Dimensionamento e Controlo Dos Supermerc
Dimensionamento e Controlo Dos Supermerc
às linhas de montagem
Marina Marinho Moreira de Vasconcelos
2006-11-20
Aos meus pais,
ii
Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Resumo
A indústria automóvel é actualmente uma das áreas onde mais frequentemente surgem
inovações e onde se verifica uma grande competitividade, não só ao nível da relação
qualidade-preço, como também ao nível da produtividade. Assim sendo, a Logística,
particularmente no que se refere ao abastecimento de materiais às linhas de produção, tornou-
se numa área fundamental, onde as oportunidades de melhoria devem ser exploradas. São
vários os factores que deverão ser considerados e conjugados de modo a que,
simultaneamente, se cumpram as necessidades dos materiais à produção e se reduzam os
custos inerentes a elevados níveis de stock. Foi neste âmbito que foi realizado o estágio na
CaetanoBus, uma empresa conceituada internacionalmente no que se refere ao fabrico de
carroçarias de autocarros.
O projecto incluiu mudanças relativas ao Armazém geral, com a realização de uma
triagem de materiais sem rotação e uma reorganização de áreas. Este ganho ao nível de espaço
possibilitou a criação de fluxos de materiais mais claros, bem como a implementação de
supermercados de abastecimento, tirando assim partido de alguma estabilidade ao nível dos
modelos em produção. Esta foi uma das áreas de maior incidência de análise ao longo do
estágio, já que foi necessário todo um trabalho de recolha de informação relativamente a uma
das linhas e também de dimensionamento de contentores de supermercados.
Dado o tipo de produto acabado em questão existem, obviamente, materiais de
características muito diversas, nomeadamente no que respeita ao volume dos mesmos. Por
este motivo, e de forma a diminuir o valor em stock, a rentabilizar o espaço na linha e a
diminuir tempos de transporte entre o armazém e a linha de montagem foi definido, para
alguns materiais, em particular fibras e estruturas de portas, uma metodologia de entrega
directa à linha pelo fornecedor (ship-to-line).
De importância fundamental para o alcance dos resultados finais foi a definição de
parâmetros que permitissem o acompanhamento em MRP do sistema de supermercados
implementado e a consequente redefinição de procedimentos. Isto porque, se atingiu um fluxo
mais natural de materiais e simultaneamente uma redução drástica de rupturas de stock
(alguns deles de importância crucial para o cumprimento do Plano Director de Produção).
O resultado foi um grande aumento de produtividade, pela redução de horas de
montagem por unidade produzida.
iii
Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Abstract
At the present time, automotive industry is characterized note only by its high
competition on quality-price mix but also on its productivity. Logistics has become a core
issue with imminent improvement opportunities, particularly its valence concerning
production lines material supply. Many are the factors that must be considered and combined
in order to both accomplish materials need and reduce inherent costs of high stock levels.
Under this cope, the internship was made at CaetanoBus, an internationally established and
well-recognized bus body manufacturer.
The project included a materials selection and a significant reorganization of CaetanoBus
General Warehouse. This space gain allowed the definition of a clearer material flux as well
as the conception of “material supermarkets”, also taking advantage of steady production.
This subject was intrinsic of the following work during the internship period, being
indispensable to gather relevant information concerning one of the production lines and
dimensioning quantities per container flowing under the supermarkets concept.
Given the finished products features, there is a wide range of materials characteristics in
terms of their volumes. A ship-to-line method (suppliers delivering directly to the production
lines) was then established. This was made aiming to optimize space occupied at the
production lines and reduce material transportation time between general warehouse and its
point of consumption. Fibre and door structures follow this procedure.
A redefinition of MRP parameters that better suited the supermarkets and other new
concepts was made, being fundamental to the achievement of final results. With this, an
extremely fluid flow and significant reduction of stock ruptures (some of the materials with
crucial implication on the completion of the Production Plan) was attained. Results were
translated into an enormous gain of productivity as a result of operating time reductions.
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Agradecimentos
À Eng.ª Elisabete Lebre pela orientação e formação ao longo deste projecto e a todos os
colaboradores da área de Logística da CaetanoBus, em particular, ao Lucindo e ao José Luís
pela disponibilidade.
Um agradecimento, também, ao pessoal do Departamento Kaizen na pessoa do Eng.º
Pedro Rodrigues.
Ao Márcio Kumagai pelo constante companheirismo e amizade demonstrados.
A todos os professores que contribuíram para a minha formação académica, em particular
ao Professor Manuel Pina Marques pelo contributo durante o estágio.
À minha família pelo apoio, dedicação e permanente interesse pelo meu desenvolvimento
pessoal e académico.
v
Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Índice de Conteúdos
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................................ 4
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Índice de Figuras
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
1 Introdução
O Grupo Salvador Caetano (Figura 1) foi fundado em 1946, iniciando a sua actividade
como construtor de estruturas de carros e autocarros em madeira. Foi a primeira empresa a
introduzir em Portugal a tecnologia mista de madeira e aço e mais tarde apenas em aço. Em
1967, inicia as actividades de exportação para Inglaterra e um ano depois torna-se
representante exclusivo da Toyota em Portugal. Ao longo dos anos, foi fidelizando clientes e
alargando horizontes de exportação aos vários continentes. Em 1981 é criada a SALTANO -
Investimentos e Gestão - SGPS, Lda. bem como a fundação Salvador Caetano. Com o passar
dos tempos os seus produtos tornaram-se reconhecidos pelo elevado grau de qualidade e foi
adquirindo certificados internacionais de qualidade e ambiente.
Volume de Negócios
Mercado
Nacional
15%
Exportação
85%
5
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8
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seja, “MONOS” a ocupar espaço no armazém. Estes são materiais para os quais não se prevê
nenhuma utilização futura e que, devido a um mau dimensionamento de encomendas ou a
erros nas listas de materiais, se tornaram obsoletos.
Os objectivos eram então:
Identificar e eliminar “monos” existentes;
Reorganizar as áreas de armazenagem dos produtos;
Libertar espaço para novas células logísticas;
Implementar o FIFO como regra de consumo de alguns produtos;
Permitir um abastecimento JIT de alguns materiais à linha
Diminuir rupturas de stocks;
Rentabilizar os stocks;
Permitir adaptações no armazém a alterações em modelos de produção – maior
flexibilidade nas linhas.
O plano de acção definido foi ao encontro da implementação de uma política de 5’S para
uma correcta gestão das áreas do armazém. Esta política está associada à filosofia Kaizen e é
um dos conceitos mais relevantes e mais lucrativos a pôr em prática.
Os objectivos globais da implementação de uma política de 5’S são patentes: melhorar o
bem-estar colectivo dos colaboradores e aumentar a eficiência e as sinergias na equipa.
Obviamente que a maior dificuldade com que o responsável pela implementação da
política se pode deparar é a resistência à mudança por parte dos intervenientes.
As organizações não são imutáveis e cada vez mais as mudanças são uma necessidade.
Todo e qualquer processo de mudança que se realize no seio de uma empresa vai representar
uma alteração na estrutura da organização ou nos hábitos dos colaboradores. Como tal, por
maior que seja o cuidado na sua preparação, este processo enfrenta frequentemente factores
de resistência tanto ao nível da inércia individual (hábito, receio de um fraco desempenho,
ameaça à manutenção do posto de trabalho), como ao nível dos interesses organizacionais.
Porém, sendo a mudança algo que procura aumentar a competitividade da empresa é algo que
não pode ser descurado. Se, por um lado, essa resistência pode ser positiva porque cria uma
certa estabilidade nas empresas evitando situações imprevisíveis, por outro lado, pode
constituir um motivo de retardamento competitivo.
No entanto, a resistência à mudança deve ser bem gerida porque a qualquer momento
pode traduzir-se em desmotivação, perda de lealdade, perda de competências ou absentismo.
É por isso essencial que haja uma elevada comunicação entre os intervenientes, bem como
uma participação activa dos colaboradores, sempre com consciência dos benefícios que
advirão. Na realidade, os colaboradores podem dar um contributo fundamental na
implementação e a adaptação da mudança será muito mais pacífica. Particularmente, as
mudanças ao nível da reengenharia permitem abandonar processos enraizados permitindo um
olhar renovado sobre as metodologias utilizadas criando maior valor para o cliente interno
(Produção). Por vezes, é necessário ir até à raiz dos processos e redefini-los atingindo
melhoramentos qualitativos no desempenho da empresa.
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Triagem
Normalização Limpeza
A descrição mais detalhada de cada uma das fases pode ser consultada na Tabela 2.
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Neste primeiro passo da implementação dos 5’S interessa eliminar todos os itens
desnecessários do gemba (palavra japonesa que significa terreno), utilizando para isso alguma
regra na identificação desses materiais. Todos os itens considerados inúteis são marcados e
depois é verificada a sua necessidade futura. Caso só tenham utilização num momento mais
tardio (para Pós-Venda, por exemplo), são colocados nos locais certos. A libertação de espaço
possibilita a maior flexibilidade na utilização das áreas de trabalho melhorando a performance
dos abastecedores e a organização geral.
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0 1 1 2
Na prática, o processo arrancou pela etapa de triagem de materiais sem rotação. Iniciou-
se a busca desses materiais no sentido de os eliminar, no caso de não se prever uso futuro para
os mesmos, ou então de os deslocar para o armazém de materiais para Pós-venda (Figura 9).
Para isso, fez-se uma recolha de dados em SAP de todos os materiais existentes no
armazém naquele momento. O ficheiro recolhido continha os seguintes parâmetros:
i. Código/Designação referência;
ii. Quantidade em stock;
iii. Valor do stock (em euros);
iv. Localização em armazém;
v. Data do último movimento.
Foi a partir deste último parâmetro que se começou a tarefa de identificação de “monos”
(material sem rotação) no armazém. Inicialmente, foram seleccionados os materiais cujo
último movimento era anterior a 2005 e para os quais se registava stock em SAP. Tal filtro
resultou em cerca de 1200 referências num valor de stock avaliado de, aproximadamente,
214.000€.
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101.402 €
98.318 €
120.000 €
100.000 €
64.210 €
80.000 € 51.287 €
60.000 €
40.000 € 11.971 €
427 €
20.000 €
- €
DGLA SUCATA DGVP MONO FORNECEDOR DGM
20
Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Monos
178,30 €
2%
Simultaneamente, foram retirados mais 200 materiais que, apesar de apresentarem stock
em SAP, não apresentavam rotação. Por uma questão de organização, e já numa perspectiva
futura foi libertado um espaço no armazém específico para materiais sem rotação
(“MONOS”), onde foram colocados aqueles cuja análise foi feita no período de férias.
Todos estes materiais passaram também pelo aval da equipa de inventário, que procedeu
à sua correcta contabilização, e pelo serviço de Pós-Venda, sendo totalmente retirados do
armazém. No entanto, a zona libertada continuou a ser utilizada para a separação de materiais
sem movimentação e com necessidade de avaliação relativamente à sua indispensabilidade.
Esta zona foi igualmente utilizada para colocação de materiais sem rotação devolvidos ao
armazém pela Produção. Foi definido um formulário a ser impreterivelmente preenchido pela
Produção e pelo Responsável do Armazém aquando de qualquer devolução de materiais sem
rotação ao Armazém.
Ainda relativamente ao processo de triagem realça-se o empenho em eliminar situações
pendentes na recepção de materiais, bem como a eliminação de papéis desnecessários.
Na realidade o processo de selecção de artigos permite uma libertação significativa de
espaços (ver Figura 13 e Figura 14) o que facilita a tarefa de arrumação das áreas (etapa
seguinte).
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
O objectivo desta segunda etapa é manter os materiais em ordem para que estejam
prontos para uso, quando necessário. Assim, devem-se classificar os itens por uso e arrumá-
los adequadamente, a fim de minimizar o tempo e o esforço na procura dos mesmos. No
terreno deve ser garantida a política de gestão de inventário em FIFO (first-in, first-out),
porque só assim se pode gerir eficientemente o espaço e garantir a qualidade de alguns
materiais. A identificação da localização dos componentes passa pela indicação clara dos
corredores, que devem estar sempre desimpedidos para trânsito.
No Armazém da CaetanoBus, dado o volume e a disposição dos materiais a
implementação do FIFO era difícil. De qualquer modo, a tendência para a sua incorporação
em supermercados de abastecimentos garantirá isso mesmo. Actualmente existem ainda
materiais para os quais o funcionamento é exactamente contrário ao desejável, ou seja, em
LIFO (Last-in, first-out) o que, em muitos casos, está relacionado com o dimensionamento
elevado das encomendas.
Existem, no entanto, materiais que pela sua natureza química exigem um cuidado ainda
maior no que se refere à prática de um sistema FIFO, isto porque, são componentes que
respeitam prazos de validade e que por isso são mais frequentemente sujeitos a auditorias.
Assim, para materiais da classe das colas foi definido um sistema Pick & Bin. Considera-se
para um determinado material a primeira palete que entrou no depósito e a última. A primeira
é identificada com um cartão colado numa chapa magnética com a designação Pick, o que
significa que este será o primeiro a ser consumido (FIFO). No caso da última palete do
material o seu local de armazenagem é identificado com um cartão Bin, e por coerência seria a
última palete a ser utilizada. Para que o sistema funcione é fundamental que exista uma
sequência lógica e standard entre o material em Pick e aquele em Bin. No caso, dada a
necessidade de material (consumo) e a disponibilidade dos fornecedores, foram definidas
apenas duas localizações para cada referência (a pick e a bin). Através do cálculo da
autonomia em dias de uma palete foi reparametrizado o MRP e garantiu-se que a chegada da
segunda palete só aconteceria aquando da libertação do espaço Bin.
Em geral, foram reunidos esforços para a delimitação de áreas de acordo com:
As características dos materiais (materiais de menores dimensões e materiais de
maiores dimensões);
O modelo de autocarro de aplicação dos materiais (criação de estantes específicas para
materiais de determinados modelos);
A necessidade eminente de mais espaço (recepção de materiais).
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Recepção de materiais
Chegada de Material
Não
O material não é Ver
Documentos procedimento
descarregado
Sim
Não
Entrega dos documentos Verificação Existe
ao Sr. João Pereira da encomenda encomenda
Ver
procedim ento
Sim
Lista do
Não material
Ver Entrada do
Confirmação em corte e das
procedimento Identificação material
do material posições no
(MIGO)
Sim depósito
Não Sim
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Matriz de escalonamento em tamanho A3- verificar folha Excel com a designação Matriz
de Responsabilidades
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Materiais de consumo são materiais para os quais não é possível determinar com
exactidão o seu factor de incorporação e que, por esse motivo, não fazem parte das listas
técnicas de materiais. Assim, estes materiais são requisitados autonomamente por cada secção
de montagem e os seus custos são imputados às mesmas.
Consideram-se materiais exclusivos todos os que são utilizados unicamente num modelo
de autocarro e materiais não exclusivos os restantes.
Em SAP os supermercados foram criados como um armazém distinto, porém, o stock é
contabilizado para o planeamento MRP juntamente com o stock no Armazém geral (Tabela 3
e Equação 1).
supermercado Tourino
Como já foi referido, o autocarro Cobus (Figura 20) é utilizado para o transporte de
passageiros em plataformas de aeroportos, sendo a sua construção mais simples do que a dos
modelos de transporte de longo curso. Além disso, a linha de montagem é completamente
independente de todas as outras. Assim, a implementação do supermercado de abastecimento,
que se iniciou em Abril, não foi efectuada exclusivamente na área de acabamentos mas
também na área de estruturas do modelo.
Foi imprescindível o envolvimento dos colaboradores na tarefa de recolha de dados, até
porque, a implementação ocorreu em paralelo com o programa de melhoria nos standards de
produção. Avançou-se pelo levantamento das operações realizadas ao longo da linha de
montagem do modelo (preparação do chassis, montagem do tejadilho, montagem do quadro
eléctrico, revestimento do pavimento, revestimentos interiores, etc). De seguida, foi
necessário proceder à correspondência entre as operações e os materiais utilizados e,
posteriormente, entre as operações e os postos de trabalho (Figura 21). Obteve-se, então, a
informação fundamental para a implementação dos supermercados, ou seja, a relação entre a
célula de montagem e os materiais utilizados na mesma.
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Igualmente importante foi a definição do layout em linha (de acordo com o espaço
disponível) que permitisse o acesso fácil dos colaboradores aos materiais, mas também a
passagem do comboio logístico (Figura 23).
O bordo de linha funciona então como um supermercado, onde cada item é colocado
numa posição específica e fixa. Os “clientes” (colaboradores) vão à estante e seleccionam
visualmente os artigos que precisam. Quando uma das caixas fica vazia (quantidade de um
kanban totalmente consumida) um sinal é enviado para a área de supermercados no armazém
(Figura 24). Esse sinal, que corresponde à caixa vazia, é transportado pelo Mizusumashi
(Figura 25) que circula segundo ciclos normalizados entre as áreas de armazém a linha de
montagem. Neste momento, o ciclo é efectuado duas vezes por dia à linha Cobus com duração
superior a 60 minutos. Estão a ser estudadas melhorias que permitam a redução do tempo de
cada ciclo e o aumento do número de ciclos diários a esta secção.
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Por outro lado, o colaborador responsável pelo reabastecimento das áreas de “picking” do
supermercado recolhe as caixas vazias da zona de retorno e: no caso do material ser não
exclusivo, reabastece a caixa nas áreas de “picking” do armazém geral (consultando o
respectivo endereço no kanban); no caso do material ser exclusivo coloca o contentor na
recepção de materiais (a entrada destes materiais é feita directamente para os supermercados).
Qualquer caixa cheia colocada nos supermercados é efectuada pelo corredor de
reabastecimento (traseiras da estante) e é executada a sua transferência do depósito 101 para o
112 através da leitura por código de barras.
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
O aspecto final das áreas de “picking” no Armazém para os dois modelos pode ser
visualizado na Figura 29.
Mizusumashi
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Importa mencionar que um mesmo artigo pode repetir-se no bordo de linha de uma
mesma linha de montagem, devido a pontos de aplicação diferentes, ou em ambos os
supermercados. Porém, cada posição de bordo de linha tem uma única posição correspondente
nas áreas de “picking” dos supermercados. Simplificando, cada kanban diferente define uma
posição de supermercado.
Para os materiais não exclusivos o dimensionamento dos contentores de supermercado
teve apenas em atenção o factor de incorporação e o volume do material. Em alguns casos,
numa óptica de redução do tempo dispendido pelo abastecedor do supermercado na reposição
de material nas caixas vazias, a quantidade colocada por kanban correspondia à quantidade
das caixas provenientes dos fornecedores.
Em relação aos materiais exclusivos o dimensionamento implementado nos
supermercados de abastecimento, aquando do início do estágio, obedecia à seguinte regra:
Qtd i
Ai = (Equação 3)
( Fi i × Cad l × Q % )
Com,
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Isto significava que a quantidade por contentor era tal que garantia que, quando um
contentor fosse consumido, o prazo de entrega do fornecedor para a chegada de material para
o encher era inferior ao número de dias de produção que as outras três caixas sustentavam
(Equação 2 e Equação 3). Salienta-se que o número de caixas por posição de supermercado é
de quatro, o que significa que o material chegava quando já só existia menos de uma caixa
com material. O gráfico seguinte ilustra a situação apresentada:
Representação gráfica
10 50
Qtdi Primeiro
4 contentor vazio
k 40
Quantidade em
supermercado
k x Qtdi 40 Chegada de
Lead-Time material
Fii 1 30
Cadl 1*
LTij 21 20
*Ignorando possíveis erros de
qualidade para simplificação 10
0
1 8 15 22 29 36 43 50 57
Dias
Um dos aspectos na base deste fluxo era que sempre que houvesse um sinal de que uma
caixa estava vazia seria colocada uma “encomenda manual”, ou seja, contra as sugestões do
MRP, para satisfazer a necessidade do kanban. Ao nível de planeamento de materiais tal não
sucedia e era aliás incomportável dado o volume de encomendas que se deveriam introduzir.
A possibilidade de colocação de “encomendas manuais” significaria ignorar toda a gestão
de materiais sugerida pelo MRP, sistema que através do SAP R/3 gere os stocks na
CaetanoBus, criando um processo paralelo. Além disso, a maneira como o MRP estava
parametrizado nunca permitiria a manutenção correcta dos supermercados, existindo sempre
inúmeras insuficiências de materiais para encher os contentores e, em alguns casos, uma
grande probabilidade de rupturas de stock.
O facto de subsistirem diferenças de stock, atrasos de fornecedores, incumprimento das
quantidades de kanban e materiais de importação conduzia a situações graves para a
Produção.
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Por outro lado, a regra anterior originava que, a partir do consumo da segunda caixa de
um artigo, quando o Mizusumashi regressava do ciclo nas linhas de montagem e tentava trocar
a caixa vazia pela cheia em supermercado, não existia nenhuma caixa cheia na estante de
supermercado que permitisse a troca (Figura 32). Tal significava que, em muitos casos, o
fluxo deixava de existir ou apresentava desempenhos instáveis.
No caso dos materiais não exclusivos com quantidades elevadas por contentor, existiam
situações de extravio de materiais e rupturas desses materiais noutras secções de montagem
onde o abastecimento era ainda efectuado por “picking”.
Para garantir o abate no stock dos materiais de consumo, cujo débito não é feito ao
autocarro mas sim às secções que os requisitam, foi criado um sinal no kanban para que o
abastecedor assinalasse numa folha sempre que efectuasse uma transferência destes para os
supermercados.
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Para o caso dos materiais exclusivos de importação foi necessário um cuidado especial
dado que, por motivos de optimização do transporte, as encomendas mínimas eram mais
elevadas do que as quantidades ideais por caixa. No caso dos materiais para os quais tais lotes
mínimos representavam problemas ao funcionamento como materiais exclusivos, foram
tratados como não exclusivos e a sua reparametrização em SAP foi efectuada como tal.
O objectivo principal era a redução ao mínimo de contentores vazios para os
supermercados e, no caso dos materiais não exclusivos, garantir a existência em armazém de
material para o abastecimento completo de uma caixa.
Assim, para o caso dos materiais exclusivos, que entram directamente para os
supermercados, os parâmetros foram conjugados de modo a garantir por um lado, a existência
de uma caixa vazia na recepção aquando da chegada de materiais e por outro a manutenção do
fluxo de “caixa cheia, caixa vazia”. Tal foi conseguido definindo um stock mínimo em
supermercado correspondente a 2.5 contentores ( Equação 5).
41
Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
, com
Equação 7
Por exemplo, um material que seja utilizado num posto da linha Tourino e num posto da
linha Cobus tem um δi de dois (dois pontos de aplicação).
O lote mínimo de encomenda corresponde ao maior valor de quantidade por contentor
daquele material nas células logísticas, ou seja, independentemente da célula de montagem
que esteja a ser abastecida garante-se a existência no lote de material suficiente para
completar na totalidade a quantidade assinalada no kanban (Equação 8).
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Recepção de material
Materiais não exclusivos
Verificar lista de
Contém Não Não
urgências de
endereço de Consta Lote
materiais não
supermercado
exclusivos
Sim
Sim
Procurar caixas vazias Assinalar
nas estantes de não na lista de
Material exclusivo exclusivos e encher urgências
Não
Materiais exclusivos
43
Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Não
Entregar lista a
colaborador do 2º
Manter em lista de Turno para
contentores vazios abastecer
Mizusumashi
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Sendo estes materiais exclusivos, a única alteração que foi efectuada na parametrização
em SAP, para uma maior concordância entre a data de entrega e a data de entrada real do
material em sistema, foi a colocação de um ponto de encomenda correspondente a 3 caixas de
supermercado.
Como salvaguarda para possíveis contingências decorrentes do novo processo, foram
criados procedimentos, nomeadamente no que respeita à possibilidade de existência de um
contentor vazio sem nenhuma encomenda colocada ao fornecedor (diferença de inventário ou
inutilização futura do material) ou, pelo contrário, no caso de existirem encomendas ao
fornecedor para um material mas este não recolher nenhum contentor vazio do mesmo. Tal
sucederia em caso de perda de contentores ou caso a produção não estivesse a gastar os
componentes.
O colaborador da recepção de materiais deve alertar o fornecedor sempre que existirem
dois cartões no sequenciador para uma mesma referência e deverá também comunicar ao
Responsável do Armazém a situação para que este entre em contacto com o planeador de
materiais (DGLM).
Para garantir o sucesso desta metodologia estão a ser definidas janelas de tempo diárias
de entrega para os fornecedores. O objectivo é distribuir ao longo do dia o trabalho decorrente
da recepção de materiais.
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
fluxos
Plano Director de
Produção
Área de
intervenção MRP
Logística
Informação Kanban
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
E paralelamente:
Levantamento dos fornecedores de cada uma das fibras;
Reunião com fornecedores e definição do respectivo prazo de entrega para todas as
fibras;
Explicação ao fornecedor de todo o funcionamento do processo;
Esclarecimento dos chefes de secção do procedimento e das vantagens advenientes;
Definição do percurso (rota) do fornecedor dentro da empresa aquando da recolha de
kanbans/entrega de material (acções feitas em paralelo).
A quantidade por kanban (Qtdf) foi definida em proporção ao factor de incorporação
(Equação 9) e o número de cartões kanban proporcionalmente ao número de dias de prazo de
entrega (Equação 10). Só assim, era possível garantir o espaço livre no caso de mudança de
modelo e ao mesmo tempo alguma segurança relativamente a possíveis atrasos de
fornecedores.
Qtd f = Fi f (Equação 9)
Com,
Cad l : Cadência diária da linha l
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Como foi referido na secção relativa aos objectivos do estágio, uma das metas a atingir
com a realização do projecto era o aumento da produtividade. Se observarmos a evolução das
horas de montagem nas áreas onde foram implementados os supermercados e o “ship-to-line”,
verificamos uma tendência clara para a redução dos tempos de montagem (Figura 45). O
contributo das novas metodologias nos resultados é muito elevado e juntamente com as
melhorias implementadas pelo Departamento Kaizen em novos métodos de trabalho,
significaram um progresso claro no desempenho global.
S1 0
o
S e ho
o
ço
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iro
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Ju
ar
M
ne
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M
Ja
br
lh
iro
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M
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te
M
Ja
Se
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5 Referências e Bibliografia
Câmara, Pedro & Guerra, Paulo & Rodrigues, Joaquim (2001), “Humanator – Recursos
Humanos e Sucesso Empresarial”, Publicações Dom Quixote;
Chase, Richard B. & Jacobs, F. Robert & Aquilano, Nicholas J. (2006), “Operations
Management For Competitive Advantage”, McGraw-Hill Irwin (11th Edition)
Imai, Masaaki, “Gemba Kaizen, Estratégias e Técnicas do KAIZEN no piso da fábrica”,
Instituto Imam, Brasil, 1996
Slack, Nigel & Chambers, Stuart & Johnston, Robert, “Operations Management”
Spearman, Hopp “Factory Physics”
Sites:
www.CaetanoBus.pt
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Pedido de Alteração
SECÇÃO: ___________________
LINHA: ___________________ SUPERMERCADO: __________________
POSTO: ___________________
Requisição de novo material
CÓDIGO: ___________________
MOTIVO DA REQUISIÇÃO:
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
Alteração de material
CÓDIGO ACTUAL: ___________________
CÓDIGO REQUISITADO: ___________________ PM: ___________________
MOTIVO DA ALTERAÇÃO:
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
Alteração de posto
CÓDIGO: ___________________
POSTO ACTUAL: ___________________
POSTO PRETENDIDO: ___________________
MOTIVO DA ALTERAÇÃO:
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
198180 L3 07 5 F x x x
201984 L3 07 200 H x
209805 L1 06 500 H
213983 L1 03 3 H x
215452 L1 05 12 H
219163 L1 06 1000 H
219196 L1 03 200 H
219276 L3 08 500 H x x
220015 L3 05 24 H
466328 L3 03 30 F x x x x
51590101 L1 04 3 Carro x x x
51593002 L3 02 50 E x x
70004329 L3 10 5 H
70006853 L3 08 24 D x x x x
70008180 L1 05 10 D x
*L3-Cobus
**L1-Tourino
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
5 6 7
.
8 ,
4
95 , % % 7:
4 1
4 1
1 1$
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Pα xxx modeloa
Pβ yyy modeloa
Pγ zzz modeloa
Tabela F1 - Kanban mudança de produto
1. Contar quantos carros do modelo anterior (modeloa) ainda vão passar em cada posto;
2. Contar o número de peças existente em cada posto;
3. Subtrair e assinalar na folha o número de peças que ainda falta abastecer do modeloa
(Tabela F2);
Pα Xxx modeloa
Pβ Yyy modeloa
Pγ Zzz modeloa
Tabela F2-kanban mudança de produto preenchido pelo responsável
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
Pα xxx modeloa X
Pβ yyy modeloa
Pγ zzz modeloa
Tabela F3-Kanban mudança de produto preenchido pelo fornecedor
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Dimensionamento e controlo dos supermercados de abastecimento às linhas de montagem
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