplos subsequentes.
Exemplo 6.4
Naturalmente, essa é uma tarefa fácil, uma vez que sabemos que f (x) é uma
função afim e podemos calcular a área debaixo dela por conhecimentos básicos
de Geometria Plana, sendo a área igual a 48. Nosso objetivo, contudo, é calcular
essa área usando a nova ideia que construímos. O valor encontrado, no entanto,
servirá para conferência, caso o leitor seja do tipo mais desconfiado.
Conforme a ideia que construímos até o presente momento, para calcular a área
debaixo da curva f (x) faz-se necessário encontrar a função A(x), cuja derivada é
f (x). A essa altura o leitor já é um mestre na arte das derivadas, de modo que
deve ser fácil ver que a antiderivada de f (x) é
A(x) = x2 + 6x + C,
você concorda? Observe que colocamos a constante C ∈ R, uma vez que sua
derivada é nula, como discutido anteriormente. Veremos mais adiante que quando
210
6.2. Teorema Fundamental do Cálculo
S = A(5) − A(1).
A(5) = 52 + 6 · 5 + C = 55 + C,
A(1) = 12 + 6 · 1 + C = 7 + C.
S = A(5) − A(1)
= (55 + C) − (7 + C)
= (55 − 7) + (C − C)
= 48.
Exemplo 6.5
(a) Para calcular a área A debaixo da curva f (x), basta encontrarmos uma an-
tiderivada F (x) e avaliá-la nas extremidades do intervalo. Posteriormente, estu-
daremos técnicas para obtermos as antiderivadas de maneira mais rápida. Por
ora, limitemo-nos a fazer o raciocínio inverso da derivada. Dessa maneira, para
a atual função não é difícil ver que a função F (x) será:
1 3
F (x) = x − 2x2 + 3x + C.
3
Uma rápida verificação pode ser feita para ver que F ′ (x) = f (x).
211
Capítulo 6. Integrais
212
6.2. Teorema Fundamental do Cálculo
213
6.2. Teorema Fundamental do Cálculo
fato da função f (x) ser ímpar, a área abaixo do eixo x será sempre igual à área
acima do eixo x. A Figura 6.13 ilustra essa situação.
Disso, concluímos que a integral no intervalo simétrico será nula: a parte acima
do eixo x é anulada pela parte abaixo dele.
Porém, é claro que, para não deixar o leitor chateado, vamos aos cálculos. Pri-
meiramente, dado f (x) = x47 , uma antiderivada F (x) será dada por:
1 48
F (x) = x + C.
48
Avaliando F (x) nos pontos desejados, temos:
1
F (79) = · 7948 + C,
48
1 1
F (−79) = · (−79)48 + C = · 7948 + C = F (79).
48 48
Assim,
Z 79
x47 dx = F (79) − F (−79)
−79
= F (79) − F (79)
= 0.
Exemplo 6.8
Z 1
1
Faça o esboço da situação e calcule dx.
−1 x2
O leitor deve conhecer o gráfico da função f (x) = 1/x. Trata-se de uma hipérbole
217
Capítulo 6. Integrais
230
8.3. Volume
constante. O leitor pode argumentar que, também, sabe calcular a área de pirâmides
e cones, sólidos nos quais a área não é constante ao longo de suas alturas e isso é real-
mente verdade. Entretanto, ainda assim, continuamos limitados, uma vez que nesses
sólidos a área da seção transversal varia linearmente com a altura, o que ainda nos
confere uma limitação significativa. Então, a pergunta que deve surgir imediatamente
é:
Pois bem, é exatamente esse o problema que será tratado nesta seção e, ao final
dela, estaremos aptos a calcular o volume de qualquer um desses sólidos.
Considere, então, o sólido genérico representado na Figura 8.7(a), cuja área A(x)
da seção transversal na direção x seja conhecida no intervalo [a, b], conforme a Fi-
gura 8.7(b).
317
Capítulo 8. Integrais: Aplicações
A resposta para essa pergunta é bastante simples: vamos dividir esse problema em
probleminhas menores, cuja solução nós conhecemos. Isso pode ser feito subdividindo
o sólido em sólidos menores de seções constantes, ou seja, em pequenos “prismas”,
conforme representado na Figura 8.8.
De forma análoga, ao subdividir esse sólido em cinco partes, o volume seria aproxi-
mado por:
318
8.3. Volume
Por outro lado, pensando de uma maneira puramente geométrica, podemos mo-
delar esse problema como segue. O volume V do sólido é a soma dos volumes infini-
tesimais dV , ou seja, Z
V = dV. (8.4)
Sólidos de Revolução
O caso mais interessante e que na prática nos será mais útil é quando desejamos
calcular o volume do sólido gerado pela rotação da região em torno de um eixo. Para
tal, considere a situação na qual deseja-se calcular o volume do sólido gerado pela
rotação da região abaixo da curva da função f (x) em torno do eixo x no intervalo
[a, b], conforme a Figura 8.10. A área A(x) da seção transversal em um ponto x
319
Capítulo 8. Integrais: Aplicações
2
A(x) = π [f (x)] .
Assim, aplicando esse resultado na Equação (8.3), temos que o volume do sólido será:
Z b
2
V =π [f (x)] dx. (8.6)
a
Seja y = f (x) uma função contínua em [a, b]. O volume V do sólido de revo-
lução gerado pela rotação da região abaixo dessa curva em torno do eixo x no
intervalo [a, b] é dado por:
Z b
2
V =π [f (x)] dx.
a
Dois casos particularmente interessantes são abordados nos Problemas 8.9 e 8.10,
nos quais são demonstradas as fórmulas do volume da esfera e do cone.
Exemplo 8.4
320
8.3. Volume
π
V = .
5
Exemplo 8.5
A Figura 8.12 ilustra essa situação. Para a rotação em torno do eixo y, precisamos
adaptar a formulação desenvolvida. Para isso, reescrevemos a função em termos
de y, ou seja,
√
y = f (x) = x2 ⇒ x = g(y) = y.
Assim, adaptando a formulação, o volume pode ser escrito como:
Z b
V =π [g(y)]2 dy.
a
321
Capítulo 8. Integrais: Aplicações
Exemplo 8.6
Figura 8.13: Rotação da região entre as curvas f (x) e g(x) em torno do eixo x.
322
8.3. Volume
Esse problema pode ser resolvido pensando de duas maneiras que, ao fim, serão
equivalentes:
• Calcular os volumes dos sólidos gerados pelas rotações de cada curva indi-
vidualmente e subtraí-los.
323
Capítulo 8. Integrais: Aplicações
Isso é exatamente o que foi pedido no Exercício 8.37 e essa situação está ilustrada
na Figura 8.15. Observe que, ao longo do comprimento do sólido, a seção transversal é
circular com raio r = sin(x) e, portanto, área A(x) = πr2 = π sin2 (x). Esse é o ponto
principal: a função área A(x) do elemento infinitesimal é imediata. Assim, o
324
8.5. Aplicações Gerais
Abstraindo agora para o caso em que essa velocidade pudesse ser monitorada
continuamente, ou seja, efetuando um número infinito de medições (n → ∞), como
já é de praxe, o somatório da Equação (8.20) se transformaria em uma integral, como
segue:
Xn Z tf
lim vi · ∆ti = v(t) dt,
n→∞ ti
i=1
e, dessa maneira, a Equação (8.20) poderia ser reescrita de maneira que a velocidade
média vm seria dada por:
Z tf
v(t) dt
vm = ti .
tf − ti
Observe que essa equação corrobora com o que havíamos argumentado desde o
início, uma vez que o numerador nada mais é do que a distância total percorrida. O
importante aqui é que tal distância foi computada, como a própria integral indica,
apenas por meio de medidas da velocidade v(t) do carro e de intervalos de tempo dt,
que eram as ferramentas que tínhamos: um velocímetro e um relógio.
347
Capítulo 8. Integrais: Aplicações
Graficamente, o TVM para integrais diz que x = c é o valor tal que f (c) é a
altura do retângulo de base (b − a) que possui a mesma área que a região abaixo da
função f (x) no intervalo [a, b]. A Figura 8.35 ilustra essa situação.
Demonstração
Um ponto interessante é perceber que essa versão é uma consequência direta do
TVM para derivadas juntamente com o TFC. Partindo da Equação (5.2.2), substi-
tuindo pela função g(x), sabemos que existe um valor c ∈ (a, b) tal que:
g(b) − g(a)
g ′ (c) = . (8.22)
b−a
Seja agora f (x) a derivada de g(x), ou seja, g(x) é uma antiderivada de f (x):
348
Apêndice A
Número de Euler
Esse apêndice será melhor aproveitado após o estudo completo da teoria proposta
no livro. Busca-se aqui explorar a importância e o significado do número e, persona-
gem que protagonizou importantes façanhas ao longo de toda a construção da nossa
teoria.
O leitor certamente já se convenceu que tal número é bastante especial, posto
que ele compõe a única função, f (x) = ex , cuja derivada — e, consequentemente, cuja
integral — é igual a si mesma. Porém, o que faz esse número ser tão especial e por
que exatamente ele, e não algum outro, ocupa espaço tão central na Matemática?
393
Apêndice A. Número de Euler
O ganho já ficou um pouco maior — e sem investir mais. É o efeito dos juros compostos
no tempo.
Digamos agora que o banqueiro resolveu dividir o ano em quatro trimestres,
quebrando os juros de 100% em quatro taxas iguais de 25% que são pagas a cada três
meses sobre o saldo anterior. Assim, após o fim do ano, o capital total seria:
1 4
C = 1+ = 2,4414.
4
Caso ele resolvesse pagar juros mensais, teríamos um rendimento mensal de
100%/12 incidindo a cada mês sobre o saldo anterior. Ao fim do ano, teríamos
1 12
C = 1+ = 2,6130.
12
Caso os juros fossem semanais, igualmente distribuídos ao longo das 52 semanas
do ano, ao fim do ano teríamos
1 52
C = 1+ = 2,6926.
52
E, caso os juros fossem diários, ao fim do ano o capital seria
1 365
C = 1+ = 2,7146.
365
Em um contexto ainda mais absurdo em que os juros fossem pagos por hora,
sendo 24 horas em cada dia, teríamos 24 · 365 = 8.760 pagamentos de juros, em
valores iguais, incidindo sobre o saldo anterior. No fim do ano, o capital final seria
1 8.760
C = 1+ = 2,7181.
8.760
A cada subdivisão do tempo, ganhamos mais retorno. Porém, esse crescimento
vai diminuindo em ritmo: cada incremento é menor que o anterior. Aproximamo-nos
de um limite invisível, um teto de crescimento que não pode ser superado, apenas
assintoticamente alcançado — é o limite da autossustentação exponencial.
E se, em vez de pagar juros a cada hora, pagássemos a cada minuto? A cada
segundo? A cada batida do tempo? Se abandonássemos de vez o calendário e permi-
tíssemos que os juros fluíssem como um rio, sem intervalos?
É neste exato ponto que entra a definição mais célebre do número e:
1 n
e = lim 1 + . (A.1)
n→∞ n
A expressão acima é exatamente a definição que usamos para o número de Euler na
Equação (3.1).
Esse é o número que responde à pergunta: Qual é o valor máximo que 1 real pode
se tornar, com 100% de juros compostos pagos continuamente ao longo de um ano?
A resposta é:
C = e ≈ 2,718281828 . . . .
394
Equivalência entre definições
Existem algumas formas de se definir o número de Euler, a mais clássica delas
sendo a que foi feita acima. Contudo, fazendo x = 1 na Equação (5.6), vemos que
uma forma de definir e pode ser através da expressão:
∞
X 1
e= . (A.2)
n=0
n!
Prova
Usando o Teorema Binomial, isto é,
n
n
X n
(x + y) = xn−k y k ,
k
k=0
Note que, tomando o limite em que n → ∞, cada fator dentro do parênteses à direita
tende a 1, de modo que concluímos:
n
1 n X 1
lim 1+ = ,
n→∞ n k!
k=0
395
Apêndice A. Número de Euler
Tal limite, como já é evidente para o leitor, trata-se da derivada da função ex-
ponencial f (x) = ax em x = 0. Logo, o número e é a base da função exponencial que
possui derivada unitária ao cortar o eixo vertical, conforme discutimos no Capítulo 4.
Atestemos, pois, a veracidade desse fato.
Prova
Queremos computar:
eh − 1
lim .
h→0 h
Sabemos que a função exponencial pode ser expressa por sua série de Taylor centrada
em x = 0:
h2 h3
eh = 1 + h + + + ··· .
2! 3!
Subtraindo 1 e dividindo por h, teremos:
eh − 1 h h2
=1+ + + ··· .
h 2! 3!
Fazendo h → 0, todos os termos com potências de h desaparecem, restando:
eh − 1
lim = 1,
h→0 h
como queríamos demonstrar. ■
Logo, a definição tradicional de e implica diretamente sua definição como o único
número real a = e tal que a derivada de ax no ponto x = 0 é igual a 1.
Derivada e integral
Vimos ao longo da teoria que a função f (x) = ex possui duas propriedades únicas:
d x
(e ) = ex .
dx
Ou seja, ex é uma função autogeradora: o que ela é agora é o quanto ela cresce.
Além disso, o que ela cresceu até agora é igual a si mesma. Essa é uma propriedade
sem paralelo entre todas as funções elementares.
Um crescimento proporcional ao que já se é torna-se um modelo matemático
perfeito para tudo que
396
• se replica (crescimento de populações),
• se retroalimenta (como o capital nos juros compostos),
• decai de forma proporcional ao que se tem (como em um processo radioativo),
• se propaga (como ondas eletromagnéticas).
Isso faz com que a função f (x) = ex seja de importância singular e fundamental
para diversas áreas do conhecimento que envolvem modelagem matemática.
A derivada representa o ímpeto de crescimento — a taxa instantânea de variação.
Se a derivada de uma função é igual a si mesma, isso significa que a própria coisa
equivale, numericamente, ao seu próprio impulso. O que ela é é igual ao seu ímpeto
de tornar-se.
Isso é uma bela metáfora para sistemas autônomos ou autoregulados. É função
do instante, onde ser e tornar-se coincidem.
Já a integral é o acúmulo do passado. Quando a integral de de uma função é
igual a si mesma, isso significa que sua história, seu rastro, seu somatório. . . apenas
o reconduzem de volta a si.
Em certo sentido, a função ex é atemporal: o passado e o futuro estão inscritos
nela sem deformação. Cada ponto é suficiente para determinar todos os outros. Ela
não carrega memória deformada: apenas continuidade pura.
Se π mede o círculo e sua permanência, e mede o fluxo e a transformação. Ele
surge no coração do Cálculo, da Física, da Biologia, da Economia — onde quer que
haja algo que cresça proporcionalmente ao que já é.
Ele é o número do vir-a-ser. O número do instante que contém todos os instantes.
O número do crescimento perfeito.
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