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Fis641 - Funções de Green

O documento aborda a solução de problemas em eletrostática, focando nas funções de Green e nas condições de contorno do tipo Dirichlet e Neumann. Ele explica como determinar o potencial elétrico em regiões com eletrodos e como as funções de Green podem ser utilizadas para resolver equações diferenciais de Poisson. Exemplos práticos são apresentados, incluindo a análise de um plano infinito e a distribuição de cargas em condutores.
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Fis641 - Funções de Green

O documento aborda a solução de problemas em eletrostática, focando nas funções de Green e nas condições de contorno do tipo Dirichlet e Neumann. Ele explica como determinar o potencial elétrico em regiões com eletrodos e como as funções de Green podem ser utilizadas para resolver equações diferenciais de Poisson. Exemplos práticos são apresentados, incluindo a análise de um plano infinito e a distribuição de cargas em condutores.
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Capı́tulo 1

Solução de Problemas em Eletrostática

1.1 Funções de Green


1.1.1 Introdução
A forma mais comum dos problemas encontrados em eletrostática é a de valores no contorno com condições do tipo Dirichlet, isto é, o valor
do potencial é conhecido na fronteira S de uma região V , na qual desejamos encontrar o potencial. Geralmente são situações onde eletrodos
metálicos estão aterrados ou conectados a fontes de tensão conhecidas, e a distribuição de cargas nestas superfı́cies somente será conhecida após
o cálculo do campo elétrico, pois
∂φ
E = −∇φ ou En = − ,
∂n
onde En é a componente do campo na direção da coordenada n normal à superfı́cie S em cada ponto. O potencial fora da superfı́cie, e
consequentemente o campo elétrico, pode ser determinado em termos do potencial conhecido da superfı́cie.
Uma outra forma de condições de contorno que também determina univocamente o potencial, a menos de uma constante, são as chamadas
condições do tipo Neumann: o valor da derivada normal do potencial é conhecido na superfı́cie S. Fisicamente, corresponde aos casos onde a
distribuição de cargas na superfı́cie é conhecida ou, em outras palavras, o campo elétrico, pois estão relacionados através de

σ ∂φ
En = =⇒ σ = 0 En = 0 n̂·E = −0 = −0 n̂·∇φ.
0 ∂n

Especificar o potencial e sua derivada normal na superfı́cie constitui uma redundância e uma possı́vel fonte de erro, mas existem situações onde
se conhece o potencial em determinada parte da superfı́cie e sua derivada normal no restante dela. Essas condições de contorno são mistas e
também podem ser tratadas de modo a obter univocamente o campo e o potencial em toda a região de interesse.

1
Eletrostática FIS641 - Eletromagnetismo I

1.1.2 Problemas de Dirichlet


Num condutor em equilı́brio eletrostático, toda a carga está distribuı́da em sua superfı́cie, de modo que a densidade volumétrica de carga em
seu interior é nula,
ρ = σδ(n − ns ),
onde σ é a densidade superficial de cargas do condutor, n representa a coordenada normal à superfı́cie e ns a localização desta, ou seja, o valor
da coordenada n na superfı́cie. Além disso, o campo elétrico em seu interior se anula e o potencial em todo seu interior se iguala ao da sua
superfı́cie, digamos ΦS : φ(S) = ΦS = cte. Se o condutor possui uma carga lı́quida Q, podemos expressar o seu potencial (relativo ao infinito)
através da sua capacitância C, definida como
Q
C= .
ΦS
Considere um exemplo trivial: uma esfera condutora de raio R com carga total Q. Se ela se encontrar longe da influência de outras distribuições
de cargas, seu potencial para r > R será dado por
q
φ(r) = .
4π0 r
O potencial da esfera é:
Q
ΦS = ,
4π0 R
de modo que o potencial na região externa à esfera pode ser escrito como

R
φ = ΦS ,
r
significando que o potencial em todo o espaço será conhecido em termos do seu valor na superfı́cie condutora. De maneira geral, o potencial fora
de uma superfı́cie fechada poderá sempre ser univocamente determinado em função do potencial nos pontos da superfı́cie, φS (rS ). Problemas
desse tipo são denominados de Dirichlet.
É claro que o mesmo problema poderia ser resolvido em termos do campo elétrico na superfı́cie da esfera,

Q
E= r̂ = Er (sen θ cos ϕ x̂ + sen θ sen ϕ ŷ + cos θ ẑ),
4π0 R2

ou equivalentemente em termos da sua densidade superficial de cargas

Q
σ = 0 Er = ,
4πR2

Eduardo Resek – 2– Universidade Federal de Itajubá


FIS641 - Eletromagnetismo I Eletrostática

pois o potencial devido a uma distribuição de cargas é dado por


Q

1
Z
σ σ
Z 2π Z π
R2 sen θ0 dθ0 dφ0

 , r>R
φ(r) = dS 0 = √ = 4π0 r .
4π0 S0
0
|r − r | 4π0 R2 + r2 − 2Rr cos θ0  Q
0 0  , r<R
4π0 R
Como
∂φ ∂φ
Er = −
= ,
∂r ∂n
onde n é a coordenada normal na superfı́cie orientada para fora da região de interesse (r > R), o potencial pode ser escrito como
Z
1 1 ∂φ 0
φ(r) = dS
4π S 0 |r − r0 | ∂n

O que vemos através desse exemplo simples é que problemas de valores no contorno para o potencial podem ser resolvidos ou especificados
em termos do valor do potencial ou de sua derivada normal (ou seja, o campo elétrico) numa dada superfı́cie.

1.2 Funções de Green


Seja então um problema de contorno em uma região v 0 , delimitada por uma fronteira S 0 , definido por uma equação diferencial de Poisson,

ρ(r)
∇2 φ(r) = − ,
0
onde ρ(r) é uma função escalar não singular em v 0 , com condições de contorno do tipo Dirichlet ou de Neumann. Analisando a expressão do
potencial de uma distribuição de cargas ρ(r0 ),
ρ(r0 )
Z
1
φ(r) = 0
dv 0 ,
4π0 v0 |r − r |
observamos que ele pode ser considerado como a convolução da função que, a menos de uma constante, especifica a densidade de cargas, ρ(r0 )/0
com
1 1
(1.1) Gp (r, r0 ) = ,
4π |r − r0 |

que é a solução particular da equação diferencial


∇2 G = −δ(r − r0 )

Universidade Federal de Itajubá – 3– Eduardo Resek


Eletrostática FIS641 - Eletromagnetismo I

com a condição que G se anule no infinito.


Definimos a função de Green para o problema mais geral, como sendo a função que satisfaz ao problema com a mesma geometria e uma
carga pontual em r0 , de valor tal que torna o termo de fonte unitário

(1.2) ∇2 G(r, r0 ) = −δ(r − r0 ),

com valores que se anulam na fronteira, G(rS 0 , r0 ) = 0. É importante lembrar que (1.1) é a solução particular da equação de Poisson, e que a
solução geral é obtida somando-se a ela uma solução geral da equação de Laplace correspondente:

G(r,r0 ) = Gp (r,r0 ) + Gh (r,r0 ), com ∇2 Gh = 0.

Fisicamente, G é o potencial gerado por uma carga pontual no ponto r acrescido do potencial criado pela carga que será induzida na fronteira
(ela pode estar, por exemplo, a um potencial nulo, ou seja, aterrada):
1 1
G(r, r0 ) = + ζ(r), ∇2 ζ = 0.
4π |r − r0 |
Como veremos, isso desempenhará um papel importante na construção de uma função de Green adequada para uma determinada geometria de
superfı́cie de contorno.
O teorema de Green estabelece que I Z
0 0
(φ∇ ψ − ψ∇ φ)·n̂ dS = (φ∇02 ψ − ψ∇02 φ) dv 0 .
0
S0 v0

Demonstração: No teorema de Gauss, I Z


F·n̂ dS = ∇·F dv,
S v
tome sucessivamente F = φ∇ψ, I Z Z
φ∇ψ·n̂ dS = ∇·(φ∇ψ) dv = (∇φ·∇ψ + φ∇2 ψ) dv
S v v
e F = ψ∇φ: I Z Z
ψ∇φ·n̂ dS = ∇·(ψ∇φ) dv = (∇ψ·∇φ + ψ∇2 φ) dv
S v v
e subtraia membro a membro.

Tomando ψ = G, fica
I Z Z Z Z
0 02 02 0 0 0 0 02 0
0 0
(φ∇ G − G∇ φ)·n̂ dS = (φ∇ G − G∇ φ) dv = − φ(r )δ(r − r ) dv − G∇ φ dv = −φ(r) − G∇02 φ dv 0 ,
S0 v0 v0 v0 v0

Eduardo Resek – 4– Universidade Federal de Itajubá


FIS641 - Eletromagnetismo I Eletrostática

de modo que
Z I
02 0
φ(r) = − G∇ φ dv + [φ(S 0 )∇0 G − G∇φ(S 0 )]·n̂ dS 0 ,
v0 S0

ou
Z Z  
1 0 0 0 ∂G ∂φS
φ(r) = G(r,r )ρ(r ) dv + φS −G dS 0 ,
0 v0 S0 ∂n ∂n

onde φS = φ(S 0 ). Até aqui ainda não foi imposta a condição de contorno sobre G. Antes de fazermos isso, é bom lembrar que, na equação acima,
n̂ ou n representam a direção ou coordenada perpendicular a S 0 orientada para fora da região de interesse v 0 , conforme ilustra a figura a seguir.
Na prática, essa expressão será útil em duas situações:

1. A superfı́cie ao redor do ponto r0 é condutora e está aterrada, fazendo φS = 0


e ∇02 φ = −ρ/0 devido à distribuição de cargas ao longo de V . A equação
acima se reduz a
Z Z
02 0 1
φ(r) = − G∇ φ dv = G(r, r0 ) ρ(r0 ) dv 0 .
v0 0 v0

2. Não há fontes ao longo de v 0 , ∇02 φ(r0 ) = 0, e conhecemos φS na fronteira de


S 0 . Nesse caso, a solução fica
I
φ(r) = − φS ∇0 G·n̂ dS 0 .
S0

Fisicamente, ∇0 G representa a densidade superficial de carga que seria induzida


por uma carga unitária na fronteira S 0 , como se ela fosse uma superfı́cie condutora aterrada,
σ1
∇0 G·n̂ = ,
0
de modo que, em termos dessa densidade superficial terı́amos
Z
0
φ(r ) = − φS σ1 (S 0 ) dS 0 .
S0

Universidade Federal de Itajubá – 5– Eduardo Resek


Eletrostática FIS641 - Eletromagnetismo I

1.3 Exemplos de funções de Green para algumas geometrias


1.3.1 Plano
Imagine um plano, por exemplo o plano xy, onde se conhece o potencial em toda a sua extensão, φS (x,y). A função de Green é a solução da
equação
∇2 G = −δ(x − x0 )δ(y − y 0 )δ(z − z 0 ),
com a condição de contorno G = 0 para z = 0. Isso correspondente à situação de uma carga pontual presente no ponto (x’,y’,z’) próxima a um
plano infinito aterrado: já resolvemos anteriormente esse problema pelo método das imagens; sua solução é
!
1 1 1
G(r,r0 ) = p −p .
4π (x − x0 )2 + (y − y 0 )2 + (z − z 0 )2 (x − x0 )2 + (y − y 0 )2 + (z + z 0 )2
Para a região z > 0,
∂G ∂G 1 z
=− 0 =− .
∂n ∂z 2π [(x − x ) + (y − y 0 )2 + z 2 ]3/2
0 2
z 0 =0
Desse modo, para um plano cujo potencial é dado por φS (x,y), o potencial num ponto qualquer (x,y,z), z > 0, será dado por
Z ∞Z ∞
z φS (x0 ,y 0 )
φ(r) = dx0 dy 0 .
2π −∞ −∞ [(x − x0 )2 + (y − y 0 )2 + z 2 ]3/2
Exemplo 1: Um plano condutor infinito é dividido em duas partes por um arame circular de raio a, isolante e muito fino, ao interior do qual é aplicada
uma tensão de V volts, enquanto a parte externa permanece aterrada. Determine o potencial em todo o espaço acima do plano.

O potencial ao longo do plano pode melhor ser descrito em coordenadas cilı́ndricas:



V, ρ < a
φS (ρ) = .
0, ρ > a
O potencial num ponto qualquer da região z > 0 será
2π a
ρ0 dρ0 dϕ0 dz 0
Z Z
Vz
φ(ρ,z) = .
2π 0 0 [ρ2 + ρ02 − 2ρρ0 cos(ϕ − ϕ0 ) + z 2 ]3/2
Especificamente num ponto do eixo de simetria do eletrodo circular, ρ = 0, fica
V z 2π a ρ0 dρ0 dϕ0 dz 0
Z Z  
z
φ(0,z) = 02 2 3/2
=V 1− √ , z > 0.
2π 0 0 [ρ + z ] a2 + z 2

Eduardo Resek – 6– Universidade Federal de Itajubá


FIS641 - Eletromagnetismo I Eletrostática

A simetria nos permite escrever, para z < 0:  


|z|
φ(0,z) = V 1 − √ .
a2 + z 2
Fica proposto ao leitor mostrar que, para pontos fora do eixo z, podemos escrever o potencial em coordenadas esféricas como
"  3  5 #
r< 1 r< 3 r<
φ(r,θ) = V 1 − |P1 (cos θ)| + |P3 (cos θ)| − |P5 (cos θ)| + ··· ,
r> 2 r> 8 r>

onde r< e r> são, respectivamente, o menor e o maior dentre r e a.

Universidade Federal de Itajubá – 7– Eduardo Resek

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