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LEGISLAÇÃO APLICADA AO

GEORREFERENCIAMENTO DE IMÓVEIS
RURAIS
UNIDADE II
O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964
Elaboração
Márcio Felisberto

Revisão
Tatiana Reinehr

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

UNIDADE II
O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964 ...................................................................................................................................5

CAPÍTULO 1
O ESTATUTO DA TERRA  LEI N. 4.504/1964 ........................................................................................................................ 5

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................22
O ESTATUTO DA TERRA LEI
N. 4.504/1964
UNIDADE II

CAPÍTULO 1
O ESTATUTO DA TERRA  LEI N. 4.504/1964

A Lei n. 4.504/1964, conhecida como Estatuto da Terra, estabelece direitos e


obrigações relativos a imóveis rurais, utilizados para a reforma agrária e promoção
da política agrícola (BRASIL, 1964).

Cumpre ressaltar que, de acordo com os parágrafos 10 e 2 o do art. 1 o do estatuto:

Considera-se Reforma Agrária o conjunto de medidas que visem


a promover melhor distribuição da terra, mediante modificações
no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de
justiça social e ao aumento de produtividade.

Entende-se por Política Agrícola o conjunto de providências de


amparo à propriedade da terra, que se destinem a orientar, no
interesse da economia rural, as atividades agropecuárias, seja no
sentido de garantir-lhes o pleno emprego, seja no de harmonizá-
las com o processo de industrialização do país (BRASIL, 1964).

A doutrina destaca o importante papel do Estatuto da Terra como sendo a lei


agrária fundamental, destacando o seguinte:

Em seus 128 artigos [...] fixa os rumos básicos do relacionamento


entre a terra e o homem, procurando proteger este e aquele.
Protege o homem, como sujeito da relação jurídica e destinatário
das vantagens objetivadas pela lei. Protege a terra, porque ela é
a matriz e a nutriz não só no presente como no futuro (BORGES,
1998, p. 13 ).

As metas estabelecidas pelo Estatuto da Terra são basicamente duas:

» a execução de uma reforma agrária;

» o desenvolvimento da agricultura.

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UNIDADE II | O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964

Mais de meio século depois de sua implementação, pode-se concluir que a


segunda meta tem recebido maior atenção do poder público, sobretudo no que
diz respeito ao desenvolvimento empresarial da agricultura, com destaque para
o agronegócio voltado à exportação.

No que tange à organização da lei, destaca-se que o Estatuto da Terra se estrutura


em quatro títulos:

I – Disposições Preliminares;

II – Da Reforma Agrária;

III – Da Política de Desenvolvimento Rural;

IV – Das Disposições Gerais e Transitórias.

O Título I (Disposições preliminares) é composto de três capítulos (Princípios e


Definições, Acordos e Convênios e Das Terras Públicas e Particulares). Destaca-se
o primeiro, por fazer referência aos dois grandes princípios do Direito Agrário:
função social da propriedade (Art. 2 o, caput e § 1 o, e arts.12 e 13) e justiça social
(Art.1 o, § 1 o). Além disso, apresenta definições dos principais institutos do Direito
Agrário (reforma agrária, política agrícola, imóvel rural, propriedade familiar,
módulo rural, minifúndio, latifúndio, empresa rural, parceleiro, cooperativa
integral de reforma agrária e colonização).

O Título II (Da Reforma Agrária) engloba toda a temática relativa ao assunto


em apreço, cuja essência permanece em vigor, mas está bastante ampliado por
legislação esparsa posterior, notadamente, após a promulgação da Constituição
de 1988.

O Título III (Da Política de Desenvolvimento Rural) é formado por quatro grandes
capítulos: I Tributação da terra; II Colonização; III Assistência e Proteção à
Economia Rural; e IV Do Uso ou da Posse Temporária da Terra, todos ampliados
e regulamentados por normas posteriores.

O Título IV (Das disposições Gerais e Transitórias) tem como destaques:

» o artigo 103, que ressalta o principal objetivo do Estatuto, como se segue:

Art. 103, A aplicação da presente Lei deverá objetivar, antes e acima


de tudo, a perfeita ordenação do sistema agrário do País, de acordo
com os princípios da justiça social, conciliando a liberdade de
iniciativa com a valorização do trabalho humano (BRASIL, 1964).

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O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964 | UNIDADE II

» o art. 107, que se refere ao procedimento aplicável aos litígios entre


proprietários e arrendatários rurais e ainda àqueles relativos ao trabalho
rural, da seguinte forma:

Art. 107. Os litígios judiciais entre proprietários e arrendatários


rurais obedecerão ao rito processual previsto pelo Art. 685, do
Código de Processo Civil [atualmente o art. 874 do CPC de 2015].

§ 1 o Não terão efeito suspensivo os recursos interpostos contra


decisões proferidas nos processos de que trata o presente artigo.

§ 2 o Os litígios relativos às relações de trabalho rural em geral,


inclusive às reclamações de trabalhadores agrícolas, pecuários,
agroindustriais ou extrativos, são de competência da Justiça do
Trabalho, regendo-se o seu processo pelo rito processual trabalhista
(BRASIL, 1964).

O Estatuto da Terra garante, ainda, a todos oportunidade de acesso à propriedade


da terra desde que ela venha a cumprir uma função social, ou seja, que venha a
favorecer o bem-estar de proprietários e daqueles que nela trabalham, e ainda
que mantenha níveis de produtividades, a preservação do meio ambiente e o
respeito às condições e às relações de trabalho no campo.

Por outro lado, o estatuto determina como sendo dever do poder público a criação
de condições de acesso ao trabalhador rural em terras economicamente úteis,
preferencialmente na região onde habita, bem como combater as formas de
ocupação e exploração da terra que vai ao sentido contrário à sua função social 10.

A lei traz ainda importantes conceitos no art. 4 o acerca do imóvel rural, da


propriedade familiar, o módulo rural, o minifúndio e o latifúndio. Assim,
considera-se imóvel rural todo prédio rústico destinado à exploração agrícola,
pecuária ou agroindustrial pela iniciativa privada ou por planos públicos de
valorização.

Já a propriedade familiar corresponde a todo imóvel rural explorado direta


ou indiretamente pelo agricultor e sua família, de modo que lhes garanta a
subsistência e a possibilidade de progredir social e economicamente, podendo
receber eventual ajuda de terceiros. Há uma área máxima, denominada módulo
fiscal, para que um imóvel seja considerado dessa categoria.

O módulo fiscal é, portanto, uma unidade de medida em hectares, fixada pelo


Incra para cada município. O valor, parte do conceito de propriedade familiar,
mas também leva em consideração outros fatores, como:

10 Art. 2o, §2o, Estatuto da Terra.

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UNIDADE II | O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964

» o tipo de exploração predominante no município (hortifrutigranjeira,


pecuária, florestal, cultura permanente ou cultura temporária);

» a renda obtida no tipo de exploração predominante;

» outras explorações existentes no município expressivas em função da renda


ou da área utilizada.

Em termos gerais, sua dimensão varia de 5 a 110 hectares (EMBRAPA, 2012).


Mas podem-se citar alguns exemplos específicos: em Goiás (Anápolis) e no Rio
Grande do Sul (Pelotas), o módulo fiscal é de 16 hectares (ha); já em Minas
(Itabira) e na Bahia (Itabuna), 20 ha.

Curioso que o Censo Agro realizado em 2017 indicou que aproximadamente


77% dos estabelecimentos classificavam-se como sendo de agricultura familiar.
Mostrou ainda que estes ocupem 23% da área total dos estabelecimentos
agropecuários e foram responsáveis por 23% do valor da produção. Além disso, a
pesquisa trouxe à tona que 10,1 milhões de pessoas estavam comprometidas com a
agricultura familiar, o que corresponde a 67% da mão de obra dos estabelecimentos
agropecuários. Apesar de o número se mostrar elevado, essa população ocupada
observou uma redução de 2,166 milhões de pessoas, ao passo que os demais
apresentaram um aumento de 702,9 mil trabalhadores (IBGE, 2017).

Retomando os conceitos básicos do Estatuto da Terra, impende citar ainda o


minifúndio, que é assim caracterizado em razão de sua área e possibilidades
serem inferiores às da propriedade familiar; e, finalmente, o latifúndio, que
corresponde ao imóvel rural cuja dimensão excede a 600 vezes o módulo médio da
propriedade rural ou a 600 vezes a área média dos imóveis rurais, na respectiva
zona, considerando-se as condições ecológicas, os sistemas agrícolas regionais e
o fim a que se destine. Ou ainda, mesmo que não exceda a esse limite, e possua
área igual ou superior à dimensão do módulo de propriedade rural, sua exploração
não cumpra com a função social da terra. Ou seja, será considerado latifúndio o
imóvel rural que se mantiver inexplorado em relação às possibilidades físicas,
econômicas e sociais do meio, com fins especulativos; ou seja deficiente ou
inadequadamente explorado.

Cumpre ainda ressaltar quanto às terras particulares que o “poder público


facilitará e prestigiará a criação e a expansão de associações de pessoas físicas
e jurídicas que tenham por finalidade o racional desenvolvimento extrativo
agrícola, pecuário ou agroindustrial” de forma a promover a ampliação do
sistema cooperativo, e de outras modalidades associativas e societárias voltadas

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O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964 | UNIDADE II

à democratização do capital. Para tanto, “os agricultores e trabalhadores rurais


poderão constituir entidades societárias por cotas, em forma consorcial ou
condominial, com a denominação de ‘consórcio’ ou ‘condomínio’” (BRASIL,
1964, art. 14).

Quanto à reforma agrária, a lei aponta que esta deverá ser realizada com prioridade
em terras particulares onde ocorrem tensão social.

A lei tem como principal objetivo a garantia da perfeita ordenação do sistema


agrário no país, conforme os princípios da justiça social, conciliando a livre
iniciativa com a valorização do trabalho. O texto da lei nos evidencia o seu espírito
democrático e social em face das desigualdades sociais e da má distribuição de
terras.

O Estatuto da Terra veio, então, disciplinar o uso, a ocupação e as relações


fundiárias no Brasil. Sua origem remonta às lutas camponesas diante do regime
militar, e teve como objetivo frear os inúmeros movimentos camponeses
que despontavam durante o governo do presidente João Goulart, como
uma promessa de uma reforma agrária para apaziguar tanto os camponeses
quanto os proprietários de terra (ÉTICA AMBIENTAL, 2021).

Importante observar que esse estatuto foi criado por meio da Lei n. 4.505, de
30 de novembro de 1964, 8 meses, portanto, após o golpe militar de 31 de
março de 1964. A estratégia, do ponto de vista militar, consistiu em autorizar
o Estado na desapropriação de áreas de conflitos para o assentamento de
famílias de camponeses.

Ao lado da Lei Federal n. 4.504, cumpre destacar o papel do Decreto n. 59.566/1966,


que foi editado com o intuito de regulamentar o uso ou a posse temporária da terra,
que devem ser exercidos com base em contratos sob a forma de arrendamento
rural, parceria agrícola, pecuária, agroindustrial e extrativa, por meio do qual
o “proprietário garantirá ao arrendatário ou parceiro o uso e gozo do imóvel
arrendado ou cedido em parceria” (BRASIL, 1964, art. 92, caput e § 1 o).

O arrendamento e a parceria são contratos agrários voltados à posse ou ao uso


temporário do solo rural. Sua importância está em viabilizar a atividade produtiva
por alguém que não possui uma propriedade rural própria. Ao mesmo tempo
possibilita ao proprietário, possuidor ou administrador da terra rural tornar sua
terra produtiva de forma rentável, de modo a cumprir sua função social. Assim,
o contrato é celebrado entre duas partes: de um lado, o proprietário, o possuidor
ou administrador de um imóvel rural, e, de outro, o arrendatário, isto é, aquele
que exerce qualquer atividade agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou
mista no mesmo imóvel rural (BRASIL, 1966, art. 3 o).

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UNIDADE II | O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964

Especificamente, o arrendamento rural tem por objetivo a cessão, o uso e gozo de


imóvel rural, voltado à realização de qualquer das atividades acima mencionadas
(agrícola, pecuária etc.) mediante o pagamento de certa retribuição ou aluguel,
que varia de 15% do valor cadastral do imóvel, se total, a 30% desse mesmo
valor, se parcial, ou seja, se recair apenas sobre glebas selecionadas 11 (BRASIL,
1966, art. 3 o).

Por seu turno, as parcerias rurais, além de terem por objetivo a realização de
qualquer das atividades supramencionadas (agrícola, pecuária etc.), podem se
destinar também à entrega de “animais para cria, recria, invernagem, engorda
ou extração de matérias primas de origem animal, mediante partilha de riscos
[...] do empreendimento rural, e dos frutos, produtos ou lucros havidos”, sendo
observadas as proporções estabelecidas no Estatuto da Terra, que podem variar
de 20 a 75% dos frutos da parceria, conforme disposto no art. 96 desse estatuto
(BRASIL, 1966, art. 4 o).

Importa mencionar também que, em 2001, por meio da Medida Provisória n.


2.183-56, instituiu-se o Programa de Arrendamento Rural, voltado ao atendimento
complementar de acesso à terra por parte dos trabalhadores rurais qualificados
para participar do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA) (BRASIL,
1964, art. 95-A). O programa foi criado em 1985 por meio do Decreto n. 91.766
e fica a cargo do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
A este compete, então, implementar o programa, e, consequentemente, executar
as desapropriações de interesse social voltadas a assegurar o assentamento de
famílias colonas por meio da promoção do aproveitamento econômico da terra.

Esse aproveitamento normalmente se dá pela sua divisão em propriedade familiar


ou através de cooperativas (BRASIL, 1964, art. 4 o, inc. IX). Importa destacar que
o poder público evitará a desapropriação de imóveis rurais que, mesmo incluídos
em zonas prioritárias, “apresentem elevada incidência de arrendatárias e/ou
parceiros agrícolas e cujos proprietários observem rigorosamente as disposições
legais que regulam as relações contratuais entre os proprietários e os cultivadores
diretos” (BRASIL, 1985, art. 2 o, §3 o).

E mais, os imóveis que integrarem o Programa de Arrendamento Rural não serão


objeto de desapropriação para fins de reforma agrária enquanto se mantiverem
arrendados, e desde que cumpram com os requisitos estabelecidos em regulamento
(BRASIL, 1964, art. 95-A, parágrafo único).

11 Estatuto da Terra, art. 95, inciso XII.

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O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964 | UNIDADE II

Mais recentemente, a Lei n. 11.443, de 5 de janeiro de 2007, promoveu algumas


alterações no Estatuto da Terra com relação aos institutos do arrendamento e
das parcerias rurais. Entre as principais mudanças, destacam-se:

» com relação ao arrendamento, o direito de preferência do arrendatário


à renovação do arrendamento em igualdade de condições com terceiros,
devendo ser notificado com a antecedência de 6 meses antes do vencimento
do contrato das propostas existentes (art. 95, inc. IV);

» ainda a respeito do arrendamento, a sua renovação automática, caso após o


vencimento o arrendador não manifeste sua desistência nem formule nova
proposta nos 30 dias seguintes (art. 95, inc. IV). Nesse caso, impede-se
o proprietário de arrendar a terceiros ou de retomar o imóvel para a sua
exploração direta;

» com relação à parceria rural, estabelece a partilha, isolada ou cumulativamente,


dos riscos relacionados ao caso fortuito e de força maior do empreendimento
rural, dos frutos, produtos ou lucros havidos nas proporções que estipularem
e das variações de preço dos frutos obtidos na exploração do empreendimento
rural (art. 96, §1 o);

» ainda a respeito da parceria, uma das principais mudanças trazidas pela lei é a
alteração nas cotas de participação dos proprietários nos frutos das parcerias,
aumentando-se os limites de 10% para 20%, quando concorrer apenas com
a terra nua, para até 25% quando concorrer com a terra preparada; de 20%
para 30%, quando concorrer com terra preparada e moradia; e de 30%
para 40%, caso concorra com o conjunto básico de benfeitorias. Os demais
percentuais continuam os mesmos, podendo chegar ao máximo de 75%.

1. Da reforma agrária e da política fundiária


O Estatuto da Terra examina, em muitos artigos, o problema da reforma agrária
e da política fundiária, adotando o método liberal e democrata de solução da
matéria.

Considera-se reforma agrária o conjunto de medidas que visem a promover a


melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e
uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e aumento de produtividade
(Estatuto da Terra, art. 1 o, § 1 o).

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UNIDADE II | O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964

Não se deve confundir a reforma agrária com política agrária, entendida esta
como conjunto de providências de amparo à propriedade da terra que se destinem
a orientar, no interesse da economia rural, as atividades agropecuárias, seja
no sentido de garantir-lhes o pleno emprego, seja no de harmonizá-las com o
processo de industrialização do país (Estatuto da Terra, art. 1 o, § 2 o, e 47; e o
Decreto n. 55.891/1965).

No contexto atual de transformação gradativa da estrutura agrária brasileira,


apresentam-se como medidas indispensáveis o aproveitamento e uma melhor
distribuição das terras públicas e particulares, visando à descentralização da
propriedade rural e à valoração do trabalhador do campo com um melhoramento
das suas condições de vida, expandindo, assim, o setor industrial e econômico
do país.

Essa utilização justa e equilibrada das propriedades rurais tende naturalmente


a diminuir a tensão agrária e a contribuir para solução do problema agrário,
muito embora tal aproveitamento e distribuição, por si mesmos, não sejam os
únicos processos a serem adotados.

Cabe ressaltar que o Estatuto da Terra (Lei n. 4.504/1964) prevê três tipos de
propriedade:

» propriedade familiar;

» minifúndio;

» latifúndio.

Por outro lado, a Constituição Federal vigente (CF/1988) alude à pequena e


média propriedade, bem como à propriedade produtiva. Já a Lei n. 8.629/1993
vem a regulamentar e a disciplinar as disposições relativas à reforma agrária
previstas no capítulo III, Título VII, da Constituição federal de 1988, conceituando,
assim, a pequena e média propriedade (artigo 4 o, II e III), além da propriedade
produtiva (art. 6). Esta corresponde ao imóvel rural que, explorado econômica e
racionalmente, atinge graus de utilização da terra e de eficiência na exploração,
segundo índices fixados pelo INCRA.

No que tange ao problema agrário, ressalta-se que a reforma agrária deve ser
objetivamente planejada, a fim de compatibilizar tal rota com a política agrícola e
fundiária. Além disso, a destinação de terras públicas e particulares deve visar à
promoção de uma melhor distribuição e aproveitamento da terra. Nesse contexto,
surge outro importante conceito de regime de propriedade: o do módulo rural.

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O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964 | UNIDADE II

A expressão “módulo rural”, por sua vez, é usada no direito agrário brasileiro
desde o Estatuto da Terra (Lei n. 4.504/1964). É considerado como sendo a
quantidade mínima de terras prevista no imóvel rural para que não se transforme
em minifúndio; é, portanto, a unidade fundamental da terra. Com efeito, a
área inferior ao módulo chama-se minifúndio; já a área superior é chamada de
latifúndio.

O módulo rural equivale à área da propriedade familiar, variável não somente de


região para região, como também de acordo com o modo de exploração da gleba.

No fundo, como afirma Pinto Ferreira (1998 p. 213), “o módulo rural confunde-
se com a própria área da propriedade familiar”.

Conforme o art. 65 do Estatuto da Terra, o imóvel rural não é passível de divisão


em áreas de dimensão inferior à do módulo da propriedade rural. O intuito é
impedir a fragmentação dos imóveis rurais e a constituição de novos minifúndios.

O módulo aparece, assim, como um paradigma ou modelo de apreciação, tendo


em vista a área e a dupla função que ele contém: estabilidade econômica e bem-
estar do agricultor. Além disso, os módulos rurais e fiscais são qualificados por
meio de hectares, variando de acordo com as diversas regiões do país.

O módulo rural é, dessarte, uma unidade agrária familiar para cada região do
país e para cada forma de exploração. Como bem definiram Mezaroba e Detoni
(2017, p. 29) “É uma unidade de medida, variável em função da região em que
se situe o imóvel e o tipo de exploração predominante”.

Em consequência, o módulo rural no direito agrário brasileiro tem as seguintes


características:

» é uma medida de área;

» é a área fixada para a propriedade familiar;

» varia em conformidade com o tipo de exploração;

» varia também de acordo com a região do país em que se acha localizado o


imóvel rural;

» implica um mínimo de renda, que deve ser identificada pelo menos com
um salário mínimo;

» a renda deve assegurar ao agricultor e a sua família não somente a subsistência,


porém deve propiciar o progresso social e econômico;

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UNIDADE II | O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964

» é uma unidade de medida agrária que limita o direito de propriedade da


terra rural.

Conforme a legislação agrária dominante (Estatuto da Terra - Lei n. 4.504/1964


e Decreto-Lei n. 57/1966), a propriedade familiar é consagrada no módulo rural
e não pode ser dividida, encontra-se definida no Estatuto da Terra (art.4 o, II)

Propriedade familiar, o imóvel rural que, direta e pessoalmente


explorado pelo agricultor e sua família, lhe absorva toda a força
de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social
e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de
exploração, e eventualmente trabalhado com a ajuda de terceiros
(BRASIL, 1984).

Sua origem, enquanto aspiração social, relaciona-se aos primeiros clamores por
reforma agrária, e os anseios em prol da racionalização do alcance e do uso da
terra por pessoas desprovidas desse recurso valioso. E, assim, corresponde à
resposta para inserir o homem e sua família no campo, em um terreno fértil e de
tamanho suficiente para lhe garantir a subsistência, o desenvolvimento social e
econômico de sua família.

Da definição legal, extrai-se ainda outro requisito para a sua configuração: que
sua área seja do tamanho do módulo, podendo, no entanto, variar de acordo com
determinados fatores, tais como a situação geográfica, o clima, as condições de
aproveitamento da terra etc.

Define Paulo Torminn Borges (1977 apud SILVEIRA, 2014, p. 45):

módulo rural é a área de terra que, trabalhada direta e pessoalmente


por uma família de composição média, com auxílio apenas eventual
de terceiro, se revela necessária para a subsistência e ao mesmo
tempo suficiente como sustentáculo ao progresso social e econômico
da referida família.

A forma para se achar o módulo se fundamenta na declaração para cadastramento,


sendo individualizado no Certificado de Cadastro expedido pelo INCRA.

Para efeito tributário (ITR), o módulo de propriedade foi substituído pelo módulo
fiscal (Lei n. 6.746/1979; Dec. n. 84.685/1980). O módulo fiscal está regulado
pelo art. 50 do Estatuto da Terra (Lei n. 4.504/1964), que serve para cálculo do
Imposto Territorial Rural.

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O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964 | UNIDADE II

Admitem-se os seguintes tipos de módulos, nominados conforme a atividade


rural:

» exploração hortigranjeira;

» lavoura permanente;

» lavoura temporária;

» exploração pecuária de médio ou grande porte, visto que a exploração


pecuária de pequeno porte é qualificada como hortigranjeira;

» exploração florestal.

Importa ressaltar que em 2006 foi editada a Lei n. 11.326 com o objetivo de fixar
diretrizes específicas para a formulação da política nacional da agricultura familiar
e de empreendimentos familiares rurais, introduzindo os termos agricultor
familiar e empreendedor familiar rural.

Além disso, a lei definiu a pequena propriedade em função do tamanho da


área, envolvendo área de até quatro módulos fiscais (e não de um a quatro
módulos fiscais, como era na lei anterior que tratou do tema, isto é, a Lei n.
8.629/1993), e também em razão do tipo de exploração da atividade. Assim, para
a sua configuração, a terra deve ser trabalhada com mão de obra predominante
do grupo familiar, de modo que a administração do empreendimento ocorra
pelo titular. Exige-se ainda que a renda seja predominantemente oriunda da
atividade do empreendimento familiar rural, curiosamente, nos mesmos termos
fixados nos dispositivos vetados na Lei n. 8.629/1993, quando da definição de
pequena propriedade.

Com efeito, conclui-se que, a partir da Lei n. 11.326/2006, não há um limite mínimo
para o módulo fiscal, e, consequentemente, para a área de terra classificada como
minifúndio, mas passa a ser condicionada pelo trabalho nas condições previstas
na referida lei. Acrescenta-se que as condições para a obtenção do crédito ou o
benefício das políticas específicas são as mesmas agora relacionadas na lei de
diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar.

A Constituição Federal de 1988 prevê, no ar tigo 5 o , inciso XXVI, a


impenhorabilidade da pequena propriedade rural para pagamento de dívida,
como se observa a seguir:

Art. 5 o. [...] XXVI – a pequena propriedade rural, assim definida


em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de
penhora para pagamento de débitos decorrentes da sua atividade

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UNIDADE II | O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964

produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu


desenvolvimento.

Em razão disso, no julgamento do ARE-AgR 103.8507, o STF se posicionou no


sentido de que a CF/1988, por meio da garantia à pequena propriedade rural,
confere proteção à família de seu mínimo existencial. Consequentemente,
quando a família tiver contraído dívida em prol da atividade produtiva
desenvolvida na pequena propriedade rural, pelo grupo doméstico, tem-se
por consequência a sua impenhorabilidade.

Assim, o imóvel rural não poderá ser penhorado para o pagamento desse
débito. Isso mesmo que a família possua outra propriedade rural e que o
imóvel rural tenha sido indicado como garantia hipotecária para pagamento
de dívidas. De acordo com o Ministro Edson Fachin, relator do acórdão, “[...]
mesmo que o grupo familiar seja proprietário de mais de um imóvel, para
fins de impenhorabilidade, é suficiente que a soma das áreas não ultrapasse
o limite de extensão de quatro módulos fiscais” (STF, 2020). E mais, quanto
à indicação do bem em garantia hipotecária (exceção prevista no artigo
4 o, parágrafo 2 o, da Lei n. 8.009/1990), o posicionamento do STF foi pela
garantia da impenhorabilidade da pequena propriedade rural tendo em
vista a prevalência do texto constitucional em face de lei federal.

Por fim, o julgado resultou na fixação da seguinte tese: “é impenhorável a


pequena propriedade rural familiar constituída de mais de 01 (um) terreno,
desde que contínuos e com área total inferior a 04 (quatro) módulos fiscais
do município de localização” (STF, 2020).

Estudado o conceito de propriedade familiar, importa abordar um outro, que


dele decorre, e que é também de grande relevância para o direito agrário. Trata-
se do módulo rural. Este corresponde a uma unidade de medida que exprime “a
interdependência entre a dimensão, a situação geográfica dos imóveis rurais e a
forma e condições do seu aproveitamento econômico”, de acordo com o disposto
no art. 11 do Decreto n. 55.891/1965.

Como já destacado, com o módulo rural, visa-se evitar a existência de glebas


cujas dimensões sejam insuficientes para colaborar com o progresso econômico
e para que a propriedade atenda à sua função social. De acordo com os arts. 3 o
e 4 o da Lei n. 11.326/2006, seus elementos conceituais são:

» Titulação: a existência de título de domínio do imóvel em nome de um dos


membros da entidade familiar, mas não se trata de um elemento essencial,
tendo em vista que a lei admite ainda a concessão de uso.

16
O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964 | UNIDADE II

» Exploração direta e pessoal pelo agricultor e sua família: elemento essencial.


A propriedade familiar só cumprirá com os fins para os quais foi criada, de
acordo com os ideais da Política de Reforma Agrária, se a terra for diretamente
laborada pelo beneficiado desta política, sob pena de descumprimento da
função social da terra.

» Área ideal para cada tipo de exploração: que responda ao mínimo necessário
para garantir sustento e desenvolvimento familiar, fixada, em cada região,
considerando fatores relevantes, como a qualidade da terra, o clima, a
cultura e o tamanho da família.

» Possibilidade eventual de ajuda de terceiros: para algumas atividades, como


durante colheitas de produtos que exigem maior quantidade de mão de
obra para serem realizadas em tempo exíguo, a própria lei permite a ajuda
eventual de terceiros, sem desnaturar a propriedade familiar. No entanto,
importante ressaltar que não se admite a contratação de mão de obra de
empregados, sob pena de desnaturar a propriedade familiar.

Importa observar que a Lei n. 11.326/2006, no art. 3 o, § 2 o, desde que atendidos


os demais requisitos, reconhece também como beneficiários dela:

» os silvicultores que cultivem florestas nativas ou exóticas e que promovam


o manejo sustentável daqueles ambientes;

» os aquicultores que explorem reservatórios hídricos com superfície total de


até 2 ha (dois hectares) ou ocupem até 500 m³ (quinhentos metros cúbicos)
de água, quando a exploração se efetivar em tanques rede;

» os extrativistas que exerçam essa atividade artesanalmente no meio rural,


excluídos os garimpeiros e faiscadores;

» os pescadores que exerçam a atividade pesqueira artesanalmente;

» os povos indígenas;

» os integrantes de comunidades remanescentes de quilombos rurais e demais


povos e comunidades tradicionais.

Importa ainda mencionar dois dispositivos dessa lei, como se segue (BRASIL,
2006):

Art. 4o A Política Nacional da Agricultura Familiar e


Empreendimentos Familiares Rurais observará, dentre outros,
os seguintes princípios:

17
UNIDADE II | O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964

I - descentralização;

II - sustentabilidade ambiental, social e econômica;

III - equidade na aplicação das políticas, respeitando os aspectos


de gênero, geração e etnia;

IV - participação dos agricultores familiares na formulação e


implementação da política nacional da agricultura familiar e
empreendimentos familiares rurais.

Art. 5 o Para atingir seus objetivos, a Política Nacional da Agricultura


Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais promoverá o
planejamento e a execução das ações, de forma a compatibilizar
as seguintes áreas:

I - crédito e fundo de aval;

II - infraestrutura e serviços;

III - assistência técnica e extensão rural;

IV - pesquisa;

V - comercialização;

VI - seguro;

VII - habitação;

VIII - legislação sanitária, previdenciária, comercial e tributária;

IX - cooperativismo e associativismo;

X - educação, capacitação e profissionalização;

XI - negócios e serviços rurais não agrícolas;

XII - agroindustrialização.

Além da propriedade familiar, o Estatuto da Terra prevê, no art. 4 o , inc. IV,


uma outra espécie de propriedade rural, o minifúndio. Este corresponde a um
imóvel rural de área menor e possibilidades inferiores à da propriedade familiar,
e é considerado nocivo à função social da terra.

A origem do minifúndio está atrelada aos processos divisórios decorrentes de


sucessão hereditária, notadamente em famílias numerosas, tipicamente, na
região nordestina.

18
O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964 | UNIDADE II

Em suma, o minifúndio é o imóvel rural que, em razão de seu tamanho, mesmo


que trabalhado eficientemente pelo proprietário e sua família, não é suficiente
para propiciar o sustento e o progresso econômico e social daqueles que nele
trabalham. Portanto, mostra-se “insuficiente para a subsistência familiar, mesmo
que aplicados altos conhecimentos, tecnologias modernas de cultivo e criação”
(BARBOSA, 2013), e, por isso, não cumpre a função social da propriedade, o que
autoriza, inclusive, a sua desapropriação (em especial para o remembramento
de imóveis), como previsto no art. 20, do Estatuto da Terra:

Art. 20. As desapropriações a serem realizadas pelo Poder Público,


nas áreas prioritárias, recairão sobre: I - os minifúndios e latifúndios
[...] (BRASIL, 1964).

Assim, a desapropriação se destaca como uma das formas de desestímulo do


minifúndio, encarado como uma distorção do sistema fundiário brasileiro.
Isso porque, além da terra não ser suficiente para gerar o sustento da unidade
familiar que a cultiva (descumprimento da função social da terra), o minifúndio
não gera a cobrança de impostos (sobretudo o ITR), nem viabiliza a obtenção
de financiamentos bancários para o minifundiário, o que se torna um obstáculo
para o sucesso socioeconômico da família produtora.

No entanto, há ainda outros dois instrumentos de combate ao minifúndio, além


da desapropriação, são eles:

» a fração mínima de parcelamento;

» a proibição de divisão dos imóveis em áreas inferiores.

Isso está previsto no art. 21 do Estatuto da Terra, como se segue:

Art. 21. Em áreas de minifúndio, o Poder Público tomará as medidas


necessárias à organização de unidades econômicas adequadas,
desapropriando, aglutinando e redistribuindo as áreas. (BRASIL,
1964).

Pode-se ressaltar ainda que há três graus de lesividade ou nocividade do minifúndio:

» conduz a uma renúncia de produtividade derivada de suas míseras dimensões


espaciais;

» prejudica o crescimento ou desenvolvimento da região onde está localizado;

» é prejudicial ao interesse público, afetando a sociedade como um todo, já


que inviabiliza a exploração da terra e a geração de riquezas, impedindo,
assim, maior efetividade do objetivo do direito agrário (BARBOSA, 2013).

19
UNIDADE II | O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964

A terceira classificação do imóvel rural, conforme o Estatuto da Terra, é o


latifúndio. Ordinariamente é conhecido como uma grande extensão de terras,
geralmente improdutiva ou escassamente explorada. Mas, legalmente, define-se
como sendo o imóvel rural de área igual ou superior ao módulo rural, mantido
inexplorado ou subexplorado “em relação às possibilidades físicas, econômicas
e sociais do meio, com fins especulativo” (art. 4 o, inc. V, b, Lei n. 4.504/1964),
ou, ainda, de dimensão incompatível com a razoável e justa repartição da terra,
consideradas as condições ecológicas, sistemas agrícolas regionais e o fim a que
se destine (art. 4 o, inc. V, a, Lei n. 4.504/1964).

Observa-se que há, portanto, dois tipos de latifúndio:

» o latifúndio por extensão ou por dimensão, definido no artigo 4 o, V, a, e


correspondente ao imóvel rural que excede “à dimensão máxima fixada na
forma do art. 46, § 1 o, alínea “b” desta mesma lei [600 vezes o módulo rural],
tendo-se em vista as condições ecológicas, sistemas agrícolas regionais e
o fim a que se destine”.

» o latifúndio por exploração é o imóvel de área igual ou superior ao módulo


fiscal que está inexplorado ou deficientemente explorado pelo mau uso da
terra (artigo 4 o, V, b, do Estatuto da Terra, combinado com o disposto no
artigo 22, II, b, do Decreto n. 84.685/1980). Aqui inclui também a exploração
predatória do imóvel, a falta de uso de técnicas de conservação, bem como
a manutenção do imóvel para fins especulativos (BARBOSA, 2013).

Do exposto, é possível afirmar que tanto os imóveis de grandes dimensões


quanto aqueles de área igual ou superior ao módulo fiscal, inexplorados ou
inadequadamente explorados, devem ser considerados propriedade improdutiva.

O Decreto n. 84.685/1980, no art. 22, II, veio a regulamentar o tema de forma


a esclarecer o latifúndio por dimensão como sendo aquele imóvel rural com
extensão superior a 600 vezes o módulo fiscal, observados os demais requisitos,
como se visualiza a seguir:

Art. 22 - Para efeito do disposto no art. 4 o, incisos IV e V, e no


art. 46, § 1 o, alínea “b”, da Lei n. 4.504, de 30 de novembro de
1964, considera-se:

II - Latifúndio, o imóvel rural que:

a) exceda a seiscentas vezes o módulo fiscal calculado na forma


do art. 5 o;

20
O ESTATUTO DA TERRA LEI N. 4.504/1964 | UNIDADE II

b) não excedendo o limite referido no inciso anterior e tendo


dimensão igual ou superior a um módulo fiscal, seja mantido
inexplorado em relação às possibilidades físicas, econômicas e
sociais do meio, com fins especulativos, ou seja, deficiente ou
inadequadamente explorado, de modo a vedar-lhe a inclusão no
conceito de empresa rural. (BRASIL, 1980).

Em suma, pode-se afirmar que latifúndio corresponde ao imóvel rural com


área superior a 600 vezes o módulo rural, ou cujas dimensões não excedam à
do módulo fiscal, mas que é mantido inexplorado ou subexplorado em relação
às suas potencialidades. Em outras palavras, é o imóvel rural que, não sendo
propriedade familiar, não cumpre a sua função social.

Mas atenção! O Estatuto da Terra, no art. 4 o, parágrafo único, determina que


não se considera latifúndio:

a) o imóvel rural, qualquer que seja a sua dimensão, cujas


características recomendem, sob o ponto de vista técnico
e econômico, a exploração florestal racionalmente realizada,
mediante planejamento adequado;

b) o imóvel rural, ainda que de domínio particular, cujo objeto


de preservação florestal ou de outros recursos naturais haja sido
reconhecido para fins de tombamento, pelo órgão competente da
administração pública. (BRASIL, 1964).

Com isso, conclui-se que, fora as exceções acima expressas, o latifúndio corresponde
à expressão da opressão ou de concentração de terras e da consequente dominação
no setor rural expressa por meio da monocultura e da economia de exportação.
Consequentemente, “lutar contra ele é lutar contra a fome, a favor da igualdade,
da liberdade e da democracia; é a luta pela busca da solidariedade” (MANIGLA,
2009 apud BARBOSA, 2013).

Destaca-se ainda que os instrumentos previstos pela legislação para combater a


existência dessas propriedades improdutivas são, principalmente, a desapropriação
e a tributação.

21
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https://adenilsongiovanini.com.br/blog/georreferenciamento-de-imoveis-rurais-2/.

26

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