Lipídios 6
Lipídios 6
Descrição
Propósito
Preparação
Módulo 1
Módulo 2
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Introdução
Os lipídios ou alimentos lipídicos foram, por muito tempo,
classificados como perigosos para a saúde, sendo associados ao
desenvolvimento de diversos tipos de doenças. Entretanto, a
partir de diversas pesquisas ao longo dos anos, observou-se que
a ingestão desses compostos não estava necessariamente
associada a esses malefícios e sim à qualidade dos compostos
ingeridos.
Definição
Os lipídios geralmente são definidos como compostos orgânicos
solúveis em solventes apolares e insolúveis ou pouco solúveis em
solventes polares. Isso porque os lipídios possuem uma característica
muito particular em relação à sua classificação: diferentemente dos
outros macronutrientes, como proteínas ou carboidratos, não são
denominados com base na sua estrutura química, mas em uma
propriedade física que é a sua solubilidade.
Simples
Compostos
16 carbonos
Palmítico 63,1
saturados
18 carbonos
Esteárico 68,8
saturados
12 carbonos
Láurico 43,2
saturados
20 carbonos
Araquídico 76,5
saturados
18 carbonos
Oleico 13,4
insaturados
18 carbonos
Linoleico -12
insaturados
20 carbonos
Araquidônico -49,5
insaturados
18 carbonos
Linolênico -11
insaturados
Tabela: Classificação quanto à presença de duplas ligações e ponto de fusão de diferentes
ácidos graxos.
Adaptada de: Andrade, 2015, p. 75.
Atenção!
É necessário explanar que a conformação cis ocorre naturalmente na
maioria dos ácidos graxos (90% dos ácidos graxos na natureza são
isômeros cis) e a conformação trans ocorre mais raramente e, em
pequenas quantidades nos animais, podendo ser produzida também
pela hidrogenação, um processo tecnológico que converte ácidos
graxos insaturados líquidos em saturados sólidos por meio de uma
reação química de adição de hidrogênio nas duplas ligações.
Conformação cis
Conformação trans
Os ácidos graxos trans possuem uma propriedade diferente dos seus
correspondentes cis, apresentando um ponto de fusão maior, ou seja,
tendem a ser sólidos em temperatura ambiente. Por esse motivo, os
ácidos graxos trans são considerados prejudiciais à saúde; como são
sólidos em temperatura ambiente, geralmente são sólidos em
temperatura corporal também, podendo se acumular nas artérias,
causando diversas doenças, especialmente coronárias.
Atenção!
A estrutura dos ácidos graxos saturados os torna mais estáveis que os
ácidos graxos insaturados diante de uma reação de oxidação. Por esse
motivo, os óleos com alto grau de insaturação são, geralmente, mais
sensíveis e têm um tempo de prateleira menor. Entretanto, em
condições extremas, como temperaturas acima de 180°C (como ocorre
durante a fritura de algum alimento, por exemplo) e presença de
oxigênio, pode haver também a oxidação dos ácidos graxos saturados.
Principais adulterações
Por serem amplamente empregados na culinária e em formulações de
alimentos, os óleos e as gorduras podem sofrer modificações drásticas
na sua estrutura, a depender do processo de preparo. Essas
modificações podem ser decorrentes de reações físico-químicas,
ocorridas tanto em função das condições do processo (por exemplo,
presença de oxigênio, alta temperatura etc.) como em função da
intenção do produtor (adulterações), com diversos propósitos (pela
adição de elementos etc.), mas com uma finalidade geral: aumentar o
lucro.
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O ponto de fumaça e os riscos à
saúde
Veja, neste vídeo, o relato da especialista em que ela aborda o ponto de
fumaça dos alimentos lipídicos e os riscos à saúde.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Questão 1
Em relação à classificação dos lipídios, é possível denominá-los
como simples, compostos ou derivados. Sabendo que os
fosfolipídios são um tipo de lipídios que possuem uma parte polar e
outra apolar, é possível dizer que são
A lipídios compostos.
B lipídios simples.
C lipídios derivados.
D lipídios oxidados.
E lipídios apolares.
Questão 2
Características de identidade
Alguns parâmetros, como a umidade, o índice de refração e outros,
químicos ou físicos, do azeite e do óleo de bagaço de oliva
compreendem propriedades específicas de cada um desses produtos,
sendo então a sua “identidade”, a sua característica única, como uma
“impressão digital”. Portanto, a legislação vigente preconiza valores ou
faixas de valores desses parâmetros em cada um desses produtos,
como podemos verificar nas tabelas a seguir.
Ésteres metílicos
de ácidos graxos
(1) + (2)
(1) e ésteres -
≤ 75mg/kg
etílicos de ácidos
graxos (2)
Grupos de azeite Azeite de oliva virgem
Índice de refração
1,4677 a 1,4705
(20°C)
Índice de
saponificação (mg 184 a 196
KOH/g)
Umidade e material
≤ 0,2 ≤ 0,1
volátil (%)
Material
insaponificável ≤ 15
(g/kg)
Impurezas não
≤ 0,1 ≤ 0,05
solúveis (%)
Índice de iodo
75 a 94
(Wijs)
Teor de arsênio
< 0,1
(mg/kg)
Teor de chumbo
< 0,1
(mg/Kg)
Teor de ferro
≤3
(mg/kg)
Grupos de azeite Azeite de oliva virgem
Teor de cobre
≤ 0,1
(mg/kg)
Tabela: Limites de tolerância de iodo, arsênio e outros metais para análises físico-químicas.
Brasil, 2012.
Características de qualidade
Como mencionado anteriormente, a legislação determina quais são as
características aceitáveis nos alimentos. Desse modo, a afirmativa
anterior também é válida para os azeites. Há alguns limites para os
parâmetros preconizados pela legislação que determinam as
características de qualidade e devem ser respeitados pelos produtores.
Tais limites podem ser observados na Tabela 4 e são constituídos pela
acidez livre, pelo índice de peróxido e pela extinção específica no
ultravioleta, sendo os dois primeiros grandes influenciadores nos
parâmetros de qualidade dos azeites.
270nm ≤ 0,22
Extinção específica
Delta K ≤ 0,01
no ultravioleta
232nm ≤ 2,50
Tabela: Limites de tolerância dos parâmetros de qualidade.
Brasil, 2012.
Óleos
Como vimos neste módulo, há classificações para os óleos e gorduras.
Os óleos, mais especificamente, podem ser classificados em óleos
vegetais, óleos vegetais prensados a frio, óleos vegetais refinados e
óleos vegetais virgens. Geralmente, os óleos comestíveis passam por
um processo de refino que melhora as características sensoriais, pois
os óleos brutos apresentam cor e aroma que podem ser desagradáveis
ao consumidor, além de maiores teores de outros componentes, como
metais e clorofila. Desse modo, o refino torna esses produtos mais
atraentes.
20°C 0,918-0,926
Densidade relativa
25°C 0,915-0,923
Característica Óleo de algodão
Características de qualidade
Em relação às características de qualidade preconizados para os óleos,
é possível mencionar o índice de acidez e de peróxidos, dentre outros
importantes, observáveis nas tabelas a seguir.
Soja
Tipo 1 Tipo 2
Índice de acidez
≤ 0,20 > 0,20 ≤ 0,60
(mgKOH/g)
Índice de peróxidos
≤ 2,5 > 2,5 ≤ 5,0
(mEq/kg)
Tabela: Características de qualidade de óleos vegetais refinados quanto aos índices de acidez e
de peróxidos.
Brasil, 2006.
Soja
Tipo 1 Tipo 2
Ponto de fumaça
≥ 210 ≥ 190
(°C)
Impurezas
insolúveis em éter ≤ 0,05
de petróleo (%)
Umidade e material
≤ 0,1
volátil (%)
Soja
Gorduras
As gorduras, como vimos anteriormente, são os lipídios sólidos em
temperatura ambiente e devem ser designadas como “gordura + nome
da espécie vegetal utilizada na sua formulação”, ou outras
denominações consagradas pelo uso, como no caso das margarinas.
Metodologias analíticas
A análise de alimentos lipídicos requer uma etapa preliminar que auxilia
na sua detecção, especialmente pela redução dos interferentes. Essa
etapa consiste na extração da fração lipídica e, conforme já
mencionado, para esse processo é necessária a utilização de solventes
específicos que possibilitem a recuperação desses compostos,
geralmente insolúveis em água. Sendo assim, os solventes mais
utilizados são éter de petróleo, acetona, clorofórmio, éter etílico, álcoois
e benzeno. Esses solventes podem extrair a parte lipídica que
corresponde à fração neutra, como os ácidos graxos livres,
monogliceróis, digliceróis e triacilgliceróis, além de alguns lipídios
polares, como os glicolipídios, esfingolipídios e fosfolipídios. Entretanto,
vitaminas lipossolúveis, ceras, esteróis e pigmentos lipossolúveis não
podem ser completamente extraídos.
Bligh-Dyer
Este método é um dos principais representantes das metodologias de
extração a frio, sendo amplamente utilizado, embora seja mais recente
que a extração por Soxhlet, por exemplo — foi criado em 1959. Consiste
na extração dos lipídios utilizando uma mistura de três solventes:
clorofórmio, metanol e água, que extraem os lipídios por polaridade.
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Processo de Babcock
Este processo é muito parecido com o de Gerber, mas aqui não se utiliza
o álcool isoamílico, e sim água quente. Difere também em relação às
quantidades de leite e ácido sulfúrico adicionadas e em relação ao
tempo, pois é mais lento que o de Gerber.
Análises de identidade
As avaliações de identidade aplicadas para a verificação em óleos e
gorduras consistem nas análises de (1) índice de refração, (2) índice de
iodo e (3) índice de saponificação.
Índice de refração
O índice de refração tem relação com a insaturação, ou seja, com o grau
de insaturação, o tratamento térmico e os compostos de oxidação. Esse
índice apresenta relação diretamente proporcional ao número de duplas
ligações, ao peso molecular dos ácidos graxos e às conjugações.
Por ser próprio para cada tipo de óleo, o índice de refração tem como
objetivo descobrir possíveis fraudes, pois permite a identificação de
determinado óleo ou gordura. Essa análise consiste em colocar o óleo
entre os prismas de um refratômetro a uma temperatura específica
(geralmente 20°C).
Índice de saponificação
É um índice que mede a quantidade de ácidos graxos de alto e baixo
peso molecular em misturas de óleos e gorduras. Como os ácidos
graxos de baixo peso molecular necessitam de mais álcalis para o
processo de saponificação, o índice de saponificação pode ser
considerado inversamente proporcional ao peso molecular dos ácidos
graxos, ou seja, quanto mais ácidos graxos de baixo peso molecular,
maior será o índice de saponificação.
Essa análise não possui caráter de identificação, pois diferentes óleos
possuem índice de saponificação muito parecidos. Entretanto, é
possível verificar se houve adulterações com óleos que possuem índice
de saponificação bem diferentes. Um exemplo de aplicação dessa
análise é a verificação de adulteração com parafina: por possuir índice
de saponificação muito baixo, é facilmente percebida. A análise de
índice de saponificação (segundo Koettstorfer) é baseada no número
(em miligramas) de hidróxido de potássio (KOH) necessário para a
saponificação dos ácidos graxos após a hidrólise do lipídio, seja um
óleo, seja uma gordura.
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Fraudes em alimentos ricos em
lipídios
Neste vídeo, a especialista abordará na prática a determinação de
fraudes em alimentos ricos em lipídios.
Análises de qualidade
Além das análises de identidade para óleos e gorduras, existem também
aquelas que nos dão informações sobre a qualidade desses produtos,
possibilitando saber se estão aptos ou não para o consumo. Dentre as
análises de qualidade de óleos e gorduras, é possível destacar o (1)
índice de acidez e o (2) índice de peróxidos.
Índice de acidez
Este índice é muito importante para detectar o grau de degradação dos
lipídios, podendo revelar o seu grau de decomposição, pois um óleo ou
gordura que sofreu reação de rancidez hidrolítica geralmente possui
ácidos graxos livres, que são quantificados durante essa análise. Assim,
quanto maior o índice de acidez, maior a decomposição do lipídio.
Índice de peróxido
Este índice indica o grau de oxidação dos lipídios, pois os peróxidos são
os primeiros compostos a se formar durante o processo de
decomposição de um óleo ou gordura e, dessa maneira, os lipídios
oxidados testam positivo para a presença de peróxido durante a análise.
De modo geral, essa análise indica a rancidez oxidativa dos lipídios por
fatores como presença de oxigênio, como vimos anteriormente.
Um dos cuidados que se deve ter com esse teste é realizá-lo apenas
para verificação dos estágios iniciais da oxidação, pois quando é
utilizado em lipídios com estágio avançado de oxidação pode não gerar
um bom resultado. Isso ocorre porque, nos estágios avançados, há
muitas modificações nos compostos produzidos, assim, a cor produzida
pode variar muito, dificultando a interpretação do resultado.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Questão 1
A azeite extravirgem.
D azeite virgem.
E azeite único.
Questão 2
Algumas análises são extremamente importantes para verificar a
identidade e a qualidade de óleos e gorduras. Essas análises
verificam alguns índices específicos para tais alimentos.
Marque a alternativa que mais bem expressa a importância do
índice de saponificação.
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Podcast
Agora, a especialista Aline Soares finaliza falando sobre a importância
das análises bromatológicas para a ciência da nutrição.
Explore +
Para compreender melhor como o processo de fritura pode afetar os
alimentos lipídicos, leia o artigo Avaliação da oxidação de óleos,
gorduras e azeites comestíveis em processo de fritura, de Heloisa
Correia Sarmento Rios, Isabela Rosier Olímpio Pereira e Edeli Simioni de
Abreu, publicado na Revista Ciência & Saúde, v. 6, n. 2, p. 118-126, em
2013, disponível no portal da revista.
Referências
ANDRADE, E. C. B. de. Análise de alimentos: uma visão química da
nutrição. Rio de Janeiro: Livraria Varela, 2015.
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